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acao destituicao do poder familiar cc alimentos

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EXM.º JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES / MG:
O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por seu órgão de execução, no uso de suas atribuições legais, vem, respeitosamente, à presença de V.Exa., com fulcro no artigo 155, da Lei n° 8.069/90, c/c os artigos 1.635, inciso V e 1.638, inciso II, do Código Civil, ajuizar a presente
AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR CUMULADA COM ALIMENTOS
em desfavor de CCCCCC, brasileira, solteira, filha de Jaime Batista Carvalho e Terezinha Costa Batista, residente na rua Caratinga, n.o 181, bairro Nossa Senhora das Graças, nesta, e em prestígio ao melhor interesse das crianças NCNCNCNCNC, nascida em 3/2/2005, certidão de nascimento registrada no livro 171 A, folha 157 V, Termo 066191; LSSLSLSLS, nascido em 28 de maio de 2002, certidão de nascimento registrada no livro 168 A, folha 468, Termo 63213; e PLOEKJDOIS, nascido em 1/1/1998, certidão de nascimento registrada no livro 164 A, folha 80, termo 57795, pelas razões de fato e de direito que passa a aduzir:
Segundo se extrai dos documentos acostados aos autos do pedido de providência tombado sob o nº OOOOOOO, em trâmite nesta vara especializada, a genitora dos crianças (ou adolescentes) acima citados não desempenhou a maternidade responsável, tendo deixado os infantes em nítido estado de abandono material e afetivo.
A genitora das crianças (ou adolescentes) possui 5 (cinco) filhos provenientes de pais distintos, a citar: Bárbara Batista de Souza, com 10 anos de idade; Igor Batista, com 9 anos de idade; Pablo Mateus Batista de Oliveira Silva, com 7 anos de idade; João Vítor Bastista, com 5 anos de idade; e Ana Luíza Batista, com 2 anos de idade, sendo que apenas esta última se encontrava sob os seus cuidados.
Os demais filhos se encontravam sob os cuidados dos avós paternos, dos pais e avó materna, conforme demonstrado nos autos em apenso.
 
Em intercorrência social trazida pela avó materna, deu-se notícia da situação de risco vivenciada pelas crianças (ou adolescentes) Igor, João Vítor e Ana Luíza, em que estavam em pleno estágio de abandono material e afetivo proveniente da genitora.
Diga-se de passagem, essa nova intercorrência se deu posteriormente à decisão judicial de f. 12/13, do autos em apenso, em que os crianças (ou adolescentes) foram entregues à genitora, sob termo de guarda e reponsabilidade, nos termos do artigo 101, inciso I, do ECA.
A avó materna das crianças, perante o Promotor de Justiça, declarou que não tem condições de assumir os netos e embora tenha alertado a sua filha, ora requerida, para assumir o papel de mãe, ela se furta a tal missão, saindo de casa e deixando os filhos sozinhos, por vezes o dia inteiro.
O relatório psicossocial informa que a genitora dos crianças (ou adolescentes) não desempenha a maternidade responsável, uma vez que não dispensa os cuidados necessários para os filhos, inclusive para a criança (ou adolescente) Ana Luíza, sendo ela agressiva com a prole.
As crianças Igor, João Vítor e Ana Luíza não possuem paternidade declarada no registro, sendo mais um fator de abandono praticado pela genitora, que violou a expectativa natural de seus filhos em conviver com a ascendência paterna.
Não resta linha parental apta a cuidar e zelar pela criação desses crianças (ou adolescentes), sendo imperioso reconhecer a necessidade de inseri-los em uma família substituta, sobretudo por ser o abrigo uma medida de proteção excepcional e provisória. 
Dessa maneira, resta patente que a requerida incorreu na prática de abandono material e afetivo sobre seus filhos, devendo, por isso, ser destituída do poder familiar.
O poder familiar representa o conjunto de poderes e deveres atribuídos aos pais em relação a seus filhos crianças (ou adolescentes). Entretanto, na hipótese em que não esteja havendo o exercício deste múnus de forma responsável e no exclusivo interesse dos filhos, com evidente afronta aos direitos específicos das crianças e adolescentes, faz-se imperiosa a ação judicial para obstar tal violação, o que se dá através do ajuizamento das ações de suspensão ou extinção do poder familiar, tal como prevêem os artigos 24 e 129, inciso X, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
 
“Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.”
“Ar. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
X – suspensão ou destituição do pátrio poder.”
O artigo 22, da Lei n° 8.069/90, por sua vez, estabelece:
“Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos crianças (ou adolescentes), cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.”
Emana, ainda, do artigo 1.638 do Código Civil:
“Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
[...]
II - deixar o filho em abandono”
Dessa forma, é incontroverso que as condutas da requerida se amoldam às hipóteses acima descritas, motivo pelo qual compete ao Ministério Público o ajuizamento da presente ação, com a finalidade de colocar as crianças a salvo de qualquer violação a seus direitos fundamentais, possibilitando aos mesmos, através da extinção do poder familiar, encontrar uma verdadeira família que possa ofertar os referenciais familiares que necessitam para se desenvolver.
Acerca do tema, vejamos como vêm se manifestando nossos Tribunais:
“Criança (ou adolescente) – Destituição do pátrio poder dos genitores biológicos decretada em primeira instância. Recurso da genitora. Situação de abandono material e moral caracterizada. Requerida não providenciou e não demonstrou ter interesse em providenciar adequado ambiente familiar para criação e educação de seu filho. Recurso não provido, com recomendação.” (TJSP – AC 63.378-0 – C. Esp. – Rel. Des. Nuevo Campos – J. 06.04.2000) 
Importa frisar ainda que, não obstante a destituição do poder familiar da genitora em relação à sua prole, tal medida não importará em benefício e premiação a essa mãe desidiosa, negligente, a ponto de livrá-la do dever legal de alimentar os filhos.
É direito público subjetivo dos infantes receberem os alimentos de seus pais, ainda que aqueles tenham sido destituídos do poder familiar, uma vez que nessa hipótese apenas os direitos/poderes são eliminados, extirpados, jamais os deveres dele decorrentes, notadamente, o dever alimentar.
Essa é a lição da doutrina e jurisprudência mais atualizada e sensível, visando sempre o melhor interesse da criança e do adolescente, com o fito de lhe conceder a proteção integral.
Somente se romperá com essa obrigação perante a mãe biológica se os infantes vierem a ingressar em uma família substituta. Caso contrário, premiar-se-á os pais incautos e omissos, livrando-os dos deveres vitais para o desenvolvimento e subsistência de sua prole, ora abandonada irresponsavelmente. Eis a inteligência do instituto familiar.
A legitimidade ativa do Parquet para o ajuizamento da presente ação é expressamente reconhecida pelo artigo 155, artigo 201, inciso III, da Lei n° 8.069/90, 1.637, do Código Civil e 129, inciso IX, da Carta da República.
Ante o exposto, requer a V. Exa, se digne:
a) autuar, registrar e receber a inicial;
b) decretar, liminarmente, a suspensão do poder familiar em desfavor da requerida;
c) aplicar a medida de proteção de abrigo em favor dos infantes, até o desfecho desta demanda, para inseri-los posteriormente no cadastro de pretensos adotantes;
c) decretar, liminar e provisoriamente, em desfavor da requerida, o pagamento de 50% (cinquenta por cento) do salário mínimo vigente, a título alimentar, a ser depositado em conta judicial para ser repassado posteriormente ao abrigo guardião;
c) ordenar a citação da requerida parao fim de responder aos termos da inicial;
d) decretar, ao término da relação jurídica processual, a extinção do poder familiar de Érica Batista em relação aos seus filhos Igor, João Vítor e Ana Luíza, bem assim condená-la ao pagamento de 50% (cinquenta por cento) do salário mínimo vigente, a título alimentar, a ser depostiado em conta judicial para ser repassado posteriormente para o abrigo guardião;
e) ordenar o apensamento à presente ação os autos do Pedido de Providência registrado sob o n° XXXX, em trâmite perante esta Vara da Infância e Juventude.
g) realizar estudo psicossocial;
h) juntar aos autos FAC e CAC da requerida para o fim de verificar a sua vida pregressa.
Para tanto, protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, por documentos, testemunhas e perícias, requerendo, desde já, o depoimento pessoal dos requeridos, sob pena de confesso, ouvindo-se, oportunamente, as testemunhas adiante apontadas.
Dá-se à causa o valor de R$ XXXXX (XXXXX) O valor da causa deve ser o equivalente aos 12 meses de pensão alimentícia.
Governador Valadares, dia, mês e ano.
Promotora de Justiça

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