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RECURSO ESPECIAL Nº 284.614 - RJ (2000/0110027-0)
 
 
	RELATOR 
	: 
	MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS 
	RECORRENTE
	:
	MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO 
	ADVOGADO
	:
	LEONARDO PIETRO ANTONELLI E OUTROS
	RECORRIDO 
	:
	MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
EMENTA
 
PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA -  TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA - MINISTÉRIO PÚBLICO - ILEGITIMIDADE ATIVA "AD CAUSAM" - PRECEDENTES.
 
- O Ministério Público não tem legitimidade para manifestar ação civil pública com o objetivo de impedir a cobrança de tributos, como as taxas de limpeza, conservação de vias e logradouros e iluminação pública, assumindo a defesa dos interesses do contribuinte.
- Contribuinte e consumidor não se equivalem; o Ministério Público está legalmente autorizado a promover a defesa dos direitos do consumidor, mas não a do contribuinte.
- Recurso conhecido e provido para  declarar extinto o processo, sem julgamento do mérito.  
 
ACÓRDÃO
 
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Eliana Calmon, Franciulli Netto, João Otávio de Noronha e Castro Meira. Presidiu o julgamento o Exmo. Sr. Ministro Franciulli Netto.
 
Brasília (DF), 19 de fevereiro de 2004(Data do Julgamento)
 
 
MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS  
Relator
 
 
 
 
 
RECURSO ESPECIAL Nº 284.614 - RJ (2000/0110027-0)
 
RELATÓRIO
 
O EXMO. SR. MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS: Trata-se de recurso especial manifestado pelo MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO, com fundamento nas letras "a" e "c" do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que, por maioria, negou provimento ao agravo de instrumento interposto pelo ora recorrente, com pedido de efeito suspensivo, contra a decisão proferida pelo Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de São Gonçalo-RJ que concedeu medida liminar para determinar a imediata suspensão da cobrança da taxa municipal de manutenção da iluminação pública - TIMP, nos autos da ação civil pública intentada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO em face da Municipalidade.
O voto condutor do v. acórdão, confirmando a decisão agravada, decidiu pela legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública visando impedir a cobrança de tributo tido por inconstitucional, na defesa de direitos coletivos. Ademais, com base no enunciado 12 da Súmula do extinto Tribunal de Alçada Cível Estadual, julgou ilegal a cobrança da TIMP, visto que ausentes as características de especificidade e divisibilidade.   
No recurso especial, o ora recorrente alega violação à Lei 7.347/85 e aos artigos 79, I, b, do CTN, 110 da Lei 8.078/90 e 25 da lei 8.625/93, bem como dissídio interpretativo com julgados deste Tribunal, sustentando a ilegitimidade do "Parquet" para intentar ação civil pública com o objetivo de obstar a cobrança de tributo, uma vez que o contribuinte da taxa de iluminação pública não se equipara ao consumidor.
Recurso extraordinário interposto simultaneamente.
O recurso especial foi admitido no Tribunal "a quo", subindo os autos a esta eg. Corte, onde vieram a mim conclusos. O recurso extraordinário permaneceu retido, em razão da aplicação do § 3º do artigo 542 do CPC.
Solicitei o pronunciamento do Ministério Público Federal, que opinou pelo desprovimento do recurso.
É o relatório.
 
 
RECURSO ESPECIAL Nº 284.614 - RJ (2000/0110027-0)
 
VOTO
 
O EXMO. SR. MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (Relator): Cuidam os autos de ação civil pública promovida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, com pedido de liminar, em face do Município de São Gonçalo, objetivando ver suspensa a exigibilidade da taxa de manutenção de iluminação pública - TIMP sob a  alegação de ilegalidade e inconstitucionalidade da Lei Municipal que a criou.
Concedida a liminar, houve agravo de instrumento interposto pelo Município, com pedido de efeito suspensivo, desprovido pelo Tribunal estadual que decidiu pela legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública e, julgando o  mérito, proclamou a ilegalidade da cobrança da Taxa, em face da ausência das características de especificidade e divisibilidade.
O acórdão ora recorrido, por maioria de votos, proclamou (fls. 102):
 
"Ação civil pública. Legitimidade do Ministério Público para a sua propositura, na defesa de direitos coletivos. Taxa de iluminação pública. Ausência das características de especificidade e divisibilidade da mesma. Ilegalidade da sua cobrança. Jurisprudência pacificada em  tal sentido. Súmula nº 12 do extinto Tribunal de Alçada Cível deste Estado. Cabimento da ação civil pública. Agravo desprovido." 
 
Seguiu-se este recurso especial em que a Municipalidade insurge-se contra a proclamação da legitimidade do órgão ministerial na hipótese dos autos, alegando violação aos preceitos legais indicados no relatório.
Impõe-se a reforma do julgado.
Não vislumbro legitimidade ao Ministério Público para propor ação civil pública contra a cobrança de tributos, pois não se cogita, na espécie, de defesa de interesse coletivo, difuso, mas divisíveis e individualizáveis. Os interesses coletivos, difusos, não são mensuráveis pelo número de pessoas interessadas ou afetadas, mas as transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, ou grupos, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base, consoante definição do art. 81, § único, incisos I e II, da Lei 8.078.
Contribuintes não são consumidores, e por isso mesmo, não vejo como equipará-los sob o ângulo dos interesses difusos ou coletivos.
A jurisprudência da Eg. 1ª Turma do STJ, após alguma vacilação, pacificou-se na proclamação da tese da ilegitimidade do Ministério Público para pleitear, em sede de ação civil pública, a declaração de inconstitucionalidade de lei ou a defesa de direitos divisíveis para impedir a cobrança de tributos.
Assim é que vem a Eg. 1ª Turma positivando:
 
"AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE – IMPOSSIBILIDADE.
Não há no acórdão embargado nenhuma obscuridade, contradição ou omissão.
Não pode a ação civil pública ser utilizada como meio de se declarar inconstitucionalidade de lei municipal, nem mesmo para declaração incidental.
Embargos rejeitados" (EDREsp. 134.979-GO, D.J. 15.12.97, Rel. Min. Garcia Vieira).
 
"PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA. COBRANÇA. RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA ESTABELECIDA ENTRE A FAZENDA MUNICIPAL E O CONTRIBUINTE. NÃO APLICABILIDADE, AO CASO, DO ARTIGO 21, DA LEI 7.347/85, POSTO QUE A REFERIDA AÇÃO PRESTA-SE À PROTEÇÃO DOS INTERESSES E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS, QUANDO OS SEUS TITULARES SOFREREM DANOS NA CONDIÇÃO DE CONSUMIDORES. ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO RECONHECIDA. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.
 
A Ação Civil Pública não se  presta como meio adequado a obstar a cobrança da Taxa de Iluminação Pública instituída por Lei Municipal, face ao fato de que a relação jurídica estabelecida desenvolve-se entre Fazenda Municipal e o contribuinte, não revestindo este último o conceito de consumidor constante do artigo 21, da Lei 7.347/85, a autorizar o uso da referida ação.
Os interesses e direitos individuais homogêneos, de que trata o artigo 21, da Lei 7.347/85, somente poderão ser tutelados pela via da ação coletiva, quando os seus titulares sofrerem danos na condição de consumidores.
Ilegitimidade ativa do Ministério Público reconhecida.
Recurso especial improvido." (REsp. 177.804-SP, D.J. 26.10.98, Rel. Min. José Delgado).
  
A eg. 2ª Turma, por seu turno, jamais atribuia legitimidade ao Ministério Público para promover ação civil pública em matéria tributária. É de vernos julgados proferidos nos Recursos Especiais nºs. 113.326/MS; 106.993-MS; 115.500-PR; 200.234/SP e AGA 197.150/GO, cujas ementas transcrevo:
 
"PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA.
 
A ação civil pública não pode ser utilizada para evitar o pagamento de tributos, porque, nesse caso, funcionaria como verdadeira ação direta de inconstitucionalidade; ademais, o beneficiário não seria o consumidor, e sim o contribuinte – categorias afins, mas distintas. Recurso especial não conhecido." (REsp. 113.326-MS, D.J. 15.12.97, Rel. p/ acórdão o Ministro Ari Pargendler).
 
"AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MATÉRIA TRIBUTÁRIA. MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE ATIVA.
Não tem o Ministério Público legitimidade ativa, para promover ação civil pública em matéria tributária, assumindo a defesa dos interesses do contribuinte, já que o beneficiário, em última análise, não seria o consumidor. Consumidor e contribuinte não se equivalem, estando o Ministério Público expressamente  autorizado a promover a defesa dos direitos do consumidor" (REsp. 115.500-PR, D.J. 03.08.98, Rel. Min. Hélio Mosimann).
 
"MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COBRANÇA DE TAXA.
 
O Ministério Público não tem legitimidade para manifestar ação civil pública com o objetivo de ver sustada a cobrança de tributos, como a taxa de iluminação". (REsp. 200.234-SP, D.J. 21.06.99, Rel. Min. Hélio Mosimann).
  
À vista do exposto e em conformidade com a pacífica jurisprudência das Turmas integrantes da eg. 1ª Seção do STJ,  conheço do recurso e lhe dou provimento, declarando extinto o processo sem julgamento do mérito (CPC, art. 267, VI).
 
 
 
 
 
 
 
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
 
 
 
	Número Registro: 2000/0110027-0
	RESP 284614 / RJ 
 
 
Números Origem:  990025387  9968093
 
 
	PAUTA: 19/02/2004
	JULGADO: 19/02/2004
	 
	 
 
Relator
Exmo. Sr. Ministro  FRANCISCO PEÇANHA MARTINS
 
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FRANCIULLI NETTO
 
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. WALLACE DE OLIVEIRA BASTOS
 
Secretária
Bela. BÁRDIA TUPY VIEIRA FONSECA
 
AUTUAÇÃO
 
 
	RECORRENTE
	:
	MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO
	ADVOGADO
	:
	LEONARDO PIETRO ANTONELLI E OUTROS
	RECORRIDO
	:
	MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
 
 
ASSUNTO: Tributário - Tarifa - Energia Elétrica
 
CERTIDÃO
 
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
 
"A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e lhe deu provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator."
Os Srs. Ministros Eliana Calmon, Franciulli Netto, João Otávio de Noronha e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.
 
O referido é verdade. Dou fé.
 
Brasília, 19  de fevereiro  de 2004
 
 
 
BÁRDIA TUPY VIEIRA FONSECA
Secretária
 
	Tribunal:
	STJ
	Processo:
	REsp 284614 / RJ RECURSO ESPECIAL 2000/0110027-0
	Fonte:
	DJ 26.04.2004 p. 157
	Tópicos:
	Processual Civil, Ação Civil Pública, Taxa De Iluminação Pública

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