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331660805 Apostila de Farmacologia PDF

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Farmacologia I – UNIRIO 1
MÓDULO I 
 
CAPÍTULO 1 
 
Introdução 
 
INTRODUÇÃO 
 
A farmacologia pode ser definida como o estudo das 
substâncias que interagem com sistemas vivos por meio de 
processos químicos, particularmente mediante sua ligação a 
moléculas reguladoras e ativação ou inibição dos processos 
orgânicos normais. Essas substâncias podem ser compostos 
químicos administrados com a finalidade de obter um efeito 
terapêutico benéfico sobre algum processo no paciente, ou 
pelos seus efeitos tóxicos sobre processos reguladores em 
parasitas que infectam o paciente. Essas aplicações 
terapêuticas deliberadas podem ser consideradas como o 
papel fundamental da farmacologia médica, que é 
freqüentemente definida como a ciência das substâncias 
utilizadas na profilaxia, diagnóstico e tratamento das doenças. 
 
 
INTERAÇÕES ENTRE DROGAS E CORPO 
 
As interações entre uma droga e o corpo são 
convenientemente divididas em duas classes. As ações da 
droga sobre o organismo são conhecidas como processos 
farmacodinâmicos, cujos princípios são apresentados no Cap. 
2. Essas propriedades determinam o grupo em que a droga é 
classificada e, com freqüência, desempenham o principal 
papel na decisão de qual dos grupos constitui a forma 
apropriada de terapia para determinado sintoma ou doença. 
As ações do corpo sobre a droga são denominadas processos 
farmacocinéticos, que são descritos nos Caps. 3 a 7. os 
processos farmacocinéticos controlam a absorção, 
distribuição e eliminação de drogas e são de grande 
importância prática na escolha e administração de uma droga 
específica a determinado paciente, como, por exemplo, um 
paciente com comprometimento da função renal. 
 Quadro 1.1 Farmacodinâmica 
 
 
 
 
 Quadro 1.2 Farmacocinética 
 
 
 
*A permeação consiste na passagem da droga através das membranas 
biológicas. Ocorre segundo: (1) difusão aquosa; (2) difusão lipídica; (3) 
transportadores especiais e (4) endocitose e exocitose. 
 
 
 
 
 Referências 
Katzung, Bertram G. et al: Basic and Clinical Pharmacology. 9ª ed., 
The McGraw-Hill Companies, Inc., 2004 (trad. pt. Rio de Janeiro, 
Editora Guanabara Koogan S.A., 2006). 
 
Absorção 
 
Distribuição 
 
Biotransformação 
 
Excreção 
Fase I 
Fase II 
vias de administração 
permeação* 
Receptores 
 
Interações droga-receptor 
 
 
 
Curva dose-resposta 
agonistas 
antagonistas 
eficácia 
potência 
Farmacologia I – UNIRIO 2
CAPÍTULO 2 
 
Farmacodinâmica 
 
INTRODUÇÃO 
 
A farmacodinâmica pode ser definida como o estudo dos 
efeitos bioquímicos e fisiológicos das drogas e de seus 
mecanismos de ação. Como mencionado, são, grosso modo, 
as ações da droga sobre o organismo. Neste capítulo, 
trataremos dos receptores, das interações das drogas com os 
receptores e da interpretação dessa interação por meio das 
curvas dose-resposta. 
 
 
RECEPTORES 
 
Um conceito fundamental em farmacologia é que, para se 
iniciar um efeito em qualquer célula, a maioria dos fármacos 
combina-se com alguma estrutura molecular na superfície ou 
no interior da célula. Esta estrutura molecular é denominada 
receptor. A combinação do fármaco com o receptor resulta 
em modificações moleculares no receptor que desencadeiam 
uma série de eventos que levam a uma resposta. Isso também 
é válido para substâncias endógenas como hormônios e 
neurotransmissores. Assume-se que todos os receptores aos 
quais as drogas se combinam existam para atuar como 
receptores para substâncias endógenas. É por isso que a 
descoberta de um receptor para determinado fármaco leva à 
busca da substância endógena que utiliza estes receptores. 
Em 1973, descobriu-se que drogas opióides como a 
morfina atuavam sobre um receptor específico. Essa 
descoberta levou à busca da substância endógena, cuja função 
fisiológica dependesse da interação com tais receptores. Em 
1975, identificaram-se peptídeos endógenos com atividade 
semelhante à da morfina. Hoje, sabe-se de uma família de 
peptídeos que são denominados encefalinas ou endorfinas. A 
morfina, simplesmente, simula a ação dessas substâncias. 
 
 
FISIOLOGIA DA PLACA TERMINAL 
 
Receptores são macromoléculas (proteínas, em sua maioria) 
presentes nos tecidos e que se combinam quimicamente com 
os fármacos de maneira relativamente específica. Isto é, 
fármacos interagem apenas com alguns receptores e vice-
versa. A placa terminal de uma fibra muscular esquelética, 
por exemplo, contém uma grande quantidade de receptores 
com afinidade para o neurotransmissor acetilcolina. 
Cada um desses receptores, que são chamados nicotínicos, 
é parte de um canal na membrana pós-sináptica que controla o 
movimento intracelular de íons Na+. Em repouso, esta 
membrana pós-sináptica é relativamente impermeável ao Na+. 
Contudo, quando o nervo é estimulado, ele libera, na placa 
terminal, acetilcolina que combina-se com os receptores 
nicotínicos e modifica-os de tal forma que os canais se abrem 
e o Na+ flui para o interior da célula muscular. Quanto mais 
acetilcolina existir na região da placa terminal, mais 
receptores serão ativados e mais canais se abrirão. Quando o 
número de canais abertos atinge um nível crítico e o Na+ entra 
com rapidez suficiente para perturbar o equilíbrio iônico da 
membrana, ocorre uma despolarização localizada. Essa 
despolarização localizada dispara a ativação de grande 
número de canais de Na+ dependentes de voltagem e gera a 
despolarização conduzida, conhecida como potencial de ação. 
O potencial de ação provoca a liberação – para o citosol – de 
Ca+2 a partir de seus locais de ligação intracelular 
(particularmente, retículos endoplasmáticos e mitocôndrias). 
Este Ca+2 interage com proteínas contráteis, gerando um 
encurtamento da célula muscular. 
 
 
 Figura 2.1 Receptor Nicotínico 
 
O receptor nicotínico, por exemplo, é composto de 5 
subunidades (duas α, uma β, uma γ e uma δ) que circundam 
uma depressão central, que corresponde ao canal 
transmembranoso de Na+. Quando a acetilcolina se liga ao 
receptor (na subunidades α), o canal central é aberto, 
permitindo a passagem de Na+. 
Outros receptores – que não são canais iônicos – 
desencadeiam uma cascata de eventos graças à ação de 
segundos mensageiros. Os fatores chave em muitos desses 
sistemas de segundos mensageiros são as proteínas G (há 
Sítio de ligação da acetilcolina (subunidade α) 
α 
γ β 
α 
δ 
Farmacologia I – UNIRIO 3
vários tipos). Essas proteínas hidrolizam o trifosfato de 
guanosina (GTP) a difosfato de guanosina (GDP). As 
proteínas G transmitem a ativação de vários receptores a uma 
etapa seguinte em uma série de reações. Em muitos casos, a 
etapa seguinte envolve a enzima adenilciclase. Vários 
hormônios, fármacos etc. estimulam ou inibem a 
adenilciclase em vários tipos de receptores através das 
proteínas G diversas (inibitória ou estimulatória). A 
adenilciclase catalisa a transformação de ATP em AMPc. 
O AMPc ativa enzimas chamadas quinases que irão 
fosforilar diversas proteínas, resultando na resposta celular 
como abertura de canais Ca+2 e ativação de outras enzimas. 
As proteínas G podem, também, ativar outras enzimas ou agir 
diretamente em canais iônicos. Os receptores para adrenalina 
e noradrenalina são acoplados à proteína G. 
 
 
LIGAÇÕES QUÍMICAS 
 
Os fármacos combinam-se com os receptores de várias 
formas e diversos tipos de ligações químicas participam na 
formação inicial do complexo fármaco-receptor. Entre elas, 
ligações covalentes, iônicas, de pontes de hidrogênio e van 
der Waals. 
A ligação covalente é forte e estável. É responsável pela 
estabilidade na maioria das moléculas orgânicas. É 
irreversível à temperatura corporal e só pode ser desfeita com 
muita energia ou na presença de um agentecatalítico, como 
uma enzima. Estão presentes em ligações de certos fármacos 
anticancerígenos e quelantes. 
A ligação iônica resulta da atração eletrostática que 
ocorre entre íons de cargas opostas. A força dessa ligação é 
bem menor que a da ligação covalente. A maioria dos 
receptores macromoleculares apresenta vários grupamentos 
que se ionizam e interagem com fármacos ionizados. 
A ligação de pontes de hidrogênio é muito positiva, 
podendo se ligar a um átomo fortemente negativo e, ainda 
assim, aceitar mais um elétron de outro átomo doador 
eletronegativo como o nitrogênio ou oxigênio. Forma-se, 
assim, uma ponte com esses átomos doadores. São forças 
fracas mas, se muitas, podem estabelecer uma reação estável 
– embora reversível – entre o fármaco e o receptor. Parece 
desempenhar um papel importante na definição da 
seletividade e especificidade das ligações fármaco-receptor. 
As forças de van der Waals são muito fracas, mas 
parecem ser importantes na determinação da especificidade 
fármaco-receptor. 
Inicialmente, o fármaco forma ligações iônicas com o 
receptor que conferem certa estabilidade ao complexo. Essa 
ligação é reforçada por ligações do tipo van der Waals e 
pontes de hidrogênio antes que ocorra uma ativação 
significativa do receptor. A não ser que tenham sido 
formadas ligações covalentes, o complexo fármaco-receptor 
dissocia-se. Neste momento, a ação do fármaco cessa. 
 
 
INTERAÇÕES FÁRMACO-RECEPTOR 
 
Uma substância química semelhante à acetilcolina pode ser 
quimicamente atraída ao receptor da mesma forma que a 
acetilcolina e, desta forma, levar à contração muscular. A 
nicotina, por exemplo, age desta forma. As substâncias que 
interagem com um receptor e, com isso, desencadeiam uma 
resposta celular, são chamadas agonistas. Assim, a 
acetilcolina e a nicotina são agonistas dos receptores da placa 
terminal muscular esquelética (receptores nicotínicos). Por 
outro lado, há substâncias que, apesar de serem semelhantes à 
acetilcolina, o são em menor grau. Essas substâncias 
interagem com o receptor, mas não são capazes de induzir 
uma alteração no receptor necessária para provocar a entrada 
de Na+ na célula. Com isso, a contração da fibra não é 
desencadeada. Mas, por ocupar o sítio ativo do receptor, a 
substância inibe a interação da acetilcolina com o mesmo. 
Este tipo de fármaco é chamado de antagonista. 
 
 
VARIÁVEIS DA FARMACODINÂMICA 
 
Afinidade. Mede a força de ligação entre droga e receptor e é 
determinada pelos tipos e número de ligações químicas. 
Reflete a tendência de um fármaco se ligar ao receptor. 
 
Eficácia. Ou “efeito máximo”, é a resposta máxima produzida 
pelo fármaco. Depende de quantos complexos fármaco-
receptor são formados e da eficiência com que o receptor 
ativado produz a ação celular. Ou seja, enquanto a afinidade é 
a tendência de um fármaco se ligar ao receptor, a eficácia é a 
tendência de, uma vez ligado, esse fármaco modificar a 
função do receptor desencadeando uma resposta. 
Independentemente da concentração do fármaco, atinge-se um 
ponto além do qual não ocorre mais nenhum incremento na 
resposta. Tem-se, aí, resposta ou efeito máximo. 
 
Potência. Ou sensibilidade, é a medida de quanto fármaco é 
necessário para desencadear uma determinada resposta. 
Quanto menor a dose necessária para gerar tal resposta, mais 
potente é o fármaco. É calculada pela dose de fármaco que 
desencadeia 50% da resposta máxima (EC50 [effective 
concentration 50%] ou DE50). Em geral, os fármacos de alta 
potência apresentam alta afinidade pelos receptores, ocupando 
uma proporção significativa destes, mesmo em baixas 
concentrações. 
 
 
AGONISMO 
 
Com base na resposta farmacológica máxima (eficácia) que 
ocorre quando todos os receptores estão ocupados, os 
agonistas podem ser divididos em três classes: 
 
Agonistas integrais. Ou agonistas plenos, constituem os 
agonistas clássicos que, quando em concentrações suficientes, 
provocam a resposta máxima desencadeada pelo receptor. 
 
Agonistas parciais. Mesmo com uma ocupação total dos 
receptores, produzem uma resposta menor do que os agonistas 
integrais. Além disso, por competirem com os agonistas 
integrais, desviam a curva para a direita. 
 
Farmacologia I – UNIRIO 4
 
 
 Figura 2.2 Agonista Parcial 
 
Agonistas inversos. A princípio paradoxalmente, há 
exemplos em que pode-se verificar um nível de ativação de 
receptores mesmo na ausência de ligantes (p. ex., receptores 
canabinóides e de dopamina). Uma explicação para tal, é que 
mutações podem ocorrer – espontaneamente ou em processos 
patológicos – e resultar nessa ativação. Temos, nesses casos, 
uma ativação constitutiva. Os agonistas inversos podem ser 
considerados como drogas de eficácia negativa para 
diferenciá-los dos agonistas (eficácia positiva) e dos 
antagonistas (eficácia nula). 
 
 
 
 Figura 2.3 Agonista Inverso 
 
 
ANTAGONISMO 
 
O antagonismo entre fármacos mais encontrado na prática 
clínica é o competitivo. Esses antagonistas se ligam aos 
receptores, mas, ao contrário dos agonistas, não os ativam. 
Ou seja, apresentam eficácia pequena ou nula. Exercem seus 
efeitos ao impedir a ligação do agonista ao receptor. Pode ser 
de dois tipos: 
 
Antagonismo competitivo reversível. Se a ligação é frouxa, 
denomina-se “competitivo de equilíbrio” ou “competitivo 
reversível”. O antagonismo aumenta à medida que a 
concentração do antagonista aumenta. Contudo, a ação deste 
antagonista pode ser superada aumentando-se a concentração 
do agonista na biofase (região onde se encontram os 
receptores). A melhor forma de avaliar esta relação é por 
meio do exame de curvas dose-resposta (ver Fig. 2.4). 
Se tivermos várias curvas – a primeira sem antagonista e 
as outras com concentrações crescentes de antagonista – 
paralelas e cujo efeito máximo se iguala, temos um 
antagonismo reversível. Ou seja, o antagonista desvia a curva 
para a direita, mas o efeito máximo continua a ser possível. 
Contudo, é necessária uma concentração maior de agonista 
para alcançá-lo. A atropina (ver Cap. 12) é um exemplo de 
antagonista reversível da acetilcolina. 
 
 
 
 Figura 2.4 Antagonista Reversível 
A: agonista isolado; 
B: agonista em presença de antagonista reversível; 
C: agonista em presença de mais antagonista irreversível. 
 
Antagonismo competitivo irreversível*. Se a ligação é 
covalente (firme), a combinação do antagonista com o 
receptor não é desfeita com facilidade e o antagonista é 
denominado “competitivo de não equilíbrio” ou 
“irreversível”. Nas curvas dose-resposta, mesmo aumentando 
a concentração do agonista, doses crescentes deste antagonista 
diminuem a resposta máxima. Chega-se, então, a uma 
concentração de antagonista na qual não existe quantidade de 
agonista capaz de desencadear qualquer resposta. Inibidores 
da colinesterase (ver Cap. 11) são exemplos desse tipo de 
antagonismo. 
 
* Esse tipo de antagonismo é, por alguns autores, denominado não-
competitivo. Todavia, nesta apostila, consoante Rang et al., o termo “não-
competitivo” se reserva para o antagonismo que não envolve a ocupação do 
sítio receptor. Ou seja, o antagonista não-competitivo não compete pelo sítio 
de ligação do agonista (comparar Figs. 2.5 e 2.6). 
 
 
 
 Figura 2.5 Antagonista Irreversível 
agonista 
+ 
antagonista 
irreversível 
agonista integral 
EC50 EC50 
R
es
po
st
a 
 
(%
 
m
ax
.
) 
100 
EC50 
log [agonista] 
ambos agonistas 
EC50 EC50 
R
es
po
st
a 
 
(%
 
m
ax
.
) 
100 
EC50 
log [agonista] 
agonista integral 
100 
R
es
po
st
a 
 
(%
 
m
ax
.
) 
log [agonista] 
agonista 
Ativação 
Constitutiva 
agonista inverso 
100 
50 
R
es
po
st
a 
 
(%m
ax
.
) 
EC50 EC50 EC50 
log [agonista] 
A C B 
agonista parcial 
Farmacologia I – UNIRIO 5
Antagonismo não-competitivo. Ocorre quando o 
antagonista bloqueia, em algum ponto, a cadeia de eventos da 
resposta desencadeada pelo agonista. Dessa forma, o 
antagonista não compete com o agonista pelo sítio de ligação 
no receptor, mas bloqueia o sinal que o agonista desencadeia. 
Contudo, a curva dose-resposta não é desviada para a direita 
com esse tipo de antagonista e a concentração para se atingir 
metade da resposta máxima (potência) mantém-se a mesma. 
 
 
 
 Figura 2.6 Antagonista Não-Competitivo 
 
 Quadro 2.1 Variáveis Quanto À Competição 
 
 
 
Nem todos os mecanismos de antagonismo envolvem 
interações de drogas – ou ligantes endógenos – a receptores, 
ou a um único tipo de receptor. Temos, dessa forma, duas 
outras formas importantes de antagonismo: 
 
Antagonismo químico. Envolve uma interação química 
direta entre o antagonista e o agonista de forma a tornar o 
agonista farmacologicamente inativo. Um bom exemplo está 
no emprego de agentes quelantes que se ligam a metais 
pesados e, assim, reduzem sua toxicidade. Por exemplo, o 
dimercaprol se liga ao mercúrio e o composto inativo é 
excretado na urina. 
 
Antagonismo fisiológico. Ou funcional, é usado para indicar 
a interação entre dois fármacos agonistas que atuam de forma 
independente, mas que geram efeitos opostos. Cada um tende 
a cancelar ou reduzir o efeito do outro. O exemplo clássico é 
representado por acetilcolina e adrenalina que apresentam 
efeitos opostos em várias funções corporais. A acetilcolina 
desacelera o coração, enquanto a adrenalina o acelera. A 
acetilcolina estimula os movimentos intestinais e a adrenalina 
os inibe. A acetilcolina gera constrição pupilar e a adrenalina 
dilatação etc. 
 
 
FARMACODINÂMICA CLÍNICA 
 
Índice terapêutico. É a razão entre a dose que produz 
toxicidade e a dose que produz a resposta clinicamente 
desejada. É uma medida de segurança do fármaco, calculada 
em termos da relação enter a média das doses mínimas 
eficazes e a média das doses máximas toleradas em 
determinado grupo de indivíduos. 
 
 Quadro 2.2 Fórmula do Índice Terapêutico 
 
 
 
 
A Varfarina é um anticoagulante (duplica o tempo de 
protrombina – uma medida da coagulação sangüínea) que 
apresenta baixo índice terapêutico. Aumentando-se a dose de 
Varfarina, mais pacientes respondem, até que mesmo os que 
não respondiam, começam a produzir a anticoagulação 
esperada. O problema é que, em doses elevadas, a Varfarina 
provoca muita anticoagulação e, portanto, hemorragia. 
Quando o índice terapêutico é baixo, há sobreposição de 
efeitos terapêuticos e tóxicos (ver Quadro 2.2). A mesma dose 
de Varfarina que leva pacientes a duplicarem seu tempo de 
protrombina, faz com que outros pacientes entrem em 
hemorragia. 
A penicilina, por outro lado, possui um elevado índice 
terapêutico. Com isso, pode-se administrar doses em excesso 
sem maiores preocupações com efeitos adversos. Até mesmo, 
doses dez vezes maiores do que a necessária para obtenção da 
resposta esperada. 
 
 
 Referências 
Rang, H. P. et al.: Pharmacology. 5th ed., Churchill Livingstone, 2004 
(trad. pt. São Paulo, Elsevier Editora Ltda., 2004). 
Katzung, Bertram G. et al: Basic and Clinical Pharmacology. 9th ed., 
The McGraw-Hill Companies, Inc., 2004 (trad. pt. Rio de Janeiro, 
Editora Guanabara Koogan S.A., 2006). 
Hardman, Joel G. & Limbird, Lee E.: Goodman & Gilman’s The 
Basic Pharmacological Basis Of Therapeutics. 9th ed., The 
McGraw-Hill Companies, Inc, 1996. 
Irreversíveis 
(afetam potência e eficácia) 
Não-Competitivos 
(só afetam a eficácia) 
Competitivos 
A
N
TA
G
O
N
IS
TA
S 
Reversíveis 
(só afetam a potência) 
agonista 
+ 
antagonista não 
competitivo Re
sp
o
st
a 
 
(%
 
m
ax
.
) 
100 
EC50 
log [agonista] 
agonista isolado 
Índice Terapêutico = 
 Dose máxima não-tóxica 
 Dose efixaz mínima 
Farmacologia I – UNIRIO 6
CAPÍTULO 3 
 
Absorção 
 
INTRODUÇÃO 
 
Neste capítulo, trataremos da absorção e dos fatores que a 
afetam. Os demais princípios da farmacocinética serão 
tratados nos capítulos seguintes. Vale lembrar que a 
farmacocinética descreve as relações entre a administração de 
um fármaco, o tempo de distribuição, sua concentração 
obtida nas diferentes regiões do corpo e sua posterior 
eliminação. 
Esses princípios básicos da farmacocinética – absorção, 
distribuição, metabolismo e excreção – envolvem a passagem 
do fármaco através de membranas. Os mecanismos 
envolvidos na passagem do fármaco e as características 
físico-químicas das moléculas e membranas irão influenciar 
todos esses processos. A membrana plasmática representa a 
barreira comum entre todos os tipos de difusão e transporte 
de fármacos. 
 
 
ABSORÇÃO 
 
Absorção é a ida de um fármaco desde seu local de 
administração até a corrente sangüínea. Portanto, é 
importante para todas as vias de administração (menos a 
venosa e a arterial). Há casos, como na inalação de um 
broncodilatador, em que a absorção, como foi definida, não é 
necessária para a ação do fármaco. Na maioria dos casos, no 
entanto, o fármaco necessita penetrar no plasma para alcançar 
o seu local de ação. A velocidade e a eficiência da absorção 
dependem da via de administração. Na via intravenosa, por 
exemplo, a absorção “já ocorreu”. Ou seja, a dose total do 
fármaco alcança a circulação sistêmica. Por outras vias, pode 
ocorrer absorção apenas parcial, o que diminui sua 
biodisponibilidade (fração do fármaco que atinge a 
circulação). 
 
 
FATORES QUE ALTERAM A ABSORÇÃO 
 
Polaridade do fármaco e pH do meio. A maior parte dos 
fármacos são bases ou ácidos fracos presentes em solução na 
forma ionizada e não-ionizada. Geralmente, a forma não-
ionizada é lipossolúvel e pode atravessar a membrana, o que 
não acontece com a forma ionizada. 
Os fármacos ácidos HA liberam H+, levando à formação 
de um ânion A- (forma ionizada): 
 
HA H+ + A- 
 
As bases fracas também podem liberar H+. A diferença é 
que, com isso, liberam uma base neutra B, não uma ionizada: 
 
BH+ H+ + B 
 
Dessa forma, HA e B atravessam a membrana. Portanto, a 
distribuição de um eletrólito fraco através da membrana é 
determinada pelo gradiente de pH através da membrana e por 
seu pKa (uma força de interação do composto com um 
próton). Quanto mais baixo for o pKa, mais forte é o ácido, e 
quanto mais alto, mais forte é a base. Isso pois o pKa é o pH 
em que as concentrações das formas ionizada e não-ionizada 
são iguais. 
Assim, um fármaco ácido irá, em equilíbrio, se acumular 
no lado mais básico da membrana. O oposto serve para as 
bases. Esse fenômeno é chamado “aprisionamento iônico”. 
 
Solubilidade. Para que um fármaco possa ser absorvido com 
facilidade, é necessário que ele seja lipossolúvel. Porém, com 
alguma hidrossolubilidade para que possa ser dissolvido em 
soluções aquosas. 
 
Estabilidade química. Certos fármacos, como as penicilinas, 
são instáveis no pH gástrico. Outros, como a insulina, são 
destruídos por enzimas digestivas. 
 
Tipos de formulação do medicamento. O tamanho das 
partículas e a forma farmacêutica em que a droga é 
administrada influem na facilidade da dissolução. Portanto, na 
velocidade de absorção. 
 
Concentração. Os fármacos administrados em soluções 
altamente concentradas são absorvidos mais rapidamente do 
que aqueles em soluções de baixa concentração. 
 
Circulação no local da administração. O aumento do fluxo 
sangüíneo potencializa a velocidade de absorção. 
 
 
 
Farmacologia I – UNIRIO 7
MODALIDADES DE ABSORÇÃO 
 
Nos processos passivos, não há interferência ativa das 
membranase nem gasto de energia. São exemplos: 
 
Difusão lipídica. É o processo mais freqüente de absorção. 
As moléculas do soluto se distribuem a partir de qualquer 
região em que estejam mais concentradas para as regiões em 
que estejam menos concentradas segundo um gradiente de 
concentração. As moléculas do soluto, para atravessarem as 
membranas biológicas por difusão simples, precisam 
apresentar as seguintes características: serem apolares, 
lipossolúveis e possuir peso molecular pequeno o suficiente 
para ser compatível com a membrana lipídica. 
 
Difusão aquosa. Ocorre através de poros aquosos formados 
por proteínas da membrana chamados aquaporinas. Nela, 
tanto o solvente quanto os solutos se difundem. O solvente, 
geralmente a água, transporta consigo moléculas 
hidrossolúveis de pequeno tamanho, moléculas polares e 
certas apolares. As forças responsáveis pelo transporte são a 
pressão hidrostática e a pressão osmótica. 
 
Nos processos ativos, há interferência das membranas e gasto 
de energia. São exemplos: 
 
Transporte ativo. O soluto combina-se com a proteína 
transportadora presente na membrana celular e move-se 
contra seu gradiente de concentração. Para isso, existe a 
necessidade de energia, que é fornecida pela célula. É um 
processo seletivo e pode haver inibição seletiva. 
 
Transporte vesicular (pinocitose e fagocitose). São os 
processos de absorção nos quais a membrana celular se 
invagina e evagina, respectivamente, em torno de uma ou 
mais pequenas moléculas do meio extracelular e as engloba. 
Em seguida, formam-se vesículas intracelulares que se 
destacam da membrana. Por esse modo, fagócitos alveolares 
removem partículas que atingem os alvéolos. 
 
 
BIODISPONIBILIDADE 
 
Biodisponibilidade é a fração do fármaco administrado que 
alcança a circulação sistêmica quimicamente inalterada. Em 
outras palavras, é a fração de fármaco que atinge o seu local 
de ação ou fluido biológico, a partir do qual o fármaco tem 
acesso ao seu local de ação. Assim, se 100 mg de um certo 
fármaco são administrados por via oral e 70 mg chegam 
inalterados ao sangue, sua biodisponibilidade é de 70%. A 
biodisponibilidade é determinada comparando-se os níveis 
plasmáticos do fármaco após determinada via de 
administração (no exemplo supracitado, a via oral) com os 
níveis plasmáticos após administração intravenosa. Isso pois, 
na administração intravenosa, 100% do fármaco administrado 
atinge o plasma. Analisando-se as concentrações plasmáticas 
contra o tempo em um gráfico, pode-se calcular a área sob a 
curva (ASC), que reflete a extensão da absorção do fármaco. 
Por definição, esta é de 100% para fármacos dados por via 
intravenosa. 
FATORES QUE ALTERAM A BIODISPONIBILIDADE 
 
O percentual de biodisponibilidade depende da taxa de 
absorção do fármaco e quanto do mesmo é metabolizado antes 
de chegar à circulação sistêmica. Dessa forma, a 
biodisponibilidade leva em consideração fatores de absorção e 
metabolização. Para penetrar da luz do intestino delgado para 
a circulação, o fármaco deve passar não só pela mucosa 
intestinal, mas por várias enzimas que podem inativá-lo ainda 
na parede intestinal e no fígado. Fatores que limitam a 
absorção irão limitar a biodisponibilidade. 
 
Metabolismo hepático de primeira passagem. Os fármacos, 
após serem absorvidos pelo trato gastrintestinal, passam pela 
circulação porta antes de atingir a circulação sistêmica. β-
bloqueadores como propranolol, por exemplo, sofrem extensa 
biotransformação durante uma única passagem pelo fígado, o 
que limita consideravelmente sua biodisponibilidade. 
Chamamos isso de efeito de primeira passagem. Outros 
exemplos de fármacos com efeito hepático de primeira 
passagem muito importante são as catecolaminas, morfina, 
verapamil, isoniazida e aspirina. Fármacos como o 
clonazepam também podem ser metabolizados pela flora 
intestinal, contribuindo para seu efeito de primeira passagem. 
Contudo, há casos em que a capacidade metabólica do 
fígado pode sofrer alterações (para cima ou para baixo), 
gerando variações na biodisponibilidade. Isso ocorre: 
 
1. Quando há uma redução no fluxo sangüíneo hepático, 
como na cirrose hepática ou no uso de beta-bloqueadores. 
Neste caso, há aumento da biodisponibilidade. 
2. Quando há diminuição na atividade metabólica das 
enzimas hepáticas, como na insuficiência hepática ou com o 
uso de fármacos inibidores das enzimas do metabolismo 
hepático. Neste caso, também há um aumento da 
biodisponibilidade. 
3. Quando há fármacos, como os barbitúricos, que 
aumentam a atividade de enzimas metabólicas do fígado. Com 
isso, há diminuição da biodisponibilidade. 
 
 
BIOEQUIVALÊNCIA 
 
Biodisponibilidade é um conceito conveniente para fazer 
generalizações. Porém, falha quando se tenta utilizá-lo com 
uma precisão numérica. A razão desta falha é que trata-se de 
um conceito que não depende só do fármaco. É um valor que 
será afetado por variações no pH estomacal, nas atividades da 
parede intestinal e do fígado etc. Ou seja, varia de indivíduo 
para indivíduo. Dessa forma, não podemos simplesmente falar 
da biodisponibilidade de um fármaco, mas sim de um fármaco 
em determinado indivíduo em determinadas circunstâncias. 
Além disso, biodisponibilidade é um conceito falho por 
não levar em conta a velocidade de absorção. Portanto, a não 
ser que a metabolização e excreção de determinada droga 
aumentem na proporção necessária, se essa droga for 
absorvida rapidamente, ela atingirá uma concentração 
plasmática mais elevada e, portanto, causará um efeito maior 
do que se fosse absorvida lentamente. Por essas razões, 
quando se quer, por exemplo, licenciar produtos genéricos a 
Farmacologia I – UNIRIO 8
produtos já comercializados, usa-se a bioequivalência. Para 
que produtos sejam bioequivalentes, devem apresentar as 
seguintes características: 
 
1. Mesmas áreas sob a curva (concentração x tempo) 
após a administração de formulações diferentes; 
2. Concentração plasmática máxima equivalentes; 
3. Tempo para atingir essas concentrações plasmáticas 
máximas semelhantes. 
 
 
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO 
 
 
Oral 
 
A absorção de fármacos dados via oral é regulada por fatores 
do paciente como superfície de absorção e fluxo sangüíneo 
no local de absorção e por características da droga como 
estado físico, solubilidade e concentração no local de 
absorção. 
Fármacos que são ácidos fracos são mais bem absorvidos 
a partir do estômago (pH 1-2) que do intestino alto (pH 3-6) e 
vice-versa para fármacos que são bases fracas. No entanto, 
independentemente do pKa do fármaco, ele será sempre 
melhor absorvido a partir do intestino delgado devido à sua 
grande superfície de absorção (± 200 m2). Assim, qualquer 
fator que facilitar o esvaziamento gástrico, aumentará a 
absorção, e vice-versa. 
As formas farmacêuticas orais encontradas incluem 
soluções, suspensões, cápsulas, comprimidos e drágeas. O 
fornecimento dos fármacos costuma ser mais rápido no caso 
de soluções e mais lento no caso de drágeas. 
 
Soluções. As fórmulas líquidas, como soluções e suspensões, 
são úteis na administração de fármacos a crianças ou outros 
pacientes que não queiram ou não possam ingerir drágeas ou 
cápsulas. É a forma mais rápida de fornecimento de fármacos 
via oral porque as etapas iniciais de liberação do fármaco 
(desintegração e dissolução) são desnecessárias. A absorção 
de um fármaco é mais rápida no intestino proximal, e a etapa 
que limita a velocidade de absorção global de um fármaco em 
solução é o esvaziamento gástrico. Nem todos os fármacos 
são solúveis em água, devendo, pois, ser convertidos em uma 
forma solúvel (como um sal) ou acrescidos de um co-solvente 
como álcool. Um inconveniente é que alguns fármacos 
possuem sabor desagradável quando em solução. 
 
Suspensões. Sãodispersões de partículas relativamente 
grosseiras geralmente em veículo aquoso. Também são úteis 
em pacientes incapazes de tolerar apresentações sólidas. 
Possuem uma vantagem em relação às soluções por poderem 
conter a dose de uma substância em um volume menor. Os 
agentes de suspensão evitam a sedimentação seja por 
aumento na viscosidade do meio, ou por redução das forças 
de atração entre as partículas. As suspensões apresentam uma 
disponibilidade imediata para absorção. Além disso, como 
tornam desnecessária a desintegração, a etapa limitante em 
sua velocidade de absorção é a dissolução. 
Cápsulas. Uma cápsula é um invólucro duro de gelatina e, 
para garantir a estabilidade física, usam-se compactantes 
como a lactose para preencher a cápsula. Usam-se, também, 
desintegrantes como o amido que, após o início da dissolução 
da cápsula e em contato com o meio aquoso, intumescem e 
causam a ruptura da cápsula. 
As cápsulas de invólucro mole podem conter líquidos. 
Com isso, fármacos de baixa solubilidade podem ser 
solubilizados, aumentando sua absorção. A absorção é igual 
ou maior do que a obtida pela administração de uma solução 
de fármaco. 
 
Comprimidos. É o meio mais usado para administração de 
fármacos. A compressão do fármaco e excipientes faz dele 
uma apresentação conveniente e eficaz. A dissolução e, 
conseqüentemente, a solubilidade poderiam limitar a 
velocidade do fornecimento de um fármaco para a circulação 
sistêmica. 
 
Drágeas. Pode-se, ainda, acrescentar um revestimento 
adicional para melhorar o gosto, aspecto ou estabilidade 
físico-química. Contudo, a destruição de tal revestimento 
pode limitar a velocidade global de absorção. O revestimento 
entérico é projetado para retardar a desintegração até que a 
formulação atinja o intestino delgado. Isso pode ser feito seja 
para proteger o fármaco do meio ácido do estômago, seja para 
proteger o estômago do fármaco. 
 
 
Sublingual 
 
Os fármacos que são destruídos pelos líquidos gastrintestinais 
ou os que ficam sujeitos a uma degradação pré-sistêmica 
importante, podem ser administrados sob a forma de 
comprimidos a serem colocados na cavidade bucal sob a 
língua. Os comprimidos orais são projetados para se dissolver 
lentamente. Os comprimidos sublinguais são pequenos e se 
dissolvem rapidamente. Essas formulações permitem ao 
fármaco difundir-se para a trama capilar mucosa e, daí, para a 
circulação sistêmica. Há a vantagem de se evitar o intestino e 
o fígado. Logo, o fármaco foge a seus metabolismos. A 
absorção da nitroglicerina (trinitrato de glicerila) é eficaz via 
sublingual porque ela é lipossolúvel e não-iônica. Assim, sua 
absorção é muito rápida. Como a drenagem venosa da boca se 
faz para a veia cava superior, o fármaco fica protegido do 
metabolismo hepático, que é suficiente para inativá-lo 
totalmente quando este fármaco é dado via oral. 
 
 
Retal 
 
Aproximadamente 50% da drenagem da região retal contorna 
a circulação porta, minimizando, assim, a biotransformação 
hepática. A via retal também evita que o fármaco seja 
destruído por enzimas digestivas ou pelo pH baixo do 
estômago. Fármacos são administrados via retal para 
tratamento de afecções locais como hemorróidas ou para 
atingir absorção sistêmica. 
É, também, útil quando se deseja evitar o vômito, sendo 
usada para antieméticos (gr. emeo, vômito). Os fármacos 
Farmacologia I – UNIRIO 9
costumam ser administrados por via retal sob a forma de 
supositórios com bases que variam de manteiga de cacau a 
derivados de polietileno. O principal fator determinante da 
extensão de absorção por esta via é o intervalo entre a 
aplicação e a evacuação. A administração prévia de um 
clister (injeção de água ou líquido medicamentoso no reto) 
pode melhorar a absorção. 
Adequa-se a pacientes que não são capazes ou não 
querem tolerar a medicação oral, tratando-se de uma 
alternativa à administração parenteral ([gr. para, ao lado + 
enteron, intestinal], que se efetua por uma via que não a 
digestiva; também chamada injetável – embora muitos 
considerem apenas as intravenosa e intra-arterial). 
 
 
Intravenosa 
 
É a via parenteral mais comum, sendo usada para fármacos 
de difícil absorção por via oral ou que são destruídos pelo 
trato gastrintestinal (p. ex., insulina). O fármaco não sofre o 
metabolismo de primeira passagem no fígado, permitindo, 
portanto, um grau máximo de controle quanto aos níveis 
circulantes do fármaco. A administração via intravenosa do 
fármaco é, dessa forma, indicada quando há a necessidade de 
um controle cuidadoso da concentração do fármaco no 
sangue. Uma administração intravenosa lenta do fármaco 
evita concentrações transitórias excessivamente elevadas e 
minimiza uma precipitação súbita de fármacos insolúveis, 
reduzindo a formação de êmbolos. É útil em casos de 
fármacos com estreito índice terapêutico (ver Quadro 2.2) 
pois uma infusão venosa lenta e contínua propicia 
concentrações sangüíneas controladas e persistentes. É 
especialmente adequada para fármacos de meia-vida curta 
(ver Cap. 7). 
Certas soluções irritantes só podem ser administradas 
desta maneira porque as paredes dos vasos são relativamente 
insensíveis. Além disso, a injeção lenta do fármaco faz com 
que ele seja bastante difundido pelo sangue. 
Assim como existem vantagens no uso desta via, há, 
também, inconvenientes. Os fármacos não podem ser 
removidos por manobras como provocação de vômitos ou 
ligação a carvão ativado. Também pode introduzir bactérias 
por contaminação ou causar hemólise ou outras reações 
devido à alta velocidade de chegada do fármaco no plasma e 
tecidos. Dessa forma, a velocidade de infusão deve ser 
cuidadosamente controlada. Podem ser atingidas altas 
concentrações de fármacos nos tecidos, resultando em 
reações desfavoráveis pois não existe recuperação depois que 
o fármaco é injetado. 
As injeções intravenosas repetidas dependem da 
capacidade de se manter uma veia pérvia. Fármacos presentes 
em veículo oleoso e aqueles que precipitam os componentes 
do sangue ou lisam os eritrócitos não devem ser 
administrados intravenosamente. De maneira geral, a injeção 
intravenosa deve ser feita lentamente e com monitorização 
constante das respostas do paciente. 
 
 
 
 
Intra-arterial 
 
É usada especialmente na administração de agentes 
antineoplásicos. O local de injeção costuma ser uma pequena 
arteríola com fluxo sangüíneo relativamente lento e situada 
próxima ao tumor. É possível atingir concentrações elevadas 
do fármaco no órgão alvo, minimizando a exposição corporal 
total. A injeção intra-arterial requer grande cuidado e deve ser 
reservada para os especialistas. 
 
 
Intramuscular 
 
O músculo estriado é dotado de elevada vascularização, 
sendo, em contrapartida, não muito inervado por fibras 
sensitivas. Estas duas características conferem-lhe facilidade 
na absorção medicamentosa e, simultaneamente, uma 
possibilidade de administração menos dolorosa para fármacos 
irritantes. Contudo, algumas injeções intramusculares são 
dolorosas, pelo que é freqüente incluir na sua fórmula 
anestésicos locais que sejam conservantes ao mesmo tempo 
(p. ex., álcool benzílico). Além disso, a dor concomitante ou 
subseqüente à injeção não depende exclusivamente das 
características físico-químicas da fórmula, mas pode estar 
ligada à ação do próprio fármaco. A penicilina, por exemplo, 
é dolorosa, ao contrário da estreptomicina, embora o pH e 
tonicidade da solução sejam muito próximos dos valores 
ideais. 
Pelo fato de possuir uma ação rápida, esta via é utilizada 
em quadros de reação anafilática, mediante administração 
intramuscular de betametazona ou dexametasona, como 
conduta emergencial. 
As injeções intramusculares são contra-indicadas em 
pacientes com mecanismo de coagulação prejudicados, 
doença vascularperiférica oclusiva, edema e choque. Além de 
não serem administrado em locais inflamados, edemaciados, 
irritados ou ainda em locais com manchas de nascença, tecido 
cicatrizado ou outras lesões. 
As preparações para administração intramuscular podem 
apresentar-se sob a forma de soluções aquosas, oleosas ou 
suspensões. 
 
Soluções aquosas. São, em geral, isotônicas ao soro 
sangüíneo. Contudo, pequenos desvios são permitidos no 
sentido da hipotonia e, em alguns casos, é até aconselhável 
uma ligeira hipertonicidade, uma vez que provoca um leve 
derrame local dos fluídos tissulares, o que pode originar uma 
absorção uniforme. 
 
Soluções “oleosas”. Soluções cujo veículo não é a água – 
embora não seja necessariamente um óleo. Trata-se de 
compostos que, embora anidros, conseguem se misturar à 
água. São exemplos, alguns álcoois como os glicóis (p. ex., 
etileno glicol) que, de um modo geral, apresentam elevada 
viscosidade (podem ser dolorosos). 
A absorção do fármaco é mais rápida se o solvente 
escolhido for miscível com a água. É com base neste princípio 
que se fundamenta o emprego de formas medicamentosas de 
ação prolongada destinadas à via intramuscular. Com efeito, 
se um fármaco insolúvel em água se dissolver num veículo 
Farmacologia I – UNIRIO 10
hidromiscível, ele precipitará no seio do músculo ao 
proceder-se a injeção. Essa precipitação in situ ocorre pois a 
água do tecido muscular mistura-se com o solvente injetado, 
diminuindo o coeficiente de solubilidade do fármaco (visto 
que este tem baixa ou nula solubilidade em água). Este tipo 
de injetáveis proporcionará a obtenção de um verdadeiro 
depósito do fármaco no seio da massa muscular, de onde irá 
ser absorvido muito lentamente. Exemplo característico são 
os hormônios sexuais; fármacos insolúveis na água, mas 
miscíveis com o trietilenoglicol (hidrossolúvel). 
 
Suspensões. A absorção do fármaco em suspensão processa-
se lentamente. A penicilina procaínica, por exemplo, é 
solúvel na proporção de 800 U/ml de água, enquanto que a 
penicilina benzatínica dissolve-se no mesmo volume, mas 
apenas numa quantidade correspondente a 200 U. O 
coeficiente de solubilidade dos dois antibióticos ocasiona o 
diferente comportamento dos dois injetáveis. Embora 
aplicando-se ambos em suspensão intramuscular aquosa, a 
penicilina procaínica é mensurável no sangue apenas até 
cerca de 24 horas após a injeção, enquanto que a penicilina 
benzatínica ainda é evidenciável mesmo decorridos 10 a 15 
dias. Vê-se, pois, que a velocidade de absorção do fármaco 
suspenso depende, fundamentalmente, de suas características 
de solubilidade na água. 
 
 
Subcutânea (ou hipodérmica) 
 
Depois de injetada por baixo da pele, a droga alcança os 
pequenos vasos e é transportada pela corrente sangüínea. É 
uma via mais lenta que a intravenosa e seus riscos são 
menores. Costuma ser usada para medicamentos protéicos 
que poderiam ser digeridas pelo trato gastrintestinal. 
Cápsulas sólidas de contraceptivos e bombas mecânicas 
programáveis de insulina são exemplos de fármacos 
utilizados dessa forma. É importante lembrar que os locais de 
injeção devem ser alternados para se evitar reações. 
A adrenalina, por seus efeitos vasoconstritores, pode ser 
administrada pela via subcutânea para limitar a área de 
atuação de outro fármaco, como o anestésico local lidocaína 
(ver Cap. 14). 
 
 
Tópica 
 
Pele. A medicação administrada por via transdérmica entra 
no organismo através da pele, podendo ser administrada sob a 
forma de cremes ou pomadas. É utilizada quando se quer uma 
liberação lenta e constante do fármaco pois é limitada pela 
velocidade com que a substância atravessa a pele,. Apenas 
medicamentos que devem ser administrados em doses diárias 
relativamente pequenas podem ser dados por essa via. Alguns 
exemplos são: nitroglicerina (para angina), escopolamina 
(contra o enjôo de viagem – ver Cap. 12), nicotina (para a 
cessação do fumo), clonidina (contra a hipertensão) e fentanil 
(para o alívio da dor). 
Não obstante, poucos fármacos penetram de forma rápida 
a pele íntegra. A absorção daqueles que o fazem é 
proporcional à área de superfície aplicada e à sua 
lipossolubilidade, uma vez que a pele comporta-se como uma 
barreira lipídica. No entanto, a derme é livremente permeável 
a muitos solutos, o que faz com que a absorção sistêmica de 
fármacos seja muito maior quando a pele está escoriada, 
queimada etc. Além disso, a inflamação, por aumentar o fluxo 
sangüíneo cutâneo, também potencializa a absorção. Algumas 
vezes, a absorção de substâncias altamente lipossolúveis pela 
pele, como inseticidas dissolvidos em solventes orgânicos, 
causa efeitos tóxicos. A absorção pela pele pode ser 
potencializada suspendendo-se o fármaco em um veículo 
oleoso e friccionando-se a suspensão na pele. 
 
Mucosas. Os fármacos são aplicados nas mucosas da 
conjuntiva, nasofaringe, orofaringe, vagina, cólon, uretra e 
bexiga para efeitos principalmente locais. Algumas vezes, o 
objetivo é a absorção sistêmica, como na aplicação de 
hormônio antidiurético na mucosa nasal. A absorção pelas 
mucosas é rápida e, algumas vezes, anestésicos locais causam 
efeitos sistêmicos. 
 
Olho. Utilizada quando se quer um efeito local (p. ex., creme 
ou atropina no globo ocular). A absorção sistêmica pelo canal 
nasolacrimal é, geralmente, um efeito indesejado e o fármaco 
absorvido dessa forma não sofrerá o efeito de primeira 
passagem. Assim, colírios que contêm fármacos β-
adrenérgicos podem causar efeitos sistêmicos indesejáveis 
(ver Cap. 9). Os efeitos locais, em geral, precisam da absorção 
pela córnea. Quando esta estiver danificada, a absorção será 
maior. A descoberta recente de implantes oculares permitiu a 
liberação contínua de pequenas quantidades de fármaco com 
pouca perda pela drenagem nasolacrimal e, 
conseqüentemente, poucos efeitos sistêmicos. 
 
 
Intratecal 
 
A barreira hematoencefálica – formada por uma camada 
contínua de células endoteliais unidas por junções firmes 
(tight junctions) – geralmente impede ou retarda a entrada de 
fármacos no sistema nervoso central (SNC). Apenas os 
fármacos com alta lipossolubilidade conseguem transpor essa 
barreira íntegra (inflamações, p. ex., podem rompê-la). Essa 
barreira faz com que, algumas vezes, se injetem fármacos 
diretamente no espaço subaracnóideo vertebral quando se 
desejam efeitos locais e rápidos nas meninges ou no eixo 
cerebromedular, como na raquianestesia ou em infecções 
agudas do SNC. 
 
 
Intraperitoneal 
 
A cavidade peritoneal oferece uma grande superfície de 
absorção a partir da qual os fármacos entram rapidamente na 
circulação, em especial, através da veia porta. Dessa forma, 
ocorrem perdas pelo efeito de primeira passagem no fígado. A 
injeção intraperitoneal é um procedimento laboratorial 
comum, mas raramente empregado na clínica por perigo de 
infecção. 
 
 
Farmacologia I – UNIRIO 11
Pulmonar 
 
Os fármacos gasosos e voláteis podem ser inalados e 
absorvidos pelo epitélio pulmonar e pelas mucosas do trato 
respiratório. O acesso à circulação é rápido por essa via 
porque a área de superfície é muito grande. Além disso, 
soluções de fármacos podem ser atomizadas e as finas 
gotículas suspensas no aerossol, inaladas. As vantagens são a 
absorção quase instantânea do fármaco para o sangue, a 
eliminação da perda pela primeira passagem hepática e, no 
caso de enfermidades como a asma, a aplicação do fármaco 
no local desejado. As principais desvantagens são a pequena 
capacidade de ajustar a dose, métodos de administração 
trabalhosos e a irritação do epitélio pulmonar. 
 
REABSORÇÃO ÊNTERO-HEPÁTICA 
 
Refere-se à reabsorção de um fármaco ou metabólito ativo a 
partir do intestino após ser excretado pelo fígado. Fármacos 
podem ser excretados inalterados pelo fígadoou este pode 
gerar metabólitos ativos que são, então, excretados na bile. 
Como a bile é reabsorvida durante a digestão, o fármaco ou 
metabólito ativo é reabsorvido também, o que resulta num 
aumento em sua duração de ação. 
 
 
 
 
 
 
 Referências 
Rang, H. P. et al.: Pharmacology. 5th ed., Churchill Livingstone, 
2004 (trad. pt. São Paulo, Elsevier Editora Ltda., 2004). 
Katzung, Bertram G. et al: Basic and Clinical Pharmacology. 
9ª ed., The McGraw-Hill Companies, Inc., 2004 (trad. pt. 
Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 2006).
Farmacologia I – UNIRIO 12
CAPÍTULO 4 
 
Distribuição 
 
INTRODUÇÃO 
 
A distribuição é o processo pelo qual um fármaco abandona – 
reversivelmente – a corrente circulatória, passando para o 
interstício e/ou interior das células. Depende do fluxo 
sangüíneo, da permeabilidade capilar, das características 
químicas (polaridade/hidrofobicidade) do composto e do grau 
de ligação do fármaco a proteínas plasmáticas e teciduais. 
 
Fluxo sangüíneo. Varia de órgão para órgão. É maior, por 
exemplo, no cérebro, fígado e rins, e menor no tecido 
adiposo. 
 
Permeabilidade capilar. No cérebro, a estrutura do capilar é 
contínua, não havendo fendas. Portanto, para ultrapassar a 
barreira hematoencefálica, os fármacos precisam transpor as 
células endoteliais dos capilares do sistema nervoso central 
(SNC), ou serem transportados de modo ativo. Por exemplo, 
um carregador de aminoácidos neutros transporta levodopa 
para o cérebro. 
Já fármacos lipossolúveis penetram facilmente no SNC, 
mesmo na ausência de fendas entre as células endoteliais 
adjacentes. Isso ocorre devido ao caráter lipofílico da 
membrana celular. 
 
Ligação de fármacos a proteínas. No plasma, em 
concentrações terapêuticas, muitos fármacos encontram-se, 
principalmente, na forma ligada a proteínas. A fração não-
ligada constitui a forma farmacologicamente ativa. A ligação 
reversível a proteínas plasmáticas seqüestra fármacos do 
plasma. Com isso, são mantidos na forma de compostos não 
difusíveis, retardando sua transferência para fora do 
compartimento vascular. A ligação é relativamente não-
seletiva quanto à estrutura química, ocorrendo em sítios da 
molécula protéica aos quais se ligam compostos endógenos, 
como a bilirrubina. À medida que a concentração do fármaco 
livre decai por eliminação devida ao metabolismo ou 
excreção, o fármaco ligado se dissocia da proteína. Isso 
mantém a concentração do fármaco livre como fração 
constante do fármaco total do plasma. A maior parte dos 
fármacos ácidos se liga à albumina e a maior parte dos 
fármacos básicos à α-1-glicoproteína. 
Dessa forma, uma albuminemia devido a desnutrição ou 
doenças hepáticas aumentará a concentração plasmática de 
fármacos ácidos livres. Por outro lado, câncer, artrite e infarto 
agudo do miocárdio aumentam a concentração plasmática de 
α-1-glicoproteína, resultando em efeito oposto em fármacos 
básicos. 
Muitos fármacos acumulam-se em tecidos em 
concentrações mais altas que aquelas dos fluidos 
extracelulares e sangue. Essa acumulação pode ser resultado 
de transporte ativo ou ligação tecidual a proteínas 
(citoplasmáticas ou nucleares) ou fosfolipídeos e, geralmente, 
é reversível. Uma grande parte do fármaco no corpo pode ser 
ligada deste modo e este mecanismo cria um reservatório que 
prolonga a ação do fármaco, seja no próprio tecido, seja nos 
demais tecidos que possam ser atingidos pela circulação. 
 Referências 
Rang, H. P. et al.: Pharmacology. 5th ed., Churchill Livingstone, 2004 
(trad. pt. São Paulo, Elsevier Editora Ltda., 2004). 
Farmacologia I – UNIRIO 13
CAPÍTULO 5 
 
Biotransformação 
 
INTRODUÇÃO
 
Fármacos pequenos ou que apresentam características 
polares, são facilmente eliminados pelos rins (ver Cap. 6). 
Entretanto, os fármacos em sua forma ativa tendem a ser 
lipofílicos, a permanecerem não ionizados e, com freqüência, 
ligados a proteínas. Substâncias com essas características são 
dificilmente excretadas na urina. Dessa forma, um processo 
alternativo que pode levar ao término da atividade da droga é 
o metabolismo. Por exemplo, barbitúricos lipofílicos, como o 
tiopental, teriam uma meia-vida muito longa, não fosse sua 
conversão metabólica em compostos hidrossolúveis. Assim, 
muitos fármacos, para serem excretados, necessitam sofrer 
transformações químicas. 
 
 
METABOLISMO 
 
As biotransformações dos fármacos constituem processos 
complexos de interação entre fármaco e organismo que 
ocorrem em algum ponto entre a absorção e a eliminação 
renal. Embora todos os tecidos tenham capacidade de 
metabolizar fármacos, o fígado é o principal órgão envolvido 
no metabolismo. Outros tecidos que apresentam atividade 
metabólica importante incluem o trato gastrintestinal, pele, 
rins e plasma sangüíneo. O metabolismo envolve, 
basicamente, dois tipos de reações bioquímicas conhecidas 
como reações de fase I e fase II. 
Essas reações ocorrem principalmente por meio de 
enzimas localizadas no retículo endoplasmático (R.E.) 
agranular hepático. Como os fármacos hidrossolúveis 
demoram a chegar no R.E. – a não ser que disponham de 
sistemas de transporte específicos – o metabolismo hepático é 
mais importante para fármacos lipossolúveis. Até porque, 
como dito, fármacos hidrossolúveis são facilmente excretados 
pelos rins. 
As enzimas encerradas nos R.E.s também são chamadas 
enzimas “microssômicas”. Durante centrifugações, os R.E.s 
se rompem e, como suas membranas tendem a se soldar, 
durante a homogeneização, formam-se vesículas chamadas 
microssomos. O grupo de enzimas microssômicas mais 
importante no metabolismo de fármacos faz parte do sistema 
citocromo P450. Uma família de enzimas que possuem um 
grupamento heme (como os citocromos da cadeia 
respiratória) e, por isso, se ligam ao oxigênio. São, dessa 
forma, enzimas envolvidas em reações de oxidação. O sistema 
oxidativo microssomal também metaboliza ácidos graxos 
exógenos e esteróides. 
Em alguns casos, o fármaco só se torna 
farmacologicamente ativo após ter sofrido metabolização. Por 
exemplo, o enalapril é hidrolisado em sua forma ativa 
enaprilat. 
 
Reações de fase I. Consistem em oxidação, redução ou 
hidrólise, e convertem o fármaco original num metabólito 
mais polar. Os produtos destas reações são, freqüentemente, 
mais reativos quimicamente. Portanto, algumas vezes, os 
metabólitos da fase I são mais tóxicos ou carcinogênicos que 
o fármaco original. São reações, por assim dizer, preparatórias 
para as sínteses de fase II. 
As reações de fase I mais freqüentes são reações de 
oxidação catalisadas pelo sistema citocromo P450 (ver 
Quadro 5.1). 
Contudo, nem todas as reações de oxidação envolvem o 
sistema citocromo P450. Há enzimas nas mitocôndrias ou 
solúveis no citosol que são responsáveis pela metabolização 
de um pequeno número de compostos. O etanol, por exemplo, 
é metabolizado por uma enzima citoplasmática solúvel, a 
álcool desidrogenase. Outras exceções são a tirosina 
hidroxilase que hidroxila a tirosina em DOPA (ver Fig. 9.2) e 
a monoamina oxidase – MAO (ver Cap. 9), importante no 
metabolismo das aminas simpaticomiméticas. 
As reduções de fase I também ocorrem tanto no sistema 
microssomal quanto não microssomal do metabolismo, sendo 
de ocorrência menos freqüente que as reações de oxidação. 
Um fármaco metabolizado por redução microssomal é o 
cloranfenicol, e por não microssomal, hidrato de cloral. 
O metabolismo por hidrólise também ocorre em ambos os 
sistemas microssomal e não microssomal. Como exemplo, 
temos as reações com esterases inespecíficas de fármacos 
como a acetilcolina (ver Cap. 11). 
 
Reações de fase II. Envolvem a conjugação, resultando, 
geralmente, em compostos inativos. Com freqüência, as 
reações de fase I introduzem um grupo relativamentereativo, 
como uma hidroxila, na molécula (funcionalização), que 
servirá como ponto de ataque para o sistema de conjugação 
fixar um substrato endógeno como, por exemplo, 
glicuronídio. Como outros exemplos de grupos funcionais de 
Farmacologia I – UNIRIO 14
substâncias endógenas, temos metila, ácido acético, ácido 
sulfúrico e aminoácidos. Em geral, ambas as etapas 
diminuem a lipossolubilidade, aumentando, assim, a 
eliminação renal do fármaco que, caso contrário, poderia 
ficar indefinidamente no organismo. 
Se o metabólito oriundo da fase I for suficientemente 
polar, será eliminado pelos rins. Entretanto, muitos 
metabólitos são lipofílicos demais para ficarem retidos nos 
túbulos renais. Uma reação de conjugação subseqüente com 
um substrato endógeno resulta no aparecimento de compostos 
mais polares. Em geral, mais hidrossolúveis e 
terapeuticamente inativos. A glicuronidação é a reação mais 
comum e mais importante de conjugação. Os recém-nascidos 
são deficientes deste sistema de conjugação, o que os torna 
particularmente vulneráveis a fármacos como o cloranfenicol. 
Fármacos que já possuem um grupamento OH, HN ou 
COOH podem passar diretamente ao metabolismo de fase II. 
Os conjugados de fármacos, altamente polares, podem, então, 
ser eliminados pelos rins. 
A isoniazida (ácido isonicotínico) é uma exceção e sofre 
uma reação de fase II (acetilação) antes de passar por uma 
reação de fase I, sendo, então, hidrolizada a ácido nicotínico. 
 
 
INTERAÇÃO FARMACOLÓGICA 
 
Alguns fármacos agem nas enzimas que os metabolizam, 
aumentando a atividade ou o número de moléculas de 
enzimas presentes. Isto é denominado “indução metabólica de 
enzimas” e uma droga que apresenta este efeito é o etanol. 
Há fármacos, por exemplo, capazes de induzir aumento 
nos níveis de citocromo P450, o que provoca aumento da 
velocidade de metabolização do fármaco indutor, bem como 
de outros fármacos biotransformados pelo sistema P450. Por 
outro lado, muitos fármacos podem inibir o sistema P450 e, 
assim, potencializar as ações de outros fármacos que são 
metabolizados pelas enzimas do citocromo (p. ex., quinidina). 
 
 
FATORES QUE AFETAM O METABOLISMO 
 
1. Genéticos; 
2. Idade (efeitos tóxicos mais comuns em muito jovens e 
idosos); 
3. Diferenças individuais (há variações de até 30 vezes no 
metabolismo de uma droga); 
4. Fatores ambientais (p. ex., fumo); 
5. Propriedades químicas dos fármacos; 
6. Via de administração; 
7. Dosagem; 
8. Sexo; 
9. Doença (p. ex., hepatite crônica, cirrose, câncer 
hepático); 
10. Interações entre fármacos durante o metabolismo 
(barbitúricos podem ocasionar a necessidade de doses maiores 
de cumarínicos para manter o tempo de protrombina elevado). 
 
 Quadro 5.1 Apêndice 
O Ciclo da Monooxigenase P450 
 
A oxidação microssômica de fármacos necessita do 
citocromo P450, da enzima NADPH-citocromo P450 
redutase e do oxigênio molecular (O2). 
O P450, que contém ferro na forma férrica (Fe3+) em seu 
heme, combina-se com uma molécula da droga (DH). Então, 
recebe um elétron da NADPH-P450 redutase, que reduz o 
ferro a (Fe2+). Depois, combina-se com o oxigênio molecular, 
 
um próton e outro elétron da NADPH-P450 redutase para 
formar um complexo Fe2+OOH·DH. Esse complexo combina-
se com outro próton, produzindo água e um complexo oxeno 
férrico (FeO)3+·DH. O (FeO)3+ extrai um átomo de hidrogênio 
da DH, com formação de um par de radicais livres de vida 
curta, liberação da droga oxidada (DOH) do complexo e 
regeneração da enzima P450. 
 
 Referências 
Rang, H. P. et al.: Pharmacology. 5th ed., Churchill Livingstone, 
2004 (trad. pt. São Paulo, Elsevier Editora Ltda., 2004). 
Junqueira L. C. e Carneiro J.: Biologia Celular e Molecular. 
7ª ed., Rio de Janeiro, RJ, Guanabara Koogan, 2000.
Farmacologia I – UNIRIO 15
CAPÍTULO 6 
 
Excreção 
 
INTRODUÇÃO 
 
Os fármacos podem ser eliminados inalterados ou, como 
visto no capítulo 5, convertidos em metabólitos. Os órgãos 
excretórios (com exceção dos pulmões) eliminam substâncias 
polares com mais facilidade. 
A via excretória mais importante é a renal, por meio da 
urina. Outras vias excretórias incluem a bile, o intestino, os 
pulmões, o leite etc. 
 
 
ELIMINAÇÃO RENAL DE FÁRMACOS 
 
Filtração glomerular. Os fármacos penetram nos rins pelas 
artérias renais, as quais se dividem para formar o plexo 
capilar glomerular. Os fármacos livres (não ligados a 
proteínas) atravessam a rede capilar para o espaço de 
Bowman como parte do filtrado glomerular. 
Os capilares glomerulares permitem a difusão de 
moléculas de fármacos com peso molecular inferior a 20.000 
(moléculas pequenas) no filtrado glomerular. Raros fármacos, 
como a heparina, são retidos. Como a albumina não atravessa 
livremente a barreira, quando um fármaco se liga 
consideravelmente à albumina plasmática, sua concentração 
no filtrado é menor que a concentração plasmática. Um 
fármaco como a Varfarina liga-se em 98% à albumina e só 
2% permanecem no filtrado. Portanto, a depuração por 
filtração será muito reduzida. 
 
Secreção e reabsorção tubulares. Até 20% do fluxo 
plasmático renal são filtrados através do glomérulo, de modo 
que, pelo menos 80% do fármaco podem passar para os 
capilares peritubulares do túbulo proximal. Neste local, os 
fármacos são transferidos para a luz tubular mediante dois 
sistemas transportadores independentes e relativamente não 
seletivos. Um deles transporta ácidos e, o outro, bases 
orgânicas. Esses sistemas podem reduzir a concentração 
plasmática do fármaco a quase zero, transportando-o contra 
um gradiente químico. Como, pelo menos, 80% do fármaco 
que chega ao rim é apresentado ao transportador, a secreção 
tubular representa o mecanismo mais eficaz para eliminação 
de fármacos pelos rins. 
A probenecida compete pelo mesmo sistema de 
transporte que a penicilina, diminuindo, dessa forma, sua 
eliminação. 
 
Difusão pelo filtrado. À medida que o filtrado glomerular 
atravessa o túbulo, a água é reabsorvida, sendo que o volume 
que emerge como urina é apenas 1% daquele filtrado. Se o 
túbulo fosse livremente permeável a moléculas de fármacos, 
99% do fármaco seriam reabsorvidos passivamente. De forma 
que fármacos com alta lipossolubilidade e, portanto, elevada 
permeabilidade tubular, são excretados lentamente. Ou seja, 
fármacos lipossolúveis são mais reabsorvidos por 
atravessarem mais facilmente as membranas das células 
tubulares. 
Se, por outro lado, o fármaco for polar, o mesmo 
permanecerá no túbulo e sua concentração aumentará até ficar 
cerca de 100 vezes mais alta na urina que no plasma (p. ex., 
digoxina e antibióticos aminoglicosídeos). Muitos fármacos, 
por serem ácidos fracos ou bases fracas, alteram sua ionização 
com o pH, o que afeta sua excreção renal. O efeito de 
aprisionamento de íons, significa que um fármaco básico é 
mais rapidamente excretado na urina ácida, visto que o pH 
baixo no interior do túbulo favorece sua ionização e, portanto, 
inibe sua reabsorção. Por outro lado, os fármacos ácidos são 
mais facilmente excretados se a urina for alcalina. A 
alcalinização da urina, por exemplo, é usada para acelerar a 
excreção da aspirina em casos de superdosagem. 
 Referências 
Rang, H. P. et al.: Pharmacology. 5th ed., Churchill Livingstone, 2004 
(trad. pt. São Paulo, Elsevier Editora Ltda., 2004). 
Farmacologia I – UNIRIO 16
CAPÍTULO 7 
 
Farmacocinética Clínica 
 
INTRODUÇÃO 
 
Uma hipótese fundamental da farmacocinética clínica é que 
existe uma relação entre os efeitos farmacológicos de um 
fármaco e a concentração acessível desse fármaco (no sangue 
ou plasma). As diferentes variáveis fisiológicas e 
fisiopatológicas que determinam o ajuste de dosagem em 
pacientes individuais muitas vezes acontecem em função de 
parâmetrosfarmacocinéticos. 
Os quatro parâmetros farmacocinéticos mais importantes 
são: depuração (uma medida de eficiência do organismo em 
eliminar um fármaco); volume de distribuição (uma medida 
do espaço aparente para conter o fármaco do corpo); 
biodisponibilidade (fração do fármaco inalterado a atingir a 
circulação sistêmica. Ver Cap. 3) e meia-vida de eliminação 
(uma medida da velocidade de remoção do fármaco do 
organismo). 
 
 
DEPURAÇÃO (ou clearance) 
 
Assumindo uma biodisponibilidade completa, o estado de 
equilíbrio será atingido quando a velocidade de eliminação 
do fármaco igualar sua velocidade de administração. 
Assim, se um desejado estado de equilíbrio dinâmico é 
conhecido, a velocidade de depuração do fármaco pelo 
paciente determinará a velocidade com que o fármaco deve 
ser administrado. É um conceito muito útil porque seu valor 
para um determinado fármaco é usualmente constante nos 
limites de concentração utilizados clinicamente. Isto é, a 
eliminação não é, normalmente, passível de saturação e a taxa 
de eliminação de uma droga é diretamente proporcional à sua 
concentração. 
Esse tipo de eliminação é denominado eliminação de 
primeira ordem. Isso acontece porque os mecanismos de 
eliminação do fármaco não estão saturados. Quando os 
mecanismos de eliminação saturam (p. ex., etanol e aspirina), 
a cinética torna-se uma cinética de saturação (também 
chamada de ordem zero). Ou seja, a droga é removida numa 
velocidade constante, que independe da concentração 
plasmática. Com isso, se a dose administrada superar a 
capacidade de eliminação, não será possível alcançar um 
estado de equilíbrio dinâmico: a concentração continuará 
aumentando enquanto continuar a administração da droga. 
Clearance (CL) de um fármaco, de modo simples, é a 
velocidade de eliminação por todas as vias, normalizada em 
relação à concentração do fármaco (C) em algum fluido 
biológico. 
 
 Quadro 7.1 Equação de Depuração 
 
 
 
 
VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO 
 
Volume é o outro parâmetro fundamental quando se considera 
processos de distribuição de fármacos. O volume de 
distribuição (Vd) relaciona a quantidade total de fármaco no 
corpo (Q) com a concentração do fármaco (Cp) no plasma (ou 
no fluido medido). Esse volume não se refere a um volume 
fisiológico identificado, mas meramente ao volume de fluido 
que seria necessário para armazenar todo o fármaco contido 
no corpo na mesma concentração presente no plasma. 
 
 Quadro 7.2 Equação de Volume de Distribuição 
 
 
 
Nessa equação, estamos considerando o corpo como um 
compartimento homogêneo. Nesse modelo de um só 
compartimento, todo o fármaco administrado o é diretamente 
no compartimento central e a distribuição do fármaco é 
instantânea pelo volume. A depuração do fármaco desse 
compartimento ocorre segundo cinética de primeira ordem. 
Quer dizer, a quantidade de fármaco eliminada por unidade de 
tempo depende da quantidade (concentração) de fármaco no 
compartimento do corpo. 
O volume de distribuição varia de acordo com sexo, idade, 
doenças etc. Os benzodiazepínicos como o diazepam, por 
exemplo, devido à sua alta lipossolubilidade, acumulam-se 
gradualmente na gordura corporal. Com isso, pacientes 
idosos tendem a acumular drogas lipossolúveis em maior 
quantidade. 
 
Vd = 
Q 
Cp 
CL = 
Taxa de Eliminação 
C 
Farmacologia I – UNIRIO 17
MEIA-VIDA 
 
É o tempo necessário para a concentração de determinado 
fármaco no corpo ser reduzida pela metade. Meia-vida (t½) é 
um parâmetro derivado da depuração e do volume de 
distribuição e varia em função deles, como na equação: 
 
 Quadro 7.3 Equação de Meia-Vida 
 
 
 
 
* A constante 0,7 é uma aproximação do logaritmo natural de 2. Como a 
eliminação de drogas pode ser descrita por um processo exponencial, o 
tempo necessário para uma redução de duas vezes pode ser demonstrado 
como proporcional a ln (2). 
 
 
A meia-vida do diazepam, por exemplo, aumenta com a 
idade não porque a depuração diminui, mas porque o volume 
de distribuição aumenta. 
A meia-vida propicia uma boa indicação do tempo 
requerido para se atingir um estado de equilíbrio. Depois que 
um regime terapêutico é iniciado ou alterado, são necessárias 
quatro meias-vidas para atingir aproximadamente 94% de um 
novo estado de equilíbrio (ver Quadro 7.4). 
Ou seja, após a primeira meia-vida, a concentração da 
primeira dose do fármaco cairá para 50%, quando, então, 
ministra-se a segunda dose. Passando uma segunda meia-vida, 
esses 50% cairão para 25%, mas, como foi ministrada uma 
segunda dose, a concentração total subirá para 75% (25 + 50). 
Na terceira, atinge-se 87,5% (12,5 + 25 + 50). Já na quarta 
dose, finalmente, 93,75% (6,25 + 12,5 + 25 + 50) da dosagem 
ministrada, um percentual considerável. Concluímos, então, 
que o tempo para um fármaco ser removido do corpo é um 
meio de estimar um intervalo de dosagem apropriado. 
 
 Quadro 7.4 Evolução para um Estado de Equilíbrio (baseado em doses de 100 mg)
 
 
 Referências 
Rang, H. P. et al.: Pharmacology. 5th ed., Churchill Livingstone, 
2004 (trad. pt. São Paulo, Elsevier Editora Ltda., 2004). 
Katzung, Bertram G. et al: Basic and Clinical Pharmacology. 9ª ed., 
The McGraw-Hill Companies, Inc., 2004 (trad. pt. Rio de 
Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 2006). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
0,7* x Vd 
t½ = 
CL 
87,5 mg + 75 mg + 
4ª Dose: 
100 mg 
3ª Dose: 
100 mg 
50 mg + 
1ª Dose: 
100 mg 
1ª t½ 
2ª Dose: 
100 mg 
0 mg + 
2ª t½ 3ª t½ 4ª t½ 
93,75 mg ... 
Farmacologia I – UNIRIO 18
MÓDULO II 
 
CAPÍTULO 8 
 
Sistema Nervoso Autônomo 
 
INTRODUÇÃO 
 
O sistema nervoso pode ser analisado segundo duas 
importantes divisões: (1) divisão anatômica e (2) divisão 
funcional. Para o estudo da Farmacologia I, focaremos a 
divisão funcional. Mais precisamente, o componente eferente 
do Sistema Nervoso Visceral, também chamado Sistema 
Nervoso Autônomo. Interessa-nos, particularmente, a 
fisiologia de seus componentes simpático e parassimpático. 
 
 
DIVISÕES DO SISTEMA NERVOSO 
 
Baseada em Critérios Anatômicos. Quanto aos critérios 
anatômicos, a divisão desses sistemas se baseia na sua 
localização em relação ao esqueleto axial (cavidade craniana 
e canal vertebral). O sistema nervoso central está dentro e o 
periférico, fora. Contudo, há exceções como gânglios dentro 
do esqueleto axial. Além disso, os nervos e suas raízes 
devem, obviamente, penetrar no esqueleto axial para fazer 
conexão com o sistema nervoso central. 
 
 Quadro 8.1 Divisão Anatômica 
 
 
O sistema nervoso central é constituído por encéfalo e medula 
espinhal (neuro-eixo). 
O sistema nervoso periférico é constituído, basicamente, 
pelos nervos. Estes são cordões de células nervosas que unem 
o sistema nervoso central aos órgãos periféricos. São ditos 
cranianos caso essa união se dê com o encéfalo e espinhais 
caso com a medula. 
Existem certas dilatações nos nervos constituídas, 
principalmente, de corpos de neurônios chamadas gânglios. 
 
Baseada em Critérios Funcionais. Quanto à funcionalidade, 
o sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso 
somático (da vida de relação) e sistema nervoso visceral (da 
vida vegetativa). Ambos apresentam componentes aferentes e 
eferentes. 
 
 Quadro 8.2 Divisão Funcional* 
 
 
* Cumpre ressaltar que os termos “simpático” e “parassimpático” são 
anatômicos e não dependem do tipo de transmissor químico liberado pelas 
terminações nervosas nem mesmo do tipo de efeito – excitatório ou inibitório 
– produzido pela atividade do nervo. Ou seja, resultam de uma subdivisão 
anatômica dentro da divisão funcional “sistema nervoso autônomo”.encéfalo 
 
medula espinhal 
Sistema 
Nervoso 
Central 
nervos 
 
gânglios 
 
terminações nervosas 
Sistema 
Nervoso 
Periférico 
Sistema 
Nervoso 
Somático 
Sistema 
Nervoso 
Visceral 
aferente 
 
eferente 
aferente 
 
eferente 
(ou S.N. autônomo) 
simpático 
 
parassimpático 
Farmacologia I – UNIRIO 19
No sistema somático, importante na interação com o meio 
externo, o componente aferente conduz impulsos originados 
em receptores periféricos aos centros nervosos. O 
componente eferente leva comandos desses centros nervosos 
para os músculos estriados esqueléticos. Com isso, têm-se 
movimentos voluntários. 
Analogamente, no sistema visceral, importante na 
interação com o meio interno, o componente aferente conduz 
os impulsos originados nos receptores das vísceras aos 
centros nervosos. O componente eferente encaminha os 
impulsos gerados nos centros nervosos até as vísceras como 
glândulas, músculos lisos e músculo cardíaco. 
Encaminhamento esse que percorre dois neurônios efetores 
autônomos: (1) pré-ganglionares e (2) pós-ganglionares. Esse 
componente eferente do sistema nervoso visceral é 
denominado sistema nervoso autônomo e pode ser 
subdividido em simpático e parassimpático. 
 
 
OS SISTEMAS SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO 
 
 
ANATOMIA 
 
A inervação do sistema autônomo é usualmente dupla. 
Todavia, um sistema costuma predominar. No coração, por 
exemplo, a freqüência cardíaca é controlada marcadamente 
pelo parassimpático. Há casos, ainda, em que a inervação de 
determinados órgãos é limitada a um dos sistemas. Por 
exemplo, medula adrenal, rim e ações fisiológicas como o 
controle de pressão arterial são áreas limitadas à influência do 
sistema simpático. 
 
Sistema Simpático. As fibras simpáticas pré-ganglionares, 
cujos corpos celulares estão localizadas dentro do sistema 
nervoso central, abandonam o mesmo a partir de T1 a L2 
(toracolombares). Passam, então, pela cadeia simpática e 
seguem para os tecidos e órgãos pelos neurônios pós-
ganglionares. 
As cadeias simpáticas são cadeias de gânglios 
paravertebrais simpáticos dispostos dos dois lados da coluna 
vertebral. Neles, há a sinapse dos neurônios pré-ganglionares 
com os corpos celulares dos neurônios pós-ganglionares. 
Uma exceção ocorre nas adrenais (ou supra-renais). Neste 
caso, as fibras pré-ganglionares passam sem fazer sinapses 
desde a medula espinhal até atingirem células neuronais 
modificadas nas medulas das adrenais que secretam 
adrenalina e noradrenalina. 
 
Sistema Parassimpático. As fibras parassimpáticas 
(craniossacrais) abandonam o sistema nervoso central pelos 
nervos cranianos III, VII, IX e X e pela terceira e quarta 
raízes espinhais sacrais. Contudo, cerca de 75% de todas as 
fibras nervosas parassimpáticas estão nos dois nervos vagos 
que proporcionam uma extensa inervação toracoabdominal 
Uma diferença quanto às fibras simpáticas é que as fibras 
parassimpáticas pós-ganglionares, na grande maioria das 
vezes, encontram-se nas paredes dos órgãos. 
 
 
FUNÇÕES 
 
Sistema Simpático. Apesar de manter funções permanentes 
como tônus vascular, sua função principal é responder a 
situações não-permanentes de estresse como frio, trauma, 
medo, hipoglicemia, exercício etc. Aumenta a pressão arterial, 
a freqüência cardíaca, mobiliza estoques energéticos, causa 
vasoconstrição periférica e interna, provoca dilatação de 
pupilas e bronquíolos. 
As alterações provocadas pelo organismo durante 
emergências são mediadas por ativação direta simpática dos 
órgãos efetuadores e por estímulo da medula adrenal 
liberando adrenalina e, em pequenas quantidades, 
noradrenalina. São também conhecidas como reações de luta 
ou fuga. 
 
Sistema Parassimpático. Mantém funções essenciais à vida, 
tais como processos digestivos e eliminação de substâncias 
inaproveitáveis. Opera isoladamente em órgãos específicos 
como coração, músculo liso brônquico, íris, glândulas 
salivares e bexiga. 
 
 
NEUROTRANSMISSORES 
 
A neurotransmissão é um exemplo de comunicação química 
entre células. E no caso do sistema nervoso autônomo 
(simpático e parassimpático), as fibras nervosas secretam, 
principalmente, acetilcolina e noradrenalina (termo britânico 
para norepinefrina). 
Os neurônios são células individualizadas e, tanto a sua 
comunicação entre si como com outras células é mediada por 
neurotransmissores. Esses se difundem através da fenda 
sináptica e agem sobre receptores pós-sinápticos. Podem, 
também, voltar e agir em receptores pré-sinápticos. Os 
neurotransmissores são muito hidrofílicos e seu efeito é 
mediado por receptores específicos na célula alvo. 
 
 Quadro 8.3 Neurotransmissores Autonômicos 
Neurotransmissor Área de Ação 
 
Acetilcolina 
� Todos os neurônios pré-
ganglionares 
� Neurônios parassimpáticos 
pós-ganglionares 
� Medula das adrenais 
� Nervos somáticos 
 
Noradrenalina* 
� Neurônios simpáticos pós-
ganglionares 
* As fibras nervosas simpáticas pós-ganglionares para as glândulas 
sudoríparas, para os músculos eretores dos pêlos (piloeretores) e para 
alguns dos vasos sangüíneos são colinérgicas. 
 
Acetilcolina. Se a transmissão autonômica é mediada por 
acetilcolina, o neurônio é dito colinérgico. E todos os 
neurônios pré-ganglionares são colinérgicos. Dessa forma, a 
acetilcolina medeia a transmissão nervosa dos gânglios 
autonômicos, tanto simpáticos como parassimpáticos. Além 
disso, é, também, o neurotransmissor na medula adrenal 
Farmacologia I – UNIRIO 20
(lembrar que o neurônio simpático pré-ganglionar faz sinapse 
diretamente nela). O transmissor também é a acetilcolina no 
sistema parassimpático pós-ganglionar e nos nervos 
somáticos. 
Dessa forma, quando aplicadas nos gânglios, a 
acetilcolina ou substâncias semelhantes a ela, estimularão os 
neurônios pós-ganglionares, sejam eles simpáticos ou 
parassimpáticos. 
 
Noradrenalina. No caso de o transmissor ser noradrenalina 
ou adrenalina, a fibra é denominada adrenérgica. A 
noradrenalina medeia a transmissão pós-ganglionar no 
sistema simpático. 
Assim, praticamente todas as terminações nervosas do 
sistema parassimpático secretam acetilcolina, enquanto que a 
maioria das terminações do simpático libera noradrenalina. 
Por isso, a acetilcolina é chamada de transmissor 
parassimpático e a noradrenalina de transmissor simpático. 
SEGUNDOS MENSAGEIROS 
 
Os neurotransmissores, ao atuar em seus receptores, ativam 
processos enzimáticos resultando em respostas celulares como 
fosforilação de proteínas e ativação de canais iônicos. 
Segundos mensageiros são moléculas que propagam a 
mensagem originada pela união do transmissor com o 
receptor. Ou seja, intervêm entre a mensagem original e o 
efeito final sobre a célula. São exemplos a adenilciclase, 
óxido nítrico e fosfatidilinositol. 
Os receptores pós-sinápticos de neurônios e fibras 
musculares estão diretamente ligados a canais iônicos. Alguns 
receptores que não estão ligados a canais iônicos iniciam uma 
série de reações que culminam em uma resposta celular 
específica. 
 
 Referências 
Rang, H. P. et al.: Pharmacology. 5th ed., Churchill Livingstone, 
2004 (trad. pt. São Paulo, Elsevier Editora Ltda., 2004). 
Katzung, Bertram G. et al: Basic and Clinical Pharmacology. 9th 
ed., The McGraw-Hill Companies, Inc., 2004 (trad. pt. Rio de 
Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 2006). 
Hardman, Joel G. & Limbird, Lee E.: Goodman & Gilman’s The 
Basic Pharmacological Basis Of Therapeutics. 9th ed., The 
McGraw-Hill Companies, Inc, 1996. 
Guyton, Arthur C., Hall, John E.: Textbook of Medical Physiology. 
10ª ed., Philadelphia, PA, W.B. Sauders Company, 2000 (trad. 
pt. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 2002). 
Machado, Ângelo: Neuroanatomia Funcional. 2ª ed.,

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