Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Água Msc. Denise Andrade da Silva 1 Junho - 2015 Aracaju - SE É um componente essencial aos seres vivos. É um composto que desempenha funções importantes como: estabilizador da temperatura do corpo; transportador de nutrientes e de produtos de degradação; reagente e meio de reação; estabilizador da conformação de polímeros formados por biomoléculas; facilitador do comportamento dinâmico de macromoléculas. 2 Introdução RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Pode ocorrer como componentes intracelular ou extracelular, em vegetais e animais, e os seus teores são variáveis nos diferentes alimentos. Carnes – 50 a 70 g/100g Maçã, laranja – 85 a 90 g/100g Arroz cru, milho cru – 12 a 15 g/100g Leite – 87 a 89 g/100g Leite em pó – 9 a 12 g/100g 3 Introdução RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Influencia na textura, na aparência, no sabor e na deterioração química e microbiológica dos alimentos. Quanto maior o teor de água de um alimento, mais é a sua susceptibilidade à deterioração e é por isso que a maioria dos métodos de conservação visam a remoção da água (como secagem), na redução de mobilidade da água (congelamento), ou na adição de solutos. 4 Introdução RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Tamanho pequeno (entrar nas células, atravessar membranas e chegar a todas as partes do corpo); Solvente universal; Alto poder de ionização H+ e OH- Propriedades físicas da água 5 RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Apresenta altos valores de tensão superficial (é um efeito que ocorre na camada superficial de um líquido que leva a sua superfície a se comportar como uma membrana elástica), constante dielétrica (possui alta resistência ao fluxo da corrente elétrica), calor específico (uma grandeza física que define a variação térmica de determinada substância ao receber determinada quantidade de calor), e calor de mudança de fase (Tabela 1 e 2). Propriedades físicas da água 6 RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Propriedades físicas da água 7 Tabela 01. Propriedades físicas da água. RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Propriedades físicas da água 8 Tabela 02. Propriedades físicas da água no estado líquido e sólido (gelo) em função da temperatura. RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Os altos valores das propriedades caloríficas da água são importantes nas operações de processamento de alimentos como secagem e congelamento. Capacidade não usual de se expandir na solidificação, que pode resultar em um dano estrutural do alimento qd congelado. A água no estado sólido é menos densa que no estado líquido. Propriedades físicas da água 9 RIBEIRO & SERAVALLI (2007) A condutividade térmica do gelo a 0°C é 4 vezes maior do que a da água líquida na mesma temperatura, irá conduzir energia térmica mais rapidamente que a água líquida; A difusividade térmica (indica a velocidade que os alimentos sofrem mudanças de temperatura). A do gelo é 9 vezes maior que a da água. As diferenças existentes entre os valores de condutividade e difusividade térmica de água e gelo explicam porque os tecidos congelam mais rápido do que descongelam. Propriedades físicas da água 10 ORDÓÑEZ et al. (2005); RIBEIRO & SERAVALLI (2007) A água é um composto molecular. Cada molécula é formada por um átomo de oxigênio e dois átomos de hidrogênio, unidos por ligações covalentes. Esta ligação existe graças à atração existente entre os elétrons de um átomo e o núcleo do outro, e vice- versa. Molécula de Água 11 AQUINO (2008) Molécula de Água 12 Fonte: CREXI Uma das propriedades mais importantes da água líquida é a sua capacidade de dissolver substâncias polares ou iônicas para formar soluções aquosas. Todas as reações que ocorrem em nosso organismo se dão em soluções aquosas. A interação entre as moléculas do solvente (água) e as do soluto é que são responsáveis pelo processo de solubilização: quando uma substância iônica é dissolvida em água, os cátions são atraídos pelo lado "negativo" da molécula de água e os ânions pelos lados "positivos". Este processo é chamado de hidratação. Molécula de Água 13 AQUINO (2008) Como a água é um dos constituintes fundamentais da célula, é importante reconhecer que moléculas são solúveis ou não em meio aquoso. As moléculas podem dividir-se: Substâncias hidrofílicas afinidade pela água Substâncias hidrofóbicas aversão pela água Molécula de Água 14 Em geral, moléculas polares são hidrofílicas e moléculas apolares são hidrofóbicas. A grande maioria das moléculas orgânicas encontradas em sistemas vivos são hidrofílicas, podendo difundir na célula ou ser transportadas por fluidos dentro de um organismo, associadas ou não a outras moléculas. AQUINO (2008) Muitos compostos não iônicos também são solúveis em água. É o caso de, por exemplo, do etanol. A cerveja, o vinho e a cachaça são exemplos de misturas homogêneas entre água e etanol. Esta molécula contém uma ligação polar O-H tal como a água. Isto permite à molécula fazer ligações intermoleculares com a água. Molécula de Água 15 AQUINO (2008) O açúcar não é uma substância iônica - é molecular. Mas, mesmo assim, dissolve-se em água. Isto ocorre porque, tal como a água, a sacarose é uma molécula polar, isto é, com regiões "carregadas" negativa e positivamente. Neste caso, a interação com a água é do tipo dipolo-dipolo; como a sacarose contém grupos -OH, também ocorre ligação hidrogênio entre as moléculas de sacarose e de água. Isto promove a sua solubilização na fase aquosa. Molécula de Água 16 AQUINO (2008) Existem muitas substâncias, entretanto, que não são solúveis em água. Um exemplo é a gordura: a natureza não-polar de suas moléculas as torna incompatíveis com as moléculas polares de água. Uma regra geral para a solubilidade é que: "o semelhante dissolve o semelhante” Isto é, moléculas polares são miscíveis com moléculas polares, e apolares com moléculas apolares. Molécula de Água 17 AQUINO (2008) A molécula de água também é especial por participar de muitas reações orgânicas e inorgânicas. Várias delas resultam da habilidade que a água tem em se comportar tanto como um ácido (doador de prótons) como uma base (receptora de prótons), apresentando caráter anfótero. Por exemplo, ela recebe um íon H+ do ácido clorídrico: Acima, a água atua como base, recebendo um íon H+. Na reação com a amônia, NH2, a água perde um íon H+, atuando, pois, como ácido: Molécula de Água 18 AQUINO (2008) Estados físicos da água líquida 19 O gelo pode ser aquecido e simplesmente ter sua T elevada até à condição de saturação, quando passa a sublimar (sólido – vapor). Esta é a base do método de secagem denominado liofilização (é um processo de desidratação usado para preservar alimentos perecíveis, onde estes são congelados e a água é retirada, por sublimação, sem que passe pelo estado líquido) Diagrama de Fases da Água 20 AQUINO (2008) Água ligada: definida como a água em contato com solutos e outros constituintes não-aquosos, que exibe mobilidade reduzida e que não congela a -40⁰C. Subdividida em água constitucional, água vicinal, e água de multicamadas. Encontra-se ligada a outros componentes dos alimentos, está presente em quantidades muito pequenas nos alimentos (por exemplo em batata a qtd de água ligada está em torno de 0,090g de água/g de matéria seca). Não está disponível para o crescimento de MO’s nem para reações enzimáticas.Tipos de água nos alimentos 21 RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Água constitucional: representa uma pequena fração da água presente em alimentos com alto teor de umidade. É a água ligada mais fortemente aos constituintes não aquosos do alimento, através de ligações iônicas. Estando situada, por exemplo, nas regiões intersticiais de proteínas ou como parte dos carboidratos. Pode ser imaginada como sendo a primeira camada de água adjacente aos constituintes não aquosos do alimento (sólidos). Água vicinal: representa a próxima camada de água adjacente á água constitucional. Ocupa os sítios mais próximos da maioria dos grupos hidrofílicos presentes nos constituintes não aquosos. Água de multicamadas: representa a água ligada em menor intensidade que a água vicinal. Seria a água ligada de forma mais fraca aos constituintes não aquosos do alimento, mas que ainda possui uma intensidade de ligação com os solutos que não lhe permite comportar-se como água pura. Tipos de água nos alimentos 22 RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Água livre: é a água que apresenta as mesmas propriedades da água pura, que está disponível para o crescimento de MO’s e para reações enzimáticas. Essa água não flui livremente do alimento, mas é facilmente retirada durante o processo de secagem e convertida em gelo durante o congelamento. Constitui a principal fração de água presente nos alimentos e alterações tanto na sua quantidade como na forma de ligação com os sólidos afeta a qualidade do alimento. Ex: quando a carne é submetida à cocção, as proteínas são desnaturadas, perdendo a capacidade de ligar água, logo a carne perde massa e se torna mais dura. Tipos de água nos alimentos 23 RIBEIRO & SERAVALLI (2007) A relação entre o teor de água não-ligada ou disponível é denominada de atividade de água. Esse teor é designado como Aa ou Aw, Denomina-se pela regra geral como Aw (do inglês: Activity of Water) (AQUINO, 2008). O termo Aa ou Aw, indica a intensidade das forças que unem a água com outros componentes não-aquosos e, consequentemente, a água disponível para o crescimento de microrganismos e para que se possam realizar diferentes reações químicas e bioquímicas. Atividade de água e conservação de alimentos 24 (ORDÓÑEZ et al., 2005) A utilidade da Aw nem sempre pode prever totalmente o crescimento microbiano, já que a resposta dos mo é diferente, dependendo do soluto responsável pelo valor de Aw. Pode-se dizer que é possível calcular a estabilidade de muitos alimentos, melhorar o processo de conservação e desidratação e planejar novos produtos mais estáveis. Atividade de água e conservação de alimentos 25 ORDÓÑEZ et al. (2005) A atividade aquosa é um parâmetro inteiramente ligado à umidade do alimento o que permite determinar sua capacidade de conservação, de propagação microbiana, etc. É um indicador útil qto à estabilidade de um produto e sua segurança microbiológica. A atividade aquosa de um alimento pode ser reduzida aumentando a concentração de solutos na fase aquosa dos alimentos, mediante a extração da água (liofilização) ou mediante a adição de novos solutos (como sal ou açúcar). A atividade aquosa junto a temperatura, o pH e o oxigênio, são os fatores que mais influenciam na estabilidade dos produtos alimentícios. Atividade de água e conservação de alimentos 26 AQUINO (2008) A atividade de água define-se como a relação existente entre a pressão de vapor de uma solução ou de um alimento (P) com relação à pressão de vapor da água pura (P0) à mesma temperatura. Aw = P/P0 A água presente nos alimentos exerce uma pressão de vapor que depende da quantidade de água, da concentração de solutos na água, e da temperatura. Atividade de água e conservação de alimentos 27 ORDÓÑEZ et al. (2005) Onde P é a pressão do vapor de água na substância, e Po é a pressão do vapor de água pura à mesma temperatura. Varia numericamente de 0 a 1 e é proporcional à umidade relativa de equilíbrio. Em função da atividade de água, os alimentos são classificados em 3 grupos: Alimentos com baixa umidade (aw até 0,60) Alimentos com umidade intermediária ( aw entre 0,60 e 0,90) Alimentos com alta umidade ( aw acima de 0,90) Atividade de água e conservação de alimentos 28 RIBEIRO & SERAVALLI (2007), AQUINO (2008) As isotermas são gráficos que relacionam a qtd. de água de um alimento com sua Aw, que é função da umidade relativa da atmosfera que circunda o alimento, em uma temperatura constante. Esses gráficos fornecem informações para processos de concentração, secagem e hidratação de alimentos, uma vez que a facilidade de retirar ou adicionar água está relacionada com a Aw do alimento, e também para verificar e acompanhar a estabilidade de produtos alimentícios durante o armazenamento. Atividade de água e conservação de alimentos 29 ISOTERMAS DE SORÇÃO DE ÁGUA RIBEIRO & SERAVALLI (2007) ORDÓÑEZ et al. (2005) As isotermas podem ser: Adsorção (adição de água à amostra seca) – aplicadas para a medida de produtos higroscópicos Desorção (retirada de água) – aplicadas para o acompanhamento de processos de secagem. Se um alimento totalmente seco for gradualmente adicionado água, e efetuadas medidas de Aw, obtém-se uma isoterma de adsorção. Se a mesma amostra for agora desidratada e efetuar-se o mesmo procedimento, na mesma temperatura, terá um isoterma de desorção. Atividade de água e conservação de alimentos 30 ISOTERMAS DE SORÇÃO DE ÁGUA RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Nas isotermas de sorção de água, podem-se distinguir três zonas pouco delimitadas que indicam a forma como a água está ligada aos alimentos (Figura 2). Atividade de água e conservação de alimentos 31 ISOTERMAS DE SORÇÃO DE ÁGUA ORDÓÑEZ et al. (2005) Zona A Zona B Zona C Figura 2. Representação de uma isoterma de adsorção. Zona A – É a água mais fortemente ligada e imóvel que existe no alimento. Corresponde à água da camada monomolecular fixa aos grupos polares de certos compostos (NH3+ e COO- das proteínas e grupos OH- dos amidos), e a água de cristalização de açúcares e sais. É muito difícil de extrair, não congelável e não se encontra disponível para atuar como solvente ou reativo. Constitui qtd. muito pequena da água total do alimento, corresponde à Aw inferior a 0,2 até 0,3. Na extremidade final da zona A, na interface com a zona B, corresponde à água da monocamada. Atividade de água e conservação de alimentos 32 ISOTERMAS DE SORÇÃO DE ÁGUA ORDÓÑEZ et al. (2005); RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Zona B – a água presente nesta zona contém a água da zona A mais a água da zona B. Essa água ocupa, os sítios remanescentes e várias camadas adicionais em tornos de grupos hidrofílicos, denominada de água de multicamadas. Corresponde a água das camadas de hidratação dos constituintes solúveis (proteínas, sais, açúcares etc.). Está ligada por pontes de hidrogênio e interações dipolo-dipolo. A Aw está entre 0,20 – 0,30 e 0,80, aproximadamente. Atividade de água e conservação de alimentos 33 ISOTERMAS DE SORÇÃO DE ÁGUA ORDÓÑEZ et al. (2005); RIBEIRO & SERAVALLI (2007) Zona C – representa a maior parte da água dos tecidos frescos. É a água menos ligada e mais móvel dos alimentos. É congelável, está disponível como solvente e suficientemente abundante para permitir o desenvolvimento de microrganismos, reações enzimáticas e químicas. A Aw estar entre 0,8 a 0,99. Atividade de água e conservação de alimentos 34 ISOTERMASDE SORÇÃO DE ÁGUA ORDÓÑEZ et al. (2005); RIBEIRO & SERAVALLI (2007) A Figura 4 ilustra as velocidades relativas das principais reações e do crescimento de microrganismos, em função da Aw. Atividade de água e conservação de alimentos 35 Figura 4. Velocidade de reações e de crescimento de mo, em função da Aw. A Aw influencia diretamente nas reações de transformações de alimentos, que podem ser microbiológicas, químicas e enzimáticas, bem como em alteração de sua aparência e textura (compactação de produtos como café solúvel, leite em pó, amolecimento de biscoitos, murchamento de folhas verdes). Atividade de água e conservação de alimentos 36 RIBEIRO & SERAVALLI (2007), AQUINO (2008) Reações físicas de transformação: uma série de transformações física ocorre nos alimentos em função da Aa, como a cristalização em geléias e doces de frutas; a recristalização de açúcares em balas vítreas e lactose em leite em pó; a redução do escoamento livre de pós secos; a perda de crocância em cereais desidratados; a aglomeração e empedramento de açúcar e pós secos; a adesão à embalagem de balas, caramelos e chicletes; etc. Atividade de água e conservação de alimentos 37 AQUINO (2008) Reações microbiológicas de transformação: o comportamento de microorganismos frente à Aa é variável, dependendo da espécie, cepa microbiana, substrato, entre outros. No entanto, pode-se afirmar que as bactérias são usualmente mais exigentes quanto à disponibilidade de água livre, seguida dos bolores e leveduras. Os alimentos de baixa Aa (< 0,60) são microbiologicamente estáveis. Atividade de água e conservação de alimentos 38 AQUINO (2008) AQUINO, A. C. M. de S. Aulas de química de alimentos. UFS. 2008. CREXI, V. T. Água. Slides Química de Alimentos. UNIPAMPA. MOTTA, V. T. Bioquímica Básica. Autolab. Análises Clínicas. (apostilha). ORDÓÑEZ PEREDA, J.A.; RODRÍGUEZ, M.I.C.; ÁLVAREZ, L.F.; SANZ, M.L.G.; MINGUILLÓN, G.D.G.F.; PERALES, L.L.H.; CORTECERO, M.D.S. Tecnologia de Alimentos: Componentes dos Alimentos e Processos. vol.1. (Ed.) Artmed, 2005. RIBEIRO, E. P.; SERAVALLI, E. A. G. Química de alimentos. 2 edição. Ed. Edgard Blucher: São Paulo. 2007. 184p. 39 Referências
Compartilhar