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Resumo: 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. GOHN, Maria da Gloria. 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. Revista Mediações, 5 (2000), 11-40

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Escola Superior da Amazônia
PÓS-GRADUAÇÃO
Disciplina: Terceiro Setor, Voluntariado, Responsabilidade Social e Empresarial.
Professora: Msc. Elane Pantoja
500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor.
GOHN, Maria da Gloria.
500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. Revista Mediações, 5 (2000), 11-40.
Resumo realizado por: Fc.ª L. Pimentel Oliveira
Em 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor, Maria da Glória Gohn, professora da Faculdade de Educação da Unicamp e referência no estudo dos movimentos sociais, como ela mesma afirma que o conceito de: 
“Movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.” (GOHN, 2000, pag. 13).
 A autora reforça o conceito dos estudos sobre os movimentos populares que surgem de um coletivo social, onde divide uma identidade voltada à experiência e o histórico em comum, que traz um conjunto de práticas sociais, a partir de situações conflituosas em busca de mudanças e conquistas, vivenciadas em um cenário antagônico. Em geral: “Os movimentos sociais se expressam através de um conjunto de práticas sociais nas quais os conflitos, as contradições e os antagonismos existentes na sociedade constituem o móvel básico das ações desenvolvidas”. (GOHN, 1985, p 46).
Na tentativa de clarificar, Gohn refere-se à multiplicidade e complexidade das interpretações desses movimentos. Afirma, ainda, que no mundo globalizado há dois "modelos" de análise: um culturalista (enfatizando os movimentos sociais), e outro classista (enfatizando mais as estruturas econômicas, as classes sociais e os conflitos de classes). A autora acrescenta:
”Defendemos uma terceira posição, que destaca a importância da cultura na construção da identidade de um movimento social, mas concebe os movimentos segundo um cenário pontuado por lutas, conflitos e contradições, cuja origem está nos problemas da sociedade dividida em classes, com interesses, visões, valores, ideologias e projetos de vida diferenciados.” (GOHN, 2000, p.11)
Para a autora é necessário à distinção de grupos de interesses, a fim de, definir o conceito de movimento social. Ou seja, o movimento social surge de um coletivo social, que são ações de grupos organizados, que têm o mesmo objetivo de mudança nas instituições da sociedade, ou ainda, em defesa dessas mesmas instituições. Opondo-se aquilo que é estático, podendo ser compreendida de forma ampliada ou restrita. Localizados em espaços em comum (coletivos), não estatais, fundamentados por “fatores carências, legitimidade da demanda, poder político das bases, cenário conjuntural do país darão a força social de um movimento, gerando o campo de forças do movimento”.
Em relação aos movimentos e classes sociais no Brasil, Maria da Glória Gohn enfatiza as formas de lutas e movimentos sociais a dominação, a exploração econômica e contra a exclusão social, aponta que não é um problema somente contemporâneo ele vem desde o Brasil colônia. Gohn nos mostra que os movimentos e lutas sociais no Brasil colônia eram registrados por negros, índios, escravos, plebe e pobres. Por tanto, a história do Brasil é marcadas por lutas e revoltas coletivo-populares, desde o século XVI com a Confederação dos Tamoios (1562), percorrendo pela Insurreição Pernambucana (1645), até a Inconfidência Mineira (1789), Canudos (1896), a Revolução Constitucionalista de 1932. 
A autora frisa que a partir do período de industrialização a sociedade artesã tornou a ser intensamente industrial. Onde se depararam com formas de trabalhos insalubres e sem nenhum tipo de direitos, ocorrendo inchaço populacional e surgindo vários problemas sociais como falta de saneamento, escola, emprego, moradia, doenças, desvalorização do trabalho humano e outros. A partir desse cenário a autora expõe que ocorreram revoltas e movimentos da população reivindicando serviços urbanos, melhorias nas condições de trabalhos e protestações contra políticas locais. Expõe que a ação do estado frente à questão social era de polícia, e que o estado promulga uma serie de leis entre elas a legislação trabalho conquistada através de grandes lutas da classe trabalhadora. Gohn acrescenta que “o período entre 1945 e 1964 entrou para a história como a fase populista; ele foi bastante fértil em termos de lutas e movimentos sociais”,
Relata ainda que, outros grandes acontecimentos ocorridos na historia com relação aos movimentos foi em 1964 com o golpe militar, pondo fim a todo e qualquer mobilização e organização popular, sendo que esse cenário permaneceu entre 1964 e 1969 com poucos relatos de movimentos de resistências, permanecendo até 1985 com o enfraquecimento ditatorial e mais a frente, o Impeachment do ex-presidente Fernando Collor em 1992. Os movimentos sociais no Brasil têm um histórico marcado por grandes embates e lutas realizadas em direção opostas aos governos autoritários e luta pela democracia e liberdade.
Nesse viés, O período da Ditadura Militar no Brasil provocou um tempo propício para a efervescência dos movimentos sociais, visto que, nas Universidades as inserções e consolidação dos cursos de Ciências Sociais com a reforma pedagógica dos cursos possibilitaram um pensamento mais crítico, frente à interpretação de nossa realidade. Os estudantes, com um entendimento da situação junto à indignação dos demais indivíduos que não aceitavam esse modelo de governo ditatorial, formaram uma massa civil no combate organizado, e a resposta do governo militar foi sempre firme no sentido de reprimir tais manifestações, com tortura, violência e alcançou seu auge com o famoso AI-5 (Ato Institucional número 5), que vigeu de 1968 a 1979.
Sobre a posição dos movimentos sociais neste contexto, Gohn (2011, p. 23) considera o quanto é inegável “que os movimentos sociais dos anos 1970/1980, no Brasil, contribuíram decisivamente, via demandas e pressões organizadas, para a conquista de vários direitos sociais, que foram inscritos em leis na nova Constituição Federal de 1988”. O movimento de contestação e protesto ao regime militar tinha uma finalidade clara: defesa dos valores do Estado democrático e crítica a toda forma de autoritarismo estatal, tendo como marco histórico, sociopolítico brasileiro as Diretas Já em 1984.
“Mas a crise internacional do capitalismo globalizado já havia se espalhado pelo planeta e atingiu o Brasil nos anos de 1990”, nesse cenário “as camadas médias tiveram um peso decisivo no apoio ao regime político prevalecente. O plano de estabilização econômica lastreado no Real e na quase paridade com o dólar americano, vigente de julho de 1994 a janeiro de 1999, fundamentou as expectativas de mudanças em direção à modernidade, um valor básico para aquelas camadas”, afirma Maria da Glória Gohn.
A população em busca de uma participação efetiva, por direitos e por políticas que os afetam diretamente, partiu da premissa que a própria Constituição Federal de 1988 traz, "[...] abriu espaço, por meio de legislação específica, para práticas participativas nas áreas de políticas públicas, em particular na saúde, na assistência social, nas políticas urbanas e no meio ambiente” (AVRITZER, 2009, p. 29-30), seja através de referendos, plebiscitos e projetos de lei de iniciativa coletiva-popular (art. 14, incisos I, II e III; art. 27, parágrafo 4º; art. 29. Incisos XII e XIII), seja através da participação na gestão das políticasde seguridade social (art. 194), de assistência social (art. 204) ou dos programas de assistência à saúde da criança e do adolescente (art. 227).
Na década de 90 no Brasil, em um panorama político neoliberal, houve a necessidade de novas formas de associativismo e a implementação do terceiro setor. No processo histórico, o terceiro setor teve inicio nos estados unidos na década de 50, onde o estado não estava dando conta de suprir suas necessidades. Sua origem vem de diversos canais como: igrejas, associações comunitárias, ONGs... Caracterizados por serem instituições sem fins lucrativos, filantrópicos e voluntários, pensando na caridade e doações. Aos olhos do governo essas instituições eram vistas como uma ameaça para a democracia.
Na década de 70, surge um novo termo onde foi consolidado em 78 nos Estados unidos por Jhon D. Rockefeller, o chamado “Terceiro Setor” e para Gohn:
“(...) o entendimento do terceiro setor é também nosso postulado fundamental: trata-se de um fenômeno complexo, diferenciado e contraditório. Ele tem gerado um tipo de associativismo que atua no nível do poder local e suas organizações se definem com fins públicos sem fins lucrativos. A natureza do terceiro setor foi construída nos últimos anos a partir de transformações no campo das ONGs, dos movimentos sociais e das associações filantrópicas e comunitárias.” GOHN (2000).
O terceiro setor começa a ser reconhecido e visto como luta de classe forte, interesses dos grandes capitalistas, a partir de então viram que o terceiro setor seria algo de grande importância e total influência na vida social sendo estudado pelos economistas como forma de aparato no desenvolver da questão social e econômica.
Destaca-se, que o crescimento do terceiro setor neste final de milênio é um fenômeno do mundo ocidental, e não apenas dos países do terceiro mundo, sendo que vem financiado de fora com muito dinheiro pelos organismos internacionais e visto como uma promessa de desenvolvimento para o nosso país, também chamado de país de terceiro mundo, já tem sido considerado como um novo setor da economia social afirma Drucker (1994).
O terceiro setor também reconhecido como setor privado, começa a ser muito importante entrando com força no Brasil, nesse período o setor acredita ser mais eficiente do que o estado, diz ser eficaz e começa a investir tendo como principal foco o movimento social. Nesse momento o terceiro setor leva em consideração o contexto histórico, fortalecido por uma  sociedade civil, lutando sempre por uma demanda de responsabilidade social com um papel-chave nas relações entre o estado e a sociedade, apesar de que nos anos 80, as ONGs, serem em sua grande maioria, contra o Estado.
A autora substancia a ideia de que, o terceiro Setor tem um papel importante no desenvolvimento da estrutura produtiva da sociedade, estimulando o surgimento de pequenos negócios na economia informal:
”Dessa forma, a imensa rede de organizações privadas autônomas, localizadas à margem do aparelho formal do Estado, sem fins lucrativos, mobilizadora de trabalho voluntário, passou a ter uma relação íntima com as mudanças sociais e tecnológicas do final deste século, em duas direções: além de atuar na área da economia informal e gerenciar milhares de empregos voluntários, ela também começa a se fazer presente na economia formal, por meio de parcerias com cooperativas de produção que atuam com demandas terceirizadas, das empresas privadas e de programas apoiados por órgãos públicos.”
Além de atuar na área da economia informal e gerenciar milhares de empregos voluntários, também começa a se fazer presente na economia formal, por meio de parcerias com cooperativas de produção que atuam com demandas terceirizadas, de empresas privadas e de programas apoiados por órgão público.
Nesse sentido, Glória Gohn (2000, P.26) robustece:
“Enquanto organizações/empresas que atuam na área da cidadania social, o terceiro setor incorpora critérios da economia de mercado do capitalismo para a busca de qualidade e eficácia de suas ações, atua segundo estratégias de marketing e utiliza a mídia para divulgar suas ações e desenvolver uma cultura política favorável ao trabalho voluntário nesses projetos. Usa a racionalidade instrumental empírica, voltadas para as conquistas de objetivos imediatos”.
Nessa perspectiva, fazendo um resgate histórico, as ONGs articulavam-se além das fronteiras do País internacional nos anos 80. Algumas ONGs de redes internacionais juntos com as ONGs do Terceiro e com as do Primeiro Mundo vivem com fundos originários dessas redes internacionais. Sendo que no Brasil as redes internacionais juntavam-se com outras ONGs, sendo elas: sindicatos, movimentos sociais, partidos entre outros. Já nos anos 90, houve a forma de ajuda de cooperações internacionais alterando linhas gerais. Algumas ONGs do Terceiro Setor geram lucros na prestação de serviços
O Nível de Governo Federal, a contribuição estatal ao Terceiro Setor tem sido na área jurídica e com novas regras da regulamentação, com isso criaram um novo marco legal para o trabalho voluntario.
Andres Pablo Falconer (1999) corrobora com o pensamento de Gohn:
Na década de noventa, o Terceiro setor surge como portador de uma nova e grande promessa: a renovação do espaço publica o resgate da solidariedade e da cidadania, a humanidade do capitalismo e, na medida do possível, a superação da pobreza. Uma promessa realizada através de atos simples e formulas antigas, como o voluntariado e filantropia, revestidas de uma roupagem mais empresarial. Promete-nos, implicitamente, um mundo onde são deixados para trás os antagonismos e conflitos entre classes e, se quisermos acreditar, promete-nos muito mais.
Aquelas politicas que tiram operações de atividades do Estado e transferem para setores das iniciativas privadas, encontram em outras novas ONGs do Terceiro Setor, pessoas que participam do processo de intervenções que desejam implementar novas orientações. As ONGs passarão a atuar não apenas na geração de empregos e oportunidades de trabalho temporário, sem vinculo de contrato que estabelece as ligações entre empregador e empregado, mas também, no âmbito da requalificação dos trabalhadores, patrocinando cursos de curta duração para desenvolver novas realidades, para aqueles que estão sendo excluídos do mercado de trabalho ou sendo demitidos devido a programas de redução de custos.
Para tanto, as ONGs entraram para a agenda das novas politicas sociais, através do Terceiro Setor, sendo que atuarão em programas com meninas e meninos nas ruas, jovens/adolescentes em situação de risco em face do mundo das drogas entre outras, tudo isso na área da educação com campanhas e programas de educação para civilização de transito, prevenção de doenças e da AIDS etc.. Apesar de, todos os aspectos dignos de elogios das ações no combate à pobreza - é emergencial. As ações não são destinadas a acabar com os problemas em programas sociais. São atuações de caráter pontual, de curta duração, sendo que dependentes de renovações de contínuos convênios, acordos etc., dependente das verbas e fundos advindos às mesmas dependem da liberação de verbas e empréstimos. As ações de autoajuda podem vim alterando o sentido e o caráter de ações coletivas, tirando a responsabilidade do Estado para os indivíduos, na conduta assistencialista.
Atualmente, o novo associativismo do terceiro setor tem constatado algumas semelhanças com o associativismo "antigo" dos anos 70 e 80, atuando por meio de reivindicações por direitos (sociais, políticos, econômicos, culturais, por cidadania de forma geral), porém aglomerados pelo ideais da esquerda integrado às políticas neoliberais. Isso tem possibilitado, em alguns estados, cidades ou regiões, onde há propostas e gestões administrativas com visões progressistas, o desenvolvimento de espaços novos para os atores organizados institucionalmente, como nas experiências de gestão com representação popular e com o orçamento participativo, em várias cidades brasileiras. “A novidade acerca das associaçõesdas décadas de 70 e 80 é o fato de que possuem uma orientação ideológica a partir de sua concepção como organizações que visam à abertura de espaços democráticos através de uma interação direta ao nível local” (Boschi, 1987:98).
Esta nova forma de associativismo está mudando a gestão das cidades, porque a ação dos novos atores sociais tem ultrapassado os particularismos geográficos Territoriais, presentes na organização tradicional da administração da cidade e na organização das entidades populares, e tem se organizado setorialmente ao redor dos grandes eixos temáticos da cidade: saúde e saneamento, educação e cultura, trabalho e centros de geração de rendas etc. Eles praticam atividades que se dividem em serviços para a rede urbana e novas intervenções (por meio de novos instrumentos urbanísticos que procuram ser contra a exclusão social),e, para isso. Trata-se da construção de novas relações sociais fundadas em uma nova ética e numa nova cultura política, que redefine a cidadania e cria uma nova esfera pública, de controle não-estatal. E construir uma esfera pública não-estatal significa criar instituições voltadas para a produção e reprodução de políticas públicas, que não são controladas pelo Estado, mas têm um caráter indutivo, fiscalizador e controlador do Estado. (vide Genro & Souza, 1997). 
As ONGs tem sido de grande importância relacionando o comportamento dos diferentes tipos de associações, através de suas práticas sociais e, através da metodologia dos tipos ideais de Weber, compreender como se dão as relações de democracia, autonomia, participação, redes e parcerias dentro das associações.
 Muitos autores destacam que, nos anos 90, eventualmente alguns cidadãos tentam intervir nas políticas públicas, intervir no Estado, e assim originam uma nova forma de demonstrar como o Estado está sendo modernizado. 
O terceiro setor integra organizações institucionalizadas e alguns de movimentos sociais, de caráter mais assertivo e menos objeção. No entanto, muitas áreas do terceiro setor não existem sindicatos ou associações de trabalhadores, por se tratar de áreas de prestação de serviços públicos, administradas por trabalho voluntário. E quando o trabalho é assalariado, trata-se de contrato dado apenas por tempo determinado, mediante projetos específicos. Com isso, essas entidades do terceiro setor não encontram resistência de grupos organizados, corroborando em uma competição entre as entidades pelo acesso às verbas destinadas aos programas, denegrindo totalmente a natureza dos programas. 
Gohn ressalta a importância do estudo da cultura política no compreender do comportamento dos indivíduos nas ações coletivas:
”(...) é tratar dos conhecimentos que os indivíduos têm a respeito de si próprios e de seu contexto, é tratar dos símbolos e da linguagem utilizados, bem como das principais correntes de pensamento existentes. Mas é muito complicado falar em cultura política de forma isolada do contexto histórico e de outros conceitos de apoio. Isso porque cada época histórica engendra determinada cultura política, segundo os valores e crenças que são resgatados ou construídos, num universo dos temas e problemas com os quais homens e mulheres defrontam-se naquele momento histórico. Os conceitos de apoio são cidadania, direitos humanos, identidade cultural, participação sociopolítica etc.”
Dessa forma, refere-se ao conjunto de normas, atitudes crenças e valores políticos partilhados pela maioria dos membros de uma determinada sociedade ou nação. Além disso, o regime político ou o tipo de sistema em vigor em um determinado país, incluindo as instituições políticas existentes, também integram o conceito de cultura política.
Nessa acepção, a autora toma como referência os estudos de Thompson (1979) e Bobbio et a\. (1991), (Gohn, 1997a, p.259) Bobbio et a!. (1991, p.306) definiram cultura política como "o conjunto de atitudes, normas e crenças mais ou menos partilhadas pelos membros de uma determinada unidade social". Os autores destacam ainda que não devemos ver a cultura política como algo homogêneo; ela é composta por um conjunto de subculturas presentes nas atitudes, normas, valores etc.
Com enfoque nas mídias e redes sociais, Glória Gohn aborda a influencia que essa forma de comunicação em massa, obriga estudiosos da área a se aprofundar o aprendizado dos códigos linguísticos e audiovisuais de forma a compreender a realidade virtual, a cultura política passa a ser vista como "um conjunto de códigos que permite o estabelecimento de relações políticas entre indivíduos e grupos, e que, portanto, tem a ver com a dimensão subjetiva da vida pública e com a interpretação e produção de sentido”. Visto que a definição de cultura política tem sido abordada em vários ângulos, não somente as herdadas, historicamente, mas também, apreendidas, 
“Os indivíduos escolhem, optam, posicionam-se, recusam-se, resistem ou alavancam e impulsionam as ações sociais em que estão envolvidos segundo a cultura que herdaram do passado e na qual estão envolvidos no presente. Eles criam novos repertórios discursivos a partir da fusão/confrontação: passado e presente.” (GOHN, 2000).
A sinopse de Gohn se deslumbra em duas palavras: exclusão e participação:
”(...) independente da forma como denominamos o processo de exclusão social, com a economia globalizada este final de século se encerra com grandes mudanças no mundo do trabalho, e essas mudanças estão afetando todo o modo de vida das pessoas. As leis que estão sendo revistas fazem parte de um sistema de seguridade social, previdenciária, estatal, fruto de séculos de lutas e conquistas dos trabalhadores. A origem do processo de exclusão é dada por três ordens básicas de fatores: pelas inovações tecnológicas que eliminam determinadas profissões ou funções na cadeia produtiva; pelas reengenharias administrativas no mercado de trabalho, reduzindo cargos, hierarquias e funções; e pelas reformas estatais nas leis do país que possibilitam a flexibilização e a desregulamentação do sistema de normas e contratos sociais.” (GOHN 2000)
A Exclusão Social sinala um processo de afastamento e privação de determinados indivíduos ou de grupos sociais em diversos âmbitos da estrutura da sociedade. Trata-se de uma condição relativa ao capitalismo contemporâneo, ou seja, essa problemática social foi estimulada pela estrutura desse sistema econômico e político. E no que se refere à participação:
“Resulta disso tudo um cenário contraditório onde convivem a busca da integração mediante a participação comunitária e a busca de transformação social através da mudança dos eixos, diretrizes e modelo de desenvolvimento que têm sido dados à sociedade brasileira até o momento pelas atuais políticas públicas nacionais.” (GOHN, 2000).
Em suma, para Glória, os movimentos sociais são, acima de tudo, instituições aptas em aprender sobre o mundo e sobre si, revendo e alterando suas demandas, propostas e parcerias, sendo “necessário boas análises para armar estratégias políticas viáveis segundo a correlação de forças políticas presentes na conjuntura.”
 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CHIAVENATO, Júlio J. As lutas do povo brasileiro. São Paulo: Moderna, 1988.
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