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VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br ASSÉDIO MORAL NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO EM PERNAMBUCO MUNIZ, José Artur, Universidade Federal de Pernambuco MACHADO, Francisco Oliveira, Universidade Federal de Pernambuco VIEIRA, Djuri Tafnes; Graduanda em Administração; Universidade Federal de Pernambuco Resumo Este artigo aborda o tema assédio moral sob uma perspectiva quantitativa e qualitativa, onde se estuda o assédio moral em uma Instituição Federal de Ensino Superior no estado de Pernambuco, especificamente no curso de graduação em Administração. O estudo foi realizado tendo como foco o assédio do professor para com o aluno, através de uma pesquisa quali-quanti. Este estudo constitui-se de uma pesquisa com o uso de um questionário que foi feito para analisar os principais aspectos e causas do assédio moral procurando entender o que motiva tais procedimentos, sob a ótica dos que são assediados, sem eliminar a preocupação com o fenômeno do assédio moral em si. Palavras-chave: violência; assédio moral; trabalho; ensino superior. Abstract This paper treats the moral siege theme under quantitative and qualitative perspective research. The people under moral siege are students from business course in a Federal University situated in the Pernambuco’s State. The study focused the moral siege from to professor to the student. The data was collected using the questionnaire applied to analyze the mean aspects and its causes from the moral siege looking for understandings what are its reasons, under the siege lenses. Nevertheless, we do not abandon the preoccupation with moral siege phenomenon itself. Key-words: violence; moral siege; work; high education. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Introdução A violência se apresenta hoje, como uma das temáticas centrais da saúde pública, em especial pelo comprometimento da saúde e qualidade de vida das pessoas (PESCE, 2010). A violência possui muitos significados, e vem sendo utilizado para nomear desde as formas mais cruéis de tortura até as formas mais sutis da violência que ocorre no cotidiano da vida familiar, profissional, entre outras. Este é um problema universal que atinge milhares de pessoas em grande número de vezes de forma silenciosa e dissimuladamente. Acomete ambos os sexos e não costuma obedecer a nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico. Sua importância é relevante sob dois aspectos: devido ao sofrimento indescritível que imputa às suas vítimas, e porque pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental da vítima. O assédio moral é uma das formas mais sutis de violência, e embora venha sendo estudado como fenômeno há pouco tempo, percebe-se uma frequência cada vez maior do fenômeno e de estudos sobre o mesmo. Grande parte desses estudos tem se preocupado com o assédio moral no trabalho. Com o avanço das pesquisas sobre o tema percebe-se sua existência em vários segmentos da sociedade, inclusive na área do ensino Embora só recentemente tenha recebido a devida atenção dos estudiosos, essa prática talvez seja tão antiga quanto o próprio trabalho. O que se pode perceber é que a frequência dessas ações aumentou significativamente e com características peculiares, pois o perfil do trabalho mudou com o decorrer do tempo. Com essa mudança, as relações estabelecidas nos ambientes de trabalho nas suas várias formas também sofreram alterações. Assim, o assédio moral é uma verdade presente nas várias dimensões das relações sociais, no trabalho, na família, nas instituições de ensino, dentre outras. Este fenômeno tem provocado impactos negativos no resultado das atividades, degradando o ambiente de trabalho e ou de ensino, bem como as condições físicas ou psíquicas de quem sofre o assédio moral. O que é assédio moral? Partimos então para uma definição do que vem a ser o assédio moral. O site Assédio Moral (<http://www.assediomoral.org>) traz a seguinte definição de assédio moral: É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego (O QUE É ASSÉDIO MORAL, 2011). Na definição acima, vemos as características principais do assédio moral. A primeira é o fator degradante, onde a humilhação e o constrangimento são as características que mais são encontradas nas relações de assédio moral, sendo necessário o sentimento de humilhação por parte da vítima. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Vale salientar que muitas vezes o agressor nem percebe que seu ato está infligindo ao outro uma situação de desqualificação e ou humilhação, o que não elimina a sensação de degradação vivida pela vítima. Outro fator é a repetição, uma vez que o assédio não se caracteriza como um ato isolado, sendo um ato violento em si, mas repetitivo, constituindo sucessivas agressões. Além desses fatores, existe a intenção de atingir alguém (ou um grupo) diretamente ou usar de artifícios que possam prejudicar intencionalmente. Porém, o assédio moral só pode ser caracterizado como tal se a pessoa (ou grupo de pessoas) que é o alvo se sentir assediada, pois se assim não fosse, o sentido de humilhação, que caracteriza o sentimento percebido de perda ou dano moral, não teria sentido. De acordo com Kempinski et al (2010): Assédio moral é toda e qualquer conduta que caracteriza comportamento abusivo, freqüente e intencional, através de atitudes, gestos, palavras ou escritos que possam ferir a integridade física ou psíquica de uma pessoa, vindo a por em risco o seu emprego ou degradando o seu ambiente de trabalho. Faleiros (1995) considera que: A violência é um fenômeno que se desenvolve e dissemina nas relações sociais e interpessoais, implicando sempre uma relação de poder que não faz parte da natureza humana, mas que é da ordem da cultura e perpassa todas as camadas sociais de uma forma tão profunda que, para o senso comum, passa a ser concebida e aceita como natural a existência de um mais forte dominando um mais fraco. A partir dessas definições podemos verificar que o assédio moral é uma forma de violência existente entre os mais variados segmentos sociais, não apenas no trabalho. A utilização de comportamentos abusivos, desqualificações pessoais, gritos e em alguns casos, a violência física, tem surgido nos vários meios sociais, da família ao trabalho, perpassando pelas instituições de ensino. Analisando então estas definições podemos constatar a presença do assédio moral em vários ambientes, já que não é apenas no ambiente de trabalho que existem relações hierárquicas, apesar de essa característica ser mais presente nos ambientes de trabalho, podemos percebê-la nos grupos familiares e também nas instituições de ensino. Segundo Gallindo (2011), o assédio moral pode ser identificado como Horizontal ou Vertical. O assédio moral horizontal se dá entre pessoas de mesmo nível hierárquico. Já o assédio moral Vertical, pode ser ascendente ou descendente, sendo o ascendente aquele assédio de um nível hierárquico inferior para com um nível hierárquicosuperior. O assédio vertical descendente ocorre de um nível hierárquico superior para com um nível hierárquico inferior (GALLINDO, 2011). Este último tipo é o que nos propusemos a investigar em nosso estudo de caso. Assédio Moral e seus efeitos O assédio moral em muitos casos é causador do dano moral. As conseqüências do assédio podem variar de um incômodo até um suicídio, dependendo da intensidade e da situação em que esteja a vítima. O assédio moral constitui “ato predatório” (HIRIGOYEN, 2002), onde o agressor utiliza instrumentos perversos para dominar a vítima, através de ações que ridicularizam, desvalorizam, humilham, isolam e provocam constrangimentos. É possível que aquela VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br agressão isolada não cause tanta gravidade, porém, as repetições de pequenas agressões, insinuações malévolas, comentários depreciativos causem sérios danos à vítima, em especial por sua frequência. Segundo Caran (2007), dentre os sintomas mais comuns entre as vítimas de assédio encontramos queixas de perturbações emocionais como cansaço, nervosismo, distúrbios de sono, dores na coluna, depressão e estresse pós traumático, pois o assédio moral impõe a vitima cenas de violência e humilhação, como flashbacks dolorosos e difíceis de serem esquecidos. Ainda segundo Caran (2007 apud NASCIMENTO 2003), os danos provocados pelo assédio moral, de acordo com as vítimas, são reações psicopatológicas (como ansiedade, apatia, depressão, insegurança, insônia, etc.), reações psicossomáticas (como hipertensão arterial, dispnéia, crise de asma, palpitações cardíacas, taquicardia, perda de cabelo, dores generalizadas no corpo, problemas cardíacos, enxaquecas, disfunções sexuais, etc.) e também reações do comportamento (como isolamento social, o aumento de consumo de drogas como fumo, álcool, remédios ou outras, atitudes agressivas, disfunções alimentares, etc.). “Todas as desordens emocionais descritas alteram crenças e valores que podem levar à morte. (CARAN, 2007, p. 70 apud NASCIMENTO, 2003)” Legislação contra o assédio moral Apesar de o assédio moral ser uma violência silenciosa, é um fenômeno visível. Por tantos casos de assédio moral indo a julgamento e por essa visibilidade reconhecida do assédio moral, leis e projetos de lei têm sido aprovados para defender as vítimas do sofrimento físico e/ou psíquico causado pela degradação que o assédio gera. Segundo Barreto (apud TROMBETTA, 2005 p. 23): No Brasil, existem mais de 80 projetos de lei e dispositivos de proteção trabalhista em elaboração sobre assédio moral nas organizações, já aprovados nos municípios de Americana, Campinas, Guarulhos, Iracenópolis, Jaboticabal, Amparo, Cruzeiro, Guararema, Guaratinguetá, Presidente Venceslau, Bauru, Joboticabal, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São Paulo, Natal, Porto Alegre, Cascavel, Curitiba, Reserva do Iguaçu, Sidrolândia, Vitória. Foram aprovados projetos no Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná, Bahia. No âmbito federal, há propostas de alteração do Código Penal sobre assédio moral, coação moral, assédio sexual e crime de tortura. Outros projetos de lei estão relacionados à Portaria do Ministério da Saúde, à Resolução do Conselho de Medicina e ao Regulamento da Previdência Social referentes ao assédio moral. No âmbito internacional, há dispositivos de proteção trabalhista em elaboração sobre assédio moral nas organizações nos seguintes países: França (Lei de Modernização Social); Chile (Projeto de Lei); Noruega (Legislação Trabalhista); Uruguai (Projeto de Lei); Portugal (Projeto de Lei); Suíça (Projeto de Lei); Bélgica (Projeto de Lei); Parlamento Europeu (Resolução) e Comissão Européia (Projeto de Lei). A Constituição Brasileira promulgada em 1988 defende direitos iguais aos cidadãos brasileiros e assegura direitos trabalhistas dignos, porém, as ausências de leis que afirmem legalmente o que é assédio moral condenem e punam essas práticas dificulta julgamentos e a defesa daqueles assediados, obrigando-nos a recorrer à jurisprudência. Ainda não existem leis aprovadas contra o assédio moral, porém, alguns itens já são abordados em leis como a Lei Nº VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br 11.948, de 16 de junho de 2009, que dispõe no art. 4º: “Fica vedada a concessão ou renovação de quaisquer empréstimos ou financiamentos pelo BNDES a empresas da iniciativa privada cujos dirigentes sejam condenados por assédio moral ou sexual, racismo, trabalho infantil, trabalho escravo ou crime contra o meio ambiente” (LEI Nº 11.948, 2011). Apesar de no momento não apresentarmos leis em nível federal que dêem suporte para combater o assédio moral, muitos projetos de lei estão em tramitação (TROMBETA, 2005), mas alguns estados brasileiros já apresentam suas leis estaduais contra o assédio moral nas instituições públicas, como é o caso da Lei Complementar nº 117, de 11 de JANEIRO de 2011, que dispõe sobre a prevenção e a punição do assédio moral na administração pública estadual de Minas Gerais. O assédio moral na área do ensino O assédio moral é uma nomenclatura nova para um contexto antigo. Pode-se observar em depoimentos pessoais, por exemplo, que em poucas décadas atrás o assédio moral seria algo quase que natural em escolas, a exemplo das orelhas de burro e da famosa palmatória, usada para disciplinar e castigar alunos nas décadas passadas, como citado neste trecho da crônica “Palmatória” de Gilbamar de Oliveira: Até mesmo algumas escolas particulares e municipais dos velhos tempos usavam as malfadadas palmatórias para intimidar os alunos menos estudiosos ou peraltas. Os estudantes viviam sob constante temor, os nervos à flor da pele. Eles sabiam que por qualquer bobagem estariam sujeitos à dureza da palmatória. Réguas enormes de plástico duro, muitas vezes, as substituíam nos colégios porque com elas seria possível alcançar o rebelde sentado um pouco mais distante da lente. Como feitores, os professores andavam pela sala de aula brandindo o “porrete” com a maior naturalidade e batiam nos braços, nas costas ou na cabeça da criançada sem perigo de receber represália das autoridades educacionais competentes ou dos próprios pais, que conheciam a prática, pois isso era a coisa mais comum e normal do mundo na época (OLIVEIRA, 2011). Segundo Gallindo (2011, p. 10), “o conceito moderno de direito à educação é decorrente do direito de liberdade de pensamento, que é um direito mais fundamental que o da própria educação e que leva o homem à plenitude ao exercício da própria liberdade.” Nesta citação, Gallindo (2011) demonstra que deve haver liberdade de pensamento nas instituições de ensino, pois o direito ao ensino é decorrente dessa liberdade. Apesar de poucos estudos na área, ambientes de ensino são locais onde facilmente ocorrem atritos nas relações e o assédio moral fica à espreita. Estudos feitos em Instituições de Ensino Superior públicas e privadas no Estado de Minas Gerais por Coleta e Miranda (2011) pesquisaram, através do Método dos Incidentes Críticos, os principais tipos de assédio moral sofrido nas Universidades. Esse estudo categorizou doze tipos de assédio que podem ocorrer do professor para com o aluno. São eles (COLETA; MIRANDA, 2011, p. 6-7): 1. Agressão física: Ameaçar ou agredir fisicamente o aluno; atirar objetos no aluno para despertar sua atenção; recolher, de forma agressiva, cola do aluno, inclusive agredindo-o fisicamente. 2. Agressão verbal aos alunos: Tratar os alunos com termos pejorativos,palavras de baixo calão. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br 3. Ameaças aos alunos: Ameaçar aumentar o nível de dificuldade das provas, dar faltas aos alunos, reprovar a turma, retirar da sala de aula certos alunos, expulsar aluno da instituição. 4. Acusação agressiva e sem provas: Alegar, de forma agressiva e sem provas, que os alunos copiaram trabalhos ou estão colando; revistar, de forma agressiva, os materiais dos alunos por suspeitar que estejam colando. 5. Assédio sexual: Assediar sexualmente o aluno, convidando-o para manter relações sexuais, fazendo-lhe sinais e carícias, propondo-lhe permuta de notas por favores sexuais, tentando agarrá-lo nas dependências da instituição. 6. Comentários depreciativos, preconceituosos ou indecorosos: Fazer comentários pejorativos e preconceituosos sobre a orientação sexual dos alunos, sobre a escolha de sua profissão, sobre determinado credo religioso, sobre habilidades dos alunos, sobre o nome de aluno, sobre a cidade de alunos. que a instituição está situada; com idade mais avançada, com facilidade de aprendizagem; receber trabalhos de alguns alunos fora da data marcada; classificar os alunos de acordo com a posição ocupada em sala de aula. 7. Tratamento discriminatório e excludente: Dar tratamento diferenciado a alunos devido a sua aparência física, condição financeira, que vivem na cidade em que a instituição está situada; com idade mais avançada, com facilidade de aprendizagem; receber trabalhos de alguns alunos fora da data marcada; classificar os alunos de acordo com a posição ocupada em sala de aula. 8. Rebaixamento da capacidade cognitiva dos alunos: Comparar os alunos, de forma irônica, com alunos de outras instituições ou outros grupos de ensino; enaltecer seus próprios conhecimentos, ridicularizando os erros dos alunos em provas, perguntas e trabalhos; Ler, em voz alta, as notas, enfatizando, com comentários depreciativos, os alunos que obtiveram baixo rendimento; Impedir que os alunos opinem por considerar que eles não possuem capacidade para tal; Insultar aluno que não conseguiu realizar atividades ou que faz perguntas sobre a mesma; fazer comentários em público sobre as dificuldades, desempenho ou erros dos alunos. 9. Desinteresse e omissão: Ser omisso, demonstrar desinteresse, não repassando aos alunos as devidas orientações para a realização de trabalhos práticos, ao ministrar o conteúdo; pela apresentação dos trabalhos dos alunos. 10. Uso inadequado de instrumentos pedagógicos, prejudicando os alunos: administrar exercícios, valendo nota, sem explicar a matéria contida nos mesmos; aplicar prova, que demanda mais tempo para ser resolvida do que o disponível; aumentar o nível de dificuldade das provas, como forma de punir os alunos; punir, através de prova com maior nível de dificuldade, aluno que não se sujeitou ao assédio sexual do professor; realizar atividades valendo nota em dias que alunos, por motivo justo, não puderam estar presentes; avaliar trabalho somente pela aparência/estética. 11. Recusa em realizar seu trabalho: Negar-se a esclarecer as dúvidas ou ouvir os comentários dos alunos, demonstrando desinteresse, alegando que a dúvida é desnecessária, que o aluno consultou material inadequado, que já havia explicado a questão anteriormente. 12. Abandono do trabalho em sala de aula: Reclamar da conversa em sala de aula, retirando-se e negando-se a ministrar as aulas no restante do período; pela ausência da maioria dos alunos. Objetivo Geral do Trabalho O objetivo geral deste trabalho é verificar a existência ou não do sentimento do assédio moral nos alunos pelos professores na presente instituição. O estudo é baseado nas afirmativas dos alunos à pergunta “você já sofreu assédio moral em sala de aula por parte de algum professor na graduação que cursa nesta instituição?”. Para que eles pudessem VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br responder, foi dada uma definição sobre o que seria o assédio moral: “Considera-se que a pessoa vítima de assédio moral foi exposta a atitudes hostis (tais como práticas vexatórias, humilhação, isolamento, discriminações, constrangimentos) de uma ou várias pessoas, com freqüência e por um período longo, numa relação de força desfavorável que torna qualquer tipo de defesa difícil” (O QUE É ASSÉDIO MORAL, 2011). Estudo de Caso Para o desenvolvimento do trabalho, a estratégia escolhida foi o Estudo de Caso. De acordo com Yin (2005), o uso do Estudo de Caso, como estratégia de pesquisa, é mais adequado nas seguintes situações: quando as questões de pesquisa são do tipo “como” e “por quê”, quando não existe controle sobre os eventos e quando o foco está em acontecimentos contemporâneos. Sendo assim, o método de estudo de caso foi escolhido por ser uma estratégia de pesquisa empírica e abrangente, que preserva as características holísticas de um fenômeno e o analisa dentro de seu contexto. Esta peculiaridade permite que o pesquisador, ao delimitar um caso dentro do universo, faça uma análise em profundidade do mesmo, para que através dele o problema estudado possa ser compreendido (YIN, 2005). Portanto, como o presente estudo tem como objetivo estudar aspectos relacionados ao assédio moral dentro de uma Instituição de Ensino Superior pública em Pernambuco na graduação em Administração, este é o caso em análise. Neste, buscamos analisar a frequência com que ocorre o assédio e detalhes interligados, como a reação do aluno, sua percepção sobre o que motiva o assédio, e a frequência dos tipos de assédio, tipos estes desenvolvidos através de um estudo de Coleta e Miranda (2011) em instituições superiores através do Método dos Incidentes Críticos. Como a estratégia de pesquisa Estudo de Caso permite a inserção de estudos quantitativos para a captação e entendimento do seu fenômeno (YIN, 2005), um estudo quantitativo foi realizado no primeiro semestre letivo do ano de 2011 na instituição referida. A pesquisa foi desenvolvida junto a 67 alunos que responderam ao questionário proposto, sendo todos do turno matutino. O Instrumento de Coleta de Dados A metodologia utilizada para a primeira parte do estudo foi um questionário estruturado, utilizado com os alunos do curso. As perguntas feitas foram elaboradas pelos autores, sendo o questionário estruturado em duas partes. A primeira parte questionava o respondente sobre informações de quando ele foi assediado a última vez, portanto, ele apenas responderia caso tivesse sido vítima de assédio moral em sua concepção. A segunda parte do questionário se destinava a todos os respondentes, independentemente se ele foi vítima de assédio moral ou não, em sua concepção. A segunda parte do questionário fazia referência sobre aspectos gerais do assédio moral sob uma perspectiva de observador do respondente. Cada pergunta apresentava respostas variadas para assinalar, dando também a opção “outros”, para que o respondente também pudesse explicitar a sua resposta no caso de ela não constar entre as alternativas. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br A análise dos dados foi feita com base na porcentagem que as respostas apresentaram de acordo com a quantidade das respostas em cada item. Além das porcentagens, foram utilizados gráficos para representar as respostas. Amostra Para encontrar a amostra necessária para a pesquisa, foi utilizada a calculadora on-line (SANTOS, 2011) para o cálculo amostral. O universo de pesquisa foi constituído de todos os alunosdo curso de graduação em Administração da universidade pública estudada. O universo encontrado foi de 320 (trezentos e vinte) alunos matriculados no turno matutino do curso. Para obter um erro amostral de 5% e um nível de confiança de 95%, a amostra necessária seria de 175 alunos, segundo a seguinte fórmula (SANTOS, 2011): 𝑛 = 𝑁 × 𝑍2 × 𝑝 × (1− 𝑝) 𝑍2 × 𝑝 × 1− 𝑝 + 𝑒2 × (𝑁 − 1) Onde: n – amostra calculada N – população Z – variável normal padronizada associada ao nível de confiança p – verdadeira probabilidade do evento e – erro amostral Foram devolvidos 67 (sessenta e sete) questionários dos alunos matriculados no turno da manhã, ou seja 21% do universo de 320 alunos. Resultados Dos 67 questionários respondidos, 43 respondentes são do sexo feminino, representando aproximadamente 64% da amostra, enquanto 24 respondentes são do sexo masculino, representando aproximadamente 35% da amostra. Para iniciar a responder o questionário, o respondente tinha a seguinte definição de assédio moral para basear suas experiências e consequentemente suas respostas: “Considera- se que a pessoa vítima de assédio moral foi exposta a atitudes hostis (tais como práticas vexatórias, humilhação, isolamento, discriminações, constrangimentos) de uma ou várias pessoas, com freqüência e por um período longo, numa relação de força desfavorável que torna qualquer tipo de defesa difícil. (O QUE É ASSÉDIO MORAL, 2011)”. Após essa afirmação, a primeira pergunta definiria se o respondente responderia a primeira parte do questionário ou não. Das respostas afirmativas à primeira pergunta, que questionava: “você já sofreu assédio moral em sala de aula por parte de algum professor na graduação que cursa nesta instituição?”, 40,3% disseram que já haviam sido vítimas de assédio moral, em sua concepção. Do público feminino, 39,5% afirmaram ter sofrido assédio moral, em sua concepção, e 41,7% do público masculino afirmou ter sofrido assédio moral, em sua concepção. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Gráfico 1: Declararam ter sofrido assédio moral A segunda pergunta diz respeito à quantidade de pessoas que assediaram o aluno respondente. Dos que se declararam assediados, 74% assinalaram que foram assediados por apenas uma pessoa, enquanto 22% assinalaram que foram assediados por duas pessoas/professores. Gráfico 2: Quantos foram os assediadores Sobre o gênero que assediou os alunos, 44% afirmaram que seu agressor é do sexo masculino e 48% afirmou que seu agressor é do sexo feminino. Gráfico 3: O gênero do assediador Quando perguntados se “Você acredita que o agressor tem consciência das agressões?”, 59% afirmaram acreditar que o agressor tem consciência das agressões e 19% acreditam que o agressor não tem consciência das agressões. 38,0% 39,0% 40,0% 41,0% 42,0% Geral Feminino Masculino 0% 20% 40% 60% 80% Assédio por uma pessoa Assédio por duas pessoas 42% 43% 44% 45% 46% 47% 48% 49% Assédio por homens Assédio por mulheres VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Gráfico 4: Você acredita que o agressor tem consciência das agressões? Dentre os tipos de agressão mais sofridos, de acordo com a classificação de Coleta e Miranda (2011), a Agressão Física foi listada com 52% das agressões, o Tratamento discriminatório e excludente foi assinalado por 44% dos respondentes e o Rebaixamento da capacidade cognitiva dos alunos foi assinalado por 37% dos alunos. Nesta pergunta, foram listadas as classificações de Coleta e Miranda (2011) e para as respostas o questionário aceitou mais uma opção para assinalar. Gráfico 5: Tipos de agressão mais sofridos Perguntou-se o que o aluno sentiu na hora da agressão (última agressão sofrida), e 85% respondeu que sentiu raiva, 70% sentiu indignação e 33% sentiu vergonha. Esta pergunta aceitou mais de uma resposta para assinalar. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Acredita que o agressor tem consciência Acredita que o agressor NÃO tem consciência 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Agressão Física Tratamento discriminatório e excludente Rebaixamento da capacidade cognitiva VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Gráfico 6: O que o aluno sentiu na hora da agressão Em seguida foi perguntada a reação do aluno na hora da agressão (última agressão sofrida), e 44% afirmou que não fez nada, 41% afirmou que tentou argumentar algo, e 26% guardou mágoa em resultado da agressão. Gráfico 7: A reação do aluno no momento da agressão Quanto à frequência do assédio, 26% afirmou que sofre assédio moral pelo menos uma vez por semestre enquanto outros 26% afirmaram que sofrem assédio pelo menos uma vez por semana. Outros 44% assinalaram “outro” para a pergunta sobre a frequência do assédio. Esta pergunta aceitou apenas uma resposta. Gráfico 8: Frequência do assédio 0% 20% 40% 60% 80% 100% O que o aluno sentiu na hora Raiva Indignação Vergonha 0% 10% 20% 30% 40% 50% Qual a reação do aluno no momento Não fez nada Tentou argumentar Guardou mágoa 0% 10% 20% 30% 40% 50% Qual a frequência que sofre assédio Pelo menos uma vez por semestre Pelo menos uma vez por semana Assinalaram "outro" VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Daqueles que se declararam assediados moralmente (40,3%), questionou-se se o assédio é uma prática comum no curso de Administração. Destes, 33% disseram que sim, enquanto 67% afirmaram que não. Perguntou-se, então, se o respondente já havia presenciado cenas de assédio moral com outros colegas, e 70% afirmou que já presenciou cenas de assédio com colegas enquanto que 11% afirmou que não. Dos que afirmaram que o assédio é uma prática comum no curso mas nunca presenciou cenas de assédio com outros colegas, podemos citar 4%, enquanto que 44% dos que afirmaram que o assédio não era prática comum no seu curso já presenciaram cenas de assédio com colegas. Gráfico 9: O assédio é prática comum em seu curso? Gráfico 10: Comparativo entre afirmar que o assédio é comum e presenciar cenas com outros colegas Para os que se declararam assediados, 96% assinalou que o senso de superioridade é uma das causas que leva um professor a assediar um aluno, 81% assinalou que a personalidade/caráter é uma das causas, e 44% afirmou que problemas/disfunções psicológicas também são causa do assédio do professor para com o aluno. 0% 20% 40% 60% 80% É prática comum em seu curso? Já presenciou cenas de assédio com colegas Sim Não 0% 10% 20% 30% 40% 50% É prátiva comum mas nunca presenciou com colegas Não é prática comum mas já presenciou com colegas VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Gráfico 11: Percepção do aluno quanto à causa do assédio por parte do professor Já sobre aqueles que não se declararam assediados (55%), 3% disse que o assédio é uma prática comum no curso, contra 97% que assinalou que não. Dos que declararam não ter sofrido assédio moral no curso, 43% já presenciou cenas de assédio com outros colegas, enquanto 27% afirmou que não presenciou cenas de assédiocom outros colegas. Daqueles que disseram que o assédio é uma prática comum, mas nunca presenciou cenas com outros colegas, não houve nenhuma representação, enquanto que daqueles que disseram que o assédio não era uma prática comum no curso, 41% declarou ter presenciado cenas de assédio com outros colegas. Gráfico 12: Pergunta “O assédio é prática comum em seu curso?” para quem não sofreu assédio Gráfico 13: Comparativo entre afirmar que o assédio é comum e presenciar cenas com outros colegas para quem afirmou não ter sido assediado 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% O que o aluno acredita ser a causa do assédio Senso de superioridade Personalidade/C aráter Problemas/Disfu nções psicológicas 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% É prática comum em seu curso? Já presenciou cenas de assédio com colegas Sim Não 0% 10% 20% 30% 40% 50% É prátiva comum mas nunca presenciou com colegas Não é prática comum mas já presenciou com colegas VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Dos respondentes que declararam que não sofreram assédio moral no seu curso por parte de algum professor, 81% assinalou que a personalidade/caráter leva um professor a assediar um aluno. Outros 73% afirmaram que o senso de superioridade também é fator que leva o professor a assediar um aluno, e 43% afirmaram que problemas/disfunções psicológicas influenciam para que o professor assedie o aluno. Gráfico 14: Percepção do aluno quanto à causa do assédio por parte do professor dos respondentes que afirmaram não ter sido assediados Conclusão O assédio moral não é um fenômeno novo, contudo, seu estudo com tal vem sendo efetuado há poucas décadas, existindo uma escassez de trabalhos na área, principalmente na área de ensino. O foco deste trabalho foi verificar a existência ou não do sentimento de assédio (do professor para com o aluno no curso de Administração de uma Instituição Federal em Pernambuco, no turno matutino) nos alunos respondentes dos questionários, numa tentativa de identificar outras características relacionadas ao assédio nas condições citadas. Os dados encontrados neste estudo ratificam a importância e a necessidade de estudar este tema. Especialmente em função da confirmação de que os alunos do curso de graduação em administração, objeto deste estudo têm vivenciado sentimentos de humilhação e ou constrangimento, por parte daqueles que tem a responsabilidade de auxiliar em seu processo de formação, e que por vezes são uma referência para os mesmos. Decerto que nesse processo formativo, várias situações de conflito possam eclodir, porém, haverão de estar preparados para lidar com tais situações, tanto professores quanto alunos. Vale ressaltar que os dados coletados no estudo indicam que independentemente da ação do docente ter sido consciente e intencional ou que não tenha se cumprido a repetição do ato, os alunos mencionam seu sentimento de humilhação, ou seja, independentemente da intenção ou não do agressor em agredir, existiu um sentimento de agredido. Deste trabalho, concluímos que há o sentimento de assédio moral no curso de Graduação de Administração no turno matutino da Instituição referida. Analisando o fator que levou os alunos a fazerem esta afirmação, podemos inferir que nem todos os respondentes de fato sofreram o assédio moral, contudo, existe um sentimento de desagrado nas respostas dos questionários aplicados. 0% 20% 40% 60% 80% 100% O que o aluno acredita ser a causa do assédio Senso de superioridade Personalidade/ Caráter Problemas/ Disfunções psicológicas VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Podemos até aceitar que com base nas definições de assédio moral, tal fato não tenha ocorrido, mas é inevitável considerar ao menos um comportamento agressivo/violento presente nessas relações. Como podemos esperar um processo de formação digno e edificante, se o tratamento dispensado for humilhante e constrangedor? É importatnte salientar que o questionário aplicado reflete apenas o sentimento do aluno, não levando em consideração se o assédio de fato ocorreu. Também não mensuramos as causas sob a perspectiva do professor, ou se houve ou não a intenção de assediar. Tais questionamentos deverão ser frutos de novos trabalhos de pesquisas. Por fim cabe considerar que devemos estar atentos ao nível da agressão moral nas instituições de ensino, uma vez que as agressões podem causar problemas a vítimas e pode impedir o melhor aproveitamento e desenvolvimento das habilidades e conhecimento dos alunos. É necessário que além de um aprofundamento dos estudos relacionados a este tema, sejam adotadas medidas preventivas no sentido de neutralizar as possíveis causas que tem gerado este comportamento por parte da sociedade. Referências CARAN, Vânia Cláudia Spoti. Riscos psicossociais e assédio moral no contexto acadêmico. São Paulo: USP, 2007. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós Graduação em Enfermagem Fundamental, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2007. 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