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Fundamentos e Metodologia de Língua Portuguesa Autor: Mario L. N. Alves Tema 05 O Preconceito Linguístico Tema 06 Compreensão e produção Oral Índice Índice Tema 05: O Preconceito Linguístico 05 Tema 06: Compreensão e produção Oral 18 seç ões Tema 05 O Preconceito Linguístico Como citar este material: ALVES, Mario L. N. Fundamentos e Metodologia de Lingua Portuguesa: O Preconceito Linguístico. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. SeçõesSeções Tema 05 O Preconceito Linguístico 7 CONTEÚDOSEHABILIDADES Conteúdo Nessa aula você estudará: • O preconceito linguístico. • A variedade padrão da Língua Portuguesa. • A atuação do professor de Língua Portuguesa. Introdução ao Estudo da Disciplina Caro(a) aluno(a). Este Caderno de Atividades foi elaborado com base no livro Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, da autora Maria Lúcia de Castro Gomes, editora Ibpex, 2011, PLT 493. Roteiro de Estudo: Mario L. N. Alves Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa 8 CONTEÚDOSEHABILIDADES O Preconceito Linguístico Faça uma busca sincera em suas lembranças e responda: você já riu ou ficou irritado de um “erro de português” que alguém falou escreveu em algum lugar? Ironizar essas ocorrências é tão comum que basta uma procura simples pelos buscadores da internet para assistir diversos vídeos com pessoas falando uma variedade não padrão da língua ou encontrar inúmeras fotos de cartazes com palavras ou frases que tragam “produtos cem agrotóxicos”, “ceja benvindo”, “prescisa-se”, “açeitamos”, “femenino”. Essas ironias, geralmente, acabam por rotular o falante como néscio, possuidor de baixa escolaridade, com má formação ou inepto para as práticas letradas de sua própria língua. Basta um “nóis vai”, um “menas coisas” ou um “as menina não gosta” para que alguém, prontamente, julgue a capacidade intelectual de quem disse uma dessas frases. A variedade padrão da Língua Portuguesa Como você pôde ver nos temas anteriores, a Língua Portuguesa sofre diversas mudanças e, em seu bojo, coexistem incontáveis variações oriundas das diferenças geográficas, sociais/ socioculturais e contextuais. Habilidades Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões: • Como se caracteriza o preconceito linguístico? • Como se define a variedade padrão da Língua Portuguesa? • Qual deve ser o papel do professor de Língua Portuguesa frente às variedades da língua? LEITURAOBRIGATÓRIA 9 LEITURAOBRIGATÓRIA Como as línguas evoluem, passando por mudanças diacrônicas, as academias de letras dos países falantes de Língua Portuguesa, de tempos em tempos, buscam identificar as ocorrências linguísticas a serem instituídas como as formas “corretas” da língua. Ao se definir uma determinada variedade da Língua Portuguesa como sendo a padrão, faz-se um recorte da língua falada por um grupo de pessoas em um lugar e tempo. O mais recente exemplo foi o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, proposto em 1990, ratificado em 2008 por Portugal, envolvendo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), formada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Quando se define uma variedade padrão, “ela ganha tanta importância e tanto prestígio social que todas as demais variedades são consideradas ‘impróprias’, ‘inadequadas’, ‘feias’, ‘erradas’, ‘deficientes’, ‘pobre’...” (BAGNO, 1999, p. 22). É por isso que palavras como “idéia”, “vôo”, “heróico”, “pharmacia” ou “civilisação” que tiveram sua vez como “correta” e “culta” hoje são vistas como palavras inadequadamente escritas. O conceito de erro A escolha das ocorrências eleitas como padrão não seguem, necessariamente, critérios pautados em estudos linguísticos sobre evolução da língua. Suas escolhas, em geral, privilegiam as variantes da elite intelectual e cultural, ainda que isso contrarie o uso mais amplo da língua. Segundo Bagno (1999), é possível ver, como resultado de estudos sobre a evolução das línguas, que algumas ocorrências seriam naturais na Língua Portuguesa, tais como: a eliminação das marcas de redundância do plural (Os passarinho come tudo); a Assimilação (transformar “nd” em “n” e “mb” em “m”. Exemplo: “Estou falano com ele tamém”); a Redução de ditongo “ou” em “o” (Exemplo: “tem um poco de ropa na mala”); a Redução de ditongo “ei” em “e”. (Exemplo: “Ela me deu um bejo no quexo”); a Redução de “e” e “o” átonos pretônicos. (Exemplo: “piriquito”, “priguiça”, “assubio” e “dumingo”); a contração de proparoxítona. (Exemplo: “árvre” e “tauba”) entre diversos outros. Há muitas outras ocorrências também usuais na Língua Portuguesa. Em uma busca pela palavra “mussarela”, no buscador Google, por exemplo, em novembro de 2012, retorna aproximadamente 143 milhões de resultados. Sua forma dicionarizada (“muçarela”), por 10 sua vez, retorna algo próximo de 106 mil resultados, ou seja, 0,07% do número total. Outro exemplo é a regra gramatical que proíbe iniciar frases com pronomes átonos, como se os falantes brasileiros dissessem normalmente “empresta-me” ou “amo-te” em vez de “me empresta” ou “te amo”. Chega a ser difícil justificar porque a variedade escolhida como padrão é tão pouco utilizada ou soe tão antiquada. E apesar de tantas ocorrências naturais na evolução da língua falada e usadas cotidianamente, essas mudanças continuam rotuladas de erros feitos por pessoas incultas, com má formação, uma vez que o padrão adotado não compartilha dessas ocorrências em sua escrita. Com a institucionalização das ocorrências escolhidas como padrão, a gramática, os dicionários e os livros didáticos também passam a difundi-la, normatizando e valorizando esse recorte da Língua Portuguesa. Como afirma Leite (1999 apud GOMES, 2011, p. 85), “a norma é um acordo tácito - um contrato social feito entre os membros de uma comunidade – (...), as rupturas a ela não são bem aceita; são negativamente avaliadas”. Consequentemente, o domínio dessa norma torna-se um requisito básico para qualquer falante que pretenda participar das interações sociais formais letradas. O papel da norma padrão é muito importante e inegável, principalmente quando se pensa na construção de um sistema de Língua Portuguesa a ser compartilhado pelos falantes, sendo a força opositora que busca estabilizar o caos das inúmeras variáveis da fala. A atuação do professor de Língua Portuguesa Diante desse cenário, qual o papel do professor de Língua Portuguesa? Deixar de lado o ensino de ortografia e gramática em nome de um “laissez-faire” linguístico ou ignorar todas essas considerações e manter o ensino gramatical de certo e errado? Bagno (2005 apud GOMES, 2011) aponta que um mito ainda muito presente no ensino de língua diz que é preciso aprender gramática para se falar e escrever bem. O autor mostra que, na verdade, é preciso dominar as práticas da língua (ler, escrever e falar) para se estudar gramática. Com isso, percebe-se que o processo deveria ser inverso e, a despeito de toda pressão da sociedade que ainda se prende ao mito da gramática, os alunos deveriam realizar reflexões sobre a língua a partir de exercícios de produção e interpretação, ou seja, de práticas significativas do uso da língua. LEITURAOBRIGATÓRIA 11 Quer saber mais sobre o assunto? Então: Sites Leia a matéria sobre preconceito linguístico de Sírio Possenti, professor de Linguística da Unicamp. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/palavreado/preconceito-linguistico>. Acesso em: 9 dez. 2013. Acesse a matéria de Marta Schere sobre Preconceito Linguístico na Revista Galileu online. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI110515-17774,00-O+PRECONCEITO+LINGUISTICO+DEVERIA+SER+CRIME.html>. Acesso em: 9 dez. 2013. Leia o artigo de Fábio D. P. Rodrigues, sobre preconceito linguístico e não linguístico na escola/livro didático. Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/>. Acesso em: 9 dez. 2013. LINKSIMPORTANTES Como afirma Possenti (2006 apud GOMES, 2011, p. 89), “o papel da escola é ensinar a língua padrão”, o que não significa ensinar regras, normas e buscar o apagamento da variante do aluno. À escola cabe o papel de formar alunos aptos a interagirem e se tornarem sujeitos críticos inseridos nas práticas sociais. Ao professor de Língua Portuguesa cabe o papel de ensinar o aluno sobre o uso da língua por meio de práticas de linguagem que viabilizem sua inserção em contextos sociais e culturais diversos, dentro dos padrões socioculturais hegemônicos. Ou seja, cabe ao professor ensinar, sim, a norma culta e cobrando seu uso, mas também ensinar qual o verdadeiro papel da língua padrão, a diferença entre língua e fala e qual o papel dessa variedade dentro de sua sociedade. LEITURAOBRIGATÓRIA 12 Instruções: Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão. Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas ao tema. Questão 1: Pense nos últimos diálogos que participou antes de ler essa pergunta. Busque lembrar as frases que os participantes usaram, as palavras que escolheram e tente anotar ao menos 3 palavras ou construções que, de alguma forma, não estavam de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa e apon- te os motivos para essas palavras/constru- ções terem sido utilizadas fora da norma. Questão 2: Mudanças diacrônicas são as mudanças que a língua sofre: a) Em diferentes regiões. b) Em diferentes classes sociais. c) Ao longo do tempo. d) Em diferentes contextos. e) Por influencia de outras línguas. AGORAÉASUAVEZ Vídeos Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=9dN1krnIzTc>. Acesso em: 9 dez. 2013. Esse vídeo traz uma explicação didática e ilustrativa sobre o preconceito linguístico no Brasil. LINKSIMPORTANTES 13 Questão 3: O acordo ortográfico da Língua Portuguesa prevê: a) Mudanças na Língua Portuguesa do Brasil. b) A adoção da Língua Portuguesa do Brasil em Portugal. c) Um ajuste no sistema escrito da Língua Portuguesa nos países falantes do português. d) Alterações na norma culta da Língua Portuguesa para os países pertencentes à Comunidade de Países de Língua Portuguesa. e) Alterações da Língua Portuguesa oral para os países pertencentes à Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Questão 4: Das afirmações abaixo: 1. A língua é estanque e não sofre altera- ções em sua norma culta. 2. A norma culta é criada a partir de estu- dos linguísticos que visam à evolução lin- guística de simplificação. 3. A norma culta é uma sistematização de re- gras e usos da língua oral e escrita com base em determinado tempo/espaço/variável. É correto afirmar que: a) Somente a está 1 certa. b) Somente a está 2 certa. c) Somente a está 3 certa. d) A afirmação 1 e 2 estão corretas. e) Todas estão erradas. Questão 5: Sobre a norma culta, é errado dizer que: a) Deve ser ensinada na escola. b) É criada com base em escolhas feitas a partir das variáveis presentes na língua. c) A redundância dos marcadores de plural pode se perder em algumas variedades da língua. d) Seu aprendizado deve ser superficial e o professor deve salientar, preferencialmente, a variável do aluno em suas produções. e) Seu aprendizado deve ser consistente e o professor deve salientar, preferencialmente, a importância de aprendê-la para as práticas sociais. Questão 6: Sobre o Acordo Ortográfico do Brasil, por que ele é considerado um acordo e não uma Reforma Ortográfica? AGORAÉASUAVEZ 14 Questão 7: Segundo Bagno (1999), não há erros, mas formas adequadas e inadequadas para de- terminados contextos. Proponha uma ativi- dade aos seus alunos para que resgatem as formas que utilizam em contextos de internet ou outros informais e “traduzam” seus textos para uma comunicação formal. Questão 8: Escolha um filme nacional e faça uma aná- lise das variações da língua utilizada em seu roteiro. Nas interações entre os perso- nagens é possível identificar algum tipo de preconceito ou estigmatização por conta dos padrões linguísticos? Explique o motivo. Questão 9: Pesquise na internet casos de discrimina- ção oriundos do preconceito linguístico. Qual a variante da pessoa que sofreu o preconceito e como foi possível identificar que houve preconceito? Questão 10: Pesquise uma música cuja letra apresente uma variação da Língua Portuguesa dis- crepante da norma culta. As marcas textu- ais remetem essa variação a qual grupo/ contexto? Como essa música poderia ser adequada para a norma culta? AGORAÉASUAVEZ Nesse tema, você pôde ver como se caracteriza o preconceito linguístico, o que é a variedade padrão da Língua Portuguesa e como o professor de Língua Portuguesa deve pensar seu papel frente às variedades da língua. Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de acessar sua ATPS e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons estudos! FINALIZANDO 15 GOMES, M. L. C. Metodologia do ensino de Língua Portuguesa. Curitiba: Ibpex, 2011. BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 3ª. Ed. São Paulo: Contexto, 1999. REFERÊNCIAS Mito: relato que passar entre as gerações de um grupo, explicando a origem de determinado fenômeno ou costume social. Redundância: insistência desnecessária nas mesmas ideias; excesso de palavras ou de expressões. Tácito: o que está subentendido ou implícito, não expresso formalmente. Laissez-faire: prática caracterizada geralmente por abstenção da direção ou interferência na liberdade individual de ação ou escolha. Hegemonia: predominância, autoridade soberana, influência exercida sobre outros. GLOSSÁRIO 16 Questão 1 Resposta: Espera-se uma análise pessoal em que demonstre ao aluno o quanto a oralidade não condiz com a norma culta e que perceba as situações de contexto e as particularidades da variação a que pertence. Questão 2 Resposta: Alternativa C. O processo de diacronia acontece com as mudanças sofridas pela língua ao longo do tempo. Questão 3 Resposta: Alternativa D. O acordo ortográfico da língua portuguesa foi realizado para que acontecessem alterações na norma culta da língua portuguesa nos países pertencentes à Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Questão 4 Resposta: Alternativa C. A única afirmação correta é a que diz que a norma culta é uma sistematização de regras e usos da língua oral e escrita com base em determinado tempo/ espaço/variável. Questão 5 Resposta: Alternativa D. O aprendizado da norma culta deve ser aprofundado e pelo professor e os alunos devem ter momentos de práticas sociais desta norma. Questão 6 Resposta: O acordo diz respeito a um alinhamento entre países falantes de determinada língua, enquanto a reforma é feita somente dentro de um país falante. GABARITO 17 Questão 7 Resposta: Espera-se uma atividade que conduza os alunos a reflexão sobre a própria variação e como transpor seu texto para a norma culta. Questão 8 Resposta: Questão aberta de pesquisa, que espera do aluno uma análise mais detalhada sobre o preconceito linguístico e as variaçõesda língua. Questão 9 Resposta: Espera-se que a pesquisa do aluno traga por resultado um exemplo prático de preconceito e uma análise da interação que apresente a contraposição entre norma culta e ato de fala produzido pela vítima do preconceito. Questão 10 Resposta: Espera-se o desenvolvimento de uma atividade que, além de auxiliar na reflexão sobre as variações e a norma culta, pode ser utilizada como atividade em sala de aula posteriormente. GABARITO seç ões Tema 06 Compreensão e produção Oral Como citar este material: ALVES, Mario L. N. Fundamentos e Metodologia de Lingua Portuguesa: Compreensão e produção Oral. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. SeçõesSeções Tema 06 Compreensão e produção Oral 21 CONTEÚDOSEHABILIDADES Conteúdo Nessa aula você estudará: • Os requisitos do PCN sobre o ensino de língua. • Aspectos da modalidade oral: escutar. • Aspectos da modalidade oral: falar. Introdução ao Estudo da Disciplina Caro(a) aluno(a). Este Caderno de Atividades foi elaborado com base no livro Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, da autora Maria Lúcia de Castro Gomes, editora Ibpex, 2011, PLT 493. Roteiro de Estudo: Mario L. N. Alves Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa 22 CONTEÚDOSEHABILIDADES Compreensão e produção Oral Após a leitura dos temas anteriores, nas quais você pôde ver questões sobre linguagem e cérebro, aquisição de linguagem, diversidade e preconceitos linguísticos, você irá ler neste e nos próximos temas sobre as habilidades da Língua Portuguesa em sua modalidade oral (ouvir e falar) e em sua modalidade escrita (ler e escrever). Neste tema, por ora, vamos nos ater especialmente ao que se espera do ensino das quatro habilidades em Língua Portuguesa no sistema educacional brasileiro e, em seguida, à compreensão e à produção oral. O ensino Língua Portuguesa no Brasil No Brasil, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei Federal nº 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996, o poder público consolida sua atuação com o ensino fundamental, buscando balizar uma “formação comum indispensável para o exercício da cidadania” (BRASIL, 1997a, p. 14). Com esse intuito, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), com o objetivo de se tornarem referenciais de qualidade para a educação no Ensino Fundamental do Brasil, com função de Habilidades Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões: • Quais são os objetivos do ensino de Língua Portuguesa segundo o PCN? • Quais as características da habilidade de “escutar”? • Quais as características da habilidade de “falar”? LEITURAOBRIGATÓRIA 23 LEITURAOBRIGATÓRIA orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual (BRASIL, 1997a, p.13). O PCN de Língua Portuguesa, por sua vez, aponta alguns objetivos básicos sobre o ensino da língua. Ao longo dos oito anos do ensino fundamental, espera-se que os alunos adquiram progressivamente uma competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado. (BRASIL, 1997b, p. 33) E para que esses objetivos gerais sejam alcançados, o PCN orienta que o ensino de Língua Portuguesa seja organizado de forma que a propiciar aos alunos: • Expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos (...). • Utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade linguística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam. • Conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado. • Compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz; (...). • valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, ideias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário; (...) • conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. (BRASIL, 1997b, p. 33). Tendo em vista tais objetivos e orientações, você estudará sobre as habilidades de ouvir e falar e como elas podem contribuir para a realização dos objetivos apontados pelo PCN. 24 Produção e compreensão oral Como visto nas orientações do PCN e nos temas anteriores, a função da escola é a de ensinar e cobrar o aprendizado da língua padrão e, neste caso, o estudo será iniciado pela habilidade de ouvir. A escuta Muitos estudos buscam demonstrar como funciona o sistema auditivo quando utilizado para compreender e processar sons resultantes de uma linguagem. Segundo Lent (2001 apud GOMES, 2011, p. 104), o cérebro humano: realiza uma identificação fonológica (reconhece os sons linguísticos); identifica o léxico (ou seja, as palavras ditas); identifica a sintaxe (a estrutura e ordem utilizada na enunciação) e, por fim; identifica a semântica (dando significação ao que ouviu). Aliás, alguns autores fazem distinção entre “ouvir”, e “escutar”, em que ouvir seria estar consciente do que se está ouvindo, dar atenção ao que se ouve. Isso porque, no processo de compreensão auditiva, escutar seria prestar atenção e buscar interpretar o que está ouvindo, desenvolvendo mais adequadamente a habilidade auditiva da língua. Contudo, independente da terminologia utilizada, é importante notar que, além da parte anatômica do ouvir, há fatores psicológicos e sociais que interferem significativamente na comunicação oral, tais como: a rapidez do pensamento, a audição ser seletiva, os prejulgamentos e a influência do ambiente, apontados por Gomes (2011, p. 106). Por isso, segundo a autora, é preciso aprender a escutar, manter o foco na conversa, ter empatia para escutar quem está falando, buscar compreender, respeitar o turno de fala, evitar interrupções e desenvolver o sentimento de respeito pelas opiniões alheias. Ao praticar a atenção e o respeito ao interlocutor, cria-se um ambiente propício para o diálogo, para a negociação de sentido e para um bom resultado comunicativo (GOMES, 2011, p. 106). A fala Além dos processos de aquisição e variação, já discutidos nos temas anteriores, existe também a atividade cerebral responsável pela fala. Gomes (2011, p. 107) aponta que “o homem utiliza a fala para exprimir o seu pensamento, e os mecanismos cerebrais necessários passam por uma primeira fase de planejamento e depois por uma fase de formulação”. LEITURAOBRIGATÓRIA 25 Quer saber mais sobre o assunto? Então: Sites Acesse os planos de aula da Revista Nova Escola preparados especificamente para trabalhar a produção oral dos alunos. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/planos-de-aula/efi/lp_lingua-oral_escuta- e-producao-oral.shtml>. Acesso em: 9 dez. 2013. LINKSIMPORTANTES Segundo o modelo de Levelt (1998 apud GOMES, 2011, p. 107), a construção de qualquer sentença enunciada segue: 1. Conceitualização: planejamento do conteúdo da mensagem e busca por léxico. 2. Formulação: estruturação das sentenças, segundo as regras da língua, e busca por informações fonológicas.3. Articulação: acionamento do aparelho fonador para pronunciar a sentença. Essa explicação, no entanto, atende somente o aspecto físico da fala e desconsidera questões de personalidade, emoções, culturais e fatores da prosódia. Algumas dessas são apontadas por Gomes (2011, p. 109): ritmo de fala; altura, tom de voz e entonação vocal; segurança; adequação ao interlocutor e ao contexto e; linguagem corporal. Com tais apontamentos, é possível concluir que falar corretamente não diz repeito somente ao conhecimento das regras da norma padrão. Escutar e falar, tornando-se um sujeito ativo e inserido nas práticas sociais, tal qual apresentado nos objetivos do PCN, exige do falante reconhecer as inúmeras variáveis presentes no momento da enunciação e saber como modelar seu discurso e se adequar ao contexto em que está presente. LEITURAOBRIGATÓRIA 26 Leia o artigo “A linguagem oral no ensino de Língua Portuguesa”, de Rozana A.L. Messias, publicado nos anais do V Congresso de Ciências Humanas, Letras e artes, 2001, Ouro Preto - MG. A autora traz diversas contribuições para a reflexão da linguagem oral e o ensino, com base no PCN. Disponível em: <http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/EDU/edu1006.htm>. Acesso em: 9 dez. 2013. Consulte a tese de doutora de Rozana A.L. Messias, denominada “Gêneros orais e ensino: Trajetórias da construção do conhecimento pessoal prático na paisagem escolar”. Em sua tese, é possível conhecer diversas reflexões e encontrar inúmeros referenciais úteis para a prática docente. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/Educacao/ Dissertacoes/messias_ral_dr_mar.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2013. Vídeos Língua, Modalidade oral e escrita. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=4dh5wWJHhBQ>. Acesso em: 9 dez. 2013. A equipe da Univesp TV acompanhou as aulas em duas classes de primeiro ano e conversou com linguísticas e professores de alfabetização e este programa trata da relação entre a linguagem oral e a escrita durante a alfabetização. LINKSIMPORTANTES 27 Instruções: Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão. Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas ao tema. Questão 1: Busque lembrar quais foram, durante seu período de escolarização, as estratégias utili- zadas por seus professores para aprender a utilizar a linguagem oral. Você teve esse tipo de aprendizado? Se teve, como você perce- be as estratégias utilizadas? Você concorda com elas ou mudaria algumas delas? Questão 2: Os parâmetros curriculares nacionais apontam que: a) Os alunos devem aprender, fundamentalmente, as regras gramaticais da Língua Portuguesa. b) Os alunos devem adquirir uma competência em linguagem que lhes permita passar nos vestibulares e concursos públicos. c) Os alunos devem adquirir uma competência em linguagem que lhes permita acesso aos bens culturais e participar do mundo letrado. d) Os alunos devem aprender, fundamentalmente, o uso comunicacional da língua, sem se ater às regras da Língua Portuguesa. AGORAÉASUAVEZ 28 Questão 3: Segundo o PCN de Língua Portuguesa, os professores devem propiciar aos aluno as seguintes situações, exceto: a) Utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade linguística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam. b) Manter o uso da linguagem aprendida em instâncias privadas e utilizá-la sem alterações em instâncias públicas. c) Conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado. d) Compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz; (...). e) Conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. Questão 4: Segundo Gomes (2011), há fatores que interferem significativamente na escuta de uma comunicação oral. Alguns exemplos são: ( ) a aparência sonora da fala. ( ) a rapidez do pensamento. ( ) a faixa etária do enunciador. ( ) a audição ser seletiva. ( ) os prejulgamentos e a influência do am- biente. A sequência correta de frases verdadeiras ou falsas é: a) V, V, F, V, V. b) F, F, V, V, V. c) V, F, V, F, V. d) F, V, F, V, F. e) F, V, F, V, V. Questão 5: Gomes (2011) diz que, além do aspecto fí- sico da fala, as questões de personalidade, emocionais e culturais devem ser conside- radas, tais como: a) Ritmo de fala; altura, tom de voz e entonação vocal; segurança; adequação ao interlocutor e ao contexto e; linguagem corporal. b) Ritmo de fala; altura, tom de voz e entonação vocal; segurança; correção do sotaque utilizado e; linguagem corporal. AGORAÉASUAVEZ 29 c) Ritmo de fala; altura, tom de voz e entonação vocal; segurança; uso permanente da norma padrão e; linguagem corporal. d) Ritmo de fala; altura, tom de voz e entonação vocal; segurança; atenção irrestrita a forma de articular as palavras e; linguagem corporal. Questão 6: Pesquise por planos de aula prontos que trabalhem com produção oral na formação de alunos do ensino fundamental. De que forma esses planos dialogam com as dire- trizes do PCN de Língua Portuguesa? Se você pudesse propor alterações nesse pla- no, o que proporia? Questão 7: Pense em três situações cuja audição sele- tiva, ou seja, a prática de ouvir o que é mais relevante para cada um, tenha prejudicado a compreensão do diálogo. Reflita sobre os principais motivos que levam o ouvinte a se “desligar” do que não é interessante na co- municação e como ele pode evitar que isso aconteça em momentos errados. Questão 8: Na prática da escuta, um dos fatores que atrapalha a compreensão da comunicação oral é o prejulgamento, ou seja, a interpre- tação do que se ouve de acordo com a vi- são de mundo que se possui. Que tipo de atividade você poderia criar para estimular seus alunos a escutarem com maior tole- rância e evitar prejulgamentos? Questão 9: Faça uma pesquisa sobre técnicas de falar em grupo. Elenque ao menos cinco técni- cas que dizem respeito, especificamente, às características da fala que podem afetar a eficácia da comunicação. Questão 10: Elabore uma atividade que poderia ser apli- cada a alunos do ensino fundamental cujo objetivo seja adequar sua fala a diferentes contextos e interlocutores. AGORAÉASUAVEZ 30 Neste tema, você viu as recomendações do PCN para o ensino de Língua Portuguesa, bem como as características das habilidades de ouvir e falar presentes na modalidade oral da Língua Portuguesa. Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de acessar sua ATPS e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons estudos! BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: in- trodução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997a. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ livro01.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2013. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997b. Disponí- vel em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf>. Acesso em: Acesso em: 9 dez. 2013. GOMES, M. L. C. Metodologia do ensino deLíngua Portuguesa. Curitiba: Ibpex, 2011. REFERÊNCIAS FINALIZANDO 31 LDB: A Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) é a lei orgânica e geral da educação brasileira que dita as diretrizes e as bases da organização do sistema educacional. PCN: Os Parâmetros Curriculares Nacionais são os referenciais para os Ensinos Fundamental e Médio de todo o país. Aparelho fonador: o conjunto de órgãos responsáveis pela fonação humana (Pulmões, Traqueia, Laringe – cordas vocais e glote –, Lábios, Dentes, Alvéolos, Palato duro, Palato mole – véu palatino e úvula –, Parede rinofaríngea, Ápice da língua, Raiz da língua). Terminologia: conjunto de termos específicos ou sistema de palavras numa disciplina particular, que tem por objeto a identificação e delimitação de conceitos próprios de uma arte, ciência, profissão. Prosódia: parte da gramática tradicional que se dedica às características da emissão dos sons da fala ou conjunto de características que acompanham os sons, como a acentuação tônica, a duração ou os tons. GLOSSÁRIO 32 Questão 1 Resposta: Essa é uma questão de reflexão pessoal e não há respostas corretas. Espera-se somente que o aluno faça questionamentos acerca de qual foi o paradigma que conduziu seus professores durante sua escolarização e como ele percebe esses paradigmas hoje. Questão 2 Resposta: Alternativa C. É diretriz dos parâmetros curriculares nacionais que os alunos devam adquirir uma competência em linguagem que lhes permita acesso aos bens culturais e participar do mundo letrado. Questão 3 Resposta: Alternativa B. Segundo PCN de língua portuguesa, o propósito da linguagem aprendida na norma culta é o de utilizá-la em instâncias públicas. Questão 4 Resposta: Alternativa E. A rapidez do pensamento, a audição ser seletiva e os prejulgamentos e a influência do ambiente podem interferir significativamente na escuta de uma comunicação oral. Questão 5 Resposta: Alternativa A. Questões de personalidade, emocionais e culturais devem ser consideradas, tais como ritmo de fala; altura, tom de voz e entonação vocal; segurança; adequação ao interlocutor e ao contexto e; linguagem corporal. Questão 6 Resposta: Espera-se nessa proposta de pesquisa, que o aluno reflita sobre a prática docente realizada por outros profissionais, sua adequação aos Parâmetros Curriculares Nacionais e, o que já aprendeu até o momento sobre a língua portuguesa e o ensino de produção oral. GABARITO 33 Questão 7 Resposta: Espera-se uma reflexão do aluno acerca da valorização do que ouvinte dá a determinados assuntos e em comunicações cujo contexto permita dispersão. Além disso, espera-se a sugestão de práticas e estratégias para se manter o foco e a atenção no interlocutor como solução em situações cuja comunicação não seja tolerante a tal seleção. Questão 8 Resposta: Espera-se uma proposta do aluno, com base em reflexões e pesquisa, de como trabalhar a questão do prejulgamento linguístico em comunicações orais. Questão 9 Resposta: Espera-se que o aluno encontre sugestões para ajustar adequadamente o ritmo de fala; a altura, o tom de voz e sua entonação vocal; a segurança; a adequação ao interlocutor e ao contexto e; a linguagem corporal durante sua apresentação. Questão 10 Resposta: Espera-se nessa atividade que o aluno proponha uma atividade na qual ele determine um tema a ser abordado e o apresente tendo por interlocutores pessoais de diferentes variedades linguísticas ou com diferentes graus de formalidade. GABARITO
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