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A epidemiologia

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INTRODUÇÃO
A epidemiologia estuda as doenças em populações, investigando os seus determinantes, a sua dinâmica e distribuição. Os principais objetivos das investigações epidemiológicas são o conhecimento dessas cadeias de interações e a identificação de pontos frágeis que sejam passíveis de intervenção, visando ao controle das doenças. A ênfase maior da epidemiologia é a população – a sua saúde e
bem-estar. A importância do indivíduo limitasse sua condição de componente da população, pois, como tal, pode originar informações úteis para a preservação da saúde coletiva.
A epidemiologia aplicada às doenças animais possui uma terminologia própria (epizootiologia, epizootia, enzootia etc.).
A CADEIA DO PROCESSO INFECCIOSO
A sobrevivência de um vírus como espécie depende de sua capacidade de cumprir uma sequência de etapas que se convencionou chamar de cadeia do processo infeccioso. Para facilitar o seu entendimento, a cadeia do processo infeccioso pode ser dividida nas seguintes etapas: fontes de
infecção, vias de excreção, mecanismos de transmissão, vias de penetração e o novo hospedeiro.
Inicialmente, o agente deve penetrar e se multiplicar no hospedeiro e, mesmo na presença da resposta imunológica, produzir progênie viável. Essa progênie deve ser excretada do hospedeiro a tempo, pela via adequada e em quantidade suficiente para permitir a sua transmissão a outros indivíduos. Após a excreção, o agente deve ser capaz de resistir no meio ambiente o tempo necessário para encontrar outro hospedeiro susceptível.
A transmissão dos vírus entre hospedeiros pode ocorrer por diferentes meios. Alguns vírus são transmitidos por contato direto entre hospedeiros. Nesses casos, a capacidade do vírus resistir em condições ambientais é irrelevante, pois o tempo e espaço entre os hospedeiros são virtuais.
Já outros agentes não são transferidos imediatamente, e a sua transferência entre hospedeiros ocorre com o auxílio de objetos inanimados ou de artrópodes (insetos). Nesses casos, o agente necessita obrigatoriamente resistir no meio ambiente e/ou replicar ou persistir viável nos vetores
pelo tempo necessário, a fim de assegurar a sua transmissão ao próximo hospedeiro.
Ao contrário de outros microorganismos (bactérias e fungos) a maioria dos vírus não é capaz de manter a viabilidade por longos períodos no meio externo. Isso é crítico para muitos desses agentes, uma vez que a viabilidade e a perspectiva de transmissão são freqüentemente perdidas
pela inativação no meio ambiente. Após encontrar um hospedeiro susceptível, o agente deve penetrar pela via adequada e multiplicar nos tecidos e órgãos-alvo para produzir progênie e ser novamente excretado. O cumprimento dessas etapas é fundamental para a perpetuação dos vírus – assim como de outros agentes infecciosos – na natureza. Na realidade, o processo evolutivo fez com que os agentes virais que existem atualmente tenham desenvolvido meios para cumprir essas etapas e, assim, sobreviver como espécie. Não obstante, as estratégias utilizadas para realizar essa tarefa são variadas e peculiares de cada vírus ou grupo de vírus. É também provável que, ao longo dos tempos, tenham surgido vírus que não foram capazes de cumprir alguma dessas etapas. Tais agentes certamente não tiveram sucesso em sua história natural e, conseqüentemente, desapareceram.
FONTES DE INFECÇÃO
Define-se como FONTE DE INFECÇÃO qualquer animal vertebrado que esteja infectado e seja capaz de transmitir o agente para outros animais susceptíveis. Excluem-se dessa definição os artrópodes, que, na maioria das infecções víricas animais, parecem desempenhar um papel predominantemente de transmissão e não de manutenção do agente. Dependendo do resultado das interações agente-hospedeiro, que podem ou não resultar em manifestações clínicas, as fontes de infecção (também chamados de hospedeiros) podem ser classificadas em doentes e portadores. 
OS DOENTES são os animais infectados que manifestam sinais clínicos de doença. Do ponto de vista estritamente epidemiológico, essas fontes de infecção possuem uma importância relativamente menor, pois são facilmente reconhecidas como tal, o que permite o diagnóstico e a adoção
das medidas de controle pertinentes. Alguns exemplos são os cães, com sinais clínicos de raiva, e os bovinos, com sinais característicos de febre aftosa. Não obstante, em infecções víricas, nas quais o desenvolvimento de doença é freqüente, os animais doentes se constituem nas fontes de infecção mais comuns e epidemiologicamente importantes.
OS PORTADORES são os animais que abrigam e excretam o agente sem estar manifestando alterações clínicas indicativas de doença. Por isso não são facilmente reconhecíveis, o que os torna muito importantes na epidemiologia de cada infecção. Os animais portadores podem ser também denominados de hospedeiros assintomáticos. Dependendo da sua participação na disseminação viral, dois tipos de portadores podem ser reconhecidos: ativos e passivos. 
Os PORTADORES ATIVOS são aqueles que excretam o vírus;
 Os PORTADORES PASSIVOS apenas abrigam e replicam o agente sem excretá-lo ou transmiti-lo. A grande maioria dos portadores de agentes virais enquadra-se na primeira categoria. Entretanto, cães adultos podem abrigar o vírus da cinomose (CDV) no sistema nervoso central (SNC) de forma persistente sem excretá-lo. Aparentemente, búfalos infectados pelo vírus da febre aftosa (FMDV) tornam-se portadores após a infecção aguda, mas parecem ser incapazes de transmiti-lo. Nesses casos, esses animais se constituem em portadores passivos.
Dependendo do período em que excretam o agente, os portadores ativos podem ser classificados em permanentes ou temporários. 
Os portadores ativos permanentes são aqueles que excretam o vírus continuamente. Alguns exemplos são os animais infectados por retrovírus e aqueles persistentemente infectados pelo vírus da diarreia viral bovina (BVDV). Os portadores ativos temporários excretam o agente – sem manifestar sinais clínicos concomitantes – por determinados períodos.
Quando a excreção viral inicia-se no período de incubação ou na fase prodrômica e os animais ainda não apresentam sinais clínicos, eles são chamados de portadores em período de incubação e portadores prodrômicos, respectivamente. Exemplos incluem os bovinos infectados com vírus respiratórios, que podem iniciar a excretar o vírus de um a três dias antes do início dos sinais clínicos. Em outras infecções, os animais podem seguir excretando o vírus após a resolução da doença clínica, sendo, então, denominados portadores em fase de convalescença. Suínos infectados pelo vírus da síndrome respiratória e reprodutiva (PRRSV) e cães infectados pelo adenovírus canino (CAV) enquadram-se nessa categoria, pois podem permanecer excretando o vírus por semanas ou até meses após o término dos sinais clínicos. Nesses casos, a excreção viral pode ocorrer durante períodos em que o animal não exibe sinais clínicos, o que caracteriza a condição de portador. 
Portadores ativos temporários intermitentes (ou esporádicos) excretam o vírus apenas esporadicamente, por poucas horas ou dias, a intervalos variáveis.
São característicos das infecções latentes por alfaherpesvírus, cujas reativações periódicas resultam em excreção viral transitória, geralmente desacompanhada de manifestações clínicas.
Animais portadores podem permanecer por longo tempo na população excretando o vírus e contribuindo para a perpetuação do agente no rebanho. Várias infecções víricas somente conseguem se manter na natureza graças à existência de portadores, nos quais o agente encontra condições de se multiplicar continuamente. O reconhecimento e isolamento e/ou eliminação desses portadores constituem-se nos pontos-chave do combate a essas infecções.
Outro conceito importante em epidemiologia é o de reservatório.
Denomina-se RESERVATÓRIO a espécie animal que abriga e mantém agentes infecciosos em um ecossistema, podendo transmiti-los para outras espécies. Embora utilizada, na maioria das vezes, para designar espéciessilvestres, essa denominação pode também ser utilizada para designar animais domésticos que sirvam de fontes de infecção e, como tal, mantenham e transmitam agentes infecciosos. Geralmente, as principais espécies que servem de reservatórios de agentes virais na natureza são as espécies de origem desses agentes, também chamadas de hospedeiros ou reservatórios naturais. No entanto, mesmo espécies que não se constituam nos hospedeiros naturais de determinados vírus podem, ocasionalmente, servir de reservatórios. Deve ser enfatizado que algumas espécies que abrigam agentes virais na natureza – e que se constituem, portanto, em reservatórios – desenvolvem a enfermidade devido à infecção. Nesse sentido, os agentes que conseguem infectar e se manter em espécies animais sem causar doença apresentam uma grande vantagem, pois possuem uma maior probabilidade de perpetuação e transmissão.
Exemplos de espécies reservatórios são as aves aquáticas e migratórias, para os vírus da influenza A; pássaros e outras aves, para os alfavírus; roedores silvestres, para os arenavírus e hantavírus; morcegos de várias espécies, para diversos vírus (Nipah, Hendra, vírus da raiva). Os morcegos hematófagos e carnívoros silvestres (raposas, cães silvestres, raccons) são reservatórios do vírus da raiva e podem transmitilo a várias espécies silvestres e domésticas. Os pássaros e outras aves silvestres são reservatórios do vírus do Nilo Ocidental (WNV) e dos vírus das encefalites do leste (EEEV) e oeste (WEEV) e podem transmiti-los para eqüinos, aves domésticas (faisões, emas) e, ocasionalmente, para humanos. Suídeos silvestres (warthogs) são reservatórios do vírus da peste suína africana (ASFV) e podem transmiti-lo para suínos domésticos. Nesses exemplos, independentemente se as espécies mencionadas constituem-se nos hospedeiros naturais do agente – e em alguns casos parecem sê-lo –, na prática, desempenham o papel de reservatórios, pois abrigam e transmitem o agente para outras espécies de interesse. O termo reservatório, portanto, teria uma definição mais funcional do que ecológica.
Espécies domésticas que mantenham um agente e o transmitam a outras espécies também podem ser consideradas reservatórios.
A raiva pode ser mantida na população de cães urbanos e, ocasionalmente, ser transmitida para pessoas. Nesse caso, os cães seriam os reservatórios para a população humana. Espécies domésticas também podem servir de reservatórios de agentes virais e transmiti-los a animais silvestres. Surtos com alta mortalidade de mamíferos marinhos (focas, leões marinhos e cetáceos) associados a um morbilivírus (provavelmente o vírus da cinomose – CDV) foram relatados nos mares Mediterrâneo e Cáspio. O CDV, provavelmente transmitido por cães domésticos, também foi associado com doença e mortalidade de leões e hienas em uma reserva na Tanzânia e com doença em mãos-pelada e gatos nos Estados Unidos.
Na África do Sul, a raiva é mantida principalmente em cães domésticos urbanos ou rurais e, ocasionalmente, é transmitida a carnívoros selvagens (chacais), nos quais pode se manter por algum tempo.
O termo HOSPEDEIRO TERMINAL (dead end host) é utilizado para designar indivíduos de uma espécie que são infectados esporadicamente (ou acidentalmente) por um agente, mas não possuem participação relevante no seu ciclo de transmissão e manutenção na natureza. Por isso, obviamente, não podem se constituir em seus hospedeiros naturais. As razões pelas quais essas espécies não participam da cadeia de transmissão podem ser várias, incluindo o desenvolvimento de enfermidade rápida e fatal (não haveria tempo para uma excreção e transmissão significativa), a produção de níveis baixos de viremia (insuficientes para assegurar a transmissão) e incapacidade de transmitir o agente (pela razão anterior ou pela natureza da transmissão). O termo terminal se refere ao final da cadeia de transmissão e não necessariamente ao curso da enfermidade. Os bovinos, gatos e cães podem ser ocasionalmente infectados pelo vírus da doença de Aujeszky (PRV), mas não possuem papel importante na transmissão, devido ao curso rápido e fatal da doença. Situação semelhante ocorre com a raiva nessas espécies e também em humanos. Mesmo na hipótese de a raiva bovina não possuir curso rápido e fatal, dificilmente seria transmitida por essas espécies, devido à forma de transmissão (bovinos não possuem o hábito de morder outros animais). Os humanos, eqüinos e outras espécies domésticas são freqüentemente infectados pelo WNV, EEEV e WEEV, mas não possuem papel importante na transmissão. Nesses casos, os níveis e duração da viremia são geralmente incompatíveis com a transmissão por mosquitos. Em alguns desses casos, a infecção também é rápida e fatal, o que dificulta a transmissão do agente a partir do animal infectado. Casos de transmissão do WNV entre pessoas, por transfusão sangüínea, via placenta e pela amamentação já foram relatados, mas representam exceções e possuem importância epidemiológica restrita. Pessoas infectadas pelos hantavírus também não participam ativamente na transmissão do agente. Acredita-se que as espécies em que um determinado vírus cause doença
severa e mortalidade considerável não se constituam em seus hospedeiros naturais, e sim acidentais. A tendência é que os vírus não causem doença severa em seus hospedeiros naturais devido a um processo evolutivo que, eventualmente, tenha resultado em um equilíbrio na interação
agente-hospedeiro, ou seja, o desenvolvimento de doença severa nos hospedeiros desfavoreceria a manutenção desses agentes na natureza. 
 VIAS DE EXCREÇÃO
Para que ocorra a transmissão entre indivíduos, o vírus deve ser inicialmente excretado do hospedeiro infectado pela via adequada em quantidade sufi ciente. As vias pela qual o agente é excretado do organismo animal são denominadas vias de excreção (vias de eliminação) ou portas
de saída. A via de excreção de um vírus é determinada primariamente pelo seu tropismo, ou seja, pelo tecido ou órgão-alvo onde ocorre a sua replicação. Por exemplo, os vírus que replicam na mucosa das vias respiratórias são excretados pelas secreções oro-nasais e expectorações; os vírus que replicam no fígado e no trato intestinal são excretados pelas fezes. A grande maioria dos vírus pode ser excretada por mais de uma via, embora geralmente uma delas apresente maior importância em determinadas situações.
A via de excreção também determina a forma de transmissão. Os vírus que são excretados no sêmen serão transmitidos pela cópula ou pela inseminação artificial; os vírus que são excretados nas fezes provavelmente serão transmitidos pela via fecal-oral, pela contaminação de água e alimentos. Os vírus presentes no sangue e/ou na linfa provavelmente serão transmitidos por vetores ou por procedimentos iatrogênicos (agulhas e material cirúrgico contaminado).
VIAS DE EXCREÇÃO
MECANISMOS DE TRANSMISSÃO
A transferência ou transmissão do agente entre indivíduos representa o ponto chave na cadeia do processo infeccioso. O agente excretado deve ser capaz de resistir no meio ambiente o tempo necessário para encontrar e penetrar em outro hospedeiro susceptível. No entanto, ao contrário de outros microorganismos que conseguem sobreviver no meio ambiente por longos períodos, a viabilidade da maioria dos vírus fora do organismo do hospedeiro é muito limitada. Por isso, certamente, grande parte das partículas virais produzidas pelas infecções virais é inativada no meio ambiente antes de ter conseguido alcançar um novo hospedeiro.
 Em termos gerais, a transmissão dos vírus entre indivíduos pode ser horizontal ou vertical. Transmissão horizontal se refere à transmissão entre indivíduos de uma mesma geração, pela coabitação de um mesmo habitat. Transmissão vertical refere-se à transmissão do agente de um hospedeiro para os seus descendentes. A transmissão horizontal pode ser direta ou indireta. A transmissão horizontal direta pode ocorrer por contato direto ou indireto. 
A transmissão indireta pode ocorrer com a participação deveículos, por vetores ou pelo ar.
A transmissão direta por contato direto ocorre pelo contato físico entre o hospedeiro infectado e o novo hospedeiro. O contato entre mucosas, entre pele e mucosa ou entre pele e pele permite ao agente passar diretamente ao animal susceptível e pode ocorrer por mordedura (transmissão do
vírus da raiva, arenavírus entre roedores), lambedura (vírus entéricos), contato focinho-focinho (viroses respiratórias, FMDV, CDV), focinhogenitália (herpesvírus bovino tipo 1 [BoHV-1], BVDV), focinho-pele (vírus da mamilite herpética [BoHV-2]), contato pele-pele (poxvírus, papilomavírus) e pela cópula (BoHV-1, vírus do exantema coital dos eqüinos [EHV-3], PRRSV). Nessas formas de transmissão, o agente é transferido imediatamente a outro hospedeiro, assim, a sua capacidade de resistência no meio ambiente é pouco relevante para o sucesso da transmissão.
Na transmissão direta por contato indireto não ocorre contato físico entre o corpo do animal infectado e o novo hospedeiro. Nesses casos, ocorre o contato imediato entre o material contaminado recém-excretado (secreções, excreções, líquido ou membranas fetais) e uma superfície mucosa (focinho, mucosa nasal, oral e genitália) ou pele do novo hospedeiro. A diferença entre essa forma de transmissão e a transmissão indireta por veículos, descrita a seguir, é muito tênue e de difícil percepção em alguns casos. A transmissão indireta envolve a transmissão do agente por meio de objetos inanimados (denominados veículos ou fômites) ou por vetores invertebrados (insetos). Veículos ou fômites, frequentemente envolvidos na transmissão de vírus animais, incluem agulhas hipodérmicas, material cirúrgico, luvas de palpação retal, espéculos, formigas, focinheira, tatuadores, aplicadores de brinco, roupas e utensílios, instalações, equipamentos (ordenhadeiras), cochos, solo e outros. A água, leite, sêmen, subprodutos cárneos e outros alimentos contaminados com o agente também podem servir de veículos para a transmissão de agentes virais. No caso de transmissão por veículos, o sucesso da transmissão depende da capacidade de o agente preservar a sua viabilidade no meio ambiente o tempo sufi ciente para alcancar o novo hospedeiro.
A transmissão de vírus por luvas de palpação, espéculos contaminados ou equipamento de inseminação artificial também pode ocorrer (vírus da leucose bovina [BLV], BVDV, PRRSV).
Viroses respiratórias (BoHV-1, BVDV, vírus respiratório sincicial bovino [BRSV], vírus da parainfluenza tipo 3 [bPI3v]) ou cutâneas (FMDV, poxvírus, BoHV-2) podem ser transmitidas pelo contato de mucosas com cochos contaminados; viroses entéricas e hepáticas podem ser transmitidas pela via oro-fecal através da contaminação de cochos, água e alimentos. O sêmen utilizado em inseminação artificial pode servir de veículo para vários vírus (BoHV-1, PRRSV, vírus da língua azul [BTV], BVDV, PRV). O sangue contaminado, utilizado em transfusões e/ou outros procedimentos, pode transmitir agentes como o VLB, vírus da leucemia felina (FeLV) e vírus da anemia infecciosa eqüina (EIAV), entre outros. A possibilidade de transmissão por veículos é maior para os vírus que possuem grande capacidade de resistência no meio ambiente. O FMDV
é um exemplo de agente que possui grande capacidade de disseminação por meio de veículos (sapatos, roupas, utensílios, alimentos etc.). 
A transmissão por aerossóis a curtas distâncias pode ocorrer para os vírus que replicam na cavidade oronasal e anexos (vírus da influenza, vírus da bronquite infecciosa das aves [IBV], vírus da laringotraqueíte infecciosa [ILTV], BoHV-1, CDV, vírus da Doença de Newcastle [NDV]).
O termo iatrogênico se refere à transmissão de agentes por procedimentos médicos e/ou relacionados com a saúde animal. Os retrovírus animais (BLV, EIAV, vírus da imunodeficiência felina [FIV]), além de outros vírus que produzem viremia (BVDV, BTV) podem ser transmitidos por agulhas, material cirúrgico ou outros equipamentos contaminados (p. ex.: tatuadores, aplicadores de brinco). Vários vírus sistêmicos podem ser transmitidos por transfusão de sangue ou derivados e também por transplante de órgãos. Vários vírus animais são transmitidos pela picada de artrópodes (insetos), denominados genericamente vetores. Dependendo de sua participação na transmissão, os vetores artrópodes podem ser classificados em vetores biológicos e mecânicos. Na maioria dos casos, os insetos possuem um papel mais amplo do que simplesmente transferir o agente entre hospedeiros, ou seja, são susceptíveis à replicação e amplificação do vírus em seus tecidos, eventos que ocorrem após a sua contaminação e que são necessários para que ocorra a subseqüente transmissão a outro hospedeiro. Por isso são chamados de vetores biológicos. Exemplos de vírus transmitidos primariamente por mosquitos são os vírus das encefalites eqüinas (EEEV, WEEV e vírus da encefalite venezuelana [VEEV]), o WNV, o vírus da dengue e febre amarela (YFV), além de vários buniavírus. Os culicóides transmitem o BTV, carrapatos transmitem o ASFV, entre outros. Os vírus transmitidos primariamente por insetos são chamados genericamente de arbovírus (arthropod-borne viruses). Além dos arbovírus, outros agentes virais podem ocasionalmente ser transmitidos por essa via. Nesses casos, a transmissão por insetos é apenas uma das formas de transmissão – geralmente não a principal – e, por isso, possui importância epidemiológica limitada (p. ex.: BLV). Alguns vírus podem ser transmitidos por insetos, de forma mecânica, pela simples contaminação de partes de seu corpo (probóscide, asas) (p. ex.: vírus da mixomatose, poxvírus, BLV, BoHV-2). Por outro lado, os tabanídeos e as moscas do estábulo transmitem mecanicamente o EIAV, e esta é a principal forma de transmissão do vírus. Transmissão mecânica por alguns insetos também pode ocorrer no ciclo natural do VEEV. Nesta infecção, no entanto, os insetos desempenham preponderantemente o papel de vetores biológicos. No caso de transmissão mecânica, os vetores não são susceptíveis à replicação do agente, desempenhando apenas um papel mecânico na transferência do agente entre hospedeiros. Por isso são denominados vetores mecânicos. Pela analogia de função, os vetores mecânicos são ocasionalmente referidos como “agulhas voadoras”. A transmissão aérea pelo transporte de gotículas e/ou partículas contaminadas a longas distâncias tem sido demonstrada em algumas viroses. Gotículas em aerossóis (ou partículas dessecadas) podem ser resultado de espirro e/ou tosse em viroses respiratórias (influenza) ou de aerossolização/dessecação de urina (hantavírus) ou fezes (enterovírus). Essa forma de transmissão somente é possível para os agentes que apresentam grande resistência no meio ambiente. Já foi demonstrado que o FMDV pode se disseminar por vários quilômetros, dependendo das condições de umidade do ar e ventos. No entanto, sabe-se que a maioria dos vírus, principalmente os respiratórios, só se dissemina pelo ar a pequenas distâncias. A infecção por hantavírus em humanos ocorre freqüentemente pela inalação e/ou deposição conjuntival de partículas de poeira oriundas de solo contaminado pela urina de roedores portadores. Os poxvírus, por causa de sua grande resistência ambiental, também podem ser transmitidos por via aérea.
A TRANSMISSÃO VERTICAL de um vírus pode ocorrer de várias formas. Certos retrovírus aviários e murinos são capazes de integrar o seu genoma no cromossomos dos gametas (vírus da leucose aviária [ALV], retrovírus murinos). Esse tipo de transmissão é denominada TRANSOVARIANA. Essa forma de transmissão também ocorre com alguns vírus nos vetores artrópodes (p. ex.: a fêmea do mosquito Aedes aegypty transmite o vírus da dengue aos ovos e larvas; esse tipo de transmissão também ocorre com o ASFV em carrapatos). Outros vírus são transmitidos através da placenta (transmissão transplacentária), resultando em infecção fetal com conseqüências diversas (BVDV, BLV, PRRSV, parvovírus suíno [PPV], entre outros). A transmissão que ocorre nas proximidades e/ou duranteo parto é denominada de PERINATAL (herpesvírus canino [CHV], PRV, FIV). A transmissão pelo colostro e/ou leite contaminado (vírus da artrite-encefalite caprina [CAEV], maedi-visna, VLB) também é considerada uma forma de transmissão vertical se envolver mãe e filho.
A maioria dos vírus pode ser transmitida por mais de uma forma, embora geralmente uma delas desempenhe um papel epidemiológico mais importante em cada situação.
 VIAS DE PENETRAÇÃO
Após ser excretado e transportado (se for o caso), o vírus deve penetrar no novo hospedeiro pela via adequada para que possa estabelecer a infecção. Os sítios por onde os vírus penetram no hospedeiro são denominados vias de penetração (ou portas de entrada). A via de penetração de um agente é determinada primariamente pelo mecanismo de transmissão. Assim, os vírus transmitidos por água e alimentos contaminados provavelmente irão penetrar pela via oral; os vírus transmitidos por vetores artrópodes irão penetrar através de orifícios (picadas) na pele; os vírus transmitidos pelo sêmen irão penetrar na mucosa genital feminina. A maioria dos vírus pode utilizar mais de uma via de penetração, dependendo da via de excreção e do mecanismo de transmissão; poucos vírus utilizam uma única via de penetração.
 AS PRINCIPAIS VIAS DE PENETRAÇÃO DE AGENTES VIRAIS NOS SEUS HOSPEDEIROS SÃO:
– MUCOSA RESPIRATÓRIA: vírus respiratórios (vírus da infl uenza, rinovírus, BoHV-1, NDV);
– MUCOSA CONJUNTIVAL: adenovírus, hantavírus, alguns herpesvírus;
– MUCOSA OROFARÍNGEA: CDV, FMDV, vírus sistêmicos;
– MUCOSA INTESTINAL: enterovírus, coronavírus, rotavírus;
– PELE: BoHV-2, poxvírus, papilomavírus, arbovírus (pela picada de insetos);
– MUCOSA GENITAL: BoHV-1, PRRSV, EHV-3, além de agentes virais veiculados pelo sêmen.
 O NOVO HOSPEDEIRO
A simples penetração do agente no organismo de um animal não assegura o desenvolvimento da infecção. Para que isso ocorra, o hospedeiro deve ser susceptível ao agente. O termo susceptibilidade refere-se ao conjunto de condições apresentadas pelo hospedeiro para permitir a multiplicação do vírus. O termo resistência refere-se ao conjunto de barreiras que o organismo oferece para impedir ou limitar a infecção. A susceptibilidade e resistência são características individuais e podem variar com vários fatores, tais como: espécie, raca, sexo, idade, exposição prévia ao agente, estado nutricional e fisiológico, entre outros. O termo refratariedade, por outro lado, refere-se a um grau absoluto de resistência, que é característico da espécie animal. Por exemplo, a espécie canina é naturalmente refratária ao vírus da imunodefi ciência humana (HIV); assim como os eqüinos são refratários ao FMDV. Os fatores que determinam a susceptibilidade
(e resistência) de uma espécie animal a um determinado vírus são múltiplos e, em muitos casos, não são completamente conhecidos. Nesse sentido, deve-se fazer uma distinção entre susceptibilidade natural e susceptibilidade experimental. Algumas espécies não são naturalmente infectadas por um determinado agente, mas podem ser infectadas experimentalmente. Como exemplo, citam- se: a) os coelhos, que não são infectados naturalmente pelo BoHV-1 e BoHV-5, mas podem ser infectados experimentalmente, desenvolvendo a enfermidade; b) animais de laboratório (cobaias, coelhos, camundongos e ratos), que podem ser infectados experimentalmente por uma variedade de vírus humanos e animais, embora a infecção natural por esses agentes nessas espécies não tenha sido descrita. Essa característica tem sido explorada para estudos de patogenia e outros aspectos da biologia desses agentes. É provável que a resistência à infecção natural (ou a ausência de casos de infecção natural) de algumas dessas espécies deva-se à falta de oportunidade de infecção mais do que à resistência propriamente dita, ou seja, é possível que algumas dessas espécies poderiam ser infectadas também in vivo, desde que providas as condições necessárias para tal (p. ex.: contato apropriado com animais que estejam excretando o vírus e penetração do agente pela via adequada).
PATOGENIA E RESPOSTA IMUNOLÓGICA
Após a penetração no hospedeiro susceptível, o vírus deve replicar próximo ao local de entrada (geralmente nas células epiteliais e/ou no tecido linforreticular adjacente) para produzir progênie suficiente para ultrapassar as defesas do hospedeiro. Dependendo das interações entre o agente e o hospedeiro, a infecção pode ou não resultar em manifestações clínicas. Os mecanismos pelos quais os agentes infecciosos produzem doença em seus hospedeiros são considerados sob a denominação de patogenia ou patogênese (pato = doença, genesis = origem, formação). O conjunto de respostas do hospedeiro à infecção vírica (resistência natural e adquirida) é denominado genericamente de resposta imunológica. Os mecanismos gerais da patogenia e da resposta imunológica às infecções víricas foram tratados de forma geral nos Capítulos 8 e 9, respectivamente, e, especifi camente, nos capítulos de cada família. Abaixo são relacionados alguns termos relacionados com a patogenia. 
O período de incubação de uma infecção é o intervalo de tempo entre a penetração do agente e o início dos sinais clínicos. A sua duração varia de acordo com fatores do vírus (espécie, cepa, dose, virulência etc.) e do hospedeiro (espécie animal, condição nutricional e imunológica, via de inoculação etc.) e pode variar entre poucos dias (febre aftosa, influenza), meses, até anos (leucose bovina). Quando a infecção for subclínica, o período de incubação pode ser infinito.
O PERIODO PRÉ-PATENTE é o intervalo de tempo entre a penetração do agente e o início da excreção viral pelo hospedeiro. Depende principalmente da duração do ciclo replicativo do vírus e pode ser de horas, poucos dias (vírus respiratórios, FMDV) até semanas ou meses (alguns gamaherpesvírus).
O período patente, também chamado de período de transmissibilidade ou comunicabilidade é a fase da infecção em que o agente é excretado e, portanto, pode ser transmitido. Em infecções agudas clínicas, a duração da excreção do vírus coincide razoavelmente com o período clínico, podendo iniciar horas ou poucos dias antes e estender-se por algumas horas ou alguns dias após. Em infecções persistentes por retrovírus, o agente pode ser excretado por um longo período (até anos) antes do aparecimento de sinais clínicos. Em outras infecções (PRRSV, ILTV, vírus da arterite eqüina [EVAV], CAV, alguns coronavírus), os hospedeiros podem continuar excretando o vírus por longo períodos após o término das manifestações clínicas.
 MECANISMOS DE MANUTENÇÃO DOS VÍRUS NA NATUREZA
A sobrevivência dos vírus na natureza depende da sua capacidade de cumprir sequencialmente as etapas da cadeia do processo infeccioso. A incapacidade da maioria dos vírus de resistir por longo tempo no meio ambiente os obriga a utilizar diferentes estratégias para prolongar e perpetuar a sua existência. Infecções persistentes ou latentes, longos períodos de replicação e excreção, longos períodos de incubação, infecção de várias espécies animais e/ou de insetos, e transmissão aos descendentes (transmissão vertical) estão entre as estratégias utilizadas pelos vírus para se perpetuar na natureza. Não obstante, as partículas víricas de diversos vírus são relativamente estáveis, podendo persistir viáveis por períodos consideráveis no meio ambiente. Muitos vírus utilizam uma combinação de mais de uma dessas estratégias para conseguir se perpetuar na população. Outros vírus não utilizam nenhuma dessas estratégias e só conseguem se manter na natureza por meio de infecções agudas sucessivas.
 Infecções persistentes
As infecções persistentes, acompanhadas ou não de manifestações clínicas, constituem-se em importantes meios de manutenção de vários agentes virais na natureza. Durante o período de infecção – que pode durar toda a vida do animal – o vírus fica disponível no organismo do animal
e pode ser excretado de forma contínua ou intermitente, podendo infectar outros animais e, assim,alimentar a cadeia do processo infeccioso (Figuras 10.8 e 10.9). Alguns vírus são excretados – ou ficam disponíveis no organismo para serem transmitidos – continuamente a partir do final do período pré-patente. Exemplos são as infecções pelos retrovírus animais, pelo BTV, papilomavírus (persistem nas lesões) e calicivírus felino (FeCV). Bezerros infectados intra-uterinamente pelo BVDV podem nascer portadores e excretar o vírus por toda a vida. Outros vírus podem ser excretados por longos períodos após a infecção aguda (PRRSV, EVAV, CAV, alguns coronavírus). Por outro lado, alguns tipos de persistência apresentam um papel pouco relevante do ponto de vista epidemiológico, pois o vírus não é excretado. Por exemplo, a infecção persistente pelo
CDV no SNC de cães adultos geralmente não é acompanhada de excreção viral. Da mesma forma, alguns bovinos previamente imunizados contra o FMDV e posteriormente infectados, assim como bubalinos infectados pelo FMDV, podem fi car portadores do vírus após a infecção primária, embora a sua capacidade de transmitir o agente para outros hospedeiros ainda seja questionável.
Infecções latentes
Animais infectados pelos alfaherpesvírus (BoHV-1, BoHV-5, PRV, EHV-1), entre outros, excretam o agente por alguns dias durante a infecção aguda, mas a replicação viral eventualmente cessa devido à resposta imunológica do hospedeiro. Esses animais, no entanto, ficam portadores do agente na forma latente para o resto da vida. A infecção latente se caracteriza pela presença do genoma viral inativo, principalmente em neurônios de gânglios nervosos, sem a expressão de proteínas e/ou produção de partículas virais. Esporadicamente, a infecção latente pode ser reativada por situações de estresse, resultando em replicação e excreção viral. O vírus excretado durante os eventos de reativação pode, então, ser transmitido a outros animais. Os episódios de reativação e excreção podem se repetir periódica e indefinidamente durante a vida do animal, proporcionando inúmeras ocasiões para a transmissão do agente. Assim, as infecções latentes e suas reativações periódicas se constituem em meios efi cientes de perpetuação e disseminação desses vírus na natureza e representam o principal obstáculo para o estabelecimento de medidas de combate contra essas infecções. Por isso, a capacidade de estabelecer infecções latentes possui um papel central e fundamental na epidemiologia das infecções pelos alfaherpesvírus. 
 INFECÇÃO DE VÁRIAS ESPÉCIES ANIMAIS
Ao contrário de alguns vírus que possuem um espectro de hospedeiros restrito (infectam uma única espécie animal), vários outros agentes virais podem infectar mais de uma espécie, o que representa uma vantagem em sua estratégia de sobrevivência. Alguns exemplos clássicos são a maioria dos alfavírus (Togaviridae), alguns rabdovírus (vírus da estomatite vesicular, VSV) e fl avivírus, que podem infectar uma variedade de espécies de aves e mamíferos.
 O vírus da influenza A, por meio de mutações/adaptações, também pode infectar várias espécies de aves domésticas e silvestres, além de mamíferos (Figura 10.12); o VSV pode infectar várias espécies de mamíferos. O WNV é capaz de infectar naturalmente mais de 180 espécies de vertebrados,
incluindo pássaros e outras aves silvestres e domésticas (mais de 150 espécies) e mamíferos.
A infecção alternada dessas espécies pode favorecer a permanência do agente no ecossistema. Além dos vírus que usualmente infectam mais de um hospedeiro como parte de seu ciclo natural, outros podem, ocasional ou acidentalmente, infectar outras espécies. Nesses casos, o hospedeiro acidental não participa da cadeia de transmissão o agente. A transmissão de vírus entre os reservatórios silvestres e destes para a espécie hospedeira principal pode ocorrer por vários mecanismos e, freqüentemente, envolve a participação de vetores artrópodes. Em geral, considera-se que quanto maior o espectro de hospedeiros susceptíveis, mais favorecida será a sobrevivência do agente na natureza. No entanto, isso não impede que vírus que infectem naturalmente apenas uma espécie – e os exemplos são numerosos – consigam se manter indefinidamente nas respectivas populações.
 SOBREVIVÊNCIA NO AMBIENTE
Os vírus necessitam células vivas para se multiplicar e a maioria deles não é capaz de resistir por muito tempo no meio ambiente. A sua resistência no ambiente depende da estabilidade física da partícula viral e das condicões ambientais (temperatura, umidade, radiação solar). Os vírus sem envelope geralmente são capazes de resistir por mais tempo fora do hospedeiro (parvovírus, FMDV, enterovírus, adenovírus), embora alguns vírus envelopados (poxvírus, mixomavírus) também possam resistir por períodos consideráveis. Já foi demonstrado que o parvovírus canino (CPV) pode permanecer viável no ambiente, desde que protegido por material orgânico, por períodos de até seis meses. O parvovírus suíno (PPV) também pode resistir durante dias ou semanas em fezes e/ou em membranas e restos fetais. O parapoxvírus, agente do ectima contagioso de ovinos, pode permanecer viável durante meses nas crostas que se desprendem das lesões labiais dos animais afetados. O circovírus suíno (PCV) também pode permanecer viável por dias ou até semanas no ambiente. A contaminação de água, alimentos, solo, pastagens e mesmo de insetos pode servir de meio para transmissão desses agentes. Os vírus com envelope – especialmente aqueles que causam infecções respiratórias – são geralmente mais instáveis e, por isso, são mais rapidamente inativados por fatores físicos e/ou químicos ambientais. Os poxvírus estão entre os vírus envelopados com maior resistência ambiental. Embora possam resistir no ambiente por períodos consideráveis e, assim, ser transmitidos de forma indireta, esses vírus são frequentemente transmitidos por contato direto ou indireto, ou seja, a transmissão indireta após um período de sobrevivência no ambiente representa uma estratégia adicional para assegurar a sua transmissão ao novo hospedeiro e perpetuação na população. 
TRANSMISSÃO VERTICAL
A transmissão ao feto e/ou ao recém-nascido constitui-se em um importante mecanismo de prolongamento da existência de vários vírus animais. Os retrovírus, arenavírus, alguns herpesvírus, parvovírus e alguns togavírus são frequentemente transmitidos aos fetos/neonatos. Em alguns desses vírus (retrovírus e arenavírus), os fetos ou recém-nascidos infectados tornam-se portadores e servem de fontes contínuas e permanentes de infecção. Uma forma especial de perpetuação por esse mecanismo é descrita para o BVDV, um pestivírus (família Flaviviridae) de ruminantes. A infecção de fetos bovinos entre os 40 e 120 dias de gestação frequentemente resulta na produção e nascimento de bezerros imunotolerantes, persistentemente infectados (PI). Os bezerros PI podem ser clinicamente saudáveis (embora freqüentemente apresentem crescimento retardado e susceptibilidade aumentada a outras doenças) e excretam o vírus em secreções e excreções em grandes quantidades durante toda a vida. Os animais PI representam o principal meio de perpetuação do BVDV na natureza, servindo de fonte de vírus para as infecções agudas e outras infecções fetais persistentes. As infecções fetais que resultam em morte fetal e abortamento possuem um menor impacto epidemiológico, ainda assim os restos fetais (feto, fluidos, membranas) ou objetos inanimados contaminados podem servir de veículos para a transmissão do agente e facilitar a sua diseminação.
 CICLOS CONTÍNUOS DE TRANSMISSÃO
As estratégias mencionadas acima são características de famílias ou de grupos de vírus e representam vantagens evolutivas que favorecem a perpetuação desses agentes na natureza. No entanto, alguns vírus que não utilizam essas estratégias também são capazes de se manter indefinidamente nas populações. Como não são capazes de persistir por longos períodos no hospedeiro (infecção latente ou persistente) ou de infectar vetores ou outras espécies animais, e não resistem por muito tempo no ambiente,a sobrevivência desses vírus depende da infecção seqüencial, imediata e contínua de novos hospedeiros de uma única espécie. Isso requer condições epidemiológicas específicas, que incluem a presença constante de um percentual alto de hospededeiros susceptíveis e condições de convivência que favoreçam o contato freqüente e, assim, a sua transmissão entre indivíduos. 
Os vírus que causam infecções agudas são geralmente excretados por secreções oronasais (vírus respiratórios) ou pelas fezes (vírus entéricos) em altos títulos durante um curto espaço de tempo. Essas características, aliadas com a disponibilidade de hospedeiros susceptíveis e facilidade de contato, permitem a transmissão contínua e o prosseguimento da cadeia infecciosa. Exemplos de vírus que se mantêm dessa forma são: o CDV, os vírus respiratórios (bPI3v, NDV, BRSV), corona e rotavírus bovino, vírus da infl uenza (transmissão dentro da espécie). Não obstante, vários vírus que são capazes de utilizar as outras estratégias também podem ser mantidos por períodos longos por meio de ciclos contínuos de transmissão.

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