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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO E INSTITUIÇÕES DO SISTEMA DE JUSTIÇA-PPGDIR
DISCIPLINA DE METODOLOGIA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS 
*Ana Flávia Américo Barbosa[1: Aluna do mestrado em Direito e Instituições do Sistema de Justiça- PPGDIR/UFMA, matrícula 2017107795. ]
RESENHA DO LIVRO “PESQUISA SOCIAL: TEORIA, MÉTODO E CRIATIVIDADE” (MINAYO et al., 2009)
Trata-se de um livro escrito em parceria pelos autores Suely Ferreira Deslandes, Romeu Gomes e Maria Cecília de Sousa Minayo. O livro pode ser dividido em duas partes: uma que trata da confecção do projeto de pesquisa (fase exploratória) e outra que aborda como este projeto será desenvolvido (trabalho de campo) e, por fim, como apresentar conclusões lógicas a partir do que foi encontrado em campo, produzindo um relatório.
	O livro descreve o processo de confecção do projeto de pesquisa analisando primeiramente o objeto das ciências sociais como sendo histórico (ele está no contexto de determinado momento histórico e de determinada cultura); realizado por uma consciência histórica (não apenas o pesquisador é capaz de analisar seus trabalho, mas todos os envolvidos, inclusive os sujeitos pesquisados); a pesquisa social tem um caráter extrínseca e intrinsecamente ideológico (o observador não é neutro. Ele traz consigo suas experiências e isso influencia na decisão do que deve ser pesquisado e de que maneira) e é essencialmente qualitativo (procura os significados ocultos nas informações colhidas em campo). Este último ponto é apontado como o objetivo principal do livro. A pesquisa quantitativa serve de suporte para a metodologia da pesquisa social, mas o objetivo é justamente inferir reflexões acerca dos dados objetivo coletados.
	Neste contexto, o livro conceitua pesquisa como uma indagação a respeito de um problema e a construção da realidade que advém desse questionamento. Para empreender uma pesquisa faz-se necessário o domínio de farta teoria a respeito do tema, proposições, delimitação de conceitos e organização desses dados de forma a permitir o desenvolvimento e orientação do trabalho de campo. 
	A primeira questão que se nos apresenta, então, é anterior à delimitação do tema: é preciso ter interesse em algum assunto. Este interesse demonstra-se pela vivência do pesquisador, o que se relaciona com o caráter ideológico do objeto da pesquisa social. Uma vez escolhida a área de interesse, surge a necessidade de delimitação do tema. (“O que pesquisar?”) Depois surgem outros questionamentos:
Para que pesquisar? (Objetivos gerais e especpificos)
Por que pesquisar? (Justificativa)
Como pesquisar? (Metodologia)
Por quanto tempo pesquisar? (Cronograma)
Com que recursos? (recursos disponíveis)
A partir de que fontes? (Referencial teórico)
Para a definição do tema e escolha do problema são apontados alguns critérios que devem ser levados em conta, tais como a análise do momento histórico, a problematização do tema preferencialmente em forma de pergunta, a necessidade de um questionamento claro e a dimensão de viabilidade do objeto. Por exemplo, num projeto que vise estudar a colaboração premiada das organizações criminosas, o que iremos pesquisar dentro desta área de interesse? Os aspectos jurisprudenciais da colaboração premiada e seus reflexos na atuação do Ministério Público estadual. A indagação poderia ser a seguinte: quais os contornos jurisprudenciais revelantes da colaboração premiada e como eles afetam a atuação do Ministério Público estadual no combate à corrupção? 
Definido o tema, passamos para as proposições ou pressupostos: as afirmações claras a respeito do tema, que se supõem possíveis respostas ao problema: as atuações das instituições de justiça estão relacionadas umas ás outras, influenciando-se mutuamente; as decisões dos magistrados influenciam a atuação do Ministério Público na medida em que delimitam as regras do jogo; a atuação do Ministério Público deve ser pautada em habilidades muito mais de mediação do que em simples proposição de aplicação da lei; a jurisprudência acerca da colaboração premiada deve ser constantemente analisada; a jurisprudência não deve ser arbitrária, tendo critérios de previsibilidade e determinação aptos a fornecer segurança jurídica. São alguns exemplos de pressupostos.
Uma vez problematizada a área de interesse, deve ser revelada a justificativa, que se dá no âmbito da relevância do tema proposto, tanto para a comunidade acadêmica, como para os indivíduos pesquisados. De que forma a pesquisa influenciará a realidade social, qual a construção da realidade a partir dela.
Depois, devem ser observados os objetivos da pesquisa. O geral no caso em questão poderia ser a demonstrar a influência jurisprudencial na atuação do Ministério Público estadual. Os objetivos específicos devem conversar com os pressupostos, trazendo verbos que exprimem o caráter dinâmico dos objetivos. Demonstrar, analisar, comparar, verificar, colher dados em campo etc.
O cronograma também é outro aspecto de grande importância na pesquisa, devido o viés histórico e provisório de toda pesquisa. É preciso ter em mente que existem prazos a serem cumpridos e que a realidade deve se dar naquele momento histórico e com os recursos disponíveis.
E, por fim, o referencial teórico a ser utilizado é fundamental para o sucesso da pesquisa a ser empreendida. Este referencial deve ser solidamente construído antes mesmo de iniciar ao projeto e deve acontecer de forma disciplinada, crítica e ampla. Deve também ser construído com articulação criativa e humildade por parte do pesquisador. O estudo científico é sempre aproximado, provisório, inacessível na totalidade do objeto, vinculado à vida real e condicionado historicamente.
Importante destacar também que o ciclo não se fecha com a conclusão da pesquisa! Com o fim desta, abrem-se novos questionamentos num processo autopoiético, que produz sempre mais questionamentos e soluções provisórias. Então, feitas essas observações, com o final do projeto de pesquisa, finda-se a fase exploratória.
Dá-se início ao trabalho de campo que, para as ciências sociais, dá-se precipuamente de duas formas: pela observação e pela interação com os sujeitos pesquisados através de entrevistas. As entrevistas podem ser: estruturadas, semiestruturadas, abertas ou em profundidade, focalizadas ou projetivas. 
Algumas considerações devem ser feitas a respeito das entrevistas, esta forma privilegiada de interação social. Deve ser feita com uma apresentação inicial do pesquisador e do objeto da pesquisa, explicação dos motivos da mesma, justificativa para escolha do entrevistado, garantia de sigilo e, por fim, a conversa inicial, que introduzirá a entrevista propriamente dita. 
A observação participante é outra forma de realizar o trabalho de campo. É a imersão do pesquisar na realidade social a ser pesquisada e tem como principal vantagem livrá-lo dos prejulgamentos acerca desta realidade, uma vez que ele não sabe o que vai encontrar e nem possui hipóteses previamente verificadas. O pesquisador irá conviver com os pesquisados mas com eles não pode se confundir. É sempre um elemento estranho que se incorpora para posteriormente transformar a realidade dos pesquisados através da aplicação posterior dos resultados obtidos.
Superada a fase do trabalho de campo, sobrevém a da análise e tratamento dos dados coletados, valendo-se da ordenação, classificação e análise daqueles.
Para isso, uma das principais metodologias é a análise do conteúdo. Surgida no início do século XX, influenciada pelo behaviorismo, e aprofundada por Bardin, essa metodologia de apreensão dos dados pode ser conceituada como a análise dos dados coletados (quantitativa ou não) que nos permite inferir a realidade pesquisada para além desses dados, com a sugestão de condições de produção e recepção das mensagens produzidas pelos interlocutores.
Podemos destacar quatro tipos de análise como fundamentais dentro da análise de conteúdo: análise de representação, análise de expressão, análiseenunciativa e análise temática.
A primeira diz respeito à atitude do pesquisado frente à pesquisa e ao pesquisador. A segunda, à sua fala, aos elementos que fazem parte da sua vivência. A terceira, usada em entrevistas abertas, requer uma análise mais aprofundada dos elementos que compõem aquele discurso, tais como análise do pesquisado e do seu discurso, como figuras de retórica e das estruturas gramaticais. E por fim, a análise temática, cujo conceito central é o tema.
O livro elenca um caminho para a interpretação dos dados: a leitura compreensiva do material, exploração desse material e elaboração de síntese interpretativa. 
Assim, a análise de conteúdo estrutura-se enquanto método numa maneira de analisar e interpretar dados a partir da fala dos interlocutores, emprestando sentido mais aprofundado do que aquele meramente exposto. É preciso sair do senso comum para realizar o método, bem como ter criatividade e usar muitas vezes de intuição. A partir dela é feita a interpretação e posterior conclusão do trabalho que deve ser submetido aos pesquisados que demonstrarão ou não interesse na pesquisa.
O livro, portanto, nos mostra as etapas da pesquisa social: a exploratória, a fase de campo e a fase de tratamento dos dados. É um caminho para a realização da pesquisa social, descrevendo metodologias requeridas para o trabalho científico nesse campo e obtenção de resultados inovadores, pertinentes e logicamente passíveis de validação, como requer a produção científica. 
REFERÊNCIAS
MINAYO, Maria Cecília de Sousa et al. (organizadora). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 28. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

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