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0 FACULDADE LATINO AMERICANA DE EDUCAÇÃO - FLATED CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA JAQUELINE FARIAS DE FREITAS OS DESAFIOS DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL BOA VIAGEM/CE 2017 1 JAQUELINE FARIAS DE FREITAS OS DESAFIOS DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Latino Americana de Educação - FLATED, como requisito para a conclusão do curso de Licenciatura em Pedagogia. Orientador (a): Sandoval Vieira Junior BOA VIAGEM/CE 2017 2 OS DESAFIOS DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL TCC apresentado Faculdade Latino Americana de Educação - FLATED, como requisito para a conclusão do curso de Licenciatura em Pedagogia. ______________________________________ Jaqueline Farias de Freitas Aprovado em _____/____/______. Orientador (a): _________________________________________ Profº. Sandoval Vieira Junior _____________________________________ Coordenador (a) 3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo e paciência para cumprir esta importante etapa. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço ao grande mestre e criador pelo dom da vida; A meus pais, Lúcia e Antonio, pela educação e os princípios; Aos meus irmãos pelo apoio e incentivo; Aos meus professores pela atenção a mim dispensada e pelo aprendizado que levarei por toda a minha vida. 5 “A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui” Jean Jacques Rousseau 6 RESUMO O presente estudo aborda sobre a importância da Interação entre Escola e Família no Processo Pedagógico para uma educação de qualidade, sobre as atuações dos profissionais em educação e o que eles tem feito para que ocorra essa interação e sobre sugestões para que ambas as partes, tanto a escola quanto a família, alcancem um objetivo em comum, de proporcionar as crianças uma educação de qualidade. Os distúrbios de aprendizagem: Abrangem qualquer dificuldade visível pelo aluno para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas, da mesma idade seja qual for o determinante desse atraso. Certamente, a população assim definida é de uma grande diversidade, não sendo simples encontrar critério que a delimite maior precisão. As famílias e as escolas estão passando por profundas transformações e ambas precisam acompanhar tais mudanças de forma conjunta, facilitando o processo de aprendizagem das crianças e ajudando uns aos outros na busca de um objetivo comum, o de educar as crianças. Família e escola devem levar em consideração as influências externas que, sem acompanhamento das duas instituições podem favorecer ou não o desenvolvimento das crianças, influenciando positivamente ou negativamente, na formação do educando. Devem ser parceiros como contribuição na melhoria da qualidade de ensino, podendo assim propor atuações para que ambas possam apoiar uma à outra na educação das crianças. Palavras-chave: Escola; Familia; Parceria; Aprendizagem e Formação. 7 ABSTRACT The present study it approaches on the importance of the Interaction between School and Family in the Pedagogical Process for an education of quality, on the performances of the professionals in education and what they have made so that occurs this interaction and on suggestions so that both the parts, as much the school how much the family, reach an objective in common, to provide to the children an education of quality. The learning riots: They enclose any visible difficulty for the pupil to follow the rhythm of learning of its colleagues, the same age whichever the determinative one of this delay. Certainly, the thus defined population is of a great diversity, not being simple to find criterion that delimits it greater precision. The families and the schools are passing for deep transformations and both need to follow such changes of joint form, facilitating the process of learning of the children and helping ones to the others in the search of a common objective, to educate the children. Family and school must take in consideration the external influences that, without accompaniment of the two institutions can favor or it development of the children, not influencing positively or negative, in the formation of educating. They must be partners as contribution in the improvement of the quality of education, thus being able to consider performances so that both can support one to the other in the education of the children. Word-key: School; Family; Partnership; Learning and Formation. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 1. CONCEITO DE APRENDIZAGEM ............................................................................... 11 1.1 Dificuldades ou Transtornos de Aprendizagem ......................................................... 15 1. 2. Aprendizagem e o Desenvolvimento da Criança da Primeira Infância ................. 18 1.3. Dislexia – um transtorno de aprendizagem ............................................................... 19 2. PERSPECTIVA DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DA HISTÓRIA..... 21 2.1 – O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS. ................................................. 21 3. FAMÍLIA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM .......................................... 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 32 9 INTRODUÇÃO No dia-a-dia em sala de aula somos desafiados a todo instante. E é esse desafio que torna as coisas possíveis. Buscar aquilo que não sabemos para construirmos junto com as crianças as aprendizagens que nos faz refletir sobre a nossa profissão. O educador deve se preparar para suprir as faltas seja elas cognitivas, afetivas, sociais ou psicomotoras. O aluno chega à escola desejoso de aprender,, de saber mais do que aquilo que sabe, ele tem fome de aprender, de saber, de falar, de ouvir. Cabe ao educador manter esse desejo aceso. É no desejo expresso no ato de ensinar que o educador envolve o aluno em sua paixão por aprender. “Ensinar e aprender são movidos pelo desejo e pela paixão”. (FREIRE, 1992, p.11). Dentro de uma perspectiva interacionista o mais importante para a aquisição de uma nova aprendizagem é sempre partir daquilo que o aluno já sabe. Este é o ponto de apoio, a base, a bagagem que o aluno carrega e traz de suas vivências. Ao basear-se naquilo que sabe, a criança faz as pontes entre o saber e aquilo que está aprendendo.Este é o caminho que indica a epistemologia do conhecimento desenvolvida por Piaget e por seus seguidores e a visão de desenvolvimento e aprendizagem que Vygotsky propõe e que será apresentada no decorrer deste estudo. Conceitos e teorias de aprendizagem serão apresentados no primeiro capítulo da pesquisa. Dentro desta perspectiva, todo ser é potencialmente igual e passível de aprender, independente da classe social a que pertence e de suas especificidades – sexo, cor, idade. Se isso não acontece precisamos verificar o que está acontecendo. As razões para a não aprendizagem são as mais variadas e vai desde o desconhecimento do educador até a uma causa mais específica conhecida por dislexia, levando às repetências múltiplas e conseqüentemente ao fracasso e evasão escolar. As dificuldades ou distúrbios de aprendizagem e Identificar os pré-requisitos necessários à aquisição da leitura são o foco do segundo capítulo. Todas as tarefas de nossa vida cotidiana envolvem leitura e escrita. O domínio dessas habilidades implica na liberdade contra todas as formas de manipulação e opressão. Quem lê não é nem dependente, nem marginalizado. Pode se locomover fazendo uso de transportes ou para procurar uma rua, fazer compras, cozer alimentos, utilizar um carro, ler um livro, utilizar o microcomputador, enfim, se inserir verdadeiramente no mundo. É, portanto, uma ferramenta indispensável à vida em 10 sociedade. Mas, apesar de toda essa importância que a leitura apresenta às nossas vidas, as estatísticas são muito duras em relação a esse assunto. O ensino da leitura e da escrita é alvo de diversas pesquisas e publicações denotando uma constante preocupação dos educadores e pesquisadores com o ensino destas habilidades. No Brasil, porém, não existem instrumentos de avaliação de nível de leitura aos qual o educador possa recorrer, nem estudos amplos que descrevam quanto tempo é necessário para que as crianças possam progredir nessa área. Busca-se com este estudo encontrar estratégias que auxiliem o professor a ajudar seus alunos na conquista da leitura. No quarto capítulo discutiremos algumas estratégias utilizadas por pesquisadores e educadores que poderão auxiliar a prática pedagógica. 11 1. CONCEITO DE APRENDIZAGEM No Novo Dicionário Aurélio aprender significa: (...) 1. Tomar conhecimento de. (...) 2. Reter na memória, mediante o estudo, a observação, experiência. (...) 3. Tornar-se apto ou capaz de alguma coisa, em conseqüência de estudo, observação, experiência, advertência, etc. (...) 4. Tomar conhecimento de algo, retê-lo na memória, em conseqüência de estudo, observação, experiência, advertência, etc.(...) (FERREIRA, 1975, p. 119). A aprendizagem pode ser definida como um processo constante e evolutivo que provoca modificações no comportamento, tanto físico, como biológico, dos indivíduos e também do ambiente no qual estão inseridos, provocando assim, novos comportamentos. Pode-se dizer que todo o trabalho do educador tem como foco a aprendizagem. Dewey afirma que “se o aluno não aprendeu o professor não ensinou; se o aluno não aprendeu, o esforço do professor foi uma tentativa de ensinar, mas não ensinou (...)” (FALCÃO, 1995, p.19). Vítor da Fonseca em seu livro Introdução às dificuldades de aprendizagem traz as contribuições da psiconeurologia relacionando o cérebro e o comportamento e o cérebro e a aprendizagem, afirmando ser este órgão o responsável por toda aprendizagem humana. Diz ainda, que para se compreender as relações dinâmicas e complexas da aprendizagem, é necessário conhecer a estrutura e o funcionamento do cérebro. Conforme Fonseca: (...) a aprendizagem é um produto da experiência que se concretiza numa mudança adquirida de comportamentos, onde estão em jogo condições internas e condições externas, inerentes ao indivíduo e ao seu envolvimento, não podemos esquecer que o comportamento é movido por interações entre dois determinantes fundamentais: o psicosociológico e o neurobiológico. (FONSECA,1995,p.148). Quanto mais aprendermos sobre as relações cérebro-comportamento e cérebro- aprendizagem, melhor será a nossa compreensão sobre como a criança aprende, o seu potencial cognitivo a explorar e sobre as intervenções necessárias à criança com dificuldade de aprendizagem. Saber como o cérebro funciona é a explicação científica para o processo de aprendizagem. Para aprender, nosso corpo e nosso cérebro devem estar aptos. A cada estímulo o cérebro muda sua anatomia. 12 A cada nova informação recebida, sinapses são criadas e configuram-se novas redes entre os neurônios, que guardam essas informações na superfície do cérebro como a memória de longo prazo. Esses circuitos são ativados sempre que uma das informações seja necessária a um novo aprendizado. A memória também é ativada durante o sono e o sonho, quando as memórias adquiridas transitam por todo cérebro sem interferência dos sentidos. Aprendizagem é um fenômeno que acontece no dia-a-dia, desde o início de nossas vidas (ou quem sabe até antes). Não é hereditária. É um processo pessoal, porque dependem do envolvimento, esforço e capacidade de cada um; é gradual, porque se aprende um pouco de cada vez e de acordo com seu ritmo próprio. A aprendizagem é um processo contínuo, que ocorre ao longo da vida, pois estamos sempre aprendendo, sempre adquirindo novos conhecimentos. A aprendizagem garante a continuidade da espécie humana, permitindo a transmissão da cultura entre as civilizações, a inserção social e transforma, criando o homem que deseja. Assim, o sujeito que não aprende, não cumpre as funções sociais da educação e está condenado ao fracasso. Pode-se, então, definir aprendizagem como uma modificação relativamente duradoura do comportamento, que ocorre gradualmente, através de treino, observação e experiência, de acordo com o ritmo e envolvimento de cada pessoa ao longo de nossas vidas. Para exemplificar poderíamos dizer que uma criança que ingressa no ensino fundamental e ao longo de um ano começa a ler, apresenta uma modificação, saiu da condição de não saber para a de saber, portanto aprendeu – ocorreu aprendizagem. Vygotsky defende que desenvolvimento e aprendizagem não acontecem de forma isolada, um depende do outro, porém há uma distinção entre aprendizagem e desenvolvimento interno, pois quando desenvolvimento atinge o nível real, o aprendizado atinge o potencial, estando este sempre à frente daquele. Com isso indica dois níveis de desenvolvimento: o desenvolvimento real, que corresponde a tudo que a criança realiza e pode fazer sozinha e o desenvolvimento potencial que está além do desenvolvimento real, isto é a criança pode aprender conforme seu processo de maturação e diante da interação com mediadores, parceiros mais experientes. As interações são internalizadas ou reconstruídas tornando a criança apta a realizar a atividade sozinha. Os educadores devem atuar na zona de desenvolvimento proximal, que é a distância entre a zona de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento potencial. O educador deve avaliar sempre o que o aluno traz em sua “bagagem” e o ensino deve ser útil e criativo. De acordo com Vygotsky: 13 Aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamentehumanas. (VYGOTSKY,1989 apud LOMÔNACO, 1997, p.22) Assim, Vygotsky dá um destaque importante ao contexto histórico e cultural na aprendizagem, diferenciando-se, nesse ponto, de Piaget. Piaget não se deteve em explicar a aprendizagem, mas seus estudos basearam-se em saber como o sujeito aprende - como o sujeito constrói seu conhecimento. Tenta assim, explicar o conhecimento como um processo de interação entre o que acontece fora do indivíduo com o que lhe acontece internamente. Os resultados das investigações de Piaget são encontrados principalmente em dois livros: A linguagem e o pensamento da criança e A formação do símbolo na criança. Imitação, Jogo e sonho, imagem e a representação. Segue-se abaixo uma síntese de suas investigações. Piaget vê o aluno como sujeito ativo de seu conhecimento – cada novo conhecimento se incorpora ao anterior. Diante da interação com o objeto do conhecimento, através de repetições, ocorre a assimilação do mesmo, alterando seus esquemas mentais e acomodando suas estruturas, originando assim um novo esquema. A evolução cognitiva se dá por meio da equilibração e desequilibração, indicando a mudança de estádio. A memória passa a ocupar um lugar importante no processo de aprendizagem, pois é através dela que o sujeito adquire novas aprendizagens fazendo antecipações e conservando o conhecimento adquirido. Segunda idéia-chave: “não é possível ensinar sem aprender”. (FREIRE, 1998b). O educador deve conhecer a realidade do grupo que vai trabalhar. Freire afirma que o educador deve se deixar educar. A aprendizagem só ocorrerá com o envolvimento de ambos, educador e educando, e pela postura que o primeiro adota em relação à realidade que o segundo lhe apresenta. Para ele não se educa transferindo conhecimento, mas sim criando possibilidades para a sua produção ou sua construção. O aluno não é um depósito onde se remete informação. Freire cita que ensinar exige reflexão crítica sobre a prática, onde se implica um pensar certo, que envolve movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer. “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. (FREIRE, 1998b). Freire fez duras críticas à escola e ao ensino brasileiro dizendo serem estes uma vergonha, uma calamidade, já que a maioria das crianças da camada social mais baixa 14 acabavam reprovando, fracassando em seus estudos e interiorizando esse fracasso como se fossem os únicos culpados pela sua incapacidade de aprender. Paulo Freire vê a aprendizagem – o ato educativo – como a experiência na qual as pessoas modificam suas vidas, enxergam as coisas de forma diferente, enriquecem a maneira de encarar a si mesmas, os outros e a realidade circundante. Embora nem Piaget, nem Vygotsky tenham pretendido elaborar uma pedagogia propriamente dita, suas contribuições provocaram mudanças significativas na prática pedagógica, e em especial na alfabetização. Resumindo, nenhuma teoria é suficientemente ampla para dar conta de toda a complexidade dos processos que envolvem a aprendizagem. Devemos estar atentos a nossa prática, essa sim pode fazer a diferença. O ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para o aprendizado. Aprender a falar e a andar são consideradas aprendizagens natas, mas a maioria das aprendizagens acontecem no meio social em que o indivíduo convive. A experiência é construída por fatores emocionais e neurológicos, além dos relacionais e ambientais. O educador nos dias de hoje, de acordo com essa nova ênfase dada à educação, passa de detentor do saber a co-autor do processo de aprendizagem de seus alunos, onde o conhecimento é construído e reconstruído continuamente. Ao ser construída a aprendizagem, o indivíduo vai re-significando, encontrando novas formas de comunicação e desenvolvendo novas habilidades, tornando-se competente e apresentando atitudes significativas e coerentes. Neste novo ambiente de aprendizagem há participação, mediação e interatividade com certa facilitação do caminho a ser seguido. Para que complicar se podemos simplificar? A educação interativa proporciona tempos e espaços novos com abertura para diálogos e problematizações. O educador media, intervindo para promover mudanças e colaborando nas construções de seus alunos. Nessa relação se estabelece a troca, a co-responsabilidade, a confiança e a auto-avaliação constante do processo. Saber pensar é hoje uma estratégia decisiva na busca de um cidadão crítico com coragem de transformar, determinado e senhor de suas palavras. Se dentro da perspectiva construtivista a aprendizagem é construção, ação e tomada de consciência da coordenação das ações, o aluno construirá seu conhecimento partindo de sua história individual, estruturada ou com base em condições prévias de todo o aprender, e, ainda, partindo de todo conteúdo exposto necessário para o seu aprendizado. 15 Com relação ao aprendizado específico da leitura têm-se como princípios o domínio da linguagem e a capacidade de simbolização, devendo haver condições internas e externas necessárias ao seu aprendizado. As habilidades de reconhecer ou identificar palavras são as atividades que atribuem significado ao símbolo escrito indicando como se aprende a ler e as atividades que envolvem compreensão levam a alcançar a interpretação, ou seja, o que estas palavras querem dizer – são atividades que permitem ler para aprender. Dessa forma não podemos separar a aprendizagem da não aprendizagem que é o problema desta pesquisa. 1.1 Dificuldades ou Transtornos de Aprendizagem Segundo dados da OMS – Organização Mundial de Saúde (ZORZI, 2006), entre 10% e 15% do total de crianças com problemas de aprendizagem apresentam distúrbios orgânicos – deficiência mental, auditiva, motora, visual, múltipla, ou ainda, dislexia. Mas o índice de fracasso escolar é de 40% ou mais, sendo que ainda há estudantes que passam de ano sem ter aprendido, ou chegam nas séries mais adiantadas soletrando e sem compreender os enunciados dos exercícios. A aprendizagem e a construção do conhecimento que fazem parte das atividades escolares deveriam acontecer de forma natural e espontânea e até de certa forma prazerosa, porém, muitas vezes isso não acontece. O professor deve estar atento para identificar a causa da não aprendizagem e pedir ajuda quando esta se fizer necessária. Como diz Nádia Bossa: “A identificação das causas dos problemas de aprendizagem escolar requer uma intervenção especializada”. (BOSSA, 2000). De acordo com Bossa ao tratar de problemas de aprendizagem devemos sempre considerar as dificuldades da criança na escola e as dificuldades da escola com as crianças. Quando consideramos a criança devemos verificar suas condições físicas, psíquicas, ou seja, sua possibilidade de aprender, se dispõe de recursos cognitivos apropriados para a fase em que se encontra. Outra condição importante para que ocorra a aprendizagem é o desejo de aprender – a motivação permeada pelo afeto. As relações que a criança estabelece com o objeto de estudo é que a impulsionam para a construção do conhecimento. A maior dificuldade dos educadores e 16 dos psicopedagogos está em encontrar os subsídios que indiquem que a criança apresenta dificuldade de aprendizagem. Como faltam parâmetros concretos para fazer a identificação, esta acaba ocorrendo quando o aluno já repetiu um ou mais anos e provavelmente já tenha automatizado os erros. Mesmo considerando as particularidades de cada caso, existem algumas generalizações: a maioria das crianças com dificuldades de aprendizagemapresentam impulsividade, são desajeitadas, desatentas, apresentam falhas na integração perceptiva, na memória, no pensamento e na linguagem. (GOLBERT & MOOJEN, 1996). Ao entrar na escola a criança se depara com conceitos e estruturas que até o momento não tinham lhe sido exigidos. Ao realizar as tarefas propostas podem surgir, por diversos motivos, a presença de alguma dificuldade que não implica necessariamente em um transtorno. Essas dificuldades podem ser: problemas anteriores à vida escolar; problemas na proposta pedagógica; capacitação do professor; problemas familiares ou déficits cognitivos, entre outros. Nenhum fator específico é a causa do problema, pode ter origens diversas ou ser uma combinação de vários fatores. Quando tudo estiver de acordo e a criança só não aprende na escola devemos realizar um diagnóstico institucional para verificar quais problemas estão comprometendo o êxito do aluno. Muitas vezes o professor não percebe que a sua maneira de ensinar não é a mais apropriada para o aluno aprender. O professor preso a métodos ou a proposta pedagógica da escola, sem condições de se atualizar ou mesmo resistente a mudanças não percebe que está no caminho errado e acaba por não rever a sua prática tornando-a incoerente e fazendo assim, sofrer o aluno. Se permitir diversificar as atividades para que sejam apresentadas contemplando assim, todos os sentidos, é uma excelente forma de descobrir qual a melhor maneira de ensinar e como o seu aluno aprende. Apresentar as atividades sempre da mesma maneira acaba por se tornar um problema de ensinagem. É fato comprovado que cada indivíduo aprende de uma maneira. Há quem aprenda pela via visual, há o aluno que só aprende ouvindo e há aquele que necessita tocar, cheirar e até mesmo provar para aprender. Se a aprendizagem não se processasse desta forma, como aprenderiam os deficientes visuais? É o professor que acaba por definir o que é mais fácil ou o que é mais difícil para ensinar naquele momento, definindo ainda, qual o caminho o aluno deve percorrer. 17 A fronteira que existe entre a dificuldade de aprendizagem e o transtorno é muito sutil, porém, dificuldades são momentâneas, os transtornos não. Desta forma é importante estabelecer uma diferenciação entre a dificuldade e o transtorno de aprendizagem. De acordo com o DSM-IV-TR, o transtorno ou distúrbio de aprendizagem é um conjunto de sinais ou sintomas que provocam uma série de perturbações no aprender da criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada. O transtorno corresponde a uma inabilidade específica em uma das áreas como a leitura, a escrita, a matemática em indivíduos considerados capazes intelectualmente, porém um transtorno está quase sempre associado a outro. Os transtornos de aprendizagem podem persistir até a idade adulta. Os manuais CID-10 e DSM-IV apresentam três tipos básicos de transtornos específicos: o Transtorno da Leitura, o Transtorno da Escrita e o Transtorno da Matemática. Transtorno da Leitura – Dislexia: é uma dificuldade específica em compreender as palavras escritas. Sob nenhuma hipótese está relacionado à idade mental, problemas de acuidade visual ou baixo nível de escolaridade. Transtorno da Escrita – Disgrafia e/ou Disortografia: é um transtorno de ortografia ou caligrafia, geralmente combinado à dificuldade em compor textos escritos por apresentar erros de gramática, pontuação, má organização dos parágrafos, múltiplos erros ortográficos ou fraca caligrafia. Transtorno da Matemática – Discalculia: a criança apresenta uma inabilidade em adquirir conceitos matemáticos e a utilizá-los na vida diária, geralmente está combinado com o Transtorno da Leitura e da Escrita. O DSM-IV classifica como critérios diagnósticos para o transtorno da leitura: → o rendimento na capacidade de ler: correção, velocidade ou compreensão consideravelmente inferior à média para a idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo; → quando a dificuldade de leitura apresentada interfere de modo significativo nas atividades cotidianas do indivíduo; → quando a leitura oral é distorcida apresentando substituições ou omissões; → quando a leitura silenciosa é lenta ou apresenta erros na compreensão do texto; 18 → quando sob presença de um déficit sensorial, as dificuldades de leitura excedem aquelas habitualmente a este associadas. O diagnóstico precoce do transtorno de aprendizagem é fundamental para a superação desta dificuldade. Desta forma se verifica a área mais comprometida e se encaminha para a abordagem terapêutica mais adequada. A maioria das crianças é encaminhada para intervenção psicopedagógica ou fonoaudiológica continuando com suas atividades normais na escola. Porém, existem alguns casos que o transtorno exige um programa educativo individual e intensivo. Quando existem problemas emocionais vinculados ao transtorno, a criança deve ser avaliada também pelo psicólogo. E se a capacidade de atenção e concentração forem limitadas a ponto de se fazer uso de medicação, faz-se necessário o acompanhamento de um psiquiatra ou neurologista. 1. 2. Aprendizagem e o Desenvolvimento da Criança da Primeira Infância A aprendizagem é a modificação do comportamento frente a uma situação, pois irá implicar num progresso de evolução. Os fatores fundamentais no processo da aprendizagem são o emocional, o intelectual, o psicomotor, o físico e o social. Para que a criança possa enfrentar a aprendizagem formal é necessário que tenha atingido a um nível de desenvolvimento adequado, pois aprender a ler e escrever envolve um complexo em que a idade cronológica por si só não constitui fator de sucesso. Crescimento é o desenvolvimento individual nos aspectos físicos, fisiológicos e anatômicos. Compreende o aumento de estatura, peso, comprimento de ossos e alterações na estrutura do sistema nervoso. Maturação é um conjunto de modificações e alterações do organismo e da personalidade ligadas á mielinização do sistema nervoso. A maturação conduz ao desdobramento potencial do organismo. A definição de maturação põe em relevo os processos orgânicos e mudanças estruturais ocorridas no interior do corpo individual e são relativamentes independentes das experiências ou influências externas do meio. Para haver equilíbrio na personalidade individual, o desenvolvimento deve ser global e harmonioso. Mas nem sempre isso acontece. 19 O crescimento e maturação podem não ser desenvolvidos ao mesmo tempo e no mesmo nível. Frente a esta situação, origina-se uma série de dificuldades que leva a criança enfrentarem os primeiros problemas escolares. A aprendizagem exige da criança intensa atividade escolar que envolve toda sua personalidade e exigem também certo nível de desenvolvimento na primeira infância. Um dos fatores mais importante neste processo de ensino – aprendizagem é o fator emocional, tal que engloba todos os outros fatores envolvidos no desenvolvimento da criança e dele dependem todo processo educativo. Assim, o professor como mediador entre o mundo da família e o mundo da escola tem a função de aproximar o ensino, através da escolha dos conteúdos e mais importante da forma de ensinar, a todos estes fatores fundamentais no processo da aprendizagem para que o emocional, o intelectual, o psicomotor, o físico e o social da criança. 1.3. Dislexia – um transtorno de aprendizagem Como foi dito anteriormente, a dislexia diz respeito a um transtorno caracterizado por uma dificuldade em reconhecer ou compreender as palavras escritas. É uma dificuldade duradoura da aprendizagemda leitura e aquisição do seu automatismo. Acontece em crianças inteligentes, escolarizadas e sem quaisquer perturbações sensoriais e psíquicas. O educador não deve confundir a dislexia com preguiça ou indisciplina. De acordo com o artigo: “A Dislexia” publicado no site http://www.10emtudo.com/, as causas da dislexia são neurobiológicas e genéticas. Os disléxicos processam as informações em uma área diferente de seu cérebro. Alguns sinais denunciam a existência de dislexia: dificuldade em assimilar o que o professor ensina; tendência a confundir as letras; dificuldade em rimar palavras; reconhecer letras e fonemas; dificuldade em ler palavras pequenas e simples; dificuldade em identificar fonemas; soletrar; ler em voz alta e memorizar palavras. De acordo com várias pesquisas, crianças com dislexia apresentam alterações auditivas e visuais referentes à orientação espacial, que podem desorganizar o desenvolvimento de representações fonológicas e ortográficas que são essenciais para o aprendizado da leitura. 20 A criança disléxica apresenta auto-estima baixa e falta de autoconfiança por se considerar menos inteligente que os demais colegas. O apoio da família, dos colegas e o entendimento dos profissionais que trabalham com esse aluno colaborarão de certa forma para elevar estes aspectos. Uma sugestão de intervenção seria a estimulação da conversão grafema-fonema e da consciência fonológica (capacidade do sujeito pensar e refletir conscientemente sobre a própria linguagem, identificar e discriminar sons) em pré-leitores, visto que muitos estudos demonstram sua eficiência no aprendizado da leitura. De acordo com pesquisa realizada por Morais (1997) a inclusão da consciência fonológica no processo de diagnóstico dos profissionais que trabalham com dificuldades de aprendizagem deveria ser primordial, no entanto já se passaram quase dez anos e muito pouco se ouve falar no assunto e o que é mais sério, os professores, na sua maioria desconhecem o assunto. Dizem que até trabalham com rima, mas sem fundamentação nenhuma para um melhor desenvolvimento das atividades propostas 21 2. PERSPECTIVA DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DA HISTÓRIA. 2.1 – O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS. Em 2006 foi aprovada a lei n° 11274 que prevê a inclusão de crianças de seis anos de idade no Ensino Fundamental. Essa modificação requer do professor uma articulação entre o que se trabalha na educação infantil etapa escolar da qual, possivelmente o aluno vem, e o que se trabalha no Ensino Fundamental, etapa na qual o aluno está ingressado. Ao ingressar na escola com 6 (seis) anos, o professor deve prevê uma mediação entre o processo de Educação Infantil e o Ensino Fundamental colaborando de forma significativa para o processo ensino-aprendizagem. Cada vez mais, o governo preocupado com o ensino de nove anos propõe e afirma um compromisso com seus participantes, propondo de modo urgente a construção de uma escola inclusiva, cidadã solidária, privilegiando o acesso de todas as crianças, adolescentes e jovens; assume o compromisso com a construção de políticas indutoras, capaz de transformar o meio social da estrutura da escola, buscando reorganizar o tempo e o espaço escolar, relacionando a forma adequada para ensinar, aprender, avaliar, organizar e desenvolver o currículo de acordo com o contexto escolar, trabalhando com o conhecimento respeitando as singularidades do desenvolvimento humano. Aqui, percebe-se que o ensino fundamental de nove anos busca colaborarem na construção de uma escola democrática e participativa em que o professor e aluno ocupam papel significativo no processo ensino-aprendizagem colaborando na elaboração de um ensino que valoriza o currículo á partir da realidade social e cultural de seus membros. O Ministro da Educação vem enviando efetivos esforços na ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração, considerando a universalização do acesso a essa etapa do ensino de oito anos de duração da escolarização obrigatória. Em 6 de fevereiro de 2006, a lei n° 11.274 institui o ensino fundamental de nove anos de duração com a inclusão das crianças de seis anos de idade. (BRASIL, 2007: p. 5) 22 Diante do fato que marca um novo tempo educacional na escola, o processo de aprovação do ensino fundamental de nove anos, permite a inclusão de um número maior de crianças, favorecendo seu acesso e sua inserção na escola, promovendo que todas as crianças com seis (alunos) sejam acolhidas na escola, especialmente àquelas pertencentes aos setores populacionais populares, uma vez que as crianças de seis anos de idade das classes média e alta já se encontram, majoritariamente incorporado ao processo de ensino estejam na educação infantil ou mesmo no ensino fundamental. De acordo com o IBGE de 2000: A importância do ensino fundamental de nove anos deve-se ao fato das recentes pesquisas que mostraram que 81,7 % das crianças de seis anos estão na escola, sendo que 38,9% freqüentam a educação infantil, 13,6% pertencem às classes de alfabetização e 29,6% estão no ensino fundamental. (IBGE, 2000). As políticas educacionais apontam que o ensino fundamental de nove anos permite um melhor resultado nos estudos que as crianças ingressam na instituição escolar antes dos sete anos de idade, favorecendo um melhor resultado do que aqueles que ingressam somente aos sete anos. É o próprio sistema educacional que demonstra que crianças com histórico de experiências na pré-escola obtiveram melhores médias de pro eficiência em leitura e interpretação, favorecendo uma melhor compreensão dos conteúdos ensinados na escola. Daí não pode compreender o ensino fundamental de nove anos como uma medida do governo meramente administrativo. É necessário lançarmos um olhar para o processo de desenvolvimento e aprendizagem, favorecendo a construção do conhecimento e respeito as suas características etárias, sociais, psicológicas e cognitivas. Desta forma, as políticas educacionais procuram fortalecer os saberes construídos na escola, favorecendo uma nova forma para gerir novas concepções na educação básica, proporcionando um ensino de nove anos no fundamental com focos no pleno desenvolvimento e na aprendizagem das crianças de seis anos de idade ingressando no Ensino Fundamental de nove anos, sem perder de vista a abrangência da infância de seis a dez anos nesta etapa da aprendizagem. 23 Reflete-se que o ensino fundamental de nove anos esta embasada em uma política educacional que exige uma postura política, administrativa e pedagógica, uma vez que os acréscimos do ensino fundamental são assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar com maiores oportunidades de aprendizagem. Vale destacar que o processo ensino-aprendizagem não depende apenas do aumento do tempo de permanência na escola, mas do adequado emprego do tempo pedagógico: contribuindo de forma significativa para que os alunos aprendam de forma mais prazerosa e significativa. No entanto, para legitimar a existência dessa política educacional, é necessário adotar posturas formativas em que as condições pedagógicas, administrativas e os próprios recursos financeiros sejam avaliados sua importância. Daí, a necessidade de a escola procurar adequar sua função social ás orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade, uma vez que a elaboração dessa política educacional requer meios de orientações pedagógicas que respeitam às crianças, como sujeitos de extrema importância no processo ensino-aprendizagem. Cada sistema de ensinoé livre para construir de forma autônoma com a comunidade escolar, seu plano de ampliação do ensino fundamental como também é responsável por desenvolver meios para favorecer o processo de democratização, nas buscas por um ensino de qualidade. Cada criança, agora passa a ter um maior tempo de estudo no ensino fundamental, compreendendo a educação básica. Embora haja um período de transição entre a educação infantil e o ensino fundamental, o sistema educacional escolar deve administrar uma ação curricular pedagógica capaz de assegurar o processo ensino-aprendizagem favorecendo assim, o progresso, com sucesso, nos estudos tanto as crianças de seis anos quanto às de sete anos de idade que estão ingressando no ensino fundamental de nove anos. Contudo, deve-se refletir que a ampliação do ensino fundamental demanda um olhar para o atendimento das necessidades de recursos humanos, assegurando-lhes, entre outras condições, uma ação pedagógica com vista na formação continua que possa inserir-se em um planejamento pedagógico adequado, construindo melhorias em seu fazer pedagógico. Devemos lançar olhares para o atendimento nos espaços educativos, bem como o material didático adotado no sistema educacional, os equipamentos precisam ser repensados para que 24 possam atender as necessidades de cada criança apresenta em sua especificidade para torná-lo o processo ensino-aprendizagem um sucesso. Nesta perspectiva que o ensino fundamental passa a ter nove anos de duração, os sistemas educacionais terão a oportunidade de construir seu currículo, bem como adotar os procedimentos para trabalhar os conteúdos de forma adequada, tornando-o significativo para o ensino fundamental. O ensino fundamental de nove anos é obrigatório e deve atender os objetivos legais e pedagógicos estabelecidos para a etapa de os alunos terem seis anos. E cursarem o 1° ano. No que se refere o ensino fundamental, as crianças de seis anos, assim como as de sete a dez anos de idade, precisam de uma proposta pedagógica adequada, com base em um currículo que atenda as necessidades de seus alunos, bem como reconheça suas deficiências, potencialidades, habilidades e dificuldades. Não é duas etapas da educação básica, o novo ensino de nove anos, mas trata-se de uma construção de ação pedagógica coerente com as necessidades de cada realidade escolar procurando atender os problemas existentes na sociedade. De acordo com Magda Soares: A ampliação do ensino fundamental para nove anos significa, também, uma possibilidade de qualificação do ensino e da aprendizagem da alfabetização e do letramento, pois a criança terá mais tempo para se apropriar dos conteúdos estudados. (SOARES, 2002: p.81) É necessária a construção de um ensino que privilegie um trabalho pedagógico que assegure o estudo das mais diversas expressões e de todas as áreas que privilegiam o conhecimento, necessários a formação autônoma e a construção do processo ensino- aprendizagem. A escola deve promover um dialogo criterioso, com base na formulação de uma proposta pedagógica autônoma que estabeleça conexões das necessidades no processo de aprendizagem, assegurando o pleno desenvolvimento das crianças em seus aspectos para aprender de forma significativa. Favorecendo os seus crescimentos intelectuais, afetivos buscando alcançar o processo ensino-aprendizagem, procurando ampliar as possibilidades em desenvolver o processo ensino-aprendizagem. 25 No entanto, há a convicção de que a tarefa docente de cada sujeito frente ao seu fazer pedagógico é uma das mais complexas. Sabemos que as reflexões e possibilidades aqui contidas acerca do ensino fundamental de nove anos não bastam, não abrangem a diversidade que a escola busca cumprir, procurando adequar as necessidades que cada realidade escolar apresenta, de modo que seja assegurado o direito de estudo de nove anos a todas as crianças que cursam o ensino fundamental. É mais que um direito ou mesmo um dever, é obrigado que todas as crianças com seis anos sejam bem amparadas na escola, assegurando sua permanência na escola. 26 3. FAMÍLIA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Conforme consta em Polity (1998, p.73), o termo Dificuldade de Aprendizagem é definido pelo Instituto Nacional de Saúde Mental (EUA) da seguinte forma: Dificuldade de Aprendizagem é uma desordem que afeta as habilidades pessoais do sujeito em interpretar o que é visto, ouvido ou relacionar essas informações vindas de diferentes partes do cérebro. Essas limitações podem aparecer de diferentes formas: dificuldades específicas no falar, no escrever, coordenação motora, autocontrole, ou atenção. Essas dificuldades abrangem os trabalhos escolares e podem impedir o aprendizado da leitura, da escrita ou da matemática. Essas manifestações podem ocorrer durante toda a vida do sujeito, afetando várias facetas: trabalhos escolares, rotina diária, vida familiar, amizades e diversões. Em algumas pessoas as manifestações dessas desordens são aparentes. Em outras, aparece apenas um aspecto isolado do problema, causando impacto em outras áreas da vida, (POLITY, 1998, p.73). Segundo a autora, esse termo é definido de várias maneiras, por diferentes autores, diferindo-se quanto à origem: orgânica, intelectual/cognitiva e emocional (incluindo-se aí a familiar). O que se observa na maioria dos casos é um entrelaçamento desses aspectos. Para a compreensão das possíveis alterações no processo de aprendizagem é necessário considerar-se tanto as condições internas do organismo (aspecto anátomo- funcional e cognitivo), quanto as condições externas (estímulos recebidos do meio-ambiente) ao indivíduo. Fatores como linguagem, inteligência, dinâmica familiar, afetividade, motivação e escolaridade, devem desenvolver-se de forma integrada para que o processo se efetive (ROGERS, 1988). Considerando a importância da família como o primeiro núcleo social onde a criança começa a construir suas aprendizagens, procuramos compreender as relações familiares e suas interferências nos processos de aprendizagem da criança, ou seja, pesquisamos sobre qual a influência das diferentes modalidades de ensino das famílias na formação e manutenção dos problemas de aprendizagem das crianças. A família tem um papel central no desenvolvimento das crianças, porque será no contexto familiar que se realizarão as aprendizagens básicas. Existem crescentes comprovações na Psiquiatria e áreas afins de que a qualidade dos cuidados familiares que uma 27 criança recebe em seus primeiros anos de vida é de importância vital para sua saúde mental futura. Segundo Bowlby, as experiências emocionais em estágios precoces da vida mental podem produzir efeitos vitais e duradouros. Estudos diretos feitos pelo autor deixam claro que, quando uma criança é privada dos cuidados maternos - ou quem desempenha essa função -, o seu desenvolvimento é quase sempre comprometido física, intelectual e socialmente. Sabe-se que as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, geralmente, possuem uma baixa auto-estima em função de seus fracassos e que esses sentimentos podem estar vinculados aos comportamentos de desinteresse por determinadas atividades, tempo de atenção diminuído, falta de concentração e outros. Vários comportamentos manifestados pelas mães também levam a questionar a respeito da influência familiar sobre a aprendizagem. Segundo Marturano (1999), há mães que demonstram excessiva ansiedade quanto a superação da dificuldade da criança; outras que se mostram impacientes quanto ao desempenho insatisfatórioque o filho apresenta; mães que atribuem todo o problema à criança e a caracterizam como “preguiçosa”, “lerda”, “distraída”; mães que negam a dificuldade que a criança demonstra; mães que não acompanham as atividades de seu filho e mães que punem a criança pela seu fracasso nas atividades escolares. Isso acontece pelo fato de os pais desconhecerem como ocorre a aprendizagem e, portanto, necessitam de orientações específicas a esse respeito. Sabe-se, também, que, muitas vezes, os conflitos familiares estão associados a essas manifestações e que as relações familiares são relevantes no desenvolvimento da criança, havendo, portanto, a necessidade de maior compreensão desse processo, por parte dos profissionais, para que possam intervir de forma mais abrangente diante da problemática. Alguns pais confiam seus filhos com dificuldade de aprendizagem aos professores acreditando que o mau desempenho da criança seja proveniente apenas de si mesma, sem questionar sua possível participação nessas alterações. A importância da participação da família no processo de aprendizagem é inegável e a necessidade de se esclarecer e instrumentalizar os pais quanto as suas possibilidades em ajudar seus filhos com dificuldades de aprendizagem é evidenciada ao manifestarem suas dúvidas, inseguranças e falta de conhecimento em como fazê-lo. Conforme Martins (2001, p.28), “essa problemática gera nos pais sentimentos de angústia e ansiedade por se sentirem impossibilitados de lidar de maneira acertada com a situação”. 28 Dificuldades escolares apresentadas pelas crianças, relacionadas à falta de concentração e indisciplina ocorrem e podem ser causadas pela ausência de limites. A primeira geração educou os filhos de maneira patriarcal, isto é, os filhos eram obrigados a cumprir as determinações que lhes eram impostas pelo pai. A geração seguinte contestou esse sistema educacional e agiu de maneira oposta, através da permissividade. Os jovens ficaram sem padrões de comportamentos e limites, formando uma geração com mais liberdade do que responsabilidade. Tanto na família quanto na escola, segundo Tiba (1999, p.45), há “a necessidade de orientação às crianças quanto às regras disciplinares, para que elas possam desenvolver a capacidade de concentração e de apreensão dos conceitos”. A aprendizagem se dá de maneira gradativa e não será possível sem a participação ativa do aluno, de maneira disciplinada, orientada. Os pais devem preparar os filhos para arcarem com suas responsabilidades. Na medida em que a criança vai aprendendo a cuidar de si mesma, vai experimentando a sensação gratificante da capacidade de enfrentar desafios. E cada realização é um aprendizado que servirá de base para um novo aprendizado. Assim, realizando suas vontades e necessidades, a criança vai gostando de si mesma, desenvolvendo a auto-estima. O relacionamento familiar também é fundamental no processo educativo. A criança estará muito mais receptiva às instruções dos pais, se os membros da família se respeitarem entre si, procurando conversar e colaborar um com o outro. É importante a participação dos pais na vida dos filhos, numa convivência como companheiros, compartilhando emoções, o que contribui muito para a disciplina. Todos esses aspectos citados e muitos outros são fundamentais para que o desenvolvimento da criança se efetive. Portanto, a família necessita da ajuda dos profissionais na aquisição desses conhecimentos básicos e essenciais para que possa cumprir seu papel de facilitadora do processo de aprendizagem de seus filhos, através de comportamentos mais adaptativos. 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Educação Infantil desempenha um papel importante junto à criança, principalmente em seus primeiros anos de vida, a qual lhe permite uma maior participação e desenvolvimento na sociedade, interagindo e conhecendo sua identidade, autonomia, aprendizagem e especificidade. A relação escola e família é imprescindível, pois a família como espaço de orientação, construção da identidade de um indivíduo deve promover juntamente com a escola uma parceria, a fim de contribuir no desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Portanto, existe uma relação direta entre o engajamento das famílias no processo de aprendizado e os bons resultados escolares. A ação educativa tem influência da família, essa influência, no entanto é básica e fundamental no processo de educar a criança, nenhuma outra instituição possui condições de substituir. Os professores que sempre se colocaram em suas salas de aula, como meros transmissores de seus conhecimentos, hoje deparam com uma realidade onde apenas transmitir tais conhecimentos não basta, é preciso ir além das salas de aulas e em muitos casos fazer o papel dos familiares, O fracasso escolar é uma questão ligada a preconceitos em relação à pobreza, às classes homogêneas, generalizações e rótulos, “domínio da turma”, sem falar na questão salarial, condições de vida e luta do professor que diz não ter tempo, nem dinheiro para se atualizar. É mais fácil perceber erros visíveis do que fazer um inventário completo das condições favoráveis para a aprendizagem. A superação do fracasso escolar é tarefa pedagógica e, portanto, as lutas não devem se confundir, nem se misturar, uma complementa a outra, mas não justifica. E o sucesso dos educandos não depende só da escola, mas é tarefa dos pais e de uma sociedade inteira. As dificuldades de aprendizagem podem ser variadas, mas a identificação e a busca de um diagnóstico preciso pode direcionar os profissionais na escolha da melhor intervenção. Consideremos que todas as crianças, mesmo aquelas que apresentam dificuldades, distúrbios ou deficiência mental são capazes de aprender. Se ela não aprende, não procure nela o problema, modifique a sua prática, faça uso de abordagens diferentes, verificando se estão ou 30 não dando certo. Só acerta, quem tenta. Não acredite em tudo que lhe dizem, para isso existe a pesquisa. Não existe receita pronta, muito menos o melhor método, nesta hora é melhor seguir seu coração. O ensino deve se moldar à criança e não o contrário. Construa e persiga seus objetivos e ofereça à seus alunos um ambiente favorável às aprendizagens. É necessário que as famílias criem o hábito de participar da vida escolar das crianças, que perceba a importância de se relacionar com a escola na busca de um objetivo em comum, “educação de qualidade para as crianças. Por outro lado, a escola deve ser a responsável por criar meios de aproximação com as famílias e a comunidade, orientando e mostrando que educar não é papel exclusivo das escolas, é papel de todos. Todos juntos lutando por uma melhor educação. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei n. 11.274, de 06 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 07 de fevereiro de 2006. BOSSA, Nádia A. Dificuldades de aprendizagem: O que são? Como tratá-las? Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. FALCÃO, Gérson Marinho. 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