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FICHAMENTO Pontes e Torquato

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE
	
FICHAMENTO
Verificação dos objetos de estudo dos textos em questão e suas discrepâncias
Ana Cecília Cavalcante de Oliveira
Torquato Castro Junior
Recife
2016
Ana Cecília Cavalcante de Oliveira
FICHAMENTO
Verificação dos objetos de estudo dos textos em questão e suas discrepâncias
Recife
2016
SUMÁRIO
1.Prefácio................................................................................................................1
2.O problema fundamental do conhecimento.............................................................2
3.Teoria da situação jurídica em direito privado nacional...........................................5
4.Discrepâncias entre os textos..................................................................................6
Referências.................................................................................................................9
1. Prefácio
Pontes de Miranda
Epistemologia é a teoria da ciência, ou teoria do conhecimento. Ela estuda as fontes, condições e limites do conhecimento científico, numa busca da verdade. Pontes de Miranda é um epistemólogo, herdeiro do positivismo e do sociologismo, criou a Teoria das três fases do conhecimento e a teoria do Jeto.
O alagoano, Pontes de Miranda, fez obras em diversas áreas, poesia, política, filosofia, direito – mas é pouco estudado em Faculdades de Direito no Brasil. Ele foi aluno da Escola de Recife, na qual se valorizava um direito mais ligado às ciências naturais. Pontes era um naturalista que posteriormente virou-se para o positivismo, ligado fortemente à matemática tinha o intuito de cientificizar o direito.
Defendia uma forma de purificar o conhecimento, e queria se desprender de alguns conceitos pré-formulados por outros pensadores, como a “coisa em si” e a “essência”, por isso criou um novo conceito, o “jeto”, algo que não seria subjetivo e não seria objetivo. 
Torquato Castro
Reuniu suas aulas de Direito Privado no curso de Mestrado da UFPE em seu livro “Teoria da Situação Jurídica em Direito Privado”, entre 1974 e 1983. Torquato repele o positivismo, ele segue a lógica tópica no modelo de Aristóteles, para romper com o método sistemático-dedutivo. Ele busca uma forma de solucionar casos para alcançar a justiça através de argumentos para convencimento – se assemelhando a retórica.
2. O problema fundamental do conhecimento
Em sua obra, “O problema fundamental do conhecimento”, Pontes de Mirando aborda sobre o que é a ciência e como se dá o processo do conhecer.
Pontes segue o método científico indutivo, o qual consiste em partir de casos particulares para adquirir uma conclusão geral e universal. Mas, Para Pontes não existe um postulado máximo do conhecimento, apenas existem postulados para cada método científico. Em sua obra ele fala sobre uma visão antiga sobre o conhecimento que acreditava em um “jeto total”, o qual, o autor considera falsa, visto que não existe um conhecimento universal, o que existe é um conhecimento para cada sistema científico.
O Jeto é o resultado de uma atividade mental feita a partir do método científico, é um neologismo criado por Pontes de Miranda para se desvincular de termos normalmente usados que remetem a outras correntes de pensamentos, como “a essência” e “a coisa em si”. Para Pontes, a ciência não pode ser ontológica, ela não pode ter uma proposição adquirida a partir de uma atividade mental que não seja retificável. Ela busca uma explícita e melhor definição dos jetos. Ao teorizar o jeto tira-se a “impureza” do objeto e do sujeito.
Pontes de Miranda, queria perlustrar sobre diferenças entre ideias realistas (o conhecimento está no objeto) e idealistas(o conhecimento está no sujeito), para isso ele não podia se prender à diferença entre o objeto e o sujeito, mas à igualdade. Em sua teoria do Jeto, ele quer tornar o sujeito e o objeto coisas comuns através do encontro dos dois no processo do conhecer. O jeto, especificamente, é o resultado desse encontro, o que é comum ao sujeito e o objeto. O sujeito tem a experiência, o objeto é o conteúdo dessa experiência. Pontes acredita que nós tiramos o jeto do suj- e ob- quando fazemos uma organização mental a partir de nossa inteligência. Em suma, o jeto seria um conhecimento mais duradouro e objetivo, adquirido através do encontro do sujeito com o objeto. O jeto seria a base de todo conhecimento; o conhecimento, para Pontes, está nas relações, nos fatos da realidade, não no sujeito ou objeto. Para ele as relações sociais geram uma objetividade do conhecimento.
Pontes de Miranda também fez a teoria das 3 fases do conhecimento, na qual diz que existiria três fases por onde o conhecimento passaria: fase instintiva (guiado pelo instinto), fase do saber dedutivo, conhecimento científico (pela investigação científica ou experimentação).
Ele acredita que os pensamentos são compostos por significações, é importante perceber que só se fala de significação ou conceito de algo depois do pensamento ou julgamento em que ele se insira. Ele diz que a imagem científica das coisas interpreta a imagem ingênua, trazendo uma explicação ou correção para tal. Conhecer é poder formar uma proposição verdadeira ou não. Para uma afirmação ser verdadeira ou falsa é necessário a decisão por uma experiência.
No livro Pontes mostra a ideia de Alexander, um filósofo inglês, que acredita que existem proposições verdadeiras e que a verdade seja valor. Depois fala da ideia de Laird que diz que não há valor no conhecimento. Com essas apresentações Pontes de Miranda refuta essas ideias, afirmando que existe valor no conhecimento, mas como “dado”, ele diz que o conhecimento verdadeiro não é valor, é fato. Ou seja, existe uma parte do conhecimento que tem valor, mas o conhecimento em si não é um valor, é um fato.
Pontes chama o Jeto de invariante funcional, visto que ele não varia e é uma função dentro do sistema do conhecimento. Mas, caso seja descoberto pelo método científico alguma concepção mais correta sobre o tema, o jeto sofrerá mudanças. As ciências seriam divididas então entre as que têm jeto mais fino e as que têm jeto mais grosso. As que têm mais consenso na comunidade científica, ou seja, as que não têm muitas ideias divergentes são as de jeto mais fino. As que não conseguiram entrar em um consenso mais apurado, ou seja, que possuem teorias mais dispares, são as de jeto mais grosso. Para Pontes a visão do jeto mais grosso representa uma falta de cientificidade. O direito teria um jeto mais grosso, por ter um consenso pequeno entre os pesquisadores da área. Assim, segundo a ideia do autor, o direito necessita englobar outras ciências de jeto mais fino. Pontes defende o uso de varias áreas do saber para chegarmos a um conhecimento mais preciso, com maior unidade. O jeto de uma área se junta com o jeto de outra área para formar um novo jeto. No texto o autor dá o exemplo da Biologia que pode ser explicada pela física e a química. Pontes defende a construção de teorias com base em dados, para quebrar com nossas ideias ideológicas, ele quer uma forma de basear essas teorias no que diz um dado da realidade espaço-tempo.
Em sua obra diz que o jeto fino não se exclui por ser impuro, o fino também se encontra existente no sistema do conhecimento, como vemos a seguir:
Um jeto preciso, limpo de toda escória de ob- e de sub-, de tudo, portanto, que dependeria do posicional (sujeito-objeto), facilmente se coloca no sistema do conhecimento. Pouco importa ou nada importa a espessura.(MIRANDA, 1999, p.294)
Pontes deve ter posto formas de variações do jeto para não cair num ceticismo total. Visto que, como já foi dito, ele considera o jeto uma variante funcional, mas, não ignora o fato das possíveis criações de novas ideias que poderão se integrar em teorias antigas para deixar esse conhecimento mais puro e concreto.
Ele afirmaque o conhecimento a priori fixa uma relação de estrutura entre os jetos (invariantes) e o a posteriori permite que se demonstre através da experiência. A diferença entre os dois seria a espessura (grau de pureza) dos jetos. O a priori é inerente, mas também possui interferência externa – dos dados –, essa interferência se reflete na espessura do a priori, na busca de sua pureza. Essas afirmações podem ser vistas a seguir:
O conhecimento a priori estabelece relações constantes, de lei ou de estrutura, entre jetos, que são, como dissemos, “invariantes”. O conhecimento a posteriori aponta o que é provável que, pois que se têm certos dados (objetos ou jetos insuficientemente limpos de concreções inoportunas), se verifique na experiência. (MIRANDA, 1999, p.284)
É válido perceber que Pontes não desvalida o conhecimento a priori, como podemos ver no que ele diz em sua obra:
Não se pode dizer que no a priori nada haja e por isso pareça haver a harmonia preestabelecida entre o dado e as categorias do espírito: todo a priori tem a sua espessura, qualquer coisa “dentro”, por menor que seja. (MIRANDA, 1999, p.285)
3. Teoria da situação jurídica em direito privado nacional
Inicialmente Torquato faz uma análise sobre o direito e o que é o justo, ele apresenta o justo como algo relativo, mutável, a partir do tempo e espaço. Quando ocorre algo injusto este algo não representa o direito, mas o direito poderá ser representado a partir da busca pelo fim dessa injustiça. Para ele o direito muda a partir de como as relações se estabelecem na sociedade, e ele usa da lei para se guiar durante o tempo, nela está posta um conteúdo que poderá ser usado em casos futuros. O autor não é positivista, mas não segue rigidamente o naturalismo, para ele nunca vai haver uma lei universal absoluta, o que é um furo em seu pensamento, visto que o direito natural é válido universalmente.
Torquato não considera que o direito seja um a priori da razão. Ele defende o uso da experiência dos fatos para adequar o direito. Este autor segue a lógica tópica, sistema que surgiu para romper com o método sistemático-dedutivo. A lógica tópica é uma forma argumentativa que busca soluções justas para problemas, fugindo da ideia do direito guiado pelo positivismo jurídico de método dedutivo, ela permite que a lei seja revisada quando houverem outros fatos, é formada pelo chamado topoi, que são fórmulas de argumentação utilizadas para convencer, essa lógica parece com a retórica. A lógica tópica vai contra a lógica formal, a qual é sistemática e rigorosa, esta não tem lugar para argumentação, prega por uma conclusão fixa e inevitável. Por isso Torquato vai contra a lógica formal, pois ele defende que o direito necessita de argumentação, e essa ideia se encontra na lógica tópica. Além disso, ele diz que o direito não pode ser simplificado ao dedutivismo – visto que ele possui falhas. Ele diz que a lei é omissa e contraditória, por isso o método dedutivo não funciona no direito, mas ela tem a capacidade de preencher as próprias lacunas.
Torquato trás a tona o erro gerado por alguns juristas que permite que o direito e a lei confundam-se. Porém, os dois não são iguais, a lei é um instrumento utilizado pelo direito para tomar uma medida em busca da justiça em um caso. Ele acredita que o ultimo estágio do direito é a ação, não o conhecimento. 
Em seu livro Torquato cita a opinião de um pensador:
Esser assinalou que é o problema, e não o sistema, o que constitui o centro 
de gravidade do pensamento jurídico. Este é orientado retoricamente para os problemas singulares. (CASTRO,1985, p.17)
Torquato concorda com essa afirmação, visto que ele acredita que o direito existe para regular necessidades das relações sociais, focando nos problemas destas e, assim, além de buscar um conhecimento sobre o caso, é preciso pensar em uma solução para tal, e aplicá-la. 
4. Discrepâncias entre os textos
A partir da abordagem feita nesse trabalho sobre as ideias contidas nos dois textos, abaixo será topificado suas divergências.
Pontes defende a evolução do conhecimento, com o intuito de purificá-lo cada vez mais através de pensamentos adquiridos que sejam mais precisos, assim o jeto terá um maior consenso no meio científico, pois a partir da quebra de ideias antigas e a correção destas por novas, existirão menos teorias divergentes dentro de um determinado sistema científico. Dessa forma em um determinado momento o jeto terá o mínimo de espessura, garantindo sua total pureza e imutabilidade. Enquanto Torquato considera que o conhecimento sempre será passível à revisões e nunca haverá um fim para essa possibilidade. Essa consideração de Pontes de Miranda sobre uma provável fase imutável de um jeto não é sólida. Todo tipo de conhecimento é passível de mutabilidade, o jeto não deveria ser diferente, quem poderia garantir a “pureza total” de um jeto? Se em algum momento a comunidade científica da matemática decidir que não existem mais conhecimentos a serem adquiridos em seu campo, que todos os cientistas entraram em um consenso sobre, quem garante que não surgirá em um futuro um novo teórico que descubra algo novo para mudar o jeto da matemática? Acredito que exista sim um jeto “absolutamente puro”, mas ele está preso a um determinado tempo, ele poderá ser considerado absoluto a partir dos conceitos encontrados até o momento, mas no futuro ele estará sujeito à mudanças.
Torquato acredita que o fim do direito é a ação, que o direito existe para dar suporte à necessidades da sociedade. O direito como exigências éticas e racionais. Então, ele terá como objetivo adquirir um conhecimento para solucionar problemas nas relações sociais, mas não irá parar no encontro deste conhecimento, ele terá o papel de aplicar esta solução na sociedade. Por outro lado, Pontes acredita que o fim da ciência é o conhecimento, ou seja, o direito como ciência também teria fim no conhecimento. Pontes fez, como já foi dito anteriormente, uma teoria das três fases do conhecimento, a ultima seria o conhecimento científico. Além disso, Pontes acredita no sistema como base para o conhecimento, mas Torquato acredita que a base está nos problemas, não no sistema.
Pontes é muito rigoroso em seu estudo, ele se prende ao método científico. Já Torquato vê a existência de um valor nos conceitos abstratos como método no direito, apesar de também colocar a cientificidade em primeiro plano.
Torquato acredita que os valores jurídicos sempre seguem a ontologia. Para Pontes a ciência não pode ser ontológica.
Pontes considera o conhecimento a priori necessário para a construção de um conhecimento a posteriori mais preciso. Já Torquato se afasta da ideia de conhecimento a priori, se prendendo ao conhecimento a posteriori.
Pontes é extremamente positivista, ele está em busca de um conhecimento imutável, posto. Torquato é naturalista – apesar de não acreditar em um conhecimento universal –, ele repele o positivismo, pelo despotismo do método científico (inclusive visto na obra de Pontes), e considera a importância de outros métodos. A ideia de Torquato sobre o positivismo pode ser vista a seguir, quando ele diz:
	
Quando hoje se intenta evitar o perigo do positivismo nascido do extremo doutrinário que no homem separou de forma radical o corpo do espírito.(CASTRO, 1985, p.6)
Pontes de Miranda faz uso do método científico indutivo, o qual observa vários casos particulares para chegar no consenso de uma verdade universal. Já Torquato é a favor da lógica tópica – a qual através da experiência e argumentação para convencer, busca uma solução para um caso. Torquato se distancia do método dedutivo, visto que para ele não existem conclusões inevitáveis feitas por premissas suficientes, o jurista pode chegar a mais de uma conclusão, e a lei é omissa e falha. 
Referências
CASTRO, Torquato. “Introdução”. Teoria da situação jurídica em direito privado nacional: Estrutura, Causa e Título Legitimário do Sujeito.São Paulo: Ed. Saraiva, 1985. p.1-22.
MIRANDA, Pontes de. “Colocaçãodos jetos no conhecimento” e “Consequências filosófico-científicas”. O problema fundamental do conhecimento. Campinas: Ed. Bookseller, 1999. p.278-318.
RODRIGUES, Horácio Wanderlei; HEINEN, Luana Renostro. A ânsia por tudo conhecer: a epistemologia de Pontes de Miranda. Disponível em:<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=d594b1a945b5d645>.
ISERHARD, Antônio M. R. de F. O conceito de direito em Pontes de Miranda. Disponível em: < https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/106389/95950.pdf?sequence=1>.

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