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Gestão de Resíduos Sólidos e Gestão Ambiental: O caso de uma Fábrica de Sorvetes em Limoeiro, Pernambuco Andréa Karla Travassos de Lima (Faculdade Damas da Instrução Cristã, Faculdade Joaquim Nabuco – Campus Recife, Faculdade de Ciências Aplicadas de Limoeiro) andreatravassosk@hotmail.com Jéssica Novaes da Silva (Faculdade de Ciências Aplicadas de Limoeiro) jessicanovaes_93@outlook.com Resumo: As empresas com o passar do tempo vem mudando sua postura em relação aos resíduos sólidos e principalmente com o advento da Lei nº 12.305/2010 que trouxe várias determinações, entre elas: a responsabilidade pelo ciclo de vida do produto, a logística reversa, a gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos. Também iniciam a implantação da gestão ambiental, que precisa da criação de uma política e planejamento ambiental para um melhor gerenciamento ambiental. Nesse contexto, o presente artigo aborda a gestão de resíduos sólidos e a gestão ambiental. Com o objetivo de mostrar o gerenciamento dos resíduos sólidos de uma fábrica de sorvetes. Para isto foi realizado uma pesquisa bibliográfica e de campo, tendo como objeto de estudo a empresa Milet, localizada em Limoeiro, Agreste Setentrional de Pernambuco. Entre os resultados percebe-se a preocupação em destinar de maneira adequada seus resíduos sólidos e a possibilidade de parcerias. Palavras chave: resíduos sólidos, gestão ambiental, empresa. Management of Solid Waste and Environmental Management: The case of a Ice Cream Factory in Limoeiro, Pernambuco Abstract: Companies with the passage of time has changed its position in relation to solid waste and especially with the enactment of Law No. 12,305 / 2010 which brought several determinations, including: responsibility for product life-cycle management, reverse logistics, management and the management of solid waste. Also begin the implementation of environmental management, which requires the creation of a political and environmental planning for better environmental management. In this context, this article discusses the management of solid waste and environmental management. In order to show the management of solid waste an ice cream factory. To this was accomplished a bibliographical and field research, with the object of study to Milet company, located in Lemon Tree, North Agreste of Pernambuco. Among the results we see the concern to allocate appropriately their solid waste and the possibility of partnerships. Keywords: solid waste, environmental management company. 1 Introdução Rodrigues e Cavinatto (2003) ressaltam que a partir da Revolução Industrial (século XVIII) as fábricas iniciaram a produção em larga escala e a introduzir embalagens no mercado, aumentando o número de resíduos sólidos gerados como também a diversidade desses resíduos. Ainda os autores, consideram que “o ser humano passou a viver então a era dos descartáveis, em que a maior parte dos produtos – de guardanapos de papel a computadores – são utilizados e jogados fora com enorme rapidez” (p. 6). Nesta “Era dos descartáveis”, como menciona Rodrigues e Cavinatto (2003 p. 9) as indústrias evoluíram com descoberta de novas tecnologias que vem tornando ultrapassados modelos e versões de aparelhos, que com a contribuição da mídia em incentivar a população a descartar produtos ainda em uso por serem considerados velhos, aumentando dessa forma ainda mais a geração de resíduos. Diante do aumento da geração dos resíduos sólidos, o Brasil instituiu em agosto de 2010 a Lei nº 12.305 que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Nesta contém os princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes para a gestão integrada e o gerenciamento de resíduos sólidos, as responsabilidades e os instrumentos econômicos (BRASIL, 2010). Também em 2010 foi aprovada a Lei Estadual nº 14.236 de 13 de Dezembro de 2010 que institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos (PERS), onde dispõe as diretrizes gerais a serem aplicados no Estado de Pernambuco, princípios, objetivos, instrumentos de gestão, responsabilidade e instrumentos econômicos (PERNAMBUCO, 2010). Tais legislações apontam na direção adequada para o gerenciamento dos resíduos sólidos. Este marco legal exige das empresas uma postura mais responsável em relação aos resíduos sólidos. Além de uma mudança de comportamento em relação aos resíduos sólidos, as empresas também tem inserido em sua gestão a temática ambiental. Pode-se perceber atualmente em sites, por exemplo, que as organizações vêm expondo além de missão, visão e valores a Política Ambiental, que destaca como a instituição vai cuidar do meio ambiente, mostrando dessa forma uma preocupação com o desenvolvimento sustentável. Como também a implantação dos Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) e consequentemente a International Organization for Standardization (ISO) 14001. Perante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo geral mostrar o gerenciamento dos resíduos sólidos de uma fábrica de sorvetes, identificar os resíduos gerados e sua destinação, conhecer aspectos teóricos da gestão ambiental e propor melhorias para o gerenciamento dos resíduos sólidos e para a gestão ambiental. Acredita-se que este artigo possa contribuir com a formação de administradores mais responsáveis com os resíduos sólidos gerados pelas empresas ao qual sejam responsáveis e possam compreender a gestão ambiental como um fator diferencial competitivo para as organizações. 2 Referencial Teórico Este espaço está dividido em três capítulos, o primeiro menciona os principais conceitos sobre os resíduos sólidos urbanos, em seguida no segundo capítulo está disposto como as empresas devem gerenciar seus resíduos sólidos e um terceiro Capítulo que trata sobre a Gestão Ambiental. Damia Sublinhado 2.1 Resíduos Sólidos Urbanos O lixo é derivado do termo em latim lix que no dicionário é definido como sujeira, imundice, coisa inútil, velha ou sem valor, em uma linguagem técnica pode ser definido como sinônimo de resíduos sólidos que compõe os materiais descartados pelas atividades humanas (RODRIGUES; CAVINATTO, 2003). Dias (2002 p. 75 apud WALDMAN, 2010 p. 30) menciona que “nesta linha de argumentação, a cultura do lixo deve desaparecer para ceder lugar à cultura dos resíduos sólidos como matéria-prima digna de reaproveitamento”. Nesse contexto, o que antes era considerado inútil passa a ter valor. Os resíduos sólidos são definido na Lei nº 12.305/2010 em 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS como: “material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido” (...) (BRASIL, 2010 ART. 3º, XVI). Para Muhringer e Shayer (2007) para realizar um bom gerenciamento dos resíduos é necessário antes identificar, classificar e conhecer a origem. Tais resíduos podem ser classificados por composição, por fonte geradora e pelo risco potencial. Em relação à composição química dos resíduos podem ser dividido em orgânicos ou inorgânicos: a) Resíduo orgânico: possui matéria-prima derivado dos seres vivos, como exemplo pode citar os restos de alimentos e penas e pelos de animais. b) Resíduo inorgânico: os que não são derivados de seres vivos, como vidro, plástico e metal. No que diz respeito à classificação por fonte geradora, os resíduos podem ser: comercial, domiciliar ou doméstico, público, industrial, serviço de saúde, serviço de transporte, entulho de construção civil e agrícola. Já quanto ao risco potencial, os resíduos podem ser classificados em classe 1 (resíduos perigosos) e classe 2 (resíduos não perigosos). Ainda os autores, ressaltam os diferentes destinos que podem ser oferecidos aos resíduossólidos, entre ele estão o lixão, aterro controlado, aterro sanitário, incineração, compostagem e reciclagem: a) lixão: um espaço aberto onde os resíduos são depositados sem nenhum tratamento, não existe nenhum controle dos detritos nem tratamento do chorume ou metano. b) aterro controlado: os resíduos são compactados e recobertos diariamente com uma camada de entulhos ou terra. c) aterro sanitário: este terreno é escolhido com critérios técnicos, através de estudos geológicos e de impacto ambiental. O solo possui a proteção de material isolante e existe sistema de captação do chorume e os gases produzidos pela decomposição dos resíduos. d) incineração: os resíduos são queimados em fornos projetados a uma temperatura de 800ºC, que destrói os microrganismos presentes dos resíduos. e) compostagem: é um processo de decomposição biológica através dos microrganismos, acontecem através da umidade, temperatura e aeração controlados. f) reciclagem: os resíduos são reaproveitados como matéria-prima nas indústrias (MUHRINGER; SHAYER, 2007). A PNRS define a destinação ambiente adequada como: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;(BRASIL, 2010 art. 3º, VII). Também a Lei nº 12.305/2010 define a disposição final ambientalmente adequada como: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos; (BRASIL, 2010 art. 3º, VIII). Diante do exposto, para uma destinação ambientalmente adequada são utilizados a reutilização, reciclagem, compostagem, recuperação e aproveitamento energético dos resíduos e para a disposição final ambiente adequado deve ser utilizado o aterro sanitário, para os rejeitos. Esses são resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada; (BRASIL, 2010 art. 3º, XV). 2.2 Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos à luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos Os autores Mattos e Granato (2009 p. 7) destacam que “nenhum objeto dura para sempre. Roupas, móveis, brinquedos, utensílios domésticos podem durar um tempo, mas certamente irão acabar um dia”. Também citam que as pessoas pensam que resolvem o problema do lixo apenas jogando para fora de casa. No que diz respeito ao posicionamento das empresas Seiffert (2011) ressalta o amadurecimento ao longo das últimas décadas. Até a década de 70 o paradigma era de dispensar os poluentes, ou melhor, (...) “lançar os poluentes o mais longe possível da fonte geradora, evitando assim problemas com partes interessadas” (p. 51). Entre as décadas de 70 e 80 a evolução tecnológica proporcionou um consumidor com maior nível de exigências. Já a década de 90 teve maior ênfase no processo de prevenção da poluição. Neste cenário “Poluição passa a ser sinônimo de um desperdício que a organização não pode se dar o luxo de manter” (SEIFFERT, 2011 p. 52). Dessa forma, as empresas precisam trabalhar para reduzir a poluição e consequentemente os desperdícios da organização. Isto leva ao gerenciamento e a gestão adequada dos resíduos sólidos. O gerenciamento de resíduos sólidos está relacionada à coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final dos resíduos e da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos conforme o plano municipal de resíduos. Enquanto a gestão integrada de resíduos sólidos segundo conceito, corresponde a ações direcionadas para soluções relacionadas aos resíduos sólidos pautados nas dimensões do desenvolvimento sustentável (política, econômica, ambiental, social, cultural) (BRASIL, 2010 art. 3º, X, XI). Assim, a empresa deve gerenciar desde a coleta até a destinação final, como também precisa elaborar ações que proporcionem o desenvolvimento sustentável. Os autores Pereira, Silva e Carbonari (2011 p. 68) destacam que “começa a crescer a consciência em relação a problemas como a degradação ambiental (...) e a necessidade de se buscar um modelo capaz de assegurar o equilíbrio entre preservação ambiental e o desenvolvimento econômico, que satisfaça as necessidades da atual e futura geração”. Ainda os autores ressaltam que a proposta “é uma nova concepção de prosperidade, diferente da visão tradicional (baseada exclusivamente no crescimento econômico)” (p. 71). Essa mudança da visão tradicional se faz necessária, quando a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) traz conceitos como a logística reversa e a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. A logística reversa é entendida pela PNRS como um instrumento econômico e social que busca possibilitar a restituição dos resíduos sólidos para o setor empresarial (BRASIL, 2010 art. 3º, XII). Esta logística faz o caminho inverso da logística tradicional. A PNRS também institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, que pode ser instaurada de maneira individual ou compartilhada com os fabricantes, distribuidores, comerciantes, consumidores e os titulares do serviço público (BRASIL, 2010 art. 30). No contexto da responsabilidade compartilhada as empresas devem: a) compatibilizar interesses e desenvolver estratégias sustentáveis; b) requerer o aproveitamento e direcionar os resíduos a outras cadeias produtivas; c) reduzir a geração dos resíduos e da poluição; d) incentivar o uso de insumos menos danoso ao meio ambiente; e) estimular a produção e consumo de produtos sustentáveis; f) propiciar que as atividades alcancem a eficiência e sustentabilidade; g) estimular boas práticas de responsabilidade socioambiental. (BRASIL, 2010, art. 30, PARÁGRAFO ÚNICO, I a VII). Conforme o exposto a empresa atualmente deve se preocupar além da produção e comercialização, mas também com os resíduos gerados no processo produtivo e após o consumo. A Lei nº 12.305/2010 trouxe vários elementos para que as empresas incorporem trabalhos relacionados à gestão ambiental. 2.2 Gestão Ambiental Seiffert (2011) ressalta que o conceito de Gestão Ambiental (GA) não é recente, mas que vem amadurecendo ao longo dos anos com contribuições de diversas áreas como a engenharia, ciências biológicas, administração, geologia e a geografia. A GA integra em seu significado a política ambiental, o planejamento ambiental e o gerenciamento ambiental: a) política ambiental: “é o conjunto consistente de princípios doutrinários que conformam as aspirações sociais e/ou governamentais no que concerne à regulamentação ou modificação no uso, controle, proteção e conservação do ambiente” (SEIFFERT, 2011 p. 54). b) planejamento ambiental: é um estudo que tem por objetivo adequar o uso, controle e a proteção do meio ambiente às aspirações sociais e governamentais expressas na política ambiental. c) gerenciamento ambiental: “é o conjunto de ações destinado a regular o uso, controle e conservação do meio ambiente, e a avaliar a conformidade da situação corrente dos princípios doutrinários estabelecidos na política ambiental” (SEIFFERT, 2011 p. 54). No que diz respeito à GA nas organizações, para Donaire (2011 p. 51) sempre existem dúvidas relacionadas a fatores financeiros “a ideia que prevalece é que qualquer providência que venha a ser tomada em relação a variável ambiental traz consigo o aumento de despesas e consequentemente acréscimo dos custos no processoprodutivo”. O mesmo destaca que é possível ganhar dinheiro e proteger a natureza e cita a reciclagem de materiais como exemplo. A reutilização diz respeito ao aumento da vida útil do produto, atribuindo novos usos ao que iria ser descartado (MATTOS; GRANATO, 2009). A reciclagem é um “processo de transformação dos resíduos sólidos que envolvem a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas [...]” (BRASIL, 2010, art. 3º, XIV). A GA é percebida por Dias (2011 p. 102) como “o principal instrumento para se obtiver o desenvolvimento industrial sustentável”. O processo de GA está vinculado a normas que são instituídas por governos municipal, estadual e federal sobre meio ambiente. Nestas são expostos os limites de poluição como também como essas organizações devem dispor os resíduos. As normas legais são obrigatórias que as empresas que desejam implantar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). O SGA “é um conjunto de responsabilidades organizacionais, procedimentos, processos e meios que se adotam para a implementação de uma política ambiental em determinada empresa ou unidade produtiva” (p. 104). Ainda para o autor, a principal vantagem competitiva através da implantação da gestão ambiental é a melhoria da imagem da empresa. North (1997 p. 204 apud BARBIERI, 2011) também destaca os benefícios estratégicos: melhoria da imagem da empresa, renovação do portfólio, ampliação de produtividade, aumento do comprometimento dos colaboradores, criatividade e abertura para novos desafios, melhoria na relação com o poder público, acesso a mercados externos, facilidade para cumprir os padrões ambientais. 2.2.1 As normas ISO 14000 As normas International Organization for Standardization (ISO) 14000 é uma família de normas que estabelece ferramentas e sistemas para a administração ambiental de uma organização, entre elas: ISO 14001 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – Especificações para implantação e guia a única da família que é passível de certificação; também tem a ISO 14004 Sistema de Gestão Ambiental – Diretrizes Gerais; ISO 14010 Guias para Auditoria Ambiental – Diretrizes Gerais entre outras. “A família de normas ambientais tem como eixo central a norma ISO 14001, que estabelece os requisitos necessários para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA)”(DIAS, 2011 p. 106). Ao longo do tempo essa norma vem se mostrando “um instrumento eficiente para o processo de gestão ambiental organizacional". Uma das características fundamentais é a flexibilidade, pois a norma não determina padrões ambientais, mas determina que as organizações padrões mínimos estabelecidos pela legislação (SEIFFERT, 2011 p. 198). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (1996a) é citada por Dias (2011) e nesta destaca de maneira simplificada os requisitos propostos para o SGA: politica ambiental, planejamento; implementação e operação, verificação e ação corretiva, revisão pela gerência. A Política Ambiental determina o nível de responsabilidade e desempenho ambiental requerido pela organização. A ISO recomenda que uma política ambiental deva conter: missão, visão, valores relacionadas a crenças da organização; coordenação de outras políticas como a de qualidade; os requisitos das partes interessadas; princípios orientadores; condições locais e regionais específicas; compromisso com a prevenção da poluição e a melhoria contínua; compromisso com o atendimento aos requisitos legais. A política deve ser elaborada em forma de declaração curta para facilitar a divulgação nos sistemas de comunicação, pois ela deve ser conhecida, compreendida e lembrada pelos membros da empresa e pelas partes interessadas. “A política deve ser apropriada a natureza, à escala e aos impactos ambientais das atividades, produtos e serviços da organização” (BARBIERI, 2011 p. 160-161). Dessa forma a política não deve ser genérica, mas adequada a atividade da empresa. O planejamento é compreendido pelos aspectos ambientais, requisitos legais, objetivos, metas e programas. A implantação e operação são expostas os recursos, funções, responsabilidades e autoridades; competência, treinamento e conscientização; comunicação; documentação; controle de documentos; controle operacional; preparação e resposta à emergência. No processo de verificação está monitoramento e medição; avaliação de atendimento aos requisitos legais; não conformidade, ação corretiva e ação preventiva, controle de registros e auditoria interna (BARBIERI, 2011). O autor ainda ressalta que este sistema aplica a qualquer empresa independente do porte, basta que a mesma se comprometa com o processo. A Norma Brasileira NBR ISO 14004 é citada por Dias (2011) ao qual destaca os benefícios obtidos pelas empresas com a adoção do SGA: percebe-se o comprometimento da organização para atender a política, metas e objetivos ambientais; possui ênfase nas ações preventivas; possui uma atuação cuidadosa aos atendimentos legais e a incorporação da melhoria contínua. Diante do exposto, ficam evidentes as inúmeras vantagens das organizações buscarem a certificação ambiental. 2.3 Estudo de Caso A Millet é uma fábrica de sorvetes, localizada em Gamileira, no município de Limoeiro Estado de Pernambuco. Tem como missão “Oferecer qualidade em forma de sorvetes e preços justos para nossos Consumidores; atendimento e margem de lucro para nossos Clientes; respeito e incentivos para nossos Colaboradores; transparência, lealdade e oportunidades de benefícios mútuos para nossos Fornecedores”. Entre os produtos fabricados estão o Milezinho, Le creme, Le frutte, cone, Millet Premiun, Max Premiun, Millet Mais, Quero Mais, Mini Quero Mais, Mini Sundue, Saúde Ligth, Copão, sabor do Nordeste e Frozen. Além da preocupação com a qualidade de seus produtos como é possível perceber na missão da empresa a mesma possui uma preocupação ambiental, também ressaltada em site “Ajudamos a preservar nosso planeta também através da reciclagem. Nós selecionamos todo material descartável, como o plástico e o papelão, e paralelamente mantemos parcerias com empresas especializadas na coleta seletiva e individualizadas desse material para reciclagem. O objetivo principal dessa seleção não é econômico e sim social” (www.sorvetesmilet.com.br). A Empresa Millet não possui uma política ambiental e planejamento ambiental apesar de praticar o gerenciamento ambiental, no entanto, pela ausência de uma política ambiental não é possível fazer a avaliação da doutrina. No Processo de entrada: a empresa compra polpa de frutas e doce prontos, dessa forma, não geram resíduos orgânicos como cascas de frutas. No processo de saída: o resíduo orgânico que é gerado pela empresa objeto deste estudo são sobras de gordura vegetal, que servem de alimento para os porcos. O processo de fabricação é industrializado, o que reduz o desperdício. Os resíduos sólidos urbanos são destinados de maneira adequada, através da venda dos materiais secos, principalmente papelão e baldes de plásticos, como podemos perceber na Fotografia 1. Fotografia 1: Papelão e baldes separados para serem comercializados. Fonte: Autoras. Estima que os baldes de plástico passassem 100 a 400 anos na natureza para poder se decompor enquanto o papelão um tempo bem menor de 3 meses a vários anos (MATTOS; GRANATO, 2009). No entanto, ambos estão tendo uma destinação ambientalmente adequada. A comercialização de tais materiais fica sobre a responsabilidade de um dos colaboradores da empresa, o qual demostra uma preocupação em destinar de maneira adequada todos os resíduos provenientes da atividade empresarial. É perceptível também o fator social, pois os valores adquiridos com a negociação dos materiais não ficam com a empresa, mas com os colaboradores, estes realizam duas confraternizações no ano, com bebidas, comidas, aluguel do ambiente e até som ao vivo. Dessaforma compreendemos o valor econômico de tais materiais. Além da venda para a reciclagem, alguns baldes também são reutilizados pela própria empresa, esses são lavados com água sanitária, secos e embalados com plástico, desta forma ficam prontos para serem reutilizados, como podemos verificar na Fotografia 2. Fotografia2: sequencia de baldes lavados, embalados e reutilizado. Fonte: Autoras A reutilização dos baldes e a comercialização para a reciclagem destes materiais faz com que aumente o ciclo de vida do produto, como também evita que tais materiais sejam destinados de maneira inadequada na natureza. 2.3.1 Proposições ao gerenciamento dos Resíduos Sólidos e a Gestão Ambiental Dentre os resíduos gerados pela empresa, que são destinados à coleta tradicional está o copo descartável, rolo de papel e embalagens de picolé com defeito. Estes últimos pode ser percebido na Fotografia 3. Fotografia 3: Resíduos da Milet (Filtro de papelão e plástico de picolé) Fonte: autoras Como hipótese para melhoria da Gestão de Resíduos Sólidos da Milet, sugere-se uma parceria com o Galpão das Artes, também localizado em Limoeiro, esta é uma organização que trabalha com artesanato. A Fotografia 4 mostra uma das possibilidades de artesanato construído com os materiais da Fotografia 3 por uma artesã do Galpão das Artes a pedido das autoras. Fotografia 4: artesanato construído a partir dos resíduos da Fotografia 3. Fonte: Autoras Pode-se perceber que os resíduos que ainda não possui destinação adequada possuem potencial para artesanato, podendo contribuir com uma organização local. Em relação aos copos descartáveis a sugestão é a compra de garrafas personalizadas para os colaboradores e deixar os copos descartáveis apenas para os visitantes. Também construir planilhas de controle, para realizar os registros da quantidade de resíduos comercializados. A partir deste controle, será possível estabelecer metas na geração de resíduos. Como propostas para a Gestão Ambiental: elaborar uma política e planejamento ambiental, elaborar um sistema de logística reversa para recolher as embalagens de sorvete e picolé, fazer parceria com o Galpão das Artes para transformar os resíduos em arte. E posteriormente buscar uma certificação ambiental ISO 14001. 3. Metodologia Este artigo é fruto de um estudo de caráter bibliográfico que para Manzo (1971 apud MARCONI; LAKATOS, 2010) bibliografia não só oferece métodos para chegar ao resultado dos problemas já conhecidos, mas também para se aprofundar em novos lugares onde os problemas estão dando início e tem como seu principal objetivo levar a pessoa que esta estudando o assunto a descobrir e se aprofundar em novas informações. Também será realizada uma pesquisa de campo que segundo Marconi e Lakatos (2010) são utilizadas com o intuito de conseguir informações e conhecimentos para um problema que está em busca de sua resposta, ou que se queira comprovar tal hipótese e abranger as teses que tenham em determinado problema. O objeto de estudo foi a Empresa Milet, localizada no Agreste Setentrional de Limoeiro no Estado de Pernambuco. A coleta de dados foi realizada através de uma visita técnica realizada 09 de maio de 2015. 4. Conclusão Culturalmente pensamos que o lixo é algo inútil, que não serve para nada. Por este motivo o mais adequado é usar o termo técnico de resíduo para contribuir com a mudança de pensamento sobre o lixo. Existem vários tipos de resíduos, entre eles domiciliares, comercial, de serviço de saúde. Da mesma forma existem várias maneiras de destinar os resíduos, dentre elas o aterro sanitário é a mais adequada para os rejeitos, pois faz o tratamento do chorume e do metano. A Reciclagem para o resíduo inorgânico e a compostagem para o orgânico. Dessa forma para gerenciar os resíduos é necessário conhecer o tipo e a destinação adequada para cada tipo de resíduo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em agosto do ano de 2010, traz várias inovações para o gerenciamento dos resíduos, entre eles o conceito de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, a logística reversa, gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. Percebe-se com este contexto que as empresas devem ir além da produção, mas realizar o gerenciamento de seus resíduos desde a coleta até a disposição final ambientalmente adequada. A postura das empresas em relação ao meio vem evoluindo com o passar do tempo. Na década de 70 as organizações se preocupavam apenas em “jogar fora” seus resíduos, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. Enquanto que na década de 90 as empresas começaram a adotar uma postura de prevenção da poluição. Para demonstrar à intenção de adotar na empresa a gestão ambiental a organização pode construir uma Política e Planejamento Ambiental para contribuir com o gerenciamento ambiental. No contexto da empresa em estudo, percebeu-se uma preocupação com a destinação ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, pois, praticamente todos os resíduos gerados são comercializados para a reciclagem. Outro ponto a considerar é que os recursos adquiridos com esta negociação ficam de posse dos colaboradores para a realização de duas confraternizações por ano. Apenas copo descartável, embalagem de picolé e filtro de papelão que eram destinados à coleta tradicional da prefeitura. Neste trabalho foram apresentados proposições, para que também estes tenham uma destinação adequada. Entre elas uma parceria com a Organização Galpão das Artes, que trabalha com artesanato, para que o filtro de papel e a embalagem de picolé se transformem em artesanato, aumentando o ciclo de vida desses materiais. Em relação à Gestão Ambiental, a proposição foi a construção de uma política e um planejamento ambiental para auxiliar no gerenciamento dos resíduos. Diante do exposto, percebe-se que foram alcançados os objetivos traçados neste trabalho, que foi mostrar o gerenciamento dos resíduos sólidos de uma fábrica de sorvetes, identificar os resíduos gerados e sua destinação, conhecer aspectos teóricos da gestão ambiental e propor melhorias para o gerenciamento dos resíduos sólidos e para a gestão ambiental. Referências BARBIERI, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 19 maio 2016. DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2011. DONAIRE, Denis. Gestão Ambiental na Empresa. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2012. MARCONI, Marina de Andrade. LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 7. Ed. – São Paulo: Atlas, 2010. MATTOS, Neide Simões de. GRANATO, Suzana Facchini. Lixo: Problema nosso de cada dia: Cidadania, reciclagem e uso sustentável. São Paulo: Saraiva, 2009. MUHRINGER, Sonia Marina. SHAYER, Michelle M. Lixo e Sustentabilidade. São Paulo: Ática, 2007. PEREIRA, Adriana Camargo. SILVA, Gibson Zucca da. CARBONARI, Maria Elisa Ehrhardt. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2011. PERNAMBUCO, Lei nº 14.236 de 13 de dez de 2010. Política Estadual de Resíduos sólidos. Disponível em: <http://legis.alepe.pe.gov.br/arquivoTexto.aspx?tiponorma=1&numero=14236&complemento=0&ano=2010&ti po=TEXTOORIGINAL>. Acesso em: 13 abr. 2016. RODRIGUES, Francisco Luiz. CAVINATTO, Vilma Maria. Lixo: de onde vem?para onde vai? 2 ed. São Paulo: Moderna, 2003. SEIFFERT, Marli Elizabete Bernardini. Gestão Ambiental: instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. E ed. São Paulo:Atlas 2011. WALDMAN, Mauricio. Lixo: cenários e desafios. São Paulo: Cortez, 2010.
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