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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ FACULDADE DE MEDICINA Aula 2 Disciplina: Epidemiologia II Profª. Cristiane Novaes Luciane Tavares Luciana Freire Modelos de explicação em Epidemiologia & Medidas de Associação Associação versus Causalidade Presença de associação estatística não significa necessariamente causalidade Associação é dependência estatística entre variáveis – o quanto a exposição aumenta ou diminui a taxa de ocorrência do desfecho Relação estatística entre dois eventos – uma variável explicativa, explanatória (VI) e um desfecho em saúde, resposta, a variável a ser explicada (VD) Associação versus Causalidade O julgamento acerca da causalidade envolve duas grandes questões: A associação observada entre exposição e desfecho é válida? 2) A totalidade de evidência proveniente de diversas fontes (achados empíricos, resultados, conhecimento estabelecido e lógica) dá conta do julgamento de causalidade? Associação versus Causalidade A associação é válida se os achados refletem uma relação verdadeira entre exposição e desfecho A associação não é decorrente de explicações alternativas como viés ou confundimento Os desenhos de estudo e a avaliação dos resultados encontrados devem ser norteados pelo conhecimento (e sua aplicação) sobre fontes de erro, estratégias de controle e impacto dos mesmos na validade Fontes de erro na aferição de um efeito podem ser Aleatórias (chance) Sistemáticas (viéses) Associação versus Causalidade Erro Aleatório Uma incerteza introduzida pelo pequeno nº de observações Atribuível a variação amostral (tamanho da amostra e variância) O processo de seleção dos indivíduos no estudo é o que mais contribui Erro Sistemático Distorções relacionadas ao desenho ou a forma de análise do estudo Pode ser observada uma associação que não existe ou o contrário Medidas de Associação Estimam a associação entre exposição e o risco de desenvolver determinado desfecho 2 eventos estão associados se ocorrem juntos freqüentemente Essa co-variação pode ser quantificada por meio das medidas de associação O valor não deve ser fruto de erro aleatório ou sistemático As medidas de associação utilizadas em Epidemiologia: Risco Relativo, Risco Atribuível e Odds Ratio Medidas de Associação O modelo probabilístico permite predizer quem e quantos podem adoecer – não quem Estima parâmetros causais para populações Não parâmetros determinísticos para indivíduos Essa incerteza originou o termo fator de risco / proteção Variáveis que modificam a probabilidade de um certo evento acontecer: O desfecho varia de acordo com o fator O fator precede o desfecho A associação não é atribuída a qualquer tipo de erro Risco Relativo ou Razão de Riscos (RR) Medida tipo razão Estima a magnitude de uma associação entre exposição e doença Indica a probabilidade de desenvolvimento de doença entre o grupo exposto em relação aos não expostos RR > 1 – incidência em expostos > incidência em não expostos (assoc. positiva) RR < 1 – incidência em expostos < incidência em não expostos (assoc. negativa) RR = 1 – incidência em expostos = incidência em não expostos (não associado) Risco Relativo ou Razão de Riscos (RR) Doentes Não doentes Expostos a b Iexp= doentesexp/totalexp Iexp= a /a+b Não expostos c d Inexp= doentesnexp/totalnexp Inexp= c /c+d RR= Iexp/Inexp RR= Taxa de incidência de doença entre os expostos Taxa de incidência de doença entre os não-expostos Risco Relativo ou Razão de Riscos Devido a alta freqüência de episódios de diarréia em uma creche comunitária, um estudo foi realizado no sentido de avaliar o risco de episódio de diarréia em crianças com idades entre 2 e 4 anos em relação a diversos fatores, sendo que a renda média familiar apresentou os seguintes resultados. Diarréia+ Diarréia- Renda média Familiar <2 s.m. 20 80 Iexp=20/20+80 Iexp=0,2 Renda média Familiar>2 s.m. 10 90 Inexp=10/10+90 Inexp=0,1 RR= 0,2/0,1= 2 O risco de apresentar a diarréia é 2 vezes maior nas crianças pertencentes a família com renda média < 2 salários mínimos Risco Relativo ou Razão de Riscos (RR) Um estudo de coorte realizado com homens idosos cadastrados em uma Unidade de Saúde da Zona Oeste do Rio de Janeiro avaliou o risco de IAM em relação a HA O risco de IAM foi 1,88 vezes maior em indivíduos com HA IAM+ IAM- HA+ 171 3264 Iexp= 171/171+3264 Iexp=0,049 HÁ- 117 4320 Inexp=117/117+4320 Inexp=0,026 RR= 1,88 Risco Relativo ou Razão de Riscos Um estudo de coorte analisou o uso de sabonete íntimo com a ocorrência de infecção urinária (IU). Entre 2390 mulheres (16 a 49 anos) sem IU no início do estudo, 482 eram usuárias de sabonete íntimo e 1908 não. No 1º seguimento, 27 mulheres usuárias do sabonete íntimo e 77 do grupo de não usuárias haviam desenvolvido IU. IU+ IU- Sabonete íntimo+ 27 455 Iexp=27/27+455 Iexp=0,056 Sabonete Íntimo- 77 1831 Inexp=77/77+1831 Inexp=0,040 RR= 0,056/0,040= 1,4 O risco de apresentar a IU é 1,4 vezes maior nas mulheres usuárias de sabonete íntimo Risco Atribuível (RA) Medida de associação que fornece informação sobre o efeito absoluto da exposição Também considerado o excesso de risco de doença dos expostos em relação aos não expostos Sofre influência da freqüência da característica em uma dada população Também pode ser interpretado como a diminuição proporcional da incidência da doença se a totalidade da população não estiver mais exposta ao agente etiológico suspeito RA = 0 – não existe associação RA>0 – Associação positiva, quantifica os casos de doença no grupo exposto atribuíveis a exposição RA<0 – Associação inversa, ou seja, quantos casos deixaram de ocorrer nos expostos em conseqüência da exposição RA= Iexp - Inexp Risco Atribuível (RA) Devido a alta freqüência de episódios de diarréia em uma creche comunitária, um estudo foi realizado no sentido de avaliar o risco de episódio de diarréia em crianças com idades entre 2 e 4 anos em relação a diversos fatores, sendo que a renda média familiar apresentou os seguintes resultados. Diarréia+ Diarréia- Renda média Familiar <2 s.m. 20 80 Iexp=0,2 Renda média Familiar>2 s.m. 10 90 Inexp=0,1 RA= Iexp- Inexp RA=0,2-0,1=0,1x100=10 RR= 0,2/0,1= 2 O excesso de ocorrência de diarréia em crianças cuja renda familiar é <2 s.m é de 10/100 crianças, ou seja, 10 casos no grupo exposto foram atribuíveis a exposição em questão Risco Atribuível (RA) Um estudo de coorte realizado com homens idosos cadastrados em uma Unidade de Saúde da Zona Oeste do Rio de Janeiro avaliou o risco de IAM em relação a HA O excesso de ocorrência de IAM em homens idosos que referiram HA é de 23/1000 homens, ou seja, 23 casos no grupo exposto foram atribuíveis a exposição em questão IAM+ IAM- HA+ 171 3264 Iexp=0,049 HÁ- 117 4320 Inexp=0,026 RA= Iexp– Inexp RA=0,049-0,026 RA=0,023 x 1000=2,3 RR= 1,88 Risco Atribuível (RA) Um estudo de coorte analisou o uso de sabonete íntimo com a ocorrência de infecção urinária (IU). Entre 2390 mulheres (16 a 49 anos) sem IU no início do estudo, 482 eram usuárias de sabonete íntimo e 1908 não. No 1º seguimento, 27 mulheres usuárias do sabonete íntimo e 77 do grupo de não usuárias haviam desenvolvido IU. IU+ IU- Sabonete íntimo+ 27 455 Iexp=0,056 Sabonete Íntimo- 77 1831 Inexp=0,040 RA= Iexp– Inexp RA=0,056-0,040 RA=0,016 x 1000=16 RR= 0,056/0,040= 1,4 O excesso de ocorrência de IU em mulheres usuárias de sabonete íntimo é de 16/1000 mulheres, ou seja, 16 casos no grupo exposto foram atribuíveis a exposição em questão Razão de chances ou Odds Ratio (RC ou OR) Utilizada em estudos caso-controle Estima a chance (odds) de exposição nos casos e a chance de exposição nos controles OR= 1 – As chances de exposição são idênticas nos grupos Ca e Co OR>1 – Assoc. positiva (maior chance de exposição nos casos) OR<1 – Assoc. negativa (menor chance de exposição nos casos) Expostos Não expostos Casos a b oddscasos= casosexp/casosnexp Controles c d oddscontroles=controlesexp/controlesnexp OR=a/b c/d OR= oddscasos/ oddscontroles Razão de chances ou Odds Ratio (RC ou OR) Um estudo caso-controle de base hospitalar com pacientes com neoplasia de pulmão apresentou os resultados abaixo: Tabgismo+ Tabagismo- CA pulmão+ 200 a 200 b oddscasos= 200/200=1 CA pulmão- 50 c 250 d oddscontroles=50/250=0,2 OR= 1 /0,2 = 5 A chance de exposição entre os casos é 5 vezes maior quando comparado aos controles Razão de chances ou Odds Ratio (RC ou OR) Em um estudo caso-controle de câncer de ovário, havia 235 casos e 451 controles. 40 casos e 118 controles referiram o uso de anticoncepcional oral. ACO+ ACO- Casos 40 a 195 b oddscasos= 40/195=0,20 Controles 118 c 333 d oddscontroles=118/333=0,35 OR= 0,20 /0,35 = 0,57 A chance de exposição entre os casos é 0,57 vezes menor quando comparado aos controles Razão de chances ou Odds Ratio (RC ou OR) Em um estudo caso-controle de para verificar as relações entre uso de anticoncepcionais orais (ACO) e IAM, havia 210 casos, sendo 180 usuárias de ACO. Entre as 19790 mulheres do grupo controle, 9820 referiram o uso ACO. ACO+ ACO- IAM+ 180 30 oddscasos= 180/30=6,00 IAM- 9820 9970 oddscontroles=9820/9970=0,98 OR= 6,00 /0,98 = 6,12 A chance de exposição entre os casos é 6,12 vezes maior quando comparado aos controles, ou seja, o uso de anticoncepcional oral mostrou alto risco para IAM Interpretação das Medidas de Associação RR é uma medida da força de associação entre exposição e desfecho oferece uma informação que pode ser utilizada para julgar se uma associação observada válida é provável de ser causal RA é uma medida do impacto de uma exposição (ou de sua retirada) na saúde pública assumindo que a associação entre exposição e desfecho seja de causa-efeito Interpretação das Medidas de Associação Possibilidade de viés de seleção ou aferição? Possibilidade de fator de confusão? Possibilidade de acaso? Possibilidade de causalidade? Não Não Provavelmente não Com base nas recomendações faça o julgamento Inferência Causal A identificação da associação causal não se restringe à estimação de uma medida Inclui a comparação e consideração de outros estudos epidemiológicos Inclui a credibilidade biológica da hipótese Diversos estudos em todo o mundo tentam explicar / testar hipóteses causais Critérios de Causalidade (Hill, 1965) Temporalidade A causa deve sempre preceder o efeito Condição necessária: Não pode haver ambigüidade temporal Força da associação quanto mais forte uma associação (maior taxa ou razão de riscos) maior será a possibilidade de se tratar de uma relação causal (não ser devido ao acaso ou viés) Gradiente biológico / dose-resposta Níveis maiores de exposição levam a riscos maiores de doença Realça a evidência de relação causal Critérios de Causalidade (Hill, 1965) Consistência dos achados (ou replicação) A associação é observada em diferentes estudos realizados por diferentes pesquisadores, em diferentes lugares Ou seja, o mesmo resultado é obtido em diferentes circunstâncias Pouco provável que seja em decorrência de explicações alternativas (chance, viés ou confundimento) Plausibilidade biológica da hipótese Existe plausibilidade biológica para o efeito existir? Existe conhecimento ou postulado biológico que dê subsídio para a associação Critérios de Causalidade (Hill, 1965) Especificidade A causa leva a um só efeito e o efeito ter apenas uma causa Raro Coerência Ausência de conflitos entre os achados e o conhecimento sobre a história natural da doença Evidência experimental Estudos experimentais são de difícil realização em populações humanas Complexos porém se bem conduzidos os achados tendem a ser válidos Analogia Se existem efeitos de exposições análogas favorece a comprovação dos achados Referências bibliográficas Rosen G. Uma história da saúde pública. São Paulo: Ed. UNESP/Hucitec/ABRASCO; 1994 Rothman, K. J. & Greenland, S. Modern Epidemiology. Ed. Lippincot Williams & Wilkins, 1998 – Cap 5: pag 67-78. Rouquairol MZ, Almeida Filho N Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: MEDSI. 2003 Silva, I. S. Cancer Epidemiology: Principles and Methods. IARC/WHO, 1999. Cap 5: pag. 83-95.
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