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Gramsci do fordismo ao trabalho flexível Renan Ara 372jo

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Gramsci e a questão do controle social: do fordismo ao trabalho flexível 
 
Renan Araújo * 
 
 
Resumo: Neste artigo pretendemos pontuar os diferentes nexos que articulam o processo 
contemporâneo de reestruturação produtiva e sua lógica flexível com o sistema sócio-metabólico de 
reprodução social do capital, pois, a disseminação-adaptação em diferentes países do “Toyotismo” 
impõe ao movimento operário novas provocações relacionadas às formas de controle social. Partindo 
das teses expostas e do método utilizado por Gramsci, particularmente, em “Americanismo Fordismo”, 
desenvolveremos nossa hipótese de que o conjunto das relações sociais atuais representa a nova forma 
de ser hegemônica do capital. 
 
Palavras-chave: Toyotismo; fordismo; trabalho; controle-social; hegemonia. 
 
Abstract: This issue focus on the different connotations which articulate the contemporary process 
productive re-struturation and its flexible logic with the metabolical social system of social 
reproduction of capital, for the adaptation-dissemination in different countries of “Toyotism” fastens 
upon the worker crusade new challenges related to the new ways of social control. Starting from these 
stated theses and the method used by Gramsci, especially in Fordism-Americanism, we will develop our 
hypothesis basing upon the group of the current social relations representing the new form of being 
hegemonic of capital. 
 
Key-words: Toytism; fordism; work; social-control; hegemony. 
 
Ao refletirmos sobre o processo de reestruturação produtiva e as metamorfoses do mundo 
do trabalho contemporâneo, mais especificamente, a introdução dos métodos de trabalho 
flexível na produção, dentre as inúmeras problemáticas que emergem desse processo ganha 
relevância a questão do controle social. Ao nosso ver, à época da mundialização, um dos 
desafios à interpretação crítica está em compreender os nexos que articulam o capital na 
produção ao conjunto da vida social. Ou seja, conforme sugere Mészáros, considerá-lo 
enquanto sistema sócio-metabólico de reprodução social (2002). Por outro lado, uma análise 
dessa natureza exige que entendamos a complexidade das relações sociais estranhadas como 
expressão de relações que se fundam na realização do valor1, pois, o trabalho flexível, ainda 
 
* Doutorando em Sociologia pela Unesp/Araraquara. End. eletrônico: renan-araujo@uol.com.br 
1 João Machado Borges Neto (2004) salienta “que a lei do valor pode ser entendida a partir de três versões 
sucessivas, em que ela se torna progressivamente mais complexa. A versão mais simples é a de lei da 
determinação do valor pelo tempo de trabalho. A segunda versão é a de lei da distribuição do trabalho social (o 
que dotado de particularidades, sua concepção de organização da produção e das relações 
sociais encontram-se também subordinadas às necessidades da acumulação. Neste caso, 
quando visto numa perspectiva ampla, o Sistema de Produção Toyota expressa uma linha de 
continuidade, ainda que represente modificações/adaptações, ou mesmo complemento à 
anterior Organização Cientifica do Trabalho implementadas por Taylor e Ford. Portanto, para 
uma melhor compreensão dos múltiplos significados da flexibilização do trabalho, faz-se 
oportuno revisitar brevemente algumas das teses de Gramsci (1968) organizadas em seus 
estudos sobre o Americanismo Fordismo. Todavia, retomar as reflexões de seu clássico 
trabalho não significa efetuar uma transposição mecânica do conjunto de suas teses para nossa 
contemporaneidade, pretendemos tão somente, a partir de suas análises, acentuar que estes 
distintos momentos da modernidade capitalista, ainda que repleto de particularidades 
históricas, não rompe com sua lógica fundante, pois, é parte do mesmo e continuum processo 
dialético representado pelo movimento de superação-conservação-superação. Ao debruçar-se 
sobre a nova racionalidade do trabalho taylorismo/fordismo, Gramsci (1968) não a toma como 
sendo um processo restrito ao universo fabril. Ao contrário, buscou aprender o objeto em sua 
historicidade, analisando essa racionalidade como sendo o germe de uma nova realidade social 
totalizante2 que, em processo, encontrava-se representada pelo americanismo. Todavia, ainda 
que crítico dessa nova forma de controle social emergente, Gramsci procurou diferenciar-se 
das críticas que se pautavam na tradição ou na cultura européia posto que estas, antes de tudo: 
“significa resíduo passivo de todas as formas sociais ultrapassadas na história” (GRAMSCI, 
1968, p. 381). 
 
que também pode ser interpretado como lei do equilíbrio na distribuição do trabalho social). O exame do impacto 
da concorrência intra-setorial entre os capitais na economia capitalista conduz à terceira versão da lei do valor, 
como lei da minimização do tempo de trabalho abstrato. Desta forma, a lei do valor é uma lei dinâmica, base das 
leis gerais de desenvolvimento da economia capitalista. Finalmente, no plano internacional, a lei do valor se 
apresenta como lei da geração de superlucros e do aprofundamento das desigualdades” (Borges Neto, 2004, p. 
143) 
2 Neste caso, para compreensão do conceito de totalidade é relevante a afirmação de Kosik (1976): “[...] totalidade 
não significa todos os fatos. Totalidade significa: realidade como um todo estruturado, dialético, no qual ou do 
qual um fato qualquer (classes de fatos, conjuntos de fatos) pode vir a ser racionalmente compreendido” (Kosik, 
1976, p. 35). 
Tendo como referência o materialismo histórico, de forma singular suas teses em 
relação ao emergente modo de produção de massas permite-nos apreender que, no momento 
em que uma determinada forma de produção material e espiritual entra em crise, resistir 
apoiando-se em valores fundados unicamente na tradição reveste-se de um profundo caráter 
conservador, quiçá reacionário. Gramsci preocupou-se, então, em contrapor-se a essa forma de 
análise amplamente difundida na Europa, sobretudo na Itália. Se, por um lado, Gramsci não 
poupou críticas aos segmentos ou frações de classes “economicamente passivas”, demonstrou, 
por sua vez, que o posicionamento questionador expresso no “fanatismo regional” decorria 
justamente do seu anacronismo em relação às novas tendências históricas. O que caracterizava 
politicamente esses segmentos em face da emergente racionalidade fundada no trabalho, era a 
tentativa de preservar um modo de vida material/espiritual em superação, nisso residia a tenaz 
oposição desses segmentos sociais ao modo de vida consubstanciado no americanismo. 
A construção/disseminação da nova hegemonia capitalista tendia a alterar não só o 
modo de produzir, mas, a forma inclusive, da maneira como os homens produziam sua 
existência cotidiana uma vez que no bojo dessas mudanças sociais estava em jogo a 
permanência de questões relacionadas às características, parâmetros e padrões de uma 
diferenciada sociabilidade ainda em formação. Do ponto de vista do antagonismo de classes, o 
incipiente modo de produção fordista colocou a classe operária norte-americana no centro dos 
debates, posto que, historicamente é nela que estavam depositados - na perspectiva de Gramsci 
- os elementos históricos possíveis para que este novo “proletariado” se firmasse enquanto o 
“outro” capaz de negar essa emergente forma de relação social e de produção. Contudo, o 
movimento operário americano, ao se contrapor ao processo de destituição do saber operário, 
do brutal processo de adaptação psicofísico, não questionava a hegemonia capitalista, ao 
contrário, de acordo com Gramsci: “a luta na América era ainda pela propriedade do ofício, 
contra a propriedade industrial“ (GRAMSCI, 1968, p. 394). 
Como Gramsci procurou apreender essa postura defensiva do movimento operário 
norte-americano?De que maneira compreendeu as lutas de resistência do proletariado de 
“ofícios” diferenciando-os das críticas conservadoras oriundas da Europa? Ora, neste processo 
de mudanças Gramsci procurou ir além das contingências operárias, por isso é que valorizou o 
fato de que, no bojo dessa nova dinâmica o proletariado também estava sendo transformado. 
Visto assim, aqueles segmentos cujo imaginário social era incapaz de romper com o universo 
das oficinas e ofícios, representavam justamente a composição da “classe em superação”, com 
isso, à luz do processo histórico, tendencialmente suas formas de lutas e resistências contra a 
nova racionalidade do trabalho encontrava-se fragilizada, condenada ao fracasso à medida que 
a forma de ser social-profissional do novo proletário estava em processo de franca expansão. 
Gramsci, ao reconhecer na racionalidade taylorista/fordista um movimento do capital que 
tendia a converter-se em hegemônica, buscou analisar as peculiaridades dessa nova ordem 
social em processo, com vistas a apreender suas reais possibilidades de afirmação/negação a 
partir do proletariado norte-americano. De forma dialética, aponta que do ponto de vista da luta 
de classes, a heterogeneidade não era algo que se reduzia à forma de ser do proletariado, antes, 
indicava a emergência de um novo conteúdo histórico. Portanto, sem dar conta desta nova 
problemática a classe operária encontraria dificuldades substantivas no sentido de contrapor-se 
à nova ofensiva do capital monopolista e seu aparato estatal-social coercitivo. Por outro lado, 
ao reconfigurar as esferas da produção e da vida social seu antagonista histórico (a classe 
operária) também em transformação, encontrava-se menos representada nos operários de 
ofícios conforme já salientamos, mas em segmentos que emergiam como força política/social 
resultante dessas mudanças. Neste sentido, parece-nos que as reflexões de Gramsci buscavam 
compreender, então, não só as condições históricas específicas da qual emergiam esse novo 
proletariado, mas como este poderia afirmar-se enquanto elemento de negação dessa nova 
ordem produtiva e de controle social assentada no americanismo fordismo. É por isso que 
quando afirmou que a “hegemonia vinha da fábrica”, Gramsci estava procurando indicar as 
particularidades das novas formas de controle social que tomando inicialmente o espaço da 
produção como campo privilegiado de “gestação”, todo aparato ideológico fordista expandir-
se-ia como forma sistêmica para o conjunto da sociedade. Ou seja, concomitantemente ao 
esforço do capital em aumentar a produtividade, expandir o consumo com base nos maiores 
salários pagos aos operários das empresas monopolistas. 
Neste caso, diferentemente das críticas difundidas na Europa por setores, extratos ou 
segmentos aristocráticos tradicionais com vistas a guardar posição social assentada em 
privilégios público e privados, a tendente superação do operário de oficio se dava enquanto 
forma e não em essência histórica, qual seja: força de trabalho. Portanto, para Gramsci o que 
estava em jogo não era a constituição contingente do perfil operário, mas, a nova relação social 
que recolocou em nível qualitativamente superior os desafios do proletariado em face desse 
processo de redimensionamento da luta de classes. Neste sentido, as empresas monopolistas 
procuraram, ainda, obter maior controle sobre as práticas sexuais, diminuir e se possível evitar 
o consumo de bebidas alcoólicas, incentivar práticas religiosas estabelecendo um padrão de 
família e comportamento social adaptado à nova necessidade da indústria e da ordem social. 
Desde as últimas décadas do século passado o mundo capitalista vem sofrendo, em diferentes 
graus e intensidade, um processo de mudanças que na produção em particular, encontram na 
flexibilidade “toyotista” sua principal fonte de inspiração. No Brasil, a partir da década de 
1990, uma ampla produção intelectual vinculada à Sociologia do Trabalho tem procurado 
analisar a disseminação das estratégias do trabalho flexível. Em especial, ganham destaque os 
estudos sobre os impactos na organização política/sindical, sobre a nova composição de 
segmentos da classe operária como os metalúrgicos vinculados às montadoras na região do 
ABC paulista (BRESCIANI, 2001; LEITE, 1997). De forma ampla, há ainda outros autores 
que enfatizam a emergência de um perfil operário jovem que gozam de maior escolaridade, 
qualificação profissional, melhores salários quando comparados com a média salarial 
brasileira, de um novo segmento operário cuja convivência com a velha geração é marcado por 
inúmeros conflitos (TOMIZAKI, 2007; IRAM RODRIGUES, 2005; ARAÚJO, 2002). De fato, 
os dados empíricos são importantes à medida que trazem alguns dados indicativos necessários 
à compreensão das metamorfoses sofridas pela classe operária. Da mesma forma, são 
relevantes as informações sobre a nova composição social, os dilemas e desafios a serem 
enfrentados pelo proletariado em sua luta contra o capital. Contudo, parece-nos necessário 
pontuar que tal processo encontra-se eivado por inúmeras contradições inerentes ao processo 
de reestruturação produtiva. 
Em relação às metamorfoses sofridas pelo proletariado, é preciso ir além das 
quantificações daqueles segmentos que se encontram “com e os sem” direitos trabalhistas, ou, 
os que se encontram em piores ou melhores condições de trabalho, os “mais” e os “menos” 
precarizados. Quanto à juventude metalúrgica não basta restringir o foco da análise aos 
conflitos existentes entre a velha guarda operária como sendo algo somente de cunho 
geracional (TOMIZAKI, 2007). Neste sentido, contrapondo-se a este enfoque linear e 
fragmentado, é que devemos, partindo da perspectiva analítica de Gramsci em Americanismo 
Fordismo, salientar que o trabalho flexível e seus impactos na forma de ser, agir e pensar do 
“novo” proletariado se reveste de um novo conteúdo social indicativo de uma nova forma de 
ser hegemônica do capital. Com base nesta premissa sugerimos que, compreender essa nova 
dinâmica capitalista se constituiu um dos desafios à investigação dos dilemas relativos às 
formas de organização, das práticas políticas-sindicais, dos possíveis mecanismos de 
resistência a serem criados pelo proletariado, tanto aqueles com ou sem emprego formal. Neste 
caso, quando ressaltamos o método dialético adotado por Gramsci, estamos procurando indicar 
a necessidade de se considerar a instauração do trabalho flexível compreendo-o numa 
dimensão histórica totalizante. Deste modo, de forma dialética, cabe reconhecer que se a classe 
operária tem se metamorfoseado com a disseminação do trabalho flexível, perdendo sua 
“unidade” anteriormente identificada na forma de ser (objetiva e subjetiva) do operário de 
perfil fordista conforme salientou Ricardo Antunes (1997), o mesmo aconteceu com o operário 
de ofício quando da sua superação pelo operário executor de tarefas parcelizadas que, 
resultante da nova divisão do trabalho, tornou-se símbolo do perfil operário encontrado na 
indústria monopolista, hoje metamorfoseado pela lógica do trabalho flexível que busca 
recompor reagrendo funções ou tarefas executadas isoladamente. Vê-se, portanto, que se faz 
necessário salientar que numa perspectiva histórica, em essência, tanto o sistema produtivo 
fordista como o flexível de inspiração toyotista, não alteram o conteúdo social do trabalho 
assalariado inaugurado com a época moderna: a era do capital. Com isso, queremos ressaltar 
que mesmo reconhecendo as mudanças na maneira de como se realizam as tarefas no espaço 
produtivo, seja o artesão encontrado na manufatura, o operário de oficio que remonta a 
transição desta para a grande indústria ou o operário parcelizado dos gruposmonopolistas, 
ambos nas suas diferentes épocas só existem na sociedade do capital enquanto produtores de 
mais-valia, base indispensável à realização da acumulação. Porém, uma das peculiaridades do 
sistema produtivo flexível decorre da sua capacidade/necessidade à época da mundialização - 
momento em que a composição do capital produtivo e sua lógica concorrencial adquirem 
novos parâmetros -, em adequar o conjunto do sistema produtivo às novas necessidades sociais 
de realização do valor (CHESNAIS, 2001). 
Para tanto, o capital procura criar mecanismos de controle-consentimento operário 
concomitantemente ao uso de novas tecnologias que permitam aumentar a taxa de mais-valia 
absoluta e relativa, aliás, esse é um dos grandes segredos do processo de reestruturação 
produtiva na sua forma contemporânea. Neste caso, uma particularidade dessa forma recente 
em relação ao americanismo fordismo esta no fato de que, se após o período de adaptação aos 
mecanismos de controle da produção fordista o operário podia contar com seu celebro livre 
(através da fuga imaginética durante o próprio trabalho) para refletir, inclusive sobre sua 
condição operária. É interessante notar então, que as técnicas do trabalho flexível, preocupa-se 
em ocupar em tempo continuun a “mente” do operário utilizando-se das estratégias do trabalho 
participativo, que implica entre outras coisas, na entrega “total” do operário à nova lógica 
produtiva e racional do trabalho. Para tanto, exige uma entrega quase que absoluta, e o “ato de 
entrega”, da absorção operária se traduz numa nova tessitura social que agora procura englobar 
o conjunto da vida social. Sob a égide do trabalho flexível, por exemplo, não há mais a antiga 
distinção existente à época fordista que procurava separar o universo do “lar” e o da 
“produção”. Agora tudo deve estar integrado à lógica flexível, as metas produtivas das 
empresas são também metas sociais: devemos todos, indistintamente, sem exceções estar 
comprometidos com o desenvolvimento da empresa e da sociedade, temos aqui uma das 
formas do metabolismo de reprodução material e ideológica exaustivamente analisado por 
Mészáros (2002). Por fim, cabe salientar, que os novos aspectos acima arrolados não 
desautorizam as análises desenvolvidas por Gramsci. Ao contrário, é preciso reconhecer sua 
importância histórica, à medida que identificado com a classe operária antecipou a lacuna 
fundamental existente nas formas de controle fordista abrindo a possibilidade da luta contra-
hegemonia. São “brechas” que o trabalho flexível tem procurado preencher, inclusive, quando 
necessário, adotando práticas de terror (a difundida tese da empregabilidade tem esse 
componente social coercitivo), procuram mobilizar a “mente” operária em prol da acumulação, 
por isso, o trabalho flexível se configura também como sendo uma forma de controle e 
reprodução sócio-metabólico do capital, tal qual procurou apreender Giovanni Alves (2007) 
com base nas sugestivas reflexões desenvolvidas por Mészáros (2002). Trata-se de práticas 
adotadas no ambiente de trabalho, nas células de produção mais especificamente, que criando 
um novo vocabulário (fazer 5s, nossa equipe, etc.)3 sorrateiramente invade os “lares”, sendo 
 
3 O propósito central do 5S é a melhoria da eficiência no ambiente de trabalho, evitando que haja perda de 
tempo procurando por objetos perdidos. Além disso, uma vez implementado, fica evidente quando um 
objeto saiu de seu lugar pré-estabelecido. Do ponto de vista do capital, os benefícios de sua metodologia 
paulatinamente incorporadas ao cotidiano operário determinando novas formas de 
sociabilidade. Gramsci tinha razão: “a hegemonia vem da fábrica”. Contudo, se Gramsci 
incorporando o materialismo histórico foi capaz de nos mostrar alguns caminhos analíticos 
críticos fundamentais, devemos acrescentar que a nova hegemonia capitalista contemporânea 
ancorada no trabalho flexível não distingue, mas procura incorporar todos os espaços da vida 
social, da existência humana propriamente dita. Em nossa contemporaneidade “tudo e todos” 
devem comprometer-se, emanar-se com a produção. É como se a fábrica rompendo com seus 
próprios muros se instalasse permanentemente no meio de nossa sala de visitas, e, de forma 
insistente, impusesse a máxima toyotista de que: “ao proteger a empresa estamos protegendo 
nossa família”. 
 
Referência bibliográfica 
ALVES, Giovanni. Trabalho e Subjetividade: ensaio sobre o metabolismo social da 
reestruturação produtiva do Capital. Tese de Livre-docência. Unesp: Marília, 2007. 
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?: Ensaios sobre as Metamorfoses e a Centralidade do 
Mundo do Trabalho. São Paulo: Cortez, 1997. (4 ed.). 
ARAÚJO. Renan B. O sindicalismo propositivo do ABC: O caso da Mercedes Benz. 
Dissertação de Mestrado. FFC-Unesp/Marília, 2002. 
BRESCIANI, Luís Paulo. O contrato da mudança: a inovação e os papéis dos trabalhadores 
na indústria brasileira de caminhões. Tese Doutorado: Unicamp: Instituto de Geociências, 
2001. 
CENTRO POPULAR VERGUEIRO. Toyotismo e neoliberalismo. Cadernos, S/D. 
CHESNAIS, François. Mundialização : o capital financeiro no comando. Revista Outubro 
n.5 :São Paulo, 2001. 
GRAMSCI, Antonio. Americanismo e Fordismo. In- Maquiavel a Política e o Estado 
Moderno.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. 
KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. Trad. Célia Neves e Alderico Toríbio. 2o ed. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1976. 
 
provêm da decisão sobre o quê deve ser mantido, onde, e como deve ser armazenado. Esta decisão faz o 
processo advir de um diálogo sobre padronização que gera um claro entendimento, entre os empregados, de 
que maneira deve ser feito, de forma também a insuflar a responsabilidade do processo em cada empregado. 
Os 5s são: Seiri: Senso de utilização. Seiton: Senso de organização. Seisō: Senso de limpeza. Seiketsu: 
Senso de padronização. Shitsuke: Senso de auto-disciplina. Kaizen (do japonês, mudança para melhor) é 
uma palavra de origem japonesa com o significado de melhoria contínua, gradual, na vida em geral, 
pessoal, familiar, social e no trabalho (CPV, cadernos: s/d). 
LEITE, Márcia. P. Reestruturação produtiva e sindicatos: o paradoxo da modernidade. In- O 
trabalho em movimento: reestruturação produtiva e sindicatos. Márcia Leite (Org). 
Campinas, São Paulo; Papirus, 1997. 
MÉSZÁROS, Istvám. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: 
Boitempo, 2002. 
NETO, João Machado Borges. As várias dimensões da Lei do Valor. Nova Economia, Belo 
Horizonte 14 (3),143 –158. Setembro-dezembro de 2004. 
TOMIZAKI, Kimi A. Ser metalúrgico no ABC: transmissão e herança da cultura operária 
entre duas gerações de trabalhadores. Campinas: Arte Escrita, 2007.

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