Buscar

Como elaborar uma resenha

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Como elaborar uma resenha 
 
 
1. Definições 
 
Resenha-resumo: 
 É um texto que se limita a resumir o conteúdo de um livro, de um capítulo, de um filme, de uma 
peça de teatro ou de um espetáculo, sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se de um texto 
informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor. 
 
Resenha-crítica: 
 É um texto que, além de resumir o objeto, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica, apontando os 
aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião, também 
denominado de recensão crítica. 
 
 
2. Quem é o resenhista 
 
 A resenha, por ser em geral um resumo crítico, exige que o resenhista seja alguém com 
conhecimentos na área, uma vez que avalia a obra, julgando-a criticamente. 
 
 
3. Objetivo da resenha 
 
 O objetivo da resenha é divulgar objetos de consumo cultural - livros,filmes peças de teatro, etc. Por 
isso a resenha é um texto de caráter efêmero, pois "envelhece" rapidamente, muito mais que outros 
textos de natureza opinativa. 
 
 
4. Veiculação da resenha 
 
 A resenha é, em geral, veiculada por jornais e revistas. 
 
 
5. Extensão da resenha 
 
 A extensão do texto-resenha depende do espaço que o veículo reserva para esse tipo de texto. 
Observe-se que, em geral, não se trata de um texto longo, "um resumão" como normalmente feito nos 
cursos superiores ... Para melhor compreender este item, basta ler resenhas veiculadas por boas 
revistas. 
 
 
6. O que deve constar numa resenha 
 
Devem constar: 
 O título 
 A referência bibliográfica da obra 
 Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada 
 O resumo, ou síntese do conteúdo 
 A avaliação crítica 
 
7. O título da resenha 
 
 O texto-resenha, como todo texto, tem título, e pode ter subtítulo, conforme os exemplos, a seguir: 
 
Título da resenha: Astro e vilão 
Subtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson 
Livro: Michael Jackson: uma Bibliografia não Autorizada (Christopher Andersen) - Veja, 4 de 
outubro, 1995 
 
Título da resenha: Com os olhos abertos 
Livro: Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago) - Veja, 25 de outubro, 1995 
 
Título da resenha: Estadista de mitra 
Livro: João Paulo II - Bibliografia (Tad Szulc) - Veja, 13 de março, 1996 
 
8. A referência bibliográfica do objeto resenhado 
 
 Constam da referência bibliográfica: 
 
 Nome do autor 
 Título da obra 
 Nome da editora 
 Data da publicação 
 Lugar da publicação 
 Número de páginas 
 Preço 
Obs.: Às vezes não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou o preço. 
 
Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num "box" ou caixa. 
 
Exemplo: Ensaio sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago (Companhia das 
Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...) (Veja, 25 de outubro, 1995). 
 
 
9. O resumo do objeto resenhado 
 
 O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral. 
 
 Pode-se resumir agrupando num ou vários blocos os fatos ou idéias do objeto resenhado. 
 
 Veja exemplo do resumo feito de "Língua e liberdade: uma nova concepção da língua materna e seu 
ensino" (Celso Luft), na resenha intitulada "Um gramático contra a gramática", escrita por Gilberto 
Scarton. 
 
 
 
 
 "Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, 
intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo 
tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as 
noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade 
do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua 
é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática 
lingüística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas "aulas 
de português". 
 
 O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de 
espírito lúcido e de larga formação lingüística e professor de longa 
experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: 
gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e lingüística;o 
relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos 
gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o 
essencial, do irrelevante". 
 
 
 
 
 Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos. 
 
 Veja o exemplo da resenha "Receitas para manter o coração em forma" (Zero Hora, 26 de agosto, 
1996), sobre o livro "Cozinha do Coração Saudável", produzido pela LDA Editora, com o apoio da Beal. 
 
 
 
Receitas para manter o coração em forma 
 
 
 "Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e 
suas formas de atuação no organismo. Na introdução os médicos explicam 
numa linguagem perfeitamente compreensível o que é preciso fazer (e 
evitar) para manter o coração saudável. 
 
 As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em 
desjejum e lanches, entradas, saladas e sopas; pratos principais; 
acompanhamentos; molhos e sobremesas. Bolinhos de aveia e passas, 
empadinhas de queijo, torta de ricota, suflê de queijo, salpicão de frango, 
sopa fria de cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo de batata, alcatra 
ao molho frio, purê de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de laranja 
e pêras ao vinho tinto são algumas das iguarias". 
 
 
 
 
 
10. Como se inicia uma resenha 
 
 Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os exemplos: 
 
 
 
 
 "Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna 
e seu ensino" (L&PM, 1995, 112 páginas), do gramático Celso Pedro 
Luft, traz um conjunto de idéias que subvertem a ordem estabelecida no 
ensino da língua materna, por combater, veementemente, o ensino da 
gramática em sala de aula. 
 
 
 
 
 Mais um exemplo: 
 
 
 
 
 "Michael Jackson: uma Bibliografia Não Autorizada (Record: 
tradução de Alves Calado; 540 páginas, 29,90 reais), que chega às livrarias 
nesta semana, é o melhor perfil de astro mais popular do mundo". (Veja, 4 
de outubro, 1995). 
 
 
 
 
 Outra maneira bastante freqüente de iniciar uma resenha é escrever um ou dois parágrafos 
relacionados com o conteúdo da obra. 
 
 Observe o exemplo da resenha sobre o livro "História dos Jovens" (Giovanni Levi e Jean-Claude 
Schmitt), escrita por Hilário Franco Júnior (Folha de São Paulo, 12 de julho, 1996). 
 
 
 
O que é ser jovem 
 
Hilário Franco Júnior 
 
 Há poucas semanas, gerou polêmica a decisão do Supremo Tribunal 
Federal que inocentava um acusado de manter relações sexuais com uma 
menor de 12 anos. A argumentação do magistrado, apoiada por parte da 
opinião pública, foi que "hoje em dia não há menina de 12 anos, mas 
mulher de 12 anos". 
 
 
 Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a 
aceitação de "novidades imorais de nossa época". Alguns dias depois, as 
opiniões foram novamente divididas diante da estatística publicada pela 
Organização Mundial do Trabalho, segundo a qual 73 milhões de menores 
entre 10 e 14 anos de idade trabalham em todo o mundo. Para alguns isso é 
uma violência, para outros um fato normal em certos quadros sócio-
econômico-culturais. 
 
 Essas e outras discussões muito atuais sobre a população jovem só 
podem pretender orientar comportamentos e transformar a legislação se 
contextualizadas, relativizadas. Enfim, se historicizadas. E para isso a 
"História dos Jovens"- organizada por dois importantes historiadores, o 
modernista italiano Giovanno Levi, da Universidade de Veneza, e o 
medievalista francês Jean-Claude Schmitt, da École des Hautes Études em 
Sciences Sociales - traz elementos interessantes. 
 
 
 
 Observe igualmente o exemplo a seguir - resenha sobre o livro "Cozinha do Coração Saudável", LDA 
Editores, 144 páginas (Zero Hora, 23 de agosto, 1996). 
 
 
 
Receitas para manter o coração em forma 
 
Entre os que se preocupam com o controle de peso e buscam uma 
alimentação saudável são poucos os que ainda associam estes ideais a uma 
vida de privações e a uma dieta insossa. Os adeptos da alimentação de 
baixos teores já sabem que substituições de ingredientes tradicionais por 
similares light garantem o corte de calorias, açúcar e gordura com a 
preservação (em muitos casos total) do sabor. Comprar tudo pronto no 
supermercado ou em lojas especializadas é barbada. A coisa complica na 
hora de ir para a cozinha e acertar o ponto de uma massa de 
panqueca,crepe ou bolo sem usar ovo. Ou fazer uma polentinha crocante, 
bolinhos de arroz e croquetes sem apelar para a frigideira cheia de óleo. O 
livro Cozinha do Coração Saudável apresenta 110 saborosas soluções para 
esses problemas. Produzido pela LDA Editora com apoio da Becel, Cozinha 
do Coração saudável traz receitas compiladas por Solange Patrício e Marco 
Rossi, sob orientação e supervisão dos cardiologistas Tânia Martinez, 
pesquisadora e professora da Escola Paulista de Medicina, e José Ernesto 
dos Santos, presidente do departamento de Aterosclerose da Sociedade 
Brasileira de Cardiologia e professor da faculdade de Medicina de Ribeirão 
Preto. Os pratos foram testados por nutricionistas da Cozinha Experimental 
Van Den Bergh Alimentos. 
 
 
 
 
 Há, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha. A leitura 
(inteligente) desse tipo de texto poderá aumentar o leque de opções para iniciar uma recensão crítica de 
maneira criativa e cativante, que leva o leitor a interessar-se pela leitura. 
 
 
 
11. A crítica 
 
 A resenha crítica não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta, ao final, 
uma avaliação ou crítica. A postura crítica deve estr presente desde a primeira linha, resultando num 
texto em que o resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram. 
 
 O tom da crítica poderá ser moderado, respeitoso, agressivo, etc. 
 
 Deve ser lembrado que os resenhistas - como os críticos em geral - também se tornam objetos de 
críticas por parte dos "criticados" (diretores de cinema, escritores, etc.), que revidam os ataques 
qualificando os "detratores da obra" de "ignorantes" (não compreenderam a obra) e de "impulsionados 
pela má-fé". 
 
 
12. Exemplos de resenhas 
 
 Publicam-se a seguir três resenhas que podem ilustrar melhor as considerações feitas ao longo desta 
apresentação. 
 
 
 
Atwood se perde em panfleto feminista 
 
Marilene Felinto 
Da Equipe de Articulistas 
 
 Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua 
literatura de tom feminista. No Brasil, é mais conhecida pelo romance "A 
mulher Comestível" (Ed. Globo). Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e 
não-ficção. "A Noiva Ladra" é seu oitavo romance. 
 
 O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, 
procedimento normal em teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra 
também aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber 
o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou 
para construir o "pano de fundo" de seu texto, até a uma parente, Lenore 
Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão 
"meleca cerebral". 
 
 Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 
páginas que poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. 
Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante. 
 
 É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem 
infernizadas pela presença (em "flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva 
ladra, inescrupulosa "femme fatale" que vive roubando os homens das 
outras. 
 
 Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais personagens, 
construídas com certa solidez -, a antogonista Zenia não se sustenta, sua 
maldade não convence, sua história não emociona. A narrativa desmorona, 
portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego 
das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, 
reflexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que 
se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito óbvio no seu 
propósito. 
 
 Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma 
personagem mulher "fora-da-lei", porque "há poucas personagens mulheres 
fora-da-lei". As intervenções do discurso feminista são claras, panfletárias, 
disfarçadas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, 
tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora de história, 
especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: 
"Historiadores homens acham que ela está invadindo o território deles, e 
deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas em 
paz". 
 
 Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas 
soam apenas ingênuas: "Há só uma coisa que eu gostaria que você 
lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres quando estão com 
TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo". Ou então, a 
mensagem rabiscada na parede do banheiro: "Herstory Not History", 
trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra "História", porque 
em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas outras, "his" (dele) e 
story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o "his" 
para "her" (dela). 
 
 As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro 
amontoado de fatos cotidianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e 
muita "reflexão feminina" sobre a infância, o amor, etc. Tudo isso narrado 
da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser 
talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras. 
 
 Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé 
 
nem cabeça, no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - 
em tom cerimonioso na página de agradecimentos - se orgulha de ter 
realizado. 
 
 
 
 
 
Estadista de mitra 
 
 
Na melhor bibliografia de João Paulo II até agora, o 
jornalista Tad Szulc dá ênfase à atuação política do 
papa 
 
Ivan Ângelo 
 
 Como será visto na História esse contraditório papa João Paulo II, o 
único não-italiano nos últimos 456 anos? Um conservador ou um 
progressista? Bom ou mau pastor do imenso rebanho católico? Sobre um 
ponto não há dúvida: é um hábil articulador da política internacional. Não 
resolveu as questões pastorais mais angustiantes da Igreja Católica em 
nosso tempo - a perda de fiéis, a progressiva falta de sacerdotes, a forma 
de pôr em prática a opção da igreja pelos pobres -; tornou mais dramáticos 
os conflitos teológicos com os padres e os fiéis por suas posições inflexíveis 
sobre o sacerdócio da mulher, o planejamento familiar, o aborto, o sexo 
seguro, a doutrina social, especialmente a Teologia da Libertação, mas por 
outro lado, foi uma das figuras-chave na desarticulação do socialismo no 
Leste Europeu, nos anos 80, a partir da sua atuação na crise da Polônia. É 
uma voz poderosa contra o racismo, a intolerância, o consumismo e todas 
as formas autodestrutivas da cultura moderna. Isso fará dele um grande 
papa? 
 
 O livro do jornalistapolonês Tad Szulc João Paulo II - 
Bibliografia (tradução de Antonio Nogueira Machado, Jamari França e 
Silvia de Souza Costa; Francisco Alves; 472 páginas; 34 reais) toca em 
todos esses aspectos com profissionalismo e competência. O autor, um ex-
correspondente internacional e redator do The New York Times, viajou com 
o papa, comeu com ele no Vaticano, entrevistou mais de uma centena de 
pessoas, levou dois anos para escrever esse catatau em uma máquina 
manual portátil, datilografando com dois dedos. O livro, bastante atual, 
acompanha a carreira (não propriamente a vida) do personagem até o fim 
de janeiro de 1995, ano em que foi publicado. É um livro de correspondente 
internacional, com o viés da política internacional. Szulc não é 
literariamente refinado como seus colegas Gay Talese ou Tom Wolfe, usa 
com freqüência aqueles ganchos e frases de efeito que adornam o estilo 
jornalístico, porém persegue seu objetivo como um míssil e atinge o alvo. 
 
 Em meio à política, pode-se vislumbrar o homem Karol Wojtyla, teimoso, 
autoritário, absolutista de discurso democrático, alguém que acha que tem 
uma missão e não quer dividi-la, que é contra o "moderno" na moral, que 
prefere perder a transigir, mas é gentil, caloroso, fraterno, alegre, franco ... 
Szulc, entretanto, só faz o esboço, não pinta o retrato. Temos, então, de 
aceitar a sua opinião: "É difícil não gostar dele". 
 
 Opus Dei - O livro começa descrevendo a personalidade de João Paulo 
II, faz um bom resumo da História da Polônia e sua opção pelo Ocidente e 
pela Igreja Católica Romana (em vez da Ortodoxa Grega, que dominava os 
vizinhos do Leste), fala da relação mística de Wojtyla com o sofrimento, 
descreve sus brilhante carreira intelectual e religiosa, volta à sua infância, 
aos seus tempos de goleiro no time do ginásio ""um mau goleiro", dirá mais 
tarde um amigo), localiza aí sua simpatia pelos judeus, conta que ele 
decidiu ser padre em meio ao sofrimento pela morte do pai, destaca a 
complacência de Pio XII com o nazismo, a ajuda à Opus Dei (a quem depois 
João Paulo II daria todo o apoio), demora-se demais nos meandros da 
política do bispo e cardeal Wojtyla, cresce jornalisticamente no capítulo 
sobre a eleição desse primeiro papa polonês, mostra como ele reorganizou a 
Igreja, discute suas posições conservadoras sobre a Teologia da Libertação 
 
e as comunidades eclesiais de base, CEBs, na América latina, descreve sua 
decisiva atuação na política do Leste Europeu, a derrocada do comunismo, e 
termina com sus luta atual contra o demônio pós-comunista. Agora o 
demônio, o perigo mortal para a humanidade, é o capitalismo selvagem e o 
"imperialismo contraceptivo" dos EUA e da ONU. 
 
 Szulc, o escritor-míssil, não se desvia do seu alvo nem quando vê um 
assunto saboroso como a Cúria do Vaticano, que diz estar cheia de puxa-
sacos e fofoqueiros com computadores, nos quais contabilizam trocas de 
favores, agrados, faltas e rumores. O sutil jornalista Gay Talese não 
perderia um prato desses. 
 
 Entretanto, Szulc está sempre atento às ações políticas do papa. Nota 
que João Paulo II elevou a Opus Dei à prelatura pessoal enquanto expurgou 
a Companhia de Jesus por seu apoio à Teologia da Libertação; ajudou a 
Opus Dei a se estabelecer na Polônia, beatificou rapidamente seu criador, 
monsenhor Escrivã. Como um militar brasileiro dos anos 60, cassou o direito 
de ensinar dos padres Küng, Pohier e Curran, silenciou os teólogos 
Schillebeeckx (belga), Boff (brasileiro), Häring (alemão) e Gutiérrez 
(peruano), reduziu o espaço pastoral de dom Arns (brasileiro). Em 
contrapartida, apoiou decididamente o sindicato clandestino polonês, a 
Solidariedade. Fez dobradinha com o general dirigente polonês Jaruzelski 
contra Brejnev, abrindo o primeiro país socialista, que abriu o resto. O 
próprio Gorbachev reconhece: "Tudo o que aconteceu no Leste Europeu 
nesses últimos anos teria sido impossível sem a presença deste papa". 
 
 Talvez seja assim também com relação ao que acontece com as religiões 
cristãs no nosso continente. Tad Szulc, com cautela, alerta para a 
penetração, na América Latina, dos evangélicos e pentecostais, que o 
próprio Vaticano chama de "seitas arrebatadoras". A participação 
comunitária e o autogoverno religioso que existia nas CEBs motivavam mais 
a população. Talvez seja. Acrescentando-se a isso o lado litúrgico dos 
evangélicos que satisfaz o desejo dos fiéis de serem atores no drama 
místico, não tanto espectadores, tem-se uma tese. 
 
 O perfil desenhado por Szulc é o de um político profundamente religioso. 
Um homem que reza sete horas por dia, com os olhos firmemente fechados, 
devoto de Nossa Senhora de Fátima e do mártir polonês São Estanislau e 
que acredita no martírio e na dor pessoais para alcançar a graça. 
 
 
 
 
 
Um gramático contra a gramática 
 
Gilberto Scarton 
 
 Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e 
seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz 
um conjunto de idéias que subverte a ordem estabelecida no ensino da 
língua materna, por combater, veemente, o ensino da gramática em sala de 
aula. 
 
 Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, 
intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo 
tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as 
noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, inutilidade 
do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua 
é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática 
lingüística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas "aulas 
de português". 
 
 O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de 
espírito lúcido e de larga formação lingüística e professor de longa 
experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: 
gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e lingüística; o 
relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos 
gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o 
 
essencial, do irrelevante. 
 
 Essa fundamentação lingüística de que lança mão - traduzida de forma 
simples com fim de difundir assunto tão especializado para o público em 
geral - sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se convence de que 
aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o ensino 
gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao 
ser humano; um processos espontâneo, automático, natural, inevitável, 
como crescer. Consciente desse poder intrínseco, dessa propensão inata 
pela linguagem, liberto de preconceitos e do artificialismo do ensino 
definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra, para 
desenvolver seu espírito crítico e para falar por si. 
 
 Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão 
original quanto pareça ser para o grande público (pois as mesmas 
concepções aparecem em muitos teóricos ao longo da história), tem o 
mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação que lhe 
sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino 
tradicional - e os professores de português - teóricos, gramatiqueiros, 
puristas - têm ao se depararem com uma obra de um autor de gramáticas 
que escreve contra a gramática na sala de aula.

Outros materiais