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1 Introdução à Ciência e Tecnologia dos Materiais Propriedades Mecânicas dos Metais Cursos de Graduação em Engenharia de Produção e Engenharia Mecânica Por que estudar? � É obrigação dos engenheiros compreender como as várias propriedades mecânicas são medidas e o que elas representam. � Isto é necessário durante o projeto de estruturas e componentes que utilizem materiais predeterminados, a fim de que não ocorram deformação excessiva e a consequente falha. Para isto, faz-se necessário conhecer as características destes materiais. 2 Introdução � Propriedades mecânicas: refletem a relação entre a resposta (deformação) que o material fornece a uma determinada carga ou força aplicada. Exemplos: resistência, dureza, ductilidade, rigidez. � A determinação das propriedades mecânicas é feita através de ensaios mecânicos, que reproduzem o mais fielmente possível as condições de serviço. Cada uma dessas propriedades está associada à habilidade do material de resistir às forças mecânicas e/ou de transmiti-las. � Utilizam-se normalmente corpos de prova (amostra representativa do material) para o ensaio mecânico, já que, por razões técnicas e econômicas, não é praticável realizar o ensaio na própria peça, que seria o ideal. � Geralmente, usam-se normas técnicas para o procedimento das medidas e confecção do corpo de prova, para garantir que haja consistência na maneira segundo a qual os ensaios são realizados e na interpretação dos resultados. Introdução 3 Introdução � Nos EUA, a organização mais ativa é a ASTM (American Society for Testing and Materials): Sociedade Americana para Ensaios e Materiais. www.astm.org � No Brasil, adotam-se as normas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Introdução � Considerando as exigências de serviço, o papel dos engenheiros é selecionar, a partir da diversificada gama de materiais existentes, qual é o mais adequado. � Para a seleção correta é necessária a compreensão das relações entre a microestrutura dos materiais e as suas propriedades mecânicas. � A discussão atual está restrita ao comportamento mecânico dos metais. 4 � Natureza da carga aplicada: tração, compressão, cisalhamento, flexão; � Regime de aplicação da carga: constante ou variando com o tempo; � Duração do carregamento; � Condições ambientais: temperatura, umidade. Fatores que influenciam o ensaio Classificação dos Ensaios � Destrutivos: usados para avaliar as propriedades mecânicas dos materiais. Utilizam-se corpos de prova com dimensões padronizadas. Promovem a inutilização total ou parcial da peça ensaiada. Exemplos: tração, compressão, cisalhamento. � Não destrutivos (END): usados em peças acabadas ou semi- acabadas, como ferramenta de controle de qualidade e manutenção. Não comprometem a integridade da peça. Exemplos: Ensaio visual, ultrassom, líquido penetrante. 5 TRAÇÃO COMPRESSÃO Tipos de carregamento comuns CISALHAMENTO TORÇÃO Tipos de carregamento comuns 6 O ensaio de tração � É o ensaio tensão-deformação mais usado, pois permite averiguar diversas propriedades mecânicas que são importantes para projetos. � Uma amostra é deformada (em geral, até a fratura) por uma carga (crescente) que é aplicada uniaxialmente ao longo do eixo maior de um corpo de prova. RaioComprimento útil Seção reduzida CORPO DE PROVA PADRÃO PARA ENSAIOS DE TRAÇÃO O ensaio de tração � Em geral, utiliza-se seção transversal circular, mas também são utilizados corpos de prova com seção retangular. � Esta configuração (redução de seção) foi adotada para que, durante o ensaio, a deformação fique confinada à região central e para evitar a probabilidade de fratura nas extremidades. 7 O ensaio de tração � A máquina de ensaios é projetada para alongar o corpo de prova a uma taxa constante até a fratura, ao mesmo tempo em que mede a carga instantânea e o alongamento resultante. Resultado: Força x alongamento Máquina universal de ensaios. O ensaio de tração 8 Tensão de engenharia e Deformação de engenharia � σ = tensão de engenharia (MPa) � F = carga aplicada perpendicularmente à seção transversal (N) � A0 = área original da seção transversal, antes da aplicação da carga (m²) � ε = deformação de engenharia (adimensional) � l0 = comprimento original (m) � li = comprimento instantâneo (m) � ∆l = li- l0 = alongamento (m) 9 O ensaio de tração Alongamento (mm) 0 2 3 4 51 0 50 100 Ca rg a (10 3 N ) 0 250 500 Deformação, ε (mm/mm) Te n sã o , σ (M Pa ) 0 0.04 0.05 0.08 0.100.02 Normalização para eliminar influência da geometria da amostra Corpo de provaComprimento útil Célula de Carga Tração O ensaio de compressão � É feito de maneira semelhante ao ensaio de tração, exceto pelo fato de que a força é compressiva e o corpo de prova se contrai ao longo da direção da tensão. � Por convenção, uma força compressiva é considerada negativa, gerando uma tensão também negativa. � É usado quando se deseja conhecer o comportamento de um material submetido a deformações permanentes ou quando o material é frágil sob tração. 10 Comportamento tensão-deformação Curva tensão-deformação esquemática, destacando os principais estágios do ensaio. 1 2 3 4 1: Deformação elástica; 2: Deformação plástica; 3: Estricção; 4: Ruptura Deformação elástica 11 Comportamento tensão-deformação � Ocorre a deformação elástica (reversível): Região linear da curva. � Obedece a lei de Hooke: σ = E.ε E = módulo de elasticidade ou módulo de Young. PARA TENSÕES DE TRAÇÃO EM NÍVEIS RELATIVAMENTE BAIXOS: COMPORTAMENTO LINEAR Com a liberação da carga, a peça retorna à sua forma original. Módulo de elasticidade (E) � O módulo de elasticidade corresponde ao coeficiente angular da reta que caracteriza o regime elástico. � Representa a a rigidez do material ou a resistência do material à deformação elástica. � Quanto maior a inclinação da reta, maior o módulo de elasticidade, ou seja, maior é a rigidez do material. 12 Módulo de elasticidade (E) � Está relacionado diretamente com as forças das ligações interatômicas. � No regime elástico, há apenas pequenas alterações no espaçamento interatômico. Consequentemente, o módulo de elasticidade é uma medida da resistência à separação dos átomos adjacentes, ou seja, das forças de ligação interatômicas. Módulo de elasticidade (E) Relação da força em função da separação interatômica para átomos com ligações fracas e com ligações fortes. 13 Módulo de elasticidade (E) 30-70207-438Carbeto de Silício 59407Tungstênio 0,35-0,602,41-4,14Cloreto de Polivinila (PVC) 30207Aço 30207Níquel 16110Cobre 15.5107Titânio 1497Latão 1069Alumínio 6.545Magnésio 106 PsiGPa MÓDULO DE ELASTICIDADE [E]Material Anelasticidade � Consiste no comportamento elástico dependente do tempo: isto significa que haverá uma componente da deformação elástica dependente do tempo. � Consequentemente, após a liberação da carga, será necessário um tempo finito para que ocorra uma recuperação completa da forma original. � Para os metais, esta componente é desprezível. No entanto, para alguns materiais poliméricos, sua magnitude é significativa e deve ser considerada. 14 Coeficiente de Poisson � Quando uma tensão de tração é aplicada a um metal, há um alongamento e uma deformação correspondente na direção da tensão aplicada (εz). � Como consequência do alongamento, há uma contração nas direções perpendiculares à tensãoaplicada (εx e εy). � Materiais isotrópicos: εx = εy. A relação entre as deformações é dada pelo coeficiente de Poisson (ν). ν = -εx/εz = -εy/εz O sinal negativo apenas indica que uma extensão gera uma contração e vice-versa. Os valores de ν para diversos metais estão entre 0,25 e 0,35. Coeficiente de Poisson 15 Deformação plástica � Deformação elástica nos metais ocorre, em geral, até 0,5%. � A partir deste ponto, a deformação é plástica (não recuperável, irreversível, permanente). Deformação plástica 16 Deformação plástica � Há quebra das ligações entre os átomos vizinhos originais e formação de novas ligações. � Quando a tensão é removida, os átomos não retornam às suas posições originais. � A maioria das estruturas é projetada para assegurar que ocorrerá apenas deformação elástica quando uma tensão é aplicada. Deformação elástica x plástica DEFORMAÇÃO ELÁSTICA � Precede a deformação plástica; � É reversível (desaparece quando a tensão é removida); � É proporcional à tensão aplicada; DEFORMAÇÃO PLÁSTICA � É provocada por tensões que ultrapassam o limite de elasticidade; � É irreversível, porque é resultado do deslocamento permanente dos átomos; 17 Propriedades de Tração Escoamento e limite de escoamento � Escoamento: início da deformação plástica. Caracteriza-se pelo ponto na curva tensão-deformação onde se inicia o afastamento da linearidade (ponto P da curva). Também é chamado de limite de proporcionalidade. � A tensão correspondente ao escoamento, considerando-se uma pré-deformação de 0,2%, é definida como o limite de escoamento. � O limite de escoamento varia desde 35 MPa, para um alumínio de baixa resistência até 1400 MPa, para aços de alta resistência. 18 Limite de escoamento ε=0,002 É determinado traçando- se uma linha paralela à reta elástica, a partir de uma pré-deformação de 0,2%. σ esc Medida da resistência à deformação plástica Limite de escoamento 19 Limite de resistência à tração (LRT) LRT = tensão no ponto máximo da curva (M). Corresponde à máxima tensão suportada pelo material sob tração. Resistência à fratura=tensão aplicada no momento da fratura (ponto F) Tensão de projeto < Tensão de escoamento Limite de resistência à tração (LRT) � Toda a deformação até este ponto é uniforme ao longo do comprimento útil do corpo de prova. � Após ser atingido o LRT, uma pequena estricção começa a se formar em algum ponto e toda a deformação subsequente fica confinada no estrangulamento. Como consequência, a fratura ocorre no local onde ocorre a estricção. 20 Limite de resistência à tração (LRT) � Para fins de projeto, quando a resistência de um material é citada, o limite de escoamento é utilizado. � Quando o LRT é atingido, em geral, o material já sofreu tanta deformação plástica que tornou-se imprestável. � Geralmente a resistência à fratura não é especificada para fins de projeto de engenharia. Ductilidade � Medida do grau de deformação plástica que foi suportado até a fratura. Pode ser expressa pelo alongamento percentual (%AL) ou pela redução percentual de área (%RA). Lf=comprimento no momento da fratura Af=área da seção transversal no ponto da fratura 21 Ductilidade � A ductilidade indica o grau ao qual uma estrutura irá se deformar plasticamente antes da fratura. � Materiais frágeis: apresentam uma deformação plástica muito pequena ou mesmo nenhuma deformação plástica até a fratura (de uma maneira aproximada, apresentam deformação plástica de até 5%). � Materiais dúcteis: podem sofrer uma deformação local sem que haja fratura. � A maioria dos metais possui pelo menos um grau moderado de ductilidade à temperatura ambiente. Alguns se tornam frágeis conforme a temperatura é reduzida (transição dúctil-frágil). Diagrama Tensão-Deformação: Materiais Dúcteis 22 Diagrama Tensão-Deformação: Materiais Frágeis Ductilidade Materiais frágeis Deformação de fratura inferior a 5%. 23 Fatores que influenciam o limite de escoamento, LRT e a ductilidade � Deformação prévia; � Presença de impurezas; � Tratamentos térmicos; � Temperatura. � O módulo de elasticidade é insensível a esses tratamentos Influência da temperatura Comportamento tensão-deformação de engenharia para o ferro em três temperaturas. 24 Resiliência Capacidade de um material de absorver energia quando é deformado elasticamente e permitir a sua recuperação quando o carregamento é cessado. � Módulo de resiliência (Ur): energia por unidade de volume, necessária para submeter um material à tensão desde o estado com ausência de carga até o ponto de escoamento. Resiliência Área sob a curva tensão-deformação desde o seu inicio até o limite de escoamento: EE Ur lllll 22 1 2 1 2σσ σεσ = == Materiais resilientes são aqueles que têm alto limite de escoamento e baixo módulo de elasticidade (como os materiais utilizados para molas). Unidade: J/m³ = Pa 25 Tenacidade � Medida da habilidade de um material em absorver energia até a fratura (área sob a curva tensão-deformação). Tenacidade = Ductilidade + Resiliência Unidade: J/m³ = Pa Para que um material seja tenaz, ele deve exibir tanto resistência como ductilidade. Tenacidade 26 Tensão verdadeira e Deformação verdadeira � Os materiais não se tornam mais fracos. A tensão diminui na curva tensão-deformação de engenharia após o ponto M porque ela é calculada desconsiderando a redução de área. � A tensão e a deformação verdadeira consideram área instantânea (Ai) do corpo de prova, ou seja, a área sobre a qual a deformação está ocorrendo. i v A F =σ 0 ln l li v =ε 27 � Até o início do empescoçamento, as seguintes relações são válidas: � Após este ponto, a tensão e a deformação verdadeira devem ser calculadas a partir de medições de carga, área da seção transversal e comprimento útil reais. )1( εσσ +=v )1ln( εε +=v Tensão verdadeira e Deformação verdadeira Curva tensão-deformação verdadeira Comparação entre os comportamentos típicos tensão-deformação de engenharia e tensão-deformação verdadeira sob tração. A curva corrigida considera o estado de tensão complexo na região do empescoçamento. 28 Fatores de projeto/segurança � Devem ser permitidas folgas no projeto para a proteção contra falhas não previstas. Uma maneira segundo a qual isso pode ser feito é estabelecer, para a aplicação específica, uma tensão de projeto (σp). � O material selecionado deve possuir um limite de escoamento tão elevado quanto o valor de σp. σp = N’ σc Onde N’ é um fator de projeto (maior do que a unidade) e σc é o nível de tensão calculado (com base na carga máxima estimada.) Fatores de projeto/segurança � Alternativamente, a tensão de trabalho ou tensão admissível (σt) é usada em lugar da tensão de projeto. É definida como o limite de escoamento dividido por um fator de segurança (N). � N muito grande: superdimensionamento do componente. Em geral 1,2<N<4. � A escolha do valor de N depende de: aspectos econômicos, experiência prévia, precisão na determinação das propriedades e consequências das falhas. σt = σl/N 29 Referências � Callister Jr, W.D. (2008) Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 7a ed. Rio de Janeiro. LTC Editora. 705 p. � Van Vlack, Lawrence H. Princípios de ciência dos materiais. Tradução de Luiz Paulo Camargo Ferrão. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. 427p.
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