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resenha sobre o livro 'O normal e o patologico'

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA – UFRB 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS 
BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE - BIS 
	
	ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
	 
	RESENHA CRITÍCA
	DISCENTE: PHALOMA RODRIGUES ARAÚJO* DATA DE ENTREGA: 20/06/2017
DOCENTE: AMÉLIA BORBA COSTA REIS
 
 CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. T radução de Maria d e Threza Redig 
de C. Barro cas e Luiz Octávio F. B. Leite. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universit ária, 
2002, 307 p.
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. T radução de Maria d e Threza Redig 
de C. Barro cas e Luiz Octávio F. B. Leite. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universit ária, 
2002, 307 p.
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Tradução de Maria Thereza Redig de C. Barrocas. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. pp 09-164.
				Especialista em epistemologia e história da ciência Georges Canguilhem (1904-1995) publicou algumas obras muito importantes sobre a constituição da biologia como uma ciência, dentre outras incluindo seu maior sucesso, o normal e o patológico escrito como tese de doutorado em medicina. A obra constituiu um marco fundamental do campo epistemológico que por sua vez pôde provocar reflexões filosóficas contendo discussões no campo do estudo da medicina, anatomia, fisiologia e patologia a partir de um exame crítico da tese positivista sobre as relações entre a saúde e a doença, hegemonicamente no pensamento médico.
				A obra divide-se em duas partes, a primeira trata-se de uma discursão acerca do estado patológico do ser, tendo como consequência uma modificação quantitativa com relação ao estado normal do corpo. O autor descreve na obra a visão de estudiosos do século XX como Henry Ernest Sigerist um dos mais influentes historiadores da época. Ele acreditou que a medicina egípcia provavelmente tivesse generalizado a experiencia oriental no que diz respeitos as afecções parasitárias, combinado com a ideia de doença-possessão tendo em mente relação de que colocar para fora do corpo algo que não pertença fisiologicamente a ele pode ser considerado a expulsão da doença.
				Thomas Sydenham foi um médico e autor de várias obras sobre doenças, contribuiu para obra de Canguilhem pelo seu contato com a patologia. Sydenham achava que para ajudar o doente era necessário delimitar e determinar o seu mal, pois acreditava que as doenças existentes seguiam uma ordem, assim como havia uma regularidade nas anomalias. Sydenham foi responsável pela explanação que resultou na evolução das ideias médicas.
[1: Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em saúde na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.]
Essa evolução resultou na formação de uma teoria das relações entre o normal e o patológico, segundo a qual os fenômenos patológicos são variações quantitativas dos fenômenos fisiológicos. Contudo essa teoria não defende a tese de que saúde e doença sejam opostos quantitativos.
				Augusto Comte um dos protagonistas da obra de Canguilhem foi um filósofo francês, fundador da Sociologia e do Positivismo e sofreu influências  do Conde de Saint-Simon e René Descartes. Comte acreditava que o interesse transitava do patológico para o normal com a finalidade de determinar as leis do normal, ou seja, o indivíduo adoece para que através da doença possamos identificar a normalidade do organismo. Essa teoria contrapõe as ideias de Claude Bernard um médico, fisiologista francês e historiador da ciência que dizia que o interesse transita do normal para o patológico com a finalidade de uma ação racional sobre o patológico de forma quantitativa e numérica fazendo homogeneamente parte do organismo o normal e o patológico.
				Aproveitando a visão de Claude Bernard e seus estudos acerca do estado de normatividade e patologia do organismo o então filósofo Friedrich Nietzsche inspira-se na ideia da homogeneidade entre o normal e o patológico refletindo sobre os estados mórbidos ou enfermo. Segundo Nietzsche (La volonté de puissance, § apud CANGUILHEM, 2011, p. 15), “O valor de todos os estados mórbidos consiste no fato de mostrarem com uma lente de aumento, certas condições que apesar de normais, são dificilmente visíveis no estado normal”. Esta reflexão será a base para as discursões acerca do debate entre A.Comte e Claude Bernard.
				Nietzsche através desta reflexão esclareceu o sentido do princípio de Broussais defendido por Comte. Broussais aponta como tese que os fenômenos da doença coincidem com os da saúde e que se diferenciam pela intensidade. Deste modo a diferença entre fenômenos normais e patológicos não passam de uma variação quantitativa além de poder se tratar de excesso ou falta de algo dentro ou fora do organismo. “A asfixia por falta de ar oxigenado priva os pulmões de seu excitante normal. Inversamente, um ar excessivamente oxigenado superexcita os pulmões (...)” (CANGUILHEM, 2011, p.22). 
				No 4º capítulo da primeira parte o discurso é sobre as concepções de René Leriche que segundo Canguilhem, possui uma competência muito superior a Comte e a Claude Bernard no que diz respeito a patologia. Leriche foi um médico especialista em dor e também autor de várias publicações voltadas para o campo da saúde e da doença. Contudo Leriche detém uma concepção precisamente inversa as de Comte e C. Bernard, pois defende que o doente detentor de tal doença possa avaliar e testemunhar sob sua dor afim de facilitar a detecção do patológico.
				Se para Claude Bernard o patológico e o normal são homogêneos e “O interesse transita do normal para o patológico, com a finalidade de uma ação racional sobre o patológico de forma quantitativa e numérica (...)” (CANGUILHEM, 2011, p.13), R. Leriche discorda partindo da ideia que a dor ou a doença é um sinal de alerta para o corpo, pois não faz parte do sistema normal do organismo, subjugando ainda a ideia de que “é impossível considerar a dor como expressão de uma atividade normal” (CANGUILHEM, 2011, p.57). O contraponto existe no instante que Bernard acredita que o patológico e o normal são homogêneos podendo haver relação de coexistência entre o normal e o patológico, enquanto Leriche argumenta que patologia não faz parte do plano natural do organismo e qualquer alteração quantitativa ou numérica deixa de fazer parte do estado normal do corpo.
				Claude Bernard desenvolve um forte argumento para embasar sua tese de que o estado normal e o patológico são homogêneos, ele exemplifica sobre a glicemia (taxa de glicose no sangue) que estando abaixo de 3 a 4% não causa glicosúria (presença de glicose na urina) porém acima deste percentual a glicosúria ocorre e se torna um risco a saúde de tal indivíduo pois nestes níveis é impossível que o indivíduo perceba o aumento de glicose na sua corrente sanguínea. Assim torna sua tese incontestável no sentido que para um diabético “a glicemia em si não é um fenômeno patológico, mas sim sua quantidade aumentada” (CANGUILHEM, 2011, p.35), provando ainda através de experimentos em animais que a glicemia é um fenômeno normal do organismo no estado saudável do ser.
				Sintetizando a segunda parte do livro de Georges Canguilhem cujo objetivo básico é criticar as influências da tradição positivista, fundamentada conceitualmente por August Comte nas ideias de Broussais. Canguilhem inicia o capítulo propondo um título indagador. “Existem ciências do normal e do patológico? ”. Nesta parte o autor tenta compreender como a medicina estabelece seu conceito de normal e de patológico, buscando sempre que necessário, estabelecer paralelos dentro do campo da Afasiologia.
				O autor utiliza de fatos descritos na Afasiologia citando problemas de linguagem na construção da crítica que estabelece sobre a identificação destes; como saber de que o paciente sofre? A linguagem clínica usada é compreendida pelo doente? Trazendo para nosso contexto o que o autor tenta expor de é o seguinte: um paciente advindo de uma zona de difícil acesso distante dazona urbana e de tudo, que não obteve acesso à educação escolar ou acadêmica, chega em um consultório para ser atendido se queixando de fortes dores “nas juntas e nas cadeiras”, o médico se pertencer a região ou não souber interpretar o dialeto local, ele dificilmente entenderá o que o paciente que dizer, da mesma forma irá ocorrer se o médico explicar o diagnóstico e prognóstico em uma linguagem técnica a este mesmo paciente ele não compreenderá.
				A obra é bastante rica por conter estudos de séculos atrás em sintetizações de pensamentos de filósofos, médicos, historiadores, sociólogos entre outros títulos que torna o livro interessante no sentido de visões diferentes acerca de um determinado assunto, a forma como o autor organiza e ordena o ponto e o contraponto dá uma ideia de debate. A obra deixa dúvidas no ponto de vista epistemológico, afinal o autor propõe uma quebra das ideias da ciência de sua época e do positivismo defendido por Comte, ou está refletindo sobre o fim dessa tendência. Canguilhem faz críticas a tese de Comte e seu positivismo, sempre questionando seus métodos e teorias e em alguns momentos faz uso de contraversão de fatos ao citar que Nietzsche inspirou-se em Claude Bernard quando na verdade Nietzsche inspirou-se e teve influência de A. Comte e no princípio de Broussais.

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