Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
____________________________ ¹ Acadêmico do Curso de Bacharelado em Ciências Contábeis da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná – UNIJIPA. E-mail: matheus_aquiles@yahoo.com ² Mestre em Ciências Contábeis pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), Blumenau – SC., Pós-Graduação em Ciências Contábeis, UNISUL, Tubarão – SC. Bacharel em Ciências Contábeis e em Economia, UNISUL, Tubarão – SC. Contador e Professor de graduação desde 1985. NOVOS PADRÕES E NORMATIVAS CONTÁBEIS INTERNACIONAIS RECEPTADAS PELA LEI 11.638/07 Matheus Marques Aquiles de Souza¹ Prof. Ms. Manoel Salésio de Mattos² RESUMO: Este artigo busca retratar os aspectos contábeis da Lei 11.638/07 e suas alterações, referentes ao período que compreende desde a sua promulgação até os dias atuais. A implantação da nova Lei levou aos contabilistas o dever de se readaptarem às novas exigências que lhes foram incumbidas. Como exemplo desta readaptação, temos a introdução de novas demonstrações contábeis que passaram a ser exigidas, sendo a demonstração de fluxo de caixa e a demonstração de valor adicionado, que antes não eram obrigatórias. Entender as características dos profissionais contábeis quanto às evoluções neste âmbito, são essenciais para se determinar o “impacto” ocorrido e como a classe contábil reagiu às mudanças. Assim, traçando quais foram as perspectivas decorrentes disto e sua importância direta com a técnica contábil. PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade Internacional. Lei 11.638/07. IFRS. CPC. 1 INTRODUÇÃO A partir da Lei nº 11.638/07 e a medida provisória nº 449/08, houve no campo contábil alterações, que modificaram as técnicas contábeis utilizadas no Brasil. Decorrente disto, os métodos presentes contidos no bojo da Lei 6.404/76 sofreram mudanças de imprescindível necessidade no âmbito contábil de adequação aos novos conceitos, trazidos pela nova Lei e pelos pronunciamentos técnicos do Comitê de Pronunciamento Contábeis (CPC). Sendo assim, os contabilistas deveriam mudar seus comportamentos e modificar sua forma de atuação em suas funções, seguindo os conceitos universalizados. Pois o então momento vivenciado era transitório e as constantes mudanças que buscavam a unificação universal dos padrões contábeis eram evidentes. Para Faria e Rosa (2010) “consequentemente, com a promulgação da Nova Lei das S/A, o profissional teve e tem que se adaptar às novas exigências e formas de realizar seu trabalho, resgatando assim o seu valor agregado, que é o intelectual”. Logo, nota-se outra perspectiva do mercado quanto ao contabilista. 2 2 METODOLOGIA A metodologia aplicada se baseia na pesquisa bibliográfica através de revistas, livros e artigos científicos com expressão nacional. Estas ferramentas balizadoras irão fundamentar e validar a proposta apresentada. A pesquisa bibliográfica permite ao pesquisador conhecer o que já foi analisado e estudado sobre o assunto (GERHARDT E SILVEIRA apud FONSECA, 2009, p.37). Gerhardt e Silveira apud Fonseca (2009, p.37) relatam que “existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta”. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Visto que o cenário brasileiro deixava a desejar quanto aos controles contábeis que resultassem maior transparência e fidedignidade às demonstrações contábeis quanto ao tratamento internacional e globalizado destas, e que no campo mundial existia a dependência de fatores que fornecessem informações claras, logo, foi elaborado o projeto de lei que iria transformar o “modus operandi”, aos quais as Sociedades Limitadas eram regidas. Como a “Lei das S/A’s” tem sido base da contabilidade brasileira geral, com sua alteração, logo toda a contabilidade foi transformada. Sua finalidade (da “Nova Lei das S/A’s”), de acordo com Faria e Rosa (2010) é a “harmonização dos padrões contábeis, que vem sendo exigida pelos mercados internacionais, é um processo que busca a conciliação dos procedimentos contábeis de diversos países de modo que a comparação entre as demonstrações contábeis seja mais fácil”. Cabe ainda notar que este novo paradigma representou um grande avanço quanto às metodologias contábeis. Sendo assim os contabilistas passaram de um patamar de categoria a outro em um curto espaço de tempo e ganham uma importância ainda maior na atuação de suas atribuições. Marion e Santos (2001) definem que a antiga fase mecânica do contador se tornou obsoleta e o perfil técnico da era da informação deve ser voltado a este momento de transição, com um profissional tendo o dever de estar sempre atualizado, para então poder ter capacidade suficiente de prestar informações contábeis. O ano de transição ocorreu com as 3 novas normas implantadas no nosso ordenamento contábil e contidas no bojo da “Nova Lei das S/A’s”. Veloso (2009) define que: A Lei nº. 11.638/2007 mudou a estrutura da Contabilidade, onde os dados serão contabilizados visando fornecer uma informação fidedigna aos usuários externos e internos. A Ciência Contábil passou a ser tratada com o padrão e entendimento mundial, esta nova linguagem universal impactou a interpretação e análise dos dados contábeis, ou seja, o profissional contábil deixa de ser operacional para voltar-se a análise dos resultados. Isto proporciona uma valorização dos contadores que se adequarem às novas exigências, só assim o contador vai ser mais bem avaliado pelo seu cliente e vice-versa. Neste momento, a contabilidade vivia um avanço de grande proporção, pois tal apresentava como resultado a universalização das normas, assim abrindo portas do mercado brasileiro ao internacional. As técnicas até então vigentes que balizavam a contabilidade brasileira, tinham como base a lei 6404/76, logo, além de estar desatualizada, gerava ambiguidades quando se tinha a necessidade da contabilização nas negociações internacionais. Faria e Rosa (2010) observam que: [...] a nova lei traz uma valorização e uma grande mudança na postura dos profissionais contábeis envolvidos nas elaborações, análise e publicações das demonstrações contábeis, pois essa lei destaca a primazia da essência sobre a forma, exige uma análise de riscos e benefícios sobre a propriedade jurídica e as normas são orientadas por princípios e não por regras formalizadas, muda a forma de pensar e fazer contabilidade. Para tanto, os contabilistas devem manter-se atualizados observando as publicações e pronunciamentos do CPC, bem como para as obrigações tecnológicas instituídas pelos órgãos federais, como por exemplo, o Sped. Também com esta visão, Dias e Caldarelli (2008) descrevem que a nova lei contábil causou impacto na qualificação dos contadores, pois ela acrescentou às funções dos contadores um novo olhar, aquele que indica o futuro das corporações. Logo, a importância do profissional e dos seus relatórios são fundamentais para as organizações. Deve-se então o contabilista prezar pela sua capacitação para então corresponder com o esperado para suas funções, cumprindo de forma eficaz seu trabalho. Relata Marion e Santos (2011) que, “hoje, se espera que o contador esteja em constante evolução, pois, além de uma série de atributos indispensáveis nas diversas especializações da profissão contábil [...]”. Logo, não pode se esperar as mudanças 4 acontecerem, mas antes que estas aconteçam, o profissional deve estar ciente e procura-las, antevendo-se à situação. Outro detalhe sobre a nova postura do contador é conceituadapor Lara (2010) que descreve: [...] diante de todas essas alterações, o que se verifica é que, além da mudança em normas, muda também a filosofia, a postura, o pensamento e a atitude, exigindo dos gestores e profissionais ligados a esta ciência uma nova filosofia, a da primazia da essência sobre a forma orientada por princípios e não mais por regras formalizadas e detalhadas, exigindo constantemente capacidade de julgamento profissional. [sic]. Desta forma temos a premissa de que o profissional, por obrigação, é incumbido de ampliar seus conhecimentos para então atender a legislação. Por principio o contabilista deve sempre estar atualizado, para então relatar informações a quem importar. Neste caso em questão, a renovação do ordenamento jurídico levou toda a classe a estar apta e dentro dos conformes jurídicos, que passaram a vigorar de uma ótica globalizada. Partindo deste conceito de obrigação e do principio da informação fidedigna que o contabilista deve prestar, após a renovação legislativa e normativa, o contabilista assume um papel imprescindível nas organizações, seu perfil consequentemente é modificado e passa desde então a estar vinculado a sempre manter-se com plenos saberes. O mundo econômico e contábil já exigia isto, logo, é dever do contabilista buscar a educação contínua independente do tipo de organização que este preste seus serviços. Nisto, a postura do contador naquele momento, assume responsabilidades ainda maiores de atualizar-se de acordo com as Normas Internacionais Contábeis. Em primeiro momento os contabilistas, logicamente, tinham a obrigação de cumprir o que o ordenamento jurídico regia. Mas, além disto, o fato de todos estarem vinculados a esta situação desencadeou a seguinte situação: cumprir as obrigações determinadas por lei e atender as novas expectativas de mercado, que então exigia do profissional perícia nas novas demandas técnicas. 3.1 - Primeiros efeitos e mudanças pela Lei 11.638/07 e 11.941/09 – Demonstrações Financeiras A partir da promulgação, temos alterações nos seguintes artigos da 6404/76: 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199, 226 e 248 (BRASIL. Lei nº 6404, 1976). Pela vacância que teve até a aprovação desta Lei, as normas contábeis continuavam a evoluir e então se 5 houve com a promulgação da 11.638/07 a necessidade de atualização desta, que por meio da MP 449/08 (logo após aprovação passou a vigorar como a Lei 11.941/09) redigiu novos ajustes. No artigo 176, inc. IV é definida a exigência da Demonstração do Fluxo de Caixa que veio substituir a obrigatoriedade da DOAR (Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos). A Demonstração do Fluxo de Caixa é ditado pela IAS 7, e seu objetivo é requerer a divulgação de informações sobre as alterações históricas de caixa e seus equivalentes, por meio de uma demonstração de fluxo de caixa que classifique os fluxos provenientes de atividades operacionais, de investimento e de financiamento . No caso das companhias de capital fechado de acordo com o parágrafo 6º da 11.638, a exigência não é incumbida para organizações que na data do fechamento do balanço patrimonial apresentar seu patrimônio líquido inferior a dois milhões de reais. Ficou determinada à Lei 6404/76(BRASIL. Lei nº 6404, 1976, Art.188): Art. 188. I – demonstração dos fluxos de caixa – as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa, segregando-se essas alterações em, no mínimo, 3 (três) fluxos: a) das operações; b) dos financiamentos; e . c) dos investimentos; Também regida pelo artigo 176, no inc. V e pronunciada pelo CPC 09, a adoção da Demonstração de Valor Adicionado para as companhias de capital aberto. A DVA corresponde a uma demonstração do acumulo de riquezas da organização e sua distribuição. O valor adicionado representa a riqueza criada pela empresa, de forma geral medida pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Inclui também o valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzido por terceiros e transferido à entidade, vide CPC 09. Com a DVA é possível demonstrar a participação das organizações na formação do PIB, o nível da contribuição da organização, a quantia de tributos recolhidos aos cofres públicos (impostos) e os valores contribuídos com a sociedade e aos colaboradores da organização. Dias e Caldarelli (2008) descrevem sobre as vantagens da publicação da DFC no mercado com relação ao que a publicação desta irá favorecer aos investidores, credores e outros usuários. São estes alguns pontos relatados por Dias e Caldarelli (2008) aos quais os usuários da informação contábil poderão avaliar: 6 A capacidade da empresa de gerar futuros fluxos líquidos positivos de caixa; A capacidade de a empresa honrar seus compromissos, pagar dividendos e retornar empréstimos obtidos; A liquidez, solvência e flexibilidade da empresa; A taxa de conversão de lucro em caixa; O grau de precisão das estimativas passadas de fluxos futuros de caixa; Os efeitos, sobre a posição financeira da empresa, das transações de investimentos e de financiamento, etc. A performance operacional de diferentes empresas, por eliminar os efeitos de distintos tratamentos contábeis para as mesmas transações e eventos.(DIAS e CALDARELLI, 2008). 3.1.2 Balanço Patrimonial pela Lei 11.638/07 Em primeiro momento, a alteração pela 11.638/07 modificou a forma com a qual era apresentado o balanço patrimonial das empresas. Vejamos um quadro comparativo entre a antiga forma dada pela 6.404/76 e a 11.638/07: Gráfico 1 – Comparativo do Ativo no Balanço Patrimonial 6.404/76 11.638/07 ATIVO CIRCULANTE ATIVO CIRCULANTE REALIZÁVEL A LONGO PRAZO ATIVO NÃO CIRCULANTE ATIVO PERMANENTE REALIZÁVEL A LONGO PRAZO - Investimentos - Investimentos - Imobilizado -Imobilizado -Diferido -Intangível -------------- -Diferido Fonte: Marcos Moliga(2015) Verifica-se na alteração da estrutura do ativo, a eliminação da conta de ativo permanente que se tornou ativo não circulante. Ainda neste período, a conta de ativos diferidos, que compreendiam em despesas pré-operacionais que então futuramente iriam compor benefícios aos resultados da organização. Também criada no ativo foi a conta de 7 intangíveis, a qual alocava os bens incorpóreos do patrimônio. A conta realizável a longo prazo foi alocada dentro do ativo não circulante, que por sua vez ficou com a seguinte estrutura até a aprovação da MP 449/08 – Realizável a longo prazo; Investimentos; Imobilizado; Intangível; Diferido. A conta de intangível foi adotada para o nosso ordenamento através desta mudança. Sua função de acordo com o artigo 179 da Lei 6404/07(BRASIL. Lei nº 6404, 1976):, é alocar “os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido”. Augusto e Oliveira (2009) definem que “pode-se conceituar intangível, ao elemento do patrimônio sem aspecto físico compatível com a função que exerce, sendo útil no patrimônio de um empreendimento”. Também pode se definir que “ativos intangíveis são recursos não correntes que não têm substância física e são registrados ao custo, e este custo é amortizado em cima da vida útil do recurso intangível” (PADOVEZE et al apud WEYGANDT el al, 2013,p.328). Também reestruturado pela Lei 11.638/07, foi a conta de imobilizado. Pela Lei 6404/76, no imobilizado compreendia como os benscorpóreos da companhia aos quais não seriam objetos primários à alienação. Logo, passou a suportar não apenas os bens corpóreos da organização, mas também aqueles aos quais seriam transferidos responsabilidades, riscos e benefícios à organização, um exemplo são as operações de leasing de bens corpóreos. De acordo com a IAS 16, os “imobilizados são mantidos para uso na produção ou fornecimento de bens ou serviços, para aluguel a terceiros ou para fins administrativos e espera-se que sejam usados durante mais de um período”. A 11.638 alterou o Passivo com a seguinte estrutura: Gráfico 2 – Comparativo do Passivo no balanço patrimonial 6404/76 11.638/07 PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO PASSIVO NÃO CIRCULANTE RESULTADO DE EXERCICIOS FUTUROS - Exigível a Longo Prazo 8 PATRIMÔNIO LIQUÍDO RESULTADO DE EXERCÍCIOS FUTUROS - Capital Social PATRIMÔNIO LIQUÍDO - Reserva de Capital - Capital Social - Reserva de Reavaliação - Ajuste de Avaliação Patrimonial - Reserva de Lucros - Reserva de Lucros - Lucros ou Prejuízos Acumulados - Prejuízos Acumulados Fonte: Marcos Moliga(2015) Nota-se neste quadro, a mudança de nomenclaturas dentro do Passivo e a criação da conta de “exigível a longo prazo”, dentro do Passivo Não Circulante, este passou a receber todas as obrigações exigíveis acima do período de um ano após o exercício social seguinte ao fechamento do balanço. No patrimônio liquido consequentemente também houve mudança na estrutura, com ênfase na conta de reserva de reavaliações que foi substituída pela conta de ajusta de avaliação patrimonial. Tal mudança deve ao fato de que a conta de reserva de reavaliação se adequava apenas como conta de contrapartida de aumento dos ativos, ao contrário da APP, visto que esta possibilita lançamentos de aumento e redução do ativo, logo, tornando possível atender os critérios de valor justo e valor presente na avaliação do patrimônio. A conta de ajuste de avaliação patrimonial tem como característica distinta ser uma conta hibrida, a qual recebe lançamentos a crédito e débito das variações de valores do ativo, sendo que os lançamentos a débito reduzem valores do ativo e lançamentos a crédito correspondem a aumentos no ativo e do passivo. De acordo com a Lei 11.941/09 no artigo 182, § 3 o que até o momento aqui relatado ainda não havia sido criada, temos a seguinte determinação: Art. 182. § 3 o . Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao 9 regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo [...].[sic] Augusto e Oliveira (2009) citam que o passível exigível a longo prazo foi incorporado ao passivo não circulante. Juntamente, a conta de resultado de exercícios futuros também foi incorporada ao não circulante, tendo em vista que após a MP 449/08, esta conta foi eliminada do balanço e seus valores foram repassados ao passivo não circulante na conta de receitas diferidas. Também relata Augusto e Oliveira (2009), que a conta de lucros e prejuízos acumulados passara então a compreender apenas como prejuízos acumulados, visto que a conta de lucros acumulados de acordo com a CVM na normativa 448/05 já não existira para companhias de capital aberto. Logo, esta conta não poderia ter saldo positivo nos balanços de companhias abertas, pois ao final do exercício o lucro era pago como dividendos aos acionistas ou alocado na conta de reserva de lucros para a reinvestimentos. 3.1.3 Balanço Patrimonial após Lei 11.941/09 O período que levou até a promulgação da “Nova Lei das S/A’s” causou em contrapartida a desatualização da mesma, como dito anteriormente. Então até o momento de promulgação vários conceitos faziam-se necessários a serem reajustados. Logo, a Medida Provisória 449/08 tratou destes aspectos e a partir de sua promulgação tornou se a Lei 11.941/08. A partir de então passou a vigorar a seguinte estrutura no Balanço Patrimonial: Gráfico 3 – Ativo e Passivo de acordo com a Lei 11.638 e lei 11.941/09 ATIVO 11.638/07 11.941/09 ATIVO CIRCULANTE ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE REALIZÁVEL A LONGO PRAZO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO 10 - Investimentos - Investimentos - Imobilizado -Imobilizado -Intangível -Intangível -Diferido -------------- Fonte: Marcos Moliga (2015) PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE - Exigível a Longo Prazo - Exigível a Longo Prazo RESULTADO DE EXERCÍCIOS FUTUROS PATRIMÔNIO LIQUÍDO PATRIMÔNIO LIQUÍDO - Capital Social - Capital Social - Ações em Tesouraria - Ajuste de Avaliação Patrimonial - Ajuste de Avaliação Patrimonial - Reserva de Lucros - Reserva de Lucros - Prejuízos Acumulados - Prejuízos Acumulados Fonte: Marcos Moliga(2015) Pela análise das tabelas, vemos no lado do ativo a eliminação da conta de diferidos, com resultado disto, Augusto e Oliveira (2009) relata que foi necessária a baixa dos valores desta conta e então a transferência para outras contas do ativo e certas despesas pré operacionais foram direcionadas ao imobilizado. Padoveze et al (2010,p.514) também se refere a esta alteração e complementa que após o período de 31 de outubro de 2008, os valores desta conta continuariam a ser amortizados em até 10 anos e sujeitos ao teste de impairment. De acordo com a Lei 6404/76 no artigo 179 logo após as mudanças pela Lei 11.638 e 11.941, ficou definida a seguinte estrutura para o ativo: Art. 179. As contas serão classificadas do seguinte modo: 11 I - no ativo circulante: as disponibilidades, os direitos realizáveis no curso do exercício social subsequente e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte; II - no ativo realizável a longo prazo: os direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas (artigo 243), diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia; III - em investimentos: as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulante, e que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa; IV – no ativo imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens; VI – no intangível: os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido. (BRASIL. Lei nº 6404, 1976,Art.179). Percebe-se na estrutura do passivo a retirada da conta de resultado de exercícios futuros, como havia sido relatado anteriormente. Padoveze et al (2010,p.514) relata que: O resultado de exercícios futuros foi extintoa partir do exercício de 2008, em função da alteração da Lei nº 6.404/76 pela Medida Provisória nº 449/08. Todavia, os saldos existentes em 31 de dezembro de 2008 e 2007 foram reclassificados para o passivo circulante- receita diferida. No Artigo 182 no parágrafo 4º foi definido que “serão classificados como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da companhia”. Outra mudança definida pelo artigo 182 fixada no parágrafo 5º o qual relata que “as ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição”. 3.1.4 Mudanças nos critérios de avaliação do ativo A partir do artigo 183 da Lei 6404/76 temos os critérios adotados a partir das Leis 11.638/07 e 11.941 quanto à avaliação de ativos. Em primeiro momento será tratado sobre a definição dos seguintes métodos: Valor justo, valor presente e valor de mercado. O Valor justo é definido pelo CPC 46 como o “valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um passivo liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e 12 independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória”. Já o valor presente de acordo com o CPC 12 “é a estimativa do valor corrente de um fluxo de caixa futuro, no curso normal das operações da entidade.” “Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da entidade”, isto de acordo com a NBC T1. Para Ayres e Mignoni et al (2011), o objetivo do valor presente é “melhorar a informação contábil, segregando os juros embutidos nos valores das operações de longo prazo e, quando tiverem efeitos relevantes, nas de curto prazo. Esse dispositivo visa apropriar os juros conforme a sua competência.” O Valor de mercado de acordo com a NBC T4 “Valor de mercado é o preço à vista praticado, deduzido das despesas de realização e da margem de lucro. As avaliações feitas pelo valor de mercado devem ter como base transação mais recentes, cotação em bolsa e outras evidências disponíveis e confiáveis”. Ayres e Mignoni et al (2011) descrevem sobre o valor justo que: Valor justo ou Fair value: na alínea a, inciso I do art. 183, que define os critérios de avaliação do ativo, incluiu os conceitos de avaliação por valor justo quando se tratar de aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em títulos de crédito destinadas à negociação ou que ficarão disponíveis para vendas classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo. Também Ayres e Mignoni et al (2011), conceituam sobre o valor presente, ao qual “no inciso VIII, determina que os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão ajustados a valor presente e os demais quando houver efeito relevante”. No inciso I do artigo 183 da Lei 6404/76, define que os instrumentos financeiros e os seus derivativos seriam avaliados a valor justo quanto se tratassem de instrumentos disponíveis para venda ou à negociação, e valor presente “quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito”. Tais instrumentos financeiros são descritos por Padoveze et al (2010,p.376) como “ qualquer contrato que origine um ativo financeiro para uma empresa e um passivo financeiro ou título patrimonial para outra empresa”. Padoveze et al (2010,p. 378) conceituam que os instrumentos financeiros têm duas finalidades distintas, eles podem ser para negociação ou proteção (hedge). E de acordo com sua classificação podem ser: 13 “Primários: instrumentos financeiros que dão origem a ativos e passivos. São os recebíveis, pagáveis, empréstimos e financiamentos, entre outros;” “Secundários: instrumentos financeiros cuja característica principal é a alteração do seu valor em resposta às mudanças em seus indexadores, tais como: taxas de juros, taxas de câmbio, preços de mercadorias, entre outros.” Assim descreve o artigo 183, no inciso I: Art. 183. I - as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em direitos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo: a) pelo seu valor justo, quando se tratar de aplicações destinadas à negociação ou disponíveis para venda; e b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito; (BRASIL. Lei nº 6404, 1976, Art.183). Outro conceito receptado à Lei 6404/76, foi quanto a avaliação de intangíveis. É descrito no inciso VII que os direitos classificados no intangível serão avaliados pelo custo incorrido na aquisição deduzido do saldo da respectiva conta de amortização. Padoveze et al (2010,p. 378) relata que “ um ativo intangível adquirido separadamente deve ser mensurado inicialmente pelo seu custo de aquisição, que inclui o preço pago na aquisição e quaisquer custos indiretamente atribuíveis na preparação do ativo intangível para seu uso[...]”. Aos ativos realizáveis a longo prazo pelo artigo 183, inciso VIII, é definido “que serão ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante”. Sobre este critério será utilizado “uma taxa externa ou uma taxa já estabelecida. Quando da não existência da taxa, poderá ser utilizada uma taxa do uso do custo do capital trazendo a valor presente [...]” (AUGUSTO e OLIVEIRA, 2009). O método de impairment foi uma grande novidade no ordenamento contábil brasileiro. Também decorrente da Lei 11.638/07 e reajustado pela 11.941/08, o impairment compreende como “declínio no valor de um ativo ou dano econômico”, ao dizer de Padoveze et al (2010,p. 277). Este método ajusta o ativo quando o valor deste é acima do valor de mercado ou seu valor recuperável. Também complementa Augusto e Oliveira (2009), que o objetivo do impairment “é não deixar que o valor do ativo imobilizado seja superior ao valor de mercado ou o valor de uso, atingindo sua finalidade em não deixar o ativo inchado”. 14 Tal método é determinado pelo IAS 36, o qual procede que o impairment é aplicado em uma entidade para garantir que os ativos da mesma não tenham valores que exorbitem o limite de seu valor recuperável. O CPC 01 conceitua que “um ativo está registrado contabilmente por valor que excede seu valor de recuperação se o seu valor contábil exceder o montante a ser recuperado pelo uso ou pela venda do ativo”. 3.1.5 Mudança nos critério de avaliação do passivo não circulante Na estrutura do passivo, a Lei 11.941/08 definiu para as obrigações, encargos e riscos compreendidos no passivo não circulante, serão ajustados a valor presente. Quanto aos demais casos definidos pelo artigo 184, não houve alterações. Sendo assim, as obrigações circulantes poderão ser atualizadas até a data do balanço. Já obrigações em moedas estrangeiras serão convertidas em moeda de nacional à taxa de cambio em vigor na data do balanço. 3.1.6 Método de Equivalência Patrimonial Quantos aos investimentos das organizações houve um novo conceito adotado para a contabilidade brasileira no que diz respeito ao método de avaliação e reconhecimento de investimentos em coligadas. Tal premissa diz respeito ao método de equivalência patrimonial. Como exemplo de equivalência patrimonial, temos o caso em que “quando se adquireações ou cotas de uma empresa, se está adquirindo parte proporcional no patrimônio liquido da investida, na proporção que as quantidades das ações ou cotas adquiridas representam no total [...]” (PADOVEZE et al 2010,p. 187) pertencente de tal investida. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a globalização, as mudanças na contabilidade foram expressivas ao ponto de que atualmente faz-se necessário a cada dia, as atualizações nos parâmetros que visem à harmonização mundial. Sendo assim, os responsáveis pelas informações contábeis estão vinculados a uma contabilidade que não se limita apenas ao local, mas após tais convergências o foco contábil e a abrangência de informações se tornaram universal. 15 Sobre esta harmonização, Niyama (2010, p. 37) descreve que o papel desta, que muitas vezes é classificada como “padronização”, compreende em “um processo que busca preservar as particularidades inerentes a cada país, mas que permita reconciliar os sistemas contábeis com outros países de modo a melhorar a troca de informações a serem interpretadas e compreendidas [...]”. Logo, mesmo o contabilista atendendo uma empresa de um porte menor, suas demonstrações elaboradas devem ser feitas de forma que em qualquer local do mundo aonde já se tenha o padrão internacional das normas contábeis, seja possível de ser interpretado. Por tal motivo, depende o profissional de amplo conhecimento e pensamento dinâmico, para então ter capacidade de atender os usuários da informação contábil. No caso em questão, a Lei 11.638/07 e a 11.941/09 abriram portas ao mercado mundial para o Brasil através da aceitação de conceitos contábeis que visam a harmonização das técnicas contábeis. Muitas vantagens e benefícios foram vindouros de tais mudanças, como por exemplo, a maior confiabilidade de investidores e usuários sobre as informações contábeis e a redução de custos com as divergências de informações contábeis. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALGUSTO, MARIA DE FATIMA PIRES; OLIVEIRA, CELSO ROMÁRIO – As Modificações Ocorridas no Balanço Patrimonial Segundo a Lei 11.638/07 e Lei 11.941/08 . Disponível em: http://sudamerica.edu.br/argumentandum/artigos/argumentandum_volume_1/BALANCO_PA TRIMONIAL_FATIMA.pdf. Acesso em: 20 de maio de 2015. AYRES, R.M; MIGNONI, T.C; SILVA, P. R; SZUSTER, NATAN. O Ativo e suas Avaliações: A Estrutura de Mensuração Atual Reconhece o Impacto da Flutuação do Poder Aquisitivo da Moeda?. Disponível em: http://www.atena.org.br/revista/ojs-2.2.3- 06/index.php/pensarcontabil/article/viewFile/1195/1130. Acesso em: 29 de agosto de 2015 BRASIL. Lei nº 6404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Publicada em 17.12.1976. BRASIL. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei n o 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei n o 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras.. Publicada em 28.12.2007. BRASIL. Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal relativa ao parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que especifica; institui regime tributário de transição. Publicada em 28.05.2009. . 16 CERVO, AMADO LUIZ; BERVIAN, PEDRO ALCINO; SILVA, ROBERTO DA. Metodologia Científica. 6ª Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC 46 – Mensuração do Valor Justo, de 20 de outubro de 2012. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC 12 – Ajuste a Valor Presente, de 17 de dezembro de 2008. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável dos Ativos, de 07 de outubro de 2010. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC 13 - Adoção Inicial da Lei nº. 11.638/07 e da Medida Provisória nº. 449/08, de 17 de Dezembro de 2008. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado (DVA), de 12 de novembro de 2008. DIAS, ADRIANA MARQUES; CALDARELLI, CARLOS ALBERTO. Lei 11.638: Uma Revolução na Contabilidade das Empresas. São Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2008. FARIA, J. C; ROSA, D.C. D - O Impacto da Lei 11.638/07 no Mundo Contábil. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2010/anais/arquivos/0022_0376_01.pdf>. Acesso em: 08 de maio de 2015. LARA, ELISEU PEREIRA - A Estrutura do Balanço Patrimonial: Um Comparativo Antes e Depois da Adoção do Padrão Contábil Internacional. Disponível em: http://www.univale.com.br/portalnovo/images/root/anaisadmix/1.pdf. Acesso em: 30 de agosto de 2015. GERHARDT, TATIANA ENGEL; SILVEIRA, DENISE TOLFO. Método de pesquisa. Coordenado pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo curso de graduação tecnológica – planejamento e gestão para o desenvolvimento rural da SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS,2009. Disponível em: http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf. Acesso em: 30 de agosto de 2015. MARION, J.C; SANTOS, M.C – O Perfil do Futuro Profissional e sua Responsabilidade Social. Disponível em: http://www.crcpr.org.br/new/content/publicacao/revista/revista129/perfil.htm. Acesso em: 07 de maio de 2015. MOLIGA, MARCOS – A Nova Visão Contábil Após a Lei 11.638/2007. Disponível em: http://www.contabeis.com.br/artigos/790/a-nova-visao-contabil-apos-a-lei-116382007. Acesso em: 07 de maio de 2015. NIYAMA, JORGE KATSUMI – Contabilidade Internacional. 2ªed. – São Paulo: Atlas, 2010. 17 NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE – NBC 14 T4 – Avaliação Patrimonial. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t4.htm. Acesso em: 29 de agosto de 2015. NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE – NBC T1 – Estrutura Conceitual Para Elaboração e Apresentação Das Demonstrações Contábeis. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/01/Livro_Principios-e-NBCs.pdf. Acesso em: 29 de agosto de 2015. PADOVEZE, C.L; BENEDICTO, G.C; LEITE, J.D.J – Manual de Contabilidade Internacional: IFRS; US GAAP E BR GAAP. 2ª ed – São Paulo: Cengage Learning, 2013. VELOSO, C.C – A Nova Visão Contábil Após a Lei 11.638/2007: O Impacto na Área Societária e na Gestão de Custos das Empresas Brasileiras. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/a-nova-visao-contabil-apos-a-lei-11-638-2007-o-impacto- na/26303/>. Acesso em: 07 de maio de 2015.
Compartilhar