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Faculdade de Direito de Ipatinga Direito Constitucional Revisão de Conteúdo [ F a c u l d a d e d e D i r e i t o d e I p a t i n g a | P r o f . D a n i e l L i m a S a n t o s ] 1 2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 2.1. Princípios e regras constitucionais. 2.2. Estrutura da Constituição brasileira de 1988. 2.3. Preâmbulo. 2.4. Fundamentos. 2.5. Separação de poderes. 2.6. Objetivos. 2.7. Princípios regentes das relações internacionais. 2.1. Princípios e regras constitucionais. O sistema constitucional (Constituição Federal) representa um conjunto de normas, que podem ser consideradas com princípios ou regras. Os princípios e as regras, portanto, são espécies do gênero norma. Os princípios constitucionais são normas de natureza geral, cujo conceito é propositalmente impreciso e aberto justamente para facilitar a interpretação e orientar a aplicação das demais normas, servindo como verdadeiro vetor para a hermenêutica válida da Constituição, como é o caso do princípio da isonomia, previsto no art. 5.°, caput e inciso I da Lei Fundamental. As regras constitucionais são normas específicas, aplicáveis a casos concretos, em que o grau de generalidade é inferior ao dos princípios constitucionais, tratando-se basicamente de uma derivação destes. Como exemplo pode-se citar o art. 40, II da Constituição Federal, que trata da aposentadoria compulsória dos servidores públicos aos 70 anos de idade. O dispositivo simplesmente não abre espaço para interpretação abrangente. Não se pode confundir princípios com direitos e garantias fundamentais, conforme normas contidas no Título II da Constituição Federal (art. 5.° a 17). De fato, parte das disposições do Título II da Lei Maior são princípios, como o mencionado caput do art. 5.° e alguns dos seus incisos, a exemplo da legalidade (inciso II) e a ampla defesa e contraditório (inciso LV), mas outra parte são regras, como a proibição à tortura e ao tratamento desumano ou degradante (inciso III), que é uma regra, assim também o inciso XI (inviolabilidade domiciliar). Os princípios constitucionais do Estado brasileiro estão previstos no Título I da Constituição Federal, sob a denominação “Dos Princípios Fundamentais”, sendo divididos em fundamentos (art. 1.°), separação de poderes (art. 2.°), objetivos fundamentais (art. 3.°) e princípios regentes das relações internacionais (art. 4.°). 2.2. Estrutura da Constituição brasileira de 1988. Segundo Pedro Lenza, a Constituição Federal de 1988 pode ser estruturada da seguinte forma: preâmbulo, corpo (art. 1.° a 250) e Ato das Disposições Constitucionais Normas (Preceitos) Princípios Regras Faculdade de Direito de Ipatinga Direito Constitucional Revisão de Conteúdo [ F a c u l d a d e d e D i r e i t o d e I p a t i n g a | P r o f . D a n i e l L i m a S a n t o s ] 2 Transitórias (art. 1.° a 97). O corpo da Constituição é dividido em 9 títulos, de modo que o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, apesar de se situar após os dispositivos integrantes do corpo da Constituição, tem natureza jurídica de norma constitucional, somente podendo ser alterado por emenda à Constituição. Importante ter-se em mente os elementos do Estado que podem ser extraídos do próprio nome da Constituição de 1988: Constituição da República (forma de governo) Federativa (forma de Estado) do Brasil. Forma de Estado é o modo pelo qual o Estado organiza o povo e o território e estrutura seu poder relativamente a outros poderes de igual natureza. Exemplos: federação, confederação, ditadura. Forma de governo refere-se à posição em que se encontram os diversos órgãos constitucionais do Estado. Exemplos: monarquia, aristocracia e república. Observação: não confundir forma de Estado com forma de governo, sistema de governo e regime de governo. No Brasil, como dito, a forma de Estado é a federação; a forma de governo é a república; o sistema de governo é o presidencialismo; e, o regime de governo é democracia. 2.3. Preâmbulo. O preâmbulo é a parte introdutória ou preliminar das constituições, servindo para proclamar os valores e princípios da nova ordem, bem como certificar a legitimidade e a origem do texto constitucional. Não há padrão ou regra fixa para a redação dos preâmbulos, variando eles em conteúdo e tamanho. A doutrina diverge sobre a força normativa do preâmbulo, ou seja, há divergência sobre se o conteúdo do preâmbulo constitucional tem a mesma validade e eficácia das normas do corpo da Constituição e do ADCT ou se seu conteúdo é meramente político. Há três correntes doutrinárias sobre o tema: a) Teoria da irrelevância jurídica, segundo o qual o preâmbulo se situaria fora do domínio do Direito, tratando-se de fator histórico ou meramente político, ou seja, não teria qualquer valor normativo e não equivaleria às normas do corpo constitucional ou do ADCT. b) Teoria da eficácia idêntica, que sugere que o preâmbulo corresponde a um conjunto de preceitos que tem a mesma validade e eficácia de qualquer dispositivo da Constituição, isto é, o preâmbulo seria equivalente a qualquer norma do corpo ou do ADCT. c) Teoria da relevância indireta, a qual defende a ideia de que o preâmbulo não tem força normativa, mas fornece critérios para a interpretação do texto Constituição Federal de 1988 Preâmbulo Corpo (art. 1.° a 250) ADCT (art. 1.° a 97) Faculdade de Direito de Ipatinga Direito Constitucional Revisão de Conteúdo [ F a c u l d a d e d e D i r e i t o d e I p a t i n g a | P r o f . D a n i e l L i m a S a n t o s ] 3 constitucional, ou seja, embora não equivalha às normas do corpo ou do ADCT, serve para auxiliar na interpretação destas. Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal prevalece a teoria da irrelevância jurídica, uma vez nossa Corte Suprema entende que o preâmbulo situa-se apenas no campo político e histórico, não possuindo natureza de norma constitucional. Doutrinariamente, no entanto, prevalece a terceira corrente, já que, analisado separadamente, o preâmbulo não servirá de parâmetro de interpretação, dada sua ausência de força normativa, porém, partindo de uma análise conjunta do texto constitucional, extrai- se certa relevância do preâmbulo, que expõe ao início da Constituição as vigas-mestras sobre as quais será construída. Não é demais pontuar que, apesar de o preâmbulo citar a Constituição Federal estava sendo promulgada “sob a proteção de Deus”, o Brasil é um Estado laico, leigo, sem religião oficial. O constituinte de 1988 apenas reconheceu que a maior parte da população crê em Deus. No Brasil, apenas as Constituições de 1891 e 1937 não evocaram Deus no preâmbulo; em 1891 pelo rompimento do Estado com a Igreja e em 1937 pelo pensamento positivista da época ditatorial. O Deus referido no preâmbulo da Constituição de 1988 é apenas ecumênico, não pertence a esse ou aquele credo religioso, tanto que o STF reconheceu não ser obrigatória sua menção nas Constituições dos Estados. Observação: embora seja incomum, é perfeitamente possível a alteração do texto do preâmbulo através de emenda à Constituição. Apesar de o preâmbulo não ser considerado norma constitucional, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, integra a Constituição Federal e, uma vez integrando-a, pode ter seu texto modificado. 2.4. Fundamentos. Os fundamentos previstos no art. 1.° da Constituição Federal representam princípios que dizem respeito à própria estrutura do Estado brasileiro, sem os quais o constituinte de 1988 entendeu não ser possível a construção de um Estado Democrático de Direito. Conforme referido dispositivo constitucional, são considerados fundamentos da República Federativa do Brasil: soberania, cidadania, dignidadeda pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo político (SO-CI-DI-VA-PLU). Em relação aos fundamentos, merece destaque a soberania, que expressa a liberdade que o Estado brasileiro tem para tomar suas próprias decisões, sem que ter que se submeter a nenhuma força externa, bem como a cidadania, que deve ser entendida amplamente, como a condição jurídica-política conferida aos brasileiros, natos ou naturalizados, para participar, direta ou indiretamente, da vida civil e política do Estado — votar, ser votado e iniciativa popular (art. 14 Constituição Federal). Nesse aspecto, é importante lembrar que o fundamento do pluralismo político não se restringe apenas a partidos políticos, mas à vasta participação do indivíduo na sociedade, como acontece através de sindicatos, associações, entidades de classe, universidades, escolas, igreja e etc. Não se pode confundir pluralismo político com pluripartidarismo, este, sim, um fenômeno relacionado à necessidade de existência de diversos partidos políticos no Estado brasileiro. Faculdade de Direito de Ipatinga Direito Constitucional Revisão de Conteúdo [ F a c u l d a d e d e D i r e i t o d e I p a t i n g a | P r o f . D a n i e l L i m a S a n t o s ] 4 Além dos fundamentos enumerados nos incisos do art. 1.° da Constituição Federal, o dispositivo em comento contém, ainda, outros princípios de relevante envergadura para nosso Estado, sendo que em seu caput temos a consagração dos princípios republicano (forma de governo) e federalista (forma de Estado), além do Estado Democrático de Direito. Segundo a doutrina, todos eles constituiriam cláusulas pétreas, apesar de o art. 60, § 4.° mencionar de forma expressa apenas a forma federativa de Estado. O princípio federativo prega a indissolubilidade do vínculo federal entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, representando a proibição ao chamado direito de secessão, que seria a prerrogativa de os entes da federação se desvincular do poder central. Qualquer tentativa de violação ao princípio federativo pode acarretar a medida extrema de intervenção. Por seu turno, o princípio do Estado Democrático de Direito é aquele que consagra a titularidade do poder por parte do povo, veiculando a ideia de que o Brasil não é um Estado policial, autoritário, mas sim um Estado onde há o respeito aos direitos e garantias fundamentais, sem os quais não existe democracia. Temos ainda o chamado princípio representativo, previsto no parágrafo único do art. 1.° da Carta da República de 1988, segundo o qual o povo, apesar de ser o titular do poder, não pode se apresentar na função de governo, competindo a representantes eleitos administrarem o Estado em nome do povo, pelo povo e em benefício do povo, lembrando que adotamos o regime semidireto de democracia (no Brasil a democracia pode ser exercida de maneira direta e indireta). Observação: a democracia no Brasil é exercida de forma direta através dos instrumentos previstos no art. 14 da Constituição Federal, ou seja, plebiscito, referendo e iniciativa popular. Por seu turno, a democracia indireta é a exercida através de representantes eleitos, que ficam encarregados de dirigir e administrar o Estado em nome do povo. 2.5. Separação de poderes. No art. 2.° da Carta Política de 1988 não temos um grupo de princípios, como os fundamentos e objetivos, mas sim a consagração da teoria da separação dos Poderes – cláusula pétrea expressa, conforme art. 60, § 4.°, III –, segundo o qual, são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, Executivo e o Judiciário. Esse princípio transmite a clássica lição de que o Estado deve dividir as suas funções, delegando-as a instituições e órgãos especializados em cada atribuição (legislar, administrar e julgar). É a manifestação da ideia aperfeiçoada por Montesquieu, baseada no famoso sistema de freios e contrapesos, segundo o qual um poder deve frear o outro, sem que haja necessariamente alguma espécie de interferência, mas tão somente uma fiscalização para que nenhuma poder se sobreponha ou acumule mais prerrogativas e funções do que os demais. Exemplos de como funciona o sistema de freios e contrapesos em nossa Constituição: a) o Presidente (chefe do Executivo) não tem influência na função jurisdicional, mas detém a prerrogativa de nomear os ministros dos Tribunais Superiores e do Supremo Tribunal Federal (Judiciário), com necessidade de aprovação do Senado Federal (Legislativo); b) no processo de criação de leis, o Executivo tem participação nas fases de Faculdade de Direito de Ipatinga Direito Constitucional Revisão de Conteúdo [ F a c u l d a d e d e D i r e i t o d e I p a t i n g a | P r o f . D a n i e l L i m a S a n t o s ] 5 iniciativa, sanção e veto, sendo que o Legislativo pode rejeitar projetos apresentados pelo Executivo; c) fiscalização do Executivo pelo Legislativo (julgar contas, por exemplo); d) necessidade de autorização do Legislativo para que o chefe do Executivo ausente-se por prazo superior a 15 dias (art. 49, III da Constituição Federal). Cada poder tem funções típicas e atípicas. O Legislativo tem a função de legislar, o Executivo de administrar (função de governo) e o Judiciário de julgar conflitos de interesses de acordo com a lei. Esses poderes, no entanto, desempenham outras funções eventualmente, sendo estas chamadas de atípicas, como o Legislativo, que pode julgar o Presidente nos crimes de responsabilidade (art. 52, I), o Executivo também pode julgar, nos casos de recursos contra multas de trânsito, por exemplo, e o Judiciário pode legislar, quando os Tribunais editam seus regimentos internos. No Brasil nem sempre se adotou a teoria da separação dos poderes tal como conhecida atualmente, pois a Carta Imperial de 1824 previa a existência de quatro Poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador (quadripartição funcional do poder), sendo que este último controlava as ações dos demais e era o soberano. As constituições posteriores adotaram a teoria clássica atualmente consagrada. 2.6. Objetivos. Os objetivos fundamentais, previstos no art. 3.° da Constituição Federal, representam metas estabelecidas pelo constituinte de 1988 visando à melhoria das condições de vida do povo brasileiro, constituindo legítima expressão da vontade dirigista ou dirigente da nossa Constituição (conforme estudado, a Constituição da República de 1988 é classificada como dirigista, sendo, portanto, analítica). Dizem respeito, basicamente, àquilo que deve ser buscado gradativamente através de ações do Estado e da própria sociedade, cuidando-se de novidade inserida pelo constituinte de 1988, pois não há normas diretamente correspondentes em nossas Cartas anteriores, importando pontuar que os objetivos do art. 3.° não são exaustivos, mas apenas exemplificativos, já que ele não exaure os objetivos da República Federativa do Brasil, ou seja, além dos objetivos do art. 3.° há diversos outros que devem ser perseguidos por nosso Estado e por nosso povo. São considerados objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (CO-GA-ER-PRO). É importante distinguir os objetivos fundamentais estatuídos no art. 3.° da Constituição Federal dos fundamentos previstos no art. 1.° da mesma Lei Fundamental. Observe-se que os fundamentos estão dispostos em substantivos (soberania, cidadania, dignidade e etc.), enquanto os objetivos em verbos (construir, garantir, erradicar e etc.).2.7. Princípios regentes das relações internacionais. Os princípios regentes das relações internacionais previstos no art. 4.° da Constituição Federal são os critérios que nortearão a atividade política do Brasil nas suas relações com Estados estrangeiros e organismos internacionais, como a Organização das Faculdade de Direito de Ipatinga Direito Constitucional Revisão de Conteúdo [ F a c u l d a d e d e D i r e i t o d e I p a t i n g a | P r o f . D a n i e l L i m a S a n t o s ] 6 Nações Unidas, Organização do Tratado do Atlântico Norte, blocos econômicos e etc. Esses princípios deverão ser observados não apenas nas tratativas havidas entre o Estado brasileiro e as mencionadas pessoas jurídicas (Estados estrangeiros e organismos internacionais), mas também em sua vida interna, conforme entende o Supremo Tribunal Federal. A autodeterminação dos povos (art. 4.°, III), por exemplo, é considerado pelo texto constitucional como princípio regente das relações internacionais, porém, nada impede que aludido princípio seja aplicado na resolução de conflitos internos vivenciados em nossa nação. Esse princípio significa que todos os povos têm o direito de tomar as próprias decisões. Fazendo-se um paralelo, seria perfeitamente possível dizer que o Estado brasileiro deve respeito à comunidade indígena, por exemplo, quanto aos costumes praticados pelos índios, em razão do princípio da autodeterminação. Art. 4.° A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Para fins de distinção dos princípios regentes das relações internacionais com os fundamentos e os objetivos fundamentais, recomenda-se a regra da exclusão, pois o art. 4.° da Carta República contém onze incisos, sendo mais conveniente memorizar os mencionados fundamentos e objetivos fundamentais, de modo que, o que não for fundamento ou objetivo, insere-se nos princípios regentes das relações internacionais.
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