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MpMagEst Direito Civil Francisco Loureiro Data: 19/04/2013 Aula 06 MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. invalidade dos negócios jurídicos. 1. INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO 1.1. Erro (continuação) 1.1.1. Erro substancial (i) Quando recair sobre a natureza do negócio – tipo negocial que as partes celebram; (ii) Quando recai sobre o objeto do contrato – pensa que se está adquirindo um bem e está sendo adquirido outro; (iii) Quanto o erro recai sobre as qualidades essenciais da coisa – pensa que está adquirindo um vazo de prata e está adquirindo de vaso de latão sem valor algum. Obs.: Distinção entre o erro substancial e o vício redibitório (quando a coisa não funciona como deveria). O erro incide sobre o consentimento, já no vício redibitório o vício recai sobre o objeto. (iv) Erro de direito (art. 139, III) quando desconhecer a norma e os efeitos que a norma gera, não é possível alegar escusa, porém há possibilidade de invalidação do negócio (o consentimento foi distorcido). Lembrar-se do Art. 3º da LINDB – ninguém se escusa de cumprir a lei alegando ignorância. Não há incompatibilidade entre as normas. Art. 140 do cc. “Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.” O Falso motivo só vicia a declaração da vontade quando for expresso e determinante. Motivo subjetivo (motivo íntimo) é irrelevante para invalidação do negócio jurídico. Ex.: comprar um apartamento perto do trabalho para evitar o trânsito, após algum tempo é transferido de emprego, não se pode alegar esse motivo intimo para anulação do contrato. Motivo determinante (que é a causa do negócio jurídico) Ex.: compra um terreno para realização de uma construção comercial. Na eventualidade de impossibilidade de realização de construção naquele imóvel pela lei de zoneamento, há vício do negócio jurídico permitindo sua anulação, uma vez que a causa determinante impede sua realização (causa do negócio jurídico). Art. 144 do cc – visa conservar o negócio jurídico. 2 de 6 “Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.” O código civil sempre preserva a manutenção dos contratos em geral. O erro não prejudica a invalidade do negócio jurídico quando o destinatário toma conhecimento do vício e se dispuser a reformular o contrato para adequação do negócio, torna impossível sua posterior anulação. Essa adequação do contrato deve ser feita antes do cumprimento do contrato. 1.2. Dolo (art. 145 a 150 do cc) É uma manobra para induzir a prática de um ato – na manifestação de sua vontade – que não seria feita se o destinatário não tivesse sido enganado. Obs.: o erro é espontâneo e a o sujeito se engana sozinho, no dolo há um induzimento por alguém. 1.2.1. Dolo principal (Art. 145) – o negócio é anulado quando este for a sua razão (é fundamental para realização do negócio). “Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.” Obs.: não tem os mesmos requisitos do erro essencial (art. 139) e não se aplica por analogia no dolo principal. 1.2.2. Dolo acidental – o negócio não é anulável, mas o prejudicado será reparado por perdas e danos. No dolo como engano provocado (principal ou acidental) e com um ato ilícito, sempre gera perdas e danos. 1.2.3. Dolus malus – é o intuito de prejudicar. 1.2.4. Dolus bonus – é o exagero tolerado – não se faz com o propósito de enganar ninguém. É a situação que o vendedor elogia exageradamente o bem que pretende vender. Tem limitação no princípio da boa-fé objetiva e cada vez tem menos espaço no ordenamento brasileiro. 1.2.5. Dolo comissivo 1.2.6. Dolu omissivo (art. 147 cc) – o agente oculta um fato relevante para o negócio. Fato esse que se revelado obstaria a celebração do contrato. “Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra 3 de 6 parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.” 1.2.7. Dolo de terceiro (Art. 148) – figura clássica do corretor de imóveis. “Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.” Só leva a anulação do negócio se o beneficiário estava conivente com o terceiro, ou quando deveria saber que o terceiro se enganava e não tomou nenhuma providencia. O negócio é anulado e indenização por perdas e danos é promovida tão apenas em face do terceiro. 1.2.8. Dolo do representante (Art. 149) Representação legal (ex.: pai em relação aos filhos) e representação convencional (procurador). O dolo do representante leva a invalidação do negócio, pouco importa se o representado sabia ou não. Se a representação deriva de lei, o negócio é desfeito, mas o representado não responde pelos prejuízos de perdas e danos. No entanto se a representação é convencional, ambos responderão solidariamente por perdas e danos. “Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.” 1.2.9. Dolo bilateral (art. 150) – os dolos se compensam e assim, as partes não podem reclamar ou pleitear perdas e danos. Obs.: dolo é de interesse particular e simulação é de interesse público. “Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.” 1.3. Coação (art. 151 a 155 cc) É a ameaça (física ou moral) com objetivo de constranger alguém para realização de um negócio jurídico. 1.3.1. Vis absoluta – é a violência física (material). Como nem vontade houve, há quem defenda que o negócio é inexistente por falta de consentimento. Ex.: alguém pega a mão do sujeito e assina o contrato. 1.3.2. Vis compulsiva – é a violência virtual e causa de anulidade. Requisitos da coação: 4 de 6 (i) Deve haver uma ameaça de alguém. Se provém de um fato natural configura estado de perigo ou lesão. (ii) A ameaça deve ser determinante para a realização do negócio. Se for ameaça acidental, aquela que o sujeito quer contratar, mas de forma diferente, leva apenas a perdas e danos e não na anulação do negócio. (iii) Temor grave. Obs.: art. 151 p. único – ameaça feita contra terceiros: “Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.” Art. 152 do cc. fornece critério interpretativo para o juiz, nas reais condições da pessoa para aferir a gravidade da ameaça. Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.” (iv) A ameaça tem que ser injusta, ou seja, não é ameaça o exercício regular de um direito (art. 153) ex.: se você não pagar eu vou protestar o título. “Art. 153. Não se consideracoação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.” Há exercício irregular de direito quando alguém confessa uma dívida além do que efetivamente devia para evitar a persecução legal. Simples temor reverencial é a situação de que alguém tem o receio de desagradar alguém a quem se deve submissão, respeito e obediência. O temor reverencial pode ser agravado ex.: se você não reparar a dívida vou contar para seu pai – na hipótese o pai é extremamente violento e ríspido. (v) A ameaça deve dizer respeito a um dano iminente e não um dano remoto e hipotético. Obs.: a ameaça (de forma igual ao dolo) leva a anulação do negócio e como é um ato ilícito gera também a cumulação de pedido com perdas e danos. Obs.: o termo inicial para anulação do negócio é a data que cessou a anulação (04 anos). 1.4. Estado de perigo (art. 156) É uma situação em que o agente está premido por circunstancias de fato, que exerce uma forte influência sobre sua vontade, realiza o negócio em condições desvantajosas ao seu próprio interesse. A outra parte se aproveita de condições diversas que afeta o equilíbrio do negócio jurídico. 5 de 6 “Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.” Esse perigo provém de risco de grave dano à pessoa, a seus parentes ou terceiros próximos a ele. Obs.: essa situação não é causada pelo beneficiário do negócio 1.4.1. Requisitos do estado de perigo: a) Elemento objetivo – a realização de um contrato ruidoso (desequilibrado), uma situação excessivamente onerosa; b) Elemento subjetivo – para a vítima e para o beneficiário. A vítima só contratou porque está na situação de perigo. O beneficiário deve conhecer da situação de desvantagem do outro e se aproveita da situação para se beneficiar – dolo de aproveitamento. Obs.: o código não prevê a remuneração prestada de forma adequada, mas ela deve ser feita para não configurar enriquecimento ilícito. REsp 918392 – internação em hospital. O sujeito celebra novo contrato para conseguir internação. O contrato celebrado foi anulado 1.5. Lesão (art. 157) É um vício de consentimento que resulta da desproporção do contrato. O desequilíbrio decorre de inexperiência ou desigualdade econômica. Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.” É denominada por alguns por usura real. 1.5.1. Elementos da lesão: a) Objetivo: tem que haver uma desproporção considerável entre as prestações. Não há critério matemático ou físico e o juiz avalia caso a caso. b) Subjetivo: não se exige dolo de aproveitamento da outra parte. O objetivo deve ser concomitante com o nascimento do contrato. Se a desproporção sobrevier posteriormente à celebração do negócio, o negócio é válido, mas a parte pode pedir anulação por onerosidade excessiva do negócio (art. 478 a 481). 6 de 6 Deve haver nexo de causalidade entre o desiquilíbrio financeiro e a situação de inexperiência ou premência financeira da outra parte. 1.5.2. Características da lesão (i) Nem todo contrato comporta lesão. Mas só em contratos bilaterais e onerosos. Não há lesão na doação; Obs.: contratos comutativos são aqueles que as condições são previamente conhecidas pelas partes (o que deve receber e o que deve pagar). Cabe lesão também em contrato aleatório (contratos de plano de saúde) (ii) O desiquilíbrio é concomitante ao nascimento do negócio; (iii) A lesão só é reconhecida por decisão judicial; (iv) A lesão pode ser arguida em ação como também em exceção (defesa); (v) Art. 157, p. único – a anulação do contrato pode ser evitada se aparte beneficiada se dispuser a suplementar o preço; Pode-se anular o contrato, também é possível mantê-lo após ajustá-lo ao preço compatível. Diferença entre lesão e estado de perigo – no de estado de perigo o risco é pessoal e na lesão a fragilidade afeta a incolumidade econômica. No estado de perigo exige o dolo de aproveitamento, na lesão ainda que o beneficiário não saiba da fragilidade da outra parte, não influi para a configuração da lesão e a anulação do contrato. 1.6. Fraude contra credores (art. 158 a 165) Ocorre fraude contra credores, quando um devedor já insolvente ou prestes a se tornar insolvente, ele pratica atos que reduzam seu patrimônio em detrimento de seus credores. Ao contrário dos vícios anteriores, não é propriamente um vício do consentimento, mas sim um vício social, porque a vontade declarada é livre, real e exatamente coincidente com os objetivos pretendidos, mas viola interesses de terceiros. A fraude contra credores há realização concreta do negócio e não se confunde com a simulação que não há realização do negócio.
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