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APOSTILA DE DIREITO CONSTITUCIONAL REDEJURIS 2016

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REDE JURIS – WWW.REDEJURIS.COM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA DE DIREITO CONSTITUCIONAL - 2016 
 Prof. Bruno Pontes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo da apostila, sem autorização do autor – Lei 9610/98. 
 
 
 
Sumário 
 
 
Capítulo I: DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUCIONALISMO 
 
Capítulo II: CONCEITO E SENTIDOS DE CONSTITUIÇÃO 
 
Capítulo III: DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
Capítulo IV: INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO 
 
Capítulo V: NOVA CONSTITUIÇÃO E DIREITO ANTERIOR 
 
Capítulo VI: PODER CONSTITUINTE 
 
Capítulo VII: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
Capítulo VIII: DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
Capítulo IX: ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 
 
Capítulo X: ORGANIZAÇÃO DOS PODERES 
 
Capítulo XI: DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA 
 
Capítulo XII: DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 
 
Capítulo XIII: DA ORDEM ECONÔMICA 
 
Capítulo XIV: DA ORDEM SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 
 
Na confecção desta apostila, pretendi equilibrar quatro abordagens sobre o Direito Constitucional: 
objetivividade, método socrático (perguntas e respostas), jurisprudência do STF e visão crítica em alguns 
pontos. Quem tiver a oportunidade de ler, perceberá que a mesma é objetiva em determinados pontos e 
mais extensa em outros, considerados mais importantes. Também vai conviver com muitas citações à 
jurisprudência do STF, inclusive com coletânea das principais de 2016, além de questionamentos 
subjetivos, com respostas imediatas, e questões de concursos com respostas ao final. 
 
 
Não consta um índice pormenorizado, como nos livros. Entendi suficiente apenas um sumário 
geral, em capítulos, para o leitor em fazer suas próprias anotações e reler o que for necessário. Há um 
incentivo, assim, à memorização e um melhor aprendizado. 
 
 
Destaco que a apostila não abordou temas que constam em outras matérias, justamente para 
aproveitar o tempo e não ser repetitiva. Assim, por exemplo, não consta análise sobre o “habeas corpus” e o 
mandado de segurança, analisados no Direito Processual Penal e no Direito Processual Civil. O mesmo se 
deu em relação ao Capítulo VII do Título III (Da Administração Pública), porque as regras e princípios 
constitucionais pertinentes costumam ser abordados no Direito Administrativo. Em relação ao Título VI 
(Da Tributação e do Orçamento), a abordagem sempre está presente no Direito Tributário e no Direito 
Financeiro. 
 
Importante sempre ter em mãos uma Constituição atualizada (até EC 93, de 08.09.2016). Na 
Apostila, muitas vezes há citação de normas inseridas na Constituição, porém sem transcrição das mesmas; 
em outros momentos, quando necessário, alguns dispositivos foram transcritos em sua totalidade. 
 
 
 
Espero que a leitura seja proveitosa. 
 
 
 
Prof. Bruno Pontes – bclpontes@hotmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I: DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUCIONALISMO 
 
 
 Conceito de Direito Constitucional. 
 
 Diversos são os conceitos de Direito Constitucional, porém todos na mesma índole doutrinária de 
destacá-lo como o ramo que se estuda os elementos constituidores do Estado (daí Direito “Constitucional”, 
isto é, que constitui o Estado). 
José Afonso da Silva, por exemplo, diz que o Direito Constitucional é “o ramo do Direito Público 
que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”. Uadi Lamego Bulos, 
por sua vez, enfatiza que “Direito Constitucional é a parcela da ordem jurídica que compreende a 
ordenação sistemática e racional de um conjunto de normas supremas encarregadas de organizar a 
estrutura do Estado e delimitar as relações de poder”. Por isso, hoje é comum afirmar que o Direito 
Constitucional é considerado como um ramo do Direito Público - na verdade o Direito Público por 
excelência - porque visa o estudo das normas que estruturam o Estado. 
O Direito Constitucional não teria, em princípio, por objetivo tratar das relações entre os cidadãos, 
mas sim a ontologia estatal, muito embora a relação do Estado com os cidadãos seja algo, hoje em dia, 
natural para o Direito Constitucional em face dos direitos e garantias fundamentais. Entretanto, cabe uma 
observação, no sentido de que hoje o Direito Constitucional não pode mais ser visto apenas como um ramo 
do Direito Público que tem normas destinadas única e exclusivamente para regulação do tratamento 
cidadão-Estado e do próprio Estado, visto que os próprios direitos fundamentais têm eficácia horizontal, 
isto é, uma eficácia que regula a relação entre os cidadãos, sem esquecer que as normas constitucionais 
sobre a ordem econômica, em especial a valorização do trabalho humano, a livre iniciativa e os princípios 
gerais (art. 170) são destinadas para a regulação da própria atividade econômica. Além do mais, os 
conhecidos direitos sociais trabalhistas, que estão tutelados na Constituição (art. 7º), visam proteger o 
trabalhador na sua relação com a iniciativa privada, e não unicamente na sua relação com o Estado. 
 
 
Características do Direito Constitucional 
 
Merecem friso as características do Direito Constitucional expostas por Kildare Gonçalves 
Carvalho. Para ele, as características são estas – com minhas observações: 
a) supremacia – está no ápice da ordem jurídica, já que estuda justamente as normas 
hierarquicamente superiores; 
b) transversalidade – se o Direito Constitucional está no ápice do sistema jurídico, deve ter um 
caráter dialógico (dialogar com outras ciências) para poder estabelecer as opções dogmáticas para toda a 
sociedade nacional (tem que ter um intertexto aberto). Esta transversalidade é que demonstra a importância 
da aproximação do Direito Constitucional não só com outras ciências, mas também com outros ramos do 
Direito (veja à frente); 
c) politicidade – como o Direito Constitucional estuda a Constituição, e esta rege as relações de 
poder, muitas vezes tal Direito impõe decisões baseadas em critérios políticos, e não critérios puramente 
técnico-jurídicos. Esta característica faz com que o STF, naturalmente, tenha funções políticas, e não 
meramente técnicas-jurídicas (vide adiante, no Poder Judiciário); 
d) estadualidade – o Direito Constitucional, já se disse, é o estudo de tudo aquilo que “constitui” o 
Estado; daí não há Estado sem o Direito Constitucional, porque todo Estado tem uma Constituição, escrita 
ou costumeira. Existem, até, teorias que igualam o Estado com o Direito, até porque determinado país surge 
quando a sua Constituição é construída; 
e) legalismo – o legalismo é uma característica do Direito Constitucional porque até este Direito 
preocupa-se com suas fontes, e uma grande fonte é a Constituição, que é uma norma. Afinal, estamos na 
era do constitucionalismo de Direito, com constituições escritas; 
f) fragmentarismo – o Direito Constitucional, basicamente, é principiológico, porque ele visa 
estudar os fundamentos gerais do Estado e da sociedade insertos no texto constitucional (evidentemente 
que, com o neoconstitucionalismo, muitos temas são tratados até à exaustão pelas constituições analíticas, 
mas a Constituição é norma fragmentária justamente por tratar, via de regra, de temas importantes). Por 
isso, não pode tal Direito se ocupar de detalhes e regulamentações excessivas, deixando para o legislador 
infraconstitucional completar sua obra. Então, o Direito Constitucional e a Constituição não completam a 
normatização dos temas, porque impõe fragmentos gerais dos principais temas na Carta Política (neste 
sentido,veja a seguir que não há, via de regra, o princípio da reserva constitucional); 
g) juventude – o Direito Constitucional surgiu depois das Revoluções Liberais do final do Século 
XVIII, em especial na França e na Itália, e por esta razão vários temas do Direito Constitucional Geral 
(Poder Constituinte, hermenêutica, teoria da Constituição – conceito, objeto, classificação, tipos, natureza 
das normas constitucionais etc.) ainda estão em estudo, sem conclusões razoável e universalmente aceitas. 
A face mais atual desta juventude é o neoconstitucionalismo, que provoca várias discussões, em especial 
diante dos novos métodos e princípios de hermenêutica constitucional (normativo estruturante, científico 
espiritual, hermenêutico concretizador, tópico problemático, princípios da presunção de 
constitucionalidade, da unidade, do efeito integrador, da concordância prática etc.) e da jurisdição 
constitucional, cada vez mais atuante nas relações de poder; 
h) abertura – o Direito Constitucional não pode ser fechado, e o próprio ordenamento jurídico não 
é assim tão puro como idealizava Hans Kelsen, justamente porque deve absorver experiências, estudos, 
ideias e realidades das demais ciências e das complexidades da sociedade moderna, até por ser transverso e 
fragmentário. Nas Ditaduras, o Direito Constitucional é fechado, no sentido de que não se abre para as 
experiências da sociedade, porque geralmente o que é dever do cidadão para com o Estado. 
O Direito Constitucional também tem a característica da inicialidade, porque para compreender os 
demais ramos do Direito, primeiro o estudioso deve ir na fonte do sistema jurídico, que é a Constituição. 
Daí existir a teoria da Dupla Finitude do Direito (vide a seguir), justamente porque o Direito não pode 
regredir indefinida e infinitamente, já que nasce na Constituição. 
 
Divisão didática do direito constitucional 
 Também em função desta peculiaridade diferencial, é costume dividir o Direito Constitucional em: 
a) geral; b) especial; e c) comparado. 
 a) Direito constitucional geral (ou comum) procura unificar e delimitar pontos comuns nas 
Constituições (conceito de Poder Constituinte; classificação das Constituições; métodos de interpretação). 
Interessa à Teoria Geral do Direito Constitucional e garante a cientificidade do Direito Constitucional; 
 b) Direito constitucional especial (particular, positivo ou interno), se dedica aos estudos de 
determinada Constituição de um determinado Estado (Brasil, Itália, Portugal etc.); 
 c) Direito constitucional comparado, é a referência à parte do direito constitucional que estuda as 
diversas constituições, comparando seus contrastes e suas semelhanças (método comparativo). 
 
 
Direito constitucional processual e direito processual constitucional 
 A doutrina diferencia direito constitucional processual e direito processual constitucional. Direito 
constitucional processual é o direito que estuda as normas processuais da Constituição (juiz natural, do 
devido processo legal, da ampla defesa, a análise da existência ou não do duplo grau de jurisdição no corpo 
da Constituição, da fundamentação das decisões, da proibição de provas ilícitas, e as regras de competência 
dos Tribunais). Direito processual constitucional é o direito que estuda as normas da Constituição que 
visam efetivar os direitos constitucionais por meio da jurisdição constitucional (é o caso das garantias 
constitucionais, como “habeas corpus”, que visa garantir o direito de locomoção; o mandado de segurança 
para garantir o direito líquido e certo contra abuso de autoridade; o “habeas data” e o mandado de injunção; 
das ações do controle concentrado de constitucionalidade, que visam efetivar os valores constitucionais 
ante normas e condutas inconstitucionais; da intervenção federal e estadual). 
 
 
O que significa o “caráter dialógico” do Direito Constitucional? 
Se observarmos o conceito de Direito Constitucional, logo chegaremos à conclusão de que ele não pode ser 
bem compreendido se lhe faltar um diálogo permanente com diversos ramos do Direito e diversas outras ciências 
(característica da transversalidade). Isto ocorre porque seu principal objeto é a Constituição, que por sua vez trata de 
temas que não podem ser compreendidos sem uma aproximação com as demais ciências que, inevitavelmente, 
influenciam o constitucionalismo atual. Se antes o Direito Constitucional e a Constituição não precisavam se 
aproximar de outras ciências, porque lhe faltava um aspecto axiológico, porque lhe faltava uma abertura política e 
valorativa das coisas da vida, restringindo-se ao aspecto instrumental de Governos, sem força normativa, com poucos 
princípios e ainda sem oportunidade influenciar e dirigir a atuação do Estado, atualmente mostra-se imprescindível o 
diálogo com todas as ciências para melhor compreensão do espírito, do alcance e dos objetivos constitucionais. 
Afinal, já passou o tempo em que o Supremo Tribunal Federal, os Tribunais, o Congresso, o Executivo, os agentes 
públicos e os operadores jurídicos, para lerem a Constituição, não precisavam se preocupar com influências externas 
ao Direito. A relação do Direito Constitucional com os outros ramos do Direito é praticamente uma relação de causa e 
efeito, na medida em que do Direito Constitucional é que surgem os outros ramos, mais propriamente da Constituição. 
Difícil imaginar um ramo do Direito que não decorra de princípios e regras constitucionais, em maior ou menor 
medida. Até mesmo para formação de novos ramos, como o Direito Indígena, o Direito Econômico, o Direito 
Urbanístico, o Direito Educacional, a Constituição é decisiva, na medida em que traça algumas diretrizes que, por ter 
força vinculante e exigir aplicação com máxima efetividade, acabam incentivando a expansão constitucional de temas 
relativos a tais ramos do Direito. 
 
 
 Conceito de constitucionalismo 
 
 O constitucionalismo pode ser considerando um movimento político, ideológico e jurídico oposto 
ao absolutismo estatal, com objetivo de estabelecer um regime constitucional limitador da atividade estatal, 
protegendo, assim, a liberdade individual do ser humano. Foi uma técnica jurídica encontrada para que o 
Estado, organizado e limitado por uma Constituição, não violasse os direitos fundamentais dos cidadãos, e 
por isso pode ser considerado, sem dúvida, uma grande conquista da humanidade. 
O constitucionalismo teve uma ideia inicial nuclear: previsão de separação de poderes e direitos 
fundamentais do homem1. Com o passar do tempo, passou a ter maiores contornos científicos, com é o caso 
da ideia de superioridade hierárquica em relação às demais normas, força normativa, criação de sistema de 
freios e contrapesos, aumento das previsões constitucionais e concretização da jurisdição constitucional. 
 
 
 Sentidos de constitucionalismo 
 
 É possível dividir o constitucionalismo em dois sentidos: o amplo e o estrito. 
No sentido amplo, constitucionalismo significa que todo Estado sempre possui uma Constituição, 
seja em qualquer época da humanidade. Mesmo não havendo um documento formal chamado de 
Constituição, há uma constituição na sociedade, isto é, uma forma de existir e se autoregulamentar, mesmo 
costumeiramente. Este sentido amplo enfatiza que sempre haverá regulamentações para as condutas, 
sempre haverá limites, em decorrência da cultura da sociedade e dos diversos métodos de controle social e 
de relacionamento humano. Até na mais afastada aldeia indígena, haverá formas razoáveis e aceitas de 
regular a conduta dos integrantes do grupo, mesmo que a regulamentação não esteja expressa em um 
documento, daí porque o constitucionalismo em sentido amplo é chamado também de primitivo: afinal, nos 
primórdios da humanidade, mesmo sem Estado, a sociedade buscou se organizar e se autolimitar dentro de 
determinadas concepções. 
No sentido estrito, constitucionalismosignifica uma técnica jurídica elaborada para colocar em 
um documento escrito superior, a tutela das liberdades e regular os poderes do Estado, limitando-os para 
o fim de impedir a opressão e o abuso. 
 
 
 Origem formal e divisão histórica do constitucionalismo 
 
 É costume destacar que a origem formal do constitucionalismo está nas constituições escritas e 
rígidas dos Estados Unidos da América, de 1787, e da França, de 1791, consequência das Revoluções 
Burguesas deste final do Século XVII. Foi a partir destes momentos da história da humanidade que o 
mundo definitivamente se inclinou para a necessidade de cada país ter sua Constituição, e nela constar a 
organização do Estado, suas limitações, além da previsão de direitos e garantias fundamentais para os 
cidadãos. 
 
 
O constitucionalismo surgiu entrelaçado com qual movimento histórico? 
 
 
Veja que o constitucionalismo surgiu entrelaçado com a ideia de liberalismo, isto é, com a ideia de 
preservação da liberdade individual, no campo econômico, político, religioso e intelectual, contra as investidas e as 
interferências insensatas e arbitrárias do Poder Público. Naquele momento histórico do final do Século XVIII, que 
suscitaram as revoluções nas então colônias da Inglaterra (Estados Unidos) e na França, o mundo estava sendo 
contaminado com as ideias liberais. A maior prova disto é que Adam Smith havia publicado o seu livro A Riqueza das 
Nações, no ano de 1776, que iniciou a consolidação do capitalismo ao sustentar que a iniciativa privada em busca do 
lucro é uma força imensa que incrementa a capacidade e a criatividade humana, produzindo riquezas, 
desenvolvimento, libertação do ser humano e bem estar comum, não podendo o Estado “atrapalhar” este fervor 
humano, interferindo na liberdade individual e, assim, atravancando todo o processo. O constitucionalismo, então, foi 
influenciado decisivamente pelo liberalismo, no sentido de que as constituições poderiam frear as intervenções 
arbitrárias do Poder Público e, consequentemente, atingir o objetivo maior, que era dar segurança aos indivíduos para 
viver e produzir. Vários movimentos históricos incentivaram o aparecimento do constitucionalismo, como é o caso do 
cristianismo, do pelagianismo, do humanismo e do renascentismo, mas sem dúvida a maior influência ocorreu com o 
Iluminismo e com o Liberalismo. 
 
1 Inspirado no Iluminismo e na Revolução Americana de 1776, a Assembleia Nacional Constituinte da França 
revolucionária aprovou, em 26 de agosto, e votou definitivamente em 02 de outubro de 1789, a Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão (que serviu de base para a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 
1948). Em seu art. 16 previa: “A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a 
separação dos poderes não tem Constituição”. Daí porque a separação dos poderes e os direitos fundamentais 
surgiram como os pilares básicos das primeiras constituições. 
 
 
O que é constitucionalismo whig? 
 
Constitucionalismo whig, ou termidoriano, refere-se ao constitucionalismo inglês, construído através de 
movimentos sem derramamento de sangue, especialmente por conta da Revolução Inglesa do Século XVII (iniciada 
com a Revolução Puritana de 1640 e concluída com a Revolução Gloriosa 1688), que significou, em apertada síntese, 
a limitação ao absolutismo monárquico pela transferência dos poderes para o Parlamento. Na Revolução Gloriosa, o 
conglomerado whig se transformou, posteriormente, no Partido Liberal, com várias concessões aos parlamentares e a 
implantação do Bill of Rights, de 1689, inclusive mantendo a monarquia, portanto sem mudanças radicais e sem 
grandes traumas e derramamentos de sangue (daí o nome “Gloriosa”, para qualificar a Revolução inglesa). É comum 
citar que o constitucionalismo francês e o norte-americano, ao contrário do inglês, foi revolucionário, abrupto e 
sangrento, porque decorreram de duas grandes Revoluções com intensa luta e muito derramamento de sangue. 
 
Constitucionalismo transnacional e transconstitucionalismo 
O constitucionalismo transnacional (ou supranacional, ou internacional, ou ainda plural ou global) não se 
confunde com o chamado transconstitucionalismo. O transnacional é um fenômeno mundial, baseado no direito 
natural, que subordina os poderes constituintes dos países à uma ideia constitucional universal, de modo que seria a 
possibilidade de uma só Constituição para todos os países (como se existissem valores constitucionais universais que 
conformam os constitucionalismos nacionais). O transconstitucionalismo, a partir da obra de Marcelo Neves, é uma 
relação de direito interno e o direito internacional, e ocorreria sempre que, na construção de constituições nacionais2, 
houvesse influência do constitucionalismo de outros países. Assim, o transconstitucionalismo propugna por uma 
relação transversal permanente entre as ordens jurídicas distintas, com diálogo permanente, sempre em torno de 
problemas constitucionais comuns, como é o caso dos direitos humanos. 
 
 
 
 Neoconstitucionalismo 
 
 Hoje se fala em neoconstitucionalismo, para enfocar um novo movimento, surgido especialmente 
após a 2ª Guerra Mundial e integrado por vários jusfilósofos com concepções comuns sobre o Direito, 
tratando-o de maneira singular, daí porque muitos consideram o neoconstitucionalismo uma nova cultura 
jurídica, baseada na constitucionalização dos direitos, na força normativa dos princípios constitucionais, no 
aumento da jurisdição constitucional, no carregamento ético filosófico da Constituição e na preocupação 
com a concretização das normas constitucionais. 
De todo modo, existe uma certa tendência comum, seja pelos fundamentos, pelas consequências e 
fatos motivadores desta nova cultura jurídica, especialmente partindo da existência de constituições mais 
abrangentes, com carga axiológica e normas programáticas de cunho social e ainda com princípios 
arraigados de força normativa, o que provoca, inevitavelmente, o aumento da jurisdição constitucional 
(mais poder aos juízes constitucionais no trabalho de aplicação e interpretação das normas constitucionais). 
É dizer: não basta apenas a Constituição limitar a atuação estatal, exigindo da mesma uma abstenção, 
porque é preciso que a Constituição exija uma ação estatal para melhorar as condições de vida do povo, 
passando ela a ser o ponto de partida para obrigar a todos, com possibilidade dos atos inferiores serem 
nulos. 
As consequências foram e são várias, não só em relação ao aumento da participação do Judiciário 
no cenário político nacional, mas também nas novas formas de interpretar e aplicar a Constituição, voltadas 
mais para os casos concretos (daí o retorno do método tópico), afastadas um tanto daquelas destinadas para 
o direito infraconstitucional, a análise doutrinária mais intensa sobre os princípios constitucionais, seus 
conflitos e suas diferenças com regras, a insegurança jurídica, a maior aplicação da ponderação e um 
preconceito mais acentuado com o silogismo e o positivismo e tantas outras peculiaridades que, de fato, 
criam uma nova maneira de encarar o Direito. 
 As constituições surgiram sintéticas, muitas vezes como símbolos de um momento histórico de 
ruptura. Portanto, natural serem pouco carregadas de matérias, porque bastava a inserção de um ou dois 
assuntos essenciais, como divisão do poder e direitos e garantias individuais, até porque o importante era a 
revolução e o sentimento social expressado na Constituição. O mundo, porém, assustou-se com a 
capacidade malévola do Estado, em especial após as calamidades da 2ª Guerra Mundial, e enxergou nas 
constituições um porto seguro para despejar todas as suas ansiedades. 
 
2 No caso de influência de ideias nos processosconstituintes de outros países, para as discussões nas Assembleias 
Nacionais Constituintes, teríamos o transconstitucionalismo. O mesmo ocorre, de uma forma mais ampla, quando um 
Ministro do STF se vê influenciado pelas decisões tomadas pela Suprema Corte Norte-Americana. 
 Como não poderia deixar de ser, o termo neoconstitucionalismo pode ser contestado, na medida em 
que a nova onda de ver e sentir as constituições pode muito bem ser chamado de uma nova fase do 
constitucionalismo, ou então apenas a ratificação do desenvolvimento do constitucionalismo. É até possível 
falar em constitucionalismo primitivo, antigo, moderno e pós-moderno, ou contemporâneo, mas o 
importante, de todo modo, é destacar que a sociedade mundial elegeu a Constituição para nela desembocar 
os anseios e valores que vão se cristalizando, e enxergar nela o local correto de depositar uma “esperança 
civilizada”. Por certo que não basta descarregar as ansiedades na Constituição, mas é, sem dúvida, um 
ótimo começo, porque demonstra cada vez mais a necessidade de concretizar sentimento constitucional, 
para integrar a sociedade em um compromisso nacional estampado no documento supremo. 
Pode-se dizer, também, que o neoconstitucionalismo caracteriza-se pelo pós-positivismo, isto é, 
certa confluência entre o jusnaturalismo e o positivismo. Isto ocorreu porque o jusnaturalismo procurava 
dar proximidade entre lei e razão, sempre baseado na filosofia e nos princípios universalmente aceitos, mas 
pecava por ser metafísico e anticientífico, dando margens a excessivas subjetividades, daí a insegurança. 
Era baseado no direito livre: o aplicador do direito deve vislumbrar primeiro uma decisão justa, e depois 
buscar um fundamento para a decisão. O jusnaturalismo, portanto, se preocupava com a limitação com o 
direito naturalmente considerado pelo grupo social, e acabava influenciando as decisões, no sentido de não 
haver um vínculo inicial e intenso do julgador com a lei, daí porque seu principal método era o casuísmo 
(decisão de acordo com o caso e a ética pessoal do julgador). Por outro lado, o positivismo buscava a 
objetividade científica e acabava por colocar o Direito, a justiça e a filosofia, na lei, supervalorizando-a e 
criando uma legalidade estrita. O positivismo deu ensancha a injustiças e autoritarismo, como ocorreu no 
fascismo e no nazismo, que sempre agiram sob a proteção da lei, porque sempre havia o risco de colocar 
toda a ideologia política, as vaidades pessoais dos governantes, na lei, sem que ninguém pudesse discordar, 
interpretar ou tê-la por inválida (decisão de acordo com o silogismo). 
Quais das possibilidades deveriam ser extirpadas: a insegurança do jusnaturalismo ou a 
possibilidade de injustiça do positivismo? Se de um lado a lei poderia ser usada para limitar as mentes e 
colocar, à ferro e fogo, a ideologia de quem está no poder, por outro lado o jusnaturalismo deixa passear em 
mares desconhecidos, a liberdade do julgador. Diante desta confessada divergência, deste antagonismo 
angustiante, surge o pós-positivismo como forma de suplantar os defeitos do positivismo e do 
jusnaturalismo, buscando enfatizar suas vantagens para, sem nunca desprezar o direito posto, valorizar uma 
nova interpretação baseada na justiça, na ética, sem autoritarismo e sem excesso de subjetividades. É um 
meio-termo entre o folgazão e o severo, entre o chiste e o hirto: nem tanto ao céu e nem tanto à terra. Daí 
porque até mesmo no Direito Administrativo, o pós-positivismo não permite mais que se fale apenas em 
ato administrativo vinculado ou ato administrativo discricionário, porque necessariamente deve-se atentar 
para os graus de vinculação e os graus de discricionariedade, a depender das situações concretas3. 
 
Quais são as características do neoconstitucionalismo? 
 
A verdadeira intenção do neoconstitucionalismo é a mudança de paradigma, especialmente para: a) 
reconhecer a força normativa da Constituição; b) expandir a jurisdição constitucional; c) forçar novas elaborações de 
interpretação constitucionais; d) concretizar a Constituição: 
 
 a) Reconhecer a força normativa da Constituição e de seus princípios. A Constituição não é mais um 
documento meramente político, para somente organizar os Poderes e deixar para a conformação discricionária 
legislativa e política, a concretização do seu espírito, porque passa a ter força normativa para ser aplicada na vida 
social, uma vez que cria mecanismos próprios de coação e cumprimento forçado. É dizer: a Constituição não é mais 
um depósito de promessas vagas e sugestões sem aplicabilidade. Os princípios constitucionais, da mesma forma, 
podem ser aplicados diretamente para resolver as questões problemáticas da sociedade, em especial quando 
demandam uma ponderação das circunstâncias do caso concreto, inclusive pela possibilidade de afastar, 
temporariamente, a aplicação de determinadas regras que criem, concretamente, violação aos direitos fundamentais. 
Neste sentido, a Constituição tem carga material, valorativa, axiológica, com base em teorias materiais, não sendo 
mais apenas um instrumento de Governo, formal apenas, fundamentada em teorias formais, daí a necessidade de 
aproximação do Direito com a Ética4-5, na medida em que tem hoje conceitos jurídicos indeterminados que exigem do 
 
3 O STF chegou a incluir, em um dos seus acórdãos, o seguinte: “O pós-positivismo jurídico, conforme argutamente 
aponta Gustavo Binenbojm, ‘não mais permite falar, tecnicamente, numa autêntica dicotomia entre atos vinculados e 
discricionários, mas, isto sim, em diferentes graus de vinculação dos atos administrativos à juridicidade’ (Uma 
Teoria do Direito Administrativo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 208)” (Rcl 11243/República Italiana). 
4 É comum a afirmação que o neoconstitucionalismo aproximou o Direito da Moral, o que é um equívoco, na medida 
em que a Moral é algo individual, construída pelo ser humano após suas nuanças emocionais, educacionais, 
Judiciário conhecimento da realidade social e aplicação de novos métodos de interpretação constitucional. Hoje em 
dia, a força normativa da Constituição, como se verá no decorrer desta Apostila, é utilizada para: a) criar a tese da 
coisa julgada inconstitucional, afastando a aplicação da Súmula 343 do STF quando a lei aplicada pelo juiz for 
declarada inconstitucional; b) reconhecer o direito do concursado a ser nomeado dentro do número de vagas 
oferecidas no Edital, em face da força normativa do princípio do concurso público; c) fundamentar a abstrativização do 
controle difuso de constitucionalidade; d) reconhecer a omissão inconstitucional inclusive no caso de ausência de 
políticas públicas; e) aumentar a eficácia das normas programáticas; f) rebater a tese de que a Constituição é mera 
folha de papel (embate entre Ferdinand Lassale e Konrad Hesse) etc. 
 
 b) Expandir a jurisdição constitucional. As Constituições criaram mecanismos judiciais para sua real 
efetivação, em especial a criação de Cortes Constitucionais em quase todos os países europeus, dando ao Poder 
Judiciário o poder para fiscalizar o cumprimento das normas constitucionais, que passaram a abarcar várias questões 
que antes não constavam dos textos constitucionais, chegando mesmo a ser prolixa em alguns casos. No Brasil, já 
em 1965 foi a CF/46 emendada para criar a ação direta de inconstitucionalidade, ou chamada de ação genérica 
naquela época, e com a CF/88, foram criados outros diversos mecanismos, como a ação direta de 
inconstitucionalidade por ação e por omissão, a ação declaratória de constitucionalidade (EC 03/93), a arguição de 
descumprimento de preceito fundamental, além da quebra do monopólio do Procurador-Geral da República para 
propositura das ações diretas; 
 
 c) Forçar novas elaborações de interpretação constitucional. Em relação às normas infraconstitucionais,um modelo tradicional de interpretação já era conhecido e amplamente utilizado, que se baseava na interpretação 
gramatical, histórica, sistemática e teleológica, com os critérios hierárquico (lei superior prevalece sobre lei inferior), 
temporal (lei posterior prevalece sobre lei anterior) e especial (lei especial prevalece sobre lei geral). Neste modelo 
tradicional para as normas infraconstitucionais, existia um processo de subsunção dos fatos às normas, onde estas 
oferecia uma solução abstrata para os problemas jurídicos, sem muita indagação minuciosa, e o juiz, seu aplicador 
por excelência, cabia apenas identificar tecnicamente a norma para ser aplicada ao problema, já que se pressupunha 
que os problemas estavam todos resolvidos abstratamente pelas normas. A interpretação constitucional, entretanto, 
deveria ir além deste modelo tradicional, mesmo sem desconsiderá-lo, porque a norma constitucional é o ápice do 
sistema, e tem estrita relação com os maiores valores e princípios de toda a nação, daí porque é preciso 
complementação do método tradicional com a inclusão específica de princípios, como é o caso da simetria, da 
supremacia e da unidade da Constituição, do efeito integrador, da máxima efetividade, da concordância prática, da 
relatividade e da conformidade funcional, além de métodos próprios (jurídico, tópico-problemático, hermenêutico-
concretizador, científico-espiritual e normativo-estruturante). Assim, a função da norma é outra, assim como a do juiz, 
porque nem sempre ela consegue relatar abstratamente a solução para os casos concretos, vivos e cheios de 
detalhes, e o juiz, por isso, já não pode mais ficar adstrito à legalidade estrita e à técnica, porque adentra no próprio 
processo de criação do Direito, valorando-o para encontrar a solução possível e justa. Não por outro motivo, a 
interpretação tradicional não se adéqua, por exemplo, aos novos fatores constitucionais, como é o caso da colisão de 
princípios e direitos fundamentais (antinomia jurídica imprópria), exigindo a técnica interpretativa da ponderação, para 
que o intérprete faça concessões recíprocas entre as normas, para mantê-las vivas e operantes, o que possibilita 
prevalecer uma delas, que tenha “maior valor para o caso concreto”6, realizando mais adequadamente a vontade 
constitucional, assim como a técnica interpretativa da argumentação, para, quando o conflito for difícil de resolver, dar 
 
experiências de vida etc. Assim, se em uma determinada sociedade, a Ética aponta que há contrariedade à pena de 
morte, a Moral não impede que este ou aquele seja favorável. Por isso, não se pode aproximar o Direito da Moral, mas 
sim da Ética, na medida em que o magistrado não pode julgar com base nas suas concepções pessoais de vida. Se 
precisa conhecer o que pensa a sociedade, e qual a realidade social que está depois da janela do seu quarto, tem a 
obrigação de conhecer a concepção geral da sociedade, isto é, a Ética, e não a sua Moral. 
5 O neoconstitucionalismo defende que, se antes a separação entre Direito, Moral e Política era um bem que se 
impunha para preservação da própria cientificidade do Direito, hoje estas dimensões se influenciam mutuamente 
porque o Direito Constitucional é dialógico, e não sobrevive sem intercomunicação com diversas áreas do saber, como 
filosofia, economia, antropologia e sociologia. Porém, esta aproximação não significa que cada dimensão (Direito, 
Política, Moral) não tenham seus domínios próprios preservados: afinal, o neoconstitucionalismo não defende a fusão 
das ciências, mas apenas a intercomunicação para melhor aplicação do Direito. 
6 A ponderação exige a análise de todas as circunstâncias do caso concreto, para que o intérprete e o aplicador das 
normas constitucionais tenha certeza se, na colisão entre elas, qual terá mais valor para ser imposta. Por isso, até 
mesmo na correlação interesse público x interesse privado, pode este prevalecer, a depender das circunstâncias 
envolvidas. A regra, sem dúvida, é a prevalência do interesse público, mas em muitos casos deve-se valorizar o 
interesse privado, como ocorre, a título de ilustração, na exposição do rosto de alguém em várias revistas, para 
divulgar uma nova doença que corrói a face. 
vazão a uma razão prática, isto é, prevendo sempre as consequências da decisão e a possibilidade de utilizar um 
fundamento jurídico que possa ser utilizado genérica e universalmente para os casos similares; 
 
d) concretizar a Constituição. A sociedade já alcançou e ultrapassou a fase em que precisava de garantias 
escritas dos direitos fundamentais. Hoje a preocupação é concretizar estes direitos fundamentais. Esta concretização, 
na verdade, vai desde a luta pela declaração, passa pela própria declaração, chega ao nível de interpretação das 
normas, com base também em novos métodos e princípios, para finalmente chegar à aplicação, que é a última etapa 
da concretização constitucional. Por isso, cada vez mais tem força as normas constitucionais de eficácia limitada, e as 
teorias impeditivas de sua concretização, com a teoria da reserva do possível, vem sendo afastadas paulatinamente 
pelo próprio Poder Judiciário. Outro ponto importante nesta concretização é a valorização institucional do Judiciário, e 
a própria posição proativa de seus membros, ao interferirem nas políticas públicas, inclusive para contrabalançar as 
relações de poder, sempre com vistas à efetivação do espírito constitucional e na medida do que for razoável. 
O STF chegou a sintetizar o neoconstitucionalismo na força normativa dos princípios constitucionais e no 
fortalecimento da jurisdição constitucional7, que podem até ser pontos de partida, mas este marco doutrinário e teórico 
acaba resvalando em diversos outros fatores, como vimos. 
Daí porque Pietro Sanchis resumiu bem as novas exigências do neoconstitucionalismo: “Mais princípios que 
regras; mais ponderação que subsunção; mais Constituição que lei; mais juiz que legislador”. 
 
 
Quais as consequências do neoconstitucionalismo? 
 
As consequências mais visíveis – que podem ser analisdas, também, com características, a depender do autor -, 
provocadas por conta da quebra de paradigma acima revelado, são: 
 A constitucionalização dos direitos (constituição invasora ou totalizadora); 
 A irradiação da Constituição para todos os Poderes; 
 A valorização do Judiciário para adequar as relações de poder, ponderando-as; 
 A aplicabilidade direta da Constituição a diversas situações; 
 A intensificação da importância da interpretação conforme a Constituição. 
 
 
Quais os perigos do neoconstitucionalismo? 
 
Entretanto, não podemos esquecer que o neoconstitucionalismo apresenta alguns perigos, a seguir resumidos: 
 
a) Banalização e descrédito da Constituição. Se todos os assuntos estão na Constituição, estando ela cheias de 
promessas que não podem ou não são cumpridas, a sociedade começa a desacreditar na sua força e na sua 
utilidade, o que é muito perigoso, porque dá oportunidade de diminuir o papel do texto constitucional na construção de 
uma sociedade mais justa. Isto acaba criando, também, brechas para que vários direitos e garantias individuais e 
sociais sejam retirados do texto constitucional, impedindo que a rigidez seja uma garantia contra mudanças; 
 
b) Falta de flexibilização. Como uma grande quantidade de assuntos acabam parando na Constituição, a 
sociedade acaba sendo impedida de mudar temas que devem ser adaptados às mudanças da realidade social. Como 
a Constituição é rígida e analítica, vários assuntos que precisam ser modificados com urgência ou com a necessária 
rapidez, à vista também da rapidez com que a sociedade muda, o Congresso fica impossibilitado de adaptar a 
Constituiçãoaos valores atuais da sociedade, inclusive não podendo dispor na legislação infraconstitucional. Veja o 
que ocorreu no caso da exigência de separação judicial por mais de um ano para tornar possível o divórcio. Como era 
uma exigência constitucional (art. 225, §6º, antes da EC 66, de 13.07.2010), vários casais se separavam e, mesmo 
não divorciados, passavam a viver maritalmente com outras pessoas, demonstrando claramente que o texto aprovado 
em 1988 estava em descompasso com a sociedade, e este descompasso não foi alterado antes em face da rigidez 
necessária para alterar a Constituição. O mesmo pode ser imaginado quanto à regra imposta no §2º do art. 230, que 
garante gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores de 65 anos: mesmo que a expectativa de vida da 
população cresça vertiginosamente, o legislador infraconstitucional fica impossibilitado de adaptar a questão à nova 
realidade, justamente porque é preciso modificar o texto constitucional por um processo mais rígido, que nem sempre 
é possível efetivar. Não por outro motivo é que, vez por outra, surgem propostas de reduzir o tamanho da CF/88, 
como ocorre com a PEC 341/2009, que pretende sintetizar a Constituição brasileira para que nela constem apenas 
normas materialmente constitucionais, passando de 250 para 62 artigos, até porque, do jeito que está, ela se 
apresenta como um colcha de retalhos, cheia de dispositivos que deveriam estar na legislação ordinária. Claro que a 
mutação constitucional (instrumento do poder constituinte derivado difuso), acaba amainando o problema, como se 
verá no tópico sobre a plasticidade, porque permite, quando possível, a reinterpretação da Constituição para adaptá-la 
 
7 “A força normativa dos princípios constitucionais e o fortalecimento da jurisdição constitucional: elementos que 
compõem o marco doutrinário que confere suporte teórico ao neoconstitucionalismo” (RE 477554 AgR/MG). Tratava-
se, no caso, da legitimação constitucional da união civil de pessoas do mesmo sexo. 
às novas realidades sociais, mas não permite a mudança de regras bem definidas, daí porque já foram feitas 71 
reformas constitucionais por emendas até novembro de 2012, acrescidas das 06 emendas de revisão operadas em 
1994; 
 
c) Insegurança jurídica e “hipermoralização’. Ainda se fala em insegurança jurídica porque os princípios 
constitucionais e as normas abertas da constituição, com seus conceitos jurídicos indeterminados e vagueza 
semântica, acabam permitindo que os juízes decidam sem uma definição sobre quais condutas estão ou não 
vedadas pelo ordenamento jurídico, e quais aquelas são permitidas. Este poder da magistratura, de aplicar 
diretamente os princípios constitucionais, muitas vezes não só propicia a interferência em políticas públicas, como 
também permite a criação de situações inusitadas, porque determinados princípios constitucionais são utilizados para 
resolver casos concretos e acabam afastando momentaneamente as regras estabelecidas em lei. O perigo para a 
insegurança e a instabilidade do Direito se dá porque o Judiciário é feito por homens, e se estes estão sujeitos, como 
qualquer outro, aos desejos, intempéries, formação, ideologias e defeitos próprios dos seres humanos, daí porque, 
evidentemente, usando de um poder cada vez maior no campo do "Direito Principiológico", o Judiciário estaria fadado, 
portanto, a acompanhar as variantes humanas dos juízes. Isto se intensifica porque cada vez menos há preocupação 
com a formação dos magistrados, cujo único mérito, até aqui, é a força da concentração e absorção dos estudos e a 
capacidade de realizar concursos públicos, de nada adiantando a exigência de 03 anos de atividade jurídica, pois que 
nada mudou neste campo. O Judiciário, e consequentemente o exercício dos direitos pelos cidadãos, estaria cada vez 
mais fica dependente dos humores e dos interesses sociais momentâneos e aleatórios, arrefecendo o Estado de 
Direito, cuja missão foi incrementar cada vez mais o governo das leis em detrimento do governo dos homens. Outro 
aspecto, que é a hipermoralização, acontece quando o juiz, valendo-se da aproximação do Direito com a Ética, acaba 
aplicando situações que estão à vista da população, levando o desejo social muitas vezes baseado em influências 
ocasionais, paixões momentâneas que impulsionam os juízes a decidirem desconsiderando os valores jurídicos 
arraigados historicamente na Constituição e no seio dos princípios basilares, afastando garantias para se aproximar 
daquela vontade. Assim, o Judiciário, ao se aproximar da vontade popular, acaba julgando com base nesta vontade, e 
não com base no ordenamento jurídico. Como se sabe, os valores jurídicos, em especial os princípios constitucionais, 
são carregados de dogmas morais que, se não utilizados com equilíbrio, acaba criando situações contrárias ao bom 
senso, como é o caso do amesquinhamento da presunção de inocência, a prisão preventiva com base na ordem 
pública, com o perigo constante dos juízes se transformarem em moralistas, como se a moral fosse a um só tempo o 
núcleo e a razão de ser do direito. 
 
 
O que significam, resumidamente, as teorias materiais e as teorias processuais sobre a Constituição? Quais 
delas foram absorvidas pelo neoconstitucionalismo? 
 
As teorias materiais procuram carregar a Constituição de valores filosóficos, éticos, morais, abrindo suas normas 
para a maior interpretação e controle da política, do estado e da sociedade. As teorias processuais, por outro lado, 
encaram as constituições como instrumentos de governo, que devem existir apenas para definir competências, que 
não poderiam tratar das questões políticas e morais e nem determinar como, quando e onde o Executivo e o 
Legislativo deveriam atuar. O neoconstitucionalismo absorveu as ideias das teorias materiais, porque hoje as 
constituições estão cheias de conceitos jurídicos indeterminados e princípios que têm força normativa, e ainda dirigem 
a atuação do Estado, abrindo-se, assim, para o aumento da jurisdição constituiconal (e consequente ativismo judicial) 
e maiores exigências morais e éticas na conduta do Estado. 
 
Qual(is) a diferença(s) entre o neoconstitucionalismo da Europa e o neoconstitucionalismo da América Latina? 
 
 
O neoconstitucionalismo iniciou-se mais intensamente na Europa depois da 2ª Guerra Mundical, portanto, em um 
período bem anterior ao neoconstitucionalismo da América Latina (no Brasil, somente depois da Constituição de 
1988). Também por isso, é comum a afirmação de que, enquanto o neoconstitucionalismo europeu sempre valorizou 
mais a dimensão jurídica da Constituição Federal, o novo constitucionalismo democrático latino americano se 
preocupou mais com a legitimidade democrática e, assim, com mais mecanismos de participação popular, inclusive 
em face de ditaduras ao longo da história recente (no Brasil, 1964 a 1985; na Argentina, de 1966 a 1973; no Peru, de 
1968 a 1980; no Chile, de 1973 a 1990; no Uruguai, de 1973 a 1985 etc.). Evidente que as características do 
neoconstitucionalismo valem para todo o mundo, em especial a dimensão jurídica dos princípios constitucionais, mas 
é fato que na América Latina, além desta característica, as constituições desta nova fase são carregadas de 
preocupações democráticas com maior fulgor, porque a mesma viu-se afetada por várias Ditaduras. 
 
Indique os marcos histórico, filosófico e teórico do neoconstitucionalismo. 
 
Luis Roberto Barroso, em um artigo sobre o neoconstitucionalismo, aponta os marcos do neoconstitucionalismo: 
a) marco histórico: constitucionalismo do pós-guerra, na Europa continental, em especial na Alemanha, com 
a Lei Fundamental de Bonn de 1949 e a criação do Tribunal Constituição Federal, de 1951, e na Itália, com a 
Constituição de 1947 e a instalação da Corte Constitucional em 1956. No Brasil, com a Constituiçãode 1988 (que 
para o autor foi tardio no âmbito nacional); 
b) marco filosófico: o pós-positivismo (superação do jusnaturalismo e do positivismo, por um modelo mais 
difuso e abrangente, cujas características estão, basicamente, na crença de princípios universalmente aceitos, na 
justiça, na leitura moral da Constituição, nas novas formas de interpretação constitucional e no desenvolvimento dos 
direitos fundamentais baseados na dignidade da pessoa humana); 
c) marco teórico: caracterizado pela força normativa da Constituição, na expansão da jurisdição 
constitucional e na nova interpretação constitucional). Adicione-se a estas características, todas aquelas analisadas 
acima. 
 
 
 
Questões de concursos 
 
01- (TJ PI 2007 – Juiz) O movimento constitucional gerador da constituição em sentido moderno tem várias 
raízes, localizadas em horizontes temporais diacrônicos e em espaços históricos, geográficos e culturais 
diferenciados. Em termos rigorosos, não há um constitucionalismo mas vários constitucionalismos. Será 
preferível dizer que existem diversos movimentos constitucionais com corações nacionais mas também com 
alguns momentos de aproximação entre si, fornecendo uma complexa tessitura histórico-cultural. É mais 
rigoroso falar de vários movimentos constitucionais do que de vários constitucionalismos porque isso permite 
recortar desde já uma noção básica de constitucionalismo (J. J. Gomes Canotilho. Direito constitucional e teoria 
da constituição. 4.ª ed. Coimbra: Almedina, 2000, p. 51 - com adaptações). 
Tendo o texto acima como referência inicial, assinale a opção correta acerca dos conceitos de constituição e 
constitucionalismo. 
a) O ponto central do movimento constitucionalista inglês foi a revolução gloriosa (1688-89), quando então se 
iniciou o movimento político-jurídico de limitação dos poderes do rei, por meio de instrumentos jurídicos do 
tipo Magna Carta, que possuem a mesma natureza jurídica de uma constituição. 
b) Com o movimento constitucionalista francês, a partir da Revolução Francesa, sedimentou-se a visão de 
direitos individuais do homem, em oposição à visão do homem como integrante de um segmento estamental, 
adotada pelo movimento constitucionalista inglês. 
c) No âmbito brasileiro, a Constituição Imperial de 1824 pode ser classificada como flexível, com base no que 
prescrevia seu art. 178: “É só Constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos poderes 
políticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos. Tudo o que não é Constitucional pode ser alterado 
sem as formalidades referidas, pelas legislaturas ordinárias.” 
d) O princípio da supremacia da constituição teve no movimento constitucionalista inglês a sua mais 
significativa aplicação. 
e) Em sentido essencialmente político, a constituição pode ser definida, conforme Hans Kelsen, como uma 
decisão política fundamental, dotada de um nítido caráter sociológico. 
 
02. (MPDFT - 2004 - Promotor de Justiça). 
O Constitucionalismo reflete o profundo debate sobre todos os aspectos da vida política, social e econômica que 
domina as relações na atualidade. O próprio Constitucionalismo trazia, em si, o signo da garantia dos direitos 
como identificador de sua existência. Instrumento limitador do exercício do poder estatal, a Constituição 
cumpria, assim, na garantia dos princípios assecuratórios dos direitos fundamentais e da separação de poderes o 
condão de reformular o Estado: estava criado o Estado de Direito. A respeito do Constitucionalismo e de sua 
evolução, julgue os itens abaixo, selecionando a alternativa incorreta: 
 
a) O Constitucionalismo liberal surge em oposição ao absolutismo. 
b) Para o desenvolvimento do Constitucionalismo e da soberania popular, a teoria do contrato social foi 
extremamente relevante. 
c) A primeira constituição de um Estado Moderno foi a Constituição Americana de 1787, que foi elaborada e 
aprovada por uma Assembléia Constituinte, a Convenção de Filadélfia. 
d) Maquiavel escreveu O Príncipe, em que observou, descreveu e racionalizou a estratégia do príncipe César 
Bórgia. Para ele, o fundamental era a obtenção e a conservação do poder, independentemente dos meios, pois 
todos os meios eram legítimos e eram justificados pelos fins. Tal teoria foi adotada no constitucionalismo 
liberal. 
e) A Lex Regia era o instituto que, no Direito Romano, servia para fundamentar e para limitar o poder do 
Imperador. Era uma doutrina jurídica de acordo com a qual o Imperador recebia o seu Poder do povo romano 
 
03.(CESPE – PROCURADORIA FEDERAL – 2007) Julgue o seguinte item. 
A CF trouxe grandes avanços na área dos direitos e das garantias fundamentais, atestando a modernidade e 
fazendo do racismo e da tortura crimes inafiançáveis, estabelecendo o habeas data e reforçando a proteção dos 
direitos e das liberdades constitucionais, e restituindo ao Congresso Nacional prerrogativas que lhe haviam sido 
subtraídas pela administração militar. 
 
 
 
 
CAPÍTULO II: CONCEITO E SENTIDOS DE CONSTITUIÇÃO 
 
 Definindo Constituição 
 Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, verdadeiro estatuto jurídico fundamental 
da sociedade. A Constituição, que é objeto de estudo do Direito Constitucional, tem por fim estabelecer o 
conteúdo referente à composição e ao funcionamento da ordem política desse Estado. Engloba, portanto, a 
organização do poder, a distribuição da competência, o exercício da autoridade e os direitos e as garantias 
individuais e sociais da pessoa humana. 
 
Sentidos de Constituição 
 a) Sentido sociológico 
 Este sentido foi pinçado da obra “A Essência da Constituição”, de Ferdinand Lassalle, polonês, 
nascido em 11.04.1825. Para ele, Constituição é fato social, e não apenas uma norma; é, na verdade, o valor 
e a realidade social que representam a Constituição. O bloco de palavras no documento é apenas folha de 
papel, que pode ser manuseada sempre ao gosto dos valores sociais. Por isso, é preciso dividir a 
Constituição em Constituição Real (fatores reais de poder) e Constituição Escrita (folha de papel). Por 
isso, o sentido sociológico restringe a Constituição a uma função descritiva da realidade política, porque 
tudo nela ultrapassar a descrição da realidade, cairá no vazio e será meramente “folha de papel” (a 
Constituição escrita sempre sucumbirá à Constituição real, em caso de conflito). Daí porque as questões 
constitucionais não são questões jurídicas, mas sim questões políticas. 
 b) Sentido político 
 Se o sentido sociológico deve-se ao pensamento de Lassalle, o sentido político deve-se às ideias do 
alemão Carl Schimtt (11.07.1888-07.04.1985). Para ele, Constituição é uma “decisão política 
fundamental”. Constituição é o Poder Constituinte, que rege os fatores e valores sociais, para colocar em 
um documento o que o povo decidiu colocar. Não se trata, então, de mera decisão política sobre a forma do 
Estado, mas sim uma decisão política como consequência dos anseios sociais, mas tais anseios só podem 
ser “constitucionalizados” através de uma decisão política fundamental em dado momento. É possível fazer 
uma referência entre o que hoje se entende com normas materialmente constitucionais e formalmente 
constitucionais, e o que este sentido se propôs, porque a visão política destaca que a Constituição é aquilo 
que é mais importante e que deve estar na Constituição; o que não deveria estar lá é apenas lei 
constitucional, apesar de estar. O sentido político, então, divide a Constituição em Constituição 
propriamente dita e leis constitucionais. 
 c) Sentido jurídico 
 O principal pensador deste sentido é Hans Kelsen (11.10.1881-19.04.1973). Para ele, a 
Constituição é norma, que deve ser vista como tal, sem considerações políticas, ideológicas, sociológicas 
ou antropológicas. É o jurista o seu principal investigador, e não o filósofo ou o sociólogo, porque a 
Constituição é normapura. A Constituição é aquilo que temos na nossa mão, aprovada e cheia de 
princípios e regras que devem ser respeitados. Hans Kelsen teorizou que o jurista deve ser alheio a valores 
– neutralidade. Deve, necessariamente, estar como o símbolo da justiça e da neutralidade vista nos olhos 
vendados e na balança – Themis e Minerva -, pois as emoções podem contaminar a norma jurídica. 
 d) Sentido culturalista - “Constituição Total” 
 A Constituição seria a expressão cultural total da sociedade, em determinado momento histórico 
e influenciando na sua evolução cultural. Esta nova concepção, inicialmente aventada por Hely Lopes 
Meirelles, reafirma que a existência de uma Constituição Total, que envolve todos os sentidos, até mesmo 
os filosóficos, e acaba dando uma perspectiva unitária. A Constituição é produto do fato cultural que 
influencia a sociedade naquele momento, fato cultural este que deve ser tutelado pelo direito à cultura 
(normas constitucionais referente à cultura, ao ensino e ao desporto). Se a Constituição deve reunir os mais 
importantes valores da sociedade, é preciso entender, então, que a Constituição é aquilo que é adequado 
para determinada sociedade no momento histórico em que a norma fundamental é elaborada. 
 
Quais os dois sentidos jurídicos propostos por Kelsen? 
 
Dentro do seu sentido jurídico, Kelsen teve que dar algumas explicações sobre os fundamentos da 
Constituição escrita. Assim, criou dois sentidos diversos: 
a) Sentido lógico-jurídico - “lógica hipotética”. Como Kelsen não aceitava a Constituição como algo 
sociológico, e sim como algo puramente normativo, foi obrigado a justificar este pensamento com outro pensamento 
meramente formal, e dizer que o pressuposto lógico da Constituição era esta hipótese lógica de hierarquia. Para 
Kelsen, a estrutura hierárquica do processo de criação do direito termina em uma norma que dá fundamento e 
unidade para todo o ordenamento jurídico (A norma fundamental é hipotética, e não está positivada sequer na 
Constituição, porque está acima dela, de modo que haveria uma “Constituição em sentido lógico-jurídico” 
responsável por instituir um órgão criador do direito, órgão este em grau inferior, responsável por estabelecer as 
regras básicas para se elaborar todo o resto da legislação. Este órgão superior seria a “Constituição em sentido 
lógico-jurídico”, e a o órgão inferior, seria a “Constituição em sentido jurídico-positivo”. Este sentido é, na verdade, um 
esforço de ficção jurídica para manter a autopoiese do Direito8. 
 c.2) Sentido jurídico-positivo. Este sentido destaca a existência de uma norma superior suprema, escrita 
em um documento positivado, que valida todas as demais. Esta norma suprema só pode ser alterada em condições 
especiais, e com base nela é que se vai formar todo o ordenamento jurídico de determinado país. 
 
 Classificação das constituições 
 
a) Classificação quanto à ORIGEM: promulgada, outorgada e pactuada 
Esta classificação enfatiza a maneira como uma Constituição foi elaborada, as formas e modos 
fixadas como base para que determinada Constituição pudesse surgir. Daí porque para esta classificação, 
interessa a que Poder Constituinte deve a sua criação. 
 a.1) Constituição promulgada (Democrática, Dogmática, Votada ou Popular). É a Constituição 
formada com base na Assembleia Nacional Constituinte, esta, por sua vez, convocada com o fim específico 
de constituir uma nova Constituição, eleita pelo povo. Foi o caso das Constituições brasileiras de 1891, 
1934, 1946 e 1988. Nas constituições promulgadas, o exercício do Poder Constituinte é realizado pelo seu 
titular (povo). 
 a.2) Constituição outorgada (Imposta). Tal Constituição nasce de um órgão constituinte não 
popular (Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e 1969). Nestas constituições, diz-se que o 
exercício do Poder Constituinte não foi realizado pelo seu titular, havendo usurpação do Poder 
Constituinte. 
 a.3) Constituição pactuada. Esta Constituição, também chamada de dualista, nasce através de 
um compromisso entre o Rei e a Assembleia, daí o nome de pactuada – pacto entre Rei e Assembleia. É 
comum, então, dizer que este tipo de Constituição surge da articulação de dois princípios: princípio 
monárquico (Rei) e princípio republicano (Assembleia/Parlamento). 
 
O que são constituições cesaristas? 
 Os governantes destas épocas, geralmente ditadores, até como forma de “ficar com a consciência 
tranquila”, buscam métodos para popularizar, democratizar a Constituição que nasceu da força, e não do 
seio do povo. O governo, normalmente ditatorial, submete ao povo, mediante plebiscito ou referendo, a 
Constituição que foi imposta, para que o povo possa aprová-la. Estas Constituições impostas, submetidas à 
consulta popular, são chamadas de “constituições Cesaristas”. 
Daí porque a doutrina não costuma classificar as constituições Cesaristas nem como promulgadas e 
nem como outorgadas, porque na verdade é um misto de promulgação, porque existe forma de participação 
popular, e outorga, vez que é criada apenas pelo ditador, pela junta militar ou pelo grupo que domina o 
poder. 
 
b) Classificação quanto à FORMA: escrita e não-escrita 
 b.1) Constituição escrita. 
 b.2) Constituição não escrita (Inorgânica, Costumeira, Consuetudinária). Suas normas se originam 
basicamente das tradições, dos precedentes judiciais, dos usos e dos costumes. Este tipo de Constituição é 
uma exceção, própria para países muito desenvolvidos socialmente - é o caso da Inglaterra. Também são 
exemplos de Estados com constituições não-escritas: Andorra, Reino Unido (formado pelas nações da 
Inglaterra, da Irlanda do Norte, da Escócia e do País de Gales), Finlândia, San Marino, Suécia e Vaticano. 
É importante lembrar, entretanto, que é errado dizer que nos países que têm constituições costumeiras, 
 
8 Hans Kelsen lutava pela autonomia científica do Direito, considerando este um sistema autopoiético, isto é, um 
sistema com bases próprias bastante em si mesmo, porque tinha estrutura científica que não precisaria de apoio ou 
fundamentação exterior, de modo que seus elementos seriam produzidos e reproduzidos internamente em uma 
interação circular e fechada. Assim, quando uma norma não estava suficientemente clara, ou quando houvesse uma 
aparente lacuna, o jurista não deveria procurar o esclarecimento ou a complementação em questões exteriores ao 
Direito, como nas ideias e teorias filosóficas, econômicas e políticas, mas sim em outras normas dentro do próprio 
sistema jurídico, continuando neste trajeto, de forma sucessiva, até uma causa finita, que era a Constituição. 
não há documento escrito de índole constitucional. Na própria Inglaterra ainda persiste a Carta Magna de 
1215, o “Petition of Rights” de 1628, o “Bill of Rights” de 1687, além do “Act of Settlement” de 1700, do 
“Act of Union Escócia” de 1707, do “Act of Union Irlanda” de 1800 e mais recentemente do “Human 
Rignts Act” de 1998. Melhor dizer, então, que nestes países de constituições costumeiras, a preponderância 
é dos precedentes judiciais, das tradições e dos costumes. Geralmente, as constituições inorgânicas são 
históricas, porque concretizadas lentamente por meio da evolução da sociedade, dando-lhes estabilidade. 
 
c) Classificação quanto ao CONTEÚDO: material e formal 
 c.1) Constituição em sentido material. Enfatiza o conteúdo normativo da Constituição: ela é um 
conjunto de princípios e regras que visam estruturar o Estado, organizar seus órgãos supremos e definir 
suas competências, além de declarar os direitos e garantias fundamentais. É, por assim dizer, a 
Constituição que regula somente as questões estruturais e de extrema importância para a nação. 
 Não existe unanimidade em relação a quais normas são verdadeiramente materiais. O que existe é 
um consenso de que as normas que regulamo exercício do poder, que impõe limitações à atividade estatal 
e reconhecem as garantia e os direitos fundamentais são normas materialmente constitucionais, assim como 
aquelas que definem e regulamentam a participação do povo no governo (como é o caso da Lei 
Complementar 64/90, que trata dos casos de inelegibilidade). 
 A Constituição brasileira de 1988 tem partes materiais, formadas por normas fundamentais para a 
nação e para o Estado, mas também por partes não materiais, como é o caso dos arts. 242, §2º e 217, §2º, 
que não deveriam estar na Constituição, mas lá estão. Daí porque é incorreto afirmar que a CF/88 é 
material, porque “Constituição material” seria aquela que contém somente dispositivos materialmente 
constitucionais. 
Lembre-se que no Brasil, a supremacia constitucional, pelo menos sob o ponto de vista jurídico, é 
formal, e não material, porque uma norma estará em nível constitucional, portanto acima das demais, não 
pelo seu conteúdo, mas sim pela forma de elaboração. Se uma norma for aprovada, portanto, na forma do 
art. 60, §2º, da Constituição (votação por 3/5, em 2 turnos em cada Casa do Congresso), e respeitados todas 
as limitações, ela terá força de norma constitucional, mesmo que seu conteúdo não seja importante (veja a 
seguir). 
 c.2) Constituição em sentido formal. O que importa para este sentido formal é a formalidade que 
foi realizada para se produzir a norma. Se esta formalidade por meio de um processo legislativo mais 
rígido e difícil que o processo previsto para as leis infraconstitucionais, as normas serão consideradas 
formalmente constitucionais. É por isso que este sentido conceitua a Constituição como um conjunto de 
normas produzidas através de um processo mais formal que o processo das leis infraconstitucionais. 
As maiores exigências para tornar o processo legislativo mais rigoroso podem variar: pode ser 
exigido quórum qualificado, ou então um plebiscito ou um referendum popular. Também é possível falar 
em sentido formal quando se exige um órgão especial só para aprovar a nova Constituição, com é o caso 
das Assembleias Nacionais Constituintes. Deste modo, independentemente da importância da norma, 
estando ela no corpo da Constituição, e passando pelo processo legislativo mais rigoroso, ela é 
formalmente constitucional, e serve de base, inclusive, para controle de constitucionalidade. 
No Brasil, as formalidades que diferenciam e caracterizam as normas constitucionais estão no art. 
60, e são especialmente relacionadas ao quórum (três quintos), à necessidade de dois turnos de votação em 
cada Casa do Congresso Nacional, à impossibilidade de nova deliberação na mesma sessão legislativa, se já 
rejeitada a matéria ou havida por prejudicada, além do respeito aos períodos de exceção (intervenção 
federal, estado de sítio e estado de defesa) e às cláusulas pétreas. 
 
Por que a aprovação de uma norma constitucional é mais difícil, do ponto de vista jurídico, do que a 
aprovação de qualquer outra norma infraconstitucional? 
 
 Esta maior dificuldade é que caracteriza a rigidez constitucional (sendo mais difícil de ser aprovada, a norma 
constitucional ganha mais legitimidade democrática e, por isso, deve estar acima das demais normas, razão porque a 
supremacia é consequência da rigidez). A Constituição criou diversas regras que atestam esta maior rigidez, senão 
vejamos: 
 Um projeto de nova lei infraconstitucional pode ser iniciado por qualquer membro do Congresso, ressalvados 
os casos em que há iniciativa privativa para determinadas matérias, nos termos do art. 61, “caput” e 
parágrafo 1º. Porém, um projeto de nova norma constitucional (PEC – Projeto e Emenda Constitucional), só 
pode ser iniciado pelos legitimados previstos no art. 60, I, II e III (abstraída a questão se há ou não 
possibilidade de iniciativa popular de emenda constitucional, a ser analisada no Poder Constituinte). 
 Uma nova lei ordinária pode ser aprovada por maioria simples (art. 47)9, e uma nova lei complementar pode 
ser aprovada por maioria absoluta (art. 69), ambas com votação em turno único em cada Casa do Congresso 
Nacional. Uma nova norma constitucional, entretanto, só pode ser aprovada por três quintos dos 
parlamentares de cada Casa, e ainda em dois turnos de votação. 
 Se a matéria que consta em um projeto de lei infraconstitucional for rejeitada, ela poderá voltar a ser 
deliberada na mesma sessão legislativa, desde que haja proposta da maioria absoluta dos membros da 
Câmara ou do Congresso, como permite o art. 67, “caput”. E se a matéria constante da proposta de emenda 
constitucional - PEC for rejeitada ou havida por prejudicada, pode ser novamente deliberada na mesma 
sessão legislativa? Não, não pode, mesmo que haja proposta da maioria absoluta dos parlamentares, isto 
por expressa determinação constitucional (art. 60, §5º). 
 Lei infraconstitucional pode ser aprovada, ou reformada, se estiver vigendo no Brasil intervenção federal, 
estado de defesa ou estado de sítio? Sim, não há problemas quanto a isto. E a Constituição, pode ser 
reformada nestes casos? Não, em face das limitações circunstanciais previstas no art. 60, § 1º. 
 Quem promulga as leis infraconstitucionais? Via de regra, esta tarefa é do Presidente da República (art. 84, 
IV). Porém, o ato de promulgação das emendas constitucionais é composto, porque ele se opera em 
conjunto pelas Mesas da Câmara e pelas Mesas do Senado (art. 60, §3º). 
Além destas diferenças formais previstas na Constituição, ainda existe a diferença social e política, porque é 
muito mais difícil haver uma mobilização da sociedade e dos parlamentares para que se modifique valores já 
solidificados na Constituição. Daí porque é muito difícil que a sociedade e a imprensa não saibam que determinado 
ponto da Constituição está prestes a ser alterado. Com exceção de algumas leis que são de maior interesse da 
sociedade, convenhamos que a grande maioria das leis infraconstitucionais são criadas e modificadas todos os dias, 
sem que seja necessário uma ampla mobilização. 
 
 
d) Classificação quanto ao MODO DE ELABORAÇÃO: dogmática e histórica 
 d.1) Constituição dogmática. É a Constituição formada pela reunião dos dogmas (valores) da 
sociedade em um dado momento, por um órgão constituinte. Por isso mesmo é muitas vezes chamada de 
Constituição momentânea. Esta característica fez com que a Constituição de 1988, dogmática, contivesse 
vários dispositivos, várias previsões, de forma analítica e extensa, chegando até mesmo a ser prolixa em 
alguns momentos. Isso ocorreu porque a intenção era deixar para trás o regime de exceção, e, para não 
haver dúvida, o medo e a preocupação do momento forjaram os constituintes a “jogarem tudo para dentro 
da Constituição”. Assim, o momento em que se vivia (final da década de 1980) foi propício para se fazer 
uma Constituição sob o influxo das paixões contra a Ditadura, daí porque se reuniu os dogmas vigentes 
naquele período da história brasileira. Geralmente, trata-se de uma “Constituição Passional”, em função do 
abrupto movimento emocional que toma de assalto uma nação. 
 d.2) Constituição histórica. A Constituição histórica é aquela que surge lentamente, pela 
concretização gradual dos valores, depois de uma rotineira e permanente experimentação da vida social. 
Ao contrário da Constituição dogmática, a nação abre possibilidade para a sedimentação da sensibilidade 
constitucional, depois da certeza de que a Constituição é algo tão importante que não pode ser banalizada. 
 Por isso, as constituições históricas são não-escritas (inorgânicas), e só se forma depois da certeza 
e da estabilidade dos dogmas da sociedade. As constituições momentâneas, ao contrário, são só escritas, 
porque é preciso reunir em um documento, as emoções que influenciam a nação naquele momento 
histórico, e, por refletirem um clamor momentâneo da sociedade, acabam sendo mais instáveis.e) Classificação quanto à ESTABILIDADE: imutável, rígida, semirrígida, fixa, flexível e super-rígida 
 Esta classificação leva em conta a análise das possibilidades de se modificar a Constituição, isto é, 
da maior ou menor facilidade para seu texto ser modificado. Esta classificação também é conhecida como 
mutabilidade ou plasticidade. 
 e.1) Constituição imutável. Imutável, granítica ou intocável, é a Constituição que não pode ser 
modificada, nascida para permanecer inalterada “ad eternum”, daí porque é considerada apenas 
utopicamente. Ela não admite lacuna oculta, como se o legislador constituinte originário pudesse prever 
 
9 O art. 47 prevê que a lei ordinária pode ser aprovada por maioria simples, desde que presentes a maioria absoluta. 
Assim, considerando que a Câmara tem 513 Deputados, uma lei ordinária pode ser aprovada se estiver presente na 
sessão de votação a maioria absoluta deles (257), e destes, a maioria simples (129) votar a favor da lei. No mesmo 
sentido, o caso do Senado, pois basta o comparecimento da maioria absoluta (41) na sessão de votação, considerando 
o total de 81 Senadores, e a maioria simples (26) venha a votar no mesmo sentido. Então, com 129 votos na Câmara e 
26 votos no Senado, é possível aprovar lei ordinária, desde que presentes a maioria absoluta nas sessões de votação. 
No caso de emenda constitucional, é preciso que 308 dos Deputados (três quintos do total de 513) e 49 dos Senadores 
(três quintos do total de 81) votem no mesmo sentido para que a emenda constitucional seja aprovada. 
todas as intempéries e as necessidades que o futuro apresentaria para a sociedade e como se o povo pudesse 
ser privado do seu próprio poder de revisar a Constituição. A Constituição imutável desconsidera que o 
Poder Constituinte Originário pode prever o Poder Constituinte Derivado Reformador. 
 e.2) Constituição rígida. É a Constituição que só pode ser modifica por um processo legislativo 
especial, mais difícil do que o processo de elaboração das demais leis, em face das exigências expressas no 
seu próprio texto (prazos mais amplos e quorum qualificado, inclusive podendo prever matérias 
imodificáveis via emenda constitucional – cláusulas pétreas). É a rigidez que dá lógica e sustentação para o 
controle de constitucionalidade de leis, porque faz pressupor que há uma hierarquia entre as normas 
infraconstitucionais, cujo processo de criação e transformação é mais simplificado, e as normas 
constitucionais, cujo processo de criação e transformação é mais rigoroso. 
 e.3) Constituição semirrígida. Também conhecidas como “semiflexíveis”, porque contém uma 
parte rígida, modificável apenas diante de um processo mais dificultoso, e uma parte flexível, modificável 
por um processo mais fácil. A única Constituição semirrígida no Brasil foi a CF/1824, que em seu art. 178 
dizia: “É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e 
aos Direitos Políticos, e individuais dos Cidadãos. Tudo o que não é Constitucional, pode ser alterado sem 
as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias”. 
 e.4) Constituição fixa. Alguns doutrinadores incluem uma categoria de Constituição entre a rígida e 
a semirrígida, que seria a Constituição fixa, e seria aquela que só poderia modificada pelo mesmo poder 
que a elaborou. Nesta Constituição, não há previsão da possibilidade de ser alterada, razão porque há um 
silêncio quanto aos procedimentos que os poderes constituídos devem adotar para fazer sua reforma (por 
isso, é tida como “Constituição Silenciosa”). É citado como exemplo o caso Napoleão Bonaparte 
(15.08.1769-05.05.1821), na França, mas há quem iguala a Constituição fixa com a imutável. 
 e.5) Constituição flexível. Constituição flexível, ou chamada por alguns de Constituição plástica, é 
aquela que pode ser modificada pelo mesmo processo de modificação das leis infraconstitucionais. 
Geralmente isto ocorre nas Constituições inorgânicas (não-escritas), porque sempre que o Parlamento se 
manifesta, produzindo qualquer lei, esta vem com força de norma constitucional (é que, neste caso, como 
na Inglaterra, o Parlamento só produz norma que efetivamente vai mudar a sociedade, elevando a 
importância desta Casa e afastando sua banalização). Neste caso, não há controle de constitucionalidade de 
leis pelo Judiciário, já que as leis são feitas com força constitucional. Nestas constituições flexíveis, o fato 
de serem inorgânicas e serem mais simples sua modificação, não significa instabilidade, já que quase 
sempre são valores fixados lentamente através da história. 
 e.6) Constituição super-rígida. É a Constituição que, além de demandar um procedimento mais 
rígido para sua modificação, diferente do procedimento de alteração das leis infraconstitucionais, tem uma 
parte que não pode ser modificada. É a Constituição, em suma, que tem cláusulas pétreas, como a 
Constituição brasileira de 1988. 
 
f) Classificação quanto à EXTENSÃO: concisa e analítica 
 f.1) Constituição concisa. Constituição concisa, breve, sumária, sucinta, básica ou clássica, é a 
Constituição que efetivamente só contêm matérias verdadeiramente constitucionais (normas materiais), que 
refletem decisões políticas fundamentais da sociedade. Não há vulgarização do texto constitucional, 
fazendo com que ele se protraia no tempo, estabilizando e dando segurança jurídica à sociedade. É dita 
como clássica porque as Constituições nasceram concisas, porque compilavam apenas os grandes valores 
da sociedade em poucos dispositivos, mas que, com o tempo, em especial em período pós-guerra (vide 
neoconstitucionalismo), foram sobrecarregadas com diversos assuntos, e cada vez mais analíticas. 
 f.2) Constituição analítica. Constituição analítica, prolixa ou regulamentar, é a Constituição que 
está carregada, com muitas regras, inclusive com detalhamento de vários assuntos, e por isso contém em 
seu texto normas materialmente constitucionais, mas também várias normas formalmente constitucionais. 
Por excesso de zelo, o legislador constituinte originário, talvez pelos problemas e paixões momentâneas, 
acaba inserindo na Constituição muitas normas, justamente para não haver lacunas que poderiam ser 
completadas pelo espírito reinante anterior, que é costuma ser tão repugnado naquele instante. É o tipo de 
Constituição mais em voga, até em face do neoconstitucionalismo. Alguns doutrinadores igualam a 
Constituição Dirigente com a Constituição Analítica, mas não parece ocorrer uma igualdade de conceitos, 
na medida em que poderá ocorrer uma Constituição Analítica, com vários e vários dispositivos 
constitucionais, sem, contudo, traçar metas e programas para o Estado. É claro que traçar metas e 
programas pressupõe uma maior plêiade de dispositivos, mas nem sempre na plêiade de dispositivos há 
estabelecimento de metas e programas (estamos no campo das possibilidades, evidentemente). Portanto, o 
melhor é entender que toda Constituição Dirigente é Analítica, mas nem toda Constituição Analítica é 
Dirigente. 
 
A tendência atual é de constituições analísticas ou concisas? 
 
Como foi visto, estamos na fase do neoconstitucionalismo, que tem como uma das características a 
constitucionalização dos direitos (“Constituição invasora”, ou “Constituição totalitária”). Então, a tendência é sempre a 
inclusão de mais direitos fundamentais, princípios e regras no texto constitucional, como forma de garantia para a 
liberdade individual, para a sociedade e para maior limitação do Estado. 
 
 
g) Classificação quanto à FINALIDADE: garantia e dirigente 
 Esta classificação também pode ser dita também quanto à ESTRUTURA. 
 g.1) Constituição-garantia. Constituição-garantia, Constituição-quadro ou Constituição 
negativa, é a Constituição que visa garantir o cidadão das investidas do Estado, e se preocupa apenas em 
impedir que as autoridades

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