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442165_O QUE É O HOMEM, POSSÍVEIS RESPOSTAS, reformatado

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NATUREZA E CULTURA: a diferença entre o homem e as outras espécies animais.
As meninas-lobo
Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920 duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos. 
Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.
Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.
Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.
Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.
 (B. Reymond apud Aranha e Martins, Filosofando, São Paulo; Moderna)
Através de centenas de milhares de anos os animais conseguiram sobreviver por meio da adaptação física. Os seus dentes e as suas garras afiadas, os cascos duros e as carapaças rijas, seus venenos e odores, os sentidos hipersensíveis, a capacidade de correr, saltar, cavar, a estranha habilidade de confundir-se com o terreno, as cascas das árvores, as folhagens, todas estas são manifestações de corpos maravilhosamente adaptados à natureza ao seu redor. Mas a coisa não se esgota na adaptação física do organismo ao ambiente. O animal faz com que a natureza se adapte ao seu corpo. E vemos as represas construídas pelos castores, os buracos-esconderijo dos tatus, os formigueiros, as colméias de abelhas, as casas de joão-de barro... E o extraordinário é que toda esta sabedoria para sobreviver e arte para fazer seja transmitida de geração a geração, silenciosamente, sem palavras e sem mestres. Lembro-me daquela vespa caçadora que sai em busca de uma aranha, luta com ela, pica-a, paralisa-a, arrastando-a então para o seu ninho. Ali deposita os seus ovos e morre. Tempos depois as larvas nascerão e se alimentarão da carne fresca da aranha imóvel. Crescerão. E sem haver tomado lições ou freqüentado escolas, um dia ouvirão a voz silenciosa da sabedoria que habita os seus corpos, há milhares de anos: “Chegou a hora. É necessário buscar uma aranha ...”
E o que é extraordinário é o tempo em que se dá a experiência dos animais. Moluscos parecem fazer suas conchas hoje da mesma forma como o faziam há milhares de anos atrás. Quanto aos joãos-de barro, não sei de alteração alguma, para melhor ou para pior, que tenham introduzido no plano de suas casas. Os pintassilgos cantam hoje como cantavam no passado, e as represas dos castores, as colméias das abelhas e os formigueiros têm permanecido inalterados por séculos. Cada corpo produz sempre a mesma coisa. O animal é o seu corpo. Sua programação é completa, fechada, perfeita. Não há problemas não respondidos. E, por isso mesmo, ele não possui qualquer brecha para que alguma coisa nova seja inventada. Os animais praticamente não possuem uma história, tal como a entendemos. ( ... )
Como são diferentes as coisas com o homem! Se o corpo do animal me permite prever que coisas ele produzirá – a forma de sua concha, de sua toca, do seu ninho, o estilo de sua corte sexual, a música de seus sons – e as coisas por ele produzidas me permitem saber de que corpo partiram, não existe nada semelhante que se possa dizer dos homens. Aqui está uma criança recém-nascida. Do ponto de vista genético ela já se encontra totalmente determinada: cor da pele, dos olhos, tipo de sangue, sexo, suscetibilidade a enfermidades. Mas, como será ela? Gostará de música? De que música? Que língua falará? E qual será o seu estilo? Por que ideais e valores lutará? E que coisas sairão de suas mãos? E aqui os geneticistas, por maiores que sejam os seus conhecimentos, terão de se calar. Porque o homem, diferentemente do animal que é o seu corpo, tem o seu corpo. Não é o corpo que o faz. É ele que faz o seu corpo. É verdade que a programação biológica não nos abandonou de todo. As criancinhas continuam a ser geradas e a nascer, na maioria das vezes perfeitas, sem que os pais e as mães saibam o que está ocorrendo lá dentro do ventre da mulher. E é igualmente a programação biológica que controla os hormônios, a pressão arterial, o bater do coração... De fato, a programação biológica continua a operar. Mas ela diz muito pouco, se é que diz alguma coisa acerca daquilo que iremos fazer por este mundo afora. O mundo humano, que é feito com trabalho e amor, é uma página em branco na sabedoria que nossos corpos herdaram de nossos antepassados.
O fato é que os homens se recusaram a ser aquilo que, à semelhança dos animais, o passado lhes propunha. Tornaram-se inventores de mundos. E plantaram jardins, fizeram choupanas, casas e palácios, construíram tambores, flautas, harpas, fizeram poemas, transformaram os seus corpos cobrindo-os de tintas, metais, marcas e tecidos, inventaram bandeiras, construíram altares, enterraram os seus mortos e os prepararam para viajar e, na sua ausência, entoaram lamentos pelos dias e pelas noites ...
E quando nos perguntamos sobre a inspiração para que estes mundos que os homens imaginaram e construíram, vem-nos o espanto. E isto porque constatamos que aqui, em oposição ao mundo animal onde o imperativo da sobrevivência reina supremo, o corpo já não tem a última palavra. O homem é capaz de cometer suicídio. Ou entregar o seu corpo à morte, desde que dela um outro mundo venha a nascer, como fizeram muitos revolucionários. Ou de abandonar-se à vida monástica, numa total renúncia da vontade, do sexo, do prazer da comida. ( ...) ... É necessário reconhecer que toda a nossa vida cotidiana se baseia numa permanente negação dos imperativos imediatos do corpo. ( ...) A cultura, nome que se dá a esses mundo que os homens imaginam e constroem, só se inicia no momento em que o corpo deixa de dar ordens. Esta é a razão por que, diferentemente das larvas abandonadas pela vespa-mãe, as crianças têm que ser educadas. É necessário que os mais velhos lhes ensinem como é o mundo. Não existe cultura sem educação. 
 (ALVES, Rubem. O que é religião. São Paulo: Brasiliense)�
TEXTO 2:
O HOMEM COMO SUJEITO MORAL
O que é o homem?
Para a pergunta “o que é o homem?” existem várias respostas possíveis, que abordam diferentes aspectos da estrutura do ser humano sob diferentes modelos interpretativos. Em linhas gerais, todas elas definem o homem como um ser social, dotado de razão e livre para se autodeterminar, construindo a sua própria realidade cultural – normas, códigos, valores, interdições – ao se apropriar das coisas da natureza através da linguagem abstrata e modificá-la ao seu projeto através do trabalho. Por ser dotado de razão, o homem tem a capacidade de produzir e manipular símbolos, construindo a linguagem abstrata e escapando à pura concretude do mundo da natureza; daí advém o fato de que o homem é um ser histórico, uma consciência historicamente situada, capaz de recuperar simbolicamente o passado (que já não é mais concreto) e projetar o futuro. Hanna Arendt afirma que, devido à nossa historicidade, “vivemos uma constante sucessão de agoras entre o passado e o futuro”. Nesse contexto, pode-se dizer que o homem é livre para construir, de forma historicamente situada, seu próprio imaginário cultural, que define o seu “jeito de ser”e de pensar, ao estabelecer critérios normativos – isto é: valores e critérios morais – que balizam as relações fundamentais para a constituição do sujeito: a relação consigo mesmo, a relação com o outro, a relação com o mundo (natureza), a relação com o transcendente. Esse imaginário cultural, que é produzido pelo homem de modo a orientar o sentido de sua existência em todos os aspectos e se expressa nos diversos discursos (científico, religioso, artístico, filosófico, senso-comum, ideologia) produzidos em uma determinada época, é o que o caracteriza como sujeito moral. A ética é a análise filosófica da moral, tendo em vista a construção de um saber normativo (portanto, prático) universalmente válido e legítimo.
O homem como sujeito moral. A condenação à liberdade. Liberdade e responsabilidade.
Com base no que já foi exposto acima, podemos dizer que o homem é livre para se autodeterminar, e se constitui em sujeito moral justamente por ser livre. A liberdade do homem de se autodeterminar, escapando aos desígnios da natureza e podendo inclusive modificá-la, é vista por Sartre como uma condenação: o homem é “condenado a ser livre” porque sua liberdade de construir vastos universos simbólicos que delimitam sua própria noção de realidade e estabelecem seu modelo de racionalidade o tornam responsável pelo que ele é. Ao contrário de todas as demais espécies, o homem se faz, não tendo na natureza um fim, mas um meio. Segundo Rubem Alves, “o homem tem seu corpo, ao passo que o animal é o seu corpo”. Essa responsabilidade inerente à liberdade pode ser pensada, a princípio, num plano individual: eu me constituo como sujeito através de minhas escolhas, sendo responsável pela minha vida, pela construção da minha subjetividade. Porém, essa responsabilidade deve ser universalizada – daí que se constitui o sujeito ético – de modo a abarcar toda a humanidade: a humanidade constrói sua própria realidade cultural, delimitando o próprio contexto em que se dão as escolhas individuais (pois estas se baseiam em valores, convicções morais); logo, pesa sobre cada homem, enquanto sujeito moral, a responsabilidade sobre todos os demais, sobre toda a humanidade.
	Percebemos, pois, que a vivência da moral é essencialmente coletiva, derivando daí a necessidade do estabelecimento de critérios normativos (aceitos e legitimados intersubjetivamente) que fundamentem e balizem as modalidades de relação que permeiam as relações fundamentais constitutivas do sujeito moral: a relação consigo mesmo, a relação com o outro, a relação com o mundo e a relação com o transcendente. Esses critérios normativos são o conteúdo simbólico comum em que se baseiam todas as interações sociais, sendo constitutivos da própria identidade cultural do grupo e de cada indivíduo em particular.
Relação consigo mesmo. Auto-referência. Alter-referência
	A relação consigo mesmo é o que constitui a auto-referência, a identidade e a personalidade do sujeito consciente de si mesmo. Essa relação é mediada pela linguagem, expressando “a forma como eu significo a mim mesmo”. Numa análise ética dessa relação, podemos pensar na importância de critérios morais humanistas, que nunca me levem a me perceber como objeto, o que me alienaria de mim mesmo, me tirando a condição de sujeito moral – consciente de sua liberdade e responsabilidade.
	Porém, num sentido mais amplo, a relação consigo mesmo não é uma mera “auto-referência” monológica e solipsista, mas sim uma “alter-referência” uma vez que é através do outro que se constitui o Eu. A relação com o outro, mediada pela linguagem, me constitui como sujeito porque é a partir de critérios intersubjetivos que eu me defino como “diferente do outro”, sendo que o meu julgamento de mim mesmo sempre vai se basear em “como o outro me vê de acordo com os nossos critérios”. Numa análise ética dessa relação, podemos concluir que ao reduzir o outro a objeto eu estou também me reduzindo a objeto. A relação com o outro deve ser sempre uma relação entre sujeitos, ou caímos inevitavelmente na reificação e conseqüentemente, na alienação, deixando de nos reconhecermos responsáveis pelo outro e por nós mesmos.
Relação com o mundo
	É na relação com o mundo (natureza), mediada pelo trabalho e pela linguagem, uma vez que o trabalho, essencialmente humano caracteriza-se pela realização de um projeto, simbolizado anteriormente no nível da abstração (linguagem), que o homem constrói a cultura. É através do trabalho que o homem se humaniza ao humanizar a natureza. Nesse sentido, o trabalho que tem consciência de sua finalidade, no qual o homem se reconhece como construtor, é realizador. Já o trabalho alienado, em cujo produto o homem não se reconhece como sujeito-criador, é desumanizante e expressa uma relação deturpada com a natureza – na qual as produções do trabalho humano (construídas a partir do projeto humano de construir um mundo mais “feito na medida do homem”) passam a ser vistas como naturais, como coisas. Numa análise ética da relação com o mundo da natureza, devemos considerá-lo solidário na aventura da manutenção da vida, o que inclui a Ecologia no campo da moral. Como diz o Padre Libânio: “os rios têm o direito de ser limpos; o ar tem o direito de ser puro; o silêncio tem o direito de ser silencioso”.
	
Relação com o transcendente
Porém, a relação com o transcendente é, a meu ver, a característica mais marcante do ser humano. O homem, como um ser “inacabado” (por não ser determinado pela natureza), é movido pelo desejo insaciável de transcender os próprios limites culturais criados por ele mesmo, tendo sempre em vista a construção de um mundo melhor. É esse desejo que instiga a imaginação criadora do ser humano a ir além das significações perenes, produzindo o constante devir da produção cultural. É através da relação com o transcendente, portanto, que o homem lança sua imaginação a perseguir o novo e se torna, como diz Artaud, “senhor de tudo aquilo que ainda não existe”. Numa análise ética dessa relação, devemos atentar para o risco da unidimensionalidade, estudada por Marcuse. O “homem unidimensional” perde a dimensão da transcendência e se prende a uma realidade cultural dada como se esta fosse natural e imutável; sua imaginação não consegue transcender os limites culturais nem se voltar para a cogitação do sentido da vida e para a própria produção da moral. Mas esse tema já demandaria outros estudos...
(G. Horta)
TEXTO 3:
NATUREZA E CULTURA: REVISÃO
- O que é o Homem?
Um animal racional
Um animal social
Um ser simbólico
O único ser livre, capaz de romper com as determinações naturais e construir sua própria forma de se situar e agir no mundo: a CULTURA.
CULTURA: trata-se de um patrimônio informacional estruturado simbolicamente e intersubjetivamente produzido e compartilhado por um grupo social, que define sua visão-de-mundo e sua identidade, bem como sua forma de viver e interagir com a realidade. A cultura é, pois, um conjunto de saberes, valores, crenças, códigos, formas de expressão, normas morais, técnicas e tecnologias criadas e compartilhadas por um grupo social, que determinam sua visão-de-mundo, sua forma de se inserir na realidade e sua própria noção de realidade.
É ao romper com a natureza, ao se recusar a ser determinado pelo corpo, ingressando na cultura, que o homem institui a própria liberdade. Ele se faz humano ao humanizar a natureza através da cultura.
A cultura é resultado da ação transformadora que o homem exerce sobre a natureza através do trabalho, criando o mundo humano, as condições em que se dá a existência humana.
“A cultura se aprende, se reaprende, se retransmite, se reproduz de geração em geração. Não está inscrita nos genes, mas ao contrário, no espírito-cérebro dos seres humanos”. EDGAR MORIN
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA CULTURA:
RAZÃO/LINGUAGEM: (logos em grego significa tanto razão quanto linguagem argumentativa) Capacidade de constituir e expressar o pensamento através da criação de signos (símbolos, representações)e de regras para o seu uso. Através da linguagem, o ser humano passa a lidar com a realidade sempre através de símbolos que a representam (palavras, sinais), libertando-se da experiência concreta e imediata e realizando sua capacidade de abstração. Assim, ao lidar com a realidade sempre através de símbolos, o homem pode tornar presente no pensamento o que está ausente na experiência concreta, imaginando inclusive o que não existe, projetando seu futuro. A historicidade/temporalidade do homem se estabelece através da possibilidade de recuperar mentalmente o passado, que já não é mais concreto, assim como de projetar o futuro, que ainda não existe, através da linguagem simbólica. Não estando mais num universo meramente físico, o homem passa a habitar um universo simbólico construído e constantemente reconstruído por ele mesmo.
É através da linguagem que a cultura é construída e reconstruída, transmitida, modificada e compartilhada. Assim, a linguagem está sempre em transformação, sendo condição e conseqüência da cultura.
TRABALHO: Atividade consciente pela qual o homem transforma a natureza segundo seu projeto, construindo a cultura. O trabalho humano diferencia-se da atividade animal por seu poder de criar o novo, criar o que não existe na natureza, o que só se torna possível porque o trabalho humano é consciente de sua finalidade, implicando em um projeto prévio no pensamento, que antecede e orienta a ação, por mais elementar e esquemático que seja. Assim, é através do trabalho que o ser humano constrói a cultura segundo seu projeto, humanizando-se ao humanizar a natureza.
INTERDIÇÕES: As características constitutivas do mundo da cultura implicam na vivência coletiva, no contato com o outro; daí a necessidade da moral, das normas morais, balizando as relações fundamentais à existência humana: a relação com o outro, consigo mesmo, com o mundo e com o transcendente. Para que seja possível a vivência coletiva, as forças naturais que atuam sobre o homem devem ser controladas através de interdições simbolicamente demarcadas. Toda cultura tem em sua base moral interdições básicas à sexualidade e à agressividade. A sexualidade e a agressividade precisam ser negadas em sua origem instintiva e reconstruídas culturalmente através das interdições, que passam a demarcar a fronteira entre o humano e o animal.
(G. Horta)
TEXTO 4:
O MITO COMO FORMA DE CONHECIMENTO: esquema
Primeira forma de conhecimento de acordo com as pesquisas históricas (isto, levando em conta que qualquer verdade científica pode mudar à medida que novas pesquisas vão sendo feitas).
A palavra mito significa linguagem assim como a palavra logos. Logos, porém significa também razão. Portanto, ao significar linguagem, significa linguagem argumentativa, uma vez que a razão se expressa através de argumentações.
Mito, por sua vez, significa linguagem narrativa. O mito é sempre uma narrativa, através da qual o homem pretende explicar a realidade que o cerca e responder a perguntas fundamentais, que ainda hoje o homem se faz: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? O que estou fazendo aqui? Etc.
Características do mito: além de buscar explicar a realidade e responder a perguntas do homem, o mito tem as seguintes características:
Oral (passa oralmente de geração a geração, é típico de sociedades ágrafas, que não dispõem de outra forma de conhecimento e para as quais o mito é sempre visto como verdade inquestionável)
Sustenta-se pelos sentimentos, pela emoção (e não pela razão)
A natureza é vista como um outro sujeito, e não como objeto. 
Antropomorfismo (transformação da natureza em seres com características humanas)
Metamorfose: as realidades não acabam, mas se transformam (ex.: Narciso em flor; Eco em pedra, etc.)
Tempo não datado: os primórdios.
Tempo cíclico: retorno às origens.
Linguagem narrativa e fantasiosa.
Magia da palavra. (a palavra tem o poder de voltar às origens)
 
Diferença entre o mito nas sociedades míticas propriamente ditas (i. é.:sociedades ágrafas, nas quais o mito é a única forma de conhecimento possível) e nas sociedades modernas, que podem questionar os mitos através da razão.
Porém, se o mito fosse totalmente eliminado pela razão, deixaria de haver arte.
Mitos contemporâneos (ou ideologias): mito da ciência como verdade absoluta, mito do Super Homem, Mito da democracia racial brasileira, mito do homem que se fez sozinho apenas pelo talento, etc.
DOIS EXEMPLOS:	
1 - Mito da Origem da Cultura (Mito de Protágoras)
Houve uma vez um tempo em que os deuses existiam, mas não havia raças mortais. Quando também a estes chegou o tempo destinado do seu nascimento, os deuses forjaram-nos dentro da terra com uma mistura de terra e fogo e das coisas que se mesclam com a terra e o fogo. E quando estavam para os trazer à luz, ordenaram a Prometeu e a Epimeteu que os preparassem e distribuíssem a cada um as capacidades de forma conveniente. Epimeteu pediu licença a Prometeu para ser ele a fazer a distribuição. “Depois de eu fazer a partilha, disse, tu inspeccionas.” Assim o convenceu, e fez a distribuição. Nesta, concedia a uns a força sem a rapidez, e, aos mais débeis, dotava-os com a velocidade. A uns armava-os e, àqueles a que dava uma natureza inerme, fornecia-lhes alguma outra capacidade para a sua salvação. Aos que envolvia na sua pequenez pro​porcionava-lhes uma fuga alada ou um habitáculo subterrêneo. E aos que aumentou em tamanho punha-os com isso a salvo. E assim, equi​librando as demais coisas, fazia a sua partilha. Planejava isto com a precaução de que nenhuma espécie fosse aniquilada.
Depois de lhes ter proporcionado recursos de fuga contra as suas mútuas destruições, preparou uma proteção contra as estações do ano que Zeus envia, revestindo-os de pêlo espesso e grossas peles, capazes de suportar o Inverno e capazes também de resistir aos ardores do sol e de modo que, quando fossem dormir, as mesmas lhes servissem de cobertura familiar e natural a todos. A uns calçou-os com garras e a outros reves​tiu-os de peles duras e sem sangue. Em seguida, facilitou meios de alimentação diferentes a uns e a outros: a estes, a forragem da terra, àqueles, os frutos das árvores e, aos outros, raízes. A alguns concedeu que o seu alimento fosse devorar os outros animais e ofereceu-lhes uma exígua descendência e, em contrapartida, aos que eram consumidos por estes, uma descendência numerosa, proporcionando-lhes uma salvação na espécie. Mas, porque Epimeteu não era inteiramente sábio, não se deu conta de que gastara as capacidades nos animais; faltava-lhe então ainda dotar a espécie humana, e não sabia que fazer.
Estando assim perplexo, aproxima-se Prometeu, que vinha inspeccio​nar a partilha; vê os outros animais, que tinham cuidadosamente de tudo, ao passo que o homem estava nu e descalço e sem coberturas nem armas. E era já precisamente o dia destinado em que o homem devia também surgir da terra para a luz.
Prometeu, pois, aflito com a carência de recursos e procurando encontrar uma proteção para o homem, rouba a Hefestos e a Atena a sua sabedoria profissional juntamente com o fogo – já que era impossível que, sem o fogo, aquela pudesse adquirir-se ou ser de utilidade para alguém – e, assim, imediatamente a oferece como presente ao homem. �
Foi, portanto, deste modo que o homem conseguiu um tal saber para a sua vida; mas carecia do saber político, o qual dependia de Zeus. Ora bem, Prometeu já não tinha tempo de penetrar na Acrópole onde mora Zeus; além disso, as sentinelas de Zeus eram terríveis. Pelo contrário, na morada, em comum, de Atena e de Hefestos, onde eles praticavam as suas artes, podia entrar sem ser notado e, assim, roubou a técnica de utilizar o fogo de Hefestos e a outra de Atena e entregou-a ao homem. E daqui provém, para o homem, a possibilidade da vida; e bem depressa a Prometeu, através de Epimeteu, segundo se conta, chegou o castigo do seu roubo. Visto que o homem teve participação no domínio divino por causa do seu parentescocom a divindade, foi, em primeiro lugar, o único dos animais a crer nos deuses, e procurava construir-lhes altares e esculpir as suas estátuas. Depois, articulou rapidamente, com conhecimento, a voz e os nomes e inventou as suas casas, vestidos, calçados, mantos e alimentos do campo. Equipados desta maneira, habitavam os humanos, no princípio, em dispersão, e não havia cidades. Mas viam-se destruídos pelas feras por serem geralmente mais débeis do que elas; e a sua técnica manual constituía um conhecimento suficiente como recurso para a nutrição, mas insuficiente para a luta contra as feras. Pois ainda não possuíam a arte da política, a que pertence a arte bélica. Já tentavam reunir-se e pôr-se a salvo com a fundação de cidades. Mas, quando se reuniam, atacavam-se uns aos outros, por não possuirem a ciência política; de maneira que novamente se dispersavam e pereciam. Zeus, então, com receio de que toda a nossa estirpe se destruísse, enviou Hermes para que trouxesse aos homens o sentido moral (aidós) e a justiça (dike), a fim de haver ordem nas cidades e laços harmoniosos de amizade. Hermes perguntou então a Zeus de que modo daria ele o sentido moral e a justiça aos homens: “Reparto-os como repartidos estão os conhecimentos? Encontram-se assim distribuídos: um único que domine a medicina vale para muitos particulares, e o mesmo se passa com os outros profissionais. Infundirei assim também a justiça e o sentido moral aos humanos, ou reparto-os a todos?” “A todos – disse Zeus –, e que todos participem pois não haveria cidades, se só alguns deles participassem, como sucede com os outros conhecimentos. Além disso, impõe uma lei da minha parte: quem for incapaz de participar da honra e da justiça que seja eliminado como uma enfermidade da cidade”.
(PLATÃO, Protágoras 320 c – 322 d)
Mito de narciso: esquema básico de narrativa e interpretação
Narciso: 
filho do rio Céfiso e da ninfa das águas Liríope. 
Liríope foi possuída à força, como o rio fazia com todas as ninfas que passeavam por suas margens. 
Gravidez penosa e indesejada.
Parto jubiloso, mas também motivo de muita apreensão: nasce criança de uma beleza fora do comum. 
Liríope consulta Tirésias, o vidente cego*. Pergunta se o seu filho seria feliz e Tirésias respondeu que sim, desde que ele não se visse.
Narciso cresce cada vez mais belo e por ele se apaixonam as deusas e ninfas e todos os jovens da Grécia. Por ele também se apaixona a ninfa Eco, que o segue por toda parte, mas Narciso, tão voltado para si mesmo, nem a vê. Um dia, Narciso tinha ido caçar com alguns companheiros, quando se afasta deles e os perde de vista. E a ninfa Eco sempre o seguindo. Eco tinha recebido um castigo divino. Tinha perdido o dom da linguagem. Ela apenas era capaz de repetir as últimas sílabas que ouvisse. Assim, quando Narciso chama os companheiros: “Vocês sumiram, eu os estou procurando” Eco repete “procurando”. Quando Narciso grita: “Estou querendo os encontrar”, Eco repete “....encontrar”. Com isso, ela se convence de que combinou um encontro com Narciso e vai em direção a ele, tentando abraçá-lo. Narciso, porém, nem a vê e passa por ela sem ao menos parar. Eco se deixa ficar estática e se transforma em uma grande pedra. 
Narciso segue à procura dos companheiros quando, com muita sede, encontra uma fonte limpa e cristalina: a fonte Téspias. Debruça-se sobre ela e vê a sua imagem refletida na água. Apaixona-se e deixa-se ficar por ali paralisado até se transformar na flor do Narciso. Lembrar a previsão de Tirésias.
Embora se trate de uma história fantasiosa, ela traz escondido um problema verdadeiro para o ser humano, representado pela dupla Narciso e Eco.
Narciso: total subjetividade. Todo cheio de si, não se abria para o outro.
Eco: total falta de subjetividade, simbolizada exatamente pela falta da linguagem. É pela que linguagem que um indivíduo se faz sujeito do mundo e de si mesmo.
Porque isso traduz um problema verdadeiro? Porque é sempre uma dificuldade para todas as pessoas, e para nós também, achar o limite correto ideal entre se impor como sujeito (e transformar os outros em objetos para serem usados segundo nossa conveniência); ou se anular como objeto, abrir mão da própria personalidade e se deixar dominar pelos outros,pelas opiniões e pelas “verdades” dos outros. São vários os exemplos da vida cotidiana nos trabalhos em grupo, nas relações entre amigos, familiares, casais, etc... 
* A contradição entre cegueira e vidência pode ser explorada mostrando como os sentidos nos enganam. Como a luz nos cega para enxergar as realidades que estão na sombra. Pode-se também lembrar da frase de Exupéry: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos”.

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