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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Análise de Circuitos Elétricos Aula 6 Prof. Juliano de Mello Pedroso CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Olá, seja bem-vindo à sexta aula de Análise de Circuitos Elétricos! Nesta rota, primeiramente estudaremos a análise de circuitos através de fasores – os métodos de análise de circuitos são generalizáveis à análise fasorial do regime forçado sinusoidal. Depois, contextualizaremos o domínio da frequência, que é importante em sinais com frequência. Também estudaremos e classificaremos os filtros e ruídos existentes nos circuitos em CA. Na sequência, veremos aplicações práticas de circuitos em CA, onde será demonstrado como são importantes esses circuitos na vida prática. E, por último, aprenderemos a usar uma ferramenta matemática chamada “Transformada de Laplace” para ajudar nos cálculos de circuitos no domínio da frequência. Contextualizando Veremos alguns conceitos e leis importantes para a análise de circuitos. Fique atento! É possível fazer a análise de circuitos em corrente contínua ou em corrente alternada, em regime estacionário (após decorrido um longo intervalo de tempo desde a ligação do circuito) ou em regime transiente (comportamento que se segue à ligação do circuito e que desaparece com o tempo). Em qualquer dos casos, os conceitos de Nó, Ramo e Malha são aplicáveis. Para a análise dos circuitos em AC, no regime estacionário, é costume introduzir o conceito de fasores, o que evita a necessidade de resolver sistemas de equações diferenciais mesmo para circuitos simples. Na análise de circuitos são usadas as Leis de Kirchhoff para a Eletricidade. Elas são as chamadas Lei dos Nós e Lei das Malhas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Pesquise Análise de Fasores Já sabemos que podemos representar sinais de tensão e de corrente alternadas senoidais através das seguintes expressões matemáticas no chamado domínio do tempo ou domínio temporal, pois são função do tempo: Essas expressões matemáticas para tensões e correntes, na forma trigonométrica do domínio do tempo, não permitem métodos práticos para a análise de circuitos elétricos, pois não são fáceis de serem algebricamente operadas. Exemplo 1: Sabemos que potência elétrica é o produto da tensão pela corrente. Obtenha a equação da potência elétrica multiplicando a tensão instantânea 𝑣(𝑡) = 10𝑠𝑒𝑛(100𝑡) pela corrente elétrica 𝑖(𝑡) = 2𝑠𝑒𝑛(100𝑡 + 60°). Resolvendo, temos: 𝑝(𝑡) = 𝑣(𝑡). 𝑖(𝑡) = 10𝑠𝑒𝑛(100𝑡) . 2𝑠𝑒𝑛(100𝑡 + 60°) A questão é: como multiplicar os dois senos de ângulos diferentes? A resposta está no uso das chamadas identidades trigonométricas. Para o produto de senos temos: 𝑠𝑒𝑛 𝛼 . 𝑠𝑒𝑛 𝛽 = 1 2 . [cos(𝛼 − 𝛽) − cos (𝛼 + 𝛽) Assim: 𝑝(𝑡) = 20 𝑠𝑒𝑛 (100𝑡). 𝑠𝑒𝑛(100𝑡 + 60°) = 1 2 [cos (100𝑡 − 100𝑡 + 𝜋 3 ) − cos (100𝑡 + 100𝑡 + 𝜋 3 )] = 1 2 [cos ( 𝜋 3 ) − cos (200𝑡 + 𝜋 3 )] = 0,5 [0,5 − cos (200𝑡 + 𝜋 3 )] = −0,25cos (200𝑡 + 𝜋 3 ) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 A potência num circuito não é uma operação tão simples e evidente. Exemplo 2: Sabemos que numa malha de um circuito elétrico devemos somar as tensões. Some os dois sinais de tensão na forma trigonométrica e obtenha as formas de onda, sendo 𝑣1(𝑡) = 10𝑠𝑒𝑛(100𝑡) 𝑒 𝑣2(𝑡) = 15𝑠𝑒𝑛(100𝑡 + 60°). Para somarmos algebricamente tensões senoidais e obtermos a forma de onda resultante uma solução pouco prática e trabalhosa seria fazer essa operação de soma ponto a ponto das curvas senoidais, ao longo do eixo das abscissas, como mostra a figura 1 a seguir. Figura 1 – soma de duas tensões Outra solução seria operarmos os sinais buscando alguma identidade trigonométrica. De ambas as formas, concluímos que essa tarefa não é simples, nem rápida e nem evidente. 𝑣1(𝑡) + 𝑣2(𝑡) = 10𝑠𝑒𝑛(100𝑡) + 15𝑠𝑒𝑛(100𝑡 + 60°) Sinais senoidais de tensões e correntes para que possamos fazer uma análise rápida e correta de circuitos elétricos. Pudemos perceber que os parâmetros mais importantes dos sinais de tensão e de corrente alternadas são: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 • Valor de Pico: Vp e Ip • Valor Eficaz: Vef e Ief • Velocidade Angular: ω • Frequência: f • Período: T • Fase Inicial: θ Sabemos que todo o sistema elétrico do Brasil opera a uma mesma frequência (60Hz). O que diferencia em algumas regiões são as tensões (127V; 220V; por exemplo). Da mesma forma, no método que será apresentado, se todas as fontes de tensão e de corrente de um circuito possuírem a mesma frequência angular ω poderemos omitir ω na representação da tensão “v” e da corrente “i”. Seja, por exemplo, o circuito da figura 2, Figura 2 – fontes com a mesma velocidade angular Com três fontes de tensão alternadas operando com mesmas frequências angulares ω=200rad/s, onde: 𝑉1(𝑡) = 10𝑠𝑒𝑛(200𝑡 + 0°) 𝑉2(𝑡) = 5,0𝑠𝑒𝑛(200𝑡 + 45°) 𝑉1(𝑡) = 20𝑠𝑒𝑛(200𝑡 + 90°) Todas as três fontes apresentam a mesma frequência angular ω = 200 rad/s. Dessa forma, ω não diferencia as tensões e pode ser omitida na representação de v1, v2 e v3. A diferenciação entre essas tensões deverá ser feita, então, em função da tensão de pico Vp (ou da tensão eficaz Vef) e do ângulo de fase inicial θ de cada fonte. Será apresentado neste tema, um método CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 para representação de sinais senoidais, de mesma frequência, que permita facilidade nas operações algébricas necessárias à análise e cálculo de circuitos de corrente alternada. Esse método é chamado Representação Fasorial de Sinais Senoidais. Fasor Do estudo da Física, sabemos que um ponto se deslocando em um movimento circular uniforme (movimento harmônico) pode ser representado através de suas projeções num plano cartesiano formando uma senoide, como mostra a figura 3. A recíproca também é verdadeira, ou seja, uma senoide pode ser representada pelas projeções de seus pontos como um ponto girando em um movimento circular uniforme. Um movimento harmônico giratório pode ser descrito por uma senoide e vice-versa. Figura 3 – Projeções no plano cartesiano Cada ponto de uma senoide pode ser representado por um vetor de módulo constante numa posição diferente, como indicado na figura 3. À medida que a senoide é descrita, o vetor assume posições diferentes. Quando a senoide completa um ciclo, o vetor descreve um giro completo e se encontra na mesma posição inicial novamente. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Esse vetor é, portanto, um vetor girante. Se o ciclo da senoide foi descrito num dado intervalo de tempo (período T), o vetor deu uma volta completa no mesmo período da senoide. Assim, podemos concluir que para uma dada frequência f do sinal senoidal, o movimento harmônico (giratório) do vetor possui a mesma frequência e, portanto, o vetor gira no sentido anti-horário com a mesma frequência ou velocidade angular ω da senoide. Analisando a figura 3, podemos observar que o ponto C, em qualquer posição angular do seu movimento giratório, forma um vetor radial girante cujo módulo é constante e igual ao valor de pico (amplitude) da senoide. Então, uma senoide pode ser descrita por um vetor radial girante com módulo igual à sua amplitude (valorde pico) e mesma frequência angular ω. A cada ciclo completado da senoide, o vetor radial girante volta à sua posição inicial. Se observarmos a projeção do valor da senoide no instante inicial t=0 ou na posição angular inicial α=ωt=0°, o vetor radial girante está posicionado a um determinado ângulo em relação ao eixo x. Após um período T (360°), o valor estará na mesma posição de partida. Podemos observar que esse ângulo corresponde ao ângulo de fase inicial θ da senoide. A cada período ou ciclo completado, o vetor radial girante está sempre na mesma posição angular inicial θ. Se o ciclo da senoide iniciar adiantado, o ângulo de fase inicial θ0 é positivo. Se o ciclo da senoide iniciar atrasado, o ângulo de fase inicial θ0 é negativo, conforme ilustra a figura 4 a seguir. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Figura 4 – ângulo inicial do vetor girante a) adiantado b) atrasado Considerando que esse vetor radial: • gira à mesma frequência angular ω constante da senoide de origem; • possui mesma frequência f e período que a senoide de origem; • a cada volta se encontra na mesma posição inicial correspondente ao ângulo de fase inicial θ da senoide de origem; • possui um módulo constante e igual ao valor de pico Vp da senoide de origem. Então esse vetor girante possui os mesmos parâmetros que descrevem a senoide e, considerando uma dada frequência para defini-lo, basta o seu módulo e o seu ângulo de fase inicial. A esse vetor radial girante chamamos de Fasor – com frequência ω, com módulo igual ao valor de pico VP e com ângulo de fase inicial θ, que representa uma senoide de iguais parâmetros. Assim, os sinais senoidais de tensão e corrente também podem ser representados através de vetores girantes, chamados Fasor Tensão e Fasor Corrente, como indica a figura 4. Um fasor CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 pode ser entendido como um vetor preso em uma das suas extremidades e girando, como os ponteiros de um relógio, a uma velocidade angular ω dada em radianos por segundo. Se a extremidade presa do vetor girante for a origem de um plano cartesiano x-y, pode-se traçar as projeções x e y de cada instante do deslocamento de sua extremidade livre (ponta da seta) nesse plano, como mostra a figura 3. A projeção do fasor no eixo y é uma função seno que representa a amplitude instantânea da senoide resultante, como ilustra a figura 5 a seguir. Figura 5 – diagrama fasorial A amplitude máxima (valor de pico) corresponderá ao módulo do fasor. Assim, a projeção y pode ser dada pela função senoidal: 𝑦 = 𝑣(𝑡) = 𝑉𝑝 . 𝑠𝑒𝑛𝜔𝑡 𝑜𝑢 𝑦 = 𝑣(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛𝛼 E os valores instantâneos (amplitudes) podem ser calculados da seguinte forma: 𝛼 = 0° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛0° = 0 𝛼 = 30° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛30° = 0,5𝑉𝑝 𝛼 = 60° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛60° = 0,866𝑉𝑝 𝛼 = 90° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛90° = 1𝑉𝑝 𝛼 = 120° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛120° = 0,866𝑉𝑝 𝛼 = 150° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛150° = 0,5𝑉𝑝 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 𝛼 = 180° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛180° = 0 𝛼 = 210° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛210° = −0,5𝑉𝑝 𝛼 = 240° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝 . 𝑠𝑒𝑛240° = −0,866𝑉𝑝 𝛼 = 270° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛270° = −1𝑉𝑝 𝛼 = 300° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝 . 𝑠𝑒𝑛300° = −0,866𝑉𝑝 𝛼 = 330° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛330° = −0,5𝑉𝑝 𝛼 = 360° → 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛360° = 0 Os fasores são representados graficamente através de diagramas fasoriais, como mostra a figura 5. Se o diagrama fasorial representar apenas a posição do fasor no instante inicial, o seu módulo corresponde ao segmento OC na figura 5 e representa o valor de pico da senoide. O ângulo desse fasor corresponde ao ângulo de fase inicial θ da senoide. A projeção sobre o eixo y representa a amplitude da senoide no instante inicial t=0. Portanto, a função que esse fasor representa é: 𝑉(𝛼) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛(𝛼 ± 𝜃) Ou em função do tempo: 𝑉(𝑡) = 𝑉𝑝. 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 ± 𝜃) Exemplo: representar graficamente os sinais senoidais através do diagrama fasorial e de sua projeção senoidal: 𝑣(𝑡) = 10𝑠𝑒𝑛(100𝑡 + 0°)𝑉 𝑖(𝑡) = 5𝑠𝑒𝑛(100𝑡 + 45°)𝐴 Solução: o fasor V correspondente ao sinal senoidal v(t) deve ser posicionado sobre o eixo x, pois o seu ângulo de fase inicial é θ=0°, e deve ter módulo igual a 10 unidades da escala adotada, como mostra a figura 6 a seguir. O fasor I correspondente ao sinal 9 senoidal i(t) deve ser posicionado a +45° a partir do eixo x e deve ter módulo de 5 unidades da escala adotada. Observe: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Figura 6 – exemplo1 Operações Matemáticas com Fasores e Diagramas Fasoriais A representação fasorial é importante na análise de circuitos elétricos, pois permite realizar facilmente diversas operações matemáticas entre tensões, correntes e potências, sem usar a função do domínio do tempo (expressões trigonométricas) ou a representação gráfica da onda. A representação trigonométrica permite algumas operações matemáticas, usando equações chamadas identidades trigonométricas, mas dificultam os cálculos. Considerando que sinais senoidais de tensão e de corrente podem ser representados através de fasores e estes, por sua vez, podem ser representados por números complexos, podemos operá-los através da álgebra aplicável aos números complexos. Feito isso podemos converter novamente o fasor resultante para o domínio do tempo e encontrarmos novamente uma função senoidal. A figura 7 a seguir representa esse procedimento. Fasores podem ser operados através da álgebra dos números complexos. 1 Um diagrama fasorial pode conter um ou vários Fasores (vários sinais senoidais) desde que sejam todos de mesma frequência. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Figura 7 – sequência para operações algébricas de sinais senoidais usando fasores2 Figura 8 – transformação de polar em retangular e vice-versa O diagrama fasorial permite somente operações gráficas de adição e subtração. Elas podem ser realizadas pelo mesmo processo usado para soma e 2 Na notação fasorial, a função seno é sempre a referência e a frequência não é representada. Portanto, a álgebra fasorial para sinais senoidais é aplicável somente para sinais de mesma frequência. A representação fasorial através de números complexos na forma retangular e na forma polar permite todas as operações matemáticas mais direta e facilmente e segue as mesmas regras para operações com números complexos estudados em matemática. É possível transformar números complexos da forma de polar para a forma retangular e vice- versa. Por exemplo, podemos transformar um fasor tensão na forma polar para a forma retangular e vice-versa, como demonstrado na figura 8 (ver sequência). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 subtração de vetores através do Método do Paralelogramo. Assim como para os vetores, podemos efetuar a soma de dois fasores de forma gráfica ou analítica, como mostra a figura 9 a seguir. Figura 9 – soma de fasores pelo método do paralelogramo Analiticamente, efetuamos a soma através da aplicação da equação trigonométrica: 𝑉𝑅 = √𝑉1 2 + 𝑉2 2 + 2. 𝑉1. 𝑉2 . cos 𝛼 O ângulo do fasor resultante pode ser dado por: 𝜑 = 𝑡𝑎𝑛1 ( 𝑉2𝑠𝑒𝑛𝛼 𝑉1 + 𝑉2cos 𝛼 ) Tem conteúdo extra no material on-line. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. Domínio da Frequência Como vimos em capítulos anteriores, pode-se extrair um grande número de informações de sinais periódicos no domínio do tempo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Para existir um mapeamento entre fenômenos analisados nos domínios do tempo e da frequência, o comportamento da grandeza no domínio do tempo deve ser periódico, ou seja, repetir-se em intervalos iguais a T, sendo o período de tempo que contém um ciclo do sinal de frequência f. Com isso se estabelece a regra básica de mapeamento entre os dois domínios: 𝑓 = 1 𝑇 Em análise de sinais, domínio da frequência designa a análise de funções matemáticas com respeito à frequência, em contraste com a análise no domínio do tempo. A representação no domínio da frequência pode também conter informações sobre deslocamentos de fase. Uma onda triangular no domínio do tempo (topo) e o gráfico de espectro correspondente (embaixo) pode ser visto na figura 1 a seguir. A frequência fundamental é de 220 Hz. Cada linha vertical indica a amplitude de uma das frequências componentes da onda. Figura 1 – representações no domínio da frequência e no domínio do tempo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 O osciloscópio é uma ferramenta comumente usada para visualizar sinais do mundo real no domínio do tempo, enquanto um analisador de espectro é uma ferramenta usada para visualizar sinais no domínio da frequência. Falando não tecnicamente, um gráfico no domínio do tempo mostra como um sinal varia ao longo do tempo; em contraste, um gráfico no domínio da frequência, comumente chamado de espectro de frequências, mostra quanto do sinal reside em cada faixa de frequência. Representação no domínio do tempo No domínio do tempo, é precisa definir explicitamente a função e os parâmetros que a caracterizam, por exemplo: 𝑥(𝑡) = 𝐴. 𝑠𝑒𝑛(2𝜋𝑓𝑡 − 𝜑) Figura 2 – Representação de senoide no domínio do tempo Portanto, tem-se três parâmetros característicos (A, T, φ): A=amplitude 𝑇 = 1 𝑓 = 2𝜋 𝜔 = 𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑑𝑜 φ= fase inicial No caso de sinal composto de k frequências, são 3k parâmetros além da função analítica (no caso a função seno) para caracterizar a sucessão de valores no domínio do tempo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Representação no Domínio da Frequência No domínio da frequência, esse mesmo sinal é representado apenas pelos seus parâmetros, ficando subentendida a função temporal (senoidal) escolhida como referência na decomposição: 𝑥(𝑓) → [𝐴, 𝑓, 𝜑] Figura 3 – representação de senoide no domínio da frequência Uma vez que a função periódica de referência já está implícita no domínio da frequência, a caracterização do sinal decomposto em termos dessa referência necessita apenas dos parâmetros resultantes da decomposição conforme a figura 3. Nem todas as funções definidas no domínio do tempo apresentam período. Por exemplo, a função: 𝑓(𝑡) = 𝑐𝑜𝑠𝜔1𝑡 + 𝑐𝑜𝑠𝜔2𝑡 Será periódica apenas se a relação entre as frequências angulares for um número racional: 𝜔1 𝜔2 = 𝑚 𝑛 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑛 𝑒 𝑚 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠 Dessa forma, a função a seguir (figura 4) não é periódica, embora esteja descrita no domínio do tempo e seja composta por dois sinais periódicos. 𝑓(𝑡) = 𝑐𝑜𝑠10𝑡 + cos(10 + 𝜋) 𝑡 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Figura 4 – Forma de onda não periódica Transformação do domínio do tempo para o domínio da frequência Uma função pode ser convertida do domínio do tempo para o da frequência através de um operador matemático chamado genericamente de transformada integral. Um exemplo é a transformada de Fourier, que decompõe uma função na soma de um (potencialmente infinito) número de componentes senoidais, produzindo um espectro de frequências. A transformada inversa correspondente converte esse espectro de volta para o domínio do tempo, ou seja, para a função original. Existem ainda transformadas que permitem a conversão para um domínio misto do tempo e da frequência ao mesmo tempo, como é o caso da transformada de wavelet. Ao aplicar a transformada de Fourier, passa-se do domínio do tempo para o domínio da frequência real; nesse domínio, a informação a respeito de deslocamentos de fase do sinal em função da frequência desaparece. Em contraste, ao aplicar a transformada de Laplace, passa-se ao domínio da frequência complexa, no qual a informação a respeito de deslocamentos de fase do sinal é preservada. Devido a isso, no domínio da frequência real, é possível prever o comportamento de um sistema apenas em regime estacionário; no domínio da frequência complexa, é possível prever o comportamento também em regime transitório. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Outra diferença entre as diversas transformadas é que algumas trabalham a partir do domínio do tempo contínuo; outras, a partir do tempo discreto. As primeiras são adequadas para a análise de sinais analógicos e, as últimas, para a análise de sinais digitais. São exemplos do primeiro tipo a transformada de Fourier e a transformada de Laplace citadas anteriormente; exemplos do segundo tipo são a transformada Z e a transformada discreta de Fourier. Tem conteúdo extra no material on-line. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. Filtros e Ruídos O filtro é um circuito que permite a passagem de sinais apenas em determinadas frequências. Ele pode ser classificado em: • Filtro Passa-Baixas (F.P.B.) • Filtro Passa-Altas (F.P.A.) • Filtro Passa-Faixa (F.P.F.) • Filtro Rejeita-Faixa (F.R.F.) Os filtros são considerados passivos quando são formados apenas por dispositivos passivos, como resistores, capacitores e indutores. Outra característica dos filtros passivos é o fato de o ganho de tensão ser sempre menor ou igual a 1 (ou 0db), já que não possuem nenhum dispositivo ativo capaz de amplificar os sinais. Filtro Passa-Baixas Um filtro passa-baixa (F.P.B) ideal tem uma curva de resposta em frequência como mostrado na figura 1. Figura 1 – curva de resposta em frequência do filtro passa-baixa ideal CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Para as frequências abaixo das frequências de corte (fc), o ganho é igual a um, isto é, a tensão de saída é igual a tensão de entrada. Para frequências acima da frequência de corte, o ganho é zero, ou seja, a tensão de saída será nula. Porém, na prática, não é possível construir um filtro com um corte tão brusco na resposta em frequência. Filtro Passa-Baixas com Circuito RL O circuito RL série, como mostrado na figura 2, funciona como um filtro passa-baixa, pois nas baixas frequências, o indutor comporta-se como uma resistência baixa (XL<<R), fazendo com que a maior parte da tensão recaia sobre o resistor de saída. Já nas frequências altas, o indutor comporta-se como uma resistência alta (XL>>R), fazendo com que a tensão no resistor de saída seja muito pequena. Figura 2 – filtro passa-baixa com Circuitos RL Nesse circuito, a expressão da tensão Vs (tensão no resistor) em função da tensão de entrada VE é dada por: 𝐴𝑣 = 𝑉𝑠 𝑉𝐸 = 𝑅 𝑅 + 𝑗𝜔𝐿 Dividindo-se o numerador e o denominador por R, tem-se: 𝐴𝑣 = 1 1 + 𝑗( 𝜔𝐿 𝑅 ) A expressão do ganho de tensão deste filtro pode ser apresentada em função de sua frequência de corte:CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Como podemos observar, o ganho de tensão é um número complexo e, portanto, possui um módulo e fase. Assim, o ganho de tensão será representado genericamente por um número na forma Av=Av∠ θ°. A partir da expressão do módulo do ganho em função da frequência, pode- se esboçar a curva de resposta em frequência AvXf. Desse filtro, considerando que: f=0 → Av=1, f=fc → 𝐴𝑣 = 1 √2 = 0,707 ω→∞ Av→0 Figura 4 – resposta em frequência do F.P.B (módulo) A frequência de corte é também conhecida como frequência de meia potência, pois é nessa frequência que a potência de saída é a metade da potência de entrada. A partir da expressão da fase do ganho em função da frequência, pode- se esboçar o gráfico αXf, considerando que: f=0 → α= -arctg0 = 0° f=fc →α=-arctg 1 =-45° ω→∞ ⇒ α→-90° CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Figura 5 – Resposta em frequência do F.P.B. (fase) A curva de resposta em frequência (módulo) desse filtro pode, também, ser dada em decibel (dB), calculando-se o módulo do ganho de tensão por: 𝐴𝑣(𝑑𝐵) = 20. 𝑙𝑜𝑔𝐴𝑣 Assim: f=0 → 𝐴𝑣(𝑑𝐵) = 20. log 1 = 0𝑑𝐵 f=fc→ 𝐴𝑣(𝑑𝐵) = 20. 𝑙𝑜𝑔 1 √2 = −3𝑑𝐵 𝜔 = 10. 𝜔𝑐 ⇒ 𝐴𝑣(𝑑𝐵) = 20. 𝑙𝑜𝑔 1 √1 + ( 10𝜔𝑐 𝜔𝑐 )2 ≅ 20. 𝑙𝑜𝑔 1 √100 = −20𝑑𝐵 𝜔 = 100. 𝜔𝑐 ⇒ 𝐴𝑣(𝑑𝐵) = 20. 𝑙𝑜𝑔 1 √1 + ( 100𝜔𝑐 𝜔𝑐 )2 ≅ 20. 𝑙𝑜𝑔 1 √1002 = −20𝑑𝐵 Pode-se, então, esboçar a curva de resposta em frequência (módulo) Av(dB)xf. Figura 6 – resposta em frequência CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Pelos resultados obtidos, percebe-se que a partir da frequência de corte fc, cada vez que a frequência aumenta de um fator igual a 10, o ganho diminui em 20dB. Diagrama de bode Uma forma simples e prática de representar a curva de resposta em frequência de um filtro é através do diagrama de Bode. Esse diagrama representa o módulo do ganho Av(dB) em função da frequência, fazendo-se a aproximação por trechos de retas (assíntotas). A figura 7 a seguir mostra o Diagrama de Bode do filtro passa-baixas analisado anteriormente. Figura 7 – Diagrama de Bode do F.P.B Desses gráficos, podemos concluir que: a) A escala do ganho de tensão é linear, mas a escala de frequência é logarítmica. b) Na frequência de corte, o ganho de tensão é de -3dB em relação ao patamar. c) Acima da frequência de corte, o ganho diminui à taxa de 20dB por década. d) Usando a aproximação de retas (diagrama de bode), o maior erro cometido é de 3dB na frequência de corte. Por exemplo, dado o circuito da figura 8, pede-se (clique nos botões): CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Figura 8 – Exemplo de Filtro passa baixa a. Frequência de corte em rd/s e em Hz: 𝜔𝑐 = 𝑅 𝐿 = 1. 103 100. 10−3 = 104𝑟𝑑 𝑠 𝑓𝑐 = 𝜔𝑐 2𝜋 = 104 2𝜋 = 1592𝐻𝑧 b. Expressão complexa do ganho: 𝐴𝑣 = 1 1 + 𝑗 ( 𝜔𝐿 𝑅 ) = 1 1 + 𝑗 ( 𝜔. 0,1 103 ) = 1 1 + 𝑗 𝜔 104 c. Expressão do módulo do ganho: 𝐴𝑣 = 1 √1 + ( 𝜔 𝜔2 ) 2 = 1 √1 + ( 𝜔 104 ) 2 d. Esboçar o gráfico do módulo do ganho em dB em função da frequência: e. A frequência quando a diferença de fase entre a entrada e a saída é - 45°: 𝛼 = −𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 𝜔 𝜔𝑐 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 −45° = −𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 𝜔 104 𝑡𝑔45° = 𝜔 104 1 = 𝜔 104 𝜔 = 104𝑟𝑑 𝑠 = 𝜔𝑐 Filtro Passa-Alta Um filtro passa-alta (F.P.A) ideal tem uma curva de resposta em frequência como mostrado na figura 9 a seguir. Figura 9 – curva de resposta em frequência do F.P.A Para frequências abaixo da frequência de corte (fc), o ganho é zero, isto é, a tensão de saída é nula. Para frequências acima da frequência de corte, o ganho é igual a um, isto é, a tensão de saída é igual à tensão de entrada. Porém, na prática, não é possível construir um filtro com um corte tão brusco na resposta em frequência. Filtro Passa-Alta com Circuito RC O circuito RC série, como mostrado na figura 10 a seguir, funciona como um filtro passa-alta, pois nas baixas frequências, o capacitor comporta-se como uma resistência alta (Xc>>R), fazendo com que a tensão sobre o resistor de saída seja muito pequena. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 Já nas altas frequências, o capacitor comporta-se como uma resistência baixa (XC<<R), fazendo com que a tensão de saída seja muito alta. Figura 10 – filtro passa-alta com circuito RC Nesse circuito, a expressão da tensão de saída Vs (tensão no resistor) em função da tensão de entrada VE é dada por: 𝑉𝑠 = 𝑅 𝑅 − 𝑗𝑋𝑐 . 𝑉𝐸 Dessa forma, o ganho de tensão de entrada VE é dada por: 𝐴𝑣 = 𝑉𝑠 𝑉𝐸 = 𝑅 𝑅 − 𝑗𝑋𝐶 = 𝑅 𝑅 + 𝑖 𝑗𝜔𝐶 Dividindo-se o numerador e o denominador por R e simplificando a expressão, tem-se: 𝐴𝑣 = 1 1 − 𝑗 ( 𝑅 𝜔. 𝑅. 𝐶) A expressão do ganho de tensão desse filtro pode ser apresentada em função de sua frequência de corte: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 Como se pode observar, o ganho de tensão é um número complexo e, portanto, possui módulo e fase. Assim, o ganho de tensão será representado genericamente por um número complexo na forma Av=Av∠ α. As expressões do módulo e da fase do ganho de tensão em função da frequência são dadas por: Como se vê, essas expressões são iguais às do filtro passa-altas com circuito RL analisado anteriormente, com a ressalva de que as frequências de corte são calculadas de forma diferentes, pois elas dependem dos dispositivos utilizados nos filtros (RL ou RC). Dessa forma, o esboço das curvas de resposta em frequência (módulo: AVxf e fase: αxf ) desse filtro, tem o mesmo aspecto que as do filtro anterior, conforme a figura 11ª seguir. Figura 11 – resposta em frequência do F.P.A a) módulo; b) fase A curva de resposta em frequência (módulo) desse filtro pode, também, ser dada em decibel (dB), calculando-se o módulo do ganho de tensão por: 𝐴𝑣(𝑑𝐵) = 20𝑙𝑜𝑔𝐴𝑣 Pode-se, então, esboçar a curva de resposta em frequência (módulo) Av(dB)Xf, na forma normal (figura 12a) e como diagrama de bode (figura 12b). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 Figura 12 – resposta em frequência do F.P.A a) módulo em dB b) Diagrama de bode Por exemplo, projetar um filtro passa-alta com fc=200Hz: Adotando-se C=0,1 uF, tem-se: 𝑓𝑐 = 1 2𝜋. 𝑅. 𝐶 ⇒ 𝑅 = 1 2𝜋. 𝐶. 𝑓 = 1 2𝜋. 0,1. 10−6. 200 = 8𝑘Ω Usando o valor comercial mais próximo R=8k2Ω, a frequência de corte sofrerá uma pequena alteração, porém insignificante face às tolerâncias dos dispositivos, como pode ser observado a seguir. Filtro Passa-Faixa Os filtros passa-faixa ou passa-banda (band-pass) são utilizados em diversos tipos de aplicações que envolvem a seleção de sinais de determinadas frequências. Eles podem ser usados em telecom, eletrônica médica, aplicações de consumo e industriais. Conforme mostra a figura 13, a seguir, os filtros passa- faixa ou passa-banda, deixam passar os sinais que estão dentro de uma determinada faixa de frequências, rejeitando os demais. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 28 Figura 13 – resposta em frequência do filtro passa-faixa O B é de Bandwith (largura de banda),quanto menor o B mais sintonizado o filtro será. A principal qualidade de um filtro desse tipo é a sua seletividade, dada pelo fator de qualidade ou fator Q. Um fator Q elevado significa que o filtro é capaz de rejeitar sinais numa faixa bastante estreita. Esses filtros, quando operam numa faixa muito estreita de frequências, também podem ser denominados filtros sintonizados. As aplicações para tais filtros são as mais diversas, indo desde o reconhecimento de um sinal de uma única frequência em um sistema de controle remoto, até a seleção de uma faixa completa de sinais, por exemplo, num sistema de telefonia ou de telecomunicações. Um exemplo desse filtro está na figura 14. Figura 14 – filtro passa-faixa CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 29 Filtro Rejeita-Faixa Um filtro Passivo rejeita-faixa é um circuito que atenua, “impede” a passagem de sinais de tensão e corrente com frequências situadas numa faixa intermediária, “permitindo” a passagem de sinais com frequências acima ou abaixo dessa faixa. Essa faixa intermediária é delimitada por uma frequência de corte inferior (ωCI) e uma frequência de corte superior (ωCS). Para sinais de frequências intermediárias, ou seja, acima da frequência de corte inferior e abaixo da frequência de corte superior do filtro, o ganho é nulo, portanto, o módulo do sinal de saída é totalmente atenuado (zero). Para sinais de frequências abaixo da frequência de corte inferior ou acima da frequência de corte superior, o ganho do filtro é unitário, ou seja, o módulo do sinal de saída é igual ao de entrada. Na prática, porém, não é possível obter a resposta em frequência de um Filtro Rejeita-Faixa Ideal, como a apresentada na figura 15 a seguir. Figura 15 – resposta em frequência de um filtro rejeita-faixa Um circuito RLC como o apresentado na figura 16, a seguir, pode comportar-se com um filtro passivo rejeita-faixa real. Figura 16 – circuito de um filtro rejeita-faixa série CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 30 Ruídos Circuitos eletrônicos são suscetíveis a ruído de três formas principais: o ruído pode ser recebido com o sinal que se deseja tratar, o ruído pode ser gerado internamente no circuito ou ele se deve a uma interferência externa, devido a fatos naturais como raios ou a fontes artificiais como circuitos chaveados, motores, fontes de potência, entre outros. Para a análise completa do problema é necessário o uso das leis de Maxwell, porém é possível simplificar a análise do problema em muitos casos, empregando componentes passivos (R, L e C) para modelar a forma como a interferência se propaga. Essa aproximação é válida se considerarmos que todo o campo elétrico está dentro dos capacitores, os campos magnéticos estão concentrados nos indutores e as dimensões do circuito são muito menores que as dos comprimentos de onda em análise. Com essa aproximação é possível determinar as formas de propagação para os ruídos e interferências. Elas podem, então, ocorrer por acoplamento resistivo, indutivo ou capacitivo. O acoplamento resistivo ocorre quando circuitos ruidosos e não ruidosos estão interconectados por resistências comuns aos dois circuitos. Na verdade, este não é um problema meramente resistivo, pois as interconexões comuns aos dois circuitos são, na verdade, uma impedância complexa. O acoplamento capacitivo ocorre sempre que existirem dois condutores com campo elétrico entre eles, ao passo que o acoplamento indutivo existe sempre que indutâncias mútuas e espiras forem formadas nos circuitos. Essa análise nem sempre resulta em valores numéricos confiáveis, mas a compreensão dos fenômenos envolvidos pode ser mais facilmente alcançada e as técnicas de análise utilizadas em circuitos podem ser utilizadas livremente. As fontes de ruído na rede de energia são a principal causa de danos em equipamentos eletrônicos pela sua capacidade de afetar principalmente dispositivos semicondutores. No entanto, para se evitar que componentes delicados sejam prejudicados, é preciso que se conte com recursos apropriados para sua eliminação, onde o uso desses dispositivos é determinado basicamente pela identificação das fontes de ruído. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 31 Os surtos e transientes consistem nas maiores causas de falhas em equipamentos eletrônicos sensíveis, tanto pelo fato de poderem queimar dispositivos eletrônicos sensíveis quanto por poderem induzir os equipamentos a um funcionamento errático. A utilização de filtros como os TVS (Transient Voltage Suppressors), filtros EMI, é uma das soluções que pode ser adotada em muitos casos, mas ela não é a única. A adoção da solução correta está diretamente ligada ao tipo de ruído que está causando problemas. Assim, para se escolher a solução a ser adotada, deve-se antes identificar a forma como o ruído (surto ou transiente) está se propagando até o receptor. Existem, então, as quatro formas básicas segundo as quais o ruído se propaga e que são mostradas na figura 17 a seguir. Figura 17 – tipos de propagação do ruído Conforme podemos ver, os ruídos podem se propagar por condução (a), radiação (b), condução e radiação (c) e radiação e condução (d). O tipo de solução a ser adotada dependerá do modo como o ruído se propaga, sendo os dispositivos que evitam os problemas instalados, tanto na fonte de ruídos quanto no receptor dos ruídos. Temos, então, as seguintes possibilidades: a) Condução – nesse caso podem ser colocados filtros EMI ou dispositivos TVS junto à fonte de ruído e também junto ao receptor. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 32 b) Quando o ruído é irradiado, a solução consiste em se dotar os pontos sensíveis de blindagens, quer estejam eles na fonte de ruído, quer estejam no receptor dos ruídos. c) Em situações onde o ruído é conduzido e depois irradiado, colocam-se filtros EMI ou dispositivos TVS na fonte produtora de ruído e dota-se o receptor de blindagens. d) No caso em que o ruído é irradiado e depois conduzido, a solução está na blindagem da fonte de ruído e na colocação de filtros EMI e dispositivos TVS no receptor. As principais fontes de transientes e surtos estão ligadas ao armazenamento de energia em certos dispositivos, a qual é liberada quando esses dispositivos são comutados. Isso ocorre principalmente com cargas indutivas, mas existem outras causas como as seguintes: curtos-circuitos, ESD, descargas atmosféricas (raios), flutuações da rede, abertura e fechamento de contatos, distúrbios acoplados via cabo. Um ponto crítico de entrada de ruídos em muitos equipamentos é o conector I/O que proporciona o interfaceamento. Esse é um ponto importante para se colocar o dispositivo de proteção. Mas existem as fontes de ruído na própria placa, as quais devem ser localizadas e nelas devem ser colocados os dispositivos que evitem a irradiação dos ruídos, ou ainda sua propagação até pontos sensíveis dos equipamentos. Pontos de geração de ruído são os circuitos comutadores de potência ou de lógica de alta velocidade, as fontes chaveadas, os circuitos de clock e, principalmente, os circuitos que acionam cargas de potência indutivas (relés, motores e solenoides). Tem conteúdo extra no material on-line. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 33 Aplicações Práticas de Circuitos em CA Elementos de circuitos, tais como resistores e capacitores, estão comercialmente disponíveis tanto na forma discreta quanto na formade circuitos integrados (CIs). Ao contrário dos capacitores e resistores, os indutores com indutância apreciável são difíceis de serem construídos em substratos de CIs. Portanto, os indutores normalmente são utilizados na forma discreta e geralmente são maiores e mais caros. Por essa razão, não são tão versáteis quanto os capacitores e resistores, sendo suas aplicações mais limitadas. Entretanto, existem diversas aplicações nas quais os indutores não possuem substitutos práticos. Eles são normalmente utilizados em relés. Um relé é um simples switch eletromecânico formado por um eletroímã e um conjunto de contatos. Os relés estão escondidos em todo tipo de dispositivos. Os primeiros computadores utilizavam relés para implementar funções booleanas. Podemos considerar o funcionamento dos Relés bem simples, eles trabalham da seguinte forma: quando uma corrente circula pela bobina, esta cria um campo magnético que atrai um ou uma série de contatos fechando ou abrindo circuitos. Ao cessar a corrente da bobina, o campo magnético também cessa, fazendo com que os contatos voltem para a posição original. Os relés podem ter diversas configurações quanto aos seus contatos: podem ter contatos NA, NF ou ambos, nesse caso, com um contato comum ou central (C). Os contatos NA (normalmente aberto) são os que estão abertos enquanto a bobina não está energizada e que fecham, quando a bobina recebe corrente. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 34 Os NF (normalmente fechado) abrem-se quando a bobina recebe corrente, ao contrário dos NA. O contato central ou C é o comum, ou seja, quando o contato NA fecha é com o C que se estabelece a condução e o contrário com o NF. Sensores indutivos Um Sensor indutivo é um dispositivo eletrônico que é capaz de reagir à proximidade de objetos metálicos, esses dispositivos exploram o princípio da impedância de uma bobina de indução. Quando um objeto metálico passa pelo campo magnético da bobina do sensor indutivo, liberando, assim, a passagem da corrente elétrica. Isso ocorre, pois, o objeto absorve parte do campo magnético gerado pela bobina do sensor, essa variação é detectada pelo circuito e em seguida produz um sinal de saída, podendo ser a atuação de um contato NA ou NF para corrente alternada ou contínua, um transistor ou ainda um sinal variável de tensão ou de corrente (saída analógica). Um sensor indutivo é composto por quatro partes, sendo: Um oscilador, que verifica as mudanças de corrente contínua (DC) para corrente alternada (AC). Um núcleo de ferro envolto em fios ou em uma bobina, responsável pela criação do campo magnético que será afetado pela presença do objeto metálico. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 35 Os dispositivos de sensoriamento que monitoram o campo magnético por meio de um circuito, e as mudanças de campo causadas por metais passando nas proximidades. Um processador de saída, que leva a informação ao circuito do sensor e envia um sinal para outros equipamentos. Temporizadores RC Um Temporizador de retardo é um circuito que após acionado leva algum tempo até que a carga seja efetivamente acionada. A Figura 1, a seguir, mostra o diagrama de blocos de nosso projeto. Nele podemos notar a existência de dois grandes blocos, sendo o primeiro responsável pela temporização do circuito e o segundo pelo acionamento da carga. A ideia do circuito é aplicarmos uma tensão Vcc no bloco temporizador que levará algum tempo até que seja capaz de ativar o bloco acionador da carga. Figura 1 – diagrama de blocos do circuito temporizador Na figura 2 a seguir, tem-se um circuito simples usando esse tipo de temporização, assim que completar o tempo de carga no capacitor VC registra o valor da tensão necessária. Figura 2 – circuito temporizador RC CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 36 Motores elétricos A rotação inerente aos motores elétricos é a base do funcionamento de muitos eletrodomésticos. Por vezes, esse movimento de rotação é óbvio, como nos ventiladores ou batedeiras de bolos, mas, frequentemente, permanece um tanto disfarçado, como nos agitadores das máquinas de lavar roupas ou nos “vidros elétricos” das janelas de certos automóveis. Motores elétricos são encontrados nas mais variadas formas e tamanhos, cada qual apropriado à sua tarefa. Não importa quanto torque ou potência um motor deva desenvolver, com certeza, você encontrará no mercado aquele que lhe é mais satisfatório. Na figura 3 a seguir, temos a visão explodida de um motor monofásico onde podemos ver o uso de bobinas (indutores) e capacitores (partida). Tem conteúdo extra no material on-line. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 37 Transformada de Laplace Qual a importância da transformada de Laplace dentro do contexto de nossos estudos? É que ela reduz a solução de equações diferenciais à solução de equações algébricas. Para isso, a transformada associa a uma função no domínio do tempo (definida para t>0) outra função no domínio da frequência. Adicionalmente, a transformada de Laplace trata do conceito de função de rede. Como essas funções de rede podem ser obtidas experimentalmente utilizando-se medidas em regime permanente senoidal, a transformada de Laplace costuma ser mais intuitiva do que respostas ao impulso. Nossa análise no domínio da frequência esteve limitada a circuitos com entradas senoidais. Em outras palavras, nós assumimos excitações variantes no tempo senoidais para todos os nossos circuitos não CC. Neste momento, apresentamos a transformada de Laplace como uma ferramenta muito poderosa para a análise de circuitos com entradas senoidais ou não senoidais. Quando utilizamos fasores para a análise de circuitos, transformamos os circuitos do domínio do tempo para o domínio fasorial ou domínio da frequência. Uma vez que tenhamos obtido o resultado fasorial, transformamos de volta para o domínio do tempo. O método da transformada de Laplace segue o mesmo processo: ela é utilizada para transformar o circuito do domínio do tempo em domínio da frequência: obtém-se solução e aplica-se a transformada inversa de Laplace ao resultado para transformá-la de volta para o domínio do tempo. A transformada de Laplace é importante por diversas razões: primeiro, ela pode ser aplicada a uma variedade maior de entradas do que a análise fasorial; segundo, ela fornece uma maneira mais fácil de resolver problemas de circuitos que contenham condições iniciais, pois permitem que trabalhemos com equações algébricas em vez de equações diferenciais; terceiro, a transformada de Laplace é capaz de nos fornecer, em uma única operação, a resposta total do circuito, contendo tanto a resposta natural quanto a resposta forçada. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 38 Matematicamente, a transformada de Laplace pode ser obtida como: 𝐹(𝑠) = ∫ 𝑓(𝑡). 𝑒−𝑠.𝑡𝑑𝑡 ∞ 0 𝐹(𝑠) = 𝐿[𝑓(𝑡)] Propriedades básicas da transformada de Laplace Unicidade: Uma função no tempo fica univocamente determinada por sua transformada de Laplace Linearidade: 𝐿[𝑐1. 𝑓1(𝑡) + 𝑐2. 𝑓2(𝑡)] = 𝑐1. 𝐿[𝑓1(𝑡)] + 𝑐2. 𝐿[𝑓2(𝑡)] Regra da derivada: 𝐿[𝑓´(𝑡)] = 𝑠. 𝐿[𝑓(𝑡)] − 𝑓(0) 𝐿[𝑓´´(𝑡)] = 𝑠2. 𝐿[𝑓(𝑡)] − 𝑠. 𝑓(0) − 𝑓´(0) Regra da integral 𝐿 [∫ 𝑓(𝑡 ´). 𝑑𝑡 ´ 𝑡 0 ] = 1 𝑠 . 𝐿[𝑓(𝑡)] Deslocamento no tempo 𝐿[𝑢(𝑡 − 𝜏). 𝑓(𝑡 − 𝜏)] = 𝑒−𝑠𝜏 . 𝐹(𝑠) Convolução 𝐿 [∫ ℎ(𝑡 − 𝜏). 𝑒(𝜏). 𝑑𝜏 𝑡 0 ] = 𝐻(𝑠). 𝐸(𝑠) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 39 Tabela de transformadas (tabela 01) F(t) F(s) Frequência natural 𝛿(𝑡) 1 𝛿𝑛(𝑡) 𝑠𝑛 𝑢(𝑡) 1 𝑠 s1=0 t 1 𝑠2 𝑡𝑛 𝑛! 𝑠𝑛+1 𝑡𝑛 𝑛! 1 𝑠𝑛+1 s1,2,...,n=0 𝑒−𝑎.𝑡 1 𝑠 + 𝑎 S1=-a 𝑡𝑛 𝑛! . 𝑒−𝑎.𝑡 1 (𝑠 + 𝑎)𝑛+1 s1,2,...,n=-a cos(𝛽. 𝑡) 𝑠 𝑠2 + 𝛽2 𝑠1,2 = ±𝑗𝛽 𝑠𝑒𝑛(𝛽. 𝑡) 𝛽 𝑠2 + 𝛽2 𝑠1,2 = ±𝑗𝛽 𝑒−𝛼.𝑡. cos(𝛽. 𝑡) 𝑠 + 𝛼 (𝑠 + 𝛼)2 + 𝛽2 𝑠1,2 = 𝛼 ± 𝑗𝛽 𝑒−𝛼.𝑡 . 𝑠𝑒𝑛(𝛽. 𝑡) 𝛽 (𝑠 + 𝛼)2 + 𝛽2 𝑠1,2 = 𝛼 ± 𝑗𝛽 𝑠𝑒𝑛(𝛽𝑡 + 𝜃) 𝑠. 𝑠𝑒𝑛𝜃 + 𝛽𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑠2 + 𝛽2 𝑐𝑜𝑠 (𝛽𝑡 + 𝜃) 𝑠. 𝑐𝑜𝑠𝜃 − 𝛽𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑠2 + 𝛽2 Propriedades de redes lineares Para qualquer rede linear invariante, a resposta completa é a soma da resposta ao estado zero com a resposta à excitação zero. Igualmente, pela linearidade da transformada de Laplace, o mesmo é válido para as correspondentes funções no domínio da frequência. A função de rede é, por definição, a função de s que, quando multiplicada pela transformada de Laplace da excitação, dá a transformada de Laplace da resposta ao estado zero. A função de rede também pode ser chamada de função CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 40 de transferência. Para qualquer rede concentrada linear invariante, qualquer de suas funções de rede é uma função com coeficientes reais. Para qualquer rede linear invariante, as condições iniciais exigidas para obter o valor de qualquer variável de rede são completamente especificadas pelas tensões iniciais nos capacitores e correntes iniciais nos indutores. Impedância Observe que o mesmo resultado poderia ter sido encontrado se a transformada de Laplace tivesse sido aplicada aos elementos do circuito, individualmente, antes de qualquer cálculo. Assim, capacitor e indutor apresentariam impedâncias semelhantes as estudadas em regime permanente senoidal. As condições iniciais, por outro lado, seriam substituídas por fontes de tensão em degrau (no capacitor) ou corrente em degrau (no indutor). 𝑉𝐿 = 𝐿. 𝑑𝑖 𝑑𝑡 após a transformada de Laplace corresponde a 𝑉𝐿(𝑠) = (𝐿. 𝑠). 𝐼(𝑠) 𝑉𝐶 = 1 𝐶 ∫ 𝑖. 𝑑𝑡 após a transformada de Laplace corresponde a 𝑉𝐶 (𝑠) = ( 1 𝐶.𝑠 ) . 𝐼(𝑠) 𝑉𝑅 = 𝑅. 𝑖 após a transformada de Laplace corresponde a 𝑉𝑅(𝑠) = (𝑅). 𝐼(𝑠) Observe que as parcelas 𝐿. 𝑠, 1 𝐶.𝑠 𝑒 𝑅, correspondem as impedâncias do indutor, capacitor e resistor respectivamente. Transformada inversa de Laplace Dada a função F(s), como transformaremos de volta para o domínio do tempo e obteremos a função f(t) correspondente? Uma das alternativas é procurando na Tabela 01 para determinar f(t). Suponha que F(s) tenha a forma geral de: 𝐹(𝑠) = 𝑁(𝑠) 𝐷(𝑠) Onde N(s) é um numerador polinomial e D(s) é um denominador polinomial. As raízes de N(s)=0 são chamadas de zeros de F(s), enquanto que as raízes de D(s)=0 são polos de F(s). Utilizaremos a expansão em frações CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 41 parciais para separar F(s) em termos simples, cujas transformadas inversas são obtidas através da tabela 01. Portanto, a determinação da transformada inversa de Laplace de F(s) envolve dois passos. 1. Decomponha F(s) em termos simples, usando a expansão em frações parciais 2. Determine a transformada inversa de cada termo, utilizando a tabela 01. Vamos considerar três possíveis formas que F(s) pode assumir e como aplicar os dois passos em cada forma. Polos Simples Lembre-se que polo simples é um polo de primeira ordem. Se F(s) possui apenas dois polos simples, então D(s) se torna o produto de fatores, logo: 𝐹(𝑠) = 𝑁(𝑠) (𝑠 + 𝑝1)(𝑠 + 𝑝2) … (𝑠 + 𝑝𝑛) Onde s=-p1, -p2, ..., -pn são polos simples de e p1 ≠ pj para todo i≠j (isto é, os polos são distintos). Considerando que o grau de N(s) é menor que o grau de D(s), utilizamos a expansão em frações parciais para decompor F(s) da equação anterior assim: 𝐹(𝑠) = 𝑘1 (𝑠 + 𝑝1) + 𝑘2 (𝑠 + 𝑝2) + ⋯ + 𝑘𝑛 (𝑠 + 𝑝𝑛) Os coeficientes k1, k2, ..., kn da expansão são chamados de resíduos deF(s). Existem diversas formas de se determinar os coeficientes da expansão. Uma delas é utilizar o método do resíduo. Se nós multiplicarmos os dois lados da equação decomposta por (s + p1), iremos obter: (𝑠 + 𝑝1)𝐹(𝑠) = 𝑘1 + (𝑠 + 𝑝1)𝑘2 𝑠 + 𝑝2 + ⋯ + (𝑠 + 𝑝1)𝑘𝑛 𝑠 + 𝑝𝑛 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 42 Como p1 ≠ pj, se estabelecermos s = -p1, todos os termos do lado direito da equação se anularão, menos k1, logo: (𝑠 + 𝑝1)𝐹(𝑠)|𝑠=𝑝1 = 𝑘1 Portanto: 𝑘𝑖 = (𝑠 + 𝑝1)𝐹(𝑠)|𝑠=𝑝𝑖 Isto é chamado de teorema Heaviside. Uma vez que os valores de k i tenham sido determinados, procedemos na determinação da inversa de F(s). Como a transformada inversa de cada termo da equação é obtida através da tabela 01: 𝑓(𝑡) = (𝑘1𝑒 −𝑝1𝑡 + 𝑘2𝑒 −𝑝2𝑡 + ⋯ + 𝑘𝑛𝑒 −𝑝𝑛𝑡) Polos Repetidos Suponha que F(s) possua n polos repetidos em s=-p. Podemos então representar F(s) por: 𝐹(𝑠) = 𝐾𝑛 (𝑠 + 𝑝)𝑛 + 𝐾𝑛−1 (𝑠 + 𝑝)𝑛−1 + ⋯ + 𝐾2 (𝑠 + 𝑝)2 + 𝐾1 𝑠 + 𝑝 + 𝐹1(𝑠) Onde F1(s) é a parte restante e F(s) que não possui um pólo em s=-p. Determina-se os coeficientes kn da expansão por: 𝑘𝑛 = (𝑠 + 𝑝1) 𝑛𝐹(𝑠)|𝑠=−𝑝 Como feito anteriormente. Para determinar kn-1, multiplicamos cada termo da equação F(s) por (s+p)n e diferenciamos para eliminar kn. Logo após, calculamos o resultado de s=-p para eliminar os outros coeficientes, exceto kn-1. Portanto obtemos: 𝑘𝑛−1 = 𝑑 𝑑𝑠 (𝑠 + 𝑝1) 𝑛𝐹(𝑠)| 𝑠=−𝑝 Repetindo, teremos: 𝑘𝑛−2 = 1 2! 𝑑2 𝑑𝑠2 (𝑠 + 𝑝1) 𝑛𝐹(𝑠)| 𝑠=−𝑝 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 43 O m-ésimo termo se torna 𝑘𝑛−𝑚 = 1 𝑚! 𝑑𝑚 𝑑𝑠𝑚 (𝑠 + 𝑝1) 𝑛𝐹(𝑠)| 𝑠=−𝑝 Onde m=1, 2, ..., n-1. Pode-se esperar que a diferenciação seja difícil de ser determinada com o aumento de m. Uma vez que tenhamos obtido os valores de k1, k2, ..., kn pela expansão de frações parciais, aplicamos a transformada inversa. 𝐿−1 [ 1 (𝑠 + 𝑎)𝑛 ] = 𝑡𝑛−1𝑒−𝑎𝑡 (𝑛 − 1)! A cada termo do lado direito da equação F(s), obtendo: 𝑓(𝑡) = 𝑘1𝑒 −𝑝𝑡 + 𝑘2𝑡𝑒 −𝑝𝑡 + 𝑘3 2! 𝑡2𝑒−𝑝𝑡 + ⋯ + 𝑘𝑛 (𝑛 − 1)! 𝑡𝑛−1𝑒−𝑝𝑡 + 𝑓1(𝑡) Polos complexos Um par de polos complexos é simples quando não é repetido. Ele será um polo duplo ou múltiplo se for repetido. Polos complexos simples podem ser trabalhados da mesma forma que polos reais simples, mas como seria utilizada a álgebra complexa, o resultado é sempre mais difícil de ser obtido. Uma abordagem mais simples é um método conhecido como completando o quadrado. A ideia é expressar cada par de polo complexo (ou termo quadrático) em D(s) como uma forma quadrática completa tal como (s+α)2+β2 e, então, utilizar a tabela 01 para determinar a transformada inversa do termo. Como N(s) e D(s) sempre possuem coeficientes reais e sabemos que raízes complexas de polinômios com coeficientes reais devem acontecer em pares conjugados, F(s) pode assumir a seguinte forma geral: 𝐹(𝑠) = 𝐴1𝑠𝐴2 𝑠2 + 𝑎𝑠 + 𝑏 + 𝐹1(𝑠) Onde F1(s) é a parte restante de F(s) que nãopossui este par de polos complexos. Se nós completarmos a forma quadrática considerando: 𝑠2 + 𝑎𝑠 + 𝑏 = 𝑠2 + 2𝛼𝑠 + 𝛼2 + 𝛽2 = (𝑠 + 𝛼)2 + 𝛽2 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 44 E tivermos: 𝐴1𝑠 + 𝐴2 = 𝐴1(𝑠 + 𝛼) + 𝐵1𝛽 Então, temos: 𝐹(𝑠) = 𝐴1(𝑠 + 𝛼) (𝑠 + 𝛼)2 + 𝛽2 + 𝐵1𝛽 (𝑠 + 𝛼)2 + 𝛽2 + 𝐹1(𝑠) A partir da Tabela 01 a transformada inversa é: 𝑓(𝑡) = 𝐴1𝑒 −𝛼𝑡𝑐𝑜𝑠𝛽𝑡 + 𝐵1𝑒 −𝛼𝑡𝑠𝑒𝑛𝛽𝑡 + 𝑓1(𝑡) Aplicação em Circuitos Depois de aprender como obter a transformada de Laplace e sua inversa, estamos agora preparados para utilizar a transformada de Laplace na análise de circuitos. Para isso, normalmente seguimos três passos: 1. Transforme o circuito do domínio do tempo para o domínio s. 2. Resolva o circuito usando a análise nodal, análise de malha, transformação de fontes, superposição ou qualquer técnica de análise que você conheça. 3. Determine a transformada inversa da solução e, assim, obtenha a solução no domínio do tempo. Como nós fizemos na análise fasorial, transformamos o circuito no domínio do tempo para o domínio da frequência ou domínio s aplicando a transformada de Laplace a cada termo do circuito. Para o resistor, a relação tensão-corrente no domínio do tempo é: 𝑣(𝑡) = 𝑅𝑖(𝑡) Efetuando a transformada de Laplace, teremos: 𝑉(𝑠) = 𝑅𝐼(𝑠) Para um indutor: 𝑣(𝑡) = 𝐿 𝑑𝑖(𝑡) 𝑑𝑡 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 45 Efetuando a transformada nos dois lados, teremos: 𝑉(𝑠) = 𝐿[𝑠𝐼(𝑠) − 𝑖(0−) = 𝑠𝐿𝐼(𝑠) − 𝐿𝑖(0−) Ou 𝐼(𝑠) = 1 𝑠𝐿 𝑉(𝑠) + 𝑖(0−) 𝑠 Os equivalentes no domínio s são mostrados na figura 1, sendo que as condições iniciais são modeladas como fontes de tensão ou corrente. Figura 1 – representação de um indutor: a) no domínio do tempo, b) c) equivalentes no domínio s Para o capacitor: 𝑖(𝑠) = 𝐶 𝑑𝑖(𝑡) 𝑑𝑡 A qual é transformada para o domínio s como: 𝐼(𝑠) = 𝐶[𝑠𝑉(𝑠) − 𝑣(0−)] = 𝑠𝐶𝑉(𝑠) − 𝐶𝑣(0−) Ou 𝑉(𝑠) = 1 𝑠𝐶 𝐼(𝑠) + 𝑣(0−) 𝑠 Os equivalentes no domínio s são mostrados na figura 2. Figura 2 – representação de um capacitor a) no domínio do tempo; (b,c) equivalentes no domínio s CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 46 Se observarmos as equações da corrente no indutor e a tensão no capacitor, poderemos ver que as condições iniciais são partes da transformação. Essa é uma das vantagens de se utilizar a transformada de Laplace na análise de circuitos. Outra vantagem é que a resposta completa – transitória e de regime permanente – de um circuito é obtida diretamente. Se assumirmos condições iniciais nulas para o indutor e capacitor, as equações são reduzidas para: Resistor: 𝑉(𝑠) = 𝑅𝐼(𝑠) Indutor: 𝑉(𝑠) = 𝑠𝐿𝐼(𝑠) Capacitor: 𝑉(𝑠) = 1 𝑠𝐶 𝐼(𝑠) Definimos a impedância s como a razão entre a tensão transformada pela corrente transformada, considerando condições iniciais como nulas, ou seja: 𝑍(𝑠) = 𝑉(𝑠) 𝐼(𝑠) Portanto, as impedâncias dos três elementos de circuito são Resistor: 𝑍(𝑠) = 𝑅 Indutor: 𝑍(𝑠) = 𝑠𝐿 Capacitor:𝑍(𝑠) = 1 𝑠𝐶 A admitância no domínio s é a recíproca da impedância: 𝑌(𝑠) = 1 𝑍(𝑠) = 𝐼(𝑠) 𝑉(𝑠) A utilização de transformada de Laplace na análise de circuitos facilita a utilização de várias fontes de sinal, tais como impulso, degrau, rampa, exponencial e senoidal. Por exemplo, determine v0(t) no circuito a seguir, considerando condições iniciais nulas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 47 Solução: inicialmente, transformamos o circuito do domínio do tempo para o domínio s. 𝑢(𝑡) ⇒ 1 𝑠 1𝐻 ⇒ 𝑠𝐿 = 𝑠 1 3 𝐹 ⇒ 1 𝑠𝐶 = 3 𝑠 O circuito resultando no domínio s é: Aplica-se, agora, análise de malha. Para malha 1: 1 𝑠 = (1 + 3 𝑠 ) 𝐼1 − 3 𝑠 𝐼2 Para a malha 2: 0 = − 3 𝑠 𝐼1 + (𝑠 + 5 + 3 𝑠 ) 𝐼2 Ou 𝐼1 = 1 3 (𝑠2 + 5𝑠 + 3)𝐼2 Substituindo na equação da malha1, temos: 1 𝑠 = (1 + 3 𝑠 ) 1 3 (𝑠2 + 5𝑠 + 3)𝐼2 − 3 𝑠 𝐼2 Multiplicando os termos por 3s, teremos: 1 𝑠 . 3𝑠 = (1 + 3 𝑠 ) 1 3 . 3𝑠(𝑠2 + 5𝑠 + 3)𝐼2 − 3 𝑠 . 3𝑠𝐼2 3 = (1 + 3 𝑠 ) 𝑠(𝑠2 + 5𝑠 + 3)𝐼2 − 9𝐼2 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 48 3 = (1 + 3 𝑠 ) 𝑠(𝑠2 + 5𝑠 + 3)𝐼2 − 9𝐼2 3 = ( 𝑠 + 3 𝑠 ) 𝑠(𝑠2 + 5𝑠 + 3)𝐼2 − 9𝐼2 3 = (𝑠 + 3)(𝑠2 + 5𝑠 + 3)𝐼2 − 9𝐼2 3 = (𝑠3 + 5𝑠2 + 3𝑠 + 3𝑠2 + 15𝑠 + 9)𝐼2 − 9𝐼2 3 = (𝑠3 + 8𝑠2 + 18𝑠)𝐼2 𝐼2 = 3 𝑠3 + 8𝑠2 + 18𝑠 𝑉0(𝑠) = 𝑠𝐼2 = 𝑠( 3 𝑠3 + 8𝑠2 + 18𝑠 ) 𝑉0(𝑠) = ( 3 𝑠2 + 8𝑠 + 18 ) 𝑉0(𝑠) = 3 √2 √2 (𝑠 + 4)2 + (√2 2 ) Determinando a transformada inversa: 𝑉0(𝑡) = 3 √2 𝑒−4𝑡𝑠𝑒𝑛√2𝑡 𝑉, 𝑡 ≽ 0 Tem conteúdo extra no material on-line. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. Trocando Ideias Chegou o momento de participar com os colegas! A corrente alternada surgiu com Nicola Tesla, que foi contratado para construir uma linha de transmissão entre duas cidades de Nova York. Naquela época, Thomas Edison tentou desacreditar Tesla de que isso daria certo, mas o sistema que Tesla fez acabou sendo adotado e muito utilizado desde então. Pesquise mais a respeito e compartilhe suas descobertas com os seus amigos. Participe no fórum! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 49 Na Prática Após instalar o som, ou até mesmo antes de comprar um, você já deve ter ouvido falar de um tal de crossover. E é a partir daí que surge muitas dúvidas, por isso vamos expor algumas informações para que fique por dentro do assunto, afinal: para que serve crossover automotivo? Primeiro, você precisa saber que o som possui diversas frequências. ”Basicamente” são as ”’agudas”, ”médias” e ”graves”. E cada reprodutor de áudio, reproduz uma faixa de frequência melhor, sendo eles: super tweeters (agudo altas), cornetas titânio (agudo alto e agudo baixo), cornetas (agudo baixo), mid bass (médio), Woofers (médio grave) e Subwoofers (grave). Quando o sinal de áudio é enviado do CD player aos módulos amplificadores, todas as frequências estão sendo enviadas ao amplificador, independentemente do que o amplificador está reproduzindo. Por isso um alto falante Woofer perde rendimento ao reproduzir todas as frequências por exemplo, pois ele é feito para reproduzir somente os médios graves. É aí que o crossover entra, ele pega todas as frequências enviadas do CD Player e as filtra, separando elas em canais para que possam ser enviadas aos reprodutores correspondentes (no caso, para os amplificadores dos reprodutores). Ou seja, no caso do woofer, ele filtra todas as frequências que não são ”médias graves”, fazendo com que este renda o esperado, além de diminuir a chance de queimar o alto-falante. Você pode ainda pensar: então, se vários módulos já possuem um crossover embutido, por que tenho que utilizar um outro crossover? Vamos explicar: qual a diferença do crossover embutido do módulo amplificador e do crossover (separado)? Precisão e potência nos cortes de frequência, e regulagem. Ou seja, cada crossover possui uma qualidade de corte de frequência melhor que a do módulo, e uma regulagem mais ampla (dependendo do tipo). Outro diferencial é a possibilidade de ajuste de ganho em cada via em um único local, tendo mais controle do sistema. CCDD– Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 50 Síntese Chegamos ao fim de nossa aula! Gerações de físicos e engenheiros têm se utilizado das transformadas, principalmente da transformada de Laplace, como atalhos para solução de problemas e para estudo de fenômenos transitórios e permanentes. Mas seria a transformada de Laplace mesmo de Laplace? Mais do que simplesmente uma técnica, a história que permeia seu desenvolvimento pode ser vista como uma verdadeira saga de quase 200 anos. Seu nome rende homenagens ao grande matemático francês Pierre- Simon de Laplace, mas isso não é tudo. Na tentativa de responder a essa questão e estimular o interesse pelo estudo das técnicas de transformação, em geral, são apresentados alguns traços históricos e inovações que fizeram dessa extraordinária ferramenta uma verdadeira obra de engenharia. Referências BOYLESTAD, R. Introdução à Análise de Circuitos. 12ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. BOYLESTAD, R.; NASHELSKY, L. Dispositivos Eletrônicos e Teoria de Circuitos. 11ª ed. São Paulo: Pearson, 2013. BURIAN JR., Y.; LYRA, A. C. C. Circuitos Elétricos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. LEONARDI, F. Controle Essencial. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. OGATA, K. Engenharia de Controle Moderno. 4ª Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. MARIOTTO, P. Análise de Circuitos Elétricos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. NAGLE, R. K.; SAFF, E. B.; SNIDER, A. D. Equações Diferenciais. 8ª ed. São Paulo: Pearson, 2012. NILSSON, J; RIEDEL, S. Circuitos Elétricos. 8ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
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