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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ MARCELO TADEU DE MORAES PROBLEMAS DE MANUTENÇÃO NA AVIAÇÃO GERAL. RIO DE JANEIRO 2016 MARCELO TADEU DE MORAES PROBROBLEMAS DE MANUTENÇÃO NA AVIAÇÃO GERAL. Monografia apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Aeronáuticas. ORIENTADOR: Douglas Ferreira Machado. RIO DE JANEIRO 2016 MARCELO TADEU DE MORAES PROBLEMAS DE MANUTENÇÃO NA AVIAÇÃO GERAL Monografia apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Aeronáuticas. Orientador: Professor Douglas Ferreira Machado Aprovada em: ____/____/2016. BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________ Professor ____________________________________________________ Professor _____________________________________________________ Professor AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço a Deus por ter me dado saúde, sabedoria e força para conseguir:. Em fim a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste projeto. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho de conclusão de curso ao Supremo Arquiteto do Universo. .:G.A.D.U:. EPÍGRAFE A redução dos riscos à segurança a níveis aceitáveis, atualmente, é a definição para segurança. A Organização Internacional de Aviação Civil – OACI recomenda, nos anexos 1, 6, 11, 13 e 14 à Convenção de Chicago, que os Estados signatários estabeleçam um State Safety Program (SSP), com o objetivo de alcançar um aceitável nível de segurança. Ainda, recomenda que os Estados requeiram das diversas entidades que constituem a aviação civil o estabelecimento de um Safety Management System (SMS), chamado no Brasil como Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO). RESUMO Nos últimos cinquenta anos, sucederam-se evoluções na forma com que a (safety) na aviação civil vinha sendo abordada e tratada. O foco da promoção da segurança esteve nos aspectos técnicos, nos fatores humanos e nos fatores organizacionais. Nos dias atuais, encara-se a abordagem sistêmica destes fatores como o caminho para a redução dos riscos à segurança a níveis aceitáveis. A redução dos riscos à segurança a níveis aceitáveis, atualmente, é a definição para segurança. Admite-se como inalcançável o cenário em que não há riscos à segurança. A Organização Internacional de Aviação Civil – OACI recomenda, nos anexos 1, 6, 11, 13 e 14 à Convenção de Chicago, que os Estados signatários estabeleçam um State Safety Program (SSP), com o objetivo de alcançar um aceitável nível de segurança. Ainda, recomenda que os Estados requeiram das diversas entidades que constituem a aviação civil o estabelecimento de um Safety Management System (SMS), chamado no Brasil como Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO). O presente trabalho aborda o assunto no ambiente das Organizações de Manutenção Aeronáutica, com o objetivo de analisar a aplicabilidade das ferramentas propostas pelo Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional. Palavras chaves: Segurança; Manutenção; Aviação Geral. ABSTRACT In the last fifty years the way the safety in civil aviation was discussed and dealt evolved. The focus was the promotion of safety in the technical, human and organizational factors. Nowadays it takes a systemic approach of these factors to reduce risks to acceptable levels of safety (ALoS). The reduction of risks to acceptable levels, currently, is the setting for safety. It is accepted that the scenario in where there isn’t risk to safety is unachievable. The International Civil Aviation Organization - ICAO provides in Annexes 1, 6, 11, 13 and 14 to the Chicago Convention, that the signatory states shall establish a State Safety Program (SSP), with the objective of reach an acceptable level of safety. Still, recommended that states requires of the various entities that constitute civil aviation to establish a Safety Management System (SMS), known in Brazil as the Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO). This paper addresses the matter in the environment of aircraft maintenance organizations in order to evaluate the applicability of the tools proposed by the Safety Management System. Safety; Maintenance; general aviation. SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................ 10 1. A INTERFERÊNCIA DA MANUTENÇÃO NA SEGURANÇA DE VOO ... 11 2. MANUTENÇÃO E AERONAVEGABILIDADE .......................................... 16 3. UMA NOVA MENTALIDADE NA MANUTENÇÃO DE AERONAVES ... 22 4. RESPONSABILIDADE DE OPERADORES E ORGANIZAÇÕES DE MANUTENÇÃO QUANTO A AERONAVEGABILIDADE DE UMA AERONAVE .............................................................................................. 25 5. ALGUMAS QUESTÕES PARA A ANAC RESPONDER .......................... 30 6. ÉTICA E QUALIDADE NA MANUTENÇÃO DE AERONAVES ................ 34 7. RESPONSABILIDADE TÉCNICA – VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA ASSUMIR ESTA FUNÇÃO ........................................................................ 37 8. CONLUSÃO................................................................................................ 40 9. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 44 10 INTRODUÇÃO As estatísticas de acidentes aeronáuticos no Brasil demonstram o aumento da contribuição do aspecto da manutenção para os acidentes ocorridos. No capítulo 1 - Os índices de segurança da aviação geral estão piorando, apesar dos esforços no sentido de reverter essa estatística. Enquanto a aviação comercial alcança níveis recordes de sucesso na prevenção de acidentes e incidentes, a aviação geral ainda patina nesse quesito, mesmo sendo o segmento da aviação que mais cresce, notadamente no Brasil. Buscar entender por que os conhecimentos aplicados com êxito na aviação de grande porte ainda não fazem parte do dia a dia da aviação leve pode nos ajudar a explicar a situação e a encontrar caminhos para que comecemos a operar com mais segurança. Capítulo 2 - Lá pelos anos 1950, quando a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO, na sigla em inglês) passou a regular o novo segmento global de aviação civil, de fato, surgiram normas estabelecendo como as aeronaves deveriam ser projetadas, fabricadas, operadas e mantidas. Muito do conhecimento da época vinha da aviação militar, pois o cenário era de fim da Segunda Guerra Mundial e início tanto dos conflitos na Coreia quanto da Guerra Fria entre Estados Unidos e a então União Soviética. Nesse contexto, a segurança de voo esperada pelos militares era a que garantisse tão somente a realização de suas missões. Não se preocupavam coma longevidade de suas máquinas, tampouco em preservá-las de danos decorrentes das aplicações bélicas. A ICAO, por outro lado, tinha (e tem) consciência de que o transporte aéreo civil somente poderia ser útil às sociedades caso seguisse uma ordem de segurança, eficiência e agilidade. Daí surge o conceito de “aeronavegabilidade”. Capítulo 3 - Ao iniciar este capítulo gostaria de fazer algumas perguntas, relacionadas ao tema Manutenção de Aeronaves: Revistas especializadas; Profissionais; Escolas; Profissionais qualificados. Capítulo 4 - Ainda há muitas dúvidas sobre quais são as obrigações de operadores com relação à aeronavegabilidade de suas aeronaves e os limites entre as responsabilidades de operadores e organizações de manutenção. A futura edição do novo RBAC 91 trará algumas atualizações com relação às responsabilidades de operadores e pilotos e, por isso, o artigo “Responsabilidades do Proprietário/Operador” deste site estará um pouco defasado quando o novo regulamento entrar em vigor. 11 1. A INTERFERÊNCIA DA MANUTENÇÃO NA SEGURANÇA DE VOO: 1.1 Os índices de segurança da aviação geral estão piorando, apesar dos esforços no sentido de reverter essa estatística. Enquanto a aviação comercial alcança níveis recordes de sucesso na prevenção de acidentes e incidentes, a aviação geral ainda patina nesse quesito, mesmo sendo o segmento da aviação que mais cresce, notadamente no Brasil. Buscar entender por que os conhecimentos aplicados com êxito na aviação de grande porte ainda não fazem parte do dia a dia da aviação leve pode nos ajudar a explicar a situação e a encontrar caminhos para que comecemos a operar com mais segurança. 1.2 Aproximadamente 15% dos acidentes fatais envolvendo aeronaves da aviação geral têm o fator material como causa principais, enquanto 73% dessas ocorrências tiveram a operação como fator contribuinte mais relevante. Esses dados estão na mais importante publicação do gênero, o The Nall Report, produzido todos os anos pelo Air Safety Institute com apoio da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves dos Estados Unidos (AOPA-EUA). Bruce Landsberg, presidente da Fundação AOPA e responsável pelo The Nall Report, toca talvez no ponto mais sensível dessa questão: “Muitos pilotos assumem riscos exagerados em seus voos”. Nesse contexto, conhecer e cuidar bem das máquinas que voamos, mais do que uma obrigação “legal”, é algo que precisa fazer parte do dia a dia de quem voa. KINNINSON, H. A. Aviation maintenance management. USA: Mc Graw Hill, 2004. 1.3 Os acidentes com aviões da aviação geral podem ser agrupados em três categorias: os relacionados à operação dos pilotos, aqueles associados a falhas mecânicas e os ligados a outros fatores. Neste artigo vamos nos concentrar nos problemas de manutenção. Dentre os acidentes causados por problemas mecânicos, 43% estão relacionados a falhas nos motores, 20% a falhas no trem de pouso ou freios, 10% no sistema de combustível e os demais em comandos de voo e estrutura (colisões com pássaros e animais estão nesse grupo). Falhas mecânicas e manutenção: sua aeronave pode estar te avisando algo. Esteja atento para escutar as falhas. 12 1.4 Entre os especialistas é comum escutar que uma falha mais grave numa aeronave não acontece de uma hora para outra, mas ela vai se agravando até chegar num ponto que pode comprometer a segurança do voo. Por isso, estar atento aos sinais que a máquina dá tem de ser parte da vida de aviadores. Apontamos abaixo algumas dicas que podem ajudar a pensar a respeito dos seus padrões de operação e sobre quanto risco você pode estar habituado a conviver, talvez sem perceber. a. Inspeções externas não podem continuar a ser algo feito “rapidinho”. Cerca de 10 minutos são suficientes para se construir uma barreira de segurança. Muitas das possíveis panes mais graves que aviadores enfrentaram poderiam ter sido evitadas com inspeções externas cuidadosas. Tenha em mente que aeronaves são máquinas e como tal precisam ser bem avaliadas antes de entrar em operação. Vazamentos de qualquer tipo, desalinhamentos ou parâmetros incorretos são motivos para você parar, pensar e tomar uma providência. Jamais voe para ver se o que acha ser uma pane de fato é. b. Motor funcionando asperamente antes da decolagem pode significar que velas ou sistema de injeção não estão operando bem. Uma “checagem de cabeceira” bem feita pode ajudá-lo a tomar a decisão de não decolar quando a aspereza do motor não se altera mesmo com diferentes níveis de mistura. c. Checagens de magnetos com quedas de rotação além dos limites aceitáveis no manual do motor e da aeronave são motivos para você não decolar. Decolar para ver se o que parece problema é de fato um problema não é uma decisão muito inteligente. Indicações fora dos parâmetros devem ser tratadas no solo, com seu mecânico de confiança, antes de prosseguir para o voo. d. Quedas acentuadas de potência com aquecedores de carburador abertos também são motivos para não decolar. Os limites estão definidos nos manuais e nos checklists. Qualquer coisa diferente do que está definido nos manuais pode significar vazamento no sistema de aquecimento, que pode comprometer a capacidade do motor em oferecer potência justamente quando você mais precisa dela, numa decolagem ou numa arremetida. e. Empobrecer muito a mistura pode representar problemas se isso estiver sendo feito fora dos parâmetros indicados pelo fabricante, principalmente em regimes de potência mais elevados. Você deve saber como e quando empobrecer a mistura e como ajustá-la. Quando o ajuste não está bem feito, os motores podem querer mostrar que algo precisa ser feito: redução da potência ou enriquecimento da mistura. Isso também vale para monomotores avançados, que são equipados com motores mais modernos. 13 f. Não alcançar a rotação mínima definida nos manuais operacionais e checklists quando potência máxima é aplicada na decolagem é razão definitiva para não decolar. De novo, não pague para ver se problemas são de fato problemas quando você já estiver voando. É a sua obrigação saber qual a rotação mínima aceitável na decolagem e que não se decola quando esses parâmetros não estão alcançados, não importa a razão. Aproximadamente 15% dos acidentes fatais envolvendo aeronaves da aviação geral têm fatores técnicos como causas principais, enquanto 73% desse tipo de ocorrências tiveram a operação como fator contribuinte mais relevante g. Indicações de pressão e temperatura de óleo fora dos parâmetros normais não podem ser aceitas por aviadores em qualquer fase do voo. Se isso ocorrer antes da decolagem, melhor. A decisão é mais simples: vá investigar com seu mecânico antes de voar. Quando indicações elevadas ou reduzidas de pressão e temperatura aparecerem em voo, o negócio é estar preparado e treinado para lidar com as panes, seguindo religiosamente o que seus manuais e checklists determinam. Em geral, pousar no local apropriado mais próximo e preparar-se para um pouso não programado são as providências mais comuns e corretas. Analisando ocorrências com indicações de temperatura e pressão de óleo fora dos parâmetros normais, é impressionante ver como os pilotos são os maiores causadores de problemas: em geral decolaram com menos óleo do que o necessário ou empobreceram demais a mistura para o regime de potência que estavam empregando. h. A saúde das suas hélices precisa ser sempre monitorada. O melhor momento para observar isso costuma ser durante as inspeções externas antes dos voos. Você não sabe o que ocorreu entre um voo e outro e a sua hélice pode ter se transformadonum perigo, que você só vai descobrir se a conhecer e verificá-la com a atenção que ela merece. Além disso, lembre-se de que, depois de acionar o motor, ela está rodando e se torna um perigo para os outros que estão por perto, sobretudo se você não tiver cuidado e atenção com o que está fazendo, principalmente no táxi. Quando estiver movimentando seu avião no hangar ou no pátio, evite puxá-lo ou empurrá-lo pelas hélices. i. Barulhos estranhos que nunca existiram ou barulhos comuns que parecerem suspeitos devem ser levados em consideração. A sua aeronave está falando com você. Lei de Murphy: Se houver uma chance de algo dar errado, dará. Aeronaves não são como carros e no céu não existem acostamentos. Gerenciar uma emergência não é fácil e para quem voa aeronaves mais modernas, 14 com paraquedas, é importante saber que acionar o artefato é uma opção, mas não uma opção isenta de consequências. JUKES, M. L. Aircraft display systems. [S.l]: Wiley, 2003. Aeronaves que pousam (ou caem) em algum lugar que não seja uma pista ou heliponto sofrem acidentes ou incidentes, com ou sem paraquedas. Pessoas podem se machucar ou perder a vida, dentro do avião ou debaixo dele, propriedades podem ser destruídas e prejuízos causados. Só pode dizer que opera em segurança quem conhece, acompanha e sabe lidar com as questões técnicas das aeronaves que voa. Isso tem de ser parte do dia a dia de aviadores, não importa se voam a trabalho ou por prazer. j. Checagens externas devem dar atenção aos trens de pouso e freios. Eles não só parecem robustos, como de fato são. A maioria aguenta muito mais do que normalmente um bom aviador faz com eles. Mas mesmo os melhores trens de pouso e freios podem falhar. Vazamentos de qualquer tipo nessa área devem ser investigados. Anéis de vedação podem secar ou enrijecer com o tempo e os vazamentos são resolvidos com reparos simples. Quando os trens de pouso são retráteis, os mecanismos envolvem mais fluidos, mangueiras e conexões. Olhe para todas elas com cuidado. Pastilhas e discos de freios devem ser observados com cuidado e em aeronaves mais modernas, sensores de superaquecimento indicando problemas são itens No Go. Cuidando bem de motores (e sistemas de ignição e alimentação), hélices, trem de pouso, fuselagem e comandos de voo, especialmente nas inspeções pré-voo, você já está tornando a sua aviação mais segura. Grande parte dos problemas de manutenção causadores de acidentes pode ser identificada e corrigida antes do voo. Aeronaves são máquinas confiáveis. A vasta maioria das aeronaves da aviação geral voa pelo mundo há décadas, tendo cumprido milhões de horas. Os projetos tradicionais de células e motores não mudaram muito desde a entrada em operação dessa frota mais antiga e isso tem a ver com segurança. Para quem voa aeronaves de “nova geração”, novos procedimentos precisam ser incorporados ao seu dia a dia. Aeronaves melhores pedem aviadores mais preparados. Sistemas e mais sistemas de navegação, comunicação e alerta de tráfego existem para ser usados, mas não podem significar distração aos princípios básicos da aviação e às responsabilidades que aviadores têm. 15 Isso tudo vale para aviões de todos os tipos ou helicópteros, homologados ou experimentais, antigos ou de nova geração. Aviadores são aviadores não importa o adesivo que está colado no lado externo da aeronave (no caso dos experimentais). Manutenção e aviação são coisas que andam juntas e o aviador é o responsável por conhecer a saúde das máquinas que voa. Estar “legal” não necessariamente é estar seguro. Aviões falam com aviadores. É só dar atenção a eles e ao que estão tentando dizer. E aeronaves continuam sendo aeronaves, independente dos equipamentos eletrônicos nela embarcados. Ela existe para ser voada e você, aviador, quer fazer isso porque gosta, porque é seu trabalho ou por ambos. Atribui-se a Chuck Yeager, o primeiro homem a romper a barreira do som, uma frase irretocável: “Você não voa o avião. Ele voa por conta própria. Você tem que saber dizer para onde ele deve ir”. Aviões falam com aviadores. É só dar atenção a eles e ao que estão tentando dizer. *Cuidar bem do avião vai muito além de cumprir IAMs ou outras inspeções obrigatórias. Não é porque você está com “todos os documentos em dia” que está seguro. Segurança de verdade depende de você. ______________________________________________________________________________________________________________________ *Por Humberto Gimenes Branco e Miguel Angelo Rodeguero, especial para AERO Magazine em 3 de Setembro de 2013 às 00:00 * O piloto e administrador de empresas Humberto Gimenes Branco é diretor da APPA-AOPA Brasil (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves) e integrante do Conselho Consultivo da ANAC. O advogado e comandante Miguel Angelo Rodeguero é investigador de acidentes aeronáuticos, GSO (Garantia de Segurança Operacional), bacharel em Aviação Civil e instrutor e checador nas aeronaves da família 737, tendo sido antes no MD-11. Original: http://aeromagazine.uol.com.br/artigo/interferencia-da-manutencao-na-seguranca-de-voo_1108.html#ixzz44zkLsChZ 16 2. MANUTENÇÃO E AERONAVEGABILIDADE: Lá pelos anos 1950, quando a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO, na sigla em inglês) passou a regular o novo segmento global de aviação civil, de fato, surgiram normas estabelecendo como as aeronaves deveriam ser projetadas, fabricadas, operadas e mantidas. Muito do conhecimento da época vinha da aviação militar, pois o cenário era de fim da Segunda Guerra Mundial e início tanto dos conflitos na Coreia quanto da Guerra Fria entre Estados Unidos e a então União Soviética. Nesse contexto, a segurança de voo esperada pelos militares era a que garantisse tão somente a realização de suas missões. Não se preocupavam com a longevidade de suas máquinas, tampouco em preservá-las de danos decorrentes das aplicações bélicas. A ICAO, por outro lado, tinha (e tem) consciência de que o transporte aéreo civil somente poderia ser útil às sociedades caso seguisse uma ordem de segurança, eficiência e agilidade. Daí surge o conceito de “aeronavegabilidade”. Ele continua atual, mas as técnicas vêm se aperfeiçoando ao longo das décadas. No momento do projeto de uma aeronave, esse conceito se transforma em práticas que irão garantir a segurança das operações. Estabelecido tipo de aplicação do futuro helicóptero ou avião, são desenvolvidas as diversas plantas, definidos os materiais utilizados, delineados os ensaios de certificação, escritos os programas de manutenção e os manuais de operação, dentre outras tarefas. Na primeira fase, o projeto antevê todas as etapas de vida da aeronave. A complexidade está relacionada ao tamanho dela, à sua aplicação e aos sistemas que serão aplicados, existentes ou não. No Piper Matrix, por exemplo, foram aproveitados quase todos os sistemas do Piper Mirage, com ganhos de eficiência e economia. Isso reduz o trabalho e as despesas da fase seguinte, que é a certificação. Nesses casos, é natural que o novo projeto incorpore parte da documentação daquele do qual deriva, tais como o resultado de testes, manuais e boletins de serviços. Quase o mundo todo segue os conceitos de projetos aeronáuticos dos EUA. As regulações da FAA são adotadas em muitos países, inclusive no Brasil. Não por acaso a RBAC 23 (Requisitos de aeronavegabilidade: aviões categoria normal, utilidade, acrobática e transporte regional) é cópia fiel de algumas partes da FAR 23, da FAA. Isso acontece porque os norte-americanos sabem ir à Lua, têm o mercado aeronáutico mais cobiçado do planeta e permitem que suas normas sejam copiadas. Certificação de tipo. O conceito de aeronavegabilidade também é aplicado às regras de certificação aeronáutica. Nessa fase, o produto aeronáutico, quer seja fuselagem, motor ou 17 outro componente, vai ser submetido a testes. Para receber um certificado de aeronavegabilidade, deve provar que resiste aos esforços previstos. Mas a especificidade desses testes se altera de tempos em tempos, na medida em que surgem novos materiais, novas ensaios ou demandas de uso. Tomemos como referência as células de aeronaves de pequeno porte. Desde os anos 1970 que o alumínio vem cedendo lugar para os materiais compostos na confecção de fuselagens. Os planadores Blanik, dos anos 1950, eram confeccionados de alumínio. Essa matéria-prima perdeu espaço para a fibra de vidro, como no Pik 20, dos anos 1970, ou no Puchacz, da década de 1980. Tradicionalmente, a resistência de célula era avaliada com vibrações, que reproduziam o voo, na tentativa de identificar pontos fracos, onde rachaduras poderiam surgir como resultado de fadiga do material. Já os materiais compostos são vulneráveis a outros fatores, como raios ultravioleta, provenientes do sol. Portanto, os ensaios tiveram de ser alterados. Atendidos os requisitos de aeronavegabilidade nos ensaios de certificação, o projeto recebe da FAA um certificado chamado “Type Certificate”. Os “TC”, como são conhecidos, podem ser encontrados no site da Anac e da FAA e traduzem a identidade de um produto aeronáutico certificado. O produto amparado por um TC não pode ser modificado, a não ser por meio de novos testes que comprovem que a alteração não trará consequências perigosas. Um motor Lycoming O-540 B4B5 citado no TC com um carburador não pode receber bicos injetores, sob a pena de perder o amparo da legislação, como seguro aeronáutico e autorização de voo. As regras gerais de manutenção estão contidas no RBAC 43 da ANAC Vida sem fim. Os requisitos de aeronavegabilidade presentes no momento da concessão do TC precisam ser continuados após a entrega do produto aeronáutico ao consumidor. O que garante essa continuidade são os processos de manutenção, rastreabilidade de componentes e o sistema de notificação de dificuldades em serviço. A responsabilidade civil e criminal de preservar a aeronavegabilidade não é da empresa de manutenção, nem do dono da aeronave, mas, sim, do operador. Aviões arrendados, por exemplo, são operados por quem não é proprietário do bem. Os nomes de proprietário e operador, pessoas físicas ou jurídicas, constam no RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro) e vêm sempre explicitados na documentação de porte obrigatório. Por isso é importante que o operador conheça os requisitos de manutenção de sua aeronave. Eles podem ser obtidos nos manuais de operação e de manutenção. As regras gerais são encontradas na RBAC 43 (Manutenção, Manutenção Preventiva, Reconstrução e Alteração). 18 O conceito de aeronavegabilidade continuada não aceita o fim da vida de uma aeronave. Seguidos todos os itens dos manuais de manutenção, as corretas técnicas de reparos e a atualização do projeto por meio da aplicação dos boletins e diretrizes de aeronavegabilidade (DA), a existência de uma aeronave não se extingue jamais. A prática de aeronavegabilidade continuada também necessita de um sistema de fluxo de informações que ligue o fabricante, o operador e a autoridade aeronáutica do país de registro da aeronave. O sistema se inicia nos manuais das empresas que prestarão serviços de manutenção. A autoridade aeronáutica deve realizar vistorias para se certificar de que possuem os tais manuais, que sejam lidos pelos mecânicos, que recebam atualizações periódicas e que pertençam aos modelos para os quais a empresa presta serviços. Tarefa árdua para os inspetores da Anac, que frequentemente não os encontram, ou os localizam ainda lacrados em envelopes ou guardados em armários. Difícil também a tarefa da empresa de manutenção em mantê-los atualizados, já que certos modelos de aeronaves, como alguns aviões Cessna movidos a pistão, estão no mercado há mais de 50 anos, em dezenas de variantes do projeto pioneiro. Dificuldades em serviço. No cotidiano das operações é possível que alguma peça se danifique antes do tempo, alguma técnica de manutenção se mostre ineficaz ou haja falha de algum material, que não resistiu ao esforço previsto. Quem detectar algum problema deve avisar toda a comunidade de aviação. Assim, estarão contribuindo para a preservação da aeronavegabilidade do modelo que operam. Mas como fazer isso? No segmento automotivo, quando muitos donos de carros novos reclamam de defeitos, os fabricantes revisam os projetos e podem disparar um chamamento aos clientes para a substituição do componente defeituoso. O processo é conhecido como recall. Na aeronavegabilidade continuada, ocorre algo parecido. O chamamento pode ser realizado pela autoridade aeronáutica do país de registro, daquela que produz a aeronave ou, ainda, pelo fabricante do componente, em qualquer época, mesmo após o período de garantia. Para a identificação dos problemas, há um sistema mundial de retroalimentação de informações, chamado Dificuldades em Serviço. No Brasil, a Anac mantém em seu site um campo para que operadores e mantenedores relatarem suas dificuldades. A pessoa deve entrar em sua conta no sistema SACI, da Anac, e acessar o link SINTAC (Sistema Integrado de Informações de Aviação Civil). Nele poderá relatar o que aconteceu no voo, no solo ou na oficina. Esse registro será cruzado com outros de mesmo tipo, por todo o mundo, via ICAO, e, se a ocorrência for reincidente, uma providência poderá ser disparada 19 pela autoridade aeronáutica que gere o sistema. Esse cruzamento de informações tenta avaliar a necessidade de algum “recall”. Então, uma nova diretriz de aeronavegabilidade poderá ser publicada pela Anac, ou um boletim de serviço, editado pelo fabricante. A falta de suprimento no interior do país fez desenvolver a cultura da improvisação Muitos acidentes. Infelizmente, o número elevado de acidentes de aviação geral no Brasil tem deixado claro que a aeronavegabilidade continuada ainda é uma ilustre desconhecida. E há muitas barreiras à correta operação das aeronaves. Oficinas não encontram mecânicos com competências na língua inglesa e os manuais de manutenção, quando existem, são esquecidos num canto qualquer. Se estiverem em formato digital, a coisa complica. Exigem computadores nas oficinas e alguma habilidade extra para operá-los. Mecânicos normalmente sabem substituir velas de ignição, mas experimente perguntar qual deve ser o torque do aperto... Muitos modelos de aeronaves e algumas de suas peças já não são fabricados e, portanto, ficam sem suporte ou atualização técnica. Além disso, a falta de suprimento de aviação pelo interior do Brasil fez desenvolver uma cultura de improvisação. A era do garimpo deixou sequelas que se manifestam até hoje. É comum achar aviões antigos, cujos sistemas receberam modificações sem qualquer estudo de engenharia. São cilindros reparados com soldas superficiais, velas com eletrodos dobrados no martelo, hélices desempenadas após terem colidido com o chão, corrosão, equipamentos que consomem energia além da capacidade dos alternadores, dentre outros perigos. E o que se pode dizer sobre a aeronavegabilidade continuada de aeronaves experimentais? Nada! Porque experimentais não possuem aeronavegabilidade em nenhum de seus processos de projeto, fabricação, manutenção ou operação. São aeronaves cuja autorização limita o voo,ao próprio operador. Portanto, não podem realizar nenhum serviço profissional a terceiros e os passageiros devem estar cientes dessa situação. Daí porque a obrigação de o operador em avisá-los, mantendo fixada uma placa no painel com o alerta da falta de aeronavegabilidade. Mas isso não quer dizer que a operação de experimentais seja, por natureza, mais arriscada. É preferível a segurança de um experimental bem mantido do que uma aeronave certificada com manutenção “canetada”. Mas como manter um experimental? Afinal, não possuem manuais de manutenção, boletins de serviço, diretrizes de aeronavegabilidade, relatos de dificuldades em serviço e vários outros benefícios desenvolvidos pela ICAO, como a investigação de acidentes e processos de aprovação de grandes modificações. Soluções para ultraleves. Por tudo isso, atualmente, a Anac vem alterando as normas de fabricação de experimentais em série. A intenção é incluir a aeronavegabilidade na produção, 20 e a aeronavegabilidade continuada na operação e na manutenção de todas as aeronaves nacionais. Mas a agência pretende manter as autorizações de voo para aeronaves construídas pessoalmente, por indivíduos que queiram voá-las sem aeronavegabilidade. Respeita-se, assim, um princípio de liberdade de pesquisa aeronáutica e uso recreativo limitado. Nos Estados Unidos, milhares de construtores amadores produzem aeronaves em casa, quer pelo uso de kits ou em projetos próprios. É comum o cidadão norte-americano encher sua garagem de equipamentos e ferramentas, a ponto de deixar o carro do lado de fora. Quem já viajou para aquele país deve ter se espantado com o gigantismo das seções de ferramentas dos grandes magazines e com lojas de materiais ao estilo pegue e faça. No Brasil, a coisa é um pouco diferente. Respeitando-se as exceções, não temos a cultura da construção amadora, não mantemos grande ferramental em casa e consumimos nosso final de semana com outros “divertimentos”. Então, a grande maioria que opera aeronaves experimentais não as construiu e não tem condições de realizar a manutenção. Tem de confiar isso a alguém. Mas como alguém poderia atendê-los bem? A primeira condição para a prestação serviços de manutenção em aeronaves que não possuem desenhos técnicos, manuais ou diagramas elétricos é a experiência na sua construção. Portanto, é razoável esperar que o operador de um experimental eleja a oficina do próprio fabricante. Alguns modelos, como o Vans RV10, são fabricados por várias empresas no Brasil. Daria certo confiar à empresa “A” a manutenção de um RV10 construído pela empresa “B”? Depende! Os modelos RV10 brasileiros são equipados com o mesmo motor, e possuem os mesmos sistemas, a despeito de algumas variantes de projeto. Podem ser equipados com diferentes tipos de hélices ou aviônicos, escolhidos pelo proprietário. Esses componentes foram produzidos por indústrias altamente especializadas, como Lycoming, Garmin, Hartzell, Dynon, dentre outras, e contam com publicações técnicas fartas. É por meio delas que o mantenedor espera realizar um bom serviço. Ao operador, cabe conversar com a oficina e perceber o nível de capacitação esperado. Essa incumbência seria da Anac, no caso da avaliação de oficinas para aeronaves homologadas. Abrafal passou a controlar os relatórios de inspeções anuais de manutenção (RIAM) Troca de experiências. Como a comunidade de experimentais poderia trocar experiências? Precisamos estar cientes de que, hoje, os problemas enfrentados pelos experimentais são digeridos apenas no âmbito de seus fabricantes. Ampliado esse ambiente, novas experiências e soluções externas surgiriam. É o que faz a AOPA, dos EUA. Essa associação de pilotos é a maior do mundo e concentra cerca de 250.000 sócios. Presta inúmeros serviços relevantes, estudando 21 os cenários mais comuns onde seus associados voam. Há pesquisas de segurança de voo, cursos on-line, fóruns e assim por diante. Nos Estados Unidos, o usuário de uma pequena aeronave, certificada ou experimental, prefere se amparar na associação, em vez de fazê-lo na FAA. No Brasil, há várias associações de operadores. Recentemente a Abrafal (Associação Brasileira de Fabricantes de Aeronaves Leves) passou a controlar os relatórios de inspeções anuais de manutenção (RIAM). Cada RIAM somente será aceito pela Anac se estiver publicado no site da Abrafal, que o fará após diligências que avaliam a qualidade do serviços de quem os assinou. Ainda assim, há um vasto campo de troca de informações que o segmento de experimentais poderia empreender. Essa percepção já começa a tomar forma na medida em que os diversos encontros de aviação leve, que ocorrem em todo o país, começam a trazer debates, palestras e fóruns sobre os problemas do segmento. Muitos participantes são atraídos por temas relacionados à operação segura. Oxalá que prosperem. Já a Anac, em estreita parceria com a Abrafal e outras entidades representativas, vem desenvolvendo novas regulações que façam que a fabricação de experimentais em série vá dando lugar a aeronaves de mesma compleição, agora certificadas por processo mais simples e de menor custo. 22 3. UMA NOVA MENTALIDADE NA MANUTENÇÃO DE AERONAVES: Ao iniciar este capítulo gostaria de fazer algumas perguntas, relacionadas ao tema Manutenção de Aeronaves: Quantas revistas especializadas que tratam do assunto manutenção de aeronaves existem no Brasil ? Quantos profissionais de nossa aviação escrevem sobre artigos técnicos e legislação referentes à manutenção de aeronaves como é o caso de revistas americanas como a AMT – Aircraft Maintenance Technology ? Quantas escolas oferecem cursos de formação de engenheiros, tecnólogos e mecânicos preparados para atuar, assim que recebem seus diplomas, na área de manutenção aeronáutica ? O que faz e qual a importância do preparo de um profissional de Controle Técnico de Manutenção (CTM) ? Quantos profissionais de manutenção sabem responder à aplicação de uma diretriz de aeronavegabilidade* de maneira correta ? Quantos profissionais da área técnica da aviação sabem realmente a abrangência de sua responsabilidade legal quando assinam como responsáveis técnicos por uma empresa de manutenção aeronáutica ? *Por Jorge Filipe Almeida Barros (Cap. FAB) em 14 de Julho de 2014 às 00:00 Original: http://aeromagazine.uol.com.br/artigo/manutencao-e- aeronavegabilidade_1628.html#ixzz44zqAaU00 23 Quantos proprietários de oficinas de manutenção aeronáutica e proprietários de aeronaves sabem a diferença entre a responsabilidade de um mecânico de manutenção aeronáutica e um mecânico de automóveis ? Quantas são as empresas de manutenção de aeronaves que utilizam ferramentas da qualidade (5S, Kaizen, ferramentas de planejamento, entre outras) para a redução de custos e obtenção da qualidade exigida pelos clientes atuais ? Alguém já ouviu falar de premiação anual para profissionais de diversas áreas da aviação no Brasil, certo ? São prêmios para a indústria, personalidade do ano, companhias aéreas, reportagens mas, e para a área técnica alguém conhece algum prêmio? Muitas perguntas sem respostas ? Existem outras perguntas que poderíamos formular sobre o assunto, porém, penso que você deva entender a importância da valorização da atividade de manutenção e a minha preocupação com a qualificação dos profissionais que atuam neste ramo da aviação brasileira. Não quero que vocês concluam que estou pessimista com relação à nossamanutenção, pelo contrário, nossa aviação está evoluindo muito no que diz respeito à qualidade do serviço de manutenção prestado por empresas brasileiras, podemos considerar que nossa mão-de-obra de manutenção efetua trabalhos muito eficientes quando comparada a países mais desenvolvidos que possuem condições de trabalho melhores que a nossa, o Departamento de Aviação Civil, a partir do ano de 1996, com a emissão de uma nova revisão da IAC** 3108, começou um processo de atualização de nossa legislação de manutenção e melhoria no que diz respeito à instrução do profissional da aviação civil, como é o caso dos cursos ministrados pelo Instituto de Aviação Civil, que contribuíram em muito para o nosso aprimoramento profissional, resultado disto, é o índice de acidentes em nossa aviação ser um dos menores do mundo. Mas, já é tempo, ou melhor, estamos atrasados com relação a uma discussão mais ampla e profunda dos tópicos acima mencionados, entre outros. É por isso que nós, profissionais de manutenção, necessitamos que mais espaços, como este, estejam disponíveis, também, na nossa imprensa especializada de aviação. Se quisermos melhorar ainda mais os nossos índices de confiabilidade de manutenção será preciso que as respostas às perguntas aqui levantadas sejam as mais positivas possíveis. Uma nova mentalidade deve acompanhar cada profissional de manutenção aeronáutica no Brasil, sejam estes técnicos, engenheiros ou administradores. É preciso que nossos técnicos, eu disse, TÉCNICOS de manutenção, sejam valorizados pela importância de seu trabalho e o 24 nível de conhecimento e instrução que possuem e não simplesmente serem chamados de “GRAXEIROS” ou “PEÕES” por uma mentalidade atrasada. A nossa postura e orgulho como profissionais de aviação devem ser exemplares. Você empresário desta atividade deve ter como prioridades : A satisfação com ambiente de trabalho A qualidade do treinamento oferecido e O reconhecimento proporcionados a seus técnicos. E você, usuário do transporte aéreo, alguma vez, no momento de uma decolagem, parou para pensar nas condições de trabalho da equipe de mecânicos que efetuou a última inspeção na aeronave ? Será que o torque dado nos parafusos que fixam o berço dos motores foram efetuados de maneira correta ? Pensem bem, quantas pessoas morrem a cada erro médico ? E quantas morreriam, de uma só vez, dentro de um Boeing 747 por um erro de manutenção ? Uma aeronave voa porque foi bem projetada para esta função, porém, somente continuará a voar com segurança se for bem mantida e nós, senhores, somos elo vital neste processo. É com muita satisfação que escrevo estas palavras para o primeiro site brasileiro desenvolvido especialmente para profissionais de manutenção de aeronaves. Espero que, cada vez mais, profissionais de manutenção se empenhem em transmitir sua experiência e conhecimento através de artigos técnicos voltados à manutenção. Aproveitem este espaço e mãos à obra. Nossa aviação agradece. * Diretriz de Aeronavegabilidade é um documento emitido pela autoridade aeronáutica, visando eliminar uma condição insegura existente em um produto aeronáutico, com probabilidade de existir ou de se desenvolver em outros produtos do mesmo projeto de tipo. O seu cumprimento é obrigatório (RBHA 39 - Diretrizes de Aeronavegabilidade). ** Instruções de Aviação Civil (IAC) são publicações que contêm instruções de caráter permanente, relativas à organização, às atribuições, ao funcionamento e aos procedimentos dos Órgãos do Sistema de Aviação Civil ou que estabelecem normas para pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, no trato de assuntos relacionados com o DAC. _________________________________________________________________________________________________________________________________ **.*Autor : Adílio Marcuzzo Junior. Original em: http://www.aerobyte.com.br/site/index.php/artigos/36-uma-nova-mentalidade-na-manutencao-de-aeronaves 25 4. RESPONSABILIDADES DE OPERADORES E ORGANIZAÇÕES DE MANUTENÇÃO QUANTO A AERONAVEGABILIDADE DE UMA AERONAVE: Ainda há muitas dúvidas sobre quais são as obrigações de operadores com relação à aeronavegabilidade de suas aeronaves e os limites entre as responsabilidades de operadores e organizações de manutenção. A futura edição do novo RBAC 91 trará algumas atualizações com relação às responsabilidades de operadores e pilotos e, por isso, o artigo “Responsabilidades do Proprietário/Operador” deste site estará um pouco defasado quando o novo regulamento entrar em vigor. Vejam a audiência pública no. 17/2015 no site da ANAC : http://www2.anac.gov.br/transparencia/audienciasPublicasEmAndamento.asp Ao mesmo tempo que há uma deficiência no ensino de regulamentação para mecânicos, os pilotos também carecem de uma formação teórica no que diz respeito ao conhecimento das regras do RBAC 91. A ANAC deveria cobrar a instrução deste regulamento no curso teórico para pilotos, além do RBAC 61. Vamos esclarecer, nos tópicos adiante, como deve funcionar a relação Operador versus Organização de Manutenção regidas pelo RBAC 145: 91.7 Aeronavegabilidade de aeronave civil (a) Somente é permitido operar uma aeronave que esteja em condições aeronavegáveis. (b) O piloto em comando de uma aeronave civil é responsável pela verificação das condições da aeronave quanto à segurança do voo. Ele deve descontinuar o voo, assim que possível, quando ocorrerem problemas mecânicos, elétricos ou estruturais. Resumidamente manter uma aeronave aeronavegável significa que : - Todas as diretrizes de aeronavegabilidade estejam incorporadas na célula e componentes - Os instrumentos e equipamentos estejam funcionando corretamente (se houver uma MEL aprovada o operador poderá voar com instrumentos inoperantes conforme os prazos estipulados neste documento) - O programa de manutenção do fabricante ou o programa aprovado pela ANAC esteja sendo seguido e seu controle esteja em dia - As modificações e reparos tenham sido feitas em conformidade com a legislação aeronáutica 26 - Os componentes instalados tenham sido adquiridos com documentação comprovando a origem e que garantam sua rastreabilidade. Exemplos : SEGVÔO-003, FORM 8130-3, FORM ONE, etc. - A aeronave seja mantida em conformidade com a especificação de tipo - A documentação de bordo e de manutenção estejam atualizadas e em ordem Apesar do piloto e operador não terem conhecimento de manutenção, eles devem conhecer o conteúdo dos capítulos 4 e 5 dos manuais de manutenção da aeronave e componentes para montarem o controle de manutenção ou contratar empresas especializadas que desenvolvem softwares de controle de manutenção e gerenciamento de CTM. A atualização e fiscalização das informações destes controles sempre será responsabilidade do operador, mesmo que tenha contrato de prestação de serviço com organizações de manutenção, ou seja, o controle técnico de manutenção de uma aeronave é função de operador e não de organização de manutenção. 91.27 Diário de bordo (a) O diário de bordo deve ser confeccionado e preenchido de acordo com o requerido por esta seção, salvo disposição em contrário em outros regulamentos ou resoluções da ANAC. Este é um parágrafo totalmente novo do RBAC 91, que na realidade, tem os textos da IAC 3151 (Diário de Bordo) que será cancelada e cujas regras serão incorporadas neste regulamento. A responsabilidade sobre o preenchimento do diário de bordo é do operador, não podendo a organização de manutenção fazê-lo, com exceção do campo de respostas às discrepâncias solucionadas na Parte II após encerramento de ordem deserviço ou por mecânico habilitado e qualificado. O preenchimento da Parte 1 das cadernetas de célula, motores e hélices também é de responsabilidade do operador e não da organização de manutenção que pode ser autorizada a preencher esta parte, porém não eximindo a responsabilidade do piloto/operador conferir os dados preenchidos por terceiros. 91.203 Aeronave civil - documentos requeridos (a) Exceto se de outra forma autorizado por regulamento de operação específico, somente é permitido operar uma aeronave civil brasileira se ela tiver a bordo os seguintes documentos: (1) no caso de aeronaves que pretendam operar fora do território brasileiro, Certificado de Matrícula e Certificado de Aeronavegabilidade, originais, válidos, emitidos pela ANAC em nome do operador, exceto para os casos previstos nos parágrafos (b), (c) e (e) desta seção; (2) manual de voo aprovado da aeronave ou AOM atualizados (original ou cópia); (3) lista condensada de verificações da aeronave impressa e atualizada (original ou cópia); 27 (4) para aeronaves que realizem operações internacionais, documento(s) comprovando a certificação de ruído (original ou cópia); (5) publicações aeronáuticas apropriadas impressas originais ou de outra forma expressamente autorizada pela ANAC, válidas e atualizadas, contendo informações adequadas concernentes a auxílios de navegação, procedimentos de aproximação e saída, e demais informações aeronáuticas referentes à rota a ser voada e aos aeródromos a serem utilizados; (6) diário de bordo original devidamente preenchido. No caso de aeronaves engajadas em atividades de recreio ou desporto, ou aeronaves experimentais, o diário de bordo não precisa estar a bordo quando for inviável o seu transporte devido às características construtivas da aeronave. No entanto, ele deve ser atualizado tão logo quanto praticável; (7) apólice de seguro ou certificado de seguro com o respectivo comprovante de pagamento do prêmio, original ou cópia, emitidos em nome do operador e dentro do prazo de validade; (8) licença de estação da aeronave, original ou cópia, emitida em nome do operador e dentro do prazo de validade; (9) Declaração de Inspeção Anual de Manutenção (DIAM) ou Relatório de Condição de Aeronavegabilidade (RCA) conforme previsto no parágrafo 91.403(f) ou (g) deste Regulamento (original ou cópia); (10) documentos e manuais requeridos conforme o tipo de operação aplicável (original ou cópia); (11) as autorizações de operações especiais ou específicas, se aplicável (original ou cópia); (12) lista de passageiros, se aplicável; e (13) a(s) caderneta(s) individual(is) de voo (CIV) do(s) piloto(s), no caso de operações não regidas pelos RBAC nº 121, 125, 135 e pela subparte K deste Regulamento. O novo RBAC 91 (a ser editado) vai requerer que a documentação acima esteja a bordo, sendo responsabilidade do piloto a conferência antes de cada voo. Durante inspeções equivalentes ao Apêndice D do RBAC 43, inspeções anuais e vistorias, a organização de manutenção verifica se esta documentação está a bordo e se está atualizada. O piloto não pode esquecer de atualizar, a cada voo, as informações do diário de bordo e verificar as renovações de assinaturas de todas as publicações emitidas pelas autoridades de aviação civil e pelos fabricantes dos produtos aeronáuticos. Observem que tanto a FIAM como a FIEV não são mais requeridas pelo novo RBAC 91. 28 91.403 Disposições gerais (a) O operador ou, na falta deste, o proprietário de uma aeronave é o responsável pela conservação dessa aeronave em condições aeronavegáveis, incluindo o cumprimento do RBAC nº 39. No que se refere à responsabilidade do operador, cumprir o RBAC 39 significa monitorar, analisar e fazer cumprir, se aplicável, os requisitos de diretrizes de aeronavegabilidade emitidas pelas autoridades de aviação civil quando o produto aeronáutico que ele operar for afetado por este tipo de documento. HODGES, D. H., PIERCE, G. A. Introduction to structural dynamics and aeroelasticity. [S.l.]: CambridgeAerospace Series, 2011. Uma organização de manutenção pode recomendar o cumprimento de diretrizes ao operador durante inspeções equivalentes ao Apêndice D do RBAC 43 ou inspeções anuais, cabendo ao operador decidir ou não pelo cumprimento da diretriz. Entendam que é obrigação do operador acessar os sites das autoridades periodicamente e solicitar a abertura de uma ordem de serviço em organização de manutenção para que a diretriz seja cumprida. Entendemos, conforme as regras do RBAC 43, que para o cumprimento de diretriz que em que não sejam necessárias operações de manutenção complexas, um mecânico qualificado e habilitado poderia assinar o registro da diretriz. Nenhuma organização de manutenção tem a obrigação de avisar operadores sobre edições de novas diretrizes. (b) Somente é permitido executar manutenção, manutenção preventiva, reparos ou alterações como estabelecido nesta Subparte e outras regulamentações aplicáveis, incluindo o RBAC nº 43. O operador deve encaminhar sua aeronave a uma organização de manutenção que seguirá as instruções do RBAC 43, porém o planejamento da execução das tarefas, ou seja, a decisão de quando a aeronave deve parar para realização de manutenção ou inspeção é sempre do operador e não da organização de manutenção. 91.405 Manutenção requerida Cada proprietário ou operador de uma aeronave: (b) deve assegurar-se de que o pessoal de manutenção tenha feito as anotações apropriadas nos registros de manutenção de aeronave, indicando que esta tenha sido aprovada para retorno ao serviço; 29 Outro detalhe pouco conhecido por operadores é que estes tem a responsabilidade pela conferência de registros efetuados pelas organizações de manutenção contratadas, mesmo não tendo conhecimento de manutenção ele será responsabilizado por erros nos registros. Conforme o parágrafo 145.211 do RBAC 145 mostrado abaixo, a organização de manutenção tem o dever de realizar cada tarefa pedida pelo operador com o padrão de qualidade exigido nos manuais de fabricantes e instruções de autoridades de aviação civil. 145.211 Sistema de controle da qualidade (a) *Cada organização de manutenção certificada deve estabelecer e manter um sistema de controle da qualidade a ser submetido à aceitação da ANAC, que assegure a aeronavegabilidade dos artigos nos quais a organização, ou qualquer dos seus subcontratados, executa manutenção, manutenção preventiva ou alteração. Resumindo : os operadores devem entender que o planejamento de parada de suas aeronaves é de vossa responsabilidade e a qualidade na execução dos serviços a responsabilidade das organizações de manutenção. ________________________________________________________________________ * Prfss. Dr. Adilio Marcuzzo Junior (16//01/2016) Original em: http://www.aerobyte.com.br/site/index.php/artigos/87-responsabilidades-de- operadores-e-organizacoes-de-manutencao-quanto-a-aeronavegabilidade-de-uma-aeronave 30 5. ALGUMAS QUESTÕES PARA A ANAC RESPONDER: É com grande surpresa que tenho ouvido relatos de operadores com relação a análise de Grandes Modificações e Grandes Reparos incorporados previamente em aeronaves importadas para o Brasil. A ANAC está exigindo, em alguns casos, e agora parece que poderá se tornar regra, que todo STC (Supplemental Type Certificate) incorporado em aeronaves importadas seja validado, no Brasil, através de emissão de CHST (Certificado de Homologação Suplementar de Tipo), ocasionando prejuízos terríveis aoperadores em geral devido ao tempo necessário para se validar cada STC, período no qual a aeronave fica impossibilitada de voar ou o equipamento seja removido para permitir a operação da aeronave se este não for essencial ao vôo ou de instalação mandatória pela nossa legislação. Cerca de 99% das aeronaves da frota americana possuem instalados algum tipo de STC e/ou modificações aprovadas em campo, por isso, é fundamental que a ANAC comece a negociar um acordo bilateral com os Estados Unidos visando o reconhecimento mútuo entre os STC e CHST emitidos entre os dois países assim como a Comunidade Européia já possui com os americanos. Outro detalhe é que para modificações incorporadas no Brasil, está havendo a exigência de que o projeto esteja aprovado e vôos de cheque com os equipamentos instalados estão suspensos até a aprovação final do projeto da grande modificação. A ANAC deve, então, trabalhar para reduzir a um prazo máximo de noventa dias a aprovação de cada modificação assim como faz a FAA que, em alguns casos, emite aprovação de campo em uma semana. Pagamos impostos para sermos bem servidos e o operador deve ter o mínimo de preocupação na operação de sua aeronave. A ANAC deve criar facilidades e não gerar calamidades !!!! Imaginem, exigir um CHST para cada STC incorporado e teremos quase 100 % das aeronaves importadas paradas no chão pela falta deste acordo bilateral !!!! Seria muita incompetência desta agência, por isso, não acredito que isto vá ocorrer, a ANAC vai solucionar esta questão sem prejuízo para os operadores, confio nos cérebros que gerenciam aquela agência. Questão 2 Uma triste atitude tomada pela ANAC foi a de diminuir as vistorias de aeronaves novas que antes eram efetuadas no exterior estabelecendo, pela resolução no. 69 de 15 de janeiro de 2009, que Representantes Credenciados poderão executar tais vistorias. A vantagem das vistorias efetuadas no exterior é que qualquer discrepância encontrada poderia ser facilmente solucionada com o vendedor ou o fabricante antes do recebimento da aeronave. Para quem 31 não sabe, aeronaves novas também têm defeitos ou discrepâncias em sua documentação, já cheguei a encontrar mais de cem discrepâncias durante recebimento de aeronaves novas que foram prontamente sanadas pelo fabricante ou vendedor estrangeiro, pois, a aeronave ainda estava com o registro americano. Fiz um questionamento para a ouvidoria da ANAC referente a dúvidas sobre a formação, treinamento e credenciamento dos Representantes Credenciados e, para minha surpresa, recebi o seguinte e-mail após alguns meses de espera pela resposta da ANAC : “Prezado(a) senhor(a) Aerobyte Serviços de Informática e Aeronáuticos Ltda. A solicitação número 515.2009, registrada na ANAC, foi encerrada por falta de dados solicitados pela Ouvidoria. Em caso de dúvidas, entrar em contato com a Ouvidoria da ANAC pelos telefones (0xx61)3441-8354/8355/8356 ou acessando sua manifestação pelo endereço www.anac.gov.br/falecomaouvidoria.Atenciosamente,Ouvidoria da ANAC” Ainda não liguei para os telefones acima, porém, o que estranho é que não recebi nenhum comunicado sobre “dados solicitados pela Ouvidoria”. Quais dados ? Para que serve o cadastro efetuado no site da ANAC quando acessamos a página da Ouvidoria ? Parece que estão ouvindo, mas o sistema está mudo. É lógico que a ANAC deve criar Representantes Credenciados conforme o modelo dos DAR (Designated Airworthiness Representatives) da FAA que são inspetores autônomos, não pertencentes ao quadro de funcionários de operadores. A autonomia de Representantes Credenciados pela ANAC nos dá a certeza de que a vistoria do representante não terá a interferência do operador, ou seja, o próprio operador não poderia efetuar inspeções com a finalidade de nacionalização das aeronaves que ele está comprando. Quantas discrepâncias um representante do comprador encontraria em uma aeronave nova ? Ele teria isenção suficiente para informar estas discrepância à ANAC ? É claro que somente um representante autônomo credenciado pelo governo teria esta isenção !!! Uma observação muito importante é que somente inspetores qualificados têm capacidade de liberar vistorias visando o retorno ao serviço ou atestar aeronavegabilidade de uma aeronave como fazem os DAR da FAA, engenheiros e tecnólogos devem ter a licença de mecânicos e provarem tempo de experiência em manutenção de aeronaves para se tornarem Inspetores e, então, se tornarem Representantes Credenciados no caso de inspeções de aeronaves no exterior. Questão 3 32 Após a emissão de novas regras, como foi o caso das IS 43-001A, IS 145.109-001A e IS 21.181-001A e de futuras revisões de RBHA/RBAC que ainda estão por vir, será necessário que a ANAC realize palestras com os usuários do sistema de aviação civil como fazia o antigo DAC, cujas orientações nestes encontros eram de grande valia para elucidar dúvidas e aprimorar o aprendizado dos participantes. Os militares foram muito competentes no gerenciamento do sistema de aviação civil e devem ser lembrados e reconhecidos por terem levado o nível de segurança de aviação brasileira aos mesmos padrões de países desenvolvidos, esperemos que a administração civil da ANAC seja tão ou mais competente que a dos militares, diferentemente dos governos civis que até hoje não chegaram nem aos pés da excelente administração dos governos militares que nosso país teve, os melhores até o momento, em toda nossa história. Já que citamos a emissão da nova IS 43-001A - Elegibilidade, Qualidade e Identificação de Peças de Reposição Aeronáuticas que é a tradução da FAA Advisory Circular AC 20-62D vamos esclarecer muitas dúvidas que operadores e inspetores de aviação civil possuem quanto à origem de material aeronáutico novo. Observem os seguintes parágrafos da FAA AC 20-62D e IS 43-001A : Parágrafos 7.e e 7.g da FAA AC 20-62D : IDENTIFICATION OF REPLACEMENT PARTS. Acceptable replacement parts should be identified using one of the following methods: e. Shipping Ticket, Invoice, or Other Production Approval Holder’s (PAH) Documents or Markings. These may provide evidence that a part was produced by a manufacturer holding an FAA-approved manufacturing process. g. Maintenance Release Document. A release, signed by an appropriately certificated person, qualified for the relevant function that signifies that the item has been returned to service, after a maintenance or test function has been completed. This type of documentation could be in the form of a repair station tag, containing adequate information (section 43.9), work order, FAA Form 337, FAA Form 8130-3, or a maintenance record entry, which must include an appropriate description of the maintenance work performed, including the recording requirements of section 43.9 and Appendix B. HODGES, D. H., PIERCE, G. A. Introduction to structural dynamics and aeroelasticity. [S.l.]: CambridgeAerospace Series, 2011. Parágrafos 5.3.(c), 5.3(g) e 5.3.(i) da ANAC IS 43-001A : 5.3 Identificação de peças de reposição 33 Peças de reposição aprovadas devem ser identificadas utilizando um dos seguintes métodos: c) Peças usadas podem ser identificadas pelos registros requeridos para aprovação de retorno ao serviço como descrito no RBAC 43.9. O formulário SEGVOO 001 pode ser utilizado com este fim se os requisitos do RBAC 43.9 estão contidos ou anexados ao formulário e for dada aprovação para retorno ao serviço por uma empresa de manutenção aeronáutica nacional certificada pela ANAC ou transportador aéreo nacional, sob o requisito de seu Programa de Manutenção de Aeronavegabilidade Continuada. Não há formatoou formulário padronizado para um registro de manutenção ou modificação/reparo. Entretanto, os dados ou informações utilizadas para identificar uma peça devem ser rastreáveis por uma pessoa autorizada a executar e aprovar o retorno ao serviço sob o RBAC 43. Os registros devem conter como dados técnicos mínimos os descritos no RBAC 43.9; e g) Certificado de Embarque, Fatura de Remessa, ou outro Documento de Aprovação de Produção: Estes documentos podem fornecer evidências de que uma peça foi produzida por um fabricante detentor de uma aprovação de fabricação da ANAC. h) Documento de retorno ao serviço: Um documento, assinado por uma pessoa devidamente certificada, qualificada para uma função relevante que atesta que o item retornou ao serviço após a manutenção ou o ensaio de funcionamento ter sido executado. Este tipo de documentação pode ser na forma de uma etiqueta da empresa de manutenção aeronáutica contendo informações adequadas conforme o RBAC 43.9, ordem de serviço, formulário SEGVOO 003, formulário SEGVOO 001, ou registros de manutenção, dentre as quais se incluem descrições apropriadas do serviço de manutenção executado, tal como estabelecido nos requisitos de registro do RBAC 43.9 e do Apêndice B do RBAC 43. Concluímos, pelos parágrafos acima, que o FORM 8130-3 e o SEGVÔO-003 não são os únicos documentos que confirmam a origem de material no caso de peças novas utilizadas nos mercados domésticos brasileiro e americano, com exceção para o caso de exportação destas peças. *Notas fiscais, certificados de conformidade, registros em cadernetas e formulários FORM 337 e SEGVÔO-001 também comprovam origem de material novo. Palestras da ANAC sobre estas questões se fazem necessárias urgentemente. Muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o que está escrito em nossa legislação aeronáutica !!! *Autor : Adilio Marcuzzo Junior (piloto da Ae.) (28/10/2009) http://www.aerobyte.com.br/site/index.php/artigos/78-algumas-questoes-para-a-anac-responder 34 6. ÉTICA E QUALIDADE NA MANUTENÇÃO DE AERONAVES: “Um compromisso individual de cada profissional em realizar uma tarefa com as melhoras técnicas disponíveis utilizando o melhor dos conhecimentos teórico e prático adquiridos em anos de estudo e dedicação para se tentar atingir a máxima perfeição no cumprimento desta tarefa” Convém esclarecer que a “máxima perfeição” é um conceito teórico, pois, o que tentamos é atingir o melhor resultado que podemos como seres humanos imperfeitos que somos. Para se atingir níveis de excelente qualidade requeridos na manutenção de aeronaves temos uma característica do ser humano pouco comentada, mas que é fator decisivo para se atingir o conceito de “qualidade total” e influenciar na segurança de vôo : ÉTICA A palavra Ética é originada do grego ethos, (modo de ser, caráter) e tem a seguinte definição para alguns autores : “Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade” FUNG, Y. C. An introduction to the theory of aeroelasticity. [S.l.]: Dover Books on Aeronautical, 2002 Em vários artigos já publicados neste site descrevemos as responsabilidades de mecânicos, inspetores, responsáveis técnicos, operadores, administradores e autoridades da aviação civil. Vejam quantas pessoas de diversas áreas estão envolvidas com a segurança de vôo e se relacionam diariamente para que o sistema de segurança de vôo funcione da melhor maneira possível, ou seja, protegendo a vida de milhões de usuários que utilizam a aviação como meio de transporte. Neste relacionamento a ética é fator primordial para o perfeito funcionamento de todo este sistema. A falta de ética é, em muitos casos, a razão de acidentes e incidentes aeronáuticos, 35 principalmente no que se refere à falta de caráter de profissionais que deveriam cumprir com suas obrigações e primar pelo perfeito funcionamento do sistema de aviação civil. Sabemos, hoje, que a sociedade brasileira não é mais referência no que se refere a padrões éticos, estamos enfrentando uma crise sem precedentes no que se refere ao nível do caráter do cidadão brasileiro motivado por políticas nacionais e internacionais que tendem a tornar o futuro de nossas gerações uma catástrofe em termos de educação, ética, moral, honestidade e demais vistudes necessárias para que um ser humano não tenda a se tornar uma “besta desumana”. Esta degradação de nossa cultura influencia no nível de ética de nossos profissionais e, com certeza, tenderemos a uma queda na qualidade dos serviços de manutenção de aeronaves, visto que uma sociedade sem cultura gera um número maior de profissionais sem ética e, como resultado, tarefas executadas sem o compromisso com a qualidade. Para se manter a qualidade na manutenção de aeronaves deve-se manter um alto padrão de proficiência no cumprimento das responsabilidades dos profissionais envolvidos e a falta de ética profissional destes elementos do sistema de aviação civil podem ocasionar incidentes ou acidentes devido a deficiências no cumprimento de suas atividades. Trabalhando há mais de vinte anos na manutenção de aeronaves já presenciei e soube de vários exemplos de como a falta de ética pode influenciar na qualidade dos serviços na aviação civil. Desde a falta de caráter de administradores que visam somente o lucro fácil sem se preocupar com a segurança no ambiente de trabalho e treinamento de seus funcionários, passando por chefes que não permitiam que seus subordinados estudassem ou consultassem manuais para realizar suas tarefas com medo que estes evoluíssem e se tornassem um perigo às suas posições dentro das empresas, mecânicos sem vontade de estudar e sem compromisso com seu emprego ou de ensinar corretamente seus colegas mais novos, além, de deficiências no sistema de vistorias e preparo do pessoal encarregado de fiscalizar o sistema de aviação civil por incompetência ou falta de vontade política de nossos governantes. Já tive que ouvir algumas sandices vindas das bocas de responsáveis técnicos como a de que mecânicos e inspetores não precisam conhecer a legislação aeronáutica, pois, isto é função somente de engenheiros. Sinto pena destes profissionais, pois, além da falta de ética e desconhecimento de sua função estão colocando em risco suas carreiras e a vida de várias pessoas. *Em manutenção de aeronaves toda a equipe deve ser treinada nos produtos aeronáuticos em que trabalha e na regulamentação de sua atividade e a função do responsável 36 técnico é justamente a de proporcionar condições favoráveis de aperfeiçoamento de seus subordinados dentro da empresa. Mecânicos e inspetores são os profissionais mais importantes no processo de obtenção da qualidade da manutenção de aeronaves e precisam ter apoio de responsáveis técnicos e administradores para evoluírem e aperfeiçoarem seus conhecimentos e devem se conscientizar que necessitam se esforçar estudando e transmitindo conhecimento aos demais colegas de trabalho. Por sua vez, a autoridade aeronáutica deve fazer a sua parte selecionando pessoal preparado, com experiência prévia em manutenção de aeronaves e funcionamento de empresas de manutenção em seus concursos de admissão e proporcionar treinamento e capacitação a seus funcionários. Um fiscal do governo que saiba menos do que um profissional do setor privado não fará vistorias, somente estará fazendo turismo na cidade onde está a empresa ou aeronave a ser vistoriada. Outra obrigação de nossa autoridade é a melhoria contínua dos requisitos de nossa legislaçãoaeronáutica e a emissão constante de regulamentos atualizados com os padrões mínimos de segurança de vôo exigidos mundialmente. Com relação aos fiscais de aviação civil estes não podem se acomodar com a garantia de um emprego estável e devem procurar estudar e evoluir buscando sempre treinamentos da autoridade aeronáutica, de fabricantes, de escolas e empresas especializadas e agir como um servidor daqueles que pagam seus salários : os usuários do sistema de aviação civil. A questão é : no ambiente em que você está trabalhando existe ÉTICA PROFISSIONAL ??? Se todos agirem com ética certamente não teremos com o que nos preocupar quanto à segurança das pessoas transportadas diariamente nas aeronaves que cruzam os céus do Brasil. *Autor : Prof. Dr. Adílio Marcuzzo Junior (13/03/2009) http://www.aerobyte.com.br/site/index.php/artigos/76-etica-e-qualidade-na-manutencao-de-aeronaves 37 7. RESPONSABILIDADE TÉCNICA – VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA ASSUMIR ESTA FUNÇÃO ? Temos diversas funções de responsabilidade técnica na aviação civil exercidas por engenheiros, tecnólogos e técnicos conforme os requisitos definidos nos RBHA 145, Apêndice C e no RBHA 119.67(c) e (d) e RBHA 119.71(e). Cada profissional, exercendo estas funções, tem que estar cadastrado junto à autoridade aeronáutica e ao CREA de sua região, pois, suas responsabilidades incluem as regras estabelecidas pela atual ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e pelas resoluções do sistema CONFEA/CREA. Cabe, também, às empresas efetuarem seus registros junto ao CREA para obtenção da Certidão de Registro de Pessoa Jurídica (CRPJ), documento onde constará o tipo de atividade da empresa e os nomes dos responsáveis técnicos que assinam pela empresa. É importante que cada profissional envolvido na função de Responsável Técnico (RT), seja este Responsável pela Qualidade dos Serviços (RPQS) em empresas de manutenção ou Chefe de Manutenção (CM) em empresas de transporte aéreo, conheça todos os seus deveres no que se refere às suas responsabilidades na execução de sua atividade. Vamos destacar, neste artigo, três das responsabilidades que são diretamente ligadas à função de RPQS ou CM : Quanto à segurança no trabalho é importante observar que, se a empresa não possuir número mínimo de funcionários requeridos para contratação de um técnico ou engenheiro de segurança no trabalho, o responsável técnico assume toda responsabilidade em fiscalizar e desenvolver procedimentos (manuais, treinamento, etc.) que estejam em conformidade com a legislação de segurança no trabalho. Por exemplo, o RT deve estar sempre atendo ao uso do EPI por parte de seus subordinados, bem como, estabelecer as áreas de riscos dentro das instalações da empresa. Treinamentos devem ser ministrados aos funcionários para que estes possam estar atentos aos riscos que correm (ruídos, contaminação por gases tóxicos, bactérias, radiações, etc.). Cabe ao RT participar da elaboração e manter atualizado o PPRA (Programa de Prevenção de Risco Ambiental) cuja definição básica é “Estabelecer uma metodologia de 38 ação que garanta a preservação da saúde e integridade dos trabalhadores frente aos riscos dos ambientes de trabalho”. A preservação ambiental também deve ser preocupação do RT uma vez que empresas de manutenção trabalham diariamente com produtos químicos altamente poluentes (combustíveis, desengraxantes, lubrificantes, solventes). O RT deve estar atento às normas emitidas pelos órgãos responsáveis pela legislação ambiental e desenvolver procedimentos como a coleta seletiva de lixo e o descarte de produtos químicos efetuando contratos com empresas que possuam autorização para o transporte destes produtos. Também é dever do RT obter junto à CETESB o licenciamento ambiental para a empresa onde exerce a função de RPQS ou CM. Quanto à manutenção da aeronavegabilidade da aeronave que é a função das especialidades de profissionais de engenharia (engenheiros, tecnólogos e técnicos) de aviação, é necessário dizer que o RPQS ou o CM devem zelar pela qualidade dos serviços executados nas aeronaves sob sua responsabilidade bem com pelo treinamento e reciclagem de sua equipe técnica. É dever do RPQS e do CM conhecer e manter treinada sua equipe nos procedimentos e requisitos da legislação aeronáutica (RBHA, IAC, CI, etc.) bem como nos equipamentos listados em seus certificados de homologações. Os manuais da empresa tais como o MGM (Manual Geral de Manutenção) ou o MPI (Manual de Procedimentos de Inspeção) também devem ser elaborados e atualizados sob a supervisão do responsável técnico e seus conteúdos devem estar em conformidade com a legislação atual e serem de conhecimento de todos os funcionários da empresa ligados às atividades técnicas. Qualquer acidente de trabalho, contaminação ambiental pela empresa ou acidente envolvendo uma aeronave envolvem diretamente a atividade de RT e este poderá responder criminalmente caso não tenha tomado as providências necessárias ao cumprimento dos requisitos das legislações citadas. Portanto, você profissional indicado para assumir uma função tão importante quanto é a de RT avalie se sua experiência e conhecimento de normas e legislação estão atualizados e se sua competência técnica abrange todos os serviços realizados independente de sua formação antes de aceitar cumprir esta função. 39 Em minha opinião o apêndice C do RBHA 145 e os parágrafos 119.67(c) e (d) e 119.71(e) do RBHA 119 deveriam ser alterados. Não o CREA ou a ANAC deveriam determinar sozinhos quem são os profissionais competentes para as funções de RT, mas as empresas é quem deveriam selecionar, independentemente da formação de seu funcionário, seja ele um técnico, tecnólogo ou engenheiro qual o profissional mais indicado para o cargo. Não existe nenhuma diferença, em termos de complexidade, qualificação ou experiência profissional ou de risco de acidente no que se refere à formação de um RT, para o caso de uma empresa efetuar manutenção em uma aeronave com peso de decolagem maior ou menor do que 5.670 Kg ou de uma empresa de transporte aéreo operar uma aeronave que tenha menos ou mais de nove assentos, que determine a necessidade específica de um tecnólogo ou engenheiro como responsáveis técnicos. Um inspetor designado poderia, tranquilamente, assumir estas funções. Caberia a cada empresa, que é quem mais conhece a capacidade de cada um de seus profissionais, determinar se seus inspetores teriam essa competência. Em uma legislação moderna e mais realista a ANAC e o CREA deveriam aceitar a indicação do inspetor feita pela empresa para a função de RT para qualquer tamanho de aeronave mantida ou operada e, após auditorias, avaliarem se foi acertada a escolha deste profissional para responder como RT pela empresa. Os resultados das auditorias realizadas poderiam determinar a necessidade reciclagem ou a substituição do RT caso fossem detectadas deficiências nos procedimentos adotados pela empresa ou no descumprimento da legislação. _________________________________________________________________________________________________________________________________ Autor: Prof. Dr. Adilio Marcuzzo Junior: http://www.aerobyte.com.br/site/index.php/artigos/68-responsabilidade-tecnica-voce-esta-preparado-para- assumir-esta-funcao 40 8. CONCLUSÃO: Dentro do aqui já foi posto gostaria de finalizar com um assunto não menos importante: Ferramenta importante no princípio da aeronavegabilidade continuada, as diretrizes
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