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Centro Universitário do Distrito Federal – UDF 
Departamento/Faculdade de Direito 
Graduação Direito 
 
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito 
Profª. Mestra: Andréa Peixoto. 
2º/2017 
 
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: 
FERRAZ JUNIOR, Tersio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: 
técnica, decisão, dominação. 9ª ed. São Paul: Atlas, 2016. 
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 32ª ed. 
rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. 
 
1. DIREITO COMO NORMA. 
- No capítulo “O direito como norma”, Franco Montoro passa a 
analisar as relações entre direito, lei e norma jurídica. (Capítulo 
10). 
 
Alguns pontos críticos. 
- Porém, antes, devemos ter em mente algumas considerações 
críticas de Ferraz Jr, acerca das concepções de línguas e a pretensão 
de alguns operadores do direito sobre uma suposta e unívoca 
definição “real”, numa “presumida essência das coisas” (p. 14). 
 
- Nas palavras de Ferraz Jr.: “Na tradição cultural do Ocidente, há 
um elemento importante que permitirá visualizar o problema de um 
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dos modos como ele pode ser enfrentado. Referimo-nos à concepção 
da língua em seu relacionamento com a realidade. Abstração feita 
dos diferentes matizes que de cada concepção da língua pudesse 
ser apresentada, notamos, sobretudo entre os juristas, uma 
concepção correspondente à chamada teoria essencialista. Trata-se 
da crença de que a língua é um instrumento que designa a 
realidade, donde a possibilidade de os conceitos linguísticos 
refletirem uma presumida essência das coisas. Nesse sentido, as 
palavras são veículos desses conceitos. Quem diz „mesa‟ refere-se a 
uma coisa que, em suas variações possíveis, possui um núcleo 
invariável que possibilita um „conceito de mesa‟ e a identificação 
das diversas mesas” (idem). 
 
- E acrescenta: “os autores jurídicos, em sua maioria, têm uma visão 
conservadora da teoria da língua, sustentando, em geral, no que se 
refere aos objetos jurídicos, a possibilidade de definições reais, isto 
é, a ideia de que a definição de um termo deve refletir, por palavras, 
a coisa referida. Por isso, embora não neguem o caráter vago do 
termo direito, que ora designa o objeto de estudo, ora é o nome da 
ciência (por exemplo: a “Ciência do Direito” estuda o “direito”), ora 
o conjunto de normas, ou das instituições (por exemplo: o direito 
brasileiro prescreve pena para o crime de morte, o direito não deve 
mais admitir a pena de banimento) – direito objetivo -, ora é direito 
no sentido dito subjetivo (meu direito foi violado), todos eles não se 
furtam à tentativa de descobrir o que é „o direito em geral‟. E aí 
entram numa polêmica de séculos, cujas raízes, obviamente, estão 
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entre outros motivos, em sua concepção de língua (Nino apud 
Ferraz Jr, p. 14-15). 
 
- Assim, uma parte considerável das definições “reais” do direito 
em sua “essência” “[...] ou são demasiado genéricas e abstratas e, 
embora aparentemente universais, imprestáveis para traçar-lhes os 
limites, ou são muito circunstanciadas, o que faz que percam sua 
pretendida universalidade” (p. 15). 
 
-Em oposição ao enfoque essencialista acima, surge na atualidade, a 
concepção convencionalista (filosofia analítica)1. Nesse sentido, “a 
língua é vista como um sistema de signos, cuja relação com a 
realidade é estabelecida arbitrariamente pelos homens” (idem). 
 
- Por isso, “se nos atermos ao uso, toda e qualquer definição é 
nominal (e não real), isto é, definir um conceito não é a mesma 
coisa que descrever uma realidade, pois a descrição da realidade 
depende de como definimos o conceito e não o contrário. [...] Se, no 
uso corrente da língua portuguesa, definimos „mesa‟ como um 
 
1 Mais à frente o autor prossegue: “A essência da „mesa‟ não está nem nas coisas 
nem na própria palavra. Na verdade, „essência‟ é apenas, ela própria, uma palavra 
que ganha sentido num contexto linguístico: depende de seu uso. Para os 
convencionalistas só há um dado irrecusável: os homens comunicam-se, quer 
queiram quer não (é impossível não se comunicar, pois não se comunicar é 
comunicar que não se comunica). Essa comunicação admite várias linguagens 
(falada, por gestos, pictórica, musical etc). Em consequência, a descrição da 
realidade depende da linguagem usada, e em casos como o da música pode-se até 
dizer que a linguagem (musical) e a realidade (musical) se confundem” (p. 15 – grifos 
meus). 
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objeto feito de madeira sólido, a certa altura do chão, que serve 
para pôr coisas em cima (a mesa de madeira, de quatro pernas), a 
descrição da realidade será uma. Se definimos como um objeto 
abstrato, referente à qualidade da comida que se serve (a boa mesa 
satisfez os convidados), então a descrição será outra” (idem). 
 
Franco Montoro e as etimologias de “lei”. 
- Montoro inicia por identificar “três etimologias diferentes do 
vocábulo „lei‟” (p. 343-344): 
 
- “Legere” – a partir de Isidoro de Sevilha “sustenta que „lei‟ vem do 
verbo latino legere, que significa „ler‟. A lei é norma escrita (jus 
scriptum), que se „lê‟, em oposição às normas costumeiras, que não 
são escritas (jus non scriptum)”. 
- “Ligare” – citando seu autor preferido, São Tomás, “‟lei‟ vem do 
verbo ligare, que significa „ligar‟, „obrigar‟, „vincular‟. A lei obriga 
ou liga a pessoa a uma certa maneira de agir”. 
- “Eligere” – citando Cícero (autor romano) ao afirmar que “lei” 
teria origem em “eligere, eleger, escolher, porque a lei é a norma 
escolhida pelo legislador, como o melhor preceito para dirigir a 
atividade humana”. 
 
5 
 
- Para o autor, em suas origens o termo “lei” guarda relação com o 
“conceito de norma do comportamento humano, isto é, à lei ética, 
moral ou humana e, especialmente, à lei jurídica” (p. 344). 
 
- Citando Gény, afirma que são “leis normativas” as “leis éticas, 
humanas ou morais são normas destinadas a regular o agir do 
homem e a orientá-lo para determinadas finalidades” (p. 344). 
Acrescentando Cox, “são normas que regulam o uso e o abuso de 
liberdade” (idem). 
 
- Inicia um estudo das leis nos sentidos: latíssimo ou universal (tais 
como a lei cósmica “que se aplica a todos os setores da natureza”); 
lato ou amplo (representando a “lei humana, ética ou moral, que se 
aplica ao campo da liberdade”) e; estrito (“lei jurídica, constituída 
pelas normas de conduta impostas pela autoridade social”). 
 
- Antes, porém, afirma que a lei, seja no sentido latíssimo, lato ou 
estrito, possui dois elementos a serem considerados (p. 345): 
a) Internamente – “no próprio ser, como uma propriedade ou 
característica que lhe é intrínseca”; 
b) Externamente – “como formulação ou enunciado dessa 
característica”. 
 
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- Traz então seus argumentos sobre a existência de leis universais e 
inferências, a partir da constatação de um “Pensamento ordenador” 
(que não por acaso chamará de “Deus”), para o convencimento de 
que dentre as leis da natureza, há as leis humanas (p. 348-349). 
 
- E prossegue: enquanto as leis da natureza e os fenômenos 
naturais “[...] são executados sem qualquer conhecimento ou 
decisão por parte de tais seres” (p. 350). 
 
- As leis de criação humana, em razão dos indivíduos possuírem “o 
conhecimento dos fins, a reflexão, a liberdade”, são “livres da 
força”, pois “é de forma consciente e fundamentalmente livre que 
o homem desenvolve sua atividade” (idem). 
 
- Nesse sentido, “as leis que nos dizem respeito – leis humanas, 
éticas ou morais – apresentam características próprias. Dizem o que 
„deve ser‟ e não o que é2. São imperativasou normativas e não 
simplesmente enunciativas” (p.350). 
 
- Em seguida, o autor conceitua o que vem a ser a ética: 
“A palavra „ética‟, derivada do grego „ethos‟, significa costume. Leis 
éticas são regras que dirigem o comportamento humano. E 
 
2 Aqui podemos fazer o raciocínio do Prof. Tersio sobre a descrição da realidade e os 
conceitos advindos das palavras. 
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estabelecem deveres e direitos de ordem moral. São regras éticas: o 
respeito à dignidade das pessoas, o dever de não mentir, a 
exigência da solidariedade, a prática da justiça, o respeito às leis 
da natureza e preceitos semelhantes” (p. 350). 
 
- E prossegue: “a ética nos fornece as regras fundamentais da 
conduta humana” (idem). 
 
- Em seguida, Montoro passa a sustentar uma “quase universal” 
“retomada dos estudos e exigências de ética na vida pública e na 
vida privada, na administração e nos negócios, nas empresas e na 
escola, no esporte, na política, na justiça, na comunicação” (p. 350). 
 
- Remonta, então, Montoro que após a desilusão tanto das teorias 
positivistas do final do século XIX (cuja afirmação é de que 
somente é direito “aquilo que o poder dominante determina”, 
sendo a ética, os valores humanos e a justiça “elementos estranhos 
ao direito, extrajurídicos”), quanto com experiência da 2ª Guerra 
Mundial, com seus “regimes totalitários da direita e da esquerda”, 
deram “[...] origem ao movimento de lideranças mundiais e à 
aspiração das populações de todo mundo, que culminou com a 
Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, aprovada 
pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 1948, que constitui 
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um dos documentos fundamentais da civilização contemporânea” 
(p. 351). 
 
- Na economia3, na política, nos movimentos ecológicos4 e diversos 
setores sociais vindicavam a “retomada das exigências éticas”, 
propondo, então, um retorno ao olhar de “tradição clássica”, na 
afirmação de que “a lei humana ou ética poder ser caracterizada 
como uma ética cósmica” (p. 353). 
 
- E prossegue seus argumentos: “Nessa perspectiva, a ética não é 
apenas um sentimento subjetivo, mas tem seu fundamento numa 
realidade extramental e objetiva: a lei cósmica universal, a 
natureza das coisas e, especialmente, a natureza humana. É a 
perspectiva da consciência comum da humanidade” (p. 353-354). 
 
2. A LEI JURÍDICA 
2.1 Norma jurídica 
 
3 “pôr o ser humano no centro do desenvolvimento e orientar a economia para 
satisfazer eficazmente as necessidades humanas” (Declaração e agenda da Cúpula 
Universal pelo Desenvolvimento Social, Copenhague, Dinamarca, 12 de março de 
1995). NR, p. 352. 
 
4 Afirma o autor que há na atualidade um movimento ecológico de caráter mundial com 
o propósito de “uma retomada das exigências éticas e do respeito devido às leis 
da natureza no mundo contemporâneo” (p. 353). 
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- Montoro inicia então a classificação das leis jurídicas, afirmando 
que a palavra “lei jurídica” pode ser empregada em dois sentidos 
distintos (p. 354): 
a) O restrito – que “é equivalente à lei escrita; nesse sentido, „lei‟ 
(direito escrito) opõe-se ao „costume jurídico‟ (direito não escrito)”; 
b) Em sentido amplo – “o vocábulo „lei‟ abrange todas as normas 
jurídicas: lei escrita, costume jurídico, jurisprudência, etc” (idem). 
 
- E é nesse sentido – o amplo - que o autor pretende discorrer 
primeiramente com o auxílio de François Gény. 
 
- Assevera então que “a norma jurídica é, em primeiro lugar, uma 
regra de conduta social” (p. 354). 
 
- “seu objetivo é regular a atividade dos homens em suas relações 
sociais” (idem). 
 
- O autor então, elenca os tipos de normas que “dirigem o 
comportamento humano na vida coletiva” (idem). 
- São elas: 
a) As normas morais – em sentido estrito, fundadas na consciência 
pessoal; 
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b) As normas religiosas – fundadas na fé e nos ideais de cada ser 
humano; 
c) Os usos e costumes sociais – como os hábitos de convivência, 
recreação, esportes, moda, etc; 
d) As normas jurídicas – que, distinguindo-se das demais, 
constituem o campo do direito. 
 
- Quanto às normas jurídicas – são elas o objeto do estudo do 
direito – o autor destaca duas características: 
1) Dotadas de eventual aplicação da força coercitiva do poder 
social. 
Nesse sentido, destaca “não é necessário que haja, em cada 
momento, uma coerção efetiva. Basta que ela seja potencial. E possa 
ser invocada pela parte a quem a lei atribui o direito de exigir o seu 
cumprimento5” (p. 355). 
 
- De acordo com o autor, a coercitividade “separa visivelmente a 
norma jurídica das normas morais”; das normas religiosas e dos 
costumes e hábitos sociais (“porque estes dependem 
exclusivamente da opinião pública”). 
 
 
5 A nota de rodapé da página 355 Montoro identifica as formas de coerção das normas 
jurídicas. 
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- Assim, “as normas sobre impostos, salário, propriedade, família 
[...] são obrigatórias não apenas no foro da consciência, mas por 
uma imposição que pode ir até o emprego da força para sua 
execução” (idem). 
 
- Citando Petrasizky afirma que as normas jurídicas têm natureza 
“imperativo-atributivas”, pois “a lei jurídica, além de impor a uma 
parte o cumprimento da obrigação, atribui à outra parte o direito 
de exigir rigorosamente esse cumprimento. Por isso, além de 
imperativa ou obrigatória – como as demais normas -, ela é, 
também, atributiva” (p. 356). 
 
2) Conteúdo (ou matéria) da norma e o objetivo da justiça. 
- O autor então cita François Gény: 
“fundamentalmente, o direito não encontra seu conteúdo próprio e 
específico senão na noção de „justo‟, noção primária, que implica 
não apenas os preceitos elementares de não prejudicar outrem 
(neminem laedere) e dar a cada um o que é seu (suum cuique tribuere), 
mas também o pensamento mais profundo de um equilíbrio a 
estabelecer entre os interesses em conflito, com a finalidade de 
assegurar a manutenção e o progresso da sociedade humana” (p. 
356). 
 
12 
 
- Adverte Montoro: “não se afirma que toda norma jurídica realize 
efetivamente a justiça. Mas, sim, que ela é sempre uma tentativa no 
sentido de sua realização” (idem). 
 
- “É a justiça que dá sentido à norma jurídica”. 
 
- E prossegue: “essa exigência fundamental de justiça, como 
conteúdo da norma jurídica, está ligada à universalidade ou 
generalidade dos preceitos jurídicos. É característica essencial das 
normas de direito a sua „universalidade‟. Elas são sempre normas 
gerais que se impõem a todos com igualdade. [...] a norma é geral, 
porque todos são iguais perante a lei” (p. 356-357). 
 
2.2 Definição de lei jurídica. 
- Avisa Montoro, norma jurídica ou lei jurídica em sentido amplo, 
tem as seguintes características conceituais (p. 357): 
a) Norma de conduta do homem com seus semelhantes6 (gênero 
próximo): 
b) Garantia pela eventual aplicação da força social (elemento 
formal); 
c) Tem em vista a realização da justiça (elemento material); 
 
6
 Na nota de rodapé da página 357 afirma que “as normas jurídicas têm sempre por 
objetivo relações entre pessoas, consideradas individual ou coletivamente (grupos 
sociais ou pessoas jurídicas)”. Em outras palavras, as normas jurídicas regulam as 
relações entre sujeitos, seja individual, seja coletivo. 
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- Complementa o autor: “Esse conceito de lei aplica-se a todas as 
normas jurídicas. Não apenasà lei escrita (lei em sentido estrito), 
mas também ao costume jurídico, às decisões normativas da justiça 
ou da administração e a todos os preceitos que constituem, em cada 
sociedade, o campo de seu direito, efetivamente reconhecido” 
(idem). 
 
- Explica Montoro a partir das concepções de Kelsen que “as normas 
não são ordens ou imperativos, mas juízos – juízos hipotéticos7” 
(p. 358). 
 
- Destaca o autor que não há na norma os imperativos gramaticais, 
tais como: “não matar” ou “não roubar” e nem deveria haver, pois 
“a atitude anti-imperativista no conceituar a natureza da norma 
toma corpo e alcança os foros de dignidade teórica e não apenas 
mero jogo verbal” (idem). 
 
- Assim, ao caráter não imperativo (ou “não imperatividade”) das 
normas significa que dentro da liberdade civil dos indivíduos sabe-
se que não se deve matar, pois se o sujeito matar alguém sofrerá as 
sanções penais cabíveis. 
 
7 Mais a frente o autor especifica melhor com “o caráter lógico da norma jurídica” (p. 
358). E acrescenta, “do ponto de vista lógico, a norma jurídica tem a estrutura de um 
juízo ou proposição e pode ser enunciada sob a fórmula de uma proposição 
hipotética condicional, como fazem Korkounov e Kelsen, ou sob a forma de uma 
proposição disjuntiva, como prefere Cóssio” (p. 359). 
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- E citando Carlos Cóssio: “ao enunciado da prestação ou dever 
jurídico, [...] denominou endonorma (dado fato temporal – FT – 
deve ser a prestação – P). Ao enunciado do ilícito e sua 
consequência jurídica, a sanção, chamou de perinorma: „Dada a 
não prestação (NP) deve ser a sanção (S)” (p. 358). 
 
- Nesse sentido, citando Korkounov: “as normas jurídicas são regras 
condicionais. Constam de dois elementos: a definição das 
condições de aplicação de regra (hipótese ou suposição) e a 
exposição da regra propriamente dita (disposição ou ordem). E 
podem ser expressas na fórmula seguinte: Se... em consequência 
...” (p. 358-359). 
Ex:. Se o sujeito furta, em consequência estará passível de ser preso. 
Se o defunto deixou filhos, em consequência seus bens serão 
divididos em partes iguais. 
 
- Quanto à formulação lógica da norma jurídica, após especificar o 
que se trata a “sua formulação lógica” (ver nota de rodapé da 
página anterior), distingue entre a “formulação mental ou lógica” 
da norma que não se confundiria com a própria norma, cuja 
“existência real e objetiva” permitiria a constatação de que “a 
norma é uma coisa; sua formulação é outra” (p. 359). 
 
- A partir de Kelsen, conceitua: 
15 
 
- As normas jurídicas (o autor chama também de “a norma em si 
mesma”) – são “mandamentos e, como tais, comandos, imperativos 
(...), permissões e atribuições de poder ou competência” (Kelsen 
apud Montoro, p. 360). 
 
- Já as “proposições jurídicas” (ou a “descrição da norma”) – são 
“os enunciados com os quais a Ciência do Direito descreve esses 
comandos. „As proposições jurídicas são juízos hipotéticos que 
enunciam ou traduzem que, sob certas condições ou pressupostos, 
devem intervir certas consequências” (idem). 
 
- A partir dessas conceituações, o autor elenca três aspectos da 
norma jurídica (p. 360): 
1º) “Em si mesma” – como fato ou imperativo social. Ex:. A norma 
que proíbe o homicídio, vigente no Brasil desde os tempos coloniais; 
2º) A “formulação dessa norma” – feita pelo legislador ou outra 
autoridade competente, mediante palavras, proposições ou 
enunciados. Ex:. A atual redação do art. 121 do Código Penal: 
“Matar alguém: Pena – reclusão, de 6 a 20 anos”; 
3º) A descrição da norma ou da sua formulação – feita pelos 
estudiosos ou por aqueles que lidam com o direito. 
 
16 
 
- Sobre o primeiro aspecto discorre: “em si mesma a norma é 
sempre uma disposição imperativa, proibitiva ou permissiva. E 
constitui [...] um comando jurídico dirigido à conduta dos simples 
indivíduos, autoridades ou instituições da vida social” (idem). 
 
- Acerca da segunda, “a formulação da norma pelo legislador (ou 
outras autoridades) obedece às exigências da técnica legislativa, 
que tem objetivos práticos e não científicos. Muitas vezes, a mesma 
norma, como a relativa ao homicídio, furto, falsificação de moedas 
etc., recebe formulações diferentes em legislações que se sucedem” 
(idem). 
 
- Por fim, em relação ao terceiro aspecto, “as discussões sobre a 
estrutura e significação da norma jurídica colocam-se no plano da 
sua „descrição‟ pelo estudioso ou pela Ciência do Direito” (idem). 
 
- Após descrever as proposições jurídicas de Hans Kelsen (juízo 
hipotético ou condicional) e de Carlos Cóssio (juízo disjuntivo), 
Montoro elabora uma formulação que seria para ele mais adequada, 
pois além de “descrever a parte sancionadora ou punitiva da norma 
jurídica”, deveria igualmente prever os efeitos jurídicos 
assegurados pela norma quando do seu cumprimento pelo sujeito 
(p. 362). 
 
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- Assim, Montoro “para atender aos múltiplos efeitos da norma 
jurídica”, propõe uma formulação “mais ampla” que resume da 
seguinte forma (p. 362-363): 
1) A descrição da norma jurídica completa deve abranger três 
elementos básicos: 
a) A endonorma – que estabelece a prestação ou obrigação. 
Ex:. Se F é eleitor, F deve votar. 
b) Uma ou mais perinormas – que estabelecem as consequências 
jurídicas negativas do não cumprimento da prestação. 
Ex:. Se F não votou, F deve ser multado; se F não votou, não poderá 
retirar seu passaporte; se F não votou, não poderá inscrever-se em 
concurso público, etc. 
c) Uma ou mais perinormas – que estabeleçam as consequências 
jurídicas positivas do cumprimento da prestação. 
Ex:. Se F votou, F deve ter seu título assinado pelo Presidente da 
Mesa; Se F votou pode tirar seu passaporte; inscrever-se em 
concurso público, etc. 
 
2) Cada endonorma ou perinorma tem a estrutura de uma 
proposição condicional (se F não votou, F deve ser multado), 
constituída de duas proposições simples, uma antecedente, 
simplesmente enunciativa, que descreve a hipótese (descritor). 
Ex:. F não votou. 
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- Outra consequente normativa que prescreve um dever jurídico 
(prescritor). 
Ex:. F deve ser multado. 
 
3) Entre a endonorma e as perinormas há uma relação de 
consequência, expressa numa proposição condicional, mais ampla, 
em que o antecedente é a endonorma (se F é eleitor, F deve votar) e 
o consequente é constituído pelas diversas perinormas. 
 
4) A proposição constituída pelas perinormas é uma disjuntiva em 
que uma das alternativas é a proposição relativa ao não 
cumprimento da prestação e suas consequências negativas (se F 
não votou, F deve ser multado) e outra alternativa (“ou”) é a 
proposição relativa ao cumprimento da prestação e suas 
consequências positivas (se F votou, F não pode ser multado). 
 
5) A formula que poderia sintetizar a estrutura completa da norma 
jurídica segundo o autor é: 
 
Se H é →→→deve ser P > {Se P não é > devem ser 
consequências 
negativas 
19 
 
OU 
Se H é -> deve ser P -> { Se P é > devem ser consequências 
positivas. 
 
Onde: 
“H” é a hipótese, cuja prestação correspondente é “P”. 
Se a prestação não é cumprida, devem ser efetivadas, consequências 
negativas ou se a prestação é cumprida, devem ser efetivadas 
consequências positivas. 
 
- Por fim, o autor conclui: “a visão exclusivamente punitiva da lei 
pode ser vinculada à concepção individualista e pretensamente 
liberal do Estado-Polícia, cuja missão se limita a evitar que a 
liberdade de uns impeça a liberdade de outros” (p. 363).

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