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Filosofia und 1 tp 2

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Unidade 1: Tópico 2
Introdução: A Filosofia e o ofício do filósofo
No final do tópico anterior, foi caracterizada uma difícil passagem que marcava, em linhas gerais, a figura do filósofo. Vamos ao longo dos demais tópicos tentar interpretar o trecho citado na medida em que ele se mostra necessário.
Foi exposto anteriormente que a Filosofia é a busca por uma sabedoria que reconhecemos não ter. O movimento da reflexão, que constitui essa busca, precisa contar sempre com a consciência desse precioso reconhecimento: não sabemos. E porque não sabemos, perguntamos, colocamo-nos a pensar, procuramos por respostas.
O filósofo teorizava sobre todos os assuntos, procurando responder não só ao porque das coisas, isto é, porque as coisas acontecem de um jeito ou do outro, mas, também, como as coisas ocorrem. Ao salientar a poesia de Fernando Pessoa que interpretamos no tópico anterior, é ter o “pasmo essencial”, isto é, é estar em uma atmosfera de estranheza, de novidade frente ao mundo que se manifesta para cada um. A partir do fragmento do professor Fogel, “(...) Qualquer alteração disso aparece como uma violação, uma transgressão e, por isso, uma perda, uma descaracterização, um esvaziamento da própria coisa. ” Isso significa que o filósofo se concentra em perceber como as coisas o espanta, como as coisas e fenômenos o tocam, chamam sua atenção. Seu ofício é justo descobrir como e porque as coisas despertam nele certo espanto.
Na antiguidade clássica, por exemplo, pensadores como Euclides de Alexandria (300 - ? desconhecido, a.C.), Tales de Mileto (623-556 a.C., aproximadamente) e Pitágoras de Samos (571-500 a.C.) são filósofos e se dedicavam ao estudo da geometria. Aristóteles (384-322 a. C.), por sua vez, debruça-se sobre os problemas físicos e astronômicos, na medida em que esses problemas interessam à cultura e a sociedade de sua época. Deseja-se chamar a atenção ao fato de que aquilo que era banal outrora foram os filósofos que primeiramente se dedicaram a sua resolução.
Com o advento da modernidade, notadamente a partir do século XVII, com Galileu Galilei (1564-1642) e o aperfeiçoamento do método científico, fundado na observação, experimentação e na calculabilidade matemática dos resultados, que a ciência começou a se constituir como uma forma específica
de abordagem do real e a se apartar da Filosofia, transformando-se, portanto, em saberes isolados como a exemplo da física, da química, da biologia, dentre muitas outras.
Pouco a pouco apareceram as ciências particulares que investigam a realidade sob pontos de vista específicos: à física interessam os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações das substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os mecanismos do funcionamento da mente humana, à sociologia, a organização social, etc.
O conhecimento é fragmentado entre as várias ciências, já que cada uma delas se ocupa somente de uma pequena parte do real. A Filosofia, por sua vez, pensa todas essas partes da realidade. Entretanto, em vez de fragmentá-la em conhecimentos particulares, o filósofo interpreta o real entendendo como uma totalidade de fenômenos, ou seja, considera a realidade a partir de uma visão de conjunto, uma visão mais “global”. Qualquer que seja o problema, a situação, enfim, a reflexão filosófica considera cada um de seus aspectos, relacionando-o ao contexto dentro do qual ele se insere restabelecendo a integridade do universo humano.
Por isso Fogel escreveu que o filósofo “(...) é capaz de uma longa espera”, pois ele amadurecerá seus pensamentos até aprofundá-los ao ponto dos mesmos ganharem a devida força e importância. Consequentemente, “(...) Agrada-lhe, alegra-lhe crescer lento e sólido como as grandes árvores: o jequitibá, o ipê, a sapucaia, o jatobá. É alguém marcado pela concentração, pela contenção, pela intensidade. Isso se irradia dele.” O “lento”, como esboçado no texto, se justifica pela necessidade de pensar com a devida calma a fim de deixar que os pensamentos ganhem maior densidade e profundidade, fato que dificilmente ocorre com o pensador em questão estiver imerso no frenesi do dia-a-dia.
Enfatiza-se, consequentemente, desde já, que não se deve jamais imaginar a Filosofia como algum saber fechado e transmitido de forma doutrinal* . Se tal é, muitas vezes, a representação mais difundida da Filosofia, a opinião banal sobre o que ela é**, vale ressaltar que, como caracterizado até o momento, o caso é exatamente o oposto: nunca, pelo nome de Filosofia, pode-se pensar em uma atitude de crença cega nas respostas que venham a apresentar.
A Filosofia pretende encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como funcionam as coisas, mas o que significam as mesmas no interior do mundo.
Conforme Gabriel Perissé:
Como Sócrates declarou, o filósofo não é aquele que tudo sabe (...). O filósofo sabe que o saber nunca é saber plenamente possuído. O seu saber é sempre esperança de saber melhor, anseio de descobrir e redescobrir. Não existem proprietários do conhecimento, latifundiários do saber, mas apenas peregrinos, amantes carentes de uma sabedoria que sempre nos escapa.
PERISSÉ, Gabriel. Introdução à Filosofia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 16.
O pensamento filosófico, quando apresentado, deve se valer de argumentos e estar aberto à argumentação contrária. Pode, sem dúvida, procurar convencer-nos, em alguns casos, do valor de certas ideias, mas terá de apresentar, de forma clara, os motivos para adotarmos tais ideias em detrimento das outras.
Fonte: http://bit.ly/1GXyYBL
*DOUTRINAL
Entende-se por doutrina princípios fundamentais de uma crença, sistema, ciência, pautado especialmente em saberes transmitidos previamente como verdadeiros.
*OPINIÃO BANAL SOBRE O QUE ELA É
É importante constatar que essa opinião não deriva de um esforço de pensamento, já que através de uma rápida leitura do tópico anterior somando-se ao estudo desse tópico percebe-se que a Filosofia se põe muito além de toda e qualquer forma de doutrina ou senso comum.
Neste sentido, a Filosofia se opõe tanto ao recurso de argumentos de autoridade ou de revelações subjetivas como ao uso de técnicas oportunistas de persuasão e propaganda e à coerção. O filósofo se reconhece sempre no terreno de um discurso e deve estar continuamente atento para não se confundir com alguém que diz já portar a verdade. Como se comentou, assim opera um discurso doutrinal, mas, não o filosófico. Por isso mesmo, no fragmento que encerrou o tópico 1 e que se está interpretando, já dizia que o filósofo tem “uma natureza de montanha e de deserto”. “Montanha”, já que se mostra como algo grandioso, isto é, algo de alto, de sólido, uma vez que assim se deve mostrar a argumentação filosófica como um todo. “Deserto”, por sua vez, porque o filósofo, ao procurar sair do senso comum, na maior parte das vezes estará observando o real de uma forma muito individualizada, muito só, de forma singular, contudo, com uma largura e profundidade de interpretação muito grande, com seus altos e baixos, como as dunas de um deserto.
Ademais, o mesmo fragmento já indicava que para o filósofo a realidade “(...) se mostra para ele tendo um ritmo, um tempo, que é inflexível e irrevogavelmente seu, isto é, da própria coisa”. Ao buscar compreender e interpretar as coisas de forma tão singular, o filósofo conquista sua identidade, quer dizer, seu ritmo próprio, não mais o ritmo que a vida frenética do mundo moderno lhe impõe. Aprende a ler em sua realidade o que deve se mostrar como inflexível e irrevogável, ou seja, que sua realidade, embora se mostre de outras formas, sempre se manifesta necessitando de sua interferência, de seu julgamento. Por isso se revela com “um tempo” próprio.
A Filosofia, por assim dizer, não é posse de conhecimento seguro. É justamente a perda contínua da ingenuidade, da crença na posse de algum saber definitivo e não passível de ser problematizado ainda outra vez. O trabalhodo filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo seus significados mais profundos.
Caso ainda o fragmento analisado não esteja se esclarecendo, não se desespere, pois ele será investigado ao longo dos demais tópicos.

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