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Semana 1 Concurso de Pessoas

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Concurso de Pessoas
Professora Drª. Adriana Geisler
2017.1
1. Considerações Preliminares:
Concurso  Cooperação na realização de algo:
S.m.: colaboração, convergência, contribuição, sinergia, ajuda, auxílio, participação, coparticipação.
de pessoaS: duas ou mais pessoas concorrem para a prática de uma mesma infração penal.
de crimeS: uma só pessoa pratica uma pluralidade de delitos.
2. Conceituação:
Colaboração recíproca (duas ou mais pessoas) ...
... que pode ocorrer tanto nos casos em que são vários os autores, bem como naqueles onde existem autores e partícipes.
												 vários autores (coautoria)
							convergência 
												 autores e partícipes
	
	- Aplica-se, como regra, aos delitos unissubjetivos.
 
2.1. Distinção entre concurso necessário e eventual de pessoas: 
delitos unissubjetivos (delitos de concurso eventual): podem ser praticados por apenas um sujeito, embora aceitem coautoria e participação. Exemplo.: furto (art. 155)
b) delitos plurissubjetivos (delitos de concurso necessário): exigem a presença de, no mínimo, duas ou mais pessoas, dependendo do tipo penal. Ex.: associação criminosa, rixa.
Não haveria necessidade de regra expressa para os autores, ou coautores, tendo aplicação apenas no que diz respeito à participação nessas infrações penais.
3. Natureza jurídica e teorias sobre o concurso de pessoas:
● Legislação Pertinente: Art. 29 do Código Penal
	Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na 	medida de sua culpabilidade.
	§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um 	terço.
	§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena 	deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais 	grave.
Várias são as teorias que procuram resolver a questão da criminalidade coletiva: a conduta praticada em concurso constitui um ou vários delitos? São elas: Teoria Monista, Teoria Dualista e Teoria Pluralista.
Teoria monista (unitária ou igualitária): 
▪ Adotada como regra pelo nosso CP
▪ Propõe a existência de um crime único, atribuído a todos aqueles que para ele concorreram, autores e partícipes. Todo aquele que concorre para a prática delituosa é considerado seu autor, devendo suportar a mesma sanção oponível aos demais. 
OBS.: Raúl Zaffaroni esclarece: o art.29 não estabelece que todos os que concorrem para o crime são autores, e sim, que todos os que concorrem têm, em princípio, a mesma pena estabelecida para o autor. 
b) Teoria dualista 
▪ Sugere a existência dois crimes: um para aqueles que realizam o verbo, a atividade principal ou a conduta típica propriamente dita emoldurada no ordenamento jurídico, ditos autores e outro para aqueles que desenvolvem uma atividade secundária no evento delituoso sem conformar a sua conduta com a figura nuclear descrita no tipo objetivo, são os ditos partícipes.
Existe no crime uma ação principal praticada pelo autor que executa o verbo da figura típica e uma ação secundária, portanto acessória, que é praticada pelos partícipes que são as pessoas que integram o plano criminoso, instigam ou auxiliam o autor a cometer o delito sem, contudo, desenvolver um comportamento central, executivamente típico.
c) Teoria Pluralista:
▪ Tantas infrações quantas forem os participantes do fatos delituoso, como se cada autor ou partícipe tivesse praticado a sua própria infração penal.
▪ Exceção: Incidência da teoria pluralista na hipótese do parágrafo 2º do artigo 29 do Código Penal
▪ § 2º do artigo 29 do Código Penal admite uma exceção à regra da teoria unitária, prevendo a possibilidade de responsabilização por crime menos grave se o dolo do coautor não foi além do previsto para o delito mais brando, havendo, contudo, um aumento de pena se o resultado mais grave era previsível. Serão, então, dois crimes.
4. Requisitos:
Pluralidade de agentes e de condutas: 
Exigência mínima de duas pessoas que desejem praticar determinada infração penal e despendam esforços conjuntos para tal.
b) Relevância casual de cada conduta: desconsideração da conduta que não possuir relevância para o cometimento da infração penal.
Exemplo: Caio possui o firme propósito de causar a morte de Tício, mas não localiza a sua arma. Por isso, vai até a residência de Mélvio, explica-lhe o fato e pede-lhe o revólver emprestado. Antes de ir ao encontro de Tício, no entanto, Caio encontra a sua arma e, com ela, causa-lhe a morte. A conduta de Mélvio foi relevante a ponto de podermos atribuir-lhe o homicídio praticado por Caio?
 A conduta de Mélvio é irrelevante e este não pode ser responsabilizado penalmente pelo resultado.
c) Liame subjetivo entre os agentes:
Vínculo psicológico, relação subjetiva, que une os agentes para a prática da infração penal, impondo-se que essa participação no fato seja consciente e voluntária. 
- Não basta que o agente atue com dolo (ou culpa). Os vários integrantes devem ter consciência de que cooperam numa ação comum. Caso contrário as várias condutas se tornarão isoladas e autônomas.
Não é indispensável o acordo prévio de vontade para a existência do concurso de pessoas. 
- A adesão tem que ser antes ou durante a execução do crime, nunca posterior, posto que, neste caso, pode caracterizar o favorecimento pessoal ou real previsto nos art. 348 e 349 do CP, mas nunca o concurso de pessoas.
IPC.: diferença entre vínculo psicológico e conivência: 
Nos adverte Bitencourt: o simples conhecimento da realização de uma infração penal ou mesmo a concordância psicológica caracterizam, no máximo, “conivência” que não é punível, a título de participação, se não constituir, pelo menos, alguma forma de contribuição causal, ou, então, constituir, por si mesma, uma infração típica.
Ex.: José, faxineiro de um prédio na orla da Praia do Forte, por negligencia, deixou a porta aberta durante a noite, favorecendo, inconscientemente a prática do furto. Pode José ser responsabilizado penalmente pelas consequências do resultado criminoso? 
Não. A ausência do vinculo psicológico faz com que a conduta de José se torne desvinculada do fato, impedindo a hipótese de concurso consoante à norma de extensão do art.29 do CP.
Somente a adesão voluntária objetiva (nexo causal) e subjetiva (liame psicológico) à atividade criminosa de outrem, visando a realização de um fim comum, cria e estabelece efetivamente a codelinquência, responsabilizando os participantes pelas consequências do resultado criminoso.
Ex.: Caio e Mélvio atiram contra Tício, sendo que um acerta o alvo e o outro erra, não se sabendo qual deles conseguiu alcançar o resultado morte. Quem responderá pelo homicídio consumado? 
Situação 1) Considerando que Caio e Mélvio agiram unidos pelo mesmo liame subjetivo, quem responderá pelo homicídio consumado? 
 O liame subjetivo fará com que ambos respondam pelo homicídio consumado. COAUTORIA
Situação 2) Considerando que os agentes não atuaram unidos pelo vínculo subjetivo? 
  Aqui não se pode falar em concurso de pessoas, em qualquer de suas modalidades (coautoria ou participação). Não são, portanto, coautores, mas autores colaterais. AUTORIA COLATERAL
 Cada qual deverá responder pela sua conduta. 
Autoria colateral: hipótese de dois agentes, que embora convergindo as suas condutas para a prática de determinado fato criminoso, não atuem unidos pelo liame subjetivo, 
	
Situação 2.2) E, em não se conseguindo determinar quem foi o autor do resultado morte:
 A dúvida deverá beneficiar os agentes, uma vez que um deles não conseguiu alcançar o resultado. Neste caso, ambos respondem por homicídio tentado. 	AUTORIA INCERTA 
(OBS.: Autoria incerta # autoria indeterminada = não se faz ideia de quem tenha causado ou ao menos tenha tentado praticar a infração penal)
d) Identidade da infração penal: Em face da teoria monista adotada
pelo CP exige-se esforços convergentes ao cometimento de determinada e escolhida infração penal.
5. Autoria
Como vimos, a relação do sujeito ativo com a conduta descrita pelo legislador no tipo penal pode ocorrer sob as formas de autoria ou de participação. Várias são as teorias que buscam diferenciar autoria de participação. Assim:
5.1 – Teorias acerca do conceito de autor: unitária, extensiva e restritiva (objetiva):
a) Teoria unitária de autor ou do autor único.
A mais antiga das teorias que se preocupou em estudar a relação do sujeito ativo com o fato;
Autor é quem produz qualquer contribuição causal para a realização do tipo legal; 
Ignora completamente a importância de se estabelecer uma diferenciação entre autor e partícipe; 
Defende que as contribuições objetivas e subjetivas entre os diversos autores, constituem matéria de aplicação da pena como medida da culpabilidade individual.
Problema: se por um lado apresenta como vantagens a facilidade de aplicação da lei penal ao caso concreto, traz por outro lado a injustiça de nivelar todos os sujeitos envolvidos na ação típica, sem considerar a importância e as diferenças entre as contribuições de caráter objetivo e subjetivo que cada um deu para a lesão do bem jurídico. 
		Ex.: Farmacêutico que entrega substância abortiva seria autor de auto aborto. 
b) O conceito extensivo de autor e a teoria subjetiva:
Todo aquele que contribui com alguma causa para o resultado é considerado autor. Instigador e cúmplice igualmente autores. Vê-se que retira sua referência dogmática da teoria da equivalência das condições.
Não distingue a importância da contribuição causal de cada um no evento. Não se distingue a autoria da participação. 
Os partícipes são autores e, portanto, as normas a seu respeito, são causas de atenuação da pena. 
Essa distinção entre autoria e participação deveria ser feita em face da lei, que a reconhece, estabelecendo penas diferentes para o autor, o indutor (instigador) e o cúmplice. Como solução, propõe que a distinção seja fixada através de um critério subjetivo, já que em face da teoria da equivalência das condições não há maneira de distinguir objetivamente autor de partícipe. Por isso, o conceito extensivo de autor vem unido à teoria subjetiva da participação, que seria um complemento necessário daquela. Busca-se, assim, pautar a diferença através de um critério subjetivo.
Teoria subjetiva: é autor quem realiza uma contribuição causal ao fato, seja qual for seu conteúdo, com “vontade de autor”, enquanto é partícipe quem, ao fazê-lo, possui unicamente “vontade de partícipe”. O autor quer o fato como “próprio”, age com o animus auctoris; o partícipe quer o fato como “alheio”, age com animus socii. Dessa forma, a extensão do tipo penal a todas as condutas consideradas como causa seria mitigada pelo critério subjetivo.
Encontra dificuldades em razão de seu subjetivismo, já que busca seu critério de distinção valorando o elemento anímico dos agentes: animus auctoris (protagonismo do autor) X animus soci (deseja-se o fato como alheio; papel secundário, acessório). 
c) Teoria objetiva: 
Relaciona-se à teoria restritiva de autor e encontra dificuldades no que diz respeito à determinação da autoria mediata (indireta). 
Não goza, atualmente, de preferência por parte dos doutrinadores.
Tem como ponto de partida o entendimento de que nem todos os intervenientes no crime são autores. Somente é autor quem realiza a conduta típica descrita na lei, isto é, apenas o autor (ou coautores) pratica(m) o verbo núcleo do tipo: mata, subtrai, falsifica etc. 
De acordo com o conceito restritivo, portanto, realizar a conduta típica é objetivamente distinto de favorecer a sua realização. Ao contrário do conceito extensivo de autor, nem todo aquele que interpõe uma causa realiza o tipo penal, pois “causação não é igual a realização do delito”. 
Ex.: Médico que, querendo causar a morte de um desafeto internado, determina a enfermeira que aplique no doente uma injeção, por ele preparada, contendo um veneno letal. Por esta teoria, não poderia ser considerado autor; tendo a enfermeira realizado a conduta descrita no núcleo do tipo (art. 121), por erro determinado por terceiro.
Somente a conduta do autor pode ser considerada diretamente como típica. Os tipos penais da Parte Especial devem ser interpretados de forma restritiva. As espécies de participação, instigação e cumplicidade por não integrarem diretamente a figura típica, constituiriam comportamentos impuníveis. 
Sob essa perspectiva, cabe ao legislador especificar, normalmente na Parte Geral, se as formas de participação são, por extensão, tipicamente relevantes e puníveis. Somente poderão ser punidas através de uma norma de extensão, como “causas de extensão da punibilidade”.
Deduz-se daí a necessidade de desenvolver critérios que identifiquem a conduta do autor distinguindo-a das formas de participação acessória. Por isso, o conceito restritivo de autor necessita ser complementado por uma teoria da participação. 
a1) Objetivo-formal: autor é aquele que pratica a conduta descrita no núcleo do tipo; todos os demais serão considerados partícipes. 
Ex.: o agente que apenas vigia a porta de entrada de uma casa da qual se furtará um televisor, é considerado apenas partícipe, ainda que desejasse a subtração (animus furandi/dolo de subtração tanto quanto aquele (autor) que praticou a conduta descrita no tipo.
a2) Teoria objetivo-material: buscou suprir os defeitos da teoria objetivo-formal, distinguindo autor de partícipe, pela maior contribuição do primeiro na causação do resultado.
	- Dificuldade prática: distinguir causa e condição ou mesmo de distinguir causas mais ou menos 	importantes.
5.2. Teoria do domínio de fato:
- Teoria adotada pelo Código Penal (doutrina majoritária): distingue com clareza autor e partícipe, admitindo com facilidade a figura do autor mediato, além de possibilitar melhor compreensão da coautoria. 
- Posição intermediária entre as teorias objetiva (objetivo-formal e objetivo-material) e subjetiva: o agente deverá ter o domínio funcional com relação à parte do plano que lhe foi atribuída.
IPC 1) Não se subordina à execução pessoal da conduta típica (total ou fragmentária), mas tem a sorte do fato total em suas mãos (divisão do trabalho que importa na responsabilidade pelo todo), porque se recusasse sua própria colaboração faria fracassar o fato.
IPC 2) Não é cabível nos delitos de natureza culposa, já que o resultado se produz de modo não finalista. Nos delitos imprudentes é autor todo aquele que contribui para a produção do resultado com uma conduta que corresponde ao cuidado objetivamente devido.
5.3 Espécies de autoria segundo a Teoria do Domínio Final do Fato.
5.3.1 Coautoria:
● Coautor é aquele que possui o domínio do fato. 
Dentro do conceito de divisão de tarefas é todo aquele (autor) que tiver uma participação fundamental e necessária ao cometimento da infração, não se exigindo que seja executor, isto é, que pratique a conduta descrita no tipo. 
Basta ao agente que seja senhor de suas decisões e que a parte que lhe toca seja importante para o todo. 
● Coautoria: reunião de vários autores, cada qual com o domínio das funções que lhe forem atribuídas para a consecução final do fato, de acordo com o critério de divisão de tarefas.
5.3.2 Autoria direta e indireta:
a) Autor direto (autor executor): todo aquele que executa diretamente a conduta descrita no tipo penal.
b) Autor Indireto (mediato): 
● Aquele que se vale de outras pessoa, que lhe serve, na verdade, como instrumento na prática da infração penal. 
● É imprescindível que o agente tenha o domínio do fato. 
● Nosso Código Penal prevê expressamente quatro casos de autoria mediata, a saber:
1º) Erro determinado por terceiro (art. 20, §2º, do CP): 
Ex.: exemplo anterior - enfermeira que executou a ação não agiu com dolo ou culpa, respondendo pelo crime (autoria mediata) tão
somente o terceiro (médico) que determinou o erro. 
2º.) Coação moral irresistível (art. 22, primeira parte do CP)
Ex.: Caio, vendo que há uma arma apontada contra a cabeça de seu filho, é coagido a subtrair determinados valores de uma agência bancária. Somente será responsabilizado pelo furto ou pelo roubo, o autor mediato. 
3º.) Obediência hierárquica (art. 22, segunda parte do CP)
Ex.: detetive que, a mando do delegado de polícia, efetua a prisão de alguém, tendo sido informado por este seu superior hierárquico já estar na posse de uma mandado, quando, na verdade, a ordem não tinha sido expedida. Somente o autor da ordem aparentemente legal é que será responsabilizado criminalmente pela privação de liberdade daquela pessoa, sendo, portanto, seu autor mediato.
4º.) Caso de instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal (art. 62, III, segunda parte, do CP):
Ex. (divergência doutrinária): O agente que entregando uma arma a um doente mental, faz com que este atire em direção à vítima, causando-lhe a morte, será responsabilizado a título de autor mediato.
Divergência (Zaffaronni e Pierangeli) O determinador conta apenas com uma probabilidade de que o interposto cometa o injusto. O que acontece depois de sua sugestão já não está nas suas mãos; ele não tem o domínio do fato diante de um delírio persecutório.
Hipótese de autoria mediata quando o autor se vale de interposta pessoa, não praticando esta última qualquer comportamento – doloso ou culposo – em virtude da presença de uma causa de exclusão da ação (força irresistível do homem e no estado de inconsciência).
Ex1: Agente empurra terceira pessoa, a fim de que esta caia sobre a vítima, produzindo-lhe lesões corporais. A responsabilidade será atribuída a quem efetuou o empurrão. 
Ex2: Hipnose 
b.2) Autoria mediata especial (“autoria de escritório”, Zaffaroni e Pierangeli):
 - Aquela que tem sua origem em uma “máquina de poder” (Estado, organização paraestatal, organização autônoma/ máfia)
Ex.: Agente que cumpre ordens emanadas do líder de um grupo criminoso organizado, o faz tendo o domínio do fato que lhe fora atribuído, e não como mero instrumento. 
b.3) Autoria mediata em crimes próprios e em crimes de mão própria (pessoais e intransferíveis)
Recordando: 
- Crimes de mão própria são aqueles que só podem ser cometidos diretamente pela pessoa. 
Ex.1: falso testemunho (mentir depois de ter se comprometido a dizer a verdade em um processo): se Caio jurou dizer a verdade, só ele pode cometer o perjúrio. Se Tício mentir em favor de Caio a pedido deste, Caio não terá cometido perjúrio, pois quem mentiu foi Tício . 
Ex.2: falsidade ideológica (pretender ser alguém que não é - mentir em um documento, ou alterar seu conteúdo, para modificar o direito de alguém (criando, modificando ou extinguindo um direito ou uma obrigação) para obter algum tipo de vantagem, ou para modificar a verdade sobre um fato relevante. Em outros termos, ela acontece quando alguém insere alguma informação falsa em um documento, ou alguém modifica ou apaga uma informação que deveria estar lá, para ganhar qualquer tipo de vantagem, ou quando a pessoa mente naquele documento). 
Crimes próprios são aqueles que só podem ser cometidos por determinadas pessoas, tendo em vista que o tipo penal exige certa característica do sujeito ativo. 
Ex.1: infanticídio - só pode ser cometido pela mãe, sob influência do estado puerperal (art. 123 do CP); 
Ex.2: crime de corrupção passiva, que só pode ser cometido por funcionário público (art. 317 do CP).
Ex.3: peculato (art. 312 do CP)
● A execução dos crimes de mão própria não pode ser transferida a ninguém, o que inviabiliza a autoria imediata. 
Ex.: Não se pode pedir a alguém que preste um testemunho falso em seu lugar. Aquele que vem a fazer afirmação falsa ou negar ou calar a verdade como testemunha será responsabilizado pelo delito do art. 342 do CP.
● STJ, REsp.761354/PR, Rel. Min. Félix Fischer, 5ª T., DJ 16/10/2006, p. 421: “Os crimes de mão própria estão descritos em figuras típicas necessariamente formuladas de tal forma que só pode ser autor quem esteja em situação de realizar pessoalmente e de forma direta o fato punível. Não sendo delito de execução pessoal, como é a hipótese dos autos, a própria autoria mediata é plausível.”
● Já em crimes próprios a autoria imediata é plenamente possível, desde que o autor mediato possua as qualidades ou condições especiais exigidas pelo tipo penal.
Ex.: funcionário que se vale de não funcionário para praticar uma corrupção é autor (mediato) de um crime de corrupção; mas o contrário não pode se verificar.
5.3.3 Coautoria e crimes próprios e de mão própria
● Não se admite coautoria em delitos de mão própria, posto que por se tratarem de crimes personalíssimos, não há, nestes, a possibilidade de divisão de tarefas.
● Nada impede, no entanto, que haja concurso de partícipes nesses delitos. Mesmo não possuindo domínio sobre o fato, eles podem induzir, instigar ou auxiliar materialmente o autor, concorrendo para a infração penal. 
IPC: Advogado pode ser coautor de crime de falso testemunho, já que sua conduta contribui moralmente para o crime e faz nascer no agente a vontade delitiva. (STF – 2ª. Turma – Rel. Ministro Maurício Corrêa, julgamento em 10/12/1996, DJ de 7/3/1997, p. 5421)
● Já nos crimes próprios há a possibilidade de coautoria, já que vários autores, com unidade de desígnios e dentro do critério de divisão de tarefas, podem praticar a mesma infração penal.
Ex.: Peculato – funcionários públicos que, agindo em concurso, subtraem um computador da repartição, valendo-se da facilidade que essa qualidade lhes proporciona.
5.4 Autor intelectual
● Aquele que traça o plano criminoso, com todos os seus detalhes, ainda que não lhe seja atribuída qualquer função executiva do plano criminoso por ele pensado.
● Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:
I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; 
5.5 Autoria por convicção
● Agente que conhece a norma, mas a descumpre por razões de consciência, que pode ser política, religiosa ou filosófica. 
Ex.: Pai - Testemunha de Jeová
5.6 Coautoria sucessiva
● Situação em que o agente adere à conduta criminosa de outrem (alguém ou um grupo) que já começou a percorrer o iter criminis. 
	 
● O acordo de vontades, portanto, vem a acorrer após o início da execução, podendo se falar em autoria sucessiva, não apenas até a consumação, mas até o exaurimento do delito. 
Ex.: Extorsão (art. 158 CP) – agente que adere ao delito por ocasião da obtenção da vantagem indevida. 
	Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e 	com o intuito de 	obter para si ou para outrem indevida vantagem 	econômica, a fazer, tolerar que se faça 	ou 	deixar fazer alguma coisa
● Dificuldade: determinação da responsabilidade do autor por aquilo que já foi praticado pelos demais agentes. Duas correntes:
Welzel, Maurach, Nilo Batista: Se o autor sucessivo tomou conhecimento da situação em que se encontrava, deverá responder pelo fato na sua integralidade.
Mezgner e Zaffaroni: responderá pela infração penal que estiver em andamento, desde que eles não importem fatos que, por si sós, consistam em infrações mais graves já consumadas.
Ex.: Agente que, durante um crime de roubo, uma das vítimas já tenha sido morta, estando as demais sob a mira das armas dos outros coautores. O agente não poderá responder pelo latrocínio (§3º. do art. 157 do CP), mas somente pelo roubo com a causa do aumento de pena do emprego da arma.
6. Participação
● Atividade daqueles que, embora concorrendo para a prática da infração penal, desempenham atividade diversa da do autor.
● Partícipes: aqueles que exercem um papel secundário e auxiliar na prática do fato cometido pelo autor; isto é, que atuam como coadjuvantes na história do crime, influenciando na prática da infração penal,
ainda que exercendo papéis secundários. 
- Para que se possa falar em partícipe é preciso, necessariamente, que exista um autor do fato.
● Atividade acessória: dependente da principal, isto é, dependente da existência de um fato principal. (Art. 31, do CP)
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (grifo meu)
Não há, portanto, como se falar em tentativa de participação: Se somente o autor pode chegar à fase do conatus (tentativa) de determinada infração penal, e se isso não acontece - isto é, se o autor sequer ingressar no iter criminis, na fase dos atos de execução - a conduta do partícipe não poderá ser punida pelo Direito Penal (indiferente penal) ressalvadas as disposições expressas em contrário, contidas na lei. 
- Pode ser moral ou material.
a) Moral: participação por induzimento (determinação, no CP) e instigação. 
b) Material: participação por cumplicidade (prestação d e auxílios materiais).
6.1 Modalidades de participação:
Induzimento ou determinação: criar, incutir, colocar, fazer brotar a ideia criminosa na cabeça do agente/autor. 
- A semente da ideia criminosa é lançada pelo partícipe. O autor não tinha a ideia criminosa.
Instigação: limita-se a reforçar, estimular uma ideia criminosa já existente na mente do autor, fazendo com que o agente fortaleça a sua intenção delitiva. 
A atuação do partícipe deve ser decisiva no sentido de orientar e de determinar a execução pelo autor. 
A punição da instigação decorre de ter levado o autor a decidir pela prática do crime, não pelo fato de ter-lhe dado a ideia, que até poderia ter sido dada por outrem.
Cumplicidade ou prestação de auxílios materiais: facilitar materialmente a prática da infração penal. 
- Em toda prestação de auxílios materiais existe embutida uma dose de instigação. 
Ex.: Cedendo a escada para aquele que deseja ingressar na casa da vítima, a fim de levar a efeito uma subtração; emprestar a sua arma para que o autor possa causar a morte de seu desafeto. 
 Aquele que empresta a escada ou a sua arma para o autor está estimulando-o, mesmo que indiretamente, a praticar a infração penal, reforçando, portanto, a sua ideia criminosa. 
Teorias sobre participação (teorias da “acessoriedade”)
Importância: a escolha da teoria utilizada no tratamento da acessoriedade da participação (fato cometido pelo autor) vai implicar na determinação de quando o partícipe poderá ser punido.
a) Teoria da acessoriedade mínima: pune a participação se o autor tiver levado a efeito uma conduta típica.
Ex.: Desempregado e faminto, Caio é estimulado por Tício, que não pode ajudá-lo financeiramente, a subtrair um saco de feijão para que possa saciar a sua fome e a de sua família. 
Embora a conduta de Caio seja típica, jamais poderá ser considerada como ilícita, haja vista ter agido em estado de necessidade (o bem (vida), merece prevalecer e m prejuízo do bem atacado (patrimônio). 
Contudo, embora o autor não pratique uma conduta ilícita, posto que permitida pelo ordenamento jurídico, o partícipe que o estimulou a cometê-la será responsabilizado penalmente.
b) Teoria da acessoriedade limitada (adotada pela maioria dos doutrinadores): participação punível se o autor tiver levado a efeito uma conduta típica e ilícita. 
Ex.: Caio que é auxiliado materialmente por Tício, que lhe empresta uma arma a fim de que possa atuar porque, erroneamente, supõe poder agir em defesa da honra de sua filha, bem como na de sua família. 
 Tício que auxilia materialmente o autor a praticar um injusto típico, mesmo que não culpável, responderá, de acordo com a teoria limitada, pelo resultado advindo da conduta do autor. 
 Para lembrar: Caio age em erro de proibição indireto (erro sobre a existência de uma causa de justificação) . O erro de proibição, se invencível, afasta a culpabilidade do agente, isentando-o de pena. 
c) teoria da acessoriedade máxima: somente haverá a punição do partícipe se o autor tiver praticado uma conduta típica, ilícita e culpável. Em outros termos, ressalte-se a exigência de que o autor tenha praticado um injusto culpável.
d) teoria da hiperacessoriedade: A teoria da hiperacessoriedade vai mais além e diz que a participação somente será punida se o autor tiver praticado um fato típico, ilícito, culpável e punível. 
Ex.: Partícipe estimula ou determina alguém, menor de idade, a praticar um delito de furto, e se, quanto ao autor, em razão de sua idade, for reconhecida a prescrição, uma vez que o prazo, nos termos do art. 115 do Código Penal, deve ser reduzido de metade, o partícipe não poderá ser punido
7. Cumplicidade necessária
Distinção doutrinária entre cumplicidade necessária e cumplicidade desnecessária: 
a) Necessária: hipótese em bem ou auxílio material são entendidos como escassos. Bens escassos são aqueles cuja obtenção, por qualquer motivo, apresenta sérias dificuldades:
Ex1.: substância medicamentosa de venda controlada, explosivos, máquinas de falsificar notas, um revólver etc.
Ex.2: Quando o auxílio diz respeito a uma prestação de serviços: aquele que não puder ser praticado por um número considerável de pessoas, a exemplo de uma cópia de um quadro de um renomado pintor, que será utilizada por um estelionatário, que a venderá como original. 
b) Desnecessária: hipótese em bem ou auxílio material são entendidos como abundantes, isto é, poderiam ser fornecidos normalmente por qualquer pessoa. 
Ex. 1: caneta esferográfica para falsificar uma assinatura, uma faca de cozinha, um pedaço de corda. 
Ex. 2: prestação do auxílio quando o sujeito, utilizando-se de seu veículo, transporta, até o local do
crime, o autor da infração penal. 
● Crítica: em muitas situações, poderá haverá dúvida sobre se o bem ou o auxílio prestado podem ser considerados como escassos. 
IPC: Importância da Distinção: cumplicidade necessária (escassez)  impossibilidade de aplicação da causa geral de redução de pena relativa à participação de menor importância, prevista no § 1, do art. 29 do Código Penal.
8. Punibilidade no concurso de pessoas:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (grifo meu)
 * Culpabilidade é juízo de censura, de reprovabilidade. Dentre duas pessoas, que agiram em concurso, dependendo da hipótese, a conduta de uma delas é mais censurável do que a outra, razão pela qual deverá ser punida mais severamente. 
Ex.: Caio e Tício resolvam praticar um delito de furto. O primeiro, Caio, filho de um rico fazendeiro, pretende cometer o delito por mero espírito de "aventura"; já o segundo, Tício, desempregado há muito, pelo fato de não conseguir trazer, licitamente, o sustento de sua família, resolve, numa demonstração de desespero, levar a efeito a subtração, juntamente com Caio. Pergunta-se: as duas condutas merecem a mesma censura, ou uma delas é mais reprovável do que a outra? 
 De acordo com a parte final do art. 29 do CP, deverão ser diversas as penas aplicadas aos agentes, sendo a conduta de Caio punida mais severamente do que a de Tício. 
 A conduta de Tício, que subtraiu coisa alheia móvel numa atitude de desespero, independentemente da discussão que possa existir a respeito do seu estado de necessidade, se ultrapassada essa causa de justificação, é menos censurável do que a de Caio, observando-se os motivos que impeliram os agentes ao cometimento da infração penal. 
8.1 Participação punível - desistência voluntária e arrependimento eficaz do autor 
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
"desiste de prosseguir na execução“: institutos dirigidos ao autor, pois somente ele pode praticar atos de execução e, durante a sua prática, desistir de neles prosseguir ou, mesmo depois de tê-los esgotado, arrepender-se
e tentar evitar a produção do resultado por ele pretendido inicialmente. 
Ex.: Caio tenha sido induzido por Tício a causar a morte de Mélvio. Durante os atos de execução, depois de efetuar dois disparos que acertaram a vítima no ombro e na perna, Caio, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução e, com isso, evita a produção do resultado morte. Pergunta-se: nos termos do art. 15 do Código Penal, considerando que Caio não será responsabilizado por tentativa de homicídio, como fica a situação do partícipe que induziu, estimulou ou auxiliou materialmente o autor ao cometimento da infração penal? Ou, melhor dizendo, os efeitos da desistência voluntária do autor ou do seu arrependimento eficaz também alcançam o partícipe? 
 Divergência doutrinária:
Se a desistência ou o arrependimento do autor o levará à atipicidade da conduta inicial por ele praticada, tal fato deverá ser estendido ao partícipe: a "impunidade do partícipe é decorrência da acessoriedade da participação“.
b) Se o autor ingressa na fase dos atos de execução, almejando consumar a infração penal por ele pretendida, isso já é suficiente para possibilitar a punição do partícipe. O benefício trazido pelo art. 15 do Código Penal é afeito à política criminal e, em sendo pessoal, é intransferível ao partícipe que agiu com o dolo de induzir, instigar, ou auxiliar o autor.
8.1.1 Arrependimento do partícipe
• A ocorrência do arrependimento é a hipótese mais comum nos casos de participação. 
Ex.: partícipe que já incutiu a ideia criminosa na mente do autor ou a estimulou, e se volta atrás, tentando dissuadi-lo da prática da infração penal: fala-se em arrependimento, e não em desistência, visto que já havia esgotado tudo aquilo que estava ao seu alcance para fazer com que o autor levasse a efeito a infração penal. 
• Efeitos: 
a) O instigador que passa a opor-se à execução, e o cúmplice que não implementa o auxílio prometido, ou tendo-o implementado o retira, só responderão pelos atos já praticados (art. 13), ou seja, impune a tentativa de participação.
b) No que diz à cumplicidade (prestação de auxílios materiais): se houve da parte do partícipe a promessa de que emprestaria a arma a ser utilizada pelo autor e, antes que ela seja entregue, desiste de participar, e se o autor comete o delito valendo-se de outro instrumento que não aquele prometido pelo partícipe, este último não poderá ser penalmente responsabilizado.
c) Aplica-se o mesmo raciocínio se já havia emprestado a arma e, antes da prática da infração penal, consegue reavê-la, impedindo o autor de usá-la.
Arrependimento do próprio partícipe: se o partícipe vier a se arrepender, somente não será responsabilizado penalmente se conseguir fazer com que o autor não pratique a conduta criminosa.
Cumplicidade (prestação de auxílios materiais): se desiste de participar, e se o autor, por exemplo, comete o delito valendo-se de outro instrumento que não aquele prometido pelo partícipe, este último não poderá ser penalmente responsabilizado. Aplica-se o mesmo raciocínio se já havia emprestado a arma e, antes da prática da infração penal, consegue reavê-la, impedindo o autor de usá-la. 
 Participação em cadeia (participação de participação) 
Como vimos, participação, em cadeia ou não, somente será punível se o autor vier a praticar a infração penal para a qual fora estimulado pelo partícipe atendendo-se, portanto, à regra contida no já apontado art. 31 do Código Penal. 
Ex.: A induza B a induzir C a causar a morte de D. Ou que A, induza B a emprestar sua arma a C, para que este venha causar a morte de D. Enfim, não existe qualquer óbice para a chamada participação em cadeia ou participação de participação. 
Participação sucessiva: ocorre quando, presente o induzimento (determinação) ou instigação do executor, sucede outra determinação ou instigação. 
Ex.: A instiga B a matar C. Após essa participação, o agente D, desconhecendo a precedente participação de A, instiga B a matar C. Se a instigação do sujeito D foi eficiente em face do nexo de causalidade, é considerado partícipe do homicídio. Importante salientar que a instigação sucessiva, ou seja, aquela que foi realizada após o agente ter sido determinado ou estimulado a praticar a infração penal, deve ter sido capaz de exercer alguma influência em seu ânimo, pois, caso contrário, isto é, se este já estava completamente determinado a cometer a infração penal, e se a instigação sucessiva em nada o estimulou, não terá ela a relevância necessária a fim de ensejar a punição do partícipe. 
 
8.2 Participação de menor importância 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (grifo meu)
“A pena pode ser diminuída”: impressão de faculdade do julgador na aplicação da redução. Mas, é uma causa de diminuição obrigatória de pena.
Tentativa de Participação
• Art. 31, do CP: ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado, não podemos falar e m tentativa de participação. Se o partícipe estimula alguém a cometer uma determinada infração penal, mas aquele q u e foi estimulado não vem a praticar qualquer ato de execução tendente a consumá-la, a conduta do partícipe é considerada u m indiferente penal.

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