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Aspectos Fisiopatológicos e dietoterápicos no tratamento da Doença Renal Crônica Angela Ilha Especialista em doenças crônico degenerativas pelo HIAE- SP Mestre em Ciências pela FMUSP Anatomia Fisiológica dos Rins Cada rim adulto pesa cerca de 150 gramas e tem, aproximadamente, o tamanho de um punho fechado. O fluxo sanguíneo para os dois rins corresponde a 21% do débito cardíaco, ou seja, cerca de 1.200 ml/min Função dos Rins Livrar o corpo dos produtos de degradação que são ingeridos ou produzidos pelo metabolismo. Controlar o volume e a composição dos líquidos corporais. Filtração do plasma e remoção de substâncias do filtrado em graus variáveis, dependendo das necessidades do organismo. Função dos Rins Regulação do equilíbrio hidroeletrolítico Regulação da osmolaridade dos líquidos corporais e das [ ]s dos eletrólitos Regulação do equilíbrio ácido-básico Regulação da Pressão Arterial Secreção de hormônios (eritropoetina) Gliconeogênese (síntese de glicose) Rim- função Cada rim é constituído de cerca de 1 milhão de Néfrons, sendo que cada um é capaz de formar urina. O rim não tem capacidade de regenerar novos Néfrons => diminuição do n° Néfrons Insuficiência Renal Crônica Diminuição irreversível no n° de Néfrons funcionais A estimativa da filtração glomerular pode ser determinada sempre que uma amostra de sangue é enviada para dosagem de creatinina. A creatinina e a taxa de filtração glomerular podem ser pedidas sempre que o médico quiser avaliar a função renal de uma pessoa como parte de um exame de saúde de rotina ou quando há suspeita de doença renal. Sinais de aviso de doença renal incluem: • Inchação ou edema, especialmente em torno dos olhos, ou face, nos pulsos, no abdome, nas coxas e nos tornozelos. • Urina turva, com sangue ou cor de café. • Diminuição da quantidade de urina. • Problemas para urinar, como queimação ou secreção anormal durante a micção, ou alteração da frequência da eliminação de urina, especialmente à noite. • Dor no meio das costas (no flanco), abaixo das costelas, onde estão localizados os rins. • Hipertensão arterial TFG- “Clearence de Creatinina” Equação Cockcroft e Gault Primeiros sinais clínicos só aparecem quando o n° de Néfrons funcionais cai para pelo menos 70% abaixo do normal. É possível manter concentrações sanguíneas relativamente normais e e seus volumes de líquidos corporais até que o n° de Néfrons funcionantes diminua abaixo de 20-30% do normal. Insuficiência Renal Crônica A perda de Néfrons funcionais exige que os Néfrons sobreviventes excretem mais água e solutos. Insuficiência Renal Crônica Exaustão renal Diálise 1ª Fase da DRC ou Síndrome urêmica ↑ das TF e perfusão do rim ↓ nº de néfrons Hiperplasia • Perda de seletividade (capacidade de impedir a passagem de macromoléculas para a urina) • ↑ do tamanho do túbulo proximal e sua capacidade reabsortiva • ↑ da secreção de K e reabsorção de Na no túbulo distal Hipertensão glomerular ↑ das TF e perfusão Processo físico-químico pelo qual duas soluções , separadas por uma membrana semipermeável, influenciam na composição uma da outra. Substitui algumas funções dos rins: depuração de solutos, remover excesso de líquido corpóreo e manter equilíbrio ácido-básico. Funções endócrinas do rim não são exercidas Diálise- TFG 15ml/min/1,73m² Tratamento Dialítico Hemodiálise (HD) Diálise peritonial Ambulatorial contínua –CAPD Automática - DPA Hemodiálise Cateter venoso e fístula arteriovenosa Diálise Peritoneal Diálise Peritoneal Peritônio • Membrana serosa que recobre as vísceras, forma o mesentério que fixa as alças intestinais e estende-se pela parede abdominal, cobrindo-a totalmente. • Espaço fechado 100ml de líquido • Membrana Peritoneal: – camada única de células mesoteliais – tecido conjuntivo – vasos sangüíneos – vasos linfáticos • Vascularização Permeabilidade Qosm = Kfosm . A . RT c 1 2 C1 Qosm M ULTRAFILTRAÇÃO OSMÓTICA C1 C2 Onde: Qosm = Fluxo de Solvente de 1 para 2 (m 3 . s-1) Kfosm = Coeficiente de Filtração osmótica da Membrana (m 3 . s -1. Newton-1 . Mol -1) A = Área de Filtração (m2) R = Constante dos Gases Perfeitos (Newton . m) T = Temperatura Absoluta do Sistema C = Diferença entre as Concentrações C1 e C2 (Mol . m-3l) C2 S.A. Draibe e H. Ajzen Diálise Peritoneal Poro Sangue Endotélio Capilar Membrana Basal Mesotélio Cavidade Abdominal A MEMBRANA PERITONEAL S.A. Draibe e H. Ajzen • Indicações: – Pacientes que preferem DP à HD – Pacientes que não toleram HD (ICC, ICo, dificuldade de acesso vascular) • Contra- Indicações: – Perda documentada da função peritoneal – Aderências que limitem o implante ou fluxo do dialisato – Na ausência de assistente, incapacidade física ou mental de realizar trocas – Defeitos mecânicos não-passíveis de correção (hérnia abdominal ou diafragmática irreparável, extrusão de bexiga) 1.5% 2.5% 4.25% Sódio (mEq/L) 132 132 132 Potássio (mEq/L) 0 0 0 Cloro (mEq/L) 96 96 96 Cálcio (mEq/L) 3.5 3.5 3.5 Magnésio (mEq/L) 0.5 0.5 0.5 Lactato (mEq/L) 40 40 40 Glicose (mg/dL) 1360 2270 3860 pH 5.2 5.2 5.2 Osmol. (mosm/Kg) 345 395 484 Composição dos banhos de diálise peritoneal • Métodos – Contínuos: CAPD CCPD – Intermitentes: DPI NIPD Complicações • Infecciosas: – Peritonite: gram + (S. aureus), dor abdominal, líquido turvo, >100 céls/ml; bacterioscopia e cultura – Infecção do local de saída e túnel • Mecânicas: – Hérnias – Dor abdominal – Drenagem inadequada • Metabólicas: – Hiperglicemia (absorção de cerca de 60% da glicose infundida – 100 a 150g/dia – 500 a 800Kcal/d)) – Obesidade – Hipertrigliceridemia * Perda de Aminoácidos: 3g/d Perda de proteína: 5 a15g/d Hemodiálise X Diálise Peritonial Hemodiálise Diálise peritoneal Fequência 3 x/sem diário Tempo sessão 3,5- 4 h 4- 8 h Local Centro de diálise domicílio Filtro da diálise Artificial Membrana do peritônio Kt/V ≥ 1,2 ≥ 2,0 Kt/V- cálculo da eficiência da diálise em retirar uréia da diálise Tratamento dietoterápico Conservador ou Não dialítico Terapia Renal substituta ou Dialítica – Hemodiálise – Peritoneal – Transplante Renal Desnutrição energético-proteica • Prevalência de 37 a 48% e Estreita associação com o aumento das taxas de morbimortalidade • Causas: 1) Redução da ingestão alimentar • Redução do paladar • Restrição alimentar excessiva • Muitos medicamentos • Aspectos emocionais e piora da qualidade de vida • Sedentarismo 2) Aumento do catabolismo: Resistência insulínica, Acidose metábólica, presença de comorbidades, Hperparatireoidismo, Inflamação crônica, etc Grande desafio Evitar a desnutrição energético-protéico Prevalência varia entre 37 e 48%. Avaliação Física Peso • Cautelosapelos distúrbios hídricos • Diálise peritoneal→( peso total – volume do líquido infundido • Hemodiálise →( pesar depois da sessão de diálise, pois estará mais próximo a peso “seco”) • Avaliar sempre a perda de peso não intencional por um período de 3 a 6 meses é mais eficiente para detectar desnutrição do que o IMC % de redução de peso Interpretação Maior que 10% Clinicamente significativamente 5 a 10% Risco precoce aumentado Menor que 5% Variação normal IMC • IMC utilizar a proposta pela OMS • Diálise → IMC < 20 kg/m² devem ser monitorados – Sendo recomentado IMC maior que 23 kg/m² Avaliação Física Pregas Cutâneas faz muito importante para avaliar perda de massa muscular • Em pacientes em Hemodiálise, aferir depois da sessão no braço contrário ao do acesso vascular Consumo Alimentar • Avaliar registro alimentar de 3 a 7 dias ou recordatório de 24 h • Consumo de proteína (PNA)– a utilização da geração de uréia como marcador bioquímico permite estimar a ingestão de proteína de pacientes em qualquer fase da doença, desde que ele esteja em balanço nitrogenado. • Assim, pode-se avaliar a ingestão independente do relato do paciente PNA- Equivalente Proteico do Aparecimento de Nitrogênio Tratamento Conservador Recomendação de Carboidratos Mesma prescrição recomendada a um indivíduo saudável. 50 – 60% de calorias totais na forma carboidratos 6 a 9 porções /dia Recomendação de Lipídios Paciente com DRC frequentemente apresentam alterações no perfil lipídico. Causas ainda não totalmente esclarecidas ? Resistência a insulina e aumento dos níveis paratormônios diminuam a atividade a enzima lipase lipoproteica, aumentando os triglicérides circulantes. Am J Kidney Dis 2003;41(suppl3):S39-S58 Recomendação na dislipidemia Gordura total 25% - 35% do VCT ácidos graxos saturados < 7% do VCT ácidos graxos poliinsaturados < 10% do VCT ácidos graxos monoinsaturados < 20% do VCT Colesterol < 200 mg/dia Evitar o consumo de gordura trans. Aumentar o consumo de fibras em até 20g/dia (frutas, cereais integrais e hortaliças frescas) National Cholesterol Education Program-ATPIII (2002) Recomendação de Energia ≤ 60 anos- 35 kcal/kg/dia 60 anos – 30 kcal/kg/dia Altera na repleção (35-50 kcal/kg/d) ou na redução (25 kcal/kg/d) Pacientes em diálise peritoneal – descontar a glicose média absorvida (cerca de 60% do total da glicose infundida) do total de energia recomendado Pacientes estáveis em diálise, com atividade física leve e com ingestão protéica adequada NKF-DOQI, 2000 1,5% 2,5% 4,25% Sódio (mEq/L) 132 132 132 Potássio (mEq/L) 0 0 0 Cloro (mEq/L) 96 96 96 Cálcio (mEq/L) 3,5 3,5 3,5 Magnésio (mEq/L) 0,5 0,5 0,5 Lactato (mEq/L) 40 40 40 Glicose (mg/dL) 1360 2270 3860 pH 5,2 5,2 5,2 Osmol. (mosm/Kg) 345 395 484 Composição dos banhos de diálise peritoneal Conhecer a prescrição do paciente 3 bolsas de 2 litros a 1,5 % de glicose – 1,5 g de gli/dL 1 bolsa de 2 litros a 4,25% de glicose - 4,25 g de gli/dL Média Glicose Infundido (MGI) - 8,75/4 = 2,19 g/dL Volume infundido= 4 bolsas de 2 L= 8 L Glicose absorvida= [11,3 (2,19) – 10,9] x 8= 110 g Energia (1 g 4 kcal)= 110 x 4 = 440 kcal Glicose absorvida (g)= [11,3 (MGI) – 10,9] x volume infundido Suplementos nutricionais – via oral ou enteral Variam em relação a quantidade de energia, proteína, fósforo e potássio Líquidos – restrição hídrica Diminuir o ganho de peso interdialítico- não deve ultrapassar 5% do peso seco 500 mL + volume urinário residual de 24h Algumas orientações adicionais: Evitar o consumo de refrigerantes e sucos, não saciam a sede Líquidos não é só água, mas também leite, chás, gelatinha, sopas, etc Evitar preparações salgadas ou muito doces evitando a sede. Consumir gelo pode ajudar a diminuir a sensação de sede, mas a quantidade também deve ser controlada. Sódio (Na) Pacientes se beneficiam da restrição de sódio por 3 razões: Menor ganho de peso interdialítico Diminui a sede 8g de sal precisa-se 1 L de líquido para manter o sódio sérico nos níveis normais Recomendação é de 2000 a 2300 mg/dia de sódio ou 5 a 6g de sal Queijo parmesão - 1696 mg Queijo gorgonzola - 1395 mg Queijo provolone - 875 mg Queijo prato - 620 mg Queijo tipo “cottage” - 288 mg Queijo minas frescal - 271 mg Teor de Sódio / 100g Restrição de sal de adição, alimentos embutidos, curados, industrializados, temperos prontos , enlatados, oleaginosas torradas e salgadas, etc. Potássio (K) Restrição rigorosa na hemodiálise, principalmente para os anúricos. Pacientes em diálise peritonial raramente apresentam hiperpotassemia. Deve ser inferior a 70 mEq ~ 3 g/dia. Hortaliças, frutas, leguminosas apresentam alto teor de potássio. Segundo Cuppari (2004), a cocção do alimento apenas uma vezes em água é suficiente , já que a maior perda de K ocorre no primeiro cozimento (60%). Mantém-se assim uma melhor consistência e aparência. Brazilian Soc Food Nutr, 2004 Fósforo (P) na fase dialítica Valor recomendado 3,5 – 5,5 mg/dL (avaliação mensal) Nutricionista: Quantificar a ingestão de P no recordatório alimentar e manter entre 800-1000 mg/dia, respeitando a recomendação de pelo menos 1 g/kg/dia Aumentar o aporte de proteína e manter o fósforo baixo é extremante difícil J Bras Nefrol 2008;30(Supl 2):4-8 Hiperfosfatemia- uso de QUELANTES À base de cálcio e cloridrato de sevelamer, nunca utilizar à base de alumínio Cuidar com a quantidade de cálcio ingerido, não exceder 2g/dia Devem ser tomados logo antes ou durante as refeições Se as medidas terapêuticas e dietéticas não resolverem a hiperfosfatemia, mudanças na prescrição da diálise deve ser utilizada J Bras Nefrol 2008;30(Supl 2):4-8 Selecionar alimentos que tenham a menor relação fósforo/ proteína Restringir alimentos processados que contém aditivos à base de fósforo, como alimentos semiprontos , os chamados “fast foods”, embutidos, queijos processados, produtos instantâneos, biscoitos, cereais matinais e refrigerantes à base de cola. Diminuir o consumo de P Alimento Relaçã o Clara de ovo 1,3 Ovo inteiro 15 Carne bovina 8 Fígado de boi 17,8 Chocolate 30,7 Presunto 9,7 Feijão cozido 19,3 Iogurte 25,2 Leite 28,6 J Bras Nefrol 2008;30(4):288-93 Ferro Recomendações dietéticas são semelhantes às de indivíduos saudáveis Suplementação pode ser necessária quando a dieta é restrita em carnes ou para pacientes em uso de eritropoietina recombinante humana. Vitaminas Dieta restritiva pode levar ao ingestão inadequada de algumas vitaminas. Na diálise também ocorre perdas de vitaminas hidrossolúveis (vitamina C e complexo B)- suplementação é necessária Vit lipossolúveis A,E e K não devem ser suplementas a menos que haja necessidade. Vit D na forma ativa (calcitriol) deve ser prescrita individualmente de acordo com as condições ósteo-metabólica Carambola Pode ou não pode consumir? Ao iniciar o programa dialítico,a ingestão de proteína é maior do que no tratamento conservador, pois a perda de proteínas no processo de diálise pode ser significativa. Portanto, é essencial ter uma alimentação correta para evitar a desnutrição. Nesta fase, os níveis de fósforo e potássio já podem estar bem elevados e devem ser acompanhados de perto. Para garantir a ingestão adequada de proteína, porém controle do fósforo, deve-se seguir algumas orientações, tais como: EVITAR Queijos; Miúdos (moela, fígado, coração, sarapatel, dobradinha, chouriço, etc); Embutidos (salsicha, mortadela, linguiça, salame, presunto, etc); Oleaginosas (amendoim, castanhas, nozes); Chocolates; Coca-cola e Pepsi; Cervejas; Frutos do mar; Peixes como: sardinha, atum, bacalhau e salmão; Gema de ovo. Carambola – não pode consumir Contém componente neurotóxico que se acumula na vigência da função renal muito diminuída ou inexistente . Sintomas: soluços que não cessam, vômitos, confusão mental, agitação, convulsão e até a morte. Relatos- pacientes tratados logo com hemodiálise reverteram o quadro clínico. Nephrol Dial Transplant 2003;18:120-5. Explicar a razão das modificações alimentares Envolver sempre que possível a pessoa responsável pelo preparo dos alimentos Respeitar as preferências e hábitos alimentares Não fazer restrições desnecessárias Priorizar o aspecto mais importante do tratamento dietoterápico e orientar as novas modificações aos poucos Sucesso no tratamento Fornece listas de substituições de alimentos com equivalentes protéicos Fornecer receitas de fácil preparo e custo aceitável Verificar adesão ao plano alimentar Fazer consultas regulares Sucesso no tratamento
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