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* * Prof. Marcelo José Caetano * * Numa perspectiva existencial, afirma AMORIM (2002), “o homem é um ser arremessado no mundo em estado de assédio. Para superar a angústia, cria a cultura através de sua vocação para o encontro. O homem é, portanto, um convivente enquanto realidade constitutiva”. O outro é coordenada ontológica de minha existência, determinante fundamental daquilo que sou como individualidade e sociabilidade.Deste modo, a convivência baseada em um compromisso ético pressupõe escolhas e ações que sustentem a vida social harmoniosamente. O sujeito moral deve conhecer os fins morais, os meios morais e a diferença entre o bem e o mal e fazer deles o guia de sua vontade no momento de sua deliberação e de sua decisão, pois aquilo que escolhe afeta não somente a si mesmo, mas àqueles com os quais convive e toda a sociedade. * * O comportamento humano se realiza através de uma escala axiológica, ou seja, por intermédio de uma escala hierarquizada de valores e princípios; O homem é um ser moral, pois avalia sua ação e age em conformidade com os parâmetros ético-morais que a orientam; As decisões humanas frente as situações cotidianas reconhecem o que é bom, justo e moralmente correto. * * CHAUÍ (2007: p. 177), afirma que o “desejo é paixão. A vontade, decisão. O desejo nasce da imaginação. A vontade se articula à reflexão. O desejo não suporta o tempo, ou seja, desejar é querer a satisfação imediata e o prazer imediato. A vontade, ao contrário, realiza-se no tempo; o esforço e a ponderação trabalham com a relação dos meios e dos fins e aceitam a demora da satisfação”. * * A liberdade condicionada pelas normas é o fundamento da vontade orientada por princípios e valores aceitos pelo grupo social como o que regula as escolhas, as ações e as relações interpessoais. Elas configuram e definem a lei moral e a lei positiva. São o pressuposto que as legitimam e sua razão de ser. * * Ética é o conjunto dos princípios e valores que ao regularem as relações interpessoais, definindo deveres e direitos aos indivíduos sociais de uma determinada comunidade, se constitui como o que equilibra as diferenças (e desigualdades) existentes entre os seres humanos – FIEL DA BALANÇA; “Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos os seus membros” (Chauí, 1997: p. 339) “A ética não é somente uma questão de conveniência, mas também uma condição necessária para a sobrevivência da sociedade” (Arruda; Whitaker et Ramos, 2001: p. 22) * * * * A ética socrática sustenta, coerentemente à noção grega antiga, que é suficiente saber o que é a bondade para ser bom. Para Sócrates, o homem que desconhece o que é a bondade, alienou-se na vaidade e na hipocrisia se afasta de seus objetivos reais e se confunde na “névoa das convenções sociais”. Sócrates enfrenta o relativismo dos sofistas e os valores decadentes da tradição grega. Para ele, deve-se valorizar a bondade, a moderação dos apetites (desejo) e buscar o conhecimento com o objetivo de viver uma vida feliz e eticamente saudável. Para Sócrates, a ética não é uma especulação abstrata ou subjetiva, mas uma força capaz de trazer a felicidade para a sociedade e para o indivíduo, ou seja, ela é a única forma de se alcançar uma vida feliz. * * Platão, principal discípulo de Sócrates, defendeu uma moralidade fundada na razão e atribuiu ao Estado um papel fundamental na manutenção dos valores morais; Para Platão, uma pessoa que conheça a essência da bondade sabe que só pode ser feliz se agir corretamente. (ver. anel de Giges) Platão propõe o reencontro da ética com a realidade através de uma grande reforma social, política e econômica que torne a vida mais simples, mais comprometida com os valores espirituais, desligada dos valores materiais e mais igualitária. Platão considera, com base no ideal socrático “conhece-te a ti mesmo”, que a educação para justiça e para um Estado bem ordenado ditam as regras do cosmos, da sociedade e do homem. * * A ética aristotélica defende que todos os fundamentos da moralidade se deduzem da razão. Portanto, só será feliz o homem cujas ações sejam sempre pautadas pela virtude, que pode ser adquirida pela educação. A ética e a política aristotélica visam formar o cidadão para a justiça e gerenciar o bem comum a todos os cidadãos através de um governo intencionado nesta direção. A ética emerge da estrutura biológica do ser humano tomado em sua individualidade e sociabilidade; Todas as escolhas e decisões humanas visam um fim; produzir um bem e chegar a uma meta; A tarefa da ética está em harmonizar os impulsos biológicos, instintivos e sensitivos sob orientação da razão. “Para o filósofo Aristóteles, a prudência tem a ver com as coisas humanas e com aquelas que se referem à deliberação, isto é, à escolha. Pois deliberar é considerar as alternativas possíveis que uma certa situação oferece à escolha. Por exemplo, ao político não cabe perguntar-se se quer ou não instituir (elaborar) uma boa legislação, porque isto é necessário e o fim do político. O que o político deve fazer é examinar como e por quais meios ele poderá atingir a boa legislação”. (Carvalho: 2003: p. 4) * * A teologia medieval, herdeira do legado filosófico grego antigo, submete o pensamento ético platônico e a filosofia moral aristotélica a fé cristã, transportando os princípios e valores que regulam o comportamento humano à uma instância sobrenatural, transcendente, divina e onipotente. Na Idade Média, os mandamentos regulam as regras de conduta e apontam para Deus como o fim último. O ser humano só alcança sua realização plena quando se eleva a ordem sobrenatural; A ética medieval se alicerça nos princípios cristãos, impõe-se como dogma e se caracteriza por seu caráter absoluto e incondicionado. * * O pensamento ético de Santo Agostinho (354 d.C – 430 d.C) funda-se no amar a si mesmo e no amor ao próximo, definindo-se na forma como se conduz a vida em sociedade, isto é, na cidade dos homens. Nesta economia do amor como fundamento da ética, conforme BAZZANELLA (s/d), “as ações humanas devem ser realizadas com vista ao alcance da eternidade, a "Cidade de Deus", onde se encontra a verdadeira felicidade, finalidade última da vida humana no plano individual, ou social”; A filosofia moral tomista fundamenta-se, de acordo com GOMES (2011), na livre escolha do homem e define ao atos de acordo com a obrigação exigida pelos critérios de moralidade, isto é, pela norma como fim último dos seus atos. O fim último se apresenta à vontade humana como uma obrigação que vem de sua própria constituição ontológica de ser e não mais como uma mera observância de preceitos e mandamentos positivos de Deus. A ética tomista pretende dar ao homem um caminho pelo qual possa conduzir sua vontade (potencia) de maneira perfeita até o ato, escolhendo o bem e rejeitando o mal que o afastaria de seu fim. * * A ética moderna se orienta pela submissão da vontade a razão, força guia de todo homem “... a ação aperfeiçoa a razão e a razão aperfeiçoa a ação.” Regras para uma moral provisória: o respeito às leis do país; perseverar o mais firme e resolutamente possível; esforçar-se para vencer os desejos e as paixões. * * Kant pensava que a moralidade pode resumir-se num princípio fundamental, a partir do qual se derivam todos os nossos deveres e obrigações. Chamou a este princípio «imperativo categórico». As fórmulas do imperativo categórico [Segundo a Fundamentação da Metafísica dos Costumes]: «Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.» «Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.» «Nunca praticar uma ação senão em acordo com a máxima que se saiba poder ser uma lei universal, quer dizer, só de tal maneira que a vontade pela sua máxima se possa considerar a si mesma ao mesmo tempo como legisladora universal.» * * Nietzsche criticou a moral cristã-ocidental, considerando-a uma moral de rebanos, contrária a liberdade e uma forma de dominação da força vital individual; Para ele, é necessário, antes de tudo, discutir o valor dos valores morais, conhecer as condições e os meios ambientes em que nasceram, em que se desenvolveram e se deformaram. Em resumo, ele sugere: Uma crítica à moral [decadente] do Ocidente; A Transvaloração dos valores ocidentais [além do bem e do mal]; Uma Filosofia do porvir [vontade de potência]. * * BAZZANELLA, Sandro Luiz. Ética agostiniana. http://www.institutoveritas.net/, acesso em 10 de fevereiro de 2011. Carvalho, Luis Carlos Ludovikus Moreira de. Ética e cidadania. In: http://www.almg.gov.br/bancoconhecimento/tematico/EtiCid.pdf, acesso em 15 de setembro de 2011. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. GOMES, Alexandre. O ideal e o possível - o conceito de Ética em Sócrates, Platão e Aristóteles. In: http://resenhas.sites.uol.com.br/etica.html, acesso em 10 de setembro de 2011. MOREIRA, Joaquim Manhães. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira/Thomson Learning, 2002. VÁSQUEZ, Adolfo Sanches. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. VERÍSSIMO, Luís Fernando; Frei Betto, SOARES, Luís Eduardo; FREIRE, Jurandir; BUARQUE, Cristovam. O desafio ético. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. *
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