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Aula 2 Tipos societários no sistema jurídico e econômico

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Fundamentos de Direito Empresarial e Tributário 
 Aula 2 - Tipos societários no sistema jurídico e econômico
Introdução
Vamos tratar da nova construção societária trazida pelo Código Civil de 2002. Trata-se, na realidade, de se distinguir as sociedades em dois grandes grupos: o das sociedades não personificadas e o das personificadas. Tomarmos conhecimento das diferenças entre elas e o que a inovação alterou na essência dos novos conceitos é fundamental para a escolha do tipo adequado no ato da constituição de um negócio empresarial, tanto por conta da menor ou maior complexidade no campo operacional como também em relação aos desdobramentos contábeis.
É de conhecimento pacífico que a incerteza mercadológica e a vulnerabilidade da moeda podem contribuir para uma escolha de tipo societário que represente uma segurança relativa no campo patrimonial dos sócios, daí serem as sociedades limitadas e sociedades anônimas as constituições mais numerosas.
Por isso, a distinção desses tipos e seus desdobramentos jurídicos e contábeis é o tema da aula de hoje. Vamos lá!
Sociedade não personificada
Embora o Código Civil estabeleça que a personalidade jurídica da sociedade começa com o registro de seus atos constitutivos, possui dispositivos que regem o que denomina de sociedade não personificada, denominação sob a qual acolheu a sociedade em comum (antiga sociedade de fato) e sociedade por conta de participação.
Portanto, considera-se sociedade não personificada aquela cujo ato constitutivo ainda não foi registrado no órgão competente, ou seja, aquela que não possui personalidade jurídica, o que contribui para a existência de uma atividade paralela, pautada na economia informal, de transparência nebulosa para responsabilização dos sócios atuantes naquela prática empresarial.
Excetuam-se deste conceito, as sociedades anônimas e as sociedades em comandita por ações, uma vez que, de acordo com a legislação de regência, não podem funcionar sem que sejam arquivados e publicados os seus atos constitutivos (art. 982).
As sociedades não personificadas se subdividem em sociedade em comum e sociedade em conta de participação.
S
ociedade em conta de participação
A sociedade em conta de participação é outro tipo de sociedade não personificada, diferenciando-se da sociedade em comum, uma vez que está dispensada do arquivamento de seus atos constitutivos no registro competente. Esta sociedade não possui patrimônio próprio nem personalidade jurídica, sendo formada para realizar negócios de curta duração, extinguindo-se após sua concretização.
A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios em direito admitidos. O contrato social produz efeitos somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade (artigos 991 a 996).
Sociedade em comum
A sociedade em comum, embora não tenha, ainda, seus atos constitutivos registrados, é uma sociedade de fato, cuja
 existência é comprovada, independentemente de ter ou não contrato escrito. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade em comum, mas os terceiros podem prová-la de qualquer forma.
O novo Código Civil, em seus artigos 986 a 990, regula a relação entre os sócios da sociedade em comum e entre estes e terceiros, definindo que a responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada.
	
Sociedade personificada
Considera-se sociedade personificada aquela que possui personalidade jurídica, obtida mediante registro de seus atos constitutivos no órgão competente que – dependendo do seu objeto – poderão ser no Registro Civil de Pessoas Jurídicas ou na Junta Comercial.
As sociedades personificadas se subdividem em sociedade empresária e sociedade simples. Veremos a seguir!
Sociedade empresária
É definida como sociedade empresária aquela que tem por objeto o exercício de atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, ou seja, considera-se sociedade empresária a antiga sociedade comercial.
Antes de iniciar a atividade econômica, o empresário individual ou a sociedade empresária, que a ela for se dedicar, deverá inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis, em uma das Juntas Comerciais (artigos 967, 968 e 1.150 do Código Civil), tendo como elemento essencial o nome empresarial.
A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos seguintes tipos jurídicos:
Sociedade em nome coletivo
Nesta sociedade, somente podem participar pessoas físicas, com todos os sócios respondendo solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, os sócios podem, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um.
A sociedade em nome coletivo deve adotar firma social, não sendo permitido o uso de denominação social. Exceto pelo fato de poder exercer atividade empresária, este tipo de sociedade é praticamente idêntico ao da sociedade simples.
Sociedade em comandita simples
Sociedade em comandita simples é aquela constituída por sócios que possuem responsabilidade ilimitada e solidária pelas obrigações sociais, chamados comanditados; e sócios que respondem apenas pela integralização de suas respectivas cotas – denominados comanditários.
A sociedade deve ser administrada por sócio comanditado. Na ausência de sócio que detenha a qualidade de comanditado, os sócios comanditários deverão nomear um administrador provisório, que não assumirá a condição de sócio, para realizar os atos de administração, durante o prazo de cento e oitenta dias. O sócio comanditário que praticar atos de gestão e fizer uso da firma social estará sujeito às responsabilidades de sócio comanditário, ou seja, solidária e ilimitadamente.
Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias, a saber:
Os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais;
Os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota.
As sociedades por comandita simples são regidas supletivamente pelas normas da sociedade em nome coletivo, cabendo ao sócios comanditados os mesmos direitos e obrigações dos sócios em nome coletivo. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de fiscalizar suas operações, não pode o comanditário praticar nenhum ato de gestão nem ter o nome da firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado.
Neste caso, o contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários.
Sociedade limitada
Sociedade limitada é aquela que realiza atividade empresarial, formada por dois ou mais sócios que contribuem com moeda ou bens avaliáveis em dinheiro para formação do capital social.  Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social, ou seja, cada sócio tem obrigação com a sua parte no capital social, no entanto poderá ser chamado a integralizar as quotas dos sócios que deixaram de integralizá-las.
Este tipo de sociedade passa a ter um regime consolidado em apenas um diploma legal; anteriormente, o ente denominado de sociedade por quotas de responsabilidade limitada tinha seu regime jurídico determinado pelo Decreto n° 3.708/19, revogado, e subsidiariamente pela Lei das Sociedades Anônimas (Lei n° 6.404/76).
A aplicação subsidiária da lei das sociedades anônimas continua sendo possível, desde que haja previsão expressa no contrato social.
Sociedade anônima
Na sociedade anônima ou companhia, o capital se divide em ações, obrigando-se, cada sócio ou acionista, somente ao preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. A sociedade anônima é regida por lei especial (Lei n° 6.404/76 e disposições posteriores), aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições do Código Civil(artigos 1.088 e 1.089).
Pode-se dizer que a lei nos oferece o conceito de sociedade anônima, pois o art. 1º da Lei 6.404/76 indica os seus elementos: "A companhia ou sociedade anônima terá o capital divido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas".
As sociedades anônimas podem ser de capital aberto ou capital fechado. É uma pessoa jurídica de direito privado e será sempre de natureza eminentemente mercantil, qualquer que seja seu objeto, conforme preconiza o art. 2º, § 1º, da Lei 6.404/76.
A constituição da sociedade anônima é diferente, conforme seja aberta ou fechada, sendo sucessiva ou pública para a primeira, e simultânea ou particular para a segunda.
Para a sucessiva ou pública, sua constituição obedece a fases, como elaboração de Boletins de Subscrição, que devem ser registrados na Comissão de Valores Mobiliários; oferta de subscrição das ações ao público; convocação de subscritores e realização da assembleia de constituição; remessa do estatuto e atas das assembleias para a Junta Comercial e publicação da certidão do arquivamento no jornal oficial.
A constituição simultânea ocorre com elaboração de boletins de subscrição por fundadores, oferta direta ao público, convocação para assembleia, remessa à Junta Comercial do estatuto e ata da assembleia e publicação no jornal oficial da certidão do arquivamento.
A sociedade poderá participar de outras sociedades; neste caso será designada por denominação acompanhada das expressões companhia ou sociedade anônima, por extenso ou abreviadamente; é, todavia, vedada a utilização da abreviação “Cia” ao final da denominação. Poderá usar o nome do fundador, acionista, ou pessoa que porventura tenha concorrido para o êxito empresarial do negócio.
Sociedade em comandita por ações
Esta sociedade tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima. Todavia, neste tipo societário, somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade (artigos 1.090 a 1.092).
Sociedade simples
É considerada sociedade simples aquela cujo objeto social seja decorrente de profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, ou seja, considera-se sociedade simples a antiga sociedade civil.
A sociedade simples (exceto no caso das cooperativas e de determinadas atividades reguladas por leis especiais que imponham a doação de tipo societário específico) poderá ser constituída em conformidade com um dos tipos examinados nos subitens anteriores (exceto como sociedade por ações); não o fazendo, subordinam-se às normas que lhes são próprias (arts. 997 a 1.000).
Neste tipo de sociedade, os bens particulares dos sócios (inclusive aqueles que ingressem em uma sociedade já constituída) poderão ser executados por dívidas da sociedade, mas apenas depois de executados os bens sociais, se estes forem insuficientes para saldar as dívidas. Neste caso, os sócios respondem com o seu patrimônio social na proporção que participem das perdas sociais, salvo se houver no contrato social cláusula estipulando a responsabilidade solidária.
Atenção!!!
As cooperativas são consideradas sociedades simples, independentemente de seu objeto de funcionamento.

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