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+ AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE Sandra Célia Muniz Magalhães 8 APRESENTAÇÃO Caro (a) cursista(a) Bem vindos ao Curso de Agente Comunitário de Saúde! O Agente Comunitário de Saúde tem importante papel no atual modelo de saúde proposto pelo Sistema único de Saúde – SUS. Este profissional é peça fundamental na integração entre os serviços de saúde da atenção primária e a comunidade, ou seja, é o elo entre a população que necessita dos serviços de saúde e o sistema de saúde. São diversas as atividades atribuídas a ele no seu cotidiano, assim é necessário que esteja capacitado para atuar como agente de transformação das comunidades sob sua responsabilidade. É fundamental que esteja capacitado e atento aos desafios de se deparar com o desconhecido. Após a qualificação esperamos que estejam preparados para serem verdadeiros agentes de promoção e vigilância em saúde, pois só assim, poderão contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas. Seu trabalho é extremamente importante tanto para assegurar o direito à saúde às populações, principalmente as mais carentes que não conhecem os seus direitos e não tem acesso aos serviços de saúde, como para fazer cumprir as metas do governo federal como, por exemplo, em relação à redução da mortalidade materna e neonatal. A profissão do Agente Comunitário de Saúde é regulamentada pela LEI Nº 11.350, de 5 de outubro de 2006, que transforma a Medida Provisória n° 297 de 2006 em lei. O ACS é um profissional da área de saúde integrante da equipe de saúde da família, que exerce serviços exclusivamente no âmbito do SUS. Realiza atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde sob a supervisão do gestor federal, estadual ou municipal. Suas ações se restringem a atendimentos 9 domiciliares ou comunitários, individuais ou coletivos, desenvolvidos em conformidade com as diretrizes do SUS. Este material didático tem como objetivo fornecer subsídios para o desenvolvimento do trabalho do Agente Comunitário de Saúde na perspectiva dos princípios e diretrizes do Sistema único de Saúde - SUS. Neste curso aborda-se as temáticas relacionadas aos aspectos da promoção da saúde, implementação do SUS, Atenção Primária à Saúde e orientação para o trabalho do Agente Comunitário de Saúde. Para o cursista, o conhecimento desses elementos é essencial para que tenha uma visão crítica da realidade, pois só assim será possível olhar o mundo de forma consciente e responsável, podendo utilizar esse conhecimento como estratégia geradora de melhorias em prol das comunidades que ficarão sob sua responsabilidade. Ao elaborar esse material, procurou-se problematizar diversas questões que se referem à promoção da saúde. O material didático foi elaborado de forma que possibilite um estudo mais dinâmico e prazeroso e que o leve a compreender os grandes desafios próprios dessa profissão. Esse curso compreende um total de 400 h/aula. Para contemplar os objetivos do curso, optamos por distribuir o conteúdo em sete unidades, cada unidade está dividida em tópicos. A Unidade I, “Discussão Teórica: Evolução da Promoção da Saúde”, apresenta uma discussão sobre a evolução da Promoção da Saúde e os seus reflexos no sistema público de saúde brasileiro, as causas e consequências da implementação desse novo modelo de reorientação assistencial. Apresenta ainda uma abordagem sobre a categoria geográfica território na visão de diversos autores e as relações de poder na organização do sistema de saúde. 10 A Unidade II, denominada “O Sistema Único de Saúde - SUS” conceitua SUS, apresenta as principais leis e normas que compõem esse sistema, aspectos da sua implementação, seus princípios e diretrizes. Na Unidade III, “Principal porta de entrada no sistema de serviços de saúde”, foi trabalhado a Atenção Primária à Saúde, além das questões relacionadas ao Programa Saúde da Família e a composição das equipes de saúde. Na Unidade IV “Agente Comunitário de Saúde - ACS” discutimos os elementos pertinentes a essa profissão, como origem, função, perfil e a descrição das competências. Na Unidade V “As atribuições do Agente Comunitário de Saúde” é apresentada as atribuições e o papel do Agente Comunitário de Saúde na equipe de saúde da família. Na Unidade VI “Orientações gerais para preenchimento das fichas de cadastramento” são fornecidas instruções para o preenchimento das fichas de uso dos Agentes Comunitário de Saúde. E por fim, na Unidade VII “Acompanhando os ciclos de vida das famílias” apresentamos o contexto das famílias, os ciclos de vida, principais cuidados com as crianças, a saúde do adolescente, do adulto e do idoso e por fim discutimos algumas doenças de acompanhamento prioritário. Em cada unidade aparecem dicas de estudo, curiosidades e sugestões de filmes e documentários, como também sites e textos complementares que comporão a base para a realização das atividades. As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto, aparecendo com os seguintes ícones. 11 Para finalizar, uma mensagem para você que terá como missão cuidar de toda uma comunidade. O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você. (MÁRIO QUINTANA) Bons estudos! 12 UNIDADE I 1 – DISCUSSÃO TEÓRICA: EVOLUÇÃO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE 1.1 - A Promoção da Saúde e os reflexos no sistema público de saúde brasileiro Antes de iniciarmos a exposição das atividades do Agente Comunitário de saúde - ACS é preciso que você entenda de que forma e a partir de quando a promoção da saúde passou a fazer parte do debate das questões relacionadas à saúde, afinal de contas o ACS não é um agente de prevenção das doenças e promoção da saúde? Assim, é necessário que você saiba definir promoção da saúde e compreenda os caminhos percorridos até chegar ao modelo de saúde vigente no Brasil. Desde 1920 há uma preocupação com a promoção da saúde da população. De acordo com Mendes (2012) a moderna visão de Atenção Primária à Saúde - APS teve surgimento em 1920 no Reino Unido, quando Dawson sugeriu que o sistema de atenção à saúde fosse organizado em diversos níveis: 13 O relatório elaborado por Dawson descreveu as funções de cada nível de atenção e as relações que deveriam existir entre eles, influenciando diversos países do mundo. Esse documento resultou no texto alicerce para a regionalização dos sistemas de atenção à saúde organizado em bases populacionais. Sigerist em 1946 dá continuidade à discussão, ou seja, se propõe a aprofundar a abordagem (BRASIL, 2007b). Nestes estudos são definidas quatro tarefas essenciais à medicina: Serviços domiciliares Centros de saúde secundários Serviços suplementares Hospitais de ensino Centros de saúde primários 14 . Leavell e Clark também contribuíram com os avanços no entendimento da promoção da saúde quando em 1965 descrevem o padrão da história natural das doenças e apresentam os níveis de prevenção primária, secundária e terciária. A promoção da saúde incluída no nível de prevenção primária mostra que a preocupação não é apenas com a doença, mas também com as formas de aumentar a saúde e o bem-estar geral. Diversos fatores são essenciais para a melhoria das condições de vida e consequentemente da saúde da população, especialmente o acompanhamento sistemático das famílias, orientando quanto a melhor forma de higiene,alimentação e cuidados com o próprio corpo, função que na atualidade é realizada pelos Agentes Comunitários de Saúde. Becker (2001) apresenta algumas atividades que possibilitariam a promoção da saúde na visão de Leavell e Clark: Promoção da saúde prevenção das doenças reabilitação recuperação 15 Boa nutrição; Atendimento às necessidades afetivas; Educação sexual; Orientação pré-nupcial e parental; Boas condições de moradia; Trabalho e lazer; Exames periódicos e; Educação para a saúde. O conceito de promoção da saúde que aparece no modelo da história natural da doença, proposto por Leavell e Clark é centralizado no indivíduo, dentro do modelo biomédico (considera apenas os fatores biológicos como causas das doenças), por isso não consegue alcançar a resolutividade sobre doenças que necessitam focalizar a atenção nos ambientes, nas condições sociais e nos estilos de vida. Assim, é necessário ampliar as discussões e definir de forma mais abrangente o conceito de promoção da saúde (BRASIL, 2007b). Porém, o melhor esclarecimento sobre a promoção da saúde está no relatório elaborado por Marc Lalonde (Ministro da Saúde e bem-estar do Canadá) que em 1974, lança um documento com o nome “Uma nova perspectiva da saúde de canadenses”. Esse relatório informa que a boa saúde é o alicerce sobre o qual o progresso social é construído, e que uma nação com pessoas saudáveis pode ser a resposta para o desenvolvimento (LALONDE, 1974). Esse documento apresenta um estudo sobre a avaliação das causas das doenças e das mortes no Canadá e dos fatores que afetavam o nível de saúde no país, dividindo os fatores que afetam a saúde das pessoas e das populações em quatro grupos: Biologia humana; Meio ambiente; Estilo de vida e; Organização dos serviços de saúde. 16 As propostas decorrentes desse documento contribuíram universalmente com o conceito de promoção da saúde ao sugerirem ações necessárias à resolução de problemas, propondo a unificação dos diversos segmentos da sociedade: I) Profissionais de saúde; II) Instituições de saúde; III) Comunidade científica; IV) Sistema Educacional; V) Governos municipais, estaduais e federais; VI) Setor empresarial e sindicatos; VII) Associações voluntárias e; VIII) Sociedade em geral. Figura 1 – União de todos os setores Fonte: Ciência e Saúde – XXI Fonte: Ciência e saúde XXI O moderno sistema de saúde que se encontra em vigor no Brasil teve como base os estudos realizados em diversas regiões do mundo e, principalmente, seguindo a proposta do documento Lalonde (1974), que deu origem, também, às conferências de Alma-Ata e Ottawa, as quais foram determinantes na elaboração 17 de importantes documentos, como a Declaração de Alma-Ata e a Carta de Ottawa, que são a base da saúde pública em quase todos os países do mundo. A partir das conclusões do relatório Lalonde e das cartas das conferências internacionais de saúde que se seguiram, o conceito de promoção da saúde foi sendo consolidado e colocado como referência fundamental para a maioria dos sistemas de saúde no mundo. Becker (2001, p. 42) afirma que “[...] a partir destas conferências, a promoção da saúde passou a ser cada vez mais considerada nas políticas de saúde de diversos países” (QUADRO 1). Quadro 1 - Principais conferências internacionais da OMS desde 1970 Ano Documento Tema Local 1977 30ª Assembleia Mundial da Saúde Saúde Para Todos no Ano 2000 ... 1978 Declaração de Alma-Ata (Conferência Internacional sobre Cuidados de Saúde Primários) Saúde Para Todos no Ano 2000 ex-URSS 1986 Carta de Ottawa (1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde) Promoção da Saúde nos Países Industrializados Canadá 1988 Declaração de Adelaide (2ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde) Promoção da Saúde e Políticas Públicas Saudáveis Austrália 1991 Declaração de Sundsvall (3ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde) Promoção da Saúde e Ambientes Favoráveis à Saúde Suécia 1997 Declaração de Jacarta (4ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde) Promoção da Saúde no Século XXI Indonésia 2000 Declaração do México (5ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde) Promoção da Saúde: Rumo a Maior Equidade México 2005 Carta de Banguecoque (6ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde) Promoção da Saúde num Mundo Globalizado Tailândia Fonte: Meireles, 2008. Org.: Magalhães, 2012 Na Conferência de Alma-Ata é preconizado que a saúde é: 18 [...] o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde. (DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA, 1978) Chama a atenção, ainda, para diversas lacunas existentes no setor de saúde, e que impedem o desenvolvimento econômico e social das nações. Um ponto destacado foi a desigualdade no estado de saúde entre os povos, ou seja, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e mesmo dentro dos próprios países. Também se destacou que os povos têm o direito e o dever de participar do planejamento e execução do cuidado com a sua saúde. Na Declaração de Alma-Ata é ressaltado que os cuidados primários com a saúde são essenciais, com base em metodologias e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, para que todos os sujeitos tenham acesso a ela. Dessa forma, a participação de todos os cidadãos, de maneira ininterrupta, constituirá em alicerce para o desenvolvimento econômico, social, político e cultural. Enfim, os cuidados primários com a saúde refletem positivamente em todos os setores da sociedade, repercutindo no desenvolvimento de todas as nações. Na Declaração é destacada ainda elementos essenciais para uma boa qualidade de vida, como: I) Educação; II) Métodos de prevenção e controle; III) Promoção da distribuição de alimentos e da nutrição; IV) Serviços de saneamento básico; V) Cuidados de saúde materno-infantil, incluindo o planejamento familiar; VI) Imunização contra as principais doenças infecciosas; VII) Prevenção e controle de doenças localmente endêmicas; VIII) Tratamento apropriado de doenças e lesões comuns e; IX) Fornecimento de medicamentos essenciais. 19 Na Declaração de Alma-Ata, todos, sejam governos, Organização Mundial de Saúde - OMS, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), outras organizações internacionais, entidades multilaterais e bilaterais, organizações governamentais, agências financeiras, todos que direta ou indiretamente se envolvam no campo da saúde, bem como toda a comunidade mundial, são convocados a apoiar o compromisso com os cuidados primários de saúde para que fosse atingida a meta de “saúde para todos os povos do mundo até o ano 2000”. Destaca também, que o direcionamento dos recursos mundiais gastos em armamento e conflitos militares poderá ser canalizado e mais bem utilizado nos “Cuidados primários de saúde”. Após mais de trinta anos da Conferência e treze anos apósa data prevista para o alcance dessa meta, sabemos que apesar dos avanços ocorridos, ainda há muito a ser feito em termos de cuidados primários com a saúde, principalmente nos países em desenvolvimento. A Conferência de Alma-Ata, juntamente com a 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde (OTTAWA, 1986), apresentaram os fundamentos para o moderno conceito de promoção da saúde. A Carta de Ottawa incorporou as ideias de que os sistemas de atenção à saúde deveriam dar início aos cuidados primários em saúde, indicados no relatório Lalonde e na carta de Alma-Ata. De acordo com a Carta de Ottawa (1986): Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global. Consta na Carta de Ottawa que a saúde engloba alguns pré-requisitos, como: 20 Um dos focos da promoção da saúde é o alcance da equidade, ou seja, da diminuição das diferenças no estado de saúde das populações, assegurando oportunidades e recursos igualitários para que se tenha acesso à saúde através de bases sólidas, como: Paz Alimentação Recursos sustentáveis Justiça social Renda Habitação Educação Ecossistema estável Equidade Oportunidades que permitam fazer escolhas por uma vida mais sadia Ambientes favoráveis Acesso à informação, a experiências e habilidades na vida 21 Na Carta de Ottawa fica claro que, para que ocorra a promoção da saúde, é necessária uma atuação intersetorial, envolvendo todos os setores da sociedade para além do setor saúde: Enfim todos têm o dever de se envolver em busca de um bem comum, levando em consideração as características de cada local. Os programas para a promoção da saúde devem levar em consideração as diferenças regionais tanto socioeconômicas, quanto culturais. As sugestões descritas nessa Carta, na direção da construção de ambientes favoráveis à saúde são: I) A conservação dos recursos naturais deveria ser de responsabilidade de todas as nações; II) Mudanças nos modos de vida, de lazer e de trabalho; III) Reforçar a ação comunitária; IV) Desenvolver habilidades pessoais e reorientar os serviços de saúde. Indústria e mídia Setor saúde e outros setores sociais e econômicos Governo Organizações voluntárias e não- governamentais Autoridades locais 22 Por fim, na Carta de Ottawa (1986) é destacado que “Cuidado, holismo e ecologia são temas essenciais no desenvolvimento de estratégias para a promoção da saúde”. Para saber mais sobre a trajetória do debate sobre a promoção da saúde leiam “As Cartas da Promoção da Saúde”, documento elaborado pelo Ministério da Saúde que apresentam na íntegra as cartas das principais conferências realizadas no mundo. No site a seguir você encontrará essas cartas. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartas_promocao.pdf>. Enfim, a definição de promoção da saúde foi sendo modificada ao longo do tempo, agrupando novas variáveis e ganhando maior abrangência. Na atualidade, entendemos promoção da saúde integrada a diversos fatores como: I) Vida; II) Saúde; III) Solidariedade; IV) Equidade; V) Democracia; VI) Cidadania; VII) Desenvolvimento; VIII) Participação e; IX) Parceria. Sendo assim, devem ser levadas em consideração não só as ações do Estado, mas também, cada indivíduo deve ser responsável pelo desenvolvimento de habilidades pessoais, além da reorientação do sistema de saúde e de parcerias intersetoriais (BUSS, 2003). 23 A realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, no Brasil, cujo slogan era “Saúde como direito de todos e dever do Estado”, representou avanços na discussão da saúde no país. Pela primeira vez na história brasileira, a sociedade civil organizada participou dos debates que envolvem a saúde. O resultado da mobilização social foi muito importante, pois a partir dessa mobilização, foi elaborado um documento apresentando as principais deficiências da saúde brasileira naquele período. Os apontamentos contidos nele serviram de base para a implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) e a elaboração da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 (BRASIL, 2007a). No Relatório final da 8ᵃ Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em 1986 em conformidade com a Organização Mundial de Saúde, é descrito que a saúde é resultado de diversos fatores como: Condições de alimentação Habitação Educação Renda Meio ambiente Trabalho Transporte Emprego Lazer Liberdade Acesso e poder da terra Acesso a serviços 24 Para saber mais sobre saúde leiam na íntegra o Relatório final da 8ᵃ Conferência Nacional de Saúde no site: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf>. Assim, a Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988) confirma essas ideias, passando a ser um marco na história da saúde no que se refere aos direitos dos cidadãos brasileiros. No Artigo 196, é destacado que a saúde é um direito de todos e por isso, é dever do Estado garanti-lo “[...] mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Na organização da saúde que vigora na atualidade é possível prever danos e riscos à saúde a partir do diagnóstico sobre a situação e as condições de vida da população em áreas delimitadas, assim o território passou a ter múltiplas divisões e funcionalidades, porém com um mesmo objetivo, o de oferecer assistência, proporcionando melhorias na qualidade de vida e saúde da população. Para melhor compreensão de como a vida acontece no território que ficará sob sua área de atuação, a seguir será realizada uma abordagem sobre essa categoria que atualmente é bastante utilizada nas ações de saúde. 25 1.2 Território e promoção da saúde “onde você mora é importante para sua saúde, para além de quem você é”. (KAWACHI; BERKMAN, 2003) No campo da saúde, os espaços são representados por conjuntos de territórios e lugares onde os acontecimentos ocorrem ao mesmo tempo, e suas repercussões são sentidas em sua totalidade de maneira diferente. Assim, é essencial que o ACS reconheça o território em uma visão de saúde que leve em consideração não apenas o corpo, mas que compreenda o processo saúde doença no contexto da vida (LIMA, 2013, S/P). Deste modo, o território deve ser construído socialmente da relação entre os sujeitos sociais e o lugar, e dependendo da forma como é construído, esse território será propício a saúde ou a doença. Portanto, é necessário que as ações de saúde sejam direcionadaslevando em consideração a realidade de cada território e a vida cotidiana, pois, ela expressa cultura, valores, projetos e desejos de sujeitos individuais e coletivos (LIMA, 2013). O conhecimento do território é essencial para uma boa gestão dos serviços de saúde, pois, somente através de informações precisas, os gestores poderão direcionar as ações adequadas para a resolução de problemas em áreas específicas. Para o conhecimento da real situação de saúde da população de um território é necessário delimitar uma base territorial, pois, a partir dessa base é possível caracterizar a população, e seus problemas de saúde, além de possibilitar a criação de uma relação de responsabilidade entre os serviços de saúde e sua população adscrita (MONKEN, 2003, p.16). Na saúde pública, mais especificamente na atenção primária à saúde, são utilizadas diversas estratégias para promover a saúde em territórios previamente 26 delimitados. A partir da territorialização, os profissionais da saúde poderão compreender melhor os territórios adscritos, as fragilidades dos lugares e das pessoas contidos nele. E se as políticas públicas estiverem voltadas para a efetivação de programas e projetos para a melhoria da saúde da população baseado nesse território usado, poderá haver resultados melhores se comparado a essa mesma análise sobre outro território sem essa configuração. Uma das principais ferramentas para o reconhecimento socioambiental de um território está no Planejamento Estratégico Situacional - PES1, pois, a partir da realização do diagnostico situacional das condições de vida e saúde de uma população em um espaço delimitado, ou seja, quando há o reconhecimento e mapeamento do território pelos Agentes Comunitários de Saúde, “o planejamento é processado e materializado por meio de informações territorializadas acerca da situação de saúde e condições de vida da população” (GONDIM ET AL, 2007, p.15). Esse processo de territorialização permitirá a compreensão das relações estabelecidas, além de qualificar o grau de vulnerabilidade da população adscrita. Em outros países do mundo como Finlândia, Inglaterra, Suécia, Costa Rica e Cuba, também é utilizada a dimensão territorial como base da estruturação dos sistemas de saúde. Essa estruturação tem dado bons resultados, melhorando à eficiência e resolutividade dos serviços prestados à população desses países. O território como processo, ou seja, um espaço em constante construção, que é resultado da dinâmica social, nunca está acabado, estará sempre sendo construído e reconstruído. Por isso a aplicação dos sistemas de serviços de saúde nesse território é importante, já que, os distritos sanitários são estruturados em uma base conflituosa e complexa devido a diversidade dos territórios que podem ser encontrados em um determinado espaço. Temos como exemplo disso, os territórios indígenas (FIGURA 2), que possuem características próprias 1 PES foi proposto originalmente por Carlos Matus ( Matus, 1989; Rivera 1989)como possibilidade social e histórica, contemplando simultaneamente a formulação de políticas, o planejamento e a programação dentro de um esquema teórico- metodológico de planificação situacional para o desenvolvimento dos Sistemas Locais de saúde. 27 (cultura, valores, modo devida). Essa diversidade deve ser levada em consideração na realização do planejamento de ações nesse território. Figura 2- Distrito Sanitário Especial Indígena Fonte: Portal da Saúde, 2013 Vejam a forma de territorialização do Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI que é a unidade gestora descentralizada do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena – SasiSUS. É um modelo de organização de serviços que considera o modo de vida da população indígena. Cada território pode apresentar características física, política, econômica, social, ambiental e cultural bastante diferenciada, o que exige tratamento diferente para cada um. A Figura 3, por exemplo, é um registro geográfico do bairro Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida em Pirapora-MG. Observem que essa figura tem algumas das informações necessárias para compreender melhor esses dois bairros. No canto inferior à direita aparece o nome da localidade, da instituição a data da elaboração e outros dados. No canto inferior esquerdo aparece um quadro que 28 apresenta essa localidade em relação a outras e a distância entre elas. No centro da figura estão à área detalhada da localidade com ruas, canais, rios, além de outros detalhes importantes para o reconhecimento do território. Figura 3 – Croqui do bairro Nossa Senhora Aparecida Fonte: Costa, 2014 O conhecimento do território de atuação do ACS é essencial para o cumprimento das diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS, quanto à universalidade, 29 integralidade, equidade e descentralização da saúde. De acordo com Souza (2003, p. 69), é imprescindível ter conhecimento da localização dos equipamentos de saúde, onde e como vivem os pacientes. “Em que condições? Se ele vive mal, o que adianta cuidá-lo em um centro de saúde modelo e exemplar? É preciso cuidar do lugar onde o cidadão vive, não apenas lá onde ele procura o serviço médico-hospitalar”. Não basta ter um setor de saúde que funcione bem para que o município seja saudável, é necessário a informação para a análise territorial, tais como “Os centros de saúde, por exemplo, que informação detém? Onde são armazenadas? Apenas na Secretaria da Saúde? E os demais aspectos da vida que implicam na qualidade da saúde e da vida das pessoas, como integrá-los”? Dessa forma, sem o conhecimento do território não poderá existir vínculo, acolhimento, hierarquização ou responsabilização (SOUZA, 2003, p. 70). Os diversos territórios, seja na escala nacional, estadual, regional ou municipal, possuem características próprias a cada um e, apesar de serem considerados territórios sanitários, necessitam ser fragmentados em outros territórios para a construção de redes de atenção à saúde mais eficazes e de qualidade. As mesorregiões, por exemplo, são constituídas por microrregiões sanitárias compostas por municípios próximos, que prestam a sua população os serviços de atenção primária e secundária (média complexidade). O arranjo das redes de atenção à saúde é organizado assim por que 97% do total de ações de um sistema de serviços de saúde são demandados pela atenção primária e secundária, sendo de responsabilidade de cada município oferecer no mínimo a atenção primária à população, funcionando de acordo com o critério de divisão territorial definida em cada município. Nesse arranjo de atenção à saúde, os serviços de atenção terciária, ou seja, os serviços de alta complexidade são ofertados no território macrorregional sanitário (MINAS GERAIS, 2004). Observem o exemplo da mesorregião do Norte de Minas Gerais (FIGURA 3). Alguns municípios ofertam os serviços de alta complexidade hospitalar ou 30 ambulatorial, enquanto outros oferecem serviços de média complexidade, e todos são obrigados a oferecer pelo menos a atenção primária. Nessa nova organização é possível prever danos e riscos à saúde a partir do diagnóstico sobre a situação e as condições de vida da população em áreas delimitadas, assim o território passou a ter múltiplas divisões e funcionalidades, porém com um mesmo objetivo, o de oferecer assistência, proporcionando melhorias na qualidade de vida e saúde da população. 31 Atividades para facilitar a aprendizagem1) Qual o sistema de Atenção à saúde sugerido por Dawson em 1920 e o que resultou do relatório elaborado por ele? 2) Quais as tarefas essenciais à medicina definidas por Sigerist em 1946? 3) Cite as atividades que possibilitariam a promoção da saúde na visão de Leavell e Clark. 4) Comente sobre o modelo da história natural das doenças de Leavell e Clark. 5) Qual a contribuição da proposta Lalonde para a promoção da saúde? 6) Cite as principais conferências internacionais da Organização Mundial de Saúde a partir de 1970. 7) Comente sobre a Conferência de Alma-Ata. 8) A carta de Ottawa escrita em 1986 define a Promoção de Saúde como: (a) Um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria das sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo; (b) É um processo de tratamento em casos de doenças e acidente de carros; (c) É uma ação isolada do setor de saúde; (d) A promoção da saúde é entendida como ação compartilhada entre os indivíduos e a equipe de saúde para parar de fumar. 9) Na carta de Ottawa é descrita que a saúde engloba alguns pré-requisitos. Quais sejam: 32 (a) Paz, equidade, educação e recursos sustentáveis; (b) Habitação e renda; (c) Alimentação, justiça social, ecossistema estável; (d) Todas as alternativas estão corretas. 10) Quais as bases consideradas sólidas para o alcance da equidade segundo a Carta de Ottawa? 11) Na Carta de Ottawa consta que deve haver uma atuação intersetorial para que ocorra a promoção da saúde: a) Quais os setores devem ser envolvidos? b) Quais as sugestões são fornecidas para que ocorra a construção de ambientes favoráveis à saúde? c) O que se entende por promoção da saúde na atualidade? 12) A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada no Brasil em 1986, trouxe grandes avanços na discussão sobre saúde. Comente sobre os resultados dessa conferência e a descrição que é dada a saúde. 13) Explique o que o autor quis dizer ao afirmar que é fundamental o reconhecimento do território em uma visão de saúde que leve em consideração não apenas o corpo, sendo necessário compreender o processo saúde doença no contexto da vida. 14) De acordo com o texto, quais os territórios podem ser formados além do território nacional? 15) Explique a frase: O conhecimento do território é essencial para uma boa gestão dos serviços de saúde. 33 UNIDADE II 2- O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS 2.1 O que é o SUS? O SUS - Sistema Único de Saúde é o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, pelo setor privado e por organizações não-governamentais por meio de contratos e convênios. Está organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas com direção única em cada esfera do governo. 2.2 Legislação 2.2.1 Constituição Federal de 1988 O Artigo 196, da Constituição Federal de 1988 assegura que todo cidadão brasileiro tem direito à saúde, ou seja: [...] a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida através de políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos, assim como, ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (CF, 1988). Para saber mais: leiam os textos Título VIII - “Da Ordem Social”, Capítulo II -“Da Seguridade Social” na Seção II - “Da Saúde” – artigos 196 a 200, Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. 34 2.2.1 Lei nº 8080/90 (Lei orgânica de saúde) O SUS é regulamentado pela Lei 8080/90, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como a organização e o funcionamento dos serviços de saúde. Vigora em todo o território nacional. De acordo com essa lei, são fatores determinantes da saúde: a alimentação; a moradia; o saneamento básico; o meio ambiente; o trabalho; a renda; a educação; o transporte; o lazer e; o acesso aos bens e serviços essenciais; A Lei nº 8080/90 dispõe ainda sobre a organização dos serviços de saúde, que devem ser de forma regionalizada e hierarquizada sendo exercida pelo Ministério da Saúde no âmbito da União e na esfera dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, pela Secretaria de Saúde ou órgão equivalente. Os Municípios podem instituir consórcios para o desenvolvimento dos serviços de saúde. 2.2.3 Lei n.º 8.142/1990 Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. 35 Todos os estados e municípios necessitam ter conselhos de saúde compostos por representantes do governo, dos usuários do SUS, dos prestadores de serviços, dos gestores e dos profissionais de saúde. Esses conselhos são responsáveis pela fiscalização dos recursos públicos aplicados na saúde. Outra forma de participação social na gestão da saúde é através das Conferências de Saúde que devem ocorrer a cada quatro anos, tendo a representação de diversos segmentos da sociedade com o intuito de avaliar a situação de saúde e sugerir diretrizes para a formulação da política de saúde. 2.3 Normas Operacionais Básicas – NOB/SUS As Leis 8080/90 e 8142/90 são reguladoras do Sistema único de Saúde, entretanto outros instrumentos legais como as normas foram indispensáveis para a reorientação e reorganização da gestão do sistema de saúde e no gerenciamento dos recursos financeiros no âmbito estadual e municipal. De acordo com documento “Para entender a gestão do SUS” (2003, p. 27-28) a Norma Operacional Básica 01/91 - NOB/91 teve como principais pontos: A equiparação dos prestadores públicos e privados, no que se refere à modalidade de financiamento que passa a ser, em ambos os casos, por pagamento pela produção de serviços; A centralização da gestão do SUS no nível federal (INAMPS); O estabelecimento do instrumento de convênios como forma de transferência de recursos do INAMPS para os Estados, Distrito Federal e Municípios. São considerado “municipalizados” dentro do SUS, os municípios que atenderem alguns pré-requisitos básicos, quais sejam: (a) A criação dos Conselhos Municipais de Saúde; (b) A criação do Fundo Municipal de Saúde; 36 (c) O Plano Municipal de Saúde aprovado pelos respectivos Conselhos; (d) A Programação e Orçamentação da Saúde (PROS) como detalhamento do Plano de Saúde; (e) A contrapartida de recursos para a saúde do seu orçamento;29 (f) Constituição de Comissão de Elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) com o prazo de dois anos para a sua implantação. Instituição da Unidade de Cobertura Ambulatorial (UCA) destinada a reajustar os valores a serem repassados aos Estados, Distrito Federal e Municípios. A cobertura ambulatorial anual é obtida da multiplicação do valor da UCA pela população de cada unidade da federação; Modificação do sistema de pagamento aos prestadores de serviços (entidades filantrópicas, hospitais universitários, entidades contratadas e conveniadas) com a implementação do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS). 2.3.1 Norma Operacional Básica 01/93 Essa norma foi editada pela Portaria GM/MS nº 545, de 20 de maio de 1993. Representou um avançomaior na descentralização em decorrência da Conferência Nacional de Saúde realizada em 1992 e que teve como tema central “A Municipalização é o Caminho”. Principais pontos da norma: Criação da transferência regular e automática (fundo a fundo) do teto global da assistência para municípios em gestão semiplena; Habilitação dos municípios como gestores; Definição do papel dos Estados de forma frágil, mas esses, ainda assim, passam a assumir o papel de gestor do sistema estadual de saúde; Constituição das Comissões Intergestores Bipartite (de âmbito estadual) e Tripartite (nacional) como importantes espaços de negociação, pactuação, articulação, integração entre gestores (BRASIL, 2003). 37 2.3.2 - Norma Operacional Básica 01/96 A NOB/96 foi instituída com o fim de promover e consolidar o exercício pleno do poder público municipal e do Distrito Federal, da função de gestor da atenção à saúde dos seus munícipes, redefinindo as responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União. Atenção: Essa responsabilidade não exclui o papel da família, da comunidade e dos próprios indivíduos, na promoção, proteção e recuperação da saúde. O aperfeiçoamento da gestão do SUS implica também em uma reordenação do modelo de atenção à saúde, redefinindo: os papéis de cada esfera governamental com direção única; os instrumentos gerenciais para que municípios e estados passem a ser gestores do SUS; os mecanismos e fluxos de financiamento, redução progressiva e continua da remuneração por produção de serviços e ampliação das transferências de caráter global, fundo a fundo, com base em programações ascendentes, pactuadas e integradas; a prática do acompanhamento, controle e avaliação no SUS, superação dos mecanismos tradicionais, centrados no faturamento de serviços produzidos, e valorização dos resultados provenientes de programações com critérios epidemiológicos e desempenho com qualidade; os vínculos dos serviços com os seus usuários, privilegiando os núcleos familiares e comunitários, criando, assim, condições para uma efetiva participação e controle social (BRASIL, 2003). 2.3.3 A Norma Operacional de Assistência à Saúde NOA/SUS 01/2001 Institucionalizada pela portaria nº 95, de 26 de janeiro de 2001, a Norma Operacional de Assistência à saúde no Art. 1° indica: 38 a ampliação das responsabilidades dos municípios na Atenção Básica; a definição do processo de regionalização da assistência; a criação de mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde e procede à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios. 2.3.4 Norma Operacional da Assistência - NOAS/SUS 01/2002 Essa norma foi instituída pela portaria GM/MS nº 373, de 27 de fevereiro de 2002 e consta as principais alterações em relação a NOAS/SUS 01/2001. Foram mantidas as modalidades das NOBS anteriores, porém: Amplia as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica; Estabelece o processo de regionalização como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior equidade; Cria mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde e procede à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios e; Transforma a Gestão Plena da Atenção Básica - GPAB em Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (GPAB-A). No que se refere ao financiamento do SUS, é de responsabilidade dos três níveis governamentais. Os recursos federais são repassados a Estados e municípios através de transferências diretas do Fundo Nacional de Saúde aos fundos estaduais e municipais, conforme determina o decreto nº 1.232, de 30 de agosto de 1994 que dispõe sobre as condições e a forma de repasse regular e automático de recursos do Fundo Nacional de Saúde para os fundos de saúde estaduais, municipais e do Distrito Federal. Além das transferências do Fundo Nacional de Saúde, os fundos estaduais e municipais recebem contribuições de seus próprios orçamentos, sendo ainda de acordo com regras definidas na esfera estadual, promovidos repasses de recursos próprios aos fundos municipais de saúde. 39 2.4 Surgimento do SUS O SUS surgiu como conquista da luta da população por direito à saúde. O movimento sanitário, formado por médicos, enfermeiros, trabalhadores de sindicatos, donas de casa, entre outros, ocorrido na década de 1970 e 1980, objetivava criar um novo sistema público de saúde que garantisse o atendimento da população. A finalidade desse novo modelo de atendimento era modificar o quadro brasileiro da saúde vigente até aquele momento. No Box 1 é apresentado o sistema público de saúde antes e depois da implantação do Sistema único de Saúde – SUS. Box 1 – Antes e depois da implantação do SUS Antes do SUS Depois do SUS O sistema público de saúde atendia a quem contribuía para a previdência social. Quem não tinha dinheiro dependia da caridade e da filantropia; Era centralizado e de responsabilidade federal, sem a participação dos usuários; A assistência era médico- hospitalar; A saúde significava ausência de doenças; 30 milhões de pessoas tinha acesso aos serviços de saúde. O sistema público de saúde passa a ser para todos sem discriminação. Desde a gestação e por toda a vida a atenção integral à saúde é um direito; Descentralizado, municipalizado e participativo com 77 mil conselheiros de saúde; Promoção, proteção, recuperação e reabilitação; Saúde é qualidade de vida; 140 milhões de pessoas têm no SUS o seus único acesso à saúde. Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde, 2008 40 Como perceberam o sistema público de saúde antes do SUS era bem diferente do que foi implantado depois do SUS. Nesse novo sistema são previstos princípios e diretrizes que definem e norteiam a formulação da Política Nacional de Saúde. Os princípios fundamentais dos SUS são a universalidade, a integralidade e a equidade e as diretrizes são a descentralização e a participação social. 2.4.1 Princípios e Diretrizes do SUS? UNIVERSALIDADE: significa que o atendimento do SUS deve ser universal, ou seja, todos têm direito a serem atendidos sem distinções ou restrições. As ações e os serviços de saúde para a promoção, proteção e recuperação deve ser oferecida sem nenhum custo. INTEGRALIDADE: o SUS tem o compromisso público de oferecer a atenção necessária à saúde das pessoas e das coletividades de modo completo, em todos os níveis de complexidade. EQUIDADE: O SUS deve disponibilizar a todos os cidadãos brasileiros, independente de sexo, etnia, religião, idade ou situação de emprego, o direito a mesma assistência à saúde de acordo com as necessidades de cada um. PARTICIPAÇÃO SOCIAL: a sociedade tem o direito e o dever de participar das gestões públicas em geral e da saúde pública em particular, sendo que o poder público tem o dever de garantir as condições para a participação da comunidade. DESCENTRALIZAÇÃO: é o processo de transferência de responsabilidades de gestão para os municípios. As três esferas de governo (federal, estadual e municipal), terão atribuições comuns e competências específicas na formulação das políticas de saúde, no planejamento, operacionalização e controle social. 41 Os princípios e diretrizes do SUS revelam-se como uma proposta bem estabelecida, pois garantem o acesso de todos os brasileiros à promoção, proteçãoe recuperação da saúde, de forma integral, sem distinção de classes sociais, sexo, etnia, religião, idade ou poder aquisitivo. Dessa forma é considerado um dos melhores sistemas de saúde do mundo, sendo referência para diversos países. No organograma 1 é apresentado o modelo institucional do SUS. Figura 3 - Modelo institucional do SUS Nos procedimentos estratégicos do SUS, o município representa o local onde é tomada grande parte das decisões no âmbito das políticas de saúde, na perspectiva da descentralização. Essas decisões são tomadas em consenso com a Secretaria Municipal de Saúde, Colegiado regional e Conselho Municipal de Saúde. 42 O princípio da organização hierárquica de atuação do SUS seguiria a lógica do reconhecimento das necessidades e da dinâmica socioeconômica da população, que, por sua vez, participa da construção e reconstrução do território, possibilitando o conhecimento deste. Dessa forma, Barcellos e Monken (2007, p. 234) colocam que: As práticas de saúde avançam para a integração das ações curativas, promocionais e preventivas, de forma que as intervenções sobre os problemas sejam também sobre as condições de vida das populações, e a regionalização e hierarquização dos serviços contemplam a organização dos estabelecimentos, delimitando uma base territorial, ou seja, uma área de atuação – da unidade de saúde, da equipe do médico da família, do agente de controle de endemias [...]. O Ministério da Saúde esclarece que os gestores municipais e estaduais é que devem realizar o levantamento dos instrumentos de atendimento que possuem e determinar o tipo de serviço que será oferecido por cada um. Além disso, Após a análise da potencialidade, traçam um plano regional de serviços. O acerto ou pactuação irá garantir que o cidadão tenha acesso a todos os tipos de procedimentos de saúde. Na prática, uma pessoa que precisa passar por uma cirurgia, mas o seu município não possui atendimento hospitalar, será encaminhada para um hospital de referência em uma cidade vizinha (BRASIL, 2011 c , p.14). As formas de repasse de recursos aos municípios através do Piso da Atenção Básica (PAB), calculado com base no total da população da cidade, além de outras maneiras de angariar recursos para a saúde, como a adesão a programas federais, são formas de assegurar aos moradores de cada município o atendimento necessário, como consta na proposta do SUS. Atenção: Para entender toda a estrutura do SUS acesse o “SUS de A a Z”: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/sus_3edicao_completo.pdf> 43 Atividade para facilitar a aprendizagem Responda as questões a seguir 1) Como era a política de saúde antes de 1988? 2) Quem tinha direito a assistência? 3) Quem regulava o sistema de saúde? 4) Você sabe como surgiu o SUS? 5) O que significa SUS? 6) Quando o SUS foi criado? 7) Qual é a finalidade do SUS? 8) Quais os seus princípios e diretrizes? 9) Cite as principais leis do SUS. 10) Comente sobre as Normas que regulamentam o SUS. 44 UNIDADE III 3- PRINCIPAL PORTA DE ENTRADA NO SISTEMA DE SERVIÇOS DE SAÚDE 3.1 - Atenção Primária à Saúde A Atenção Primária à Saúde, também conhecida como Atenção Básica é o primeiro nível de atenção em saúde. É composta por um conjunto de ações, de caráter individual e coletivo, que engloba a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde. O seu objetivo é impactar positivamente a saúde das coletividades através de uma atenção integral à saúde (MS, 2009). A Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada do cidadão ao sistema de saúde. É através dela nas Unidades Básicas de Saúde - UBS, nas Unidades Básicas de Saúde Fluviais, nas Unidades Odontológicas Móveis (UOM) e nas Academias de Saúde que a população passa a ter acesso à rede integrada de saúde. De acordo com as diretrizes do SUS, todos os municípios do estado devem oferecer a sua população a Atenção Primária à Saúde - APS, preferencialmente próxima às residências dos usuários. As APS têm importante papel na rede de atenção à saúde, pois através da Atenção Primária é possível: 45 Fonte: Adaptado de Marques et al., 2009. Conforme já foi dito, as Unidades Básicas de Saúde são a “porta de entrada” da população para o atendimento da população. A figura a seguir mostra que o primeiro atendimento deve ser na UBS, lá o paciente é avaliado por um profissional de saúde, a seguir é feito o diagnóstico do procedimento a ser realizado, e só depois o paciente é encaminhado para o atendimento no local adequado, ou seja, dependendo do caso, o indivíduo é direcionado para os hospitais, para o centro de enfermagem, para a atenção domiciliar, para o laboratório especializado, ou para outro setor de saúde que seja adequado as necessidades do paciente. Dar atenção integral às pessoas Evitar as causas de mortes súbitas Reduzir os atendimentos nos prontos-socorros Atuar com intervenções curativas, reabilitação, prevenção e promoção de saúde Diminuir os custos de atendimento à saúde 46 Fonte: MS, 2009 A Atenção Primária à Saúde deve ocorrer de forma abrangente, para que se torne realmente a melhor maneira de acesso da população a esse sistema. O Programa Saúde da Família em funcionamento desde 1994 é uma das formas de organização da APS. O programa tem modificado o modo de vida de muitas comunidades e originado diversos benefícios não só para a população como também para o sistema de saúde que tem diminuído os gastos com atendimentos. 3.2 Programa Saúde da Família O Programa Saúde da Família - PSF teve início com a criação do Programa dos Agentes Comunitários de Saúde - PACS em 1991, criada para tentar reduzir a mortalidade materna – infantil. Sua expansão se deu principalmente a partir de 1995, atingindo 2,5 milhões de pessoas coberta pelo programa, sendo 47 acompanhada por 724 equipes de profissionais com dedicação exclusiva aos pacientes dos territórios adscritos (GOULART, 2007). Nesse contexto, o Ministério da Saúde define alguns requisitos primordiais que devem ser seguido pela Estratégia Saúde da Família - ESF como prioridades para o bom desempenho e funcionamento dos serviços realizados a população nas áreas adscritas. Isto é, os profissionais do programa devem intervir sobre os fatores de risco a saúde da comunidade; as práticas de saúde devem ser humanizadas através de vínculos estabelecidos entre os profissionais de saúde e a população, dentre outros (BRASIL, 2007). O PSF desde a sua implementação tinha o intuito de fortalecer o processo de descentralização do SUS através da compreensão de oferta da atenção básica na comunidade, criando, sobretudo, um elo entre os profissionais e os usuários. Esta relação se fortalece por este programa estar presente em localidades onde não existiam os serviços disponibilizados por ele. A diferença desse programa dos demais é que anteriormente os serviços eram realizados na comunidade e atualmente os serviços são realizados com a comunidade (SOUZA, 1999). O PSF incorpora os princípios da universalidade e equidade, sendo a principal alternativa para o modelo assistencial. Assim sendo, o mercado não seria o principal critério para organizar e distribuir os serviços, mas, sobretudo, oplanejamento será realizado de acordo com as necessidades apresentadas pela população. O PSF passou por varias etapas nos processos de implementação até se constituir como um programa capaz de modificar a realidade da saúde pública brasileira. No ponto de vista institucional, alguns marcos foram importantes para a sua trajetória, como por exemplo, a articulação entre as universidades e as secretarias de saúde para a criação dos polos de capacitação em saúde da família; a parceria com a comunidade solidaria; a abertura de linhas de financiamento junto ao Reforço à Reorganização do SUS - REFORSUS e o 48 estabelecimento do Pacto da Atenção Básica entre o MS, gestores estaduais e municipais. Do ponto de vista normativo e financeiro, o PSF foi influenciado por algumas portarias e outros instrumentos do MS que foram importantes para o desenvolvimento do programa, tais como a Norma Operacional Básica do SUS de 1996. Goulart (2007) informa que a NOB 96 apresentou perspectivas de mudanças no modelo assistencial, principalmente quanto aos incentivos e organização do programa. Tais mudanças estão orientadas para: A busca da integralidade; A incorporação do modelo dominante ao modelo epidemiológico; A associação dos processos individualizados para um modelo de atenção centrado na qualidade de vida das pessoas e no ambiente de vivencia e; A incorporação de projeto de ações, das pessoas, do meio ambiente e dos compartimentos interpessoais Outro fator importante foi à implantação do Piso da Atenção Básica – PAB que acarretou a transferência de recursos federais dentro de uma modalidade automática (fundo a fundo), além de exigirem que as equipes estivessem integradas a rede municipal, ou que se desenvolvessem estratégias similares de garantia de integralidade da assistência. Na NOB 96 resguarda também que além desses requisitos colocados pelo PAB, ainda era necessário manter atualizada todas as informações referente a produção de serviços do PSF, caso contrário, resultaria na suspensão dos créditos respectivos (LIMA, MACHADO, 2000). Sobre este viés, Goulart (2007, p.109) coloca também que: Nesse momento, a atenção básica ganhou destaque e centralidade na política de saúde. Foram realizadas importantes ações, tais como, a assinatura do Pacto da Atenção Básica, a edição do respectivo manual, a incorporação do DAB a SPS, e a própria formulação da NOAS. Ocorreu também a elaboração e a divulgação das linhas estratégicas para o quadriênio 1999 – 2002, mostrando o delineamento cada vez maior de um rumo estratégico para o PSF. 49 Também foi proporcionada pela NOB 96 a definição de um valor per capta mínimo, definido de acordo com a quantidade de procedimentos realizados no ano anterior, resultando também um acréscimo nas transferências dos recursos cedidos a assistência da atenção básica, mesmo nos municípios que tinham dificuldades de apresentar produção suficiente de procedimentos. Foi estipulado ainda segundo Goulart (2007, p.94 - 95), “um valor de 10,00 por habitantes por ano, possibilitando homogeneização das transferências para o conjunto de municípios”. Esses recursos concedidos ao PSF foram também acrescentados pela portaria 1.329 de novembro de 1999 (Brasil, 1999), que por meio da cobertura populacional oferecida pelas Equipes Saúde da Família, passam a ser critério de definição para o incentivo a ser pago por equipe. De acordo com a população coberta o incentivo chega a ser de até 7% (GOULART, 2007). Quanto aos processos de avaliação dos resultados da implantação e desenvolvimento do PSF segundo a pesquisa denominada “Avaliação da Implantação e funcionamento do PSF2” realizada pelo MS, Goulart (2007), coloca que os resultados formalmente só foram divulgados no ano 2000, ou seja, foram avaliados os seis primeiros anos de funcionamento do PSF. A avaliação ocorreu mediante consultas por correio a um conjunto de 1219 municípios e 3119 equipes de saúde da família em 24 estados. Os resultados encontrados no ponto de vista da gestão do programa balizaram em; pouca participação dos gestores estaduais; carência quanto aos incentivos financeiros, materiais e técnicos por parte da SES. No ponto de vista das políticas de recursos humanos, a maioria dos médicos e enfermeiros contratados não tinham vínculos com o lugar, ou seja, a maioria deles 2 A pesquisa “Avaliação da Implantação e Funcionamento do Programa Saúde da Família – PSF”, realizada pelo Ministério da Saúde entre abril e julho de 1999, identificou que 83% dos municípios pesquisados haviam implantado o programa entre 1997 e 1998. Apenas nos estados do Ceará e de Santa Catarina havia um número maior de municípios com implantação anterior a 1997 (BRASIL, 2000). Um ano depois, em dezembro de 1999, o PSF estava implantado em 1.870 municípios nas 27 unidades federadas (BRASIL, 2000 p. 17). 50 não residiam no município e nem mesmo no próprio estado. Também havia falha nas contratações de profissionais de saúde, sendo que a maioria dos processos seletivos eram realizados com alto grau de informalidade, além de existir muitos contratos temporários e de prestação de serviços para os profissionais médicos e enfermeiros (GOULART, 2007). Quanto aos processos de trabalho dos profissionais do PSF, a noção de território como categoria de análise estava presente em cerca de 80% dos casos; Os prontuários de famílias implantadas registravam aproximadamente 70%, sendo que 43% dos profissionais atuavam a menos de um ano no programa, constatando alta rotatividade dos profissionais. Embora, a pesquisa tenha constatado um desgaste com as atividades do PSF devido aos vínculos empregatícios precários, carência de suporte e materiais para as atividades cotidianas, dificuldades de acesso ao local de trabalho entre outros. Ainda assim, foi bastante expressivo o aumento da oferta na maioria dos procedimentos característicos da atenção básica com a implantação do programa (GOULART, 2007). Goulart (2007, p.108) coloca que; A expansão do PSF e a adesão numérica progressiva do programa aos municípios esta relacionado também pelo aprofundamento de aspectos mais qualitativos. Dados, por exemplo, pelo fato de que o arcabouço normativo e doutrinário disponível havia se adensado bastante e também pela inquestionável adesão ao SUS, revelada por uma verdadeira “explosão” de habilitações de municípios as condições de gestão da NOB 96. Embora, os números de adesão ao PSF por municípios brasileiros tenham revelado aumento significativo, ainda há preocupação quanto à efetividade desses programas, principalmente quanto às ações desenvolvidas por este. Goulart (2007, p.102) coloca ainda que “a questão do PSF, mesmo diante de avanços incontestáveis, ainda carece de experimentar apreciáveis saltos de qualidade”, tais como, flexibilizar o programa, intensificar a assessoria e orientação aos gestores, principalmente quanto às orientações aos profissionais 51 para o desenvolvimento de um trabalho mais humanizado, e com mais participação da sociedade nas decisões a serem tomada. A principal estratégia para o bom funcionamento da APS é a saúde da família, assim é primordial que a família tenha um atendimento completo, ou seja, equipes multidisciplinares trabalhando de forma integrada devem oferecer todos os tipos de atendimento pautadas pelos princípios da atenção primária que é a integralidade, a qualidade, a eqüidade e a participação social. O vínculo estabelecido pelas equipes de saúde da família com a população possibilita queestes se comprometam e se responsabilizem por melhorar o seu ambiente e consequentemente a saúde da comunidade. 3.2.1 Composição das Equipes de Saúde da Família um médico; um enfermeiro; um auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e; Agentes Comunitários de Saúde – ACS (no máximo 12 por equipe) Outros profissionais poderão compor a equipe, como por exemplo, profissionais de Odontologia: cirurgião-dentista, auxiliar de saúde bucal e/ou técnico em saúde bucal, dependendo do gestor municipal. Outros serviços disponibilizados a população pelo SUS, diz respeito aos serviços da medicina alternativa. Em 2006 foi criada pela Portaria GM nº 971/2006 a Política Nacional de práticas Integrativas e Complementares no SUS, essa política compreende atendimento gratuito em serviços de fitoterapia, acupuntura, plantas medicinais e homeopatia. É preciso que o ACS se informe se esses serviços estão disponíveis no território sob sua responsabilidade para que ofereça aos moradores como alternativa de prevenção e tratamento de doenças que 52 possam afetar a população. Alguns desses profissionais prestam seus serviços nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF foram criados em 2008 para contribuir com a melhoria dos problemas de saúde. Esses núcleos são constituídos por profissionais de diversas áreas como nutricionista, psicólogo, farmacêutico, assistente social, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, médico acupunturista, médico ginecologista, médico homeopata, médico pediatra e médico psiquiatra. Esses profissionais trabalham em parceria com as equipes da estratégia Saúde da Família – eSF. Os ACS devem se informar se há vinculação da sua equipe a algum NASF e de que forma se dá a articulação entre eles. Esse conhecimento é necessário para que os pacientes sob sua responsabilidade sejam direcionados para o NASF, caso necessite do atendimento de algum profissional desse núcleo (BRASIL, 2009). O organograma a seguir detalha o funcionamento dos serviços de saúde em uma Unidade Básica de Saúde e a organização das equipes de atenção primária no atendimento da demanda espontânea. 53 Figura 4: Fluxograma para a organização do processo de trabalho das equipes de atenção primária para o atendimento da demanda espontânea Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica, 2011 - Adaptação: MAGALHÃES, 2014 54 OBS.: O fluxograma é apenas uma ferramenta de orientação das equipes, não devendo ser algo fixo. Sempre que necessário deve ser adaptado a realidade de cada local. O que importa é o acesso da população aos serviços de saúde sempre que tiverem necessidade. Atividade para facilitar a aprendizagem 1) O que você entende por Atenção Primária à Saúde? 2) O que é PACS? E qual é o seu objetivo? 3) Qual a relação da Atenção Primária à Saúde com o PACS/PSF? 4) Onde são definidas as ações da atenção primária a saúde? 5) O que é PSF? E qual é o seu objetivo? 6) Quais os profissionais que fazem parte da equipe do PSF? 7) Qual é a importância do PACS/PSF para o sistema de saúde? 55 UNIDADE IV 4- AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE 4.1 Quem é o agente comunitário de saúde? O Agente comunitário de saúde é o elo de ligação entre a população que necessita dos serviços de saúde e o sistema de saúde. De acordo com Marques e Padilha (2004, p. 348): O profissional agente comunitário de saúde atua no apoio aos indivíduos e coletivos sociais, realizando atividades de promoção da saúde e prevenção de agravos, por meio de ações educativas e de acompanhamento a indivíduos, famílias e grupos, mobilizando práticas de promoção da vida em coletividade e de desenvolvimento de interações sociais. Estas características apontam para uma singularidade e especificidade profissional, que o situa na interface intersetorial da saúde, ação social, educação e meio ambiente. Para o setor saúde, a formação do agente comunitário requer, então, a identificação técnica, ética e humanística das competências que ele deve desenvolver para a realização de seu trabalho. 56 O trabalho do agente comunitário de saúde é extremamente importante tanto para assegurar o direito à saúde às populações, principalmente as mais carentes que não conhecem os seus direitos e não tem acesso aos serviços de saúde, como para fazer cumprir as metas do governo federal como, por exemplo, em relação à redução da mortalidade materna e neonatal. A profissão do Agente Comunitário de Saúde é regulamentada pela Lei Nº 11.350, de 5 de outubro de 2006, que transforma a Medida Provisória n° 297 de 2006 em lei. O ACS é um profissional da área de saúde integrante da equipe de saúde da família, que exerce serviços exclusivamente no âmbito do SUS. Realiza atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde sob a supervisão do gestor federal, estadual ou municipal. Suas ações se restringem a atendimentos domiciliares ou comunitários, individuais ou coletivos, desenvolvidos em conformidade com as diretrizes do SUS. No parágrafo único do Artigo 3° consta que são atividades desenvolvidas pelo ACS: I - a utilização de instrumentos para diagnóstico demográfico e sócio- cultural da comunidade; II - a promoção de ações de educação para a saúde individual e coletiva; III - o registro, para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde, de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde; IV - o estímulo à participação da comunidade nas políticas públicas voltadas para a área da saúde; V - a realização de visitas domiciliares periódicas para monitoramento de situações de risco à família; e VI - a participação em ações que fortaleçam os elos entre o setor saúde e outras políticas que promovam a qualidade de vida. Podemos observar que é papel do ACS fazer o levantamento demográfico e sociocultural da população, ou seja, quantos são, quantos do sexo masculino e quantos do sexo feminino. Qual a faixa etária dos moradores, renda, 57 escolaridade, etnia. É também papel do ACS promover ações de educação para a saúde do indivíduo e da coletividade. Registrar a ocorrência de nascimentos, de óbitos, das doenças e de outros agravos que ocorrem na comunidade sob sua responsabilidade. Faz parte ainda das atividades do ACS, estimular a população da sua área de atuação à participar das políticas públicas voltadas para a área da saúde. Realizar visitas periódicas nos domicílios para monitorar a situação das famílias quanto a situação de riscos. E por fim, participar de ações para fortalecimento do elo entre o setor de saúde e outras políticas para promoção da qualidade de vida (FIGURA 5). Figura 5 - Academia ao ar livre no bairro Ibituruna Autor: MAGALHÃES, 2013 A Lei Nº 11.350, destaca no Art. 6o alguns requisitos a serem preenchidos pelo ACS para a sua contratação: 58 Ser morador da área onde exercerá suas atividades desde a data da publicação do edital do processo seletivo público; haver concluído, com aproveitamento, curso introdutório de formação inicial e continuada; e haver concluído o ensino fundamental (Esse requisito só é válido para iniciante, ou seja, se não estiverem exercendo atividades de ACS). O fato de ser morador da área onde exercerá suas atividades, e,portanto conhecido da maioria dos moradores da comunidade, facilitará o trabalho do ACS, pois a sua proximidade se traduzirá em relação de confiança. Outro ponto positivo é que por ser residente da comunidade conhece praticamente todos os problemas que a envolvem. Isso irá favorecer o diagnóstico ambiental e possibilitar a ação do poder público local. De acordo com documento do Ministério da Saúde (2009, p. 24): Sua ação favorece a transformação de situações-problema que afetam a qualidade de vida das famílias, como aquelas associadas ao saneamento básico, destinação do lixo, condições precárias de moradia, situações de exclusão social, desemprego, violência intrafamiliar, drogas lícitas e ilícitas, acidentes etc. O conhecimento profundo da área de atuação dos ACS é fundamental na organização das ações dos serviços de saúde, contribuindo com os gestores públicos e atuando como vigilantes da saúde da comunidade. Se você pretende realizar um bom trabalho, deve: 59 Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde, 2005. O conhecimento do território onde irá atuar é essencial para enxergar além dos problemas e para conhecer também as potencialidades sociais e econômicas, pois a partir delas você poderá contribuir para modificar a realidade local, intervindo e incentivando o crescimento dos indivíduos e consequentemente da comunidade. Lima (2013, S/P) pontua que “Em uma abordagem de saúde que vá além da visão do corpo e busca compreender o processo saúde-doença no contexto da vida, o reconhecimento do território é fundamental”. Porém, para que isso ocorra é necessário que o ACS seja ativo e tenha iniciativa, goste de aprender coisas novas. É preciso também que seja observador, para que perceba como vivem as pessoas e se o ambiente que as cerca é propício à saúde ou a doença. Mas principalmente, é preciso que você seja ético, tenha respeito pelas pessoas e por seus colegas de trabalho, já que estará sempre em convívio com outros profissionais da área da saúde. Atenção: A ética deve fazer parte da vida de qualquer profissional, porém quando se trata especificamente de profissões das quais deve existir uma relação de confiança, como é o caso dos ACSs, o cuidado deve ser redobrado, pois um pequeno deslize pode comprometer o trabalho desenvolvido por toda a equipe. Conhecer o território Conhecer não só os problemas, mas também as potencialidades sociais e econômicas Ser ativo e ter iniciativa Gostar de aprender coisas novas Agir com respeito e ética perante a comunidade e os demais profissionais Observar as pessoas, as coisas, os ambientes 60 4.2 A origem da função de agente comunitário de saúde A função de Agente Comunitário de Saúde não é nova, sendo bastante utilizada em outros países como Canadá que em 1920 utiliza de Organizações Não Governamentais - ONGs e grupos religiosos para treinar indivíduos no auxilio aos movimentos de organização comunitária nas Américas. Na América Latina foi impulsionado pelo apoio financeiro de agências internacionais aos Ministérios da Saúde da América do Sul para a capacitação dos trabalhadores com vista a exercerem atividades de cuidados básicos com a saúde da população. Outro fator que deu impulso a criação da função de ACS, foi o fato de que médicos e enfermeiros eram profissionais que oneravam o setor de saúde, além do fato de não se disponibilizarem a realizar trabalhos na área rural e na periferia, assim, o trabalho do ACS poderia sanar esses problemas (NASCIMENTO, 2008). No Brasil, a origem do profissional Agente Comunitário de Saúde ocorreu a partir de 1987, como estratégia de melhoria das condições de saúde da população nordestina. O trabalho foi iniciado com 6.000 mulheres do sertão do Ceará, selecionadas entre as mulheres pobres, que já fossem conhecidas e respeitadas pela comunidade, independente de escolaridade. A capacitação dessas mulheres para as ações era realizada em três dias sob a supervisão de um profissional de saúde (ÁVILA, 2011). As ações se constituíam basicamente de: Busca ativa das gestantes para fazer o pré-natal e encaminhar a maternidade; Incentivo ao aleitamento materno; Levar as crianças para vacinarem; Orientar sobre a higiene da criança e do domicílio. O programa que era emergencial, devendo findar com o período da seca, passa a ser contínuo, perdendo a característica de emergencial devido a melhoria dos indicadores de saúde, principalmente no que se refere aos indicadores de saúde infantil. Ávila (2011, p. 163) afirma que: 61 A melhoria observada nos indicadores de saúde infantil, tais como a queda da mortalidade, consequência da redução do número de óbitos por pneumonia, sarampo e desidratação, as três principais causas de óbito infantil no Ceará, e a maior cobertura vacinal, mostrou que o caminho estava certo. [...] O programa perdeu a característica emergencial e passou a ser usado como estratégia de disseminação das ações básicas de saúde materno-infantil, caracterizadas, então, como ações simplificadas e de baixo custo [...]. O sucesso do programa repercutiu tão positivamente nas ações de saúde, que logo após o cessar do programa de emergência foi institucionalizado o Programa Agentes de Saúde, criado pelo Decreto no 19.945, de janeiro de 1989, e regulamentado, posteriormente, pela Portaria n° 232/92 e Decreto no 23.079, de fevereiro de 1994. A institucionalização do programa no Ceará foi pioneira no Brasil, pois apesar de já existir em outros países ou estados brasileiros faltava- lhes a institucionalização e a universalização (ÁVILA, 2011). O trabalho de Agentes Comunitários de Saúde já adotado em outros países e alguns estados brasileiros como Ceará, Pernambuco, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro foi posteriormente disseminado para outros estados, funcionando inicialmente como programa institucionalizado em alguns estados da região norte e nordeste, sendo difundido posteriormente para outras regiões brasileiras (ÁVILA, 2011). 4.3 Perfil de Competências Profissionais do Agente Comunitário de Saúde A formação permanente dos trabalhadores em saúde, como também das demais áreas e da população é de responsabilidade do Departamento de Gestão da Educação em Saúde – DEGES e da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde –SGTES do Ministério da Saúde - MS. São esses órgãos que propõem e formulam as políticas que se refere a educação profissional desses trabalhadores com vistas a articulação intersetorial, levando em consideração as diretrizes do SUS. 62 Assim, é de incumbência do DEGES expor a todos os segmentos que discutem as políticas de saúde notadamente os envolvidos com os Programas Saúde da Família - PSF e Programa Agentes Comunitários de Saúde - PACS, o Perfil de Competências Profissionais do Agente Comunitário de Saúde. Conceituando competência profissional, o Ministério da Saúde apud Zarifian (1999), a descreve como: [...] capacidade de enfrentar situações e acontecimentos próprios de um campo profissional, com iniciativa e responsabilidade, segundo uma inteligência prática sobre o que está ocorrendo e com capacidade para coordenar-se com outros atores na mobilização de suas capacidades. Esse documento foi elaborado com a finalidade de apresentar o perfil profissional do ACS as instituições que formam profissionais utilizando programas político- pedagógico de formação e desenvolvimento com base “[...] em conhecimentos, atitudes e habilidades que gerem crítica, reflexão, compromisso e sensibilidade, segundo
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