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ABORTAMENTO Gilberto Gomes Ribeiro 1. DEFINIÇÃO : Segundo a OMS é a interrupção da gestação antes de 20 22 semanas ou com peso fetal inferior a 500g. É dito precoce quando ocorre até 12 semanas e tardio entre 13 e 20 22 semanas de gestação. Faz parte das síndromes hemorrágicas da 1ª metade da gestação que inclui: - Abortamento Habitual - Gravidez Ectópica - NTG - Descolamento cório-amniótico 2. IMPORTÂNCIA: é uma das principais questões de saúde pública devido: - alta incidência (15 a 20%) - incidência elevada na adolescência (22,5%) do total de internamentos por abortamento) - realizado em condições inseguras quando provocado - apesar da falta de dados confiáveis, incidência de morbimortalidade alta nos países onde é realizado de forma clandestina 3. ETIOLOGIA 3.1.Anormalidades do desenvolvimento do zigoto - Anomalias cromossômicas: são a causa de pelo menos metade dos abortamentos nas primeiras 12 semanas (mais comuns: trissomias do 16, 13, 15, 21, 22 e mossomia 45 x) 3.2. Fatores Maternos: mais comuns a partir da 13ª semana - Infecções: toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus - Doenças Sistêmicas: diabetes, hipotireodismo, deficiência de progesterona, LES, hipertensão - Uso abusivo do fumo e álcool - Intoxicação: chumbo, arsênio, bezeno, etc - Substâncias tóxicas: talidomida antiblásticos, antagonistas do ácido fólico, etc - Fatores imunológicos: SAAF - Urgências médicas intervenções cirúrgicas (laparotomia) - Defeitos uterinos: - Adquiridos: miomas, sinéquias - Congênitos: útero unicorno, bicorno, septado - Incompetência Istmo Cervical - Febre (stress e esforço físico não têm suporte na literatura) 4. DIAGNÓSTICO: - Clínico - Ultra-sonográfico - Laboratorial (hormonal: hCG, progesterona) 5. FATORES DE RISCO - PARIDADE: 5% primíparas 14% multíparas - IDADE: adolescente e acima de 35 anos - Abortamento prévio - Cariótipo anormal (fator de risco mais importante) 6. FORMAS CLÍNICAS 6.1 AMEAÇA DE ABORTAMENTO - Sangramento de pequena intensidade, com ou sem cólicas, colo uterino impérvio, útero compatível com idade gestacional. - 50% dos casos evoluem para abortamento. - Ultra-sonografia: avaliação prognóstica (50% dos casos: ovo anembrionado). - hCG: dosagens seriadas (monitorizar evolução). - Repouso com restrição de atividade física. - Conduta: apoio psicológico, orientação sobre ausência de terapêutica eficaz, analgésicos, etc. - Solicitação: ABO/RH, VDRL, anti HIV 6.2 ABORTAMENTO INEVITÁVEL - Sangramento mais intenso, com coágulos, cólicas mais fortes que na ameaça de aborto, útero compatível com a idade gestacional, colo uterino pérvio (material ovular pode ser identificado no canal cervical). - Diagnóstico é essencialmente clínico (ultra-sonografia e dosagens hormonais são desnecessários). - Conduta Internamento Acesso venoso ABO/Rh, VDRL, Anti-HIV, Hemograma Completo Gestação < 12 semanas - Curetagem uterina cruenta ou por vácuo aspiração (AMIU) Gestação > 12 semanas - Antes da expulsão: ocitocina em esquema de macro-infusão 20UI em 500 ml de SG 5% 20gts/min (ou 60 ml/h em bomba de infusão) adicionando-se 10UI de ocitocina para cada 100 ml infundidos ou misoprostol 200 mg a cada 6h no fundo do saco vaginal. - Após expulsão: curetagem uterina Administrar Imunoglobulina anti RH se Rh (-) 6.3 ABORTAMENTO COMPLETO - Sangramento moderado com diminuição das cólicas, útero menor que o esperado para idade gestacional - Acompanhamento clínico: diminuição do sangramento, cólicas, permeabilidade do colo uterino, involução uterina - Ultra-sonografia: solicitar se há dúvidas útero vazio ou imagens sugestivas de coágulos - Mais comum no abortamento < 8 semanas - Administrar imoglobulina anti RH se Rh (-) 6.4 ABORTAMENTO INCOMPLETO: - Sangramento e cólicas com intensidade variável, colo uterino pérvio - Ultra-sonografia: evidencia imagem sugestiva de restos ovulares - Conduta: igual a do abortamento inevitável. 6.5 - ABORTAMENTO RETIDO: - Sangramento discreto ou ausente, colo impérvio (pode não ser precedido de ameaça), útero menor que o esperado, cujo diagnóstico ocorreu há + de 4 semanas. - Há regressão dos sinais/sintomas de gestação - hCG: níveis decrescentes - Ultra-sonografia: produto conceptual sem vitalidade ou ausência (ovo cego) - Pode haver sangramento mais acentuado e generalizado por CIVD; - Conduta Internamento Acesso venoso ABO/Rh, VDRL, anti HIV, Hemograma e Coagulograma Misoprostol: 200 mg a cada 6h intra-vaginal ou ocitocina 20UI 500 ml de SG 5% Curetagem uterina após expulsão Solicitar Histopatológico para descartar NTG Imunoglobina anti- Rh se Rh ( - ) 6.6 ABORTAMENTO INFECTADO - Geralmente após manipulação uterina com instrumentos. - Pode ter a seguinte evolução se não tratado adequadamente: endometrite parametrite peritonite septicemia e choque séptico - Pode ocorrer no abortamento completo, incompleto ou retido - Quadro clínico variável a depender da evolução: febre (geralmente > 38ºC), pulso acelerado, sudorese, hipotensão, sangramento de odor fétido, dor à manipulação do colo uterino, coleção liquida em fundo de saco posterior, irritação peritonial. - Possibilidade de perfuração uterina e alças intestinais. - Etiologia: geralmente polimicrobiana (da própria flora vaginal) com predomínio de gram (-) ou anaeróbios. - Conduta Internamento Acesso venoso: restituir volemia Laboratório: Hemograma completo, ABO/Rh, VDRL, anti HIV, provas de função renal, coagulograma, sumário de urina. Hemocultura, cultura secreção vaginal e material endometrial casos com resposta inadequada. Raio X de tórax nos quadros mais graves. Ultra-sonografia pélvica transvaginal Hemotransfusão se Hb menor 8g% Antibioticoterapia com cobertura adequada para anaeróbio e Gram (-). 1a. escolha Clindamicina 900mg EV 8/8h + Gentamicina 1,5mg/kg EV dose única (não ultrapassar 240mg) Se não houver resposta associar ampicilina 2g EV 6/6h. 2a. escolha Ampicilina 2g EV 6/6h + Gentamicina 1,5mg/Kg EV dose única + Metronidazol 500mg EV 8/8h. 3a. escolha Ampicilina + sulbactam 3g EV 6/6h. Esvaziamento uterino após início da antibioticoterapia. Útero propenso à perfuração: fazer ocitocina durante a curetagem uterina. Gestação < 12 semanas: curetagem pode ser por AMIU. Após 48 horas afebril: antibiótico por via oral para anaeróbio por 7 dias. Imunoglobina anti Rh se Rh (-). Bom estado geral e afebril por 24h: alta hospitalar. NÃO HÁ NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DE ANTIBIÓTICO POR VIA ORAL APÓS ALTA HOSPITALAR. Persistência do quadro / piora investigar: - Restos ovulares (?) - Abcesso pélvico (?) - Outro sítio infeccioso (?) - Tromboflebite séptica (?) Choque séptico: lembrar da etiotologia por E. coli, bacteróides,clostridium (este pode levar a quadro de anemia hemolítica fulminante e insuficiência renal). 6.7 - ABORTAMENTO HABITUAL - 3 ou mais consecutivos (risco após 3 perdas consecutivas: 30 45%) - 0,5 a 3% dos casais - Diagnóstico etiológico: só em 50% dos casos Fatores genéticos Cerca de 3 8% dos casais possuem anomalias comossômicas identificáveis Cariótipo do produto da concepção: orienta futuras gestações Abortamentos precoces Fatores anatômicos 9 16% dos casos Final no 1º trimestre e início do 2º: sinéquias, septos, útero unicorno, bicorno, didelfos Incompetência Istmo Cervical Abortamentos tardios, idade gestacional progressivamente menor. Sangramento variável, cólicas leves ou ausentes, feto vivo Abortamento precedido de dilatação cervical rápida, indolor ou precedidode RPMembranas Etiologia: Idopática Malformação uterina Cirurgias prévias do colo uterino (conização, Manchester) Manobras tocúrgicas intempestivas Diagnóstico: História clinica Fora da gestação: dilatação cervical através da histeroscopia ou histerossalpingrafia ou colo permeável a vela de Hegar nº 06 Durante a Gestação: Ultra-sonografia: medida longitudinal do colo uterino < 3,0 cm. Outras alterações mais tardias: afunilamento do colo uterino, imagem em dedo de luva (membranas ovulares herniadas). História clínica sugestiva, sem diagnóstico prévio e com ultra- sonografia normal: fazer ultra-sonografia seriada com objetivo de evidenciar encurtamento do colo uterino. Conduta: Circlagem Uterina (técnica de McDonald) Época ideal: 14 a 16 semanas de gestação, porém uma vez diagnosticada em idade gestacional mais tardia (até 28 semanas) o procedimento deve ser tentado. Fatores Endócrinos: Insuficiência fase lútea Muitas vezes associado à hiperprolactinemia, endometriose, hipotireoidismo, defeitos anatômicos do útero. Abortamentos precoces (entre 4ª e 8ª semanas). Progesterona: sem beneficio comprovado. Diabetes, hipotireoidismo: somente formas sintomáticas aumentam o risco. Sd. Ovários micropolicísticos: 57% no abortamento habitual. 22% na população geral. Fatores Imunológicos Síndrome do Anticorpo-antifosfolípide (SAAF) Diagnóstico e tratamento (ver capítulo específico). Fatores Infecciosos: Não mais são incluídos nas causas do abortamento habitual. Idiopático Representa cerca de 50% dos casos. Suporte especial de acompanhamento: pré-natal equipe multidisciplinar, apoio psicológico: diminui 26% incidência ABORTAMENTO ESPONTÂNEO - Verdadeira incidência incerta (dificuldade diagnóstica) Dificuldade percepção / diagnóstico no inicio da gestação Omissão de informação quando provocado Estima-se que ocorre em 78% das gestações (62% antes de 12 semanas) ABORTAMENTO PROVOCADO - Ilegal no Brasil, exceto em 2 situações: Gestação decorrente de estupro Gestação com risco materno. - Incidência: estimativa difícil. - Quando realizado clandestinamente é alta a incidência de morbimortalidade materna devido: perfuração uterina e de vísceras abdominais, hemorragia, infecção localizada ou sistêmica, choque séptico, esterilidade, sinéquias. ABORTAMENTO LEGAL - RISCO MATERNO Laudo de 2 obstetras e 1 especialista na patologia que está motivando a interrupção. Consentimento informado: da gestante e familiares. Não é necessário comunicar ao CRM. É necessária a notificação à comissão de ética do hospital. - APÓS ESTUPRO Atendimento por equipe habilitada ou por serviço de referência. Decisão por interrupção: apresentar Boletim de Ocorrência Policial. Não é necessário laudo de IML ou autorização judicial. VDRL, anti HIV, Hbs Ag, ABO/Rh. Assinar consentimento informado (se < 14 anos: pais ou responsável legal). Material deveria ser acondicionado em Freezer para DNA se a justiça solicitar. - MAL FORMAÇÃO GRAVE OU INCOMPATIVEL COM A VIDA Jurisprudência: interrupções realizadas com autorização judicial (Ministério Público). Após confirmação diagnóstica, juntamente com Laudo assinado por três profissionais do serviço de Medicina Fetal e autorização familiar, deve ser dado entrada com processo juntamente ao Ministério Público e aguarda parecer da Justiça. Interripção somente diante de parecer favorável. This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com. 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