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MpMagEst Direito Civil Obrigações José Simão Data: 19/03/2013 Aula 03 MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Obrigação de dar coisa incerta. 1. OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA 1.1. Obrigação genérica – é aquela cujo objeto é indicado por seu gênero, qualidade e quantidade. Ex. dar cinquenta sacas de café; dar uma vaca. Nessa obrigação há, ao menos num primeiro momento, uma incerteza, que por sua vez é transitória e deve acabar para que o contrato seja adimplido. É a escolha ou concentração cientificada a outra parte que põe fim a incerteza. Partir da concentração a coisa passa a ser certa. Por lei, a escolha é do devedor, pois é dele o fardo obrigacional – favor debitoris. O contrato pode transferir ao credor o direito de escolha. ATENÇÃO: a lei sempre que pode facilitar a vida do devedor, pois é dele o fardo obrigacional. Por lei a escolha segue o critério da medianidade (nem o pior, nem o melhor do gênero). O contrato pode alterar este critério e quando a escolha for do credor este pode escolher o melhor do gênero. Obs.: em matéria sucessória, se houver um legado (identifico certos bens que são destacados da herança) o herdeiro é o devedor e o legatário é o credor. Assim, o herdeiro deve seguir o critério da medianidade na escolha do legado. Art. 1.929 cc. “Art. 1.929. Se o legado consiste em coisa determinada pelo gênero, ao herdeiro tocará escolhê-la, guardando o meio-termo entre as congêneres da melhor e pior qualidade.” Se o testador der o direito de escolha ao legatário (credor da coisa incerta), este poderá optar por receber o melhor do gênero. Art. 1.931 “Art. 1.931. Se a opção foi deixada ao legatário, este poderá escolher, do gênero determinado, a melhor coisa que houver na herança; e, se nesta não existir coisa de tal gênero, dar-lhe-á de outra congênere o herdeiro, observada a disposição na última parte do art. 1.929.” Perda da coisa incerta Art. 246. “Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.” 2 de 4 Se a coisa incerta perecer antes da entrega ainda que por força maior, o devedor continua obrigado à prestação. Pois gênero não perece – genus non perit. 1.2. Obrigação quase genérica – é aquela que o gênero é limitado pela vontade das partes. Dar-te-ei um livro da minha biblioteca. Nesta hipótese se perecer todos os livros a obrigação se extingue pois o gênero foi limitado. Ex.: todos os livros da biblioteca perecem. II. Quanto ao número de obrigações. 1.3. Simples – é aquela que há apenas uma prestação. 1.4. Complexa – é aquela que há mais de uma prestação. a) Obrigação conjuntiva ou cumulativa: há mais de uma prestação no vínculo obrigacional e o devedor se exonera cumprindo todas elas. Ex.: João deve para José o boi e o cavalo. Se o devedor não cumprir todas as prestações haverá inadimplemento. b) Obrigação alternativa ou disjuntiva: há mais de uma prestação no vínculo obrigacional e o devedor se exonera cumprindo uma delas. Ex.: João deve para José o boi ou o cavalo Obs.: não há alternatividade quando o credor aceita pagamento em cheque ou em dinheiro, à vista ou à prazo, porque a prestação é uma só e o que varia é a forma de cumpri-la. Escolha da prestação Art. 252. Por lei cabe ao devedor a escolha da prestação. “Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. § 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. § 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. § 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação. § 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.” Não pode o devedor obrigar o credor a aceitar parte de uma prestação e parte da outra, pois estar-se- ia criando prestação estranha ao vínculo e o credor não é obrigado a aceitar coisa diversa da contratada. Art. 313. Se aceitar, ocorre dação em pagamento. “Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.” ATENÇÃO: não se trata de novação, pois na novação surgem duas obrigações: a nova que mata a antiga. Na dação, há uma única obrigação que se estingue com objeto diverso. Nos contratos de prestação periódica, o direito de escolha se renova a cada período, ou seja, a escolha não vincula as demais prestações. 3 de 4 Pluralidade de optantes: se o direito de escolha couber a mais de uma pessoa, a escolha se dará por unanimidade e não por maioria. Se não houver consenso, o juiz fixa um prazo para este ser atingido e depois ouvindo as partes, o próprio juiz indica a prestação. Obs.: a escolha se revela um dever, pois sem ela a obrigação não chega ao adimplemento. 1.5. Perda da prestação. 1.5.1. Perda de uma prestação a) Escolha do devedor Art. 253. “Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.” O devedor cumpre a prestação que sobrou, como era dele a escolha, o motivo da perda é irrelevante. Obs.: como o credor não tinha a escolha, não poderá reclamar perdas e danos. b) Escolha do credor: (i) Sem culpa do devedor Art. 253 – o credor perde o direito de escolha em razão da força maior. Ocorre a concentração involuntária e o devedor entrega a prestação que sobrou. Não há perdas e danos. (ii) Com culpa do devedor Art. 255, primeira parte – a lei mantém com o credor o direito de escolha, este poderá optar em receber a prestação remanescente mais perdas e danos, ou o valor da que se perdeu mais perdas e danos. “Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos (...); 1.5.2. Perda de todas as prestações: a) Sem culpa do devedor Art. 256. – a obrigação se extingue e não há perdas e danos, pois não houve culpa. “Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.” b) Com culpa do devedor: (i) Escolha do devedor Art. 254 “Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.” 4 de 4 O devedor responde pelo valor da última que se perdeu mais perdas e danos. Isso porque se a escolha era do devedor, não há ilicitude na perda da primeira prestação, mas apenas na da última. (ii) Escolha do credor Art. 255 segunda parte. (...) “se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.” A lei mantém a escolha com o credor que pode optar pelo valor de qualquer uma das prestações mais perdas e danos. (iii) Obrigação facultativa – É aquela em que há um único objeto no vínculo obrigacional – in obligatione – mas no momento do pagamento surge um segundo objeto – in facultati solutionis – ex.: João deve a José o boi, mas as partes avençam que João pode pagar entregando o cavalo. Trata-se de falsa complexa, pois a obrigação facultativa é simples, tendo apenas um objeto. Se este objeto inobligatione perecer, a obrigação se extingue. Vinculo Pagamento Obrigação 2 2 Cumulativa 2 1 Alternativa 1 1 ou 1 Facultativa III. Quanto ao número de sujeitos. a) Simples – é aquela que tem um credor e um devedor. b) Complexa – é aquela que tem mais de um credor e/ou mais de um devedor. Para se identificar se a obrigação é divisível, indivisível ou solidária é necessário o raciocínio em duas etapas: (i) se o objeto for divisível a obrigação também o será e se aplica o artigo 257 do cc. Se o objeto for indivisível, a obrigação também o será e se aplicam os artigos 258 a 263 do cc. Se a lei ou o contrato estabelecerem solidariedade, abandonam-se os dispositivos anteriores, aplicando-se os artigos 264 a 285 do cc. Caso não haja previsão legal ou contratual, estabelecendo solidariedade, permanecem as regras anteriores. (i) Obrigação divisível – é aquela cujo objeto pode ser fracionado sem perda da sua substância, ou diminuição de seu valor ex.: José e João devem R$ 1.000,00. Concursu partes fiunt (faça-se a divisão em partes) – com presunção simples iuris tantum – a obrigação presume-se dividida em partes iguais entre os credores e devedores. Trata-se de presunção simples, que pode ser afastada pela lei ou pela vontade das partes. Ex.: no condomínio em frações desiguais, as despesas e os frutos são partilhados em frações desiguais. (ii) Obrigação indivisível – próxima aula.
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