Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O combustível da Sustentabilidade EXPEDIENTE SUMÁRIO História do biodiesel A Ubrabio Matéria-prima Aspectos sociais Aspectos ambientais Saúde pública Aspectos econômicos 6 O Brasil chega ao momento de decidir o que deseja para sua matriz energéti ca. É preciso estudar as alternati vas e tomar a decisão mais adequada à nossa economia, respeitando o meio ambiente e a saúde da população. Uma questão já se apresenta: com quantos padrões de diesel o Brasil pode lidar? Já existem o diesel interior, o metropolitano e o maríti mo. Ainda temos que considerar os níveis de enxofre exigidos hoje e no fu- turo próximo – S-50 em algumas cidades e, em 2012, o S-10, o que aumentará os ti pos de óleo diesel no território brasileiro. O segundo semestre de 2009 inaugurou nova etapa na matriz energéti - ca, o índice B4, em que a adição de biodiesel ao óleo diesel de petróleo chegou a 4%. O acréscimo de 1% de biodiesel nessa mistura é passo fi rme na consolidação da nova Matriz. Esse momento é também - e principalmente - de refl exão sobre os no- vos passos a serem dados na direção que o País precisa. Nossa Agenda já está atrasada e, para compensar o tempo perdido, o CONAMA adotou a Resolução 403, que prevê níveis mais baixos de en- xofre no óleo diesel, tornando-o menos poluente, a parti r de 2012. Esta é a grande oportunidade para o País incrementar o uso do biodiesel nas regiões metropolitanas (Biodiesel Metropolitano). A Ubrabio propõe a nova mistura na proporção B-20, que traz vantagens em duas frentes: compensa os efeitos anti lubrifi cantes da redução do enxofre nos moto- res e dá ganho signifi cati vo à qualidade do ar e à saúde da população. No aspecto mecânico, pesquisas comprovam o melhor efeito lubrifi can- te do biodiesel. Além disso, o incremento de um combustí vel “limpo” vai reduzir as estatí sti cas de doenças respiratórias associadas à má qua- lidade do ar. Nas regiões metropolitanas brasileiras, as internações e as mortes decorrentes desse problema cresceram nos últi mos anos. São Paulo desponta com um nada lisonjeiro tí tulo de campeã dessa estatí s- ti ca, devido à poluição - industrial e provocada pelo trânsito. Aqui, voltamos à pergunta inicial. Quantos padrões de diesel o Brasil suporta? Para reduzir os problemas de logísti ca e dar mais qualidade à nossa Ma- triz, é urgente aproveitar a oportunidade. O Brasil está prestes a adotar o diesel com enxofre a 10 partes por milhão, o S-10, a parti r de 2012. Um esforço de grandes proporções para o país. É o momento adequado para unifi car o esforço e a pauta do futuro próximo. Junto com o S-10 vamos implantar o B-20 Metropolitano. Vamos pro- mover um salto de qualidade na produção e aproveitamento de um combustí vel limpo e renovável. O Brasil pode. O Brasil merece. Juan Diego Ferrés e Odacir Klein EDITORIAL O combustí vel ecológico que mudou a matriz energéti ca do mundo 4 7 11 14 16 17 Em defesa da cadeia de produção e comercialização do biodiesel Inclusão social e nova fonte de renda para agricultores Ampliação no uso do biodiesel diminui emissão de poluentes A poluição que mata nas grandes cidades do país Em defesa da cadeia de produção e comercialização do biodiesel Diversifi cação e riqueza em terras brasileiras Presidente: Juan Diego Ferrés; Presidente Executi vo: Odacir Klein; Vice-Presidente de Assuntos Jurídicos: Silvio Rangel; Vice-Presidente Administrati vo: Henrique Herbert Ubrig; Vice-Presidente Financeiro: Irineu Boff ; Vice-Presidente Técnico: Geraldo Guilherme Neuber Marti ns; Vice-Presidente de Relações Associati vas e Insti tucionais: Donizete José Tokarski; Vice-Presidente de Assuntos Tributários: Alberto Borges de Souza; Diretor Executi vo: Sergio Beltrão www.ofi cinadapalavra.com Coordenação e Revisão: Liliane Pinheiro Edição e texto: Graziella Campanaro e Letí cia Santos Projeto gráfi co e diagramação: Júlio Leitão 4 A H IS TÓ RI A D O B IO D IE SE L 70 A Universidade Federal do Ceará (UFCE) desenvolve diversas pesqui- sas com o intuito de encontrar fon- tes alternati vas de energia. As ex- periências acabaram por revelar um novo combustí vel originário de óleos vegetais e com propriedades seme- lhantes ao óleo diesel convencional: o biodiesel Nos anos de 1980, outra signifi cati va contribuição nessa história foi dada pelo registro da patente PI-8007959, pelo professor Expedito Parente, da Universidade Federal do Ceará. Essa foi a primeira patente mundial do biodiesel. Nessa mesma década, o Governo Federal lança o Programa de Óleos Vegetais (OVEG) Inventado em 1983 e patenteado quatro anos de-pois, o primeiro motor movido a óleo vegetal foi criado pelo engenheiro alemão Rudolf Christi an Karl Diesel. Na época, pensar em combustí veis alternati - vos para o funcionamento de qualquer engenhoca era algo tão distante que ninguém deu muita importância ao que viria a ser o maior invento mecânico da história. Uma experiência rudimentar que antecedeu a desco- berta de um combustí vel bem mais limpo e que muitos ainda confundem com óleo vegetal. Nesse senti do, é bom ressaltar que o biodiesel é a adequação correta para se uti lizar esse combustí vel de origem vegetal em motores a diesel (ver mais na página 10). No Brasil, experiências com biocombustí veis datam da década de 20. Foi nesse período que Insti tuto Nacio- nal de Tecnologia – INT, no Rio de Janeiro, começou a estudar e testar combustí veis alternati vos e renová- veis. Quarenta anos depois, pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Ceará (UFCE) revelaram o biodiesel como um novo combustí vel originário de óle- os vegetais e com propriedades semelhantes ao óleo diesel convencional. Mas foi nos anos 80, que outra signifi cati va contribuição nessa história foi dada: o pro- fessor Expedito Parente, da UFCE, registrou a primeira patente mundial do biodiesel, hoje de domínio público. Com o passar dos anos e as intermitentes crises de energia, associadas à maior demanda por combustí veis fósseis, surgem novos e fortes estí mulos para o desen- volvimento de tecnologias de produção tanto do etanol quanto do biodiesel. Com isso, estes dois produtos pas- sam a ter um papel de destaque na matriz energéti ca mundial e no mercado internacional de combustí veis. No início dos anos 90, o processo de industrialização do biodiesel foi iniciado na Europa, que até hoje detém o tí tulo de maior produtor e consumidor. Regulamentação No Brasil, o biodiesel é fomentado pelo Programa Brasileiro de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Lançado no dia 06 de dezembro de 2004, o programa do Governo Federal foi construído e implantado com a ampla parti cipação dos principais envolvidos na ca- deia produti va desse biocombustí vel. A esse marco, foram se sucedendo edições de leis, atos normati vos e regulamentações que formam todo o arcabouço legal que norteia as iniciati vas públicas e privadas do biodiesel no Brasil. Nesse contexto, foram introdu- zidos os leilões de compra de biodiesel, uma forma encontrada pelo governo de acelerar o processo de instalação da cadeia produti va, além de contribuir para evitar distorções naturais de preços que pode- riam vir a ser criadas pelo mercado. Publicada em 13 de janeiro de 2005, a Lei 11.097 in- troduziu o biodiesel na matriz energéti ca brasileira. Na ocasião, fi cou determinada a obrigatoriedade da adição de 2% de biodiesel no diesel comercializado no Brasil, a parti r de janeiro de 2008, e de 5% até ja- neiro de 2013, podendo-se antecipar. A regulamen- tação também ampliou a competência administrati va Nesse ano entrou em funciona- mento o primeiro motor a diesel do mundo abastecido com óleo vegetal feito a parti r do amendoim. Seu inventor, o engenheiroalemão Rudolf Christi an Karl Diesel, profe- ti zava que os óleos vegetais seriam a grande alternati va para o futuro energéti co da humanidade. 20DÉCADA 20 No Brasil, o Insti tuto Nacional de Tecnologia – INT, no Rio de Janeiro, já estudava e testava combustí veis alternati vos e renováveis. Na oca- sião, foram feitas experiências com palma, algodão e amendoim. Em 1923, Joaquim Berti no Carvalho fez uma conferência sobre o emprego de óleos vegetais como combustí veis 1893 DÉCADA 70 80DÉCADA 801893 L I N H A D O T E M P O O combustível ecológico que mud 5 A H IS TÓ RI A D O B IO D IE SE L da ANP, que passou, desde então, a denominar-se Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom- bustí veis. A parti r da publicação da citada lei, a ANP assumiu a atribuição de regular e fi scalizar as ati vida- des relati vas à produção, controle de qualidade, dis- tribuição, revenda e comercialização do biodiesel e da mistura óleo diesel-biodiesel. No desempenho dessa nova função, a agência editou normas de especifi ca- ção do biodiesel e da mistura óleo diesel-biodiesel, e promoveu a adaptação das normas regulatórias. Mistura Até janeiro de 2008, a adição de 2% de biodiesel era facultati va e o período foi considerado de “treina- mento”. A parti r dessa data, o uso tornou-se obriga- tório e o óleo diesel comercializado em todo o Brasil passou a conter essa mistura. Seis meses depois, em 1º de julho do mesmo ano, a Resolução nº 2 do Conse- lho Nacional de Políti ca Energéti ca (CNPE), publicada em março de 2008, aumentou de 2% para 3% o per- centual obrigatório. Em maio de 2009, o Ministério de Minas e Energia defi niu a adição de 4% de biodiesel no diesel, o B4 - nome da mistura contendo 96% de óleo diesel derivado do petróleo e 4% de biodiesel. A expectati va do governo é que, com a nova mistura, a produção desse biocombustí vel suba de 1,2 bilhão, em 2008, para 1,8 bilhão de litros em 2009. A elevação para 4% da adição de biodiesel ao diesel evidencia o sucesso do Programa Nacional de Pro- dução e Uso do Biodiesel e mostra que o Brasil tem condições de conti nuar sendo líder na produção e no uso em larga escala de energia obti da a parti r de fon- tes renováveis. Já a meta de 5%, prevista para 2013, será antecipada para 2010. A iniciati va de ampliar o uso do biodiesel está alinhada aos objeti vos da Políti - ca Energéti ca Nacional e a importância para o desen- volvimento do novo combustí vel. Além de aumentar a parti cipação da agricultura familiar, o governo aposta numa maior agregação de valor às matérias-primas oleaginosas de origem nacional, na redução da impor- tação de diesel de petróleo e em todas as vantagens ambientais e de saúde pública. Fiscalização Com o aumento do mercado, o papel da ANP será cada vez mais importante. Para aprimorar o sistema de fi scalização, o governo vem tomando algumas ini- ciati vas com o intuito de desenvolver equipamentos apropriados para testar nas bombas de combustí veis se o diesel vendido tem realmente a mistura obriga- tória estabelecido por lei. Essa fi scalização é feita pela ANP através dos números de venda do diesel e do biodiesel da Petrobras e da refi - naria Refap. A Petrobras e a Refap compram o biodiesel nos leilões realizados pela ANP e promovem novos lei- lões para as distribuidoras comprarem o produto. Com base no volume de diesel comprado por cada distribui- dora junto à Petrobras, é vendido o volume necessário de biodiesel para fazer a mistura obrigatória. 05/07 Em janeiro de 2005 foi publicada a Lei 11.097, que dispõe sobre a intro- dução do biodiesel na matriz ener- géti ca brasileira. A parti r dessa pu- blicação, a ANP assumiu a atribuição de regular e fi scalizar as ati vidades relati vas ao biodiesel. Realização do primeiro leilão. Adição facultati va de 2% do biodiesel no diesel. Início da obrigatoriedade da mis- tura de 2% de biodiesel no diesel. Em julho de 2008, o governo au- torizou o aumento para 3%. Esta regra foi estabelecida pela Reso- lução nº 2 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Em maio de 2009, a adição de 4% de biodiesel. No começo dos anos 90, o pro- cesso de industrialização do biodiesel foi iniciado na Europa. Na ocasião, o principal mercado produtor e consumidor desse biocombustí vel em grande esca- la já era aquele conti nente 20042004 Em 06 de dezembro, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva lança o Programa Brasileiro de Pro- dução e Uso do Biodiesel (PNPB). A esse marco, foram se sucedendo edições de leis, atos normati vos e regulamentações que formam todo o arcabouço legal que norteia as ini- ciati vas do biodiesel no Brasil 90 2005/2007 08/092008/2009DÉCADA 90 udou a matriz energética 6 A U BR A BI O Uma enti dade privada que representa, integralmente, a cadeia de produção e comercialização do biodiesel. Essa é a União Brasileira do Biodiesel - UBRABIO, associação civil organizada que iniciou suas ati vida- des em maio de 2007 e nasceu com o propósito de promover a interlocução em conjunto com o gover- no, empresas e insti tuições de pesquisa voltadas aos biocombustí veis. Tudo começou em meados de 2006, quando um grupo de produtores de biodiesel percebeu a ne- cessidade de consti tuir uma enti dade que, além de representar a cadeia do biodiesel, pudesse contri- buir no aperfeiçoamento das políti cas e estratégias relacionadas com o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). “Como todo início, ti ve- mos as nossas difi culdades. O principal problema era unifi car a visão de todos os associados em relação ao modelo da enti dade. De um lado tí nhamos um grupo concentrado apenas no foco da rentabilidade. No outro extremo, a ideia de difundir um grande fó- rum onde pudéssemos concentrar todas as discus- sões. Depois de um tempo, conseguimos um bom equilíbrio que acabou sati sfazendo ambas as visões e resultou no formato atual da enti dade”, explica o presidente da associação, Juan Diego Ferrés. Atualmente, a UBRABIO conta com 29 empresas as- sociadas entre produtores de biodiesel e de matérias- primas, fabricantes de equipamentos, empresas de tecnologia e serviços. Todos com o mesmo objeti vo: parti cipar com o País na consolidação de um progra- ma abrangente e efi ciente pela introdução do biodie- sel na Matriz Energéti ca. Outro objeti vo da enti dade é esti mular e realizar pesquisas, debates, projetos e propostas para o aperfeiçoamento e regulamentação da produção, comercialização e uso do biodiesel. Por intermédio de um Fórum Nacional Permanente e, futuramente, acrescentando fóruns regionais e esta- duais, a associação também pretende diagnosti car as problemáti cas e eventuais ameaças ao PNPB. “Se nos guiarmos pela experiência dos países euro- peus que iniciaram esse modelo, o desafi o da im- plementação do biodiesel requer a criação de um mercado estruturado. Isso porque, na fase inicial, um biocombustí vel não pode concorrer apenas eco- nomicamente com os combustí veis fósseis em virtu- de das suas diferenças, como escala, renovabilidade, sustentabilidade e externalidades sócio-ambientais”, afi rmou Ferrés. O presidente da UBRABIO também explica que é comum comparar os custos de fabri- cação como se os combustí veis derivados do petró- leo e os biocombustí veis fossem similares. Segundo ele, a conta é bem mais complexa do que se parece, uma vez que a cadeia de fabricação do biodiesel, por exemplo, mobiliza signifi cati - vamente a economia gerando empregos, renda, investi men- tos e desenvolvimento regio- nal. “Uma conta bem feita deve levar em consideração todos esses fatores. Não po- demos nos esquecer que as energias fósseis são esgotáveis e, no futuro, elas serão substi - tuídas pelas renováveis”,res- saltou Ferrés. Reunião dos associados durante o anúncio da implementação do B4 “Uma vez esgotáveis, as energias fós- seis devem contribuir economicamente no desenvolvimento das renováveis que deverão substituí-las” Juan Diego Ferrés, presidente da UBRABIO Fo to : F ra nc is co S tu ck er t/ M M E Em defesa da cadeia de produção e comercialização do biodiesel 6 A U BR A BI O 7 M A TÉ RI A -P RI M A Diversifi cação e riqueza em terras brasileiras É comum atribuir a produção de biodiesel somente à soja, uma vez que a oleaginosa responde atualmente por cerca de 80% do mercado. Mas o Brasil – com dimensões conti - nentais, clima favorável à ati vidade agrícola e recursos hídricos consideráveis – é o país com maior potencial de matérias-primas para a produção desse biocom- bustí vel. A esti mati va é de que possam ser culti vados, com resultados favoráveis, até 40 ti pos diferentes. Um exemplo seria o dendê, que, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), gera em torno de 5 ton/ha anuais de óleo, o que signifi ca dez vezes mais do que a soja. Além dos óleos vegetais, os animais e residuais são promissores no que se refere à produção do biodie- sel. Tanto que as cotações do sebo bovino disparam desde 2006. Já as empresas de reciclagem, disputam cada vez mais o óleo de cozinha (residual) descarta- do por redes de fast food e outros estabelecimentos. Gordura vegetal Os primeiros registros da soja datam do século XI A.C., na China. Por aqui, a cultura foi introduzida no século XIX, na Bahia, e, atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial (atrás apenas dos Estados Unidos). A Empresa Brasileira de Pes- quisa Agropecuária (Embrapa) aponta que, na sa- fra 2006/2007, a soja ocupou uma área de 20,687 milhões de hectares, o que significa uma produ- ção de 58,4 milhões de toneladas. A produtividade média no país é de 2,8 ton/ha – no Mato Grosso, maior produtor nacional, são cerca de 3 ton/ha. Apesar de o teor de óleo na soja ser baixo (18%) se comparado ao de outras oleaginosas, a espécie é uma das poucas que detém um domínio tecnoló- gico capaz de atender à demanda do biodiesel. “O mercado da soja é desenvolvido, foi consolidado no Brasil em mais de 30 anos e já tem logística e 8 M A TÉ RI A -P RI M A tecnologia estabelecidas. A soja permite que te- nhamos um programa de biodiesel funcionando adequadamente no país” , observa Denilson Fer- reira, coordenador geral de Agroenergia do Minis- tério da Agricultura (MAPA). Para se ter uma idéia da relevância dessa leguminosa, vale ressaltar que, há três anos, o Brasil faturou US$ 9,3 bilhões com a exportação de soja, vendida em forma de grão, farelo e óleo. O valor representa 6,77% do total exportado. Produzida principalmente nas regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul, mas também presente nas restantes, a soja promete se manter como o carro-chefe do biodiesel. Pelo menos nos próximos 5, 10 anos, de acordo com o MAPA. Para a safra de 2008/2009, a associação trabalha com exportação de 25, 7 milhões de toneladas. Atualmente, o MAPA e a Embrapa dedicam-se com mais afinco a estudar outras três matérias- primas, devido ao elevado potencial de geração de óleo: dendê, pinhão manso e macaúba. O dendê é uma das principais apostas, não só pela quantidade de óleo produzido (5 ton/ha por ano), mas pela possibilidade de aproveitamento de di- versas partes da oleaginosa. Pode-se extrair o óleo palmiste (oriundo da amêndoa), tendo como subproduto a torta, destinada à produção de ra- ção animal. Além disso, do processamento dos frutos de dendê resultam resíduos sólidos propí- cios a gerar energia elétrica ou térmica. O país tem plantados cerca de 70 mil hectares de dendê, principalmente no Pará, onde se concentra 80% da área cultivada. Mas também há plantações no Amazonas, Amapá e na Bahia. A oferta, entretan- to, atende a apenas metade da necessidade bra- sileira de consumo alimentício do óleo. Com capacidade de produção de óleo calculada em 1,5 ton/ha anuais, o pinhão manso está pre- sente em maior número no Nordeste e no Centro Oeste. Apesar de as pesquisas ainda serem inci- pientes, algumas vantagens do cultivo dessa ma- téria-prima já são conhecidas: ampla distribuição no território nacional; a colheita manual estimula a mão-de-obra familiar (um dos preceitos do Pro- grama Nacional de Produção do Biodiesel - PNPB) e a oleaginosa é conhecida pela resistência e ro- bustez. No caso da macaúba, cujo rendimento de óleo chega a 3 ton/ha por ano, a produção siste- matizada no país é inexistente. O que ocorre são plantações, predominantemente em Minas Gerais, para fins cosméticos, por exemplo. Assim que o PNPB foi implantado, em 2004, a ma- mona era a grande aposta do governo por conta do elevado teor de óleo: 47%. Também de destacava pelo caráter social, uma vez que, resistente à seca no Nordeste, poderia promover o desenvolvimen- to do semi-árido e contribuir com a agricultura fa- miliar. No entanto, desde o ano passado, a maté- ria-prima deixou para trás o título de “símbolo da produção de biodiesel”. Além de exigir tecnologia cara, seu óleo é considerado viscoso em demasia, o que causa risco de entupimento de bicos injeto- res dos motores automotivos. Mas essa caracte- rística não traz para a mamona o estigma de vilã. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, o óleo pode servir para a produção de combustível, desde que misturado a outras matérias-primas a exemplo da soja. A oleaginosa é plantada nas regi- ões Nordeste, Centro Oeste e Sudeste. PRINCIPAIS CULTURAS OLEAGINOSAS 9 M A TÉ RI A -P RI M A Produzida sistematicamente apenas na região Sul, a canola tem em torno de 24 a 27% de proteína e 34 a 40% de óleo. Ela constitui uma das mais viá- veis alternativas para a diversificação de culturas de inverno e geração de renda pela produção de grãos. Contudo, dificuldades mercadológicas e tecnológicas ainda predominam no país. O amendoim, consumido nos cinco continentes, é a única oleaginosa cujos grãos podem ser con- sumidos in natura. Nos dias atuais, cerca de 47% da produção mundial são destinados aos alimen- tos e 53% à geração de óleo e farelo. Presente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, o amendoim contém cerca de 50% de óleo em sua amêndoa. Outra vantagem é que a matéria-prima tem um ciclo de produção curto (de 90 a 110 dias). O grão, no entanto, tem um alto valor no mercado internacional e seu manejo inadequado no pós- colheita compromete a qualidade do farelo. A pro- dução brasileira atual varia entre 150 mil e 300 mil toneladas por ano. Com 19% de óleo, o algodão é considerado a mais importante das fibras têxteis, naturais e artificiais. Apesar do baixo teor, é uma importante matéria- prima porque fornece subprodutos, como resídu- os da própria extração oléica, torta e farelo – ricos em proteína e utilizados no preparo de rações. O preço no mercado das sementes de algodão está em torno de R$ 0,15 a R$ 0,20 por quilo. O litro de oléo, que fornece cerca de um litro de biodie- sel, custa aproximadamente R$ 1. De acordo com o MAPA, a cultura está presente nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Gordura animal Desde a implantação do PNPB, o mercado do sebo bovino tem deslanchado. Enquanto em Araçatuba (SP), em 2006, as cotações do boi variaram menos de 5%, as do sebo duplicaram. Dois dos motivos seriam o baixo custo em relação à soja e a alta pro- dutividade: um quilo de sebo produz um quilo de óleo. A mesma quantidade de soja, por sua vez, resulta em 180g de óleo. Em março deste ano, se- gundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a participação do seboproduzido em todo país na fabricação do biodiesel foi de 10,9%. O primeiro passo para se produzir biocombustível é garantir que a matéria-prima tenha o mínimo de umidade e acidez possível, o que pode ocor- rer por meio dos processos de desumidificação e neutralização. Para ser utilizado na geração de biodiesel, o sebo deve estar na forma líquida. Geralmente, o tratamento físico-químico é re- alizado em graxarias. Delas, o produto vai para a indústria de biodiesel sob condições de aque- Quatro outras matérias-primas também têm pa- pel importante na geração de biodiesel. Com teor de óleo calculado em 42%, o girassol – produzi- do nas regiões Sul e Sudeste - se destaca pela ampla capacidade de adaptação climática. Mais tolerante à seca do que os grãos de milho e sorgo, tem sido uma opção de plantio na entressafra. O óleo de girassol tem alta qualidade nutricional, agrada pelo aroma e sabor e é o segundo mais consumido no Brasil. Apesar de todas essas van- tagens, a produtividade do girassol ainda é baixa e a tecnologia, inferior ao que seria necessário para estimular o plantio. Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA/2005) 10 M A TÉ RI A -P RI M A MITOS VERDADES QUASE TODOS OS DIAS, A MÍDIA DIVULGA INFORMAÇÕES SOBRE OS BIOCOM- BUSTÍVEIS. JORNAIS, REVISTAS E OUTROS MEIOS ABORDAM ASPECTOS COMO VANTAGENS AMBIENTAIS, ESTÍMULO AOS PRODUTORES FAMILIARES, INCENTI- VOS AGRÍCOLAS, EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO. SÃO TANTAS CRÍTICAS, INFOR- MAÇÕES E QUESTIONAMENTOS QUE FICA DIFÍCIL SABER O QUE É PERCEPÇÃO E REALIDADE. CONFIRA ALGUNS PONTOS. cimento adequado, pois o sebo já apresenta fase sólida a 45o. Além do sebo de boi, destacam-se como matérias- primas a banha suína, a gor- dura de frango, os óleos de peixe e o mocotó. Gordura residual Com grande apelo ambiental, o óleo residual uti lizado em restaurantes, indústrias de alimentos e em nossas casas pode ser aproveitado na pro- dução de biodiesel. Esti ma-se que cada litro de óleo jogado nas pias é capaz de contami- nar um milhão de litros d’água. Assim, gerar biocombustí vel a parti r dessa matéria-prima evitaria o descarte dela no es- goto, o que também reduziria as despesas governamentais. Atentas às vantagens de re- ciclar o óleo de cozinha, em- presas investem em tecnolo- gia e a sociedade civil começa a se movimentar. Criada há três anos, a OnG Trevo, com sede em SP, realiza o trabalho de recolhimento do óleo, tra- tamento do produto e venda para grandes indústrias de biodiesel e sabão. “Depois de tirarmos as impurezas, o óleo é decantado e vendido. De cada 100 litros que cole- tamos, 85% são reutilizados”, conta o presidente da Organi- zação, Roberto Costacoi, que há 30 anos se dedica à reci- clagem do óleo residual. Segundo ele, grande parte dos estabelecimentos comerciais do estado de SP já desti nam o óleo residual ao uso susten- tável. “No Rio de Janeiro tam- bém se realiza esse processo, assim como em Curiti ba, Lon- drina e Salvador. Quando há a geração de renda no que se refere à reciclagem e à suca- ta, o processo no Brasil ocorre rápido”, avalia. Atualmente a OnG Trevo gera empregos di- retos para 50 famílias. Fonte: BRAMOVAY, Ricardo. Biocombustíveis. São Paulo: ed. Senac, 2009 E Quando se busca a realidade da produção de matérias-primas no Brasil verifi ca-se a enorme distância entre os fatos e suas versões. Embora seja de suma importância as discussões sobre as mudanças no uso da terra, principalmente no que concerne à preservação de áreas de alto valor biológico, é importante frisar que a expansão de produtos agrícolas não ocorre em qual- quer ti po de bioma. A parti r de uma avaliação da Embrapa, pode-se concluir que a especulação de que o biodiesel resultará em danos ao meio ambiente devido ao planti o é incorreta, pois o Brasil tem potencialidade de produzir biodiesel sem ampliação da fronteira agrícola e preservando as áreas atuais de fl orestas. Os biocombustí veis são responsáveis pelo aumento do preço dos alimentos No cenário internacional é importante observar que a crise dos ali- mentos é multi dimensional. Diversos são os fatores que pressionam os preços dos alimentos. O primeiro deles, e seguramente o mais importante, refere-se ao fortalecimento das principais economias emergentes mundiais. O processo simultâneo de ampliação de renda associado à urbanização das po- pulações tem pressionado fortemente a demanda por alimentos no mundo, mudando os hábitos alimentares da população que migra do campo para a cidade e passa a substi tuir o consumo de grãos e tubérculos pelas chamadas proteínas “mais nobres”, como carnes e lácteos. Outro fator foi a alta dos cus- tos de produção das commoditi es agrículos. O Programa do Biodiesel prejudica a produção de alimentos e a agricultura familiar Ao contrário do que acontece com o álcool americano, por exemplo, o biodiesel é um combustí vel que contribui para o aumento da oferta de alimentos. As oleaginosas são compostas principalmente por uma parte pro- téica e outra de óleo. O processo de produção desse biocombustí vel inicia-se pela separação da proteína do óleo, sendo este últi mo converti do em biodie- sel. A proteína restante, chamada de farelo ou torta, é desti nada ao mercado de produção de ração animal para a conversão e geração de fontes de proteína animal (carne e leite). Considerando o principal grão empregado para a produ- ção de biodiesel no Brasil – a soja –, tem-se que cada metro cúbico de biodie- sel gera cerca de 4 toneladas de farelo de soja que, converti dos pelo anima, produzem cerca de 430 kg de carne bovina. Isso signifi ca que esse grão passou a ser converti do em farelo e óleo em vez de ser exportado na forma natural, devido a existência desse novo mercado de biodiesel. O produto resultante (carne e leite), com valor agregado muito maior do que o grão de soja, aumen- ta a disponibilidade interna de fontes proteicas alimentares. O expansão do biocombustí vel contribui para o desmatamento da Amazônia e outros biomas protegidos 11 A SP EC TO S SO C IA IS Inclusão social e nova fonte de renda para agricultores 11 A SP EC TO S SO C IA IS Desde a criação do Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB), o governo brasileiro iniciou uma políti ca de apoio à produção de biodiesel. O intuito sempre foi o de integrar agricultores familiares à oferta de biocombustí veis e, por aí, contribuir para o fortalecimento de sua capacidade de geração de renda com o uso de áreas até então pouco atrati - vas. E para a viabilização econômica desse projeto, uma variável nas planilhas de custos tem feito toda a diferença. Trata-se do Selo Combustí vel Social, um conjunto de medidas específi cas que visa garanti r a inserção da agricultura familiar tradicional e também dos assentamentos da reforma agrária na cadeia pro- duti va do biodiesel. O componente de inclusão social do programa foi estabelecido por meio do modelo tributário, visan- do favorecer a parti cipação da agricultura familiar e desenvolver, prioritariamente, as regiões Norte, Nor- deste e semiárida (Lei nº 11.116/05). A isenção dos tributos federais é total para o biodiesel produzido e para qualquer oleaginosa proveniente da agricul- tura familiar nessas áreas, e parcial se for produzido de qualquer matéria-prima para as outras regiões do país. Contudo, o acesso à isenção de tributos fede- rais está condicionado à concessão do Selo às em- presas de biodiesel. Os resultados dos benefícios proporcionados por esse projeto ganharam destaque e hoje são um dos apelos mais fortes do setor. Estudos desenvolvidos pelos Ministério do Desenvolvimento Agrário, Mi- nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministérioda Integração Nacional e Ministério das Cidades mostram que a cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a par- ticipação da agricultura familiar pode ser gerado cerca de 45 mil empregos no campo, com uma ren- da média anual de aproximadamente R$ 4.900,00 por emprego. Admitindo-se que para um emprego no campo são gerados três empregos na cidade, seriam criados 180 mil empregos. Numa hipóte- se otimista de 6% de participação da agricultura familiar no mercado de biodiesel, seriam gerados mais de 1 milhão de empregos. Foto: Banco de im agens 12 A SP EC TO S SO C IA IS Outra medida de estí mulo à parti cipação dos agriculto- res familiares na cadeia do biodiesel é a possibilidade de acesso a um crédito complementar do Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar (Pronaf) para garanti r o custeio do culti vo das plantas oleaginosas ne- cessárias para a produção do biodiesel. Mesmo que o agricultor já tenha obti do junto aos bancos algum cré- dito de custeio ou de investi mento para seus culti vos alimentares, ele pode solicitar um segundo fi nancia- mento para a produção de culturas energéti cas antes de concluir o pagamento do anterior. Essa políti ca é também uma ferramenta para esti mular a diversidade da agricultura familiar, já que o agricultor poderá conti - nuar a plantar seu milho, seu feijão e suas hortaliças ao mesmo tempo em que culti var as oleaginosas necessá- rias à produção de energia. Nos últi mos anos, o Pronaf cresceu e nacionalizou-se , estando presente em todos os estados e em 5360 municípios. O acesso ao crédito também aumentou nas regiões Norte e Nordeste. Em 2007, cerca de 36 mil agricultores familiares ven- deram oleaginosas para as indústrias de biodiesel, o que representa 18% do biodiesel produzido. A re- gião Sul obteve melhor desempenho devido à par- ti cipação de cooperati vas de agricultores familiares (possuidoras da Declaração de Apti dão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf). As empresas localizadas na região Sudeste não conseguiram arti cular sati sfatoriamente os agri- cultores familiares locais e adotaram os estados do Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul para formar sua base produti va. O desempenho da agri- cultura familiar em biodiesel no Nordeste em 2007 foi abaixo do esperado dado a evolução no aprimora- mento da relação produtor e agricultor familiar. Consciente dessa necessidade de melhoria, o Minis- tério do Desenvolvimento Agrário editou uma nova instrução normati va que incorporou situações iden- ti fi cadas nos três anos de vigência do Selo tais como favorecimento a diversifi cação de matérias-primas da produção familiar e estí mulo para culturas que não seja a soja. Geração de empregos Além das vantagens ambientais, econômicas e sociais para o país, uma demanda em específi co é também muito importante quando se pensa nos benefí cios da produção dos biocombustí veis no longo prazo: a mão-de-obra para atuar no setor. Por ser uma área relati vamente nova, a oferta de empregos na área de biodiesel caminha em ritmo crescente. O agronegócio da soja, por exemplo, gera empre- gos diretos para 4,7 milhões de pessoas em diver- sos segmentos de insumos, produção, transporte, processamento e distribuição. Trata-se de uma pro- dução de 52 milhões de toneladas em 20 milhões de hectares, no total, diretos e indiretos, quatro hectares por pessoa. Para o negócio do dendê e da mamona, os números de empregos diretos, e somente na produção agrí- cola (sem envolver toda a cadeia produti va), são os seguintes: um exemplo para dendê, com 33 mil hec- tares plantados e 25 mil em produção, uti liza 3 mil empregos diretos. Na agricultura familiar “assisti da”, o dendê conta com uma família para 10 hectares. Já os assentamentos previstos para mamona conside- ram um trabalhador para cada 10-15 hectares (ape- nas para a produção agrícola). A área também pode ser consorciada com outras cul- turas, como o feijão e o milho. Levantamentos indi- cam que, na safra 2004/05, 84 mil hectares serão cul- 12 A SP EC TO S SO C IA IS Foto: D ivulgação/M D A 13 A SP EC TO S SO C IA IS Potencial de geração de emprego de algumas oleaginosas O Selo Combustí vel Social é um certi fi cado fornecido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para o produtor industrial de biodiesel que cumpre alguns requisitos sociais básicos. As empresas que obtém o Selo conquistam o direito à redução de im- postos como o PIS/Pasep e o Cofi ns. Em troca, se comprometem a comprar junto à agricultura familiar um percentual de suas matérias-primas, que varia de acordo com a região do país. Para as regiões Nordeste, Sudeste e Sul, o percen- tual mínimo de compra é de 30%. Já para o Norte e no Centro-Oeste, este valor é de 10% até a safra 2009/2010. As compras são realizadas através de leilões promovidos pela Agência Nacional de Pe- tróleo (ANP), e a principal empresa compradora é a Petrobras. O primeiro passo para a obtenção do Selo Combus- tí vel Social é estar legalmente consti tuído como pro- dutor de biodiesel e apresentar o projeto específi co Selo Combustível Social: uma das marcas registradas do programa de biodiesel ti vados com oleaginosas por agricultores familiares para a produção de biodiesel, dos quais 59 mil estão localizados no Nordeste. O culti vo da área total en- volve 33 mil famílias, das quais 29 mil do Nordeste. O Brasil possui 17 milhões de hectares de fl oresta na- ti va de babaçu, onde predomina o trabalho das mu- lheres (quebradeiras de coco) dentro de um sistema de exclusão social (renda de R$ 3,00 por dia, além de doenças ocupacionais). junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário que avaliará dentro das normas estabelecidas na nova Instrução Normati va nº 1, publicada no Diário Ofi cial da União em fevereiro de 2009. Com as alterações feitas na IN, a relação contratual foi aprofundada e o produtor de biodiesel passou a ter a responsabilidade de oferecer assistência técni- ca ao agricultor familiar atendendo as fases de plane- jamento do planti o, elaboração do projeto fi nancei- ro, condução da lavoura, colheita, entre outros. Em contraparti da, além da isenção de alguns impos- tos, o produtor que tem o Selo usufrui de melhores condições de fi nanciamento junto ao bando Nacio- nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e suas Insti tuições Financeiras Credenciadas. É im- portante ressaltar, também, que os leilões públicos para comercialização de biodiesel reservam 80% dos lotes para oferta exclusiva desses produtores que possuem o certi fi cado. A participação ativa de todos esses agriculto- res familiares e de suas organizações possibi- litam novas oportunidades de trabalhos para homens e mulheres do campo. Com isso, a produção das diversas oleaginosas em lavou- ras familiares em todo o Brasil tem feito com que o biodiesel seja uma alternativa impor- tante no processo de erradicação da miséria, pela possibilidade de ocupação de grandes contingentes de pessoas. Mamona (lavoura familiar) Soja (lavoura mecanizada) Amendoim (lavoura mecanizada) Babaçu (extrati vismo) Dendê (culti vo mecanizado) 0,470 0,210 0,450 0,120 5 2128 4762 2222 8333 200 2 20 16 5 5 Produti vidade (tonelada de óleo por hectare por ano) Oleaginosa Número de hectares (para produzir 1000 toneladas de óleo por ano) Ocupação de terra (hectares por família) Fo nt e: A nu ár io B ra si le iro d o Bi od ie se l – 2 ª ed iç ão / 2 00 8 14 A SP EC TO S A M BI EN TA IS Ampliação no uso do biodiesel dim Há algumas décadas,a questão que envolve a preser- vação e conservação do planeta virou um dos grandes temas de pesquisas e discussões mundo afora. Re- duzir a poluição e os impactos ambientais é, ou pelo menos deveria ser, um objeti vo de todos. Diariamen- te, estudos e notí cias indicam que os males causados pelo efeito estufa podem ser devastadores caso não se tomem medidas rápidas e efeti vas. Muitos são os fatores que desencadeiam essa problemáti ca, mas o uso de combustí veis fósseis é, provavelmente, o mais signifi cati vo entre eles. A poluição do ar, as mudanças climáti cas e a geração de resíduos tóxicos são resulta- dos da queima desses derivados de petróleo. Sendo o biodiesel um combustí vel “limpo”, e tendo em vista que sua adição ao óleo diesel fóssil tem reconhe- cido efeito redutor em termos de emissões de alguns poluentes, sua uti lização em maior proporção de mistu- ra poderia permiti r a diminuição de poluentes, mesmo em frotas mais anti gas e com menor índice de renova- ção, uti lizando plenamente a estrutura já existente. No Brasil, os combustí veis consumidos por automóveis e caminhões são responsáveis por emissões altamente prejudiciais à saúde, como o monóxido de carbono (CO), os óxidos de nitrogênio (NOx), os gases orgânicos reati - vos e o dióxido de enxofre (SO2). Além disso, o setor de transportes também é responsável por uma boa parte das emissões de dióxido de carbono (CO2), um dos prin- cipais responsáveis pelo aquecimento global. Ao con- trário do petróleo e do gás natural, os biocombustí veis que contêm oxigênio em sua composição, como o bio- diesel, ajudam a reduzir as emissões de monóxido de carbono quando adicionados aos combustí veis fósseis. E diminuir essas emissões representa menos poluição atmosférica local, principalmente nas grandes cidades. Melhorar as condições ambientais, sobretudo nos grandes centros metropolitanos, também signifi ca evitar gastos dos governos e dos cidadãos no com- bate aos males da poluição, esti mados em cerca de R$ 900 milhões anuais. Além disso, a produção de biodiesel possibilita pleitear fi nanciamentos inter- nacionais em condições favorecidas, no mercado de créditos de carbono, sob o Mecanismo de Desenvol- vimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Kyo- to. A vantagem desse mercado consiste, basicamen- te, em fi nanciar empreendimentos que contribuam para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e, consequentemente, com a melhoria das condições ambientais do planeta. Emissões veiculares Até meados de 1980, a poluição atmosférica urbana era atribuída basicamente às emissões industriais. Com o passar dos anos, esse cenário mudou e as emissões veiculares – resultado do crescimento cons- tante das frotas – tornaram-se os principais agentes poluidores nas grandes cidades. Esti mati vas elabora- das a parti r de dados da região metropolitana de São Paulo, apontam que os veículos diesel respondem por 32 % das emissões veiculares de hidrocarbone- tos (HC), 25 % das de monóxido de carbono (CO), 32 % das emissões de parti culados e 48 % de dióxido de enxofre (SOx). Ainda que os veículos diesel sejam os agentes minoritários das emissões automoti vas ur- banas, as frotas de ônibus, por seu grande número, acabam causando maior impacto ambiental. O uso do óleo diesel, como todo o derivado de petró- leo, é também uma práti ca que favorece a intensifi cação do efeito estufa global. Isto pode ser explicado por que hoje é feita a queima das reservas de carbono fossiliza- das na forma de petróleo. Assim, este carbono liberado à atmosfera pela queima de combustí veis fósseis levará milhões de anos para retornar à sua forma original. Re- 14 A SP EC TO S A M BI EN TA IS 15 A SP EC TO S A M BI EN TA IS conhecendo o problema representado pelos óxidos de enxofre em termos de poluição urbana, os entes gover- namentais tem buscado reduzir o conteúdo de compos- tos sulfurados nas especifi cações de óleo diesel. Paralelamente, o Conselho Nacional do Meio Am- biente (CONAMA) tem estabelecido regras mais rí- gidas em termos de emissões de poluentes. Desde janeiro de 2004, são válidas normas de emissões atmosféricas para frotas de ônibus semelhantes às normas européias. Para alcançar esse patamar, tor- naram-se necessários signifi cati vos investi mentos na renovação da frota, com uti lização de motores equi- pados com sistemas eletrônicos, que encarecem em torno de 15% o preço fi nal dos veículos. Entre as soluções propostas para a questão das emis- sões apresentam-se tecnologias diversas como célu- las de hidrogênio, propulsão elétrica ou híbrida, gás natural e biodiesel. Embora todas surjam como pos- sibilidades interessantes, implementáveis em prazos variáveis, o biodiesel apresenta uma vantagem: o de não demandar modifi cação mecânica signifi cati va nos motores ou substi tuição de frota, para ser uti lizado. Misturas superiores A Comunidade Européia, os Estados Unidos, a Argen- ti na e diversos outros países vêm esti mulando cada vez mais a substi tuição do petróleo por combustí veis de fontes renováveis. O objeti vo é reduzir a emissão de diversos gases causadores do efeito estufa. Estudos rea- lizados pelo Laboratório de Desenvolvimento de Tecno- logias Limpas (Ladetel), da Universidade de São Paulo (USP), mostram que essa substi tuição pode resultar em reduções de 20% de enxofre, 9,8% de anidrido carbôni- co, 14,2% de hidrocarbonetos não queimados, 26,8% de material parti culado e 4,6% de óxido de nitrogênio. Os números são resultado de um programa de testes veiculares que envolve 28 empresas do setor auto- mobilísti co. Considerado o maior do mundo em bio- diesel, ele está subdivido em quatro categorias, todas vinculadas ao governo federal: Veículos Leves (PSA- Peugeot Citroen); Caminhões e Vans (Volkswagen, Ford e Fiat); Máquinas “off road” (Caterpillar); Trato- res (Valtra). “Os primeiros testes com empresas do se- tor foram feitos em 2003 com B30. Com isso, introdu- zimos uma discussão com o governo e, desde então, conti nuamos com várias pesquisas. Na minha opinião, o B30 é a adição ideal pois representa o equilíbrio en- tre a redução das emissões, o custo e a redução do consumo”, explica o professor Miguel Dabdoub, coor- denador do Laboratório de Desenvolvimento de Tec- nologias Limpas (Ladetel). 15 A SP EC TO S A M BI EN TA IS minui emissão de poluentes 16 SA Ú D E PÚ BL IC A A poluição que mata nas grandes cidades do país A saúde ambiental é uma das áreas onde existe vas-ta distância entre o conhecimento e a ação. Todos os dias, novos estudos e pesquisas revelam dados assustadores associados à emissão de gases tóxi- cos e o bem-estar do ser humano e do planeta. Muitas são as refl exões e constatações sobre o assunto, mas sabe-se que a viabilização e uso de combustí veis que emitam menos poluentes é o caminho mais rápido para atenuar um sério problema de saúde pública: as doenças respiratórias rela- cionadas com os resíduos liberados pelos automóveis em grandes centros urbanos. Considerando o tamanho do território brasileiro e a distri- buição desigual da capacidade técnica e acadêmica para a realização de estudos de avaliação de risco em todo o país, faz-se obrigatório ampliar as pesquisas, em termos de quan- ti dade, qualidade e distribuição. Em outras palavras, a boa ciência e as avaliações de risco são as ferramentas necessá- rias para evitar os erros inerentes ao crescimento econômi- co descontrolado. Estudo em curso realizado pelo Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) revela que a poluição provocada pelos veículos mata indiretamente, em média, quase 20 pessoas por dia em São Paulo. O ar dessa região metropolitana,por exemplo, está quase três vezes acima do limite considerado tolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 10 microgramas de poluentes por m3. E os números não são impactantes apenas no quesito vida humana. Os cus- tos para o sistema de saúde também são exorbitantes: todo ano, são gastos R$ 334 milhões com 13,1 mil internações devido a doenças decorrentes da poluição. Para o médico Paulo Saldiva, professor da USP e uma das principais autoridades internacionais no tema da polui- ção, a solução para o problema pode vir através da inter- venção do governo, tanto com implantação de políticas quanto na mediação dos conflitos dos setores envolvi- dos, como a indústria automobilística, distribuidoras de combustível e construtoras de imóveis. “Cerca de 80% da população brasileira vive nas grandes cidades e, ain- da assim, o Brasil ainda não tem uma política ambiental voltada para o homem. O corredor de ônibus, por exem- plo, é uma chaminé linear nas grandes cidades e o óleo diesel responde por 42% dessa poluição. Por esse motivo, qualquer medida de limpeza no diesel já ajuda a diminuir esses números”, ressalta. 16 SA Ú D E PÚ BL IC A Resultado da poluição gerada pelos veículos na região metropolitana de São Paulo 28,1 microgramas é a concentração de poluentes por metro cúbico de ar 10 microgramas de poluentes por m3 é o limite considerado tolerável pela OMS 7.187 é o número de pessoas que morrem todos os anos víti mas de doenças cardiorrespiratórias “aceleradas” pela poluição 13,1 mil pessoas são internadas anualmente com problemas de saúde que se agravam pelas emissões de gases tóxicos R$ 334 milhões é o custo anual das internações decorrentes da poluição R$ 83,5 milhões é o valor reti rado dos cofres públicos anualmente para cobrir os gastos com internações N Ú M ER O S Fonte: LPAE e LAPAt/USP - 2009 17 A SP EC TO S EC O N Ô M IC O S No mundo globalizado e competi ti vo, um dos termômetros da riqueza de um país é a geração de energia. Em todo o planeta, os últi mos 300 anos foram marcados por três grandes ciclos energéti cos: no fi nal do século XIX, o carvão era considerado ouro. Os últi mos cem anos se caracterizaram pela supremacia do petróleo, que regeu as relações econômicas nos cinco conti nentes e conti nua a mostrar as suas garras. Finalmente, a grande aposta para os novos tempos é o que muitos classifi cam como “o ciclo da biomassa”. Ao contrário do que se pensava há cerca de 150 anos, o petróleo não é inesgotável. Esti ma-se que as reservas petrolíferas fi quem exauridas em 40 ou 50 anos. Assim, a uti lização de novas fontes energéti cas torna-se premente e esse cenário está cada vez mais no foco do governo, empresários e estudiosos, que voltam todos os olhares para o biodiesel. Por ser uma fonte energéti ca nova e com grande pers- pecti va de expansão, a produção de biodiesel se eleva a altas taxas há quase uma década. Desde 2003, quan- do a produção mundial ultrapassou 1 bilhão de litros, o crescimento médio foi de 200,5% por ano até 2008. A União Europeia responde por cerca de 75% da pro- dução mundial. Por lá, a taxa de crescimento se man- tém com média de 34% ao ano desde 2005, ati ngindo 8 bilhões de litros em 2008. O maior produtor mundial de biodiesel é a Alemanha, que, de 2003 para 2006, foi responsável por cerca de metade de toda a produção. Vale ressaltar que quase 100% do biodiesel produzido na Alemanha provêm da colza, uma oleaginosa cujo teor de óleo está longe de impressionar. Nesse sen- ti do, o Brasil tem grandes vantagens, uma vez que a biodiversidade do país permite o aproveitamento do óleo de dezenas de espécies, como a soja, o dendê, o girassol e o pinhão manso. Aqui, a mudança para o B3, em 2008, contribuiu para um aumento consi- derável da produção, passando de menos de meio bilhão de litros para um total de 1,167 bilhão. Nova fonte energética comemora grande expansão 17 A SP EC TO S EC O N Ô M IC O S “Hoje o sucesso é tanto que teremos 4% em julho e já falamos do B5 em 2010” Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão 18 A SP EC TO S EC O N Ô M IC O S Ano passado, o Brasil foi o 5º maior produtor mundial, atrás da Alemanha, dos Estados Unidos, da França e Argenti na. A posição no ranking é comemorada pelo setor e governo, que apostam cada vez mais no poten- cial do país. “Quando da discussão da lei do modelo tributário do biodiesel, da qual fui relator no Senado, a preocupação era se teríamos capacidade para aten- der ao percentual de 2%. Hoje o sucesso é tanto que teremos 4% em julho e já falamos do B5 em 2010”, ressalta o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Além de apresentar refl exos positi vos para o meio ambiente, a produção de biodiesel tem grande im- pacto sobre a balança comercial. “Há muitos anos, o Brasil é importador de diesel. Desta forma, produzir biodiesel é signifi cati vo na medida em que você fi ca menos dependente, não precisa mais importar uma quanti dade signifi cati va de diesel. Além disso, gera- se emprego e se agrega valor a uma cadeia produti - va no país”, observa Denilson Ferreira, coordenador geral de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, em 2008, o Brasil deixou de importar 1,1 bilhões de litros de diesel, o que representa uma economia de aproximadamente US$ 976 milhões para o país. A mistura de biodiesel ao combustí vel (B2 no primeiro semestre e B3 no segundo) foi o principal fator para o ganho na balança comercial. Com a adição de 4% em julho de 2009, a tendência é diminuir ainda mais a dependência do diesel importado. Cada ponto per- centual acrescentado representa um incremento no consumo de 450 milhões de litros ao ano. Grande parte da demanda de biodiesel vem do transporte: o setor representa 80% do consumo, enquanto que a agropecuária responde por 16%. Outra vantagem da produção desse biocombustí vel é a agregação de valor ao produto agrícola. “Se você pensar no sebo bovino, por exemplo, está agregando um alto valor porque ele era um produto descarta- do. No caso da soja, cria-se um outro mercado para a cultura”, analisa a economista Sylvia Macchione Saes, professora doutora do Departamento de Admi- nistração da Universidade de São Paulo. Apesar de a tecnologia para o culti vo de diversas matérias-primas ainda ser incipiente, investi r no biodiesel permite a diversifi cação da matriz energé- ti ca. A introdução de novas oleaginosas movimenta o mercado e o prepara para imprevistos como a va- riação da bolsa, do clima e o surgimento de pragas. “Sempre quando o produtor está voltado para uma só cultura, fi ca mais sujeito a problemas. Por outro lado, se ele tem uma matriz mais variada, pode ga- ranti r seu lucro de outra forma”, conclui Sylvia Saes. Ela lembra que produzir matérias-primas disti ntas pode gerar emprego e renda, principalmente para os agricultores familiares, cumprindo uma das metas do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNBB). O objeti vo do Ministério do Desenvolvimen- to Agrário é ter 82 mil agricultores familiares envolvi- dos na produção desse biocombustí vel. 18 A SP EC TO S EC O N Ô M IC O S SCN QUADRA 01 BL C Edifí cio Brasília Trade Center, Nº 85, Conjunto 305 - Brasília/DF Telefone: (61) 2104 - 4411 www.ubrabio.com.br
Compartilhar