Buscar

IDEIAS E DICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE PROCESSOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 240 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 240 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 240 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
Departamento de Apoio à Gestão Participativa
IDEIAS E DICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE PROCESSOS 
PARTICIPATIVOS EM SAÚDE
Brasília − DF
2016
Elaboração, distribuição e informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
Departamento de Apoio à Gestão Participativa
SAF Sul, Quadra 2, lotes 5/6, torre II, térreo, sala 17, Edifício Premium
CEP: 70070-600 – Brasília/DF 
Tel.: (61) 3315-8854
Fax: (61) 3315-8859
Site: www.saude.gov.br/sgep
E-mail: sgep.dagep@saude.gov.br | dgp@saude.gov.br
Facebook: www.facebook.com/SGEP_MS
Twitter: @SGEP_MS
Organização:
Osvaldo Peralta Bonetti
Vanderléia Laodete Pulga Daron
Elaboração de Texto:
Etel Matielo
José Ivo dos Santos Pedrosa
Osvaldo Peralta Bonetti
Rafael Gonçalves de Santana e Silva
Vanderléia Laodete Pulga Daron
Vera Lúcia de Azevedo Dantas
Projeto Gráfico, Ilustração e Diagramação:
Id Artes e Eventos
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Fotografias:
Etel Matielo
Normalização:
Daniela Ferreira Barros da Silva – Editora MS/CGDI
Colaboração:
Abigail Batista de Lucena Reis
Elisa Prieto Kappel
Julimar de Fátima Barros
Katia Maria Barreto Souto
Theresa Cristina de Albuquerque Siqueira
Tulio Correia de Souza e Souza
Título para indexação:
Ideas and tips for the development of participatory processes in Health
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2016/0284
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio 
 à Gestão Participativa.
 Ideias e dicas para o desenvolvimento de processos participativos em Saúde / Ministério 
da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão 
Participativa. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016.
 240 p. : il.
 ISBN ???-??-???-????-?
 1. Educação popular em Saúde. 2. Promoção da Saúde. 3. Atenção à Saúde. I. Título.
CDU 614.39
Ficha Catalográfica
2016 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative 
Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento 
pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução 
parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca 
Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: <www.saude.gov.br/bvs>.
Tiragem: 1ª edição – 2016 – 1.213 exemplares
SU
MÁ
RIO
APRESENTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
2 EDUCAÇÃO POPULAR COMO REFERENCIAL 
PARA AS PRÁTICAS DE SAÚDE
2.1 Refletindo sobre as bases da educação 
popular em Saúde
2.2 As dimensões da educação popular em saúde
3 A ARTE E A CULTURA POPULARES NA 
PROMOÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
3.1 Os círculos de Cultura na promoção da 
cidadania e saúde
3.2 As Rodas de Conversa na democratização dos 
saberes
3.3 As Cirandas como espaços de promoção da 
saúde
3.4 As Oficinas como método participativo
3.5 O Corredor do Cuidado como prática de 
cuidado
4 METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS PARA O 
TRABALHO EM SAÚDE: SINGULARIDADES E 
DIFERENÇAS
4.1 Orientações pedagógicas
7
13
19
33
61
38
44
47
50
54
68
20
26
73
76
78
83
113
92
92
95
99
99
99
100
100
102
103
104
114
209
5 METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS
5.1 Algumas características das metodologias participativas
5.2 Dicas na construção de processos participativos
6 AS TÉCNICAS DE GRUPO COMO PROMOTORAS DA 
PARTICIPAÇÃO
6.1 Técnicas de grupo – para que servem
6.2 Elementos de uma técnica
6.3 Tipos de técnicas
6.4 Algumas referências significativas
6.4.1 Sociodrama
6.4.2 O Teatro do Oprimido
6.4.3 Mística
6.4.4 Cenopoesia
6.4.5 Filmes
6.4.6 Fotografia
6.4.7 Grafite
7 ALGUMAS DICAS
7.1 Técnicas
7.2 Histórias, músicas e poemas
235
238
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
APRESENTAÇÃO
7
O setor Saúde tem construído uma caminhada significativa no campo 
das políticas públicas, principalmente no que diz respeito aos processos 
de democratização do Estado. A Saúde é o primeiro setor a instituir uma 
política garantidora de acesso universal à população brasileira, sendo que, 
com a conquista do art. 198 da Constituição Federal de 1988, a saúde passou 
a ser “direito de todos e dever do Estado”, posteriormente instituindo o 
Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 1988). Além da universalidade, 
o SUS apresenta como princípios, também, a integralidade, a equidade e a 
participação popular.
Assim, o SUS inaugurou um novo contexto nas políticas públicas 
ao instituir o controle social por meio dos Conselhos e das Conferências 
de Saúde. Nas três décadas de implementação do SUS, a perspectiva da 
democratização da gestão do Sistema, bem como o jeito de formular, 
implementar e monitorar as políticas de saúde, vem avançando 
consideravelmente. Nesse contexto, merecem destaque os processos 
que, a partir de 2003, por meio do Ministério da Saúde, têm ampliado a 
participação social na gestão federal. Entre essas, destacam-se a Política 
Nacional de Gestão Estratégica e Participativa (ParticipaSUS), que orienta 
as ações da gestão na promoção, na qualificação e no aperfeiçoamento da 
gestão estratégica e democrática das políticas públicas no âmbito do SUS; 
e as Políticas de Promoção da Equidade, que instituem estratégias e ações 
de garantia do acesso aos serviços de saúde para a diversidade da população 
brasileira, fortalecendo a concepção de que são necessários jeitos diferentes 
para cuidar e assistir em saúde; assim como a Política Nacional de Educação 
Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde (Pneps-SUS), que traz, como 
objetivo principal, implementar a Educação Popular em Saúde no âmbito do 
SUS, estimulando a participação popular, a gestão participativa, o controle 
social, o cuidado, a formação e as práticas educativas em saúde.
Contudo, a democratização das relações em saúde, seja no espaço da 
gestão nacional, estadual e municipal, em relação à efetivação da gestão 
participativa das políticas de saúde, seja no território e/ou nos serviços 
de saúde, no que diz respeito à horizontalidade no cuidado, aos vínculos 
e às relações estabelecidas entre profissionais de saúde e usuários, ainda 
se apresenta como um desafio, que é perpassado por um conjunto de 
8
Coordenação de Apoio à Educação Popular e à Mobilização Social
Departamento de Apoio à Gestão Participativa
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa 
Ministério da Saúde
intencionalidades que vão desde a mudança de modelo de atenção à 
saúde, incorporando o cuidado centrado no usuário como paradigma e a 
cultura de participação, ampliando os espaços e os canais de diálogo com 
a população. Nessa perspectiva, o desenvolvimento de ações no campo da 
educação popular em saúde, voltadas a processos formativos de diferentes 
atores sociais como conselheiros de saúde para o fortalecimento do controle 
social e da gestão participativa, assim como as práticas de educação em 
saúde desenvolvidas no âmbito dos serviços de saúde, protagonizadas 
por profissionais de saúde, desenvolvidas por educadores populares ou 
movimentos sociais, têm se apresentado não só como desafios significativos, 
mas também como experiências estratégicas para a gestão pública.
A Educação Popular em Saúde (EPS) tem se mostrado como campo de 
uma práxis que mobiliza os espaços da gestão, da formação, do cuidado, 
do controle social e da participação popular na defesa do Sistema Único de 
Saúde cada vez mais democrático, universal, humanizado, identificado com 
a cultura e a realidade de cada povo e território que compõem e constituem 
nosso país.
Um dos elementos que reforçam o desafio da democratização das 
relações em saúde é a carência de um referencialpolítico metodológico na 
maioria das ações, em especial nos processos de formação, mobilização e 
das práticas educativas.
Motivada por este cenário, a Coordenação-Geral de Apoio à 
Educação Popular e Mobilização Social, do Departamento de Apoio à 
Gestão Participativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa 
do Ministério da Saúde, apresenta o Ideias e Dicas como uma singela e 
comprometida tentativa de apoiar movimentos populares, trabalhadores da 
saúde, estudantes, gestores, educadores e todos aqueles comprometidos com 
o fortalecimento da gestão participativa, do controle social e a participação 
popular na saúde.
Desejamos uma boa leitura e que este material contribua para o 
encantamento pelo fazer e promover saúde, instigando a capacidade crítica 
e a criatividade nas ações e nas práticas comprometidas com o SUS.
11
INTRODUÇÃO
1
13
A participação social é uma das diretrizes 
constitucionais do Sistema Único de Saúde 
(SUS), conquistada pela luta daqueles que 
atuam em defesa do direito à saúde. Esta 
se expressa na atualidade por uma rede de 
controle social, formada por Conselhos 
e Conferências de Saúde, os chamados 
espaços instituídos de participação, como 
também por um conjunto de novos espaços 
que conformam o que convencionamos 
chamar de espaços instituintes de gestão 
participativa no SUS.
A construção da gestão participativa e 
o fortalecimento da participação popular 
requerem que a gestão do SUS e os serviços 
de saúde sejam permeáveis às necessidades 
sanitárias, às potencialidades, aos saberes que 
compõem cada território na formulação de 
políticas e no processo de trabalho cotidiano 
desenvolvido nas práticas de cuidado e nos 
espaços do controle social. Para que isso 
aconteça, os territórios onde se inscrevem 
precisam ser constituídos por uma nova 
cultura de participação, que reconheça o 
espaço comunitário como lócus potencial 
da promoção do protagonismo popular, da 
construção compartilhada das estratégias 
do que Freire (1996) denominou de inédito 
viável na busca da superação das situações 
limites enfrentadas no SUS por cada pessoa 
que o acessa e o constrói. Esse processo 
implica no compromisso dos trabalhadores 
da saúde, como educadores, conselheiros, 
todos aqueles que desenvolvem as 
ações em saúde, com a promoção 
da autonomia dos sujeitos, com a 
construção da alteridade que ocorre 
no encontro entre si, nos serviços, nos 
processos educativos, de promoção e 
comunicação em saúde.
Assim, apresenta-se como 
fundamental o investimento em 
processos dialógicos de conhecimento 
compartilhado sobre a saúde, 
considerando a subjetividade e a 
singularidade presentes nas relações 
entre cada indivíduo e coletividades 
com a dinâmica da vida na perspectiva 
da integralidade do cuidado à saúde e 
da humanização no SUS.
14
O fortalecimento do controle social e da participação 
popular é um desafio permanente e para o avanço do 
próprio Sistema de Saúde. A participação nos espaços de 
controle social contribui na construção e na consolidação 
da saúde enquanto direito universal, pois favorece que as 
pessoas percebam-se como sujeitos de direitos. Os sujeitos 
sociais vão construindo novos significados, conceitos e 
sentidos, à medida que participam ativamente do processo 
de consolidação da saúde enquanto direito universal.
Sendo assim, assegurar o controle social, a participação 
popular e a gestão participativa na política pública de saúde 
demonstra o compromisso de identificar, desencadear 
e qualificar espaços que promovam a participação da 
população e, ao mesmo tempo, construir instrumentos 
político-pedagógicos para apoiar processos educativos e 
formativos nesta direção.
Ideias e Dicas para o Desenvolvimento de Processos 
Participativos em Saúde constitui-se em um instrumento 
didático à disposição de educadores(as), profissionais de saúde, 
conselheiros(as), estudantes, gestores(as) e todos aqueles 
interessados em desenvolver processos educativos voltados 
para a consolidação da cidadania e da democracia participativa 
no campo da saúde.
Na sua composição estruturada em quatro eixos, você 
encontrará um conjunto de ideias, reflexões e problematizações 
que se dispõem a servir de subsídio, entre as múltiplas 
possibilidades, ao desenvolvimento das suas práticas e trabalho 
educativo, como também um apanhado de dicas e exemplos 
de técnicas participativas, estórias, poemas, cantigas, entre 
outros dispositivos, que poderão servir de insumo na busca 
da transformação das práticas no cuidado, na formação, na 
educação, no controle social e na participação em saúde.
15
Rosanne
Realce
18
A EDUCAÇÃO 
POPULAR COMO 
REFERENCIAL PARA AS 
PRÁTICAS DE SAÚDE
2
19
2.1 Refletindo sobre as bases da 
educação popular em saúde
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não 
existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e 
fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de 
fogo sereno, que nem percebe o vento e gente de fogo louco que 
enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam 
nem queimam: mas outros incendeiam a vida com tamanha 
vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar e quem 
chegar perto pega fogo (GALEANO, 2005).
Galeano (2005) nos desafia à compreensão 
integral do ser humano, o respeito e a 
valorização da singularidade de cada ser, 
pois, por sermos sujeitos em relação, todas 
nossas ações tem uma dimensão educativa e 
pedagógica, compreensão esta fundamental 
nas áreas de saúde e educação, em que se almeja 
a construção da cidadania e do protagonismo 
popular. Nesse sentido, é importante a reflexão 
sobre os fundamentos que orientam estas 
relações que se estabelecem no universo da 
atenção, do cuidado, da gestão, do controle 
social e da participação, das práticas educativas 
e da formação no SUS.
No universo cotidiano de muitas práticas 
profissionais e populares de formação, de 
cuidado e de promoção à saúde presentes no 
mundo comunitário, das famílias e das políticas, 
a educação popular vem se revelando como 
referencial. A incorporação da integralidade no 
cuidado, compreendendo as várias dimensões 
do ser humano, a perspectiva de protagonismo 
dos diversos sujeitos, o diálogo e a construção 
compartilhada de saberes, a valorização das 
culturas locais nas suas organizações, suas 
expressões artísticas e as possibilidades de 
envolvimento de outros setores na perspectiva 
de enfrentamento dos problemas cotidianos, 
são premissas da Educação Popular em Saúde 
(BRASIL, 2013).
20
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
A educação popular busca 
promover a participação dos 
sujeitos sociais, incentivando-os à 
reflexão, ao diálogo e à expressão 
da afetividade, potencializando a 
criatividade e a autonomia. Nessa 
perspectiva, a educação popular 
em saúde assume a dimensão da 
promoção da participação social no 
processo de formulação e gestão das 
políticas de saúde, direcionando-
as para o cumprimento efetivo 
dos princípios ético-políticos do 
SUS: universalidade, integralidade, 
equidade, descentralização e controle 
social.
Assim, o agir educativo se 
constitui como ação que se alimenta 
no processo de construção de um 
fundamento teórico-metodológico 
de sustentação de projetos que 
promovam a participação ativa 
da sociedade e de ações capazes 
de produzir novos sentidos nas 
relações entre necessidades de saúde 
e organização do cuidado à saúde. 
Logo, busca a qualificação das ações 
e a humanização das relações no SUS, 
promovendo tensão permanente 
entre a expressão das necessidades de 
saúde da população e a organização 
da atenção a estas necessidades, o que 
significa a contínua construção da 
universalidade, da integralidade e da 
equidade do cuidado em saúde.
Outro aspecto importanteé a busca do 
acolhimento e o suporte às ações em defesa da 
vida que os movimentos sociais e populares 
realizam, reconhecendo a legitimidade destas 
ações, valorizando o conhecimento acumulado 
e construindo referências para produção e 
organização dos saberes e práticas de saúde.
O incentivo permanente à participação 
popular na formulação e gestão das políticas 
públicas de saúde, na perspectiva de que a ação 
social orientada pela satisfação das necessidades 
de saúde implica um caminho que se traduz 
concretamente nas formas de gestão participativa 
e na atuação do controle social.
Nesse contexto, a Política Nacional de 
Educação Popular em Saúde (Pneps-SUS) 
apresenta, como princípios, pressupostos teórico-
metodológicos construídos coletivamente no 
âmbito do Comitê Nacional de Educação Popular 
em Saúde, que dão sentido e coerência à práxis 
da educação popular em saúde e se ofertam como 
orientadores às práticas educativas construídas 
no campo da saúde1.
1 A Política Nacional de Educação Popular em Saúde foi instituída pela Portaria do Ministério da Saúde n° 2.761, de 19 
de novembro de 2013, disponível no endereço: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2761_19_11_2013.
html>.
21
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
São eles:
a) Diálogo: Expressa e intenciona colaboração, troca, interação e se faz em 
relação horizontal, com confiança de um no outro e respeito mútuo. Ele acontece 
quando cada um, de forma respeitosa, coloca o que sabe à disposição para ampliar 
o conhecimento crítico de ambos acerca da realidade, contribuindo com processos 
de transformação e de humanização. Por isso, implica escuta interessada, humildade 
para aprender, amorosidade para o encontro, esperança na mudança de si, do outro.
É preciso recuperar a educação e o cuidado em saúde como diálogo de e entre 
sujeitos, síntese do processo educativo e dimensão fundamental de reconhecimento 
destes, uma vez que todo ser humano é um sujeito em construção, ou seja, agente 
que tem sua história, trajetória, cultura e valores (ARROYO, 2001).
b) Amorosidade: Acolhê-la nas ações e nas 
práticas de saúde e educação significa ampliar 
o respeito à autonomia de pessoas e de grupos 
sociais, especialmente àqueles em situação 
de iniquidade, por criar laços de ternura, 
acolhimento e compromisso que antecedem as 
explicações e argumentações, fortalecendo o 
compromisso com a superação de situações de 
sofrimento e injustiça. Valorizar a amorosidade 
significa ampliar o diálogo nas relações de 
cuidado e na ação educativa pela incorporação 
do afeto e da sensibilidade, fortalecendo 
processos já em construção no SUS, como a 
humanização, o acolhimento, a participação 
social e o enfrentamento das iniquidades em 
saúde.
c) Problematização: A problematização 
implica a existência de relações dialógicas e 
propõe a construção de práticas em saúde 
alicerçadas na leitura e na análise crítica da 
realidade.
Problematizar significa reconhecer a 
experiência prévia dos sujeitos e usá-la para 
a identificação das situações limite (situações 
de opressão, negação de direitos) presentes no 
cotidiano e as potencialidades para transformá-
las por meio de ações para sua superação. 
Os problemas surgidos nas vivências são 
discutidos com todas as suas contradições. 
E os sujeitos, ao problematizarem, também 
transformam-se nesta ação e passam a detectar 
novos problemas na sua realidade e analisar as 
intervenções necessárias para sua superação. 
Assim, emerge como momento pedagógico, 
como práxis social, como manifestação de um 
mundo refletido com o conjunto dos atores, 
possibilitando a formulação de conhecimentos 
com base na vivência de experiências 
significativas, resgatando potencialidades e 
capacidades para intervir. 
22
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Essa forma nova de olhar 
a realidade, baseada na ação-
reflexão-ação e no desenvolvimento 
de uma consciência crítica que 
surge da problematização, permite 
que homens e mulheres percebam-
se sujeitos históricos; e as ações 
educativas orientadas por este 
princípio configuram-se processos 
humanizadores, conscientizadores, 
e de protagonismo na “busca do ser 
mais”.
d) Construção compartilhada 
do conhecimento: Pressupõe que 
o conhecimento só torna-se mais 
potente se construído a partir da 
ação coletiva de pessoas e grupos 
com saberes, culturas e inserções 
sociais diferentes, na perspectiva 
de compreender e transformar, de 
modo coletivo, as ações de saúde 
desde suas dimensões teóricas, 
políticas e práticas.
O compartilhamento de um 
grupo ou coletivo na produção de 
ideias, intenções, planos e projetos 
na esfera da teoria, da técnica ou da 
experiência prática tem como base 
a prática do diálogo que acontece 
no encontro com formas diferentes 
de compreender os diversos modos 
de andar a vida, nas rodas de 
conversa com os coletivos sociais, 
na complementaridade entre as 
tecnologias científicas e populares 
e nos amplos sentidos que a saúde 
apresenta.
e) Emancipação: É um processo coletivo e 
compartilhado de conquista das pessoas e dos 
grupos da superação e da libertação de todas as 
formas de opressão, exploração, discriminação 
e violência ainda vigentes na sociedade e que 
produzem a desumanização e a determinação 
social do adoecimento.
Fortalece o sentido da coletividade na 
perspectiva de uma sociedade justa e democrática, 
na qual as pessoas e os grupos sejam protagonistas 
por meio da reflexão, do diálogo, da expressão 
da amorosidade, da criatividade e da autonomia, 
afirmando que a libertação somente acontece na 
relação com outro.
Ter a emancipação como referencial no fazer 
cotidiano da saúde pressupõe a construção de 
processos de trabalho em que os diversos atores 
possam se constituir sujeitos do processo de saúde 
e doença, contrapondo-se às atitudes autoritárias 
e prescritivas e radicalizando o conceito da 
participação nos espaços de construção das 
políticas da saúde em busca do inédito viável.
f) Compromisso com a construção do 
Projeto Democrático e Popular: A construção 
de um projeto democrático e popular em saúde 
pressupõe a superação da distância entre o 
país que temos e o que queremos construir, 
superando as diversas formas de exploração, 
alienação, opressão, discriminação e violência, 
ainda presentes na sociedade, que desumanizam 
as relações, produzem adoecimento e injustiças, 
visando à transformação da realidade, com vistas 
à emancipação. No campo da saúde, este projeto 
já conta com uma conquista significativa, que é 
o próprio Sistema Único de Saúde, o qual, para 
tornar-se efetivo em sua integralidade, demanda 
um conjunto de iniciativas e transformações sociais 
que fortaleçam sua concepção contra-hegemônica, 
embasada nos princípios já referidos.
23
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Entende-se que um projeto 
democrático e popular, promotor 
de vida e saúde, caracteriza-se por 
princípios como a valorização do 
ser humano em sua integralidade, 
a soberania e a autodeterminação 
dos povos, o respeito à diversidade 
étnico-cultural, de gênero, sexual, 
religiosa e geracional; a preservação 
da biodiversidade no contexto do 
desenvolvimento sustentável; o 
protagonismo, a organização e o poder 
popular; a democracia participativa; 
organização solidária da economia e da 
sociedade; acesso e garantia universal 
aos direitos, reafirmando o SUS como 
parte constitutiva deste projeto.
24
2.2 As dimensões da 
educação popular 
em saúde
A educação popular difere 
do treinamento ou da simples 
transmissão de informações 
(PELOSO, 2005), pois estimula 
a criação de um senso crítico 
que provoque o entendimento, o 
comprometimento e a capacidade 
de reivindicar, de formular 
propostas e transformar,por meio 
de um processo, que a partir da 
ação gera-se reflexão e desta uma 
nova ação.
Não é um discurso acadêmico 
sobre um método, nem um produto 
acabado ou uma receita simples 
e mágica, tampouco confunde-
se com técnicas de grupo usadas 
como instrumento tático para atrair 
pessoas. As técnicas são recursos 
para estimular a participação e a 
cooperação, porém, não são os 
únicos determinantes para que 
se tenha um processo educativo 
democrático, um elemento 
fundamental de uma ação educativa 
permeada pela educação popular 
que independe das técnicas, é o 
compromisso ético-político com os 
educandos.
Sendo um processo coletivo 
de produção e socialização do 
conhecimento que incentiva 
educadores e educandos a ler 
criticamente a realidade sócio-
econômico-político-cultural com a finalidade de 
transformá-la, a educação popular intenciona um novo 
projeto de sociedade para o País.
O caminho político-pedagógico proposto pela 
educação popular requer o envolvimento corresponsável 
de todos participantes na construção, na apropriação e na 
multiplicação do conhecimento.
Para Freire, educar é tornar os sujeitos 
mais humanos, e humanizar seria situar os 
processos e as práticas educativas no âmago, 
nos anseios e nas lutas dos setores populares, 
incorporando os princípios da dignidade, da 
emancipação e da justiça (ARROYO, 2001).
Miguel Arroyo (2001) refere que a 
educação popular é a prática com base no 
diálogo, na convivência, na interação entre 
profissionais e população, por meio dos 
corpos, das falas, das culturas: matrizes 
fundamentais da nossa identidade.
26
Rosanne
Realce
A educação popular tem relação direta com a cultura e com a vinculação às fontes 
da vida e da morte das comunidades: criação de laços solidários e comprometidos 
com a libertação, elo que articula saberes diferenciados, sensibiliza os diferentes 
atores envolvidos e exprime as representações que o ser humano constrói a partir da 
sua leitura do mundo na perspectiva de conhecer e intervir sobre a realidade.
Segundo Vasconcelos (2001), a educação popular oferece um instrumental 
fundamental para o desenvolvimento de novas relações, “por meio da ênfase ao 
diálogo, a valorização do saber popular e a busca de inserção na dinâmica local”, 
tendo a identidade cultural como base do processo educativo e compreendendo que 
o respeito ao saber popular implica necessariamente o respeito ao contexto cultural. 
As experiências de educação popular desenvolvidas por meio da arte-cultura 
proporcionam uma maior aproximação à humanização e à integralidade.
Nesse sentido, as linguagens da 
arte nos permite tocar dimensões 
mais totalizadoras do sujeito que, em 
geral, são esquecidas no cotidiano 
da saúde, como as do corpo, da 
estética, da ética, da espiritualidade, 
da afetividade, vinculando desejo e 
cognição, intuição e sensibilidade. 
A arte dos possíveis sabores 
e cores da culinária popular, 
que possam favorecer o prazer 
de reconstruir novas formas de 
alimentar-se frente à descoberta 
de estar diabético ou hipertenso; 
a arte de reconstituir movimentos 
de superação dos limites físicos 
produzidos pela hanseníase ou pelo 
inevitável processo do envelhecer; 
de tornar mais belos e acolhedores 
os espaços das unidades de saúde, 
mesmo quando a infraestrutura é 
precária e os recursos didáticos e 
audiovisuais são poucos; da escuta 
sensível, do toque carinhoso, do 
olhar que acolhe, da palavra que 
apoia, mas que também explicita e 
aclara os conflitos, são exemplos de 
como a arte-cultura pode contribuir 
com o processo educativo.
Partindo da busca da memória 
das lutas populares, os percursos 
de experiências de educação 
popular em saúde têm apresentado 
a possibilidade de intervenção 
e produção da vida coletiva; de 
conexão entre cotidiano e história, 
vinculando a experiência local 
sentida no singular dos grupos 
com a inserção na história vivida 
no exercício sociopolítico em rede 
e articulações em nível nacional. 
Nesse contexto, a reflexão, a partilha 
e a leitura coletiva das possibilidades 
são feitas também mediante o 
exercício das linguagens como as 
dos mestres da arte popular, da 
viola e do repente, dos grupos de 
maneiro-pau, de coco, teatro de rua, 
dos cordelistas, radialistas, palhaços, 
pajés e xamãs.
27
O processo educativo tem de ser sensível às linguagens que emergem na simplicidade 
das experiências locais que, em uma vivência de protagonismo ousada, tomaram a 
frente no processo de articulação e imprimiram sua feição particular. Experiências 
estas que buscam, aos poucos, incluir-se nos espaços dos serviços de saúde e das 
instituições formadoras, e ensaiar uma ação que interfira nas políticas públicas, mas 
que, ao mesmo tempo, possa alimentar-se continuamente de suas práticas concretas.
Entretanto, Paulo Freire (1995) alerta que, enquanto as pessoas não se dão conta de 
que estão coletivamente produzindo temas geradores, que envolvem situações-limite, 
os atos não podem acontecer de modo crítico e com intencionalidade social e política 
efetiva. 
No caso da saúde, 
os temas geradores são 
entendidos como o universo 
temático explicativo e 
de enfrentamento das 
questões relacionadas ao 
processo saúde-doença-
cuidado, aos determinantes 
sociais da saúde presentes 
nas comunidades. Esses 
temas geradores remetem 
às situações concretas 
vividas e permeadas pela 
contradição entre reprodução 
e transformação (situações-
limites), em relação às quais 
se buscam alternativas 
concretas (atos-limites) – e 
isto ocorre o tempo todo 
no cotidiano da atividade 
humana.
A educação popular tem 
o compromisso com aqueles 
em situação de opressão, “os 
oprimidos”, e seu ponto de 
partida é a convicção de que o povo já tem um saber, parcial 
e fragmentado, mas que carrega em si o dom de ser capaz; 
entretanto, precisa refletir sobre o que sabe (e não sabe que 
sabe) e incorporar o acúmulo teórico da prática social. Nesse 
sentido, torna-se um instrumento que desperta, qualifica e 
reforça o potencial popular em sua luta para romper a lógica do 
capital e construir uma alternativa solidária, um compromisso 
de amorosidade com o ser humano.
Uma das especificidades da educação popular é a de 
relacionar o fazer (saber empírico ou saber de experiência 
feito) das pessoas com uma reflexão teórica (saber científico) 
e integrar a dimensão imediata (micro) com a dimensão 
estratégica (macro).
Eu preferia dizer que não tenho método. O que 
eu tinha, quando muito jovem, há 30 anos ou 40 
anos, não importa o tempo, era a curiosidade 
de um lado e o compromisso político do outro, 
em face dos renegados, dos negados, dos 
proibidos de ler a palavra, relendo o mundo. O 
que eu tentei fazer e continuo hoje, foi ter uma 
compreensão que eu chamaria de crítica ou de 
dialética da prática educativa, dentro da qual, 
necessariamente, há uma certa metodologia, 
um certo método, que eu prefiro dizer que 
é método de conhecer e não um método de 
ensinar (PELANDRÉ, 1998, p. 298).
28
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
3
A ARTE E A CULTURA 
POPULARES NA 
PROMOÇÃO DA VIDA 
E DA SAÚDE
33
A Educação Popular em 
Saúde referencia a arte e a 
cultura como processo no 
qual as pessoas, os grupos e as 
classes populares expressam e 
simbolizam sua representação, 
recriação e reelaboração da 
realidade, inserindo-as em uma 
prática social libertadora, cujas 
expressões não se separam da vida 
cotidiana. Portanto, considera-
se que trabalhar com a arte é a 
possibilidade de se vivenciar o 
fazer, em que o processo criativo 
que se instaura agrega outras 
dimensões que não só a racional, 
reconhecendo a estética popular 
capaz de produzir sentidos e 
sentimentos (BRASIL, 2013).
Nessa perspectiva, a Política 
Nacional de Educação Popular em 
Saúde(Pneps-SUS) nos provoca 
a identificar os serviços de saúde 
e espaços, os territórios onde se 
inscrevem, assim como os espaços 
de organização social, movimentos 
sociais, entre outros, como potenciais 
para a promoção da saúde, nos 
quais a arte, a cultura, em especial, 
o diálogo multicultural podem ser 
facilitadores dos processos educativos, 
mobilizatórios e participativos, 
contagiando os territórios com 
leveza e alegria, sem perder de vista a 
politicidade e a problematização. 
A arte e a cultura são muito potentes para despertar o 
que Toro (2001) evidencia como imaginário convocante, 
pois mobiliza sensações e sentidos que atravessam o mundo 
simbólico das pessoas, despertam emoções que geralmente 
não são consideradas nos espaços oficiais do fazer saúde. 
Desta forma, adotar essa perspectiva nas ações de saúde 
reveste-se de desafio; por isso, os princípios políticos 
metodológicos precisam estar bastante evidentes para o 
educador, a fim de não perder de vista o compromisso 
com a democratização, com a emancipação, respeitando 
tempos, habilidades e protagonismo individual e coletivo 
nas atividades e espaços. 
34
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Nota
Se bem construídas, as relações desenvolvidas 
no processo educativo permeado pela arte e a 
cultura popular demonstram-se efetivas no sentido 
de construir uma nova cultura da participação, 
cultura mais respeitosa e comprometida com 
o jeito de andar a vida das pessoas, promotora 
de relações mais horizontais entre profissionais 
e usuários, entre as pessoas de modo geral. 
Evidentemente, cada contexto e cada território 
têm próprias e diferentes culturas, abriga uma 
diversidade de saberes e expressões que, muitas 
vezes, não estão evidenciadas, sendo que muitas 
culturas são sonegadas ou invisibilizadas pela 
cultura hegemônica, ditadora de comportamentos 
da moda, bastante difundida pelos instrumentos 
da grande mídia. Quando buscamos identificar 
essa diversidade, percebemos múltiplos jeitos 
que se evidenciam em modos diferentes de se 
organizar, de participar e de cuidar-se, os quais 
influenciam e são influenciados pela concepção 
de mundo e referência de cuidado dos serviços de 
saúde, da política de saúde local, dos trabalhadores 
facilitadores das atividades, como da própria 
população que constitui os territórios. 
O desejo e a necessidade de intervir em um 
território envolvem um arte-educador ou um 
grupo, e quem mais esteja ao redor e queira se 
envolver e participar. É impossível sentir-se do 
mesmo jeito após uma intervenção artística, seja 
plástica, poética, musical ou cênica. Mesmo que a 
vivência cause repulsa aos sujeitos participantes, 
provoca reflexões e até transformações, ou seja, 
agradável ou não, as pessoas não são as mesmas. 
Nas experiências de Educação Popular em Saúde, 
País a fora, esse tipo de ação já faz parte da 
maioria dos encontros, dos espaços de formação e 
mobilização, inclusive constituindo-se como eixo 
estratégico do Plano Operativo da Pneps-SUS.
Assim, muitos são os exemplos 
que podemos encontrar na atualidade 
de práticas inovadoras fomentados 
pelas redes, pelos movimentos, pelas 
articulações de educação popular. Entre 
estes, destaca-se a Articulação Nacional 
de Movimentos e Práticas de Educação 
Popular em Saúde (Aneps), que tem 
construído novos jeitos de fazer os 
processos formativos e mobilizatórios, 
a exemplo das Tendas Paulo Freire, suas 
rodas de conversa e círculos de cultura. 
No contexto da Aneps, destaca-se o grupo 
cearense Cirandas da Vida, que realizou, 
35
nos dois últimos anos, caravanas populares em 19 municípios 
no estado, além da experiência no Município de Fortaleza, 
intervindo e trazendo trabalhadores, gestores e a comunidade 
para a rua. Nessas ações, foi provocado o debate e a vivência 
na saúde, destacando o saber popular, por meio da cenopoesia, 
problematizando a participação na gestão do SUS. Como explicita 
Vera Dantas referindo-se à experiência cearense:
Busca capturar como as comunidades 
exprimem sua história de luta, mediante as 
linguagens da arte como fertilizadora do 
princípio de comunidade; analisar como os 
atores populares se inserem na formulação 
e implementação dessas políticas; 
compreender como os diferentes grupos 
geracionais expressam suas leituras da 
realidade, no dialogismo vivido na gestão 
em saúde e analisar como as linguagens da 
arte contribuem para a construção de atos 
limite como estratégias de superação das 
situações-limite (DANTAS, 2012, p. 46).
A arte e a cultura têm sido fertilizantes naturais do processo 
de mobilização e luta política pelos direitos de cidadania 
protagonizados pelos movimentos e segmentos populares que 
devem ser considerados no fazer saúde. A arte transborda a 
rua, flui integrando a comunidade, com expressão corporal e o 
exercício cênico transformando vidas, construindo engajamentos 
em novas ações artísticas, políticas e sociais.
Historicamente, os coletivos e movimentos de Educação 
Popular em Saúde construíram espaços potencializadores da 
luta pelo direito à saúde, que, fortalecidos pelos grupos de arte 
e cultura, acrescentam novas ferramentas na construção de 
políticas públicas em saúde. As propostas freirianas, como as 
rodas de conversa e os círculos de cultura, facilitam o acolhimento 
aos fazeres e aos saberes populares, que dão uma nova dinâmica 
na mobilização dos trabalhadores, dos gestores e dos usuários na 
defesa do SUS.
36
3.1 Os Círculos de Cultura na 
promoção da cidadania e saúde
Os debates têm início na primeira hora que o homem 
participa do círculo de cultura. Em vinte minutos, 
uma turma de analfabetos é capaz de fazer a distinção 
fundamental para o método: natureza diferente de cultura. 
Para chegar a esse resultado, se utiliza através de slides ou 
quadros, uma cena cotidiana do meio onde vive o grupo. 
Como exemplo, citaremos uma cena do campo: um 
homem, sua palhoça, uma cacimba, um pássaro voando e 
uma árvore. O mestre exige de todos a descrição daquela 
cena, e em seguida, indaga o que o homem fez e o que ele 
não fez naquele quadro. Ao obter as respostas deixa logo 
indicada a diferença: o que o homem faz é Cultura e o que 
ele não faz é Natureza (FEITOSA, 1999, p. 4).
Sistematizados por Paulo Freire (1992), os Círculos de Cultura estão 
fundamentados em uma proposta pedagógica, cujo caráter radicalmente 
democrático e libertador propõe uma aprendizagem integral, que 
rompe com a fragmentação e requer uma tomada de posição perante os 
problemas vivenciados em determinado contexto.
Para Freire, essa concepção promove a horizontalidade na relação 
educador-educando e a valorização das culturas locais, da oralidade, 
contrapondo-se, em seu caráter humanístico, à visão elitista de educação.
Foram concebidos na década de 1960 como grupos compostos 
por trabalhadores populares que se reuniam sob a coordenação de um 
educador, com o objetivo de debater assuntos temáticos, do interesse 
dos próprios trabalhadores, cabendo ao educador-coordenador tratar 
a temática trazida pelo grupo. Surgem no âmbito das experiências de 
alfabetização de adultos no Rio Grande do Norte e em Pernambuco e 
do movimento de Cultura Popular. Não tinham a alfabetização como 
objetivo central, mas sim a perspectiva de contribuir para que as pessoas 
assumissem sua dignidade como seres humanos e se percebessem 
detentores de sua história e de sua cultura, promovendo a ampliação do 
olhar sobre a realidade. Nesse contexto, propõem uma práxis pedagógica 
que se compromete com a emancipação de homens e mulheres 
ressaltando a importância do aspecto metodológico no fazer pedagógico, 
38
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Nota
sem desvalorizar, no entanto, o conteúdo 
específico que mediatiza esta ação, possibilitando 
a tomada de consciência do educando, medianteo diálogo e o desvelamento da realidade com 
suas interligações culturais, sociais e político-
econômicas.
Caracterizam-se como lócus privilegiado de 
comunicação-discussão embasada no diálogo, 
nas experiências dos atores-sujeito, na produção 
teórica da educação e na escuta, a qual se orienta 
pelo desejo de cada um e cada uma de aprenderem 
as falas do outro e da outra, problematizando-a e 
problematizando-se.
Caminho metodológico:
Tendo como princípios metodológicos o 
respeito pelo educando, a conquista da autonomia 
e a dialogicidade, os círculos de cultura, tais como 
foram sistematizados por Freire, podem ser 
didaticamente estruturados em movimentos.
No momento inicial, trabalha-se a 
investigação do universo vocabular, do qual 
são extraídas palavras geradoras. Nada mais é 
que a identificação das palavras de uso corrente, 
entendidas como representativas dos modos 
de vida dos grupos ou do território onde se 
trabalhará (estudo da realidade). Esse mergulho 
permite ao educador interagir no processo, 
ajudando-o a definir seu ponto de partida que 
se traduzirá no tema gerador geral, vinculado 
a ideia de interdisciplinaridade e subjacente à 
noção holística de promover a integração do 
conhecimento e a transformação social, os quais 
se colocam como a unidade básica de orientação 
dos debates.
No segundo momento, dá-se a 
tematização, ou seja, processo no 
qual os temas e palavras geradoras 
são selecionadas e decodificadas 
buscando a consciência do vivido, o 
seu significado social, possibilitando 
a ampliação do conhecimento e a 
compreensão dos educandos sobre 
a própria realidade, na perspectiva 
de intervir criticamente sobre ela. 
O importante não é transmitir 
conteúdos específicos, mas despertar 
uma nova forma de relação com a 
experiência vivida.
Do tema gerador geral surgem 
as palavras geradoras. Cada palavra 
geradora poderá ter uma imagem 
expressa de várias formas: desenho, 
fotografia, imagem viva, que, por sua 
vez, deverá suscitar novos debates. 
39
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
No terceiro momento, acontece a 
problematização que representa um momento 
decisivo da proposta que é buscar superar a 
visão ingênua por uma perspectiva crítica, 
capaz de transformar o contexto vivido. A ação 
de problematizar em Paulo Freire impõe ênfase 
no sujeito práxico, que discute os problemas 
surgidos da observação da realidade com todas 
as suas contradições, buscando explicações que 
o ajudem a transformá-la. O sujeito, por sua vez, 
também se transforma na ação de problematizar 
e passa a detectar novos problemas na sua 
realidade e, assim, sucessivamente. Nesse 
sentido, a problematização emerge como 
momento pedagógico, como práxis social, como 
manifestação de um mundo refletido com o 
conjunto dos atores, possibilitando a formulação 
de conhecimentos com base na vivência de 
experiências significativas. Assim, o diálogo 
constitui-se como elemento-chave, no qual 
educadores e educandos sejam sujeitos atuantes.
Diálogo, nessa perspectiva, tem a 
amorosidade como dimensão fundante, 
contrapondo-se à ideia de opressão e 
dominação. Situa a humildade como 
princípio no qual o educador e o educando 
percebem-se sujeitos “aprendentes”, 
inacabados; porém, jamais ignorantes.
A ampliação do olhar sobre a realidade, 
com amparo na ação-reflexão-ação, e o 
desenvolvimento de uma consciência 
crítica que surge da problematização 
permitem que homens e mulheres 
percebam-se sujeitos históricos, o que 
implica a esperança de que, nesse encontro 
pedagógico, sejam vislumbradas formas de 
pensar um mundo melhor para todos. Esse 
processo supõe a paciência histórica de 
amadurecer com o grupo, de modo que a 
reflexão e a ação sejam realmente sínteses 
elaboradas com ele.
Dessa forma, Paulo Freire fala 
de educação como conscientização, 
reflexão rigorosa sobre a realidade em 
que se vive, com o entrelaçamento das 
linguagens e suas respectivas lógicas 
epistêmicas, evidenciando os focos a serem 
problematizados pelo grupo, instigando 
o debate e constituindo uma rede de 
significados (DANTAS, 2012).
40
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
O educador, contrariando a visão tradicionalista que atribui a ele o papel 
privilegiado de detentor do saber, é denominado animador de debates e tem o 
papel de coordenar o debate, problematizar as discussões para que opiniões e 
relatos surjam. Cabe também ao educador conhecer o universo vocabular dos 
educandos, o seu saber traduzido por meio de sua oralidade, partindo de sua 
bagagem cultural repleta de conhecimentos vividos que se manifestam por meio 
de suas histórias, de seus “causos”, no diálogo constante, e em parceria com o 
educando, reinterpretá-los, recriá-los.
42
3.2 As Rodas de Conversa na 
democratização dos saberes
O espaço do educador democrático, 
que aprende a falar escutando, é 
cortado pelo silêncio intermitente de 
quem falando, cala para escutar o outro 
a quem, silencioso, e não silenciado, 
fala (FREIRE, 2010, p. 44).
A Roda de Conversa é um método de discussão 
que possibilita aprofundar o diálogo por meio da 
participação democrática, a partir da riqueza que cada 
um dos sujeitos participantes traz sobre determinado 
assunto, sempre ancorando as reflexões no “saber de 
experiência feito”, nas vivências dos que dela participam, 
no aprendizado no mundo da vida. Mais do que espaço 
de fala, configuram-se, sobretudo, em espaços de escutar 
os outros e a si mesmos.
Proporcionam a vivência de conflitos de ideais, 
interesses e visões de mundo, pois, se bem estruturadas, 
possibilitam a troca de impressões e opiniões, assim 
como a contraposição de falas e compreensões. 
Tendo como princípios básicos o diálogo, a troca 
de saberes e a construção compartilhada, a Roda 
deve permitir a expressão de todos participantes, 
cada integrante deve ter oportunidade de falar ou 
expressar o que pensa ou sabe. Podendo contar com um 
facilitador ou animador, traz o diferencial simbólico da 
disposição horizontal entre seus atores participantes, 
proporcionando a quebra da relação hierárquica entre 
quem fala e quem escuta, colocando as pessoas em 
contato direto umas com as outras, sendo que cada 
integrante tem acesso ao olhar e à escuta de todos os 
outros, pois estão dispostos em círculo e partem de um 
tema gerador comum ou de uma situação vivenciada.
44
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Um espaço de partilha e 
confronto de ideias, onde a 
liberdade da fala e da expressão 
proporcionam ao grupo como 
um todo, e a cada indivíduo em 
particular, o “crescimento na 
compreensão dos seus próprios 
conflitos” (FREIRE, 2000, p. 21).
Estar em roda pode proporcionar um 
crescimento individual ou coletivo, pois é 
um exercício significativo de construção 
democrática do saber. As rodas podem 
contribuir com o planejamento de grupos e 
o fortalecimento do protagonismo popular 
na intervenção da realidade, caso a forma de 
condução propicie a reflexão, a sistematização 
de ações e estratégias de superação das 
situações limites apontadas ou vivenciadas por 
seus participantes.
As estratégias nela delineadas 
apresentam-se potentes por partirem da 
leitura da realidade concreta, assim como 
por trazerem dimensões que nem sempre são 
consideradas nas construções pragmáticas 
ou tecnificadas, pois consideram o mundo 
das representações sociais apresentas pelos 
participantes, envolvendo a amorosidade, o 
afeto, o respeito ao outro que está cara a cara, 
como também a disputa entre as visões de 
mundo que circulam na sua composição.
45
Rosanne
Realce
3.3 As Cirandas como espaços 
de promoção da saúde
As Cirandas são uma das expressões da cultura popular 
existentes nas mais diversas regiões do País. Denotam 
elementos da identidade, de expressãosimbólica, cultural 
e religiosa das diversas etnias e culturas; da forma lúdica e 
do jeito brincante de cada ser. As experiências de educação 
popular em saúde vêm trazendo as Cirandas como expressão 
de várias dimensões do processo educativo e participativo 
em saúde, como: 
a) Cirandas como Espaço Popular: caracterizam-
se em espaços de articulação e participação de 
diversos atores (movimentos sociais, técnicos, 
gestores, conselhos, estudantes, educadores, grupos 
emergentes, comunidade) para definição de situações-
limite e constituição de propostas de ação coletiva, 
possibilitando o compartilhamento de saberes e 
incorporando a visão da integralidade. 
b) Cirandas como Promoção à Vida: podem 
contribuir para que o saber gestado em seus espaços 
possam alimentar as práticas em saúde locais, de 
modo a incorporar abordagens populares, como 
farmácias vivas, massoterapia, terapia comunitária, 
espaços de brincar, círculos de cultura, grupos de 
autoconhecimento, entre outros, no contexto dos 
serviços públicos de saúde.
47
Rosanne
Realce
c) Cirandas na Educação Permanente: 
contribuindo para potencializar as práticas 
culturais da comunidade como estratégia de 
promoção e cuidado à saúde; viabilizar um 
processo formador que possa partir da leitura 
coletiva de situações-limite, vistas como situações 
que exigem transformação, nas práticas de saúde 
locais, formação capaz de articular e incluir os 
grupos emergentes nos processos formativos; 
alargar a visão de formação que considere o saber 
de experiência feito, construído nos movimentos 
populares, como elemento fundamental na 
produção e socialização dos saberes em saúde; 
considerar, nas ações a serem implantadas, a 
história dos saberes acumulados no lugar, como 
base para a potencialização dos projetos de 
futuro coletivos a serem construídos nesse espaço 
dialógico.
d) Cirandas no Campo da Participação 
Popular: trazem um caráter potencializador do 
poder de intervenção dos movimentos populares 
e o desvelamento da lógica do saber popular na 
exequibilidade do direito à saúde, bem como para 
promover um processo permanente de interação 
entre os diversos setores no campo da saúde e 
de todas as políticas sociais em cada loco-região, 
para a construção de processos integrados e 
interdisciplinares de trabalho. Podem contribuir 
para o fortalecimento do controle social, por 
meio de um processo permanente de diálogo 
com movimentos, conselhos populares, conselhos 
locais, regionais e municipais de saúde e o com 
as experiências de Orçamento Participativo. 
Possibilitam a organização de processos 
interdisciplinares de trabalho que apontam para 
o protagonismo popular, potencializando o poder 
de intervenção dos movimentos e o desvelamento 
da ótica do saber popular na conquista da saúde 
como direito.
48
3.4 As Oficinas como 
método participativo
Oficina é um lugar de 
consertos, reparos, criatividade, 
descobertas, lugar de vida, 
trabalho, transformação, processo 
de montagem e de construção. A 
Oficina constitui-se num espaço 
privilegiado de criação e de 
descobertas.
Em uma oficina, processo 
e produto integram-se em um 
processo reflexivo. A oficina não 
pretende alcançar um objetivo 
“a qualquer custo”; preocupa-se, 
pelo contrário, com a adequação 
e a sequência dos passos a serem 
dados para que se chegue àquele 
mesmo objetivo.
O processo de construção que 
se realiza por meio de oficinas 
tem várias características: é 
pluridimensional, criativo, 
coletivo, planejado e coordenado 
coletivamente. Prioriza o 
aprendizado usando o corpo todo 
e não só a razão. É por isso que, 
nesse processo, são trabalhadas 
as distintas dimensões do ser 
humano: o sentir, o pensar, o 
agir, a intuição e a razão, o gesto 
e a palavra intervêm e encontram 
uma nova síntese. 
A criatividade é uma 
característica constitutiva da oficina. 
Ela implica a capacidade de inventar 
o novo, tanto no que diz respeito ao 
modo de trabalhar, como ao produto 
construído. É imprescindível o 
uso das mais variadas formas de 
linguagem, que possam corresponder 
às diversas e inseparáveis dimensões 
da pessoa. Por isso é comum, numa 
oficina, a introdução da dança, da 
poesia, da pintura, da modelagem, 
de brincadeiras e das dinâmicas de 
grupo.
50
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Uma oficina, além de ser um processo 
pluridimensional e criativo, é algo coletivo, 
que passa pela construção de várias pessoas. 
Por isso, o compromisso e a responsabilidade 
dos participantes do grupo são essenciais: 
cada um assume uma tarefa na montagem ou 
na produção do que se quer obter. O desafio 
é a criação coletiva a partir dos recursos do 
próprio grupo, a partir da prática de cada um 
em seu cotidiano. A organização do trabalho 
coletivo busca valorizar e potencializar a 
adversidade e a potencialidade da cada um.
A oficina é um processo coordenado 
que precisa ser planejado previamente, de 
modo a favorecer uma construção coletiva 
de conhecimentos, que cheguem a se 
expressar num produto concreto. Para isso, 
será necessário buscar fontes (bibliografia, 
assessoria, entre outros) que contribuam para 
uma apropriação do saber historicamente 
acumulado e um aprofundamento 
teórico acerca da temática em questão; 
consequentemente, não se descarta que 
métodos expositivos ou intervenções de 
especialistas possam ser necessários em 
algum momento da oficina.
É necessário cuidado para não fazer 
passar ao grupo a ilusão de estar construindo 
algo pretensamente novo, fortalecendo a 
consciência histórica e o reconhecimento dos 
limites do saber construído no aqui e agora. 
O(a) educador(a) que facilita ou coordena a 
oficina, além de planejar e buscar as fontes 
anteriormente, durante a oficina, assume 
a postura de coparticipante, que acredita 
na originalidade da contribuição de cada 
participante e que, por isso mesmo, não pode 
prever qual será o resultado final do processo 
que é chamado a conduzir.
51
2 Entre os textos que propõem uma sistematização de caráter popular, ressaltamos:
FALKEMBACH, E. M. F. Sistematização. Ijuí, RS: Livraria Unijuí Editora, 1991. (Série Educação Popular, 1). HOLLIDAY, 
O. J. Para sistematizar experiências. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1996. p. 213. Disponível em: <http://www.
mma.gov.br/estruturas/168/_publicacao/168_publicacao30012009115508.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2015.
CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES (Brasil). O que é sistematização? Uma pergunta: diversas respostas. São 
Paulo: CUT; FAT; Ministério do Trabalho e Emprego, 2000. Disponível em: <http://cirandas.net/articles/0008/6059/
sistematizacao_cut1.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2015.
Caso sejam várias pessoas a coordenar ou 
assessorar a oficina, será necessário que haja a 
maior sintonia possível entre elas. Como cada 
experiência tem sua particularidade, requer 
ingredientes adequados e combinados, de forma 
a corresponder a cada especificidade local e 
conjuntural, a cada público e objetivo. O prazer 
de fazer oficina fundamenta-se exatamente 
na consciência de estar experimentando algo 
singular e de estar aprendendo a experimentar.
O produto que nasce das oficinas terá uma 
marca criativa e pluridimensional. Será sempre 
algo palpável e/ou visível: um desenho, uma 
expressão musical ou plástica, uma colagem, 
uma expressão corporal, um cartaz, um texto. 
Para isso, será necessário um trabalho contínuo 
de sistematização que, no campo popular, pode 
ser apoiada com as leituras de Oscar Jara e das 
diferentes experiências de sistematização dos 
movimentos sociais populares2.
52
3.5 O Corredor do Cuidado 
como prática de cuidado
O Corredor do Cuidado é uma vivência desenvolvida pelos grupos de educação 
popular em saúde e movimentos populares no contexto da problematização do 
cuidadoem saúde. Embora ainda haja uma carência de sistematização e teorização 
sobre esta experiência, alguns princípios e “jeitos de fazê-lo” podem ser elencados.
Conforme relato de Melo e Dantas (2012), no Ceará, inicialmente ele foi trabalhado 
nas formações em massoterapia que ocorriam no contexto dos movimentos populares. 
Sem maiores preocupações em definir suas referências conceituais, os atores e as atrizes 
que protagonizavam esses processos partiam da possibilidade de que esses cuidadores 
pudessem perceber que, além de realizar uma técnica de massagem, era possível, em 
grupo, acolher e cuidar das pessoas do modo como desejariam ser cuidadas. A fim 
de desenvolver uma experiência identificada com aqueles que a vivenciavam, partiam 
de uma prática cultural da comunidade – o túnel da quadrilha junina – para que, 
ao entrar naquele corredor humano, cada pessoa pudesse perceber a importância do 
carinho, da amorosidade e do respeito com o outro e com a outra, no sentido de 
compreender os limites de cada um na aceitação desse cuidado.
Desde então, o Corredor do Cuidado 
vem se popularizando por meio das 
Tendas de Educação Popular em Saúde, 
costumeiramente chamadas de Tendas 
Paulo Freire, realizadas em eventos 
nacionais e locais da área da Saúde, 
assim como tem sido intensificado em 
processos formativos protagonizados pelos 
movimentos populares. 
O jeito como acontece é simples: os 
cuidadores fazem uma pequena explanação 
sobre os sentidos do corredor e o papel 
de cada pessoa nele. Geralmente, dois ou 
mais facilitadores promovem o convite aos 
participantes, como, também, ofertam ao 
grupo elementos que comporão o cuidado a 
ser realizado, como músicas instrumentais 
ou cantigas identificadas com a temática, 
promovendo o acolhimento, o relaxamento 
e a concentração durante a vivencia. 
54
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Nota
A participação é livre e todos(as) que dele participam são 
convidados(as) a se permitirem cuidar e serem cuidados(as), 
fortalecendo a percepção sobre a necessária horizontalidade nas 
relações de cuidado;
A confiança, a entrega, o sentido de pertencimento são 
exercitados o tempo todo, ao fechar os olhos e se permitir ser 
cuidado ou cuidada por um coletivo de pessoas, companheiros e 
companheiras de luta e de comunidade.
Forma-se um corredor humano e alguns cuidadores 
ficam fora dele para fazer um cuidado individual 
em cada pessoa. Após esse cuidado individual, a 
pessoa adentra no corredor enquanto o cuidador 
diz ao seu ouvido, palavras de força, valorização, 
estímulo e confiança. A pessoa, de olhos fechados, 
segue vagarosamente pelo corredor permitindo-se 
ser cuidada por todos e todas. Ao final é acolhida 
com um abraço pela pessoa que está no final e logo a 
seguir esta assume o seu lugar para acolher o próximo 
participante3 (DANTAS; FLORÊNCIO, 2015).
Hoje, as vivências do corredor têm agregado, além dos toques 
de massagem, cuidados com tambor, maracás, ervas medicinais 
aromáticas, reiki, pedras, músicas, poesias que se incorporam de 
acordo com o contexto no qual ele ocorre.
A prática do corredor tem anunciado que o cuidar nem 
sempre necessita de técnicas apuradas, resgatando a naturalidade 
e a humanidade do ato de cuidar e fomentando novas relações no 
âmbito da saúde, referenciadas no respeito, no compromisso e na 
solidariedade mútuos.
3 O texto “Cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do mundo – O Corredor do cuidado” foi publicado no 
site da Rede HumanizaSUS. Disponível em: <http://www.redehumanizasus.net/92756-cuidar-do-outro-e-cuidar-de-mim-
cuidar-de-mim-e-cuidar-do-mundo-o-corredor-do-cuidado>. Acesso em: 17 nov. 2015.
55
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
METODOLOGIAS 
PARTICIPATIVAS PARA O 
TRABALHO EM SAÚDE: 
SINGULARIDADES E 
DIFERENÇAS
4
61
Desde os primeiros passos deste 
material, tentamos expressar que a educação 
popular em saúde é muito mais que uma 
metodologia, sendo que o próprio Paulo 
Freire referia sua sistematização muito mais 
como uma Teoria do Conhecimento do que 
uma metodologia de ensino, muito mais 
um método de aprender que um método de 
ensinar; assim como temos de reconhecer 
a existência de várias metodologias que se 
dizem participativas. Contudo, a critério de 
exposição, podemos comparar alguns tipos, 
entre as várias correntes da educação que 
fundamentam determinadas metodologias, 
a fim de mostrarmos os diferenciais básicos 
da educação popular. Sendo assim, ao se 
examinar os tipos de metodologias utilizadas 
em processos educativos, são encontradas 
algumas classificações importantes de serem 
analisadas:
Concepção Tradicional de Educação: 
“Metodologia autoritária ou elitista” – A 
metodologia autoritária e dominadora visa 
à domesticação das pessoas para que elas se 
prestem a obedecer e a reproduzir um padrão 
de comportamento que serve a uma ordem 
e aos interesses de uma classe dominante. 
Embasada em uma concepção tradicional 
de educação, em síntese, consiste em um 
conjunto padronizado de procedimentos 
destinados a transmissão de conhecimento.
Um artifício que permite ensinar tudo 
a todos, de forma lógica. Lógica esta que 
seria própria das inteligências adultas, 
plenamente amadurecidas e desenvolvidas, 
e que possuem certa posição de classe 
(cientistas, filósofos, pesquisadores, entre 
outros).
62
Concepção Freiriana de Educação: 
“Metodologia Dialógica ou Libertadora” 
– Reconhece que o próprio conceito de 
metodologia e/ou didática é histórico-
social; portanto, está relacionado com o 
momento e o contexto histórico dos quais 
é produto, bem como dos projetos, das 
concepções e das ideologias que lhe deram 
origem. Logo, nega a neutralidade do ato 
educativo, sustentando como princípio 
deste a politicidade.
Afirma a concepção de educação e 
metodologia, além de trazer implícita uma 
concepção epistemológica e uma visão de 
mundo, pois são aspectos de uma totalidade 
maior: a prática social (práxis social).
Partindo desse pressuposto, a proposta 
de Freire parte do Estudo da Realidade. 
Nesse processo, surgem os Temas Geradores, 
extraídos da problematização da prática de 
vida dos educandos. Logo, os conteúdos de 
ensino são resultados de uma metodologia 
dialógica. Cada pessoa, cada grupo 
envolvido na ação pedagógica, dispõe em si 
próprio, ainda que de forma rudimentar, dos 
conteúdos necessários dos quais se parte.
O importante não é transmitir conteúdos 
específicos, mas despertar uma nova 
forma de relação com a experiência vivida, 
instigando no educando sua capacidade 
de transformar esta realidade apresentada. 
A transmissão de conteúdos estruturados 
fora do contexto social do educando é 
considerada “invasão cultural” ou “depósito 
de informações”, porque não emerge do 
saber popular. Portanto, antes de qualquer 
coisa, é preciso conhecer o aluno. Conhecê-
lo como indivíduo inserido num contexto 
social do qual deverá sair o “conteúdo” a ser 
trabalhado.
63
Rosanne
Realce
Assim, é uma 
metodologia participativa 
(nem para, nem sobre, mas 
com as diferentes partes 
envolvidas) e afirma que o 
modo de fazer já é, de certa 
forma, o que se quer fazer e o 
para que se faz. Visa despertar 
o senso crítico, a leitura 
da realidade e promover o 
diálogo entre as partes a fim 
de juntá-las num processo de 
construção coletiva.
Para Freire, uma 
metodologia que promova 
o debate entre o homem, a 
natureza e a cultura, entre 
o homem e o trabalho, 
enfim, entre o homem e o 
mundo em que vive, é uma 
metodologia dialógica e, 
como tal, prepara o homem 
para viver o seu tempo, com 
as contradições e os conflitos 
existentes, e conscientiza-o 
da necessidade de intervir 
nesse tempo presente para 
a construção e a efetivaçãode um futuro melhor. “A 
atitude dialógica é, antes de 
tudo, uma atitude de amor, 
humildade e fé nos homens, 
no seu poder de fazer e de 
refazer, de criar e de recriar” 
(FREIRE, 1986).
Partindo da convicção 
de que quem faz é quem 
sabe, mas quem pensa sobre 
o que faz faz melhor, e quem 
faz faz também o sentido 
do que faz, a metodologia 
dialógica significa, ao mesmo 
tempo, um caminho em 
que educadores assumem 
uma postura respeitosa 
e constroem com os 
educandos, promove 
formas de participação e 
de colaboração, cujo ponto 
de partida é a convicção 
de que todos são capazes 
e desenvolvem diferentes 
habilidades.
Além disso, tem 
como ponto de chegada 
o autoconhecimento, o 
protagonismo, a necessidade 
de unir esforços, de 
organizar-se para a conquista 
de direitos e para assumir-se 
como sujeito do seu destino e 
o do coletivo.
64
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
A educação popular concretiza-se no trabalho que se faz a 
partir das necessidades sentidas e num processo de contínuo 
comprometimento das pessoas envolvidas. Porém, acreditar 
que as respostas espontâneas do povo já sejam alternativas 
transformadoras pode apenas significar uma posição tão 
autoritária quanto a própria imposição. Com o reconhecimento 
e o respeito às iniciativas populares, será necessário potencializar 
essas ações a partir da reflexão crítica, potencializando o diálogo 
entre as questões locais e as globais.
Assim, alguns sinais indicam a metodologia 
da educação popular, aplicada a um processo 
político-pedagógico, quando:
• Mobiliza porque rompe com a situação 
de dormência e a sensação de impotência, 
geradas pela dominação e expressas no 
individualismo, no consumismo e no 
fatalismo.
• Qualifica, política e tecnicamente, os 
sujeitos por meio da experimentação e da 
apropriação do conteúdo e do método, 
contribuindo com a conscientização.
• Incentiva a construção de espaços de 
participação popular, gestão democrática 
e participativa, afirmação da cidadania, 
ampliação dos direitos e processos de 
controle social e de democratização do 
Estado.
65
A metodologia dialógica é aquela que 
permite a atuação efetiva dos participantes 
no processo educativo, valorizando os 
conhecimentos e as experiências, envolvendo-
os na discussão, na identificação e na busca 
de soluções para problemas que emergem de 
suas vidas. É uma prática pedagógica baseada 
no prazer, na vivência e na participação ativa 
em situações reais ou imaginárias; provoca 
a reflexão e propicia aos participantes a 
possibilidade de reconstruírem situações 
concretas da vida.
Existem diversas formas de construir 
processos via técnicas no campo das 
metodologias participativas, como o 
psicodrama, a dinâmica de grupo, a 
aprendizagem vivencial, a oficina, as rodas de 
conversas, os círculos de cultura, entre outras.
67
Rosanne
Realce
4.1 Orientações pedagógicas
Com base na intencionalidade de fortalecer a participação 
popular, o controle social e a gestão participativa na saúde, as 
atividades educativas podem ser orientadas a partir de alguns 
pressupostos pedagógicos: 
• Aproximação e conhecimento da realidade social em que 
se vai desenvolver o trabalho, na perspectiva da educação 
popular, com as metodologias participativas como 
observação do participante, pesquisa-ação, numa atitude de 
abertura e de escuta para a construção de diagnósticos das 
realidades locais, fomentando a solidariedade e o espírito 
de compromisso dos grupos em contato.
• Mobilização social que una os esforços de articulação 
e formação (encontros, seminários, oficinas, reuniões 
formativas, grupos de estudos, círculos interativos, 
intercâmbios de experiências, mutirões de formação 
popular e caravanas) em torno de programas concretos, 
ligado à defesa da vida e da saúde.
• Desenvolvimento de processos educativos que articulem a 
teoria com as práticas sociais, entidades e agentes envolvidos 
com diferentes modalidades formativas, instrumentos 
didático-pedagógicos e comunicação de massa, cultura 
popular de resistência e reinvenção das relações econômicas, 
sociais, culturais, ambientais, entre outros.
• Construção coletiva do conhecimento fundamentada 
no processo dialético prática-teoria-prática, associando 
o conhecimento da realidade com sistematização das 
experiências e conhecimentos dos processos de articulação, 
formação e mobilização, concretizando o “aprender com a 
prática”.
• Articulação das forças sociais com a estruturação de redes 
de educadores populares, entidades e movimentos sensíveis 
à necessidade de mobilização social para um amplo 
mutirão nacional em defesa da saúde e da vida, retomando 
os fundamentos da Reforma Sanitária.
68
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
Rosanne
Realce
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
METODOLOGIAS 
PARTICIPATIVAS
5
73
Trabalhar de forma participativa contribui 
para o aprendizado sobre o assunto em questão 
e sobre a prática do trabalho coletivo, aumenta 
a visão sobre a realidade e a responsabilidade 
com as decisões tomadas.
As metodologias participativas geram um 
processo de aprendizagem libertador, visto que 
permitem desenvolver um processo coletivo de 
discussão e reflexão, ampliam o conhecimento 
individual e coletivo e possibilitam a criação, a 
formação e a transformação do conhecimento, 
em que os participantes são sujeitos de sua 
elaboração e execução.
Muitas vezes, as pessoas falam em 
metodologia pensando nas dicas de como fazer 
as coisas, nos procedimentos e nas técnicas de 
grupo ou ainda na sequência de como deve 
seguir uma atividade. Porém, como qualquer 
método, não é um instrumento técnico neutro, 
mas sempre ligado a uma visão de mundo e a 
um objetivo histórico concreto. Os processos 
pedagógicos também são marcados por 
distintas concepções de mundo, sociedade e 
educação.
74
5.1 Algumas características das 
metodologias participativas
A construção de processos dialógicos, permeados de sentidos e 
orientados pela metodologia da educação popular pode ser percebida 
quando:
• Anima e apaixona seus participantes porque resgata neles o elemento 
da identidade, da esperança e da dignidade (autoestima).
• Mobiliza porque rompe com a situação de dormência e a sensação de 
impotência, geradas pela dominação e expressas no individualismo, 
no consumismo e no fatalismo.
• Compromete as pessoas, numa dimensão integral da vida, em 
processos legítimos de luta pela vida para a emancipação das pessoas 
e na sua afirmação como sujeitos sociais.
• Habilita, política e tecnicamente, os sujeitos, por meio da 
experimentação e apropriação do conteúdo e do método, construindo 
a ampliação dos níveis de consciência.
• Produz fermentação social e mobilização política ao fortalecer ações 
coletivas no enfrentamento dos seus problemas e na construção de 
soluções que expressem o poder da população.
• Incentiva a construção de espaços de participação popular, gestão 
democrática e participativa, afirmação da cidadania ativa, ampliação 
dos direitos e dos processos de controle social e de democratização 
do Estado.
• Incentiva e contribui para a construção de processos legítimos de 
luta pela emancipação e pela vida.
• Facilita a articulação de práticas populares no rumo de um Projeto 
Democrático e Popular de transformação social.
A metodologia participativa é aquela que permite a atuação efetiva 
dos participantes no processo educativo, valorizando os conhecimentos 
e as experiências dos participantes, envolvendo-os na discussão, na 
identificação e na busca de soluções para problemas que emergem de 
suas vidas. É uma prática pedagógica baseada no prazer, na vivência e na 
participação ativa em situações reais ou imaginárias; provocaa reflexão e 
facilita aos participantes na construção das situações concretas da vida.
76
5.2 Dicas na construção de 
processos participativos
A construção de processos participativos 
envolve o planejamento da atividade de 
acordo com o tema que será trabalhado, os 
objetivos da atividade e as características dos 
participantes. Para isso, antes da escolha da 
técnica ou dinâmica, é imprescindível que o 
responsável pela coordenação, condução ou 
facilitação do processo educativo:reflita sobre 
as seguintes perguntas:
– Que tema vamos trabalhar?
– Qual o objetivo que queremos alcançar?
– Com quem vamos trabalhar? 
(Características dos participantes).
Respondidas essas questões, deve-se escolher qual técnica é mais adequada 
para tratar do tema definido, alcançar os objetivos propostos com o público 
específico. Posteriormente deve-se definir como vai implementar a técnica, 
detalhando os passos no tempo previsto para desenvolver a atividade. E, por fim, 
é necessário conhecer e ter domínio do conteúdo sobre o tema que será tratado, a 
fim de conduzir o processo com habilidade para a articulação entre os elementos 
que o grupo produzir com os elementos de conteúdo já sistematizados.
Além desse roteiro, a criatividade e a flexibilidade são fundamentais para que 
o processo educativo seja participativo, democrático, profundo e sistemático, 
como, também, para superar as adversidades, como a falta de recursos materiais, 
entre outras questões.
78
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
AS TÉCNICAS DE GRUPO 
COMO PROMOTORAS DA 
PARTICIPAÇÃO
6
83
As técnicas de grupo constituem um valioso 
instrumento educacional que pode ser utilizado 
para trabalhar a dinâmica relação entre ensino-
aprendizagem em uma perspectiva educacional que 
valoriza tanto a teoria como a prática, e considera 
todos os envolvidos no processo como sujeitos em 
potencial para construção de práxis coletivas.
Quando se opta por técnicas participativas 
referenciadas na educação popular, permite-se que 
as pessoas envolvidas passem por um processo de 
ensino-aprendizagem no qual o trabalho coletivo 
é colocado como um caminho para se interferir 
na realidade, modificando-a e transformando-a. 
Isso porque técnicas participativas comprometidas 
com a perspectiva da libertação, inspiradas na 
busca de “ser mais”, na dimensão ontológica 
dos seres humanos, referenciando a pedagogia 
do oprimido de Paulo Freire, permitem que os 
participantes sejam sujeitos da ação, provocando-
se mutuamente, possibilitando a articulação entre 
os múltiplos saberes e construindo novos saberes. 
Isso propicia processos e exercícios da formação 
de uma consciência coletiva, comprometida com 
a emancipação e a construção de uma sociedade 
mais humanizada. Forma vínculos, nos processos 
organizativos, nas pautas relacionadas aos direitos 
da cidadania, desvelando-os e apropriando-se, a luta 
pelo direito à saúde, a defesa do SUS, na realização 
de práticas de cuidado em saúde mais integralizadas 
e integralizadoras. Como Freire (1970) afirmava, somos 
seres relacionais que se constroem em relação.
84
Rosanne
Realce
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que 
sou um ser condicionado, mas consciente do 
inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta 
é a diferença profunda entre o ser determinado e o 
ser condicionado (FREIRE, 2010, p. 53).
Ao optarmos metodologicamente pela educação popular, 
estamos afirmando que as técnicas por si só, se implementadas 
sem um referencial teórico, metodológico e político, perdem sua 
potencialidade. Logo, toda a construção reflexiva que introduzimos 
lá no início da publicação, em diálogo com nossas realidades 
pessoais e coletivas, são fundamentais para construirmos segurança, 
dinâmica e efetividade no emprego das técnicas participativas em 
nossos espaços de produção coletiva. 
Cabe referir que, em relação às técnicas 
participativas, tivemos, no Brasil, há 
algumas décadas, a ampliação da produção 
de livros, pesquisas e dissertações científicas 
mais próximas ao campo do conhecimento 
da psicologia organizacional e da 
administração, com o nome de “dinâmica 
de grupo”, que, inclusive, fazem parte de 
nossas referências neste livro. Muitas dessas 
produções reúnem técnicas importantes 
para integração e organização de grupo; 
porém, direcionadas a empresas, com o 
objetivo de melhorar a produtividade, a 
eficiência e a eficácia no trabalho.
85
É nesse contexto que as técnicas participativas 
e tantos outros dispositivos de promoção da 
participação entram em cena e os sujeitos 
facilitadores e participantes potencializam a 
ação. Porém, mesmo a natureza humana sendo 
programada para “ser mais”, isso não garante, por 
si só, que essa potencialidade se concretize na sua 
existência. Para darmos vazão a esse processo de 
conscientização das potencialidades e capacidades 
de si e do coletivo, é fundamental a criação de 
espaços de ação-reflexão-ação que propiciem que 
o “ser mais” se emancipe. Este sujeito “inscrito 
na natureza dos seres humanos” vive realidades 
desumanizantes, que o fragmenta e o individualiza 
e faz com que precise buscar nessa natureza humana 
o “ser mais”, que pode se concretizar em espaços de 
participação, de encontro e de fortalecimento do 
sentido de pertença (FREIRE, 2010, p. 75).
O ser humano é essencialmente 
um ser relacional e por sê-lo 
carece de outro para a construção 
de sua identidade. Como meio de 
suprimir esta carência, relações de 
convivência são estabelecidas e na 
doação de si mesmo, sentimentos 
de humanização podem ser 
construídos. A atitude de ir ao 
encontro de outra pessoa não 
acontece por acaso. (GARCIA, 
2011, p. 1).
Assim, o conhecimento, a 
prática, ou seja, a práxis, deixa 
de ser individualizada e tem a 
oportunidade de ser coletiva. 
Além de qualificada pela 
possibilidade de construção 
de vínculos, considerando as 
diversas dimensões humanas: 
intelectuais, afetivas, temporais 
e espirituais. Em uma 
permanente e inesgotável busca 
pela integralidade, na qual, 
identificando esses fatores, o 
grupo e as pessoas problematizam 
determinada situação e concebem 
coletivamente um saber, que não 
nega as contradições, mas que se 
ressignifica e desenvolve-se mais 
potente na aplicabilidade prática.
86
Rosanne
Realce
O uso de técnicas participativas no 
processo coletivo do ensino-aprendizagem 
não pode ser absolutizado nem 
subestimado. Sua utilização serve para 
responder a objetivos específicos de uma 
determinada estratégia educativa dentro 
de um contexto histórico, no sentido de 
estimular a produção do conhecimento e 
de sua recriação, tanto no grupo/coletivo 
quanto no indivíduo/singular, uma vez que 
a técnica não é um fim, mas um meio, ou 
seja, uma ferramenta a ser utilizada.
Nesta interação de saberes, marcados 
definitivamente por aproximações e 
doações multifacetadas, a convivência é 
moldada por diversas mãos, toma formas, 
cores e as conotações mais variadas. Dessa 
maneira de viver e conviver, emerge um 
jeito peculiar de encarar o mundo, de 
interpretar e decidir a vida, de deixar a 
marca no tempo. Nasce a cultura. 
Ao optar pelo uso da técnica de grupo, 
pode-se, por meio de jogos, brincadeiras, 
dramatizações, técnicas participativas, 
oficinas vivenciais e círculos de cultura, 
elaborar um ambiente descontraído, 
discutir temas complexos, polêmicos e até 
estimular que sejam externados conflitos 
(do indivíduo e do grupo), buscando 
estimular os participantes a alcançarem 
uma melhoria qualitativa na percepção de si 
mesmo e do mundo e, consequentemente, 
nas relações estabelecidas consigo mesmo 
e com o outro. As técnicas de grupo, em 
uma perspectiva libertadora e freiriana, são 
caminhos para educar e educar-se junto!
87
Rosanne
Realce
Em todo

Outros materiais