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Unidade 3: Tópico 2
A linguagem vista como instrumento: as propostas de Nietzsche, Dewey e Wittgenstein
Os sofistas, como conferiu-se, amplamente criticados na tradição filosófica ocidental devido ao desenvolvimento de uma racionalidade filosófica prático-utilitarista e consequente relativização da verdade, foram também reconhecidos, talvez por uma minoria, pelo seu valor filosófico, resgatando a filosofia de uma discussão cosmológica, trazendo-a para um debate que envolve o homem, como objeto primordial, precisamente na questão do uso da linguagem, na capacidade de conhecimento desenvolvida livremente diante de uma proposta de verdade não mais universalizada (Sciacca, 1968, p. 38).
Os sofistas conduzem a filosofia para a discussão sobre o uso instrumental da linguagem diante do grande desafio do ser humano em se situar diante da realidade na qual existe. Outros pensadores, no desenvolvimento da história da filosofia, irão se debruçar sobre essa questão. A partir disto, podem ser destacados os pensamentos de Nietzsche, Dewey e Wittgenstein.
No contexto de uma produção filosófica que se estabeleceu com um posicionamento considerado anticultural, Nietzsche aciona sua metralhadora giratória na construção de uma crítica que se poderia considerar holística na direção da cultura ocidental. Os fundamentos dessa cultura são questionados. Sua posição antirracionalista abala praticamente todas as possíveis compreensões da realidade. Nessa esteira, são questionadas: a religião, a arte, a política, a educação e, de forma estritamente filosófica, a construção de uma metafísica racionalista. Dentro desse posicionamento crítico, Nietzsche se posiciona reavaliando a dimensão instrumental da linguagem.
SAIBA MAIS!
Para entender melhor sobre o holismo, leia o seguinte site: www.infoescola.com
Sobre a metafísica: Na tradição clássica (grega), a metafísica é a parte mais central da filosofia, a ontologia (doutrina que estuda o Ser) geral, que procura entender o ser enquanto ser. A metafísica define-se assim como filosofia primeira, como ponto de partida da filosofia ao passo que examina os princípios e causas primeiras da realidade. Por isso, se constitui como doutrina do ser em geral, e não de suas determinações particulares; inclui ainda a doutrina do Ser Divino ou do Ser Supremo – no nosso caso, em Platão, as Ideias/Formas.
Para Nietzsche, a linguagem não revela, como a tradição filosófica supunha, o mundo de forma real, naquilo que realmente é (Scribd, 2010). A linguagem, na emaranhada estrutura composta de signos e sinais conduzida pelas regras da gramática e estruturação lógica, pela racionalização, falseia ou esconde a autêntica realidade, muitas vezes, se não sempre, em função da imposição do poder de uns sobre os outros na realidade social (Scribd, 2010). Em sentido instrumental, o homem, pela sua condição de possuir códigos, signos e de moldar significados, é capaz de produzir e acumular conhecimentos com os quais exerce o convencimento, impondo-se pela aquisição de pseudoverdades no exercício do poder.
A linguagem socializada e rigorosamente estruturada no uso da gramática estabelece uma lógica entre o sujeito que se comunica e o predicado que é comunicado, o que impede o ser humano de poder expressar o que realmente sente na percepção da realidade (Scribd, 2010). Essa lógica, no fundo, é a lógica do poder. É a lógica da dominação. É a lógica do forte que faz sucumbir o fraco. Certamente Nietzsche, se vivesse em nosso tempo, muito mais do que no seu, ficaria horrorizado com a grande investida do mundo da mídia na condução da sociedade, na linha do consumismo e da submissão política à imposição do poder – que hoje se estabelece não de modo regional, mas de forma globalizada.
APROFUNDANDO	
O posicionamento de Nietzsche em relação à linguagem não significa que a dimensão de instrumentalidade que a linguagem carrega seja desprezada ou não reconhecida. A linguagem é e deve ser instrumental, mas não pode ser considerada, como foi mostrado, na determinação única e determinante do seu uso, embora nem sempre consciente, já que é um dado cultural, de geração da subserviência do que pode mais em detrimento do que pode menos. A linguagem tem que ser resgatada não somente na instrumentalidade; precisamos saber fazer uso da linguagem, mas nela mesma, das determinações que a cultura ocidental racionalista a atrela ao jogo do poder.
A partir do contexto do pragmatismo, corrente filosófica da qual é um dos expoentes, e pela sua grande dedicação em pensar a educação a partir desse ponto de vista, Dewey desenvolve uma concepção instrumentalista da linguagem dentro dessas influências. Vendo a educação pela perspectiva pragmática, centra o grande valor da atividade educativa na ação. Para ele, a educação não tem fim (Garcia, 1977, p. 27), como era concebida de forma tradicional.
Na educação, o que vale é o processo de sua construção. Portanto, os indivíduos da educação, no caso, o educador e o educando, estariam livres para construir uma proposta de educação independente de algo que, lá na frente, estaria orientando-a e, mais do que isso, determinando-a. O resultado do processo seria aquilo que fosse construído. Este seria o grande desafio da educação: 
Encontrar a forma da ação que levasse à construção do melhor fim.
A partir daí, pragmaticamente, os chamados meios da educação passam a ser valorizados a partir de si mesmos. Como no pragmatismo os fins justificam os meios, pois somente é verdadeiro o que é útil e que dá resultado, a concepção da educação concentra-se na ação, como a famosa expressão “aprender fazendo”.
Ora, nesse contexto o uso da linguagem, observada a partir dessa perspectiva pragmático-pedagógica, se apresenta de modo fortemente instrumental. Segundo Dewey, “o conhecimento não é mais do que atividade dirigida e parte funcional da experiência” (Dewey, 1983). O que deve ser conhecido é aquilo que trará resultados práticos e possivelmente de modo imediato, sem outra determinação além desta: como diz o próprio Dewey, na atividade inteligente nas ciências naturais, a atividade moral do homem não é dirigida por uma “prévia ideia do bem” (Dewey, 1983).
Vendo a atividade educativa dessa forma, a linguagem passa a ser entendida por Dewey como ampliadora da experiência: sua função é descrever a experiência, ser sua representante. Mas a criatividade continua centrada na ação. A linguagem como representação se torna ampliadora da experiência. A palavra evoca o conjunto de experiências já significativas que um indivíduo outrora já tenha vivido. A experiência é ampliada por um processo de reconstrução imaginativa e, graças a essa função ampliadora, a linguagem se torna o “instrumento” por excelência da educação (Dewey, 1978, p. 23-24).
A linguagem dá nome às experiências progressivamente acumuladas. Nessa concepção, que parte da inspiração educativa e pragmática para o ser humano, em Dewey poder-se-ia talvez afirmar que a linguagem, como instrumento, teria a grande importância de relatar, do modo mais fiel possível, o acúmulo de vivências e experiências geradas na ação humana, que poderia remeter ao seu dia a dia e, quem sabe, à sua atividade acadêmica e à atividade produtiva, na linha imediata de resolução de problemas humanos, contribuindo não só para ser a relatora e memória desse processo, com principalmente a condição instrumental em seu constante aprimoramento.
Vendo a questão da linguagem como outra atividade humana, a partir da cultura, talvez perguntássemos por que a filosofia, no final do século XIX e início do século XX se preocupou bastante com a questão da linguagem. Talvez pudéssemos responder também perguntando:
Por que a filosofia do começo da modernidade se preocupava tanto com a questão do conhecimento?
Na filosofia moderna inicial, começando com Descartes (já estudado no tópico 5 – “O desdobramento do empirismo e do racionalismo no interior da Revolução Científica no século XVII”, constante na unidade II, Filosofia e conhecimento) poder-se-ia dizer que na critica à filosofiatradicional, buscava-se uma nova forma de filosofia que pudesse levar o homem à resolução imediata de seus problemas. Bacon, estudado na mesma unidade que Descartes, já dizia: saber é poder; sabe-se hoje que, na busca desenfreada pela nova filosofia, a cultura acabou desenvolvendo uma nova forma de conhecimento: a ciência moderna, hoje amplamente produzida e difundida a partir de uma linguagem de base lógico-matemática.
Assim como determinações culturais provocaram a nova forma de o homem conhecer o mundo em que existia, não muito tardiamente, a cultura levanta a questão de descobrir de forma proposicional a linguagem adequada e competente para traduzir essa nova forma de conhecer a realidade do mundo e do homem.
Essa foi a primeira preocupação do filósofo austríaco Wittgenstein: como encontrar e desenvolver uma forma de linguagem que pudesse objetivamente comunicar essa nova forma de conhecer, influenciado, claro, pelo objetivismo cientificista, já concebido pelo positivismo de Auguste Comte, que afirmava que, pelo conhecimento da ciência, o homem já teria chegado ao patamar mais alto como condição de compreensão da verdade.
Wittgenstein, então, sugere a existência de um paralelismo entre o mundo dos fatos reais e as estruturas, a linguagem. Na construção da linguagem verdadeira, as sentenças teriam a forma da realidade que afiguram. É como se o ser humano, no uso instrumental da linguagem, pela construção e encadeamento lógico das sentenças, fosse capaz de produzir uma representação real, um retrato da realidade. Na expressão de Wittgenstein, a realidade é afigurada pela linguagem. Poder-se-ia também dizer que a linguagem pode mostrar com rigor e fidelidade a verdadeira realidade (Wittgenstein, 1983). Por isso que, nesse contexto, todo problema filosófico reduz-se apenas à questão do que pode ser dito por meio de proposições lógicas, na construção da linguagem certa, objetiva.
A realidade é afigurada, retratada fielmente pela linguagem e só devem existir e ser aceitas as proposições que evidenciem isso. A linguagem não pode, portanto, estar além do fato constatado. Para Wittgenstein, inclusive, nem as tautologias e nem as equações matemáticas dizem coisa alguma sobre o mundo. São puras estruturas lógicas; têm seu valor instrumental, em função de ajudar na produção do conhecimento, mas não produzem conhecimentos por si sós.
Uma proposição não pode ser simplesmente inferida, tirada de outras. Não levaria a nada. Na concepção de realidade de Wittgenstein, tudo é acidental. E então, na realidade, um fato não pode ser simplesmente inferido de outro. Que o sol vai se levantar toda manhã é uma “certeza” pelo que até agora ele tem se levantado. Como já dizia Hume, estudado na mesma circunstância que Descartes, na crítica ao empirismo, um efeito pode ter a determinação de várias causas; portanto, como assegurar o acontecimento do efeito se a posse da causa não é determinada de modo exclusivo? (Sciacca, 1968, p. 137).
Nessa, linha, Wittgenstein, já na sua segunda fase, tendo já influenciado e inspirado o neopositivismo lógico como escola filosófica, chega a afirmar que não existem proposições éticas e que a metafísica está além da linguagem (Wittgenstein, 1983). Contrariamente a este autor, que não chega a negar a possibilidade da ética (existência de valores) e da metafísica (uma realidade além da realidade imediata que o homem possa conceber e perceber), o neopositivismo lógico se propõe a chegar a essas conclusões. Para ele, uma proposição é verdadeira somente se verificada. Uma linguagem de cunho ético e metafísico não teria sentido, seria um despropósito.
SAIBA MAIS!
Para entender melhor sobre o positivismo lógico, ou neo positivismo, leia o seguinte site: Positivismo
Em sua primeira fase de pensamento sobre a linguagem, Wittgenstein endossou, como fez, essa afirmação. Mas na sua segunda fase, essa afirmação estaria limitada a tudo aquilo que o ser humano pode conhecer de modo imediato, como o conteúdo das ciências, e sobre “certas realidades”, como a ética e a metafísica: “do que não se pode falar, deve-se calar”. Esse calar, que antes era uma determinação linguística da não existência dessas realidades, hoje em Wittgenstein é uma limitação da própria instrumentalidade da linguagem. É como se pudesse afirmar que o ser humano precisaria ainda, quem sabe, no futuro, desenvolver novas formas de linguagem para poder compreender e expressar a sua realidade na realidade em que existe.
Em termos filosóficos, redundaria em que simplesmente não existem problemas filosóficos, isto é, os pensadores até hoje não conseguiram alcançar o modo de ser profundo das coisas para questioná-las. Na verdade, o que existe, inclusive pela dimensão instrumental da linguagem, são as perplexidades que nos reconduzem sempre à proposta fundamental do método provocativo que nos leva a filosofar. No mais, a filosofia é a luta constante contra o enfeitiçamento da linguagem que conduz os ingênuos homens na crença de conhecer e dominar a realidade onde vivem.

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