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Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 1 CONCURSO DE AGENTES (art. 29, CP) Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. O presente artigo trata do concurso de agentes, também denominado de concurso de pessoas, codelinquência ou concurso de delinquentes. Ocorre quando a infração penal é praticada por duas ou mais pessoas. Também já vimos que grande parte dos crimes podem ser cometidos por uma única pessoa (crimes unissubjetivos) enquanto que outros exigem pluralidade de sujeitos ativos (crimes plurissubjetivos). Assim, quanto ao concurso de pessoas, os crimes podem ser: a) Monossubjetivos (ou unissubjetivos), quando podem ser cometidos por uma só pessoa, ou b) Plurissubjetivos, quando exigem pluralidade de agentes. Por sua vez, os crimes plurissubjetivos se subdividem em crimes de: 1. Condutas paralelas: quando os agentes auxiliam-se mutuamente, visando um mesmo fim, como é o caso do delito de associação criminosa (art. 288, CP); 2. Condutas convergentes: as condutas dos agentes se encontram, gerando o resultado. O crime de adultério (já revogado) era o exemplo mais comum. Atualmente, podemos destacar o crime de bigamia (desde que exista má-fé do solteiro que irá se casar); 3. Condutas contrapostas: aqui, as pessoas agem umas contra outras, como, por exemplo, no crime de rixa em que existe agressões recíprocas, pelo menos, entre três pessoas. Autoria Autor é aquele que realiza a conduta expressa no verbo da figura típica, ou seja, a conduta descrita no tipo. Acerca da autoria, podemos destacar as seguintes definições: a) Teoria Unitária. Por ela, todos aqueles que tomarem parte em um delito serão considerados como autores, incorrendo nas mesmas penas, sem que se possa falar na figura do partícipe. Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 2 b) Teoria Extensiva. Autor é também todo aquele que concorre para o crime, não se fazendo distinção entre autor e partícipe, assim como na teoria unitária, com a distinção de que nesta teoria, admite-se a aplicação de penas menores àqueles cuja colaboração para o delito tenha sido de menor relevância. c) Teoria Restritiva. Aqui, há clara distinção entre autor e partícipe pois, para ela, autor é todo aquele que pratica a conduta descrita no tipo penal – conduta típica, vale dizer, são os que executam o crime. A conduta do agente se enquadra no verbo descrito no tipo penal. Nesta teoria, partícipe é todo aquele que não realiza o ato executório descrito no tipo penal, mas, de alguma forma, contribui para eclosão do crime. Assim, por exemplo, o autor intelectual, o mandante do crime responderia na qualidade de partícipe e não de autor do delito, uma vez que não praticou atos de execução. d) Teoria do domínio do fato. Também faz distinção entre autor e partícipe, sendo que o conceito de autoria aqui é mais amplo, incluindo não somente àqueles que realizam os atos executórios descritos no tipo penal, mas também os que têm controle da empreitada criminosa, que conseguem deter ou dominar a realização dos atos criminosos como por exemplo, o dia e horário de sua prática, o momento de sua interrupção, as circunstâncias, modo de execução. De acordo com essa teoria, os autor intelectual também é considerado autor e não partícipe. Pelo que se observa da nossa legislação de regência, foi adotada a teoria restritiva, que faz distinção entre autor e partícipe, especialmente porque o § 1º do Código Penal trata do instituto da participação de menor importância e da participação impunível. A teoria do domínio do fato será estudada mais adiante. Sabendo que o CP adotou a teoria restritiva, o concurso de agentes pode se dar da seguinte forma: a) Coautoria, quando duas ou mais pessoas, conjuntamente, praticam a conduta descrita no tipo. É a conjugação de esforços para produção do mesmo efeito. Trata-se de divisão de tarefas. Exemplo: no crime de roubo, um constrange enquanto o outro efetua a subtração (coautoria parcial ou funcional). b) Participação, quando o agente não pratica o verbo núcleo do tipo, mas de alguma outra forma concorre para o crime. O partícipe, portanto, não realiza atos de execução, mas, de alguma maneira concorre Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 3 intencionalmente para o crime. Logo, essa participação pode ser b1) moral, que é feita através do induzimento ou instigação. Induzir é criar a ideia na cabeça de alguém que ainda não havia pensado no assunto, enquanto que instigar é estimular, incentivar a ideia de cometer o crime; b2) material, quando feita através do auxílio na prática do crime, de forma secundária, sem a realização da conduta típica, como por exemplo, emprestar uma arma, uma corda, uma chave falsa, etc. Na participação material deve haver um nexo causal entre o auxílio e o resultado. Assim, se o partícipe empresta uma arma e a vítima se enforca, o partícipe não será punido. De um modo geral, o partícipe responde pelo mesmo crime do autos e/ou coautor, sujeitando-se, ainda, à mesma pena prevista abstratamente. Vale lembrar que a responsabilização do partícipe se dá por força do art. 29 do Código Penal que é uma regra de extensão, haja vista que não há previsão legal no preceito secundário da lei penal incriminadora para a figura do partícipe. Relembre-se que o art. 29 é uma regra de adequação típica de subordinação indireta ou mediata. Isso não significa dizer, contudo, que a pena do autor, coautor e partícipe serão as mesmas, por força do princípio da individualização da pena e também do art. 59 que trata da culpabilidade do agente (antecedentes, conduta social, etc). Convém esclarecer que o partícipe só poderá ser responsabilizado penalmente com punição – pena se houver, pelo menos, o crime na forma tentada. Veja-se a respeito o teor da redação do art. 31 do Código Penal: “O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”. Por isso que se diz que a conduta do partícipe é acessória à conduta do autor. Em outras palavras, o partícipe só se sujeitará à uma pena se a partir do seu induzimento, instigação ou auxílio, o crime ocorreu, pelo menos, na forma tentada, ou seja, se já iniciada a terceira fase do iter criminis (fase de execução). É possível ainda que durante a apuração dos fatos não se consiga identificar quem foi o autor ou coautor. Não importa, uma vez que isso não impede que o partícipe seja punido pelo delito. O que é necessário é que fique demonstrado o seu envolvimento e de outra pessoa, ainda que esta última não seja identificada. Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 4 Aquele que se envolve posteriormente ao crime, não responde como partícipe, mas como autor de outro delito como é o caso da receptação, ocultação ou destruição de cadáver, favorecimento real ou pessoal. Se a participação for de nenhuma importância, ou seja, em nada interferir do ponto de vista do nexo causal, vale dizer, dequalquer maneira o crime seria praticado no momento e condições, não haverá responsabilização por ausência de relevância causal. É o que se denomina de participação inócua, inofensiva, sem relevância penal. Teorias quanto ao concurso de pessoas. Na codelinquência, que abrange a coautoria e a participação, há um ou vários crimes? Para responder essa questão, surgiram três teorias. a) unitária ou monista: todos que contribuíram para a prática do delito cometem o mesmo crime; b) dualista: aqui, há um só delito para os autores e outro delito para os coautores e partícipes; c) pluralista: cada um dos envolvidos respondem por delito próprio, ou seja, a quantidade de participantes corresponde exatamente à quantidade de delitos. Ex: três participantes, três delitos. O Código Penal adotou a teoria unitária ou monista, conforme se extrai da leitura do caput. Há, contudo, exceções pluralísticas à teoria unitária. Exemplos. a) Aborto próprio (auto aborto – art. 124) e consentimento para abortar – art. 126; b) No crime de bigamia, o agente casado que contrai novo matrimônio responde pelo art. 235, caput, do Código Penal, enquanto que o outro cônjuge que não sabe, responde pelo art. 235, § 1º, do Código Penal; c) Nos crimes de corrupção ativa e passiva e d) Crimes de falso testemunho (art. 342) e corrupção de testemunha (art. 343). Natureza jurídica da participação Ela constitui conduta acessória da conduta principal. Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 5 Teorias acerca da participação a) Teoria causal: não há distinção entre delinquente acessório e delinquente principal; b) Teoria da acessoriedade: a participação é acessória de um fato principal. Há quatro classes de acessoriedade: b1) acessoriedade mínima: basta que a conduta do agente aceda a um comportamento principal que constitua fato típico; b2) acessoriedade limitada: é preciso que a conduta principal seja típica e ilícita; b3) acessoriedade extrema: requer que o comportamento principal constitua um fato típico, ilícito e culpável e b4) hiperacessoriedade: exige que em relação ao partícipe concorram ainda circunstâncias de agravação ou atenuação que existem em relação ao autor principal. O Código Penal adotou a teoria da acessoriedade limitada. Tratando-se de participação de menor importância, a pena poderá ser diminuída de 1/6 a 2/3. É o que se extrai do art. 29, § 1º do Código Penal: “Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço”. Requisitos para existência do concurso de pessoas a) Pluralidade de condutas: sem pluralidade de condutas, nunca haverá uma principal e outra acessória; b) Relevância causal de cada uma delas: se a conduta não tiver relevância causal, então o agente não concorreu para nada, desaparecendo o concurso; c) Liame subjetivo: é imprescindível a unidade de desíginios, isto é, a vontade de todos contribuírem para a produção do resultado. Basta que uma vontade adira à outra. O prévio ajuste é desnecessário e d) Identidade de infração para todos os participantes: desta maneira, todos respondem pelo mesmo crime, salvo as exceções pluralistas; Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 6 Autoria colateral Ocorre quando duas ou mais pessoas querem praticar o mesmo crime e agem ao mesmo tempo sem que um saiba da intenção do outro, e o resultado ocorre apenas da ação de uma delas ou de ambas. É o caso, por exemplo, de dois ladrões que invadem a casa da vítima, um pela frente e outro pelos fundos e, sem que um saiba da presença do outro, efetua subtrações. Ambos respondem por furto, não havendo que se falar em coautoria ou participação. Pode haver ainda a hipótese de dois agentes agirem ao mesmo tempo, sendo que o resultado decorre apenas a ação de um deles, que é identificado no caso concreto. Aqui, não há que se falar em coautoria ou participação por falta de liame subjetivo. É o caso típico de duas pessoas que fazem tocaia na estrada e no momento que a vítima passa, ambos atiram ao mesmo tempo provocando a morte da vítima. Nesta hipótese, é possível descobrir o responsável pela morte (homicídio consumado). O outro autor entretanto, responderá apenas por tentativa. Autoria incerta Se dá quando, dentro da autoria colateral, não se consegue apurar qual dos envolvidos provocou o resultado. Neste caso, ambos respondem por tentativa. Participação da participação Trata-se de uma conduta acessória de outra conduta acessória. Ocorre nos casos de induzimento de induzimento, instigação de instigação ou auxílio de auxílio. Exemplo: A induz B a induzir C a matar D. Participação sucessiva Após uma conduta assessorando a principal, ocorre outra. Se dá quando presente o induzimento ou instigação do executor, sucede outra determinação ou instigação. Exemplo: A instiga B a matar C. Após essa participação, o agente D, desconhecendo a precedente participação de A, instiga B a matar C. A participação pode ocorrer em qualquer fase do iter criminis: cogitação, preparação execução e consumação. Após a consumação, não é mais possível a participação. Atenção: não confundir o momento da participação (que pode ser em qualquer das quatro fases do iter criminis com a punição, que só ocorrerá se já iniciada a fase de execução. Autoria mediata Autor mediato é aquele que serve-se de outra pessoa sem discernimento para executar para ele o delito. O executor é utilizado como mero instrumento por atuar sem consciência ou sem a vontade do que está fazendo. Por isso, só responde pelo crime o autor mediato, não havendo que se falar em concurso de pessoas. A autoria mediata pode resultar de: Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 7 a) Ausência de capacidade por menoridade ou de doença mental; b) Coação moral irresistível; c) Erro de tipo escusável provocado por terceiro e d) Obediência hierárquica em que o autor da ordem a sabe ilegal, mas faz o executor crê-la legal. Não há que se falar em autoria mediata nos crimes culposos e de mão própria. Arrependimento do partícipe Neste caso, pode ocorrer três hipóteses: a) O arrependido é autor principal ou partícipe, vindo a impedir o início de execução: trata-se de fato impunível; b) O arrependido é o partícipe e seu arrependimento é eficaz, impedindo que seja alcançada a meta optata. Aqui, aplica-se o art. 15 do Código Penal, de maneira que o partícipe não responde por tentativa, mas pelos atos praticados. Se seu arrependimento for ineficaz, responde pelo fato cometido, havendo, contudo uma atenuante; c) Seu arrependimento é posterior: nesta hipótese ele responderá normalmente pelo delito. Participação mediante omissão A participação por omissão pressupõe três requisitos: a) Que existe um dever jurídico do omitente; b) A possibilidade de agir e c) Adesão subjetiva ao crime. Assim, se alguém que tenha o dever jurídico de agir para evitar o resultado toma conhecimento de que outra pessoa irá praticar ou está praticando um crime e, podendo evitar sua execução no primeiro caso ou, seu prosseguimento no segundo, porém, nada faz, responde por omissão, nos termos do art. 13,§ 2º, do Código Penal. De se observar que na participação por omissão, é pressuposto a existência de uma terceira pessoa. Veja-se o exemplo do policial militar que percebe alguém subtraindo pertences de uma vítima, pessoa que ele não gosta. Neste caso, se o policial não tomar as providências no sentido de evitar o crime, como por exemplo, efetuando a prisão, ele responderá por participação omissiva. Participação negativa ou conivência Ocorre nas situações em que, inexistindo o dever jurídico de agir, o agente se omite voluntariamente, não impedindo assim a prática de um crime ou o seu prosseguimento. Direito Penal, Parte Geral Prof. Daiton 8 A conivência pode gerar dois efeitos: a) Constituir infração penal por si só, ou seja, uma infração autônoma, como é o caso do crime de omissão de socorro; b) Não constituir participação no delito do autor principal, nem infração autônoma. Suponha-se que um particular fica sabendo que vai ocorrer um crime e, mesmo assim, deixa de comunicar a autoridade policial. Comunicabilidade e incomunicabilidade das circunstâncias Segundo o art. 30, do Código Penal, “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. Desse dispositivo legal podemos, portanto, extrair três regras: a) As circunstâncias subjetivas, também chamadas de circunstâncias de caráter pessoal, jamais se comunicam no concurso de agentes, como por exemplo, reincidência, ser irmão da vítima, entre outras; b) As circunstâncias objetivas, de caráter não pessoal, podem comunicar-se, desde que delas o coautor ou partícipe tenha conhecimento. Estas dizem respeito ao fato, enquanto a primeira diz respeito ao autor. No furto praticado durante o repouso noturno ou mediante destruição de obstáculo. c) As elementares, pouco importa se subjetivas (pessoal) ou objetivas, sempre se comunicam, desde que tenham entrado na esfera de conhecimento dos demais. Exemplo é o crime de corrupção passiva em que o servidor público solicita a pessoa estranha aos quadros públicos (não servidor) para que vá buscar o dinheiro decorrente do ilícito. Coautoria e participação em crime culposo Admite-se a coautoria em crime culposo.
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