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AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDENCIA DA DELINQUENCIA JUVENIL

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
Rosa Maria Dognani Bernardo Gonçalves 
 
 
 
 
 
 
 
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA 
DELINQUÊNCIA JUVENIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA 
DELINQUÊNCIA JUVENIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curitiba 
2012 
Rosa Maria Dognani Bernardo Gonçalves 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA 
DELINQUÊNCIA JUVENIL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito da Faculdade de Ciências 
Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como 
requisito parcial para a obtenção do grau de 
Bacharel. 
Orientadora: Simone Franzoni Bochnia 
 
 
 
 
CURITIBA 
2012 
TERMO DE APROVAÇÃO 
Rosa Maria Dognani Bernardo Gonçalves 
 
 
 
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA 
DELINQUÊNCIA JUVENIL 
 
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de grau de Bacharel em Direito no Curso de 
Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná. 
 
 
Curitiba, 02 de Maio de 2012. 
 
 
 
___________________________ 
Eduardo de Oliveira Leite 
Coordenador do Núcleo de Monografia 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: ______________________________ 
 Profª Dra. Simone Franzoni Bochnia 
 
 
 
Examinador 1: _____________________________ 
 Prof(a). Dr(a). 
 
 
 
Examinador 2: _____________________________ 
 Prof(a). Dr(a). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu noivo, Thiago que esteve 
presente em todos os momentos desse 
trabalho me apoiando, sempre com muita 
paciência nos dias de aflição. Sem ele a 
caminhada seria muito mais difícil. 
 
À minha orientadora Simone Franzoni 
Bochnia, que me garantiu mais 
tranquilidade mesmo nos últimos minutos 
da realização desse trabalho, com muita 
serenidade, carinho e dedicação. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço primeiramente aos meus pais, Eronides e Maria Aparecida, pelas 
orações e mesmo que distantes sempre me instruíam a trilhar o caminho do bem, da 
perseverança e da fé. 
Aos meus irmãos, Mariângela e Carlos Manoel que com muito carinho me 
apoiaram e ajudaram para conclusão desse trabalho. 
E por fim, aos meus amigos Rogério Azevedo, que de muito longe me 
incentivou com palavras amigas e orações que nunca me deixaram desistir e Aline 
Eloisa que inúmeras vezes chorou comigo e não me deixou perder as esperanças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O objetivo deste trabalho é fazer um breve estudo acerca das medidas 
socioeducativas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Inicialmente deve-se 
analisar a evolução histórica dos cuidados com as crianças e adolescentes, 
juntamente com os princípios norteadores da infância e juventude, para que assim 
se pondere os equívocos que vem ocorrendo na aplicação de tais medidas, 
resultando na reincidência dos infratores, gerando um número expressivo de 
delinquentes juvenis. É de suma importância analisar o tema em questão, visto que 
vem causando várias discussões entre os operados do direito. 
 
Palavras-chave: medidas socioeducativas; estatuto; atos infracionais; reincidência; 
delinquência. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................9 
2 NOTÍCIA HISTÓRICA CONTEXTUALIZADA DA CRIANÇA E ADOLESCENTE –
FRENTE AOS PRINCíPIOS NORTEADORES DO ECA..............................................11 
2.1 JESUÍTAS ...............................................................................................................11 
2.1.1 Senhores ..............................................................................................................12 
2.1.2 Santa Casa De Misericórdia.................................................................................13 
2.1.3 Famílias................................................................................................................14 
2.1.4 Estado ..................................................................................................................14 
2.1.5 Forças Armadas: Segurança Nacional.................................................................15 
2.1.6.Juízes de Menores ...............................................................................................16 
2.2 PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE .......................17 
2.2.1 Princípio da proteção integral...............................................................................18 
2.2.2 Princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento ..........................18 
2.2.3 Princípio da proporcionalidade .............................................................................20 
3 A FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ESTADO ...............................................................22 
3.1 FUNÇÃO DA FAMÍLIA ............................................. Erro! Indicador não definido.2 
3.2 FUNÇÃO DA SOCIEDADE .....................................................................................23 
3.3 FUNÇÃO DO ESTADO ...........................................................................................25 
4 ASPECTOS GERAIS DAS MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCENTE 
INFRATOR SEGUNDO O ECA ....................................................................................27 
4.1 MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCENTE INFRATOR........................................29 
4.1.1 Advertência ..........................................................................................................29 
4.1.2 Obrigação de reparar o dano ...............................................................................30 
4.1.3 Prestação de serviço à comunidade ....................................................................31 
4.1.4 Liberdade Assistida ..............................................................................................32 
4.1.5 Regime de semiliberdade.....................................................................................34 
4.1.6 Internação ............................................................................................................35 
5 EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS E SUA RELAÇÃO COM A 
REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL ..........................................................38 
5.1 REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL .....................................................39 
5.2 REINCIDÊNCIA DOS ATOS INFRACIONAIS.........................................................40 
5.3 EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS E A ANALOGIA 
COM A REINCIDÊNCIA DOS INFRATORES ...............................................................41 
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................46 
REFERÊNCIAS.............................................................................................................48 
 
 
 
9 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A delinquência juvenil vem crescendo abruptamente, é visível que os 
adolescentes estão violando a lei expressa pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), tendo como consequência a reincidência desses infratores. 
Com isso, pode-se questionar se tal situação não seria o reflexo da 
aplicabilidade ineficaz das medidas socioeducativas previstas no ECA. 
Deve-se ressaltar que boa parte da doutrina entende que a situação se 
agrava nãosó pela má aplicabilidade das medidas, mas também no que tange as 
relações familiares, sociais e estatutárias. 
Importante destacar ainda, no que se refere à infraestrutura das instituições 
que cuidam da ressocialização dos infratores, onde o Estado, como obrigação 
deveria investir mais, as condições são precárias, muitas não possuem condições 
ínfimas de atender as necessidades básicas dos internos. 
No decorrer dos capítulos, se verificará a evolução histórica dos cuidados 
com a criança e o adolescente, juntamente com os princípios de proteção da criança 
e do adolescente. Em seguida, a análise sobre as responsabilidades da família, 
sociedade e Estado. 
Na sequência, observará os aspectos gerais das medidas impostas ao 
adolescente infrator, depois, o estudo será das medidas socioeducativas em 
espécie, onde se analisará cada uma em suas características essenciais e abordará 
a reincidência da delinquência juvenil, com relação à má atuação e fiscalização da 
família, sociedade e Estado. 
Por fim, realizará um parâmetro das medidas e a relação que cada uma 
delas tem com a reincidência dos infratores. 
10 
Portanto, verifica-se que o presente trabalho tem como justificativa estudar o 
que vem provocando a reincidência da delinquência juvenil, haja vista que existem 
tantas medidas que deveriam ser eficazes para esse comportamento atípico dos 
adolescentes. 
 
11 
2 NOTÍCIA HISTÓRICA CONTEXTUALIZADA DA CRIANÇA E ADOLESCENTE –
FRENTE AOS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ECA 
 
 
No que diz respeito ao aspecto normativo, a proteção aos direitos da criança 
e adolescente é muito recente, portanto se faz necessário um estudo das primeiras 
iniciativas ao direito dos menores, a denominação menores, também será utilizada 
uma vez que nessa época ainda não se tinha o entendimento atual de serem 
chamados exclusivamente de crianças e adolescentes. 
Desde a independência do Brasil (1822), os menores desvalidos passaram 
por muitos grupos que os acolheram, em cada período elas eram cuidados por 
determinas instituições. Nesse sentido será analisado o que os autores, Irene Rizzini 
e Francisco Pilotti, relataram no que se refere a proteção das crianças e 
adolescentes nas mãos dos Jesuítas, Senhores, Santa Casa de Misericórdia, 
Famílias, Estado, Forças Armadas: Segurança Nacional e Juízes de Menores. 
 
2.1 JESUÍTAS 
 
Irene Rizzini e Francisco Pilotti afirmam que “No período colonial, a 
assistência à infância no Brasil seguia determinações de Portugal, aplicadas por 
meio de burocracia, dos representantes da Corte da Igreja Católica.” (2009, p. 17). 
Sendo assim, para melhorar a situação dos menores, os doutrinadores 
descrevem ainda que “[...] desenvolveu-se, no interior das reduções jesuítas, um 
complexo e bem estruturado sistema educacional, cuja missão era submeter a 
infância ameríndia a uma intervenção, moldando-a de acordo com os padrões de 
seus tutores” (2009, p. 18). 
12 
Nesse momento os menores eram submetidos aos cuidados dos jesuítas, 
onde havia uma estrutura muito bem edificada, com o objetivo de capacitá-los no 
sentido de seguirem os ensinamentos de seus protetores. 
 
 
2.1.1 Senhores 
 
Por conta da disputa do poder da Corte de Portugal, os jesuítas foram 
expulsos e não se podia mais escravizar os índios por determinação de Marquês de 
Pombal, Ministro do Rei, em 1755. Todavia os colonos continuavam sendo 
explorados. Aos olhos de Irene Rizzini e Francisco Pilotti, esse período poderia ser 
descrito da seguinte forma: 
O escravo era elemento importante para a economia da época. Era mais 
interessante, financeiramente, para os donos das terras importar um 
escravo que criar e manter uma criança, pois com um ano de trabalho, o 
escravo pagava seu preço de compra. As crianças escravas morriam com 
facilidade, devido às condições precárias em que viviam seus pais e, 
sobretudo, porque suas mães eram alugadas como amas-de-leite e 
amamentavam várias outras crianças. (2009, p.18). 
 
No entanto, mesmo com o advento da Lei do Ventre Livre em 1871, que 
considerava livre todos os filhos de mulheres escravas nascidos a partir da data da 
referida lei, não foi possível abolir a escravidão por parte dos senhores. Na 
sequência os doutrinadores continuam esclarecendo essa época: 
 
Mesmo depois da Lei do Ventre Livre, em 1871, a criança escrava 
continuou nas mãos dos senhores, que tinham opção de mantê-la até os 
14 anos, podendo, então, ressarcir-se dos seus gastos com ela, seja 
mediante o seu trabalho gratuito até os 21, seja entregando-a ao Estado, 
mediante indenização. (2009, p.18). 
 
O País continuava a escravizar, mesmo com determinações e leis que 
previssem a abolição da escravidão. Para os colonos era muito mais viável manter 
13 
um escravo trabalhando, já que ele compensaria o preço pago pela sua compra e 
todos seus gastos, com seu árduo trabalho................................................................... 
Contudo esses menores escravizados morriam facilmente, uma vez que não 
tinham nenhum tipo de cuidados por parte dos senhores. 
 
2.1.2 Santa Casa de Misericórdia 
 
Nessa fase, as crianças humildes eram cuidadas pela Igreja Católica e as 
Santas Casas de Misericórdia, essas instituições preocupavam com toda classe 
carente, doente e órfão, vejamos: 
Gisella Werneck Lorenzi, explica detalhadamente essa fase das crianças, 
conforme relato abaixo: 
 
[...] As populações economicamente carentes eram entregues aos cuidados 
da Igreja Católica através de algumas instituições, entre elas as Santas 
Casas de Misericórdia. No Brasil, a primeira Santa Casa foi fundada no ano 
de 1543, na Capitania de São Vicente (Vila de Santos). Estas instituições 
atuavam tanto com os doentes quanto com os órfãos e desprovidos. O 
sistema da Roda das Santas Casas, vindo da Europa no século XVIII, tinha 
o objetivo de amparar as crianças abandonadas e de recolher donativos. 
A Roda constituía-se de um cilindro oco de madeira que girava em torno do 
próprio eixo com uma abertura em uma das faces, alocada em um tipo de 
janela onde eram colocados os bebês. A estrutura física da Roda 
privilegiava o anonimato das mães, que não podiam, pelos padrões da 
época, assumir publicamente a condição de mães solteiras. (LORENZI, 
2007). 
 
Nessa etapa, os menores tinham a proteção da Igreja Católica com o auxílio 
de outras instituições, como as Santas Casas de Misericórdia, que conforme já 
mencionado na citação acima, utilizava-se de um sistema vindo da Europa que 
consistia na exposição das crianças em rodas, ou seja, quando a mãe, que não 
podia ser identificada, deixava a criança na roda, ela tocava uma campainha, para 
14 
que assim as freiras pudessem ir até lá e recolhesse o enjeitado para dentro da 
Santa Casa. 
 
2.1.3 Famílias 
 
 
Na história do Brasil, as famílias sempre aparecem como não sendo 
capazes de cuidar de seus filhos, porém essa situação foi criada para intervenção do 
Estado, nesse sentido, Irene Rizzini e Francisco Pilotti afirmam que: 
 
O mito criado em torno da família das classes empobrecidas serviu de 
justificativa para a violenta intervenção do Estado neste século. Com o 
consentimento das elites política da época, juristas delegaram a si próprios 
o poder de suspender, retirar e restituir o Pátrio Poder, sempre que 
julgassem uma família inadequada para uma criança. (2009, p.25). 
 
Como estratégia do Estado, para intervir no domínio da infância e juventude, 
se utilizava o pretexto da incompetência das famílias no cuidado com sua geração, o 
Estado tinha o objetivo de educar moralmente as crianças e adolescentes para que 
seguissem a linha da hierarquia, tornando-os uma espécie de “capital humano”. 
 
 
2.1.4 Estado 
 
 
Em 1941,criou-se um órgão federal responsável pelo controle da 
assistência, oficial privada, o Serviço de Assistência a Menores (SAM), onde atendia 
os “menores abandonados” e “desvalidos”, aos “delinquentes”, só restavam as 
15 
escolas públicas de reforma, as colônias correcionais e os presídios, já que a 
iniciativa privada não dispunha de alternativas para seu atendimento. (2009, p. 26). 
Quando as crianças e adolescentes estavam sob o poder do Estado, a partir 
de 1941, como mencionado acima, a assistência delas passa a ser obrigação do 
Serviço de Assistência a Menores (SAM), acarretando um grave estreitamento das 
relações entre público e privado, estabelecendo um clientelismo marcado por 
corrupções. 
 
 
2.1.5 Forças Armadas: Segurança Nacional 
 
 
A partir de 1964, essa assistência mencionada no parágrafo acima, passou a 
fazer parte da esfera militar, com o intuito de que as crianças e adolescentes não 
fossem instrumentos fáceis do comunismo e das drogas, assim, surgiu então a 
fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e a Política Nacional do 
Bem-Estar do Menor (PNBEM). 
Irene Rizzini e Francisco Pilotti descrevem as fundações da seguinte forma, 
 
Juntas, como irmãs siamesas, mantiveram e aprimoraram o modelo 
carcerário e repressivo, cuja trajetória ascendente, até o início da década 
passada, começava a estagnar logo em seguida, entrando em processo de 
crise e dissolução, quando os militares cederam lugar aos primeiros 
governos democráticos. (2009, p. 27). 
 
Nesse período os menores começavam a ter efetivas “garantias”, todavia o 
sistema se utilizava do aperfeiçoamento carcerário e repressivo do País, as 
instituições criadas tinham a intenção de zelar pela infância e juventude do País, 
16 
afastando qualquer relação que pudesse levá-las a se envolver com a criminalidade 
e outros problemas existentes que abrangesse essa faixa etária. 
 
 
2.1.6 Juízes de Menores 
 
 
Nesse período Alyrio Cavallieri discorre que “estava em vigor o Código de 
Menores de 1927, chamado Código Mello Mattos, nome do seu autor, que foi o 
primeiro Juiz de Menores do Rio de Janeiro, do Brasil e da América Latina, nomeado 
em 1924.” (1997, p. 17). 
O referido Código não era destinado a todos os menores, mas apenas 
àquelas tidas como estando em “situação irregular”, conforme expressava em seu 
artigo 1º: 
 
O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver 
menos de 18 annos de idade, será submettido pela autoridade competente 
ás medidas de assistencia e protecção contidas neste Codigo. (grafia 
original) (Código de Menores – Decreto nº. 17.943 A - de 12 de outubro de 
1927). 
 
Após muito tempo de debates e questionamentos, em 1979 o Código de 
Menores foi substituído. Irene Rizzini e Francisco Pilotti, explicam detalhadamente: 
 
Depois de várias décadas de debate, formulação de dezenas de 
anteprojetos e movimentação do meio jurídico com o objetivo de fazer 
aprovar uma revisão do Código de Menores de 1927, este foi em 1979, 
finalmente substituído. O novo Código de Menores veio a consagrar a 
noção do ‘menor em situação irregular, a visão do problema da criança 
marginalizada como uma ‘patologia nacional’. (2009, p. 26-27). 
 
17 
O Código de Menores continuou seguindo a linha do Código Mello Matos, 
mantendo como essência o controle social e não sócio – penal de crianças e 
adolescentes. 
Todavia, o entendimento do Código mencionado, era que os menores não 
levariam uma vida normal, não podendo frequentar escolas, sendo mau tratados, 
com deficiência econômica, social entre outros, com isso essas crianças e 
adolescentes eram forçadas a viver na criminalidade, já que não se garantia 
verdadeiramente os direitos delas. 
O entendimento era que a família, somente ela, seria responsável pela 
garantia das necessidades básicas de seus entes, não sendo necessária assistência 
moral, financeira entre outras, para que o menor tivesse uma vida digna. 
Esse entendimento se manteve ao longo dos tempos, até o advento da 
Constituição Federal e em seguida a elaboração do ECA. 
 
 
2.2 PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE 
 
 
Os princípios estão embasados na Constituição Federal e no ECA, sua 
finalidade é garantir às crianças e aos adolescentes as normas de proteção integral, 
todavia de forma diferente no que diz respeito à incriminação penal aplicada aos 
adultos, isto porque, a Constituição Federal é clara no que se refere à 
inimputabilidade dos menores de 18 anos. 
Salomão Shecaira relata que, “Quis o constituinte separar os direitos e 
garantias das crianças e adolescentes do conjunto da cidadania com objetivo de 
melhor garantir sua defesa”. (2008, p. 137). 
18 
Portanto, devem-se observar os princípios mais relevantes para que seja 
possível um entendimento melhor do título discutido no presente trabalho. 
 
 
2.2.1 Princípio da proteção integral 
 
 
Para entendimento do referido princípio, deve-se analisar o contido no artigo 
1º do ECA, que destaca: “esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao 
adolescente”, sendo assim, os direitos das crianças e adolescentes devem ser 
efetivados para que eles tenham garantias de um desenvolvimento digno, como 
preceitua a lei. 
Afirma Luciano Mendes de Almeida em seu comentário que: 
 
O Estatuto tem por objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, 
de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado seu pleno 
desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e 
religioso (ALMEIDA, 2009). 
 
 
O princípio tem como base o fundamento de que as crianças e adolescentes 
são sujeitos de direitos, sendo garantidos pela família, sociedade e Estado. 
 
 
2.2.2 Princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento 
 
 
O princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento está 
previsto no artigo 227 da Constituição Federal, nos artigos 4º e 6º do ECA, garante a 
19 
criança e ao adolescente cuidados especiais pela sua vulnerabilidade. Nesse 
sentido esclarece Martha Machado: 
 
[...] por se acharem na peculiar condição de pessoas humanas em 
desenvolvimento crianças e adolescentes encontram-se em situação 
essencial de maior vulnerabilidade, ensejadora da outorga de regime 
especial de salvaguardas, que lhes permitam construir suas potencialidades 
humanas em sua plenitude. (2003, p. 108-109). 
 
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça, afirma que o princípio da 
condição peculiar da pessoa em desenvolvimento deve ser aplicado com o objetivo 
de priorizar em todo caso o direito da criança e do adolescente: 
 
 
 
Ementa 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO 
PODER FAMILIAR CUMULADA COM PEDIDO DE ADOÇÃO. GUARDA 
PROVISÓRIA DEFERIDA. 
DOMICÍLIO DOS ADOTANTES. ALTERAÇÃO DO DOMICÍLIO DOS 
GUARDIÃES. 
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRIORIDADE ABSOLUTA. 
INTERESSE DO MENOR. 
CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE. 
1. Segundo a jurisprudência do STJ, a competência para dirimir as questões 
referentes ao menor é a do foro do domicílio de quem já exerce a guarda, 
na linha do que dispõe o art. 147, I, do ECA. 
2. Considerada a condição peculiar da criança como pessoa em 
desenvolvimento, sob os aspectos dados pelo art. 6º do ECA, os direitos 
dos menores devem sobrepor-se a qualquer outro bem ou interesse 
juridicamente tutelado, não havendo que se falar em prevenção. 
3. Destarte, em face do princípio constitucional da prioridade absoluta dos 
interesses do menor, orientador dos critérios do art. 
147 do ECA, necessária a declaração de competência do Juízo 
Pernambucano a atrair a demanda proposta perante o Juízo Paulista. 
4. Conflito conhecido, declarando-sea competência do Juízo de Direito da 
2ª Vara da Infância e da Juventude de Recife - PE, o suscitante. 
(CC 92.473/PE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, 
julgado em 14/10/2009, DJe 27/10/2009) 
 
Sendo assim, verifica que o referido princípio tem o dever de assegurar as 
crianças e aos adolescentes uma proteção específica, uma vez que eles são mais 
frágeis às situações de risco, isto é, os direitos deles devem-se justapor a qualquer 
outro bem ou interesse. 
20 
 
2.2.3 Princípio da proporcionalidade 
 
 
O último princípio a ser analisado, tem o intuito de impedir advertências que 
não sejam proporcionais aos direitos fundamentais da infância e juventude, mesmo 
sendo por atos administrativos ou atos legislativos. 
Desta maneira, observa-se que partir do princípio da proporcionalidade que 
se opera o “sopesamento” dos direitos fundamentais, produzindo ao caso concreto 
uma solução ponderada. 
Na prática, esse princípio vem sendo aplicado cada vez mais, conforme 
demonstra a jurisprudência abaixo: 
 
Ementa 
EMENTA: HABEAS CORPUS - ECA - ADOLESCENTES INTERNADAS EM 
VIRTUDE DE SENTENÇA - ALEGAÇÃO DE NULIDADE - PARECER DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO PRECISO E BEM FUNDAMENTADO - 
ENTENDIMENTO ADOTADO COMO RAZÕES DE DECIDIR - DECISÃO 
QUE ENGLOBOU AS TRÊS ADOLESCENTES, SEM ANALISAR SUAS 
PECULIARIDADES E SINGULARIDADES - VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS 
BASILARES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
SENTENÇA ANULADA - ADOLESCENTES DESINTERNADAS QUE 
DEVERÃO AGUARDAR NOVA DECISÃO SOB LIBERDADE ASSISTIDA. 
[...]O art. 112, § 1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, assim sendo, 
traz em seu bojo o princípio da proporcionalidade da conduta infracional 
com a medida aplicada, deixando claro que as medidas socioeducativas 
mais graves, especialmente as privativas de liberdade, estarão destinadas 
unicamente às infrações que denotem maior gravidade/reprovabilidade (em 
razão de suas conseqüências), o que evidentemente NÃO OCORRE no 
caso dos autos. A desproporcionalidade e a impropriedade com que as 
apelantes foram tratadas pela Justiça da Infância e da Juventude de Pinhão, 
é flagrante, podendo ser constatada até mesmo pelo "acúmulo de 
procedimentos" instaurados em relação às adolescentes, em sua imensa 
maioria AINDA AGUARDANDO JULGAMENTO, em frontal violação 
TAMBÉM aos PRINCÍPIOS DA PRIORIDADE ABSOLUTA À CRIANÇA E 
AO ADOLESCENTE E AO DISPOSTO NO ART. 152, PAR. ÚNICO, DA LEI 
Nº 8.069/90 e do RESPEITO À PECULIAR CONDIÇÃO DE PESSOA EM 
DESENVOLVIMENTO, insculpido também no citado art. 227, caput e §3º, 
inciso V, da Constituição Federal. Como sabido e ressabido, em matéria de 
infância e juventude, não é a "intensidade" da resposta estatal que importa, 
mas SIM sua IMEDIATIDADE E PRECISÃO, razão pela qual, dentre os 
princípios que norteiam a intervenção estatal se encontram os princípios da 
intervenção precoce e da proporcionalidade e atualidade (cf. arts. 100, par. 
único, incisos VI e VIII c/c 113, da Lei nº 8.069/90), segundo os quais: 
21 
Art. 100. ... 
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das 
medidas: I - ...; VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades 
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja 
conhecida; VII - ...; VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve 
ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o 
adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada 
Qualquer intervenção que desconsidere tais princípios e/ou seja efetuada 
em sentido diverso do preconizado pelo ordenamento jurídico (como é o 
caso dos autos), se mostra contra legem, sendo assim passível de correção, 
inclusive pela atuação das demais instâncias do Poder Judiciário. Se tal 
orientação já é válida em se tratando de atos infracionais de natureza grave, 
com muito mais razão se aplica ao caso dos autos, em que a conduta 
praticada não se reveste de gravidade a ponto de justificar a privação de 
liberdade das apelantes, máxime por um período prolongado, como está 
ocorrendo. 
 
Assim sendo, no caso em comento, houve nítida violação aos princípios da 
excepcionalidade da medida de internação e da proporcionalidade da 
intervenção socioeducativa estatal, além de violação ao próprio sentido (e 
objetivo) da intervenção da Justiça da Infância e da Juventude, na medida 
em que se dispensou às apelantes um tratamento excessivamente rigoroso, 
sem que tenha o douto Juízo impetrado demonstrado (inclusive nos demais 
registros infracionais que as mesmas possuem) qualquer preocupação em 
apurar as causas da conduta infracional e/ou atender às necessidades 
pedagógicas específicas de cada uma das jovens, o que, por óbvio, não se 
pode admitir. Destarte, fica fácil concluir pela total ilegalidade e flagrante 
desproporcionalidade da medida extrema da internação aplicada às 
apelantes, sentenciadas que foram pela prática de um ato infracional 
desprovido de gravidade, que não trouxe maiores prejuízos à vítima, que 
não é e nem pode ser considerado de natureza grave, para fins de 
incidência da medida socioeducativa extrema de internação, conforme 
disposto no art. 112, §1º (que exige seja guardado um mínimo de 
proporcionalidade entre a conduta infracional e a resposta estatal) e art. 
122, ambos da Lei nº 8.069/90. (TJPR - 2ª C.Criminal - HCECA 743893-3 - 
Pinhão - Rel.: Valter Ressel - Unânime - J. 17.02.2011) 
 
Depois de verificado no que consiste cada princípio e suas aplicabilidades 
práticas com fundamento nas jurisprudências, pode-se concluir que os mesmos são 
de suma importância para garantia integral dos direitos da criança e adolescente. 
 
22 
3 A FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ESTADO 
 
 
A Constituição Federal dispõe em seu artigo 227, caput, que a família, a 
sociedade e o Estado são responsáveis pelos direitos e garantias das crianças e dos 
adolescentes: 
 
Artigo 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
Com base nesse artigo que será analisado, em seguida, um pouco mais no 
que corresponde a função de cada instituição mencionada acima, a fim de entender 
melhor de onde se origina a falha com as crianças e adolescentes que resultam na 
reincidência de infrações. 
 
 
3.1 FUNÇÃO DA FAMÍLIA 
 
 
Conforme o artigo referido acima da Constituição Federal, a primeira 
instituição mencionada como responsável por garantir os diretos das crianças e dos 
adolescentes é a família. Pode-se afirmar que seria ele o componente mais 
importante para o desenvolvimento adequado da nossa juventude. 
É o que nos diz Jason Albergaria: 
 
23 
Daí nota-se a importância que tem a família na participação na vida do 
jovem em acompanhar seu crescimento e desenvolvimento, pois esta 
entidade é considerada um dos fatores sociais de prevenção do abandono e 
da delinquência. São inúmeras as opiniões acerca da importância da família 
dentre elas destacamos a de Middendorff ao afirmar que o meio ambiente 
mais importante do menor e da pessoa humana é a sua família, a primeira 
responsável pela sua evolução: boa ou má. 
Na hierarquia do art. 227 da CF/88 a família é a primeira na co-
responsabilidade pelo atendimento dos direitos da criança e do adolescente. 
A mesma por se tratar de um poder paternal que na definição de Albergaria 
consiste no conjunto de poderes e deveres destinados a assegurar o bem-
estar moral e material dos filhos, tomando de conta destes, mantendo as 
relações pessoais e assegurando sua educação, sustento,representação 
legal e administração de seus bens. (1991, p. 110). 
 
Deve ressaltar ainda, que a formação da personalidade do menor está 
diretamente relacionada à estrutura de sua família, sendo decisivo futuramente na 
prevenção da delinquência, entretanto, com tanta pobreza, falta de estrutura, as 
famílias muitas vezes não conseguem assegurar um sustento digno para suas 
crianças, tendo como consequência a marginalidade desses adolescentes. 
 
 
3.2 FUNÇÃO DA SOCIEDADE 
 
 
A responsabilidade da sociedade tem um caráter preventivo, ou seja, ela 
deve contribuir para a conscientização do jovem, evitando sua inserção no mundo 
da criminalidade, já que essa relação pode ser determinante na vida das crianças e 
adolescentes. Os cuidados, o tratamento com a infância e a juventude influenciará 
no comportamento final desse grupo. 
Contudo, a sociedade ultimamente não vem cumprindo com suas 
obrigações, ou melhor, com a sua função de garantir uma vida sadia para as 
crianças e adolescentes, isto porque, conforme nos afirma José Henrique Pierangeli, 
em seu artigo sobre menoridade, existe um esquecimento social: 
24 
 
Sentimos, não sem preocupação, a ausência da sociedade nessa luta 
contra a chamada delinqüência juvenil, a qual assiste, quase que 
passivamente, à violência e brutalidade que orientam a ação de 
delinqüentes de altíssima periculosidade, que permanecem acobertados 
pelo âmbito da menoridade. A disseminação das drogas, nefasta herança 
de uma sociedade consumista, e que sempre busca o ganho fácil ainda que 
ilícito, incrementa o tráfico, amordaça a advertência e anula a orientação da 
família no sentido de evitar o ingresso do jovem no mundo da criminalidade. 
(PIERANGELI, 2003). 
 
João Gilberto Lucas Coelho, fundamenta essa questão da vulnerabilidade 
das crianças e os adolescentes nas relações com violência, ficando clara a 
responsabilidade da sociedade : 
 
Finalmente, cabe dizer alguma coisa sobre a responsabilidade da sociedade 
em geral, segundo a expressão do art. 4º do Estatuto. 
[...] 
Atualmente, com base na observação dos fatos e utilizando conhecimentos 
científicos, pode-se afirmar que a vida em sociedade é uma exigência da 
natureza humana. Com efeito, o ser humano é um animal que, após o seu 
nascimento, por muitos anos não consegue obter sozinho os alimentos de 
que necessita para sobreviver. E, no mundo de hoje, com a maioria das 
pessoas vivendo nas cidades, são muito raros os que produzem os 
alimentos que consomem, sendo necessária toda uma rede de produtores, 
transportadores e distribuidores para evitar que muitos morram de fome. 
Outras necessidades materiais, como um lugar de habitação e trabalho 
abrigado dos rigores da natureza, vestimentas protetoras, meios de 
locomoção, tudo isso faz parte das necessidades materiais, que só podem 
ser atendidas mediante uma troca de bens e de serviços. 
Ao lado disso, existem necessidades espirituais, intelectuais e afetivas que 
a pessoa humana só satisfaz na convivência com outras pessoas. Entre 
estas se inclui a necessidade de expor os pensamentos e de dialogar, que, 
com maior ou menor intensidade, é sentida por todas as pessoas. 
Como fica evidente, todos dependem de muitos outros para sobreviver, e 
não há uma só pessoa que não receba muito, direta ou indiretamente, das 
demais. Os que são mais pobres recebem menos e os que vivem com maior 
conforto e gozam de padrão de vida mais elevado recebem muito mais, não 
havendo, entretanto, quem nada receba dos outros. 
Aí está o fundamento da solidariedade e da responsabilidade. Como as 
crianças e os adolescentes são mais dependentes e mais vulneráveis a 
todas as formas de violência, é justo que toda a sociedade seja legalmente 
responsável por eles. Além de ser um dever moral, é da conveniência da 
sociedade assumir essa responsabilidade, para que a falta de apoio não 
seja fator de discriminações e desajustes, que, por sua vez, levarão à 
prática de atos anti-sociais. (2000, p. 24-25). 
 
 
Conforme aludido acima e seguindo os doutrinadores mencionados, a 
sociedade tem o dever de auxiliar os jovens, participando da sua vida com o objetivo 
25 
do crescimento benéfico para a infância e juventude, para que com isso elas 
respeitem as leis e os valores, impedindo seu desvio de conduta social. 
 
 
3.3 FUNÇÃO DO ESTADO 
 
 
Por último a Constituição Federal atribuiu ao Estado à responsabilidade de 
prevenção das infrações, para que assim garanta a segurança, educação, saúde e 
lazer das crianças e adolescentes. 
Assim analisa o doutrinador Jason Albergaria: 
 
[...] o Estado cooperará com a família nos programas oficiais de auxílio, em 
cumprimento ao art. 227 da Constituição. Se falham a família e a sociedade, 
caberá a intervenção do Estado. Se o pais se omitirem e abusarem do 
direito do menor de devolver harmoniosamente a sua personalidade, 
intervirá o Estado para garantia desse direito da crianças à vida e à 
perfeição ou realização de sua vocação de crescer. A intervenção do 
Estado é necessária no próprio lar, para proteção do direito à vida da 
criança, sobretudo ante a criança mártir, a criança maltratada pelos próprios 
pais. A crueldade dos pais destrói o destino do filho, obsta a sua inserção 
na vida familiar, escolar ou social, o que renderia ensejo à intervenção 
imediata do Estado, para a identificação precoce das relações entre pais e 
filhos. (1995, p. 108-109). 
 
Pode verificar que o Estado não vem contribuindo da forma que deveria para 
a boa formação das crianças e adolescentes, já que em todo País se observa que a 
educação é precária, que não há de programas sociais e ainda a necessidade de 
uma estrutura digna para as famílias pobres. 
 Portanto, pode-se considerar que o Estado não está cumprindo seu papel de 
alicerce para que a família e a sociedade também pudessem garantir uma vida sadia 
para as crianças e aos adolescentes. 
26 
Para finalizar esse capítulo, se entende que o Estado, a sociedade e a família 
seriam co-responsáveis para o desenvolvimento da infância e juventude no País, 
todavia a realidade não condiz com o que se deveria, pois, inúmeras são violações 
dos direitos da criança e adolescente, são famílias maltratando e abusando de suas 
crianças, uma sociedade que não acredita em sua juventude e muitas vezes não dá 
o espaço necessário a ela, e por fim, um Estado corrupto que sequer consegue dar 
condições dignas de saúde e educação para o que deveria ser o futuro do Brasil, a 
juventude. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
4 ASPECTOS GERAIS DAS MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCENTE 
INFRATOR SEGUNDO O ECA 
 
 
Com a finalidade de entender a aplicação das medidas socioeducativas, é 
fundamental esclarecer dois conceitos relativos ao comportamento dos delinquentes 
juvenis. ..................................................................................................... 
 Sendo assim, analisará o conceito de adolescência e de ato infracional, até 
chegar à relação entre as medidas que são impostas às crianças e aos adolescentes 
que comentem a infração. 
O legislador optou em conceituar adolescência pela classificação de faixa 
etária, chamado como critério cronológico absoluto, assim a preconiza também a 
doutrina: 
 
Adotou o legislador o critério cronológico absoluto, ou seja, a proteção 
integral da criança e do adolescente é devida em função de sua faixa 
etária, pouco importando se, por qualquer motivo, adquiriu a capacidade 
civil.(2002, p.22) 
 
 
Nesse sentido, o ECA em seu artigo 2º caput, define criança e adolescente, 
considerando a idade na qual o indivíduo esteja, destacando que a pessoa até os 
doze anos de idade incompletos é considerada criança e quemtem de doze a 
dezoito anos incompletos, será considerado adolescente. 
Já no que se referem os sentimentos conturbados dessa fase, os 
doutrinadores optam por um conceito mais filosófico de adolescência, assim, 
Teixeira Heleno e Monteiro Ribeiro descrevem da seguinte forma: “A adolescência é 
28 
uma época de incertezas, indefinições, de busca de auto-afirmação e de 
pertencimento, enfim, de angústias.” (2010, p. 22). 
Jimena Cristina Gomes Aranda conceitua adolescência, sendo como: 
 
Uma caminhada entre a infância e a idade adulta, marcada por mudanças 
biológicas e psicológicas. Nesta fase o jovem faz um esforço para crescer, 
combinando frequentes impulsos impensados para agir. (2006, p. 72). 
 
 
A adolescência em seu âmbito jurídico já foi esclarecida, ou seja, depende 
da sua faixa etária, porém no que diz respeito as suas emoções, é uma fase de 
confusões, a juventude está se perdendo cada vez mais, pois acreditam já serem 
adultos suficientes para discernir o perigo, entretanto ainda não amadureceram o 
bastante para entender, por exemplo, que o mundo do crime e das drogas pode não 
ter mais volta, pois a sociedade é cruel, e muitas vezes nem o arrependimento, nem 
o cumprimento do disposto em lei, faz com que ela não ofereça espaço a 
ressocialização, tornando o menor um eterno infrator. 
Importante destacar também o conceito de ato infracional, nos termos do 
artigo 103 do ECA, considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou 
contravenção penal. Valem enfatizar que só serão sujeitos ativos do ato infracional 
os menores de 18 anos de idade. 
Contudo, há uma discussão grande sobre o referido termo, alguns 
doutrinadores entendem que o tema não se trata de uma nova categoria jurídica, 
porque seria nada mais que sinônimo de crime ou contravenção penal. 
Nesse sentido, afirma o doutrinador Mário Volpi, “Longe de serem 
conclusivas, as teorias que estudam o ato infracional apontam para uma 
multidiversidade de fatores, concorrentes que o produzem de uma forma complexa e 
de difícil isolamento”.(2001, p. 57)................................................................................ 
29 
No tópico a seguir, analisará cada medida que poderá ser imposta ao 
infrator e ainda como ela deverá ser aplicada. 
 
4.1 MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCENTE INFRATOR 
 
 
Os possíveis meios de responsabilização, aplicáveis ao adolescente infrator, 
com o objetivo da sua ressocialização estão expressos no ECA no artigo 112, o qual 
dispõe que, verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá 
aplicar ao adolescente as seguintes medidas: 
 
I - advertência; 
II - obrigação de reparar o dano; 
III - prestação de serviços à comunidade; 
IV - liberdade assistida; 
V - inserção em regime de semiliberdade; 
VI - internação em estabelecimento educacional; 
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI; 
 
Essas medidas serão cumpridas em meio fechado ou aberto, com 
características diferentes, elas serão aplicadas especificadamente, levando em 
conta a capacidade do adolescente de cumpri-la, bem como as circunstâncias e a 
gravidade da infração. 
 
 
4.1.1 Advertência 
 
 
30 
No que tange a primeira medida, considera-se sendo a mais leve. Alguns 
doutrinadores acreditam que estando presente a prova de materialidade, poderá ser 
fundamentada em simples indícios de autoria. 
Nesse sentido explica Moacir Rodrigues. “[...] Basta que examine que ao 
exigir no artigo 114, provas suficientes de autoria e de materialidade para a 
imposição das medidas previstas nos incisos II a VI, do artigo 112, exclui a exigência 
de prova de autoria para aplicação da advertência”. (1995, p.21). 
Para Válter Kenki Ishida, 
 
Prevê o ECA a medida de advertência consistindo na admoestação, ou 
seja, a leitura do ato cometido e o comprometimento de que a situação não 
se repetirá......................................................................................................... 
Assim, atos infracionais como de adolescentes que cometa, pela primeira 
vez, lesões leves em outro ou vias de fato, podem levar aplicação desta 
medida. (1998, p.76). 
 
Considerará então que a medida de advertência é uma forma de coação 
verbal, que os pais ou responsáveis estarão presentes em todo procedimento, com o 
objetivo de que o infrator mude e assim restabeleça a sociedade normalmente. 
 
4.1.2 Obrigação de reparar o dano 
 
 
A obrigação de reparar o dano normalmente não é muito utilizada, visto que 
para reparação o infrator deve possuir boas condições econômicas, sendo assim, 
poderá ser aplicada outra medida adequada, conforme apresenta o artigo 116, § 
único do ECA: 
 
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a 
autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a 
31 
coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o 
prejuízo da vítima. 
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser 
substituída por outra adequada. 
 
Nesse sentido a autora Cleide Lavoratti afirma que a obrigação de reparar o 
dano consiste em: 
 
[...] determinada quando o ato infracional é atribuído ao patrimônio, então, 
deve ser restituído o bem e ressarcida e/ou compensada a vítima. Esta 
medida deve ser medida considerada que o adolescente reconhece o seu 
erro e assim, o repara. Desta maneira, julga-se educativa, pois não deve ser 
transferida para outra pessoa. Quando se manifesta a impossibilidade da 
aplicação, pode ser substituída por outra medida que a autoridade 
competente julgue mais adequada. (2007, p. 261). 
 
Para Jason Albergaria o objetivo de tal medida é “despertar e desenvolver 
no menor o senso de responsabilidade em face do outro do que lhe pertence”. 
(1991, p. 119) 
A previsão da lei, diz respeito às questões patrimoniais, o adolescente, ou 
melhor, seus pais devem possuir condições financeiras expressivas, para que assim 
seja possível o ressarcimento valorativo do dano. 
 
 
4.1.3 Prestação de serviço à comunidade 
 
 
A medida de prestação de serviços à comunidade prevista no artigo 117 do 
ECA, dispõe que 
 
A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas 
gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto 
a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos 
congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. 
32 
 
Sendo assim, é visível a importância da aplicação dessa medida, visto que o 
Estado não será onerado e ainda acarretará benefícios à sociedade. 
No que se refere tal medida Salomão Shecaira leciona que: 
 
A medida jamais poderá consistir em tarefas humilhantes ou 
discriminatórias. Sua finalidade é induzir no infrator a idéia de 
responsabilidade, de apego as normas comunitárias, de respeito pelo 
trabalho, bem como produz na comunidade uma sensação de obediência 
às regras. Além disso o órgão ou entidade beneficiada com a prestação do 
serviço do adolescente deve enviar relatório periódico ao juiz da infância e 
juventude que fiscaliza a execução da medida, narrar eventuais incidentes 
que possa ocorrer e controlar sua frequência. A duração máxima da 
medida é pelo período de seis meses. (2008, p. 198-199). 
 
A prestação de serviços à comunidade, se aplicada corretamente será uma 
das medidas que alcançará a sua finalidade facilmente, isto porque, o adolescente 
mediante prestação de serviços não ocasionará gastos para o Estado e ainda gerará 
várias benfeitorias a sociedade. 
 
4.1.4 Liberdade Assistida 
 
 
A liberdade assistida está prevista no ECA em seu artigo 118 e 119, 
conforme descrito na íntegra: 
 
Art. 118.A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a 
medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o 
adolescente. 
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a 
qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. 
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, 
podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por 
outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. 
 
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade 
competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros: 
33 
I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes 
orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou 
comunitário de auxílio e assistência social; 
II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, 
promovendo, inclusive, sua matrícula; 
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua 
inserção no mercado de trabalho; 
IV - apresentar relatório do caso. 
 
Essa medida surgiu no Código de Menores (1927), porém naquela época, 
era chamada de liberdade vigiada. 
A liberdade assistida diz respeito em não afastar o adolescente do seu meio 
natural, lar, escola ou trabalho, apenas terá acompanhamento de um funcionário 
qualificado para orientá-lo. O doutrinador Salomão Schecaira vem explicar melhor a 
origem e ainda no que consiste a referida medida: 
 
A liberdade assistida já era prevista no Código de Menores de 1927 
denominada de liberdade vigiada, também presente no Código de 79 
recebeu a nomenclatura utilizada atualmente. Esta medida é ideal para 
infrações de média gravidade por não ter os inconvenientes das medidas 
institucionais. Sua imposição se dará através do juiz que designará uma 
pessoa capacitada para acompanhar o adolescente. O encargo será 
pessoal, ainda que exista entidade governamental ou privada que estruture 
a fiscalização do acompanhamento. A pessoa responsável pelo 
acompanhamento é chamada de orientador. (2008, p. 200). 
 
O procedimento dessa medida se pauta na orientação de um responsável 
designado, como mencionado na citação acima, assim para Cleide Lavoratti, o 
procedimento funciona da seguinte maneira: 
 
O orientador desta medida sócio educativa, deve ter o apoio e 
supervisão da autoridade competente, para acompanhar o 
adolescente no prazo máximo de seis meses, podendo a medida 
ser prorrogada, revogada ou substituída a qualquer tempo, deste 
que seja ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. 
(2007, p. 262). 
 
 
34 
Os tribunais estão entendendo que a aplicação da liberdade assistida deve 
ser mais utilizada, já que visa a ressocioalização do infrator, podendo substituir a 
medida pelas demais, vejamos o entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná, 
 
Ementa 
DECISÃO: ACORDAM os julgadores da Segunda Câmara Criminal do 
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em composição fracionária, por 
unanimidade, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. 
EMENTA: APELAÇÃO-ECA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A 
TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33, DA LEI Nº 11.343/06). INTERNAÇÃO 
DETERMINADA PELA SENTENÇA. RECURSO PEDINDO A 
PROGRESSÃO DA MEDIDA. POSSIBILIDADE. A INTERNAÇÃO FOI 
APLICADA FORA DAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ECA E A MEDIDA 
DE LIBERDADE ASSISTIDA DEMONSTRA SER MAIS ADEQUADA AO 
CASO. PARECER FAVORÁVEL DA PROCURADORIA GERAL DE 
JUSTIÇA. MEDIDA EXTREMA DE INTERNAÇÃO APLICADA SOMENTE 
COM BASE NA GRAVIDADE EM ABSTRATO DO ATO INFRACIONAL. 
RECURSO PROVIDO. (TJPR- Processo 853682-5- 2ª Câmara Criminal – 
Relator: Valter Ressel- publicado em 13/04/2012). 
 
Evidente que essa medida, em tese, é a que mais chega próximo do 
objetivo das medidas socioeducativas prevista no ECA, afinal, possibilita um 
acompanhamento da vida social do adolescente supervisionando-o na escola, 
promovendo-o socialmente e ainda buscando a inclusão no mercado de trabalho. 
 
4.1.5 Regime de semiliberdade 
 
 
No que se refere a esse regime, pode-se analisar que versa sobre uma 
medida restritiva de liberdade, em termos de cerceamento do direito de ir e vir do 
infrator, entretanto, com a ressalva de que tal medida não irá restringir integralmente 
o direito do adolescente. Sua finalidade é oportunizar o acesso a serviços e 
organizar sua vida, visando ressocializá-lo. 
Desta forma, a doutrinadora Cleide Lavoratti conceitua a referida medida: 
35 
 
Artigo 120 (ECA), trata-se de medida restritiva de liberdade, porém, não é 
tão extrema quanto à medida de privação de liberdade, pois o adolescente 
não fica totalmente privado de seu direito de ir e vir. O Juiz pode aplicar esta 
medida, desde o início, ou como forma de regressão da medida de 
internação para a medida em meio aberto. (2007, p. 262-263). 
 
Quanto a regressão citada pela autora acima, o Tribunal de Justiça do 
Paraná é claro, vejamos: 
 
Ementa: 
DECISÃO: ACORDAM os julgadores integrantes da 2ª Câmara Criminal do 
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em composição fracionária, por 
unanimidade de votos, em conceder a ordem não só para que o paciente 
passe a cumprir a medida socioeducativa de semiliberdade, mediante 
expedição do competente alvará de desinternamento, mas também para 
que sua família venha a ser inserida em programas de orientação, conforme 
dispõem os arts. 122, § 2º, e 129 do ECA. EMENTA: PENAL. HABEAS 
CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO APLICADA AO 
PACIENTE EM RAZÃO DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL 
EQUIPARADO A HOMICÍDIO. PARECER TÉCNICO OPINANDO PELA 
SEMILIBERDADE. MANUTENÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO 
FUNDAMENTADA NA FINALIDADE DE SEDIMENTAR O PROGRESSO 
ATÉ ENTÃO OBTIDO COM A INTERNAÇÃO. DECISÃO QUE, EMBORA 
COERENTE, DESCONSIDEROU OUTROS FUNDAMENTOS 
IGUALMENTE RELEVANTES. NECESSIDADE DE SE CONFERIR UM 
CERTO GRAU DE LIBERDADE AO PACIENTE COMO MEIO DE AVALIAR 
SUA EFETIVA ADESÃO AOS COMPROMISSOS ASSUMIDOS DURANTE 
A INTERNAÇÃO. RISCO DE REGRESSÃO, AQUISIÇÃO DE CULTURA 
CARCERÁRIA E FENÔMENO DE PRISIONIZAÇÃO. FATORES QUE 
JUSTIFICAM A PROGRESSÃO DA MEDIDA. ART. 122, § 2º, DO ECA. 
INSERÇÃO DA FAMÍLIA EM PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO. ART. 129 
DO ECA. ENTENDIMENTO CONSENTÂNEO COM O PRINCÍPIO DA 
RAZOABILIDADE E COM OS DITAMES CONSTITUCIONAIS DO ECA. 
ORDEM CONCEDIDA. (TJPR- Processo: 809447-5. 2ª Câmara Criminal – 
Relator: Valter Ressel- publicado em 16/09/2011). 
 
Essa medida possui uma característica específica que a diferencia da 
privação de liberdade, ela possibilita aos adolescentes saídas externas, desde que 
acompanhas pelo seu orientador. 
 
4.1.6 Internação 
 
 
36 
Está previsto nos artigos 121 a 125 do ECA, vale destacar que a medida de 
internação é extremamente antiga, pois existe desde muito antes da criação do 
Estatuto, é herdada do Código Penal e vem sofrendo constantes mudanças, visto 
que surgiu com o intuito ser altamente repressiva, no entanto, hoje há um caráter 
mais educativo. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 121 dispõe sobre a 
medida de internação: 
 
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos 
princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de 
pessoa em desenvolvimento. 
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe 
técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. 
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção 
ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis 
meses. 
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três 
anos. 
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente 
deverá ser liberado, colocado em regime de semi-liberdadeou de liberdade 
assistida. 
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. 
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização 
judicial, ouvido o Ministério Público. 
 
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça prevê que: 
 
Ementa 
ECA. HABEAS CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. 
APLICAÇÃO. 
ATOS INFRACIONAIS ANÁLOGOS AOS CRIMES DE ASSOCIAÇÃO E 
COLABORAÇÃO PARA O TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. NÃO 
OCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES DO ARTIGO 122 DO ALUDIDO 
ESTATUTO. IMPOSSIBILIDADE. 
PACIENTE AMEAÇADO DE MORTE POR TRAFICANTES. SITUAÇÃO 
QUE NÃO JUSTIFICA APLICAÇÃO DE MEDIDA MAIS SEVERA. ORDEM 
CONCEDIDA. 
1. A medida socioeducativa de internação somente pode ser imposta ao 
adolescente na hipótese de não haver outra mais adequada e menos 
onerosa à sua liberdade, e caso o adolescente incida em quaisquer das 
hipóteses previstas no artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
2. Os atos infracionais análogos aos crimes de associação e colaboração 
para o tráfico ilícito de entorpecentes, não ensejam, por si só, a aplicação da 
medida socioeducativa de internação, já que a conduta não pressupõe 
37 
violência ou grave ameaça a pessoa. Na espécie, consta dos autos que o 
adolescente fora ameaçado de morte pelos "chefes do tráfico". Nesse 
contexto, não é razoável restringir mais acentuadamente o direito de 
liberdade do paciente em nome do princípio da proteção integral. Tal 
primado destina-se ao Estado, à família e à sociedade civil que, juntos, 
devem zelar pelo bem-estar da criança e do adolescente. 
3. Ordem concedida, em menor extensão, a fim de modificar a medida 
socioeducativa para a semiliberdade. 
(HC 217.983/RJ, Relatora: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, 
SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe 14/12/2011) 
 
Com base no julgado assim, pode extrair que a medida de internação deve 
ser aplicada em situações extremas, já que ela cessa a liberdade do infrator, assim, 
ela poderá ser alterada em caso de existir outra medida mais adequada e que 
também o infrator não tenha incidido no artigo 122 do ECA. 
Além disso, a aplicação da medida de internação tem que cumprir o que 
dispõe o artigo 122 do ECA, que prevê três situações onde caberá a imposição da 
medida, nesse sentido afirma Moacir Rodrigues, 
 
[...] a medida extrema de internação ficou restrita a três situações, 
insculpidas no art. 122, podendo ser imposta quando: 
 
 “ I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou 
violência a pessoa; 
II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves; 
III – por descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente 
imposta.” (1995, p.33) 
 
É de se destacar ainda, que o ECA expressamente prevê em seu artigo 125 
a obrigação do Estado em garantir uma internação digna aos adolescentes, devendo 
ele zelar pela integridade física e mental dos internos. 
 
38 
5 EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS E SUA RELAÇÃO COM A 
REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL 
 
 
Neste último capítulo será analisada a efetiva execução das medidas 
socioeducativas, suas aplicações e ainda a relação que isto tem com a reincidência 
da delinquência juvenil. 
João Batista Costa Saraiva cita em seu artigo que está ocorrendo uma crise 
na interpretação do próprio Estatuto: 
 
cumpre lembrar que, embora o número de adolescentes autores de ato 
infracional seja percentualmente insignificante em face do conjunto da 
população infanto-juvenil brasileira, a ação deste pequeno grupo tem 
grande visibilidade. È bom que se destaque que se está a falar de menos de 
um por cento da população infanto-juvenil do Brasil, se cotejados os 
números daqueles adolescentes incluídos em medidas socioeducativas (de 
privação de liberdade e de meio aberto) com o conjunto da população com 
menos de dezoito anos.Ainda assim, por conta de uma crise de 
implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que resulta de 
uma crise de interpretação do próprio Estatuto, as insuficientes ações em 
face da chamada “delinquencia juvenil” acabam tendo o poder de 
contaminação de toda a política pública de defesa dos direitos humanos da 
infância e da juventude brasileira, colocando em risco a proposta de 
funcionamento de todo sistema. (SARAIVA, 2009). 
 
Ainda conforme observa o autor, o que vem ocorrendo é um pouco mais 
complexo, tem relação com a execução das medidas através da incompetência do 
Estado: 
 
A problemática se situa muito mais na incompetência do Estado na 
execução das medidas socioeducativas previstas na Lei, a inexistência ou 
insuficiência de programas de execução de medidas em meio aberto e a 
carência do sistema de internamento (privação de liberdade). (SARAIVA, 
2009). 
 
39 
No próximo item, analisará a causa da reincidência juvenil e para isso 
deverão ser estudados alguns conceitos. 
 
5.1 REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL 
 
 
Esse item tem por objetivo mostrar o que vem causando a reincidência da 
delinquência juvenil no País, sendo assim, passará analisar primeiramente o 
conceito de delinquência juvenil e a origem do infrator delinquente. 
Há muito tempo já se discutia a situação da delinquência, César Barros Leal, 
afirma que “em estudo comparativo, publicado no ano de 1952, pelas Nações 
Unidas, já se inferia expressamente que, longe de ser um problema independente, é, 
ao revés, um aspecto de questão global da criminalidade”.(1983, p.85). 
Ainda para César Barros Leal: 
 
O conceito de delinquência juvenil (dita expressão teria sido usada pela 
primeira vez em 1815, na Inglaterra, por ocasião do julgamento de 5 
meninos de 8 a 12 anos de idade) não é unívoco. Diferentes posições são 
adotadas nesse sentido, destacando-se as seguintes: a) a delinquência 
juvenil compreende os comportamentos anti-sociais praticados por menores 
e que sejam tipificados nas leis penais; b) a delinquência juvenil não deve 
ser encarada sob uma perspectiva meramente jurídica, devendo incluir 
também os comportamentos anormais, irregulares ou indesejáveis; c) a 
delinquência juvenil abrange, além do que foi assinalado nas teorias 
anteriores, aqueles menores que, por força de certas circunstancias ou 
condutas, necessitem de reeducação, cuidado e proteção. Das três 
posições a mais adotada é a primeira. (1983, p. 43). 
 
Atualmente a delinquência ainda é um campo não muito claro, conforme 
observa José Henrique Pierangeli, “a delinquência juvenil constitui um tema dos 
mais controvertidos no saber penal, e sobre ele se dedicam grandes cultores dos 
vários campos do conhecimento humano”.(2003). 
40 
No que tange a violência que vem desencadeando essa delinquência, Flávio 
Cruz Prates destaca: 
 
A violência contra a criança e o adolescente é notícia notória e vem 
atingindo índices preocupantes. Grande parcela de nossa juventude sofre o 
abandono material e emocional, é explorada através do trabalho infantil, 
exposta à violência física, abuso sexual e vitimada pela discriminação e 
desamparo governamental. (2001, p. 2-3). 
 
Portanto, a delinquência juvenil tem um caráter familiar e governamental, 
pois todo adolescente necessita do amparo da família e do Estado, já que em 
decorrência de suas características próprias passam por momentos de mudanças e 
inseguranças, onde o certo e o errado se misturam, esse amparo deve 
necessariamente acontecer, pois toda essa confusão de sentimentos poderá 
acarretar um desequilíbrio emocional fazendo com que o adolescente se deixe levar 
para o mundo da criminalidade. 
 
 
5.2 REINCIDÊNCIA DOS ATOS INFRACIONAIS 
 
 
A reincidência dos adolescentes está pautada, sem sombra de dúvidas, na 
estrutura precária que se encontra o País, na má fiscalização das medidas impostas 
para o infrator que muitas vezesnão cumpre o que lhe foi aplicado, já que o 
adolescente não vê na prática a sua punição. 
Em estudo realizado no Distrito Federal, fica evidente a causa da 
reincidência: 
 
41 
Da população juvenil que está no Caje, 80% são reincidentes; 45% não se 
sentem seguros no local; e 42% abandonaram a escola. Mais da metade 
dos internos é de Ceilândia, Samambaia e Planaltina, segundo 
levantamento da UnB. 
O estudo relata ainda a informação da socióloga Bruna Gatti, que (...) De 
acordo com ela, apenas desocupar o Caje não resolve o problema da 
delinquência juvenil. ‘A estrutura do Caje é falida, mas desativar e mandar 
para um lugar onde aconteçam rebelião e mortes não resolve. Tem de ser 
um lugar que ofereça educação, cursos profissionalizantes, esportes, 
cultura. Mas também é preciso criar políticas públicas para evitar que 
crianças e adolescentes ingressem no crime, como investir em projetos 
sociais nas periferias, dar alternativas para que o jovem não seja seduzido 
pelo que a rua lhe oferece’. (GATTI, 2010). 
 
No último tópico, verificará a eficácia das medidas socioeducativas do ECA, 
para que se obtenha a origem dos problemas com a reincidência da delinquência 
juvenil, que relatou-se no trabalho. 
 
5.3 DA EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E A ANALOGIA 
COM A REINCIDÊNCIA DOS INFRATORES 
 
 
Este item analisará a real execução das medidas, as quais sejam: 
advertência, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade 
e internação, para entender melhor o motivo de tanta reincidência de infrações: 
a) Primeiramente verificará a medida de advertência, que é considerada a 
mais branda, consiste na coação verbal, para as infrações leves, conforme já 
explicado em um dos capítulos anteriores. Contudo, para que ocorra a eficácia da 
advertência, seria necessário o acompanhamento familiar, mesmo que sua aplicação 
fosse feita somente uma vez, pois caso contrário o infrator poderá entender que tal 
procedimento não está sendo eficaz, ou melhor, sua conduta não será 
responsabilizada na prática. Assim, nota-se que a referida medida, aplicada mais de 
uma vez, contribui para a reincidência da delinquência juvenil no País. 
42 
b) No que se refere à medida da obrigação de reparar o dano, deve analisar 
a situação econômica da família do infrator, pois tal medida versa sobre reparar o 
dano causado a vítima, todavia muitos doutrinadores criticam esse procedimento, 
uma vez que o cumprimento se dá pelos seus pais ou responsáveis, não sendo 
atingindo os objetivos de reeducação do mesmo. 
Para Renata Ceschin Melfi de Macedo, a medida chega ferir a Carta Magna, 
senão vejamos: 
Nesse sentido, observa-se que o cunho da medida é essencialmente 
educativo, no sentido de conscientizar o adolescente de que o dano 
causado a outrem deve ser ressarcido e com a finalidade de lhe incutir 
responsabilidade por seus atos. A transferência do encargo aos pais ou 
responsável frustaria tal objetivo, bem como acabaria por ferir o princípio 
constitucional previsto no art. 5º, XLV. (MACEDO, 2008, p. 150). 
 
Percebe-se então que a reparação do dano quando cumprida pelos pais ou 
responsáveis (é o que ocorre na maioria das vezes) terá uma grande relação com a 
reincidência das infrações, visto que não consegue alcançar seu caráter 
socioeducativo. 
c) Já a medida de prestação de serviço à comunidade é uma das medidas 
que mais coincide com a finalidade de reeducação e ressocialização do infrator, isto 
porque, consiste em realização de serviços gratuitos a toda sociedade, nunca 
discriminatórios ou humilhantes, porém sua execução, como já mencionado no 
presente trabalho, depende de uma equipe, de entidades públicas e privadas, para 
que fiscalizem e ofereçam acesso ao serviço comunitário, ressalta-se que isso 
normalmente não ocorre, fazendo parte também dos índices de reincidência. 
d) No que se refere à liberdade assistida é a medida que deve ter o auxílio 
da sociedade no acompanhamento do procedimento, seja escolar ou no trabalho, 
havendo uma inclusão natural do adolescente infrator. 
43 
O estudo realizado em Fortaleza, afirma que o auxílio escolar é de suma 
importância, conforme relato a seguir. 
De acordo com o estudo, 68% dos jovens que cumprem essa medida 
socioeducativa afirmaram ser usuários de entorpecentes. Contudo, apenas 
5% foram encaminhados para tratamento de desintoxicação, por exemplo. 
A pesquisa Execução de Medidas Socioeducativas de Liberdade Assistida 
em Fortaleza: sua forma, seu impacto, seus executores e os adolescentes e 
jovens que a cumprem apontou também que a quantidade de adolescentes 
e jovens fora da sala de aula é alta: mais de um terço dos participantes 
ouvidos. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, no inciso II do artigo 119, 
determina que, para que haja efetivamente liberdade assistida, é necessário 
‘supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, 
promovendo, inclusive, sua matrícula’. 
Outras críticas são a desarticulação dos programas; a grande quantidade de 
adolescentes para poucos profissionais; e a ausência de uma rede que 
garanta os direitos desses jovens. (WAMBERGNA, 2008). 
 
Essa medida aplicada corretamente afastaria a reincidência da delinquência 
juvenil, contudo, deve ponderar que sua execução só será eficaz se a equipe 
necessária estiver efetivamente empenhada e disponível para tal fiscalização. É o 
que diz o doutrinador Jason Albergaria: 
 
Sob a perspectiva jurídica, a liberdade assistida se caracteriza como 
instituição legal, colocando o menor, por decisão do juiz, em seu meio 
natural, sujeito à orientação e assistência do pessoal tutelar. Não é uma 
sanção penal, mas limita a liberdade e alguns direitos do menor, segundo 
as condições impostas com vista aos seus fins pedagógicos, para assegurar 
a educação ou reeducação do menor e impedir a reincidência. (1995, p.127-
128). 
 
 
 
Assim, caso sua execução está ligada ao desempenho da equipe de 
fiscalização, que na maioria das vezes, não cumpre com seus objetivos. 
d) Sobre a medida de semiliberdade, considera-se que o adolescente 
necessita permanecer no estabelecimento, porém podendo ser autorizadas saídas 
externas, o adolescente deve ser instruído com as regras de maneira clara, com os 
horários e as obrigações, sendo necessária a frequência escolar e a 
profissionalização do indivíduo. 
44 
Essa medida preencheria todos os requisitos para finalidade das medidas 
socioeducativas, contudo, a realidade é outra, uma vez que a maior dificuldade são 
as casas, instituições onde deveria ser realizado o cumprimento da semiliberdade. 
Nesse sentido assegura Nogueira que “a aplicação da medida de regime de 
semiliberdade deve ser acompanhada de escolarização e profissionalização 
obrigatórias, embora e saiba também que não existem escolas suficientes e 
adequadas ao cumprimento dessa medida”. (1988, p. 154). 
Assim, considera que a medida de semiliberdade, se executada da forma 
que deveria, com instituições preparadas, bem estruturadas, alcançaria a finalidade 
das medidas socioeducativas. 
e) Por fim, a medida de internação, que deve ser aplicada somente em 
casos graves, ou melhor, deverá ser aplicada via de regra como exceção, em último 
caso, vem tendo sua execução dificultada no que tange também na inexistência das 
unidades e ainda nas condições precárias das que existem, em uma pesquisa 
realizada em São Paulo criada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), constatou-
se que: 
 
Equipes do projeto terminaram, no último dia 19 de agosto, o levantamento 
nos estabelecimentos da capital e região metropolitana de São Paulo. Em 
setembro, os grupos seguem para o interior paulista, onde há cerca de 70 
unidades de internação. Com a conclusão deste trabalho, oCNJ fará um 
relatório nacional sobre a internação de adolescentes no Brasil. A 
expectativa é a de que o diagnóstico seja divulgado até o fim do ano.No 
entanto, com as visitas realizadas até o momento, já é possível notar falhas 
do sistema de internação. As equipes do CNJ constataram, em alguns dos 
estados por qual passou, carência de investimento nas unidades de 
internação; falta de investimento nas medidas socioeducativas em meio 
aberto; inexistência de programas para os egressos do sistema 
socioeducativo; descumprimento de normas administrativas; superlotação; 
adolescentes em cadeias; assim como escassez de cursos de capacitação 
para os magistrados, técnicos e servidores de varas da infância e juventude. 
(SOUZA, 2011). 
 
45 
Com todo exposto nesse capítulo, se pode observar que as execuções da 
maioria das medidas estão contribuindo para a reincidência dos infratores, verifica-
se também que as dificuldades mais visíveis se encontram na infraestrutura de um 
sistema defasado ou ainda uma fiscalização inadequada. 
 
 
46 
6 CONCLUSÃO 
 
 
Este trabalho evidencia a importância que o tema traz ao País e que os co-
responsáveis tem o dever de garantir uma execução efetiva da medidas 
socioeducativas do ECA, com o intuito de que os infratores não reincidam na 
delinquência juvenil, tem a obrigação ainda de agir e se preocupar mais com a 
nossa infância e juventude. 
Analisou-se em relação à família, sociedade e Estado as principais falhas 
que pudessem levar a conduta atípica das crianças e dos adolescentes, resultando 
na reincidência da delinquência dos menores. Constatou assim, que a família 
deveria ter maior cuidado com suas crianças e adolescentes, isto porque o futuro 
delas está ligado diretamente com a estrutura familiar de vida. A sociedade deve 
entender que a juventude tem sim que cumprir com seus deveres assim como os 
adultos, contudo, como são mais frágeis, possuem um cuidado específico e o 
Estado, que está muito aquém do que deveria ser, deve garantir toda segurança que 
essa fase necessita. Enfim, essas instituições são responsáveis para uma vida sadia 
para a infância e juventude do País, todavia como já mencionado ultimamente não 
se tem visto um cuidado por parte das referidas instituições, muito pelo contrário, 
tem-se visto um descaso enorme, seja no acompanhamento familiar, social e o 
auxílio do Estado. 
Neste estudo entendeu-se que mesmo o Estatuto da Criança e do 
Adolescente embora seja completo e revestido de medidas socioeducativas que 
objetivam uma ressocialização digna aos infratores, os erros cometidos, pelas 
famílias, sociedade e/ou principalmente por parte do Estado, não permitem a 
execução efetiva de tais medidas, fazendo com que as crianças e os adolescentes 
47 
cada vez mais confiem na ineficácia do ECA, possibilitando que ocorra a prática 
reiterada de atos infracionais......................................................................................... 
 Desta forma pode concluir que o Estatuto da Criança e do Adolescente, no 
que se refere as medidas socioeducativas está completo, bem embasado, entretanto 
sua execução não está funcionando, seu cumprimento não está sendo eficaz, já que 
o sistema é defasado e precário, ressalta-se ainda que as fiscalizações não seguem 
como deveriam. 
 
48 
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