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Hermeneutica e Interpretaçao Constitucional

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DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I
CURSO: CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – DIREITO – 2º PERÍODO
PROFESSOR: ADRIANO NEDEL DOS SANTOS.
PONTO 6 – HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
1. Diferenciação entre Hermenêutica e Interpretação: Em primeiro lugar, devemos proceder à diferenciação entre estes dois vocábulos. Cabe ressaltar ao leitor que impera grande divisão na doutrina sobre a distinção dos termos Hermenêutica e Interpretação, havendo uns que pensam ser vocábulos distintos, variando em suas concepções (tradicionais/positivistas ou (neo)constitucionalistas/pós-positivistas) e outros não vendo importância em tal distinção.
a) Concepção tradicional (clássica) ou positivista: Para esta corrente doutrinária (ainda muito seguida no Brasil), Hermenêutica e Interpretação são conceitos distintos:
“A Hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito [...] Do exposto ressalta o erro dos que pretendem substituir uma palavra pela outra; almejam, ao invés de Hermenêutica, Interpretação. Esta é a aplicação daquela; a primeira descobre e fixa os princípios que regem a segunda. A Hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar”. (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 6. ed. Rio de Janeiro : Freitas Bastos, 1957, págs. 13 e 14)
“A hermenêutica jurídica é um domínio teórico, especulativo, cujo objeto é a formulação, o estudo e a sistematização dos princípios e regras de interpretação do direito” (BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. São Paulo : Saraiva, 1996, p. 97) 
“A interpretação é atividade prática de revelar o conteúdo, o significado e o alcance de uma norma, tendo por finalidade fazê-la incidir em um caso concreto” (BARROSO, Luís Roberto, op. cit.)
Portanto, para esta corrente, Hermenêutica seria a parte da ciência jurídica que tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos que devem ser utilizados para que a interpretação se realize. Por outro lado, Interpretação seria a aplicação dos processos hermenêuticos, ou em outras palavras, seria a operação que tem por fim fixar uma determinada relação jurídica, mediante a percepção clara e exata da norma estabelecida pelo legislador.
Percebe-se, nesta corrente a nítida separação entre o processo cognitivo de dar sentido a algo e a sua aplicação. É uma característica do positivismo esta linearidade, ou seja, a seqüência de etapas nitidamente marcadas e delineadas. Esta característica tão fundante no positivismo acabou gerando outra concepção de mundo, a Hermenêutica Filosófica, alicerce da Hermenêutica Constitucional contemporânea.
 
b) Concepção pós-positivista ou (neo)constitucionalista: Para esta corrente, a diferenciação entre Hermenêutica e Interpretação já não é mais crucial, mas ainda existe.
“Hermenêutica é algo mais do que um método das ciências ou do distintivo de um determinado grupo delas. Designa, sobretudo, a capacidade natural do ser humano de compreender. [...] Na verdade, a tarefa hermenêutica é sempre a transferência de um mundo ao outro... [...] É a transferência do mundo de uma língua estranha ao mundo de uma língua própria”. (ALFLEN DA SILVA, Kelly Susane. Hermenêutica Jurídica e Concretização judicial. Porto Alegre : SAFE, 2000, p. 49)
“...a hermenêutica é filosofia porque não pode ser restrita a uma teoria da arte, que “apenas” compreende as opiniões de um outro. A hermenêutica implica, antes, que toda compreensão de algo ou de um outro vem precedida de uma autocrítica. Aquele que compreende não postula uma posição superior. Confessa, antes, a necessidade de colocar à prova a verdade que supõe própria”. (GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II: complementos e índice. Tradução de Enio Paulo Giachini; revisão da tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. 2. ed . Petrópolis : Vozes, p. 141)
“...na compreensão, sempre ocorre algo como uma aplicação do texto a ser compreendido à situação atual do intérprete”. (GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Enio Paulo Giachini; revisão da tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. 2. ed . Petrópolis : Vozes, ps. 406 e 407)
“«Interpretar» significa atribuir um significado a manifestações de uma determinada linguagem. O conjunto de processos lógicos e práticos através dos quais se realiza essa atribuição de significado se denomina «interpretação». [...] A projeção destas premissas ao direito implica conceber a interpretação jurídica como a atribuição de significado a um determinado segmento de linguagem jurídica, ou seja, a uma ou várias normas. Se parte-se da idéia de que uma norma sem significado é um absurdo, há que se concluir que a norma não tem um significado, mas é um significado. Esta forma de entender comporta admitir que não pode haver nenhuma norma sem significado e que este significado não é prévio, mas subseqüente à atividade interpretativa. Disto se infere que a norma jurídica não é pressuposto, mas sim resultado do processo interpretativo. Frente à concepção tradicional da interpretação jurídica como revelação do sentido prévio e acabado das normas, os enfoques atuais a entende como um processo dirigido a dotar a norma de significado” (PEREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constitución. 8. ed. Madrid : Tecnos, 2003, p. 254) 
“Interpretar é atribuir um significado a um ou vários símbolos lingüísticos escritos na Constituição com o fim de se obter uma decisão de problemas práticos, normativo-constitucionalmente fundada”. (CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra : Almedina, 1993) 
“Ora, não há pura interpretação; não há hermenêutica “pura”. Hermenêutica é faticidade; é vida; é existência, é realidade. É condição de ser no mundo. A interpretação não se autonomiza da aplicação. [...] Deixemos bem claro: interpretação e aplicação são coisas inseparáveis” (STRECK, Lênio Luiz. A hermenêutica filosófica e as possibilidades de superação do positivismo pelo (neo) constitucionalismo. In Constituição, Sistemas Sociais e Hermenêutica: programa de Pós-Graduação em Direito da UNISINOS, Anuário 2004, ps. 161 e 162)
Para os adeptos desta corrente que fazem a diferenciação entre os termos Hermenêutica e Interpretação, esta estaria mais ligada a um objeto, ou seja, o direcionamento da capacidade de compreender as coisas e o mundo, a partir dos nossos pré-juízos, para um objeto em especial, no caso do Direito, poderiam ser o texto legal, os costumes, princípios implícitos, etc. Cabe ressaltar que para esta corrente, a interpretação não se resume somente a textos legais e a extrair o “sentido da norma”, pois nenhum texto legal traz previamente o “sentido da norma”. Em outras palavras, a norma surge no ato da interpretação/aplicação, a partir do texto/costume/principiologia. Lembre-se também que a interpretação, apesar de estar ligada a um objeto, trata de uma relação sujeito/sujeito, onde compreender e interpretar textos não é só uma instância científica, porém, pertence naturalmente, à experiência humana do mundo.
c) Indiferenciação quanto à terminologia: Há parte da doutrina que considera inútil tal diferenciação, pois destituída de sentido prático. Ancoram suas posições, ainda, no fato da origem etimológica dos vocábulos. Hermenêutica provém do verbo grego hermeneuein e do substantivo hermeneia, cuja tradução latina é interpretação. Por isso, há autores que consideram hermenêutica e interpretação como sendo a mesma coisa. Porém trata-se de um equívoco. 
Originariamente, na Grécia, a palavra logos tinha duplo significado: 1) razão ou 2) discurso (fala). Esta concepção de logos como discurso desenvolveu-se com os estóicos, que distinguiram o logos externo, pronunciado e o logos interno, pensado. Hermeneia (interpretação), seria, pois, o logos compreendido naspalavras, sua manifestação externa. Já, hermenéuein seria o logos interno, ou seja, a compreensão do discurso voltado para dentro. 
Por isso a hermenêutica, no positivismo, é vista como algo mais teórico, abstrato e a interpretação como algo mais concreto. No pós-positivismo, vê-se a hermenêutica como a capacidade de compreender, de inserção do ser no mundo, utilizando os seus pré-juízos, seus pré-conceitos para compreender o Direito (no nosso caso a Constituição), mas sem esquecer sua própria auto-modificação neste processo. Já a interpretação, para os pós-positivistas que fazem diferenciação, reitera-se, seria todo este processo de compreensão a partir de um texto, de um costume, de um princípio. Há, portanto, na interpretação, uma concretização da capacidade de compreender. Para reforçar o exposto, a etimologia da palavra intérprete consiste em inter e pars, ou seja, entre as partes. Portanto, incumbe ao intérprete mediar o que está para ser interpretado. 
Ressalta-se, contudo, que não há separação entre Hermenêutica e Interpretação durante o processo de compreensão, pois o que há é uma interação entre o objeto e o sujeito através da linguagem e por esta. Há uma modificação fundante: sujeito antes da compreensão e o sujeito após esta. O que ocorre, na verdade, é uma relação sujeito-sujeito, pois o sujeito coloca à prova seus pré-conceitos, pré-juízos, suas concepções de mundo, para modificações dos seus entendimentos. A diferença entre Interpretação e Hermenêutica seria, portanto, mais histórica e etimológica do que ontológica (relativa ao ser), pois os dois processos se imbricam de maneira tal no processo de compreensão que fundem-se num todo unitário.
2. Classificação da Interpretação Constitucional:
2.1) TRADICIONAL (Hermenêutico clássico)
2.1.1) Quanto às fontes (sujeitos ou agentes):
a) Autêntica: É aquela interpretação ministrada pelo legislador mesmo, ou seja, o órgão legislativo elabora uma segunda norma com o propósito de esclarecer especificamente o significado e o alcance da norma antecedente, havida por obscura ou ambígua. Não é usual e não é obrigatória.
b) Judicial: É a interpretação que procede dos juízes e dos tribunais. É obrigatória nos casos concretos.
c) Doutrinária: É a interpretação que deriva da doutrina, dos doutores, mestres e teóricos do direito. Não é obrigatória.
2.1.2) Quanto aos meios (métodos):
a) Gramatical (filológica, literal ou léxica): Há a interpretação da norma voltada para o significado literal das palavras, que se examinam isoladamente ou no contexto da frase, mediante o emprego de meios gramaticais e etimológicos.
b) Lógica (racional): É a interpretação em que, além de ser feita a conexão da lei com as demais, busca as condições e os fundamentos de sua origem e elaboração, de modo a determinar a ratio ou mens do legislador. Se divide em:
- Mens legislatoris: Procura identificar o que o legislador quis dizer.
- Mens Legis: Procura identificar o que o legislador efetivamente disse.
- Occasio legis: Procura identificar o conjunto de circunstâncias que determinaram a criação da norma objeto da interpretação
c) Histórica: Consiste na busca do sentido da lei através do conhecimento dos trabalhos legislativos a ela preparatórios. O objetivo da interpretação histórica é situar o direito dentro de uma compreensão que lhe forneça a occasio legis, os fatores históricos e os condicionamentos sociológicos que determinaram o surgimento da norma.
d) Teleológica: Visa interpretar a lei segundo seus fins: justiça e paz social. Tem como elaborador Jhering.
e) Sistemática: É a interpretação que visa a harmonia do sistema jurídico, onde analisa-se o conjunto das normas. Há uma forte inter-relação entre a interpretação lógica e a sistemática, já que a primeira é pressuposto da segunda, não sendo possível uma interpretação sistemática sem logicidade.
2.1.3) Quanto ao resultado (extensão):
a) Declarativa (enunciativa ou especificadora): Ocorre quando na reconstrução do pensamento pelo intérprete coincide a interpretação gramatical com a interpretação lógica, isto é, a letra da lei corresponde ao sentido que lhe é atribuído pela razão. Em outras palavras, é aquela que nem amplia, nem restringe a norma interpretada, ou seja, cujo enunciado coincide, na sua amplitude, com aquele que, à primeira vista, parece conter-se nas expressões do dispositivo.
VERBA LEGIS = MENS LEGIS
b) Extensiva: Ocorre quando a lei abrange mais casos que aqueles que ela taxativamente contempla, isto é, o teor da lei é objeto de alargamento e retificação.
c) Restritiva: Ocorre quando se restringe o alcance da norma. É aquela que imprime restrição ao sentido e ao alcance literalmente depurado da norma analisada.
2.2) TÓPICO PROBLEMÁTICA (tópoi: esquemas de pensamento, raciocínio, argumentação, lugares comuns, pontos de vista): Para esta metodologia, a interpretação da Constituição seria um processo de argumentação entre os vários participantes através da qual se tenta adaptar ou adequar a norma constitucional ao problema concreto. Em outras palavras, o hermeneuta, quando interpreta a norma constitucional, parte de “pontos de vista” (topoi) que são submetidos a provas de opinião, buscando a interpretação que melhor convenha ao caso concreto.
Ocorreria o método tópico no seguinte exemplo: “A” foi viajar e deixou “B” guarnecendo sua residência. No retorno, “A” constata que sua residência pegou fogo. Recorre-se, portanto, a “pontos de vista”: pode-se dizer que “B” agiu com culpa, ou então pode-se dizer que “B” agiu com a intenção de produzir o resultado, assim como pode-se alegar que houve a ocorrência de caso fortuito ou força maior; ainda: “A” contribuiu para o resultado, etc. Todos estes pontos de vista poderiam ser, por certo, relevantes para a solução do problema, mas eles não surgem, por isso, de algum modo vinculativos no sentido de serem direito vigente.
“A concretização do texto constitucional a partir dos topoi merece sérias reticências. Além de poder conduzir a um casuísmo sem limites... [...] A interpretação é uma actividade normativamente vinculada, contituindo a constitutio scripta (constituição escrita) um limite ineliminável (Hesse) que não admite o sacrifício da primazia da norma em prol da prioridade do problema (F. Muller)”. (CANOTILHO, op. Cit)
O método tópico-problemático abandona qualquer vinculação a um estatuto normativo, concebendo a interpretação constitucional sob o império da vontade suprema do intérprete, que faz a interpretação por meio de topoi (pontos de vista), sempre, é claro, partindo do caso concreto, a fim de moldar uma norma que atenda a situação fática.
2.3) MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR: Neste método de interpretação, há o primado da norma constitucional sobre o problema, ao contrário do método tópico-problemático.
“O método hermenêutico é uma via hermenêutico-concretizante, que se orienta não para um pensamento axiomático mas para um pensamento problematicamente orientado. Todavia, este método concretizador afasta-se do método tópico-problemático, porque enquanto o último pressupõe ou admite o primado do problema perante a norma, o primeiro assenta no pressuposto do primado do texto constitucional em face do problema”. (CANOTILHO, op. Cit)
“Interpretação constitucional é concretização. [...] Concretização pressupõe um “entendimento” do conteúdo da norma a ser concretizada. Esse não se deixa desatar da “pré-compreensão” do intérprete e do problema concreto a ser resolvido, cada vez. O intérprete não pode compreender o conteúdo da norma de um ponto situado fora da existência histórica, por se assim dizer, arquimédico, senão somente na situação histórica concreta, na qual ele se encontra, cuja maturidade enformou seus conteúdos de pensamento e determina seu saber e seu (pré)-juízo. Ele entende o conteúdo da norma de uma (pré)-compreensão, que primeiramente lhe torna possível olhar a norma com certas esperanças...” (HESSE, Konrad. Op.Cit)
Podemos caracterizar este método por três pressupostos da atividade de interpretar:
Pressupostos subjetivos: O intérprete desempenha um papel criador (pré-compreensão) na tarefa de obtenção do sentido do texto constitucional
Pressupostos objetivos: Refere-se ao contexto, atuando o intérprete como operador de mediações entre o texto e a situação em que se aplica;
Círculo hermenêutico: Relação entre texto e o contexto com a mediação criadora do intérprete, transformando a interpretação em movimento de ir e vir.
2.4) MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL: “Pois bem, o que dá sustentação material ao método científico-espiritual é, precisamente, a idéia de Constituição como instrumento de integração em sentido amplo, não apenas do ponto de vista jurídico-formal, enquanto norma-suporte e fundamento de validade do ordenamento, segundo o entendimento kelseniano, por exemplo, mas também – e principalmente - , em perspectiva política e sociológica, enquanto instrumento de regulação (= absorção/superação) de conflitos e, por essa forma, de construção e de preservação da unidade social.” (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; GONET BRANCO, Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo : Saraiva, 2008 : 104)
2.5) MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE: 
Neste método, verificam-se três momentos distintos:
Programa normativo: A doutrina chama de programa normativo o texto do artigo em questão, ou seja, o componente lingüístico da norma. É do texto “programado” pelo Constituinte que se parte para a interpretação. E aqui, já há a pré-compreensão do intérprete atuando no processo interpretativo (com seus pontos-de-vista). Nesta parte pode-se utilizar os métodos clássicos (literal, lógico, histórico, sistemático, teleológico).
Domínio ou setor normativo: Chama-se de domínio ou setor normativo a análise dos elementos empíricos (fatos e dados da realidade recortados pela norma)
NORMA JURÍDICA= PROGRAMA NORMATIVO + DOMÍNIO OU SETOR NORMATIVO
Decisão: A concretização só ocorre (“pra valer”) quando a norma jurídica é utilizada para a decisão de um caso jurídico, seja para a edição de regulamentação (legislativa ou administrativa), seja em uma sentença judicial.
No próximo tópico, veremos que os pontos-de-vista são limitados e dirigidos por princípios de Interpretação Constitucional, também chamados de Postulados Constitucionais.
2.6) MÉTODO DA COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL: 
“A interpretação dos institutos se implementa mediante comparação nos vários ordenamentos. Estabelece-se, assim, uma comunicação entre as várias Constituições. Partindo-se dos 4 métodos ou elementos desenvolvidos por Savigny (gramatical, lógico, histórico e sistemático), Peter Haberle sustenta a canonização da comparação constitucional como um quinto método de interpretação” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12. ed. São Paulo : Saraiva, 2008 : 71)
3. Princípios de Interpretação Constitucionais (Postulados Constitucionais): São ordens, comandos dirigidos a todos aqueles que pretendem exercer uma atividade interpretativa da Constituição. Não poderá haver uma interpretação da Constituição sem a observação dos postulados.
Princípio da Supremacia da Constituição: Repele todo o tipo de interpretação partindo da lei como pressuposto. Toda a interpretação deve partir da Constituição. A Constituição Federal é a fonte legitimadora de todo o ordenamento jurídico.
PODER CONSTITUINTE + RIGIDEZ CONSTITUCIONAL + “SUPERLEGALIDADE MATERIAL E FORMAL”
Princípio da Unidade da Constituição:
“A conexão e a interdependência dos elementos individuais da Constituição fundamentam a necessidade de olhar nunca somente a norma individual, senão sempre também a conexão total na qual ela deve ser colocada; todas as normas constitucionais devem ser interpretadas de tal modo que contradições com outras normas constitucionais sejam evitadas”. (HESSE, Konrad, op. Cit, p. 65) (grifo nosso).
Princípio da concordância prática (harmonização ou cedência recíproca): Nesse princípio se busca conformar as diversas normas ou valores em conflito no texto constitucional de forma que se evite a necessidade da exclusão (sacrifício) de um deles. Esse princípio se relaciona com o da unidade da Constituição, na medida em que não podem haver contradições entre as normas, princípios e valores constitucionais.
“...bens jurídicos protegidos jurídico-constitucionalmente devem, na resolução do problema, ser coordenados um ao outro de tal modo que cada um deles ganhe realidade. [...] ...a ambos os bens devem ser traçados limites, para que ambos possam chegar a eficácia ótima. Os traçamentos de limites devem, por conseguinte, no respectivo caso concreto ser proporcionais; eles não devem ir mais além do que é necessário para produzir a concordância entre ambos os bens jurídicos” (HESSE, Konrad, op. Cit, p. 67)
Poderá haver um conflito aparente de normas. Norberto Bobbio chama este conflito de ANTINOMIA JURÍDICA�. Esse aparente conflito se resolve:
* Uma norma consistirá em regra geral e a outra será tida como exceção ou limite àquela;
* Em especial, em se tratando de direitos fundamentais, a contradição será resolvida pela ponderação de valores, prevalecendo a norma que dispuser de maior peso em relação ao caso concreto.
 d) Princípio da máxima efetividade (eficiência): Sempre que possível, deverá ser o dispositivo constitucional interpretado num sentido que lhe atribua maior eficácia.
e) Princípio do efeito integrador: Este princípio parte de que, se a norma constitucional promove a formação e manutenção de uma determinada unidade política, sua interpretação deve dirigir-se a pontencializar as soluções que reforcem tal unidade.
 f) Princípio da correção funcional (justeza ou conformidade funcional): Este princípio obriga ao intérprete respeitar a distribuição das funções estatais consagradas pela Constituição.
 g) Princípio da força normativa da Constituição: Por este princípio, a interpretação deve focalizar a maior otimização possível dos preceitos constitucionais. Deve-se buscar um equilíbrio capaz de evitar o sacrifício da dimensão normativa da Constituição ante as condições da realidade. Isto se faz com a chamada “vontade de constituição”, que consiste na firme vontade do intérprete dirigida a realizar de forma ótima os objetivos da Constituição�.
4. Limites da Interpretação Constitucional: A vinculação, conforme Hesse, está vinculada a algo estabelecido. E este “algo”, no nosso caso é o ordenamento constitucional. Não se pode com a interpretação contrariar os princípios estruturais (políticos e jurídicos) da Constituição. Pode-se sim, mudar o sentido de algumas normas “atualizando-as” de acordo com o impacto da evolução da realidade, mas jamais pode-se criar situações incompatíveis com o texto da norma. Portanto, o texto da norma é o limite da interpretação.
5. Fiscalização da Constitucionalidade:
5.1) Presunção da Constitucionalidade das normas infraconstitucionais: Há aqui, uma presunção “iuris tantum” (relativa) de que a lei é constitucional, visto que foi aprovada após um debate legislativo. Para que a lei seja inconstitucional precisa ser declarada como tal pelo Poder Judiciário.
5.2) Interpretação Conforme à Constituição: “A supremacia das normas constitucionais no ordenamento jurídico e a presunção de constitucionalidade das leis e atos normativos editados pelo poder público competente exigem que, na função hermenêutica de interpretação do ordenamento jurídico, seja sempre concedida preferência ao sentido da norma que seja adequado à Constituição Federal. Assim sendo, no caso de normas com várias significações possíveis, deverá ser encontrada a significação que apresente conformidade com as normas constitucionais, evitando sua declaração de inconstitucionalidade e conseqüente retirada do ordenamento jurídico”. (MORAES, Alexandre de. Op. Cit, p. 11) (grifo nosso)
ESPAÇO DE DECISÃO: Conforme Canotilho esse princípio somente é possívelna medida em que a norma infraconstitucional comporte inúmeras hipóteses de compreensão.
Interpretação conforme sem redução de texto, conferindo à norma impugnada uma determinada interpretação que lhe preserve a constitucionalidade
Interpretação conforme sem redução de texto, excluindo da norma impugnada uma interpretação que lhe acarretaria a inconstitucionalidade.
Interpretação conforme com redução de texto.
6) A interpretação da Constituição na doutrina americana
* Doutrina dos Poderes implícitos: Poderes implícitos são aqueles que são garantidos por inferência e não expressos na letra da Constituição.
Case McCULLOCH vs. MARYLAND
“A Cláusula elástica (necessária e apropriada):
Artigo I, Seção 8, cláusula 18: [É da competência do Congresso:] Elaborar todas as leis necessárias e apropriadas ao exercício dos poderes acima especificados e dos demais que a presente Constituição confere ao governo dos Estados Unidos, ou aos seus Departamentos e funcionários.”
7) Integração: Consiste em suprir um vazio deixado pela Carta Magna. Cumpre fazer a distinção entre integração e interpretação:
1) Interpretação: pressupõe a possibilidade de indagação do conteúdo dos enunciados lingüísticos do texto constitucional; 
2) Integração:Existe quando determinadas situações deviam estar reguladas na Constituição, mas não estão previstas e não podem ser alcançadas pela interpretação, mesmo extensiva, de preceitos constitucionais.
Lacuna é o vazio jurídico que gera um sentimento de insatisfação. O processo de integração se inicia com a descoberta de uma lacuna.
7.1) Elementos de integração:
a) Analogia: Trata-se de uma semelhança de relações. Juridicamente, consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante.
 
b) Princípios Gerais do Direito
c) Costume: Trata-se de uma norma jurídica sobre determinada relação de fato, e resultante de prática contínua, que lhe dá força de lei.
d) Eqüidade: Visa corrigir a lei quando esta se demonstra incompleta para abarcar o caso especial e concreto que foge à aplicação genérica.
� Ver Ponto 5, item 6.
� Lembrar o Ponto 2, item I, d, que diz respeito ao sentido (acepção) de Constituição. A concepção de Konrad Hesse (normativista), é tomada neste sentido, aplicando-se suas idéias à interpretação constitucional.

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