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• Fatores que reduzem o retorno venoso, incluindo diminuição do volume sanguíneo, tônus vascular reduzido (especial- mente nas veias) e obstrução do fluxo sanguíneo. O débito cardíaco nem sempre diminui durante o choque. Um débito cardíaco inadequado pode ser resultado de aumentos excessivos na taxa metabólica ou de padrões anormais de perfusão que desviam o fluxo sanguíneo dos vasos que fornecem nutrientes aos tecidos. Nesses casos, o débito cardíaco normal é insuficiente para atender às ne- cessidades dos tecidos. Choque Provocado por Hipovolemia – ChoqueHemorrágico (p. 290) Choque Não Progressivo (Compensado) Uma das causas mais comuns de choque é a rápida perda de sangue. Se os reflexos simpáticos e outros fatores promover- em compensação suficiente para prevenir uma deterioração ainda maior da circulação, esse tipo de choque reversível é denominado choque compensado. Os mecanismos que com- pensam a perda de sangue e seus efeitos cardiovasculares são: • Sistema nervoso simpático, que é o primeiro mecanismo re- flexo de elevação da pressão arterial, ajuda a elevar a pressão a até seu nível normal. Os barorreceptores são os principais ativadores do sistema nervoso simpático dur- ante a hipotensão de grau moderado. No choque com- pensado, a redução do volume sanguíneo provoca uma 312/1435 redução na pressão média de enchimento sistêmico, no débito cardíaco e na pressão arterial. A redução na pressão arterial estimula o sistema nervoso simpático através dos barorreceptores, que, por sua vez, provocam diversos efei- tos cardiovasculares, incluindo constrição arteriolar (aumentando a resistência vascular periférica total), con- strição das veias (aumentando a pressão média de enchi- mento sistêmico e o retorno venoso) e aumento da fre- quência cardíaca. Sem esses reflexos, um indivíduo mor- reria depois de uma perda de somente 15-20% do volume sanguíneo em um período de 30 minutos. Isso contrasta com a perda de 30-40% do volume sanguíneo que pode ser suportada pelo indivíduo com reflexos simpáticos normais. • Resposta isquêmica do sistema nervoso central ocorre durante a hipotensão grave, quando a pressão arterial diminui para menos de 50 mmHg. • Relaxamento por estresse inverso provoca constrição dos vasos – especialmente nas veias – com volume sanguíneo reduzido, ajudando a impedir a diminuição da pressão ar- terial e do débito cardíaco. • Aumento da formação de angiotensina II provoca constrição arteriolar periférica e retenção de sódio e água pelos rins. • Aumento da liberação de vasopressina causa vasoconstrição periférica e retenção de água pelos rins. • Outros mecanismos que aumentam o volume sanguíneo trazendo-o de volta ao normal, incluindo a absorção de líquido nos intestinos e espaços intersticiais, diminuição 313/1435 do volume do débito urinário, aumento da sede e aumento do apetite por sódio. O Choque Progressivo É Causado por um CírculoVicioso de Deterioração Cardiovascular (p. 292) Quando o choque se torna suficientemente grave, diversas estruturas do sistema circulatório começam a se deteriorar, criando um círculo vicioso progressivo de débito cardíaco decrescente. A Deterioração Cardíaca no Choque Progressivo Deve-se ao Fluxo Coronário Precário. Com reduções graves na pressão arterial, especialmente na pressão diastólica, o fluxo sanguíneo coronário também di- minui e ocorre isquemia coronária. Isso enfraquece o miocár- dio e diminui ainda mais o débito cardíaco. Pode ser desen- volvido um ciclo de feedback positivo e consequente deterior- ação cardíaca progressiva. Também Pode Haver Insuficiência Circulatória Periférica no Choque Hemorrágico Progressivo. Com reduções moderadas no débito cardíaco, o fluxo para o cérebro e para o coração normalmente é preservado. Quando a pressão arterial se torna suficientemente baixa, o fluxo san- guíneo cerebral começa a reduzir e o fluxo para o centro vasomotor também diminui. Se o fluxo sanguíneo reduzir o suficiente, a descarga simpática do centro vasomotor di- minui acentuadamente, podendo acarretar mais reduções da pressão arterial e progressiva insuficiência circulatória periférica. 314/1435 Também Ocorre Coagulação Sanguínea nos Pequenos Vasos durante Choque Hemorrágico Progressivo. Devido ao baixo fluxo sanguíneo durante o choque, os produtos do metabolismo tecidual, incluindo quantidades significativas de dióxido de carbono e ácido lático, não são removidos adequadamente dos tecidos, permitindo a elev- ação das concentrações locais de ácidos. A resultante con- centração aumentada de íons hidrogênio e outros produtos resultantes da isquemia podem causar aglutinação local do sangue e formação de coágulos sanguíneos. O sangue mais espesso no interior desses pequenos vasos sanguíneos é de- nominado sangue estagnado. A Permeabilidade Capilar Aumentada faz o Volume Sanguíneo Diminuir Ainda Mais Durante o Choque Hemorrágico Progressivo. Devido à hipóxia capilar e à falta de outros nutrientes dur- ante o choque, a permeabilidade capilar aumenta, propi- ciando a transudação de líquido e proteínas para dentro dos tecidos. Essa perda de líquidos para o interstício acarreta uma diminuição do volume sanguíneo, agravando progres- sivamente o choque. A Liberação de Toxinas Pode Causar Depressão Cardíaca no Choque Hemorrágico Progressivo. No intestino, bactérias Gram-negativas mortas liberam uma toxina denominada endotoxina. Essa toxina, por sua vez, pro- voca um aumento no metabolismo celular, o qual pode ser prejudicial durante o choque, pois as células que ainda estão vivas contam com um suprimento nutricional precário. A 315/1435 endotoxina deprime especificamente o coração. Esses dois fatores podem levar à lesão celular progressiva e choque. Ocorre Deterioração Celular Disseminada Durante o Choque Hemorrágico Progressivo. Durante o choque, a lesão celular generalizada normalmente ocorre primeiro nos tecidos que apresentam metabolismo in- tenso, como o fígado. Entre os efeitos que causam lesão celu- lar, estão: • Redução do transporte ativo de sódio e potássio através das membranas celulares. O sódio se acumula no interior das células, o potássio é perdido e as células começam a aumentar de volume. • A atividade mitocondrial diminui. • Os lisossomos começam a se dividir nos tecidos, em todas as partes do corpo, liberando hidrolases que causam lesão intracelular disseminada. • O metabolismo celular da glicose diminui. Choque Irreversível (p. 295) Durante o choque irreversível, mesmo que uma transfusão de sangue possa elevar temporariamente o débito cardíaco e a pressão arterial até os níveis normais, o débito cardíaco volta a cair e leva o indivíduo à morte em pouco tempo. O aumento temporário do débito cardíaco não evita o dano te- cidual disseminado causado por acidose, liberação de hidro- lases, coágulos sanguíneos e outros fatores destrutivos. Com 316/1435 isso, atinge-se um estágio após o qual nem mesmo uma rig- orosa terapia é eficaz. Uma das principais causas do choque irreversível é a de- pleção de compostos fosfatados de alta energia. Uma vez que o trifosfato de adenosina (ATP) é degradado no interior da célula para difosfato de adenosina, monofosfato de adenos- ina e, por fim, adenosina, esta sofre difusão para fora da célula e é convertida em ácido úrico, o qual, por sua vez, não consegue retornar para dentro da célula. Novas molécu- las de adenosina podem ser sintetizadas a uma taxa de apen- as 2% da concentração celular total a cada hora. Os compos- tos fosfatados de alta energia são, portanto, de difícil regen- eração durante o choque e isso contribui para o estágio final do choque irreversível. Fisiologia do Tratamento do Choque (p. 297) Terapia de Reposição Como o Choque Hemorrágico é Causado pela Perda de Sangue, a Terapia de Escolha é a Reposição de Sangue. A infusão endovenosa de sangue total é extremamente útilpara o tratamento do choque hemorrágico. A maioria dos bancos de sangue estoca sangue sob a forma de concentrado de hemácias, embora também disponibilizem plasma fresco congelado. A combinação de concentrado de hemácias e plasma atualmente é utilizada para tratar o choque hipo- volêmico, substituindo o sangue total. Outras terapias, como a infusão de norepinefrina, apresentam poucos benefícios. 317/1435 Em condições de “guerra”, frequentemente não há disponib- ilidade de concentrado de hemácias e, nessas condições, o plasma tem sido substituto. O plasma mantém a pressão col- oidosmótica do sangue, porém o hematócrito diminui com a terapia e uma carga extra é imposta ao coração, pois é pre- ciso que o débito cardíaco aumente para manter o aporte de oxigênio aos tecidos. A administração de sangue, portanto, constitui a melhor terapia para o choque hemorrágico. Se tanto o concentrado de hemácias quanto o plasma es- tiverem indisponíveis para o tratamento do paciente com choque hemorrágico, pode ser utilizado um substituto para o plasma. Esse substituto deve ter uma alta pressão coloidos- mótica, de modo a evitar que o líquido transude rapida- mente através dos poros capilares para o interstício. A dex- trana e os polímeros polissacarídeos de alto peso molecular foram desenvolvidos e comprovou-se que essas substâncias permanecem no compartimento sanguíneo após a infusão endovenosa. Como a Perda de Plasma É Causada Pelo Choque Hipovolêmico em Pacientes Com Obstrução Intestinal ou Queimaduras, a Infusão de Plasma Constitui a Terapia de Escolha. Na obstrução intestinal, o bloqueio e a distensão dos intesti- nos impedem parcialmente o fluxo sanguíneo venoso e, as- sim, aumentam a pressão capilar e intensificam o extravas- amento de líquido altamente proteináceo para o lúmen in- testinal. Um bloqueio intestinal grave pode levar ao choque. Entretanto, se uma infusão endovenosa de plasma é realiz- ada em pouco tempo, as condições hemodinâmicas são 318/1435 rapidamente restauradas de volta ao normal. Em pacientes com queimaduras graves, o plasma transuda através das áreas lesadas da pele e causa uma acentuada diminuição do volume plasmático. Nessa situação, a terapia adequada para o choque é a infusão endovenosa de plasma. Como o Choque Hipovolêmico É Causado Pela Perda de Água e Eletrólitos em Pacientes com Desidratação, a Terapia de Escolha é a Infusão Endovenosa de Uma Solução Eletrolítica Balanceada. Várias condições podem resultar em desidratação, tais como vômitos, diarreia, transpiração excessiva, diabetes melito, diabetes insípido, uso excessivo de diuréticos, destruição dos córtices adrenais com perda de aldosterona e perda de líquidos através de rins nefróticos. Quando a desidratação é grave, pode haver choque. Esse problema pode ser corrigido se o indivíduo receber prontamente uma infusão endovenosa de uma solução eletrolítica balanceada, como a solução de Ringer lactato. O Choque Traumático Pode Ser Causado por Hipovolemia e Dor. Com frequência, um paciente com traumatismo resultante de uma contusão grave também sofre hipovolemia. A adminis- tração de sangue pode corrigir essa hipovolemia, contudo, a dor associada ao traumatismo constitui um fator agravante. Essa dor por vezes inibe o centro vasomotor e provoca re- dução do débito simpático, o que pode diminuir a pressão arterial e o retorno venoso do sangue ao coração. A 319/1435 administração de um analgésico apropriado pode ajudar a aliviar a dor e seus efeitos sobre o sistema nervoso simpático. O Choque Neurogênico É Causado Pelo Aumento da Capacidade Vascular. Portanto, a Terapia Deve Reduzir e Normalizar essa Capacidade. O choque neurogênico resulta de uma perda repentina do tônus vasomotor em todo o corpo, com consequente aumento da capacidade vascular total. O volume sanguíneo normal torna-se insuficiente para preencher o sistema circu- latório da maneira adequada. Como resultado, a pressão mé- dia de enchimento sistêmico diminui. Algumas causas de choque neurogênico são: • Anestesia geral profunda, que deprime o centro vasomotor. • Anestesia espinal, especialmente quando o agente anestésico migra pela medula espinal para cima e bloqueia o fluxo simpático. • Lesão cerebral, como aquela causada por concussão cerebral ou contusão em áreas da base do cérebro, próximas ao centro vasomotor, o que diminui consideravelmente o fluxo simpático a partir do centro vasomotor. A terapia de escolha para o choque neurogênico é a in- fusão endovenosa de um fármaco simpatomimético, como a norepinefrina ou a epinefrina, para reposição da perda do tônus vascular neurogênico. 320/1435 O Choque Anafilático É Causado por uma Reação Alérgica. Quando um antígeno entra na circulação sanguínea de um indivíduo altamente alérgico, ocorre uma reação antígeno- anticorpo. Um dos principais efeitos dessa reação é a liber- ação de histamina (ou de substâncias análogas à histamina) por basófilos e mastócitos. A histamina produz diversos efei- tos, entre os quais: • Aumento da capacidade vascular decorrente da vasodilatação. • Dilatação arteriolar, que reduz a pressão arterial. • Aumento da permeabilidade capilar, com consequente perda de líquidos a partir do compartimento vascular. Tais efeitos produzidos pela histamina podem reduzir a pressão arterial e o retorno venoso, causando choque ana- filático. O indivíduo pode morrer minutos após o apareci- mento dos sintomas de choque anafilático. A rápida adminis- tração de um fármaco simpatomimético, que reduz a capa- cidade vascular e induz constrição arteriolar, frequente- mente salva a vida do paciente. O Choque Séptico É Causado pela Ampla Disseminação de Bactérias por Todo o Corpo. Existem várias causas de choque séptico, sendo todas inicia- das por uma infecção bacteriana. Quando há disseminação bacteriana suficiente por todo o corpo, diversos efeitos são observados, tais como: 321/1435 • Febre alta. • Alta taxa metabólica. • Acentuada vasodilatação por todo o corpo. • Elevado débito cardíaco, decorrente de vasodilatação peri- férica, em cerca da metade dos pacientes. • Estagnação de sangue como consequência da aglutinação de hemácias. • Coagulação intravascular disseminada. Um caso especial de choque séptico ocorre quando bactérias colônicas, que contêm uma toxina denominada en- dotoxina, são liberadas durante o estrangulamento intestinal. Para os demais tipos de choque mencionados, a terapia inclui: • Posicionar o paciente com a cabeça abaixada, o que pro- move o retorno venoso. • Administração de oxigênio. • Administração de glicocorticoides para estabilização dos lisossomos (que também mostrou-se útil em casos de choque anafilático). Outros Efeitos do Choque Sobre o Corpo Durante o choque, especialmente no choque hipovolêmico, a diminuição do débito cardíaco reduz o aporte de oxigênio e nutrientes nos tecidos, bem como a remoção de dióxido de carbono e outros produtos residuais. Pode haver lesão celu- lar disseminada, com comprometimento da capacidade 322/1435 mitocondrial de síntese de ATP e depressão da bomba de sódio-potássio localizada na membrana celular. Outros efei- tos são: • Fraqueza muscular. • Queda da temperatura corporal decorrente do metabolismo reduzido. • Depressão da função mental. • Depressão da função renal e deterioração renal. 323/1435
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