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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL I 
TEMA DA AULA: Ilicitude (continuação).
PALAVRAS-CHAVE: Ilicitude.
1
Objetivos
Compreender a relevância da subsunção das normas penais aos preceitos   constitucionais.
Compreender as Teorias acerca da Ilicitude.
Reconhecer, diante das situações fáticas apresentadas, a existência de causas justificadoras das condutas típicas.
 Analisar as causas excludentes de ilicitude, suas espécies e requisitos.
Diferenciar as espécies de causas excludentes de ilicitude.
Analisar as consequências jurídico-penais do excesso nas condutas justificadas.
Analisar a natureza jurídica do consentimento do ofendido e suas consequências na esfera jurídico-penal.
Aplicar os institutos previstos na parte geral do Código Penal aos crimes em espécie.
2
Sumário
Introdução
Desenvolvimento
 Excludentes de ilicitude (continuação)
4. Legítima de Defesa: 
 4.1Conceito. 
 4.2 Natureza Jurídica
 4.3 Requisitos- Objetivos e Subjetivos
 4.4 Legítima Defesa Sucessiva	
 4.5 Ofendículas
 4.6 Excesso - consequências
3
Sumário
5. Estrito Cumprimento de Dever Legal.
 5.1 Conceito. 
 5.2 Natureza Jurídica
 5.3 Requisitos- Objetivos e Subjetivos
 5.4 Excesso - consequências.
   - Os delitos de constrangimento ilegal (art. 146, do Código Penal) e abuso de autoridade (Lei n. 4898/1965). 
6. Exercício Regular de Direito. 
 6.1 Conceito. 
 6.2 Natureza Jurídica
 6.3 Requisitos- Objetivos e Subjetivos
.
4
Sumário
 6.4 Ofendículas e a legítima defesa
       - Conceito
       - Natureza jurídica - controvérsias.
       - Requisitos
       - Consequências na esfera jurídico penal
 6.5 Excesso - Consequências.
7. O Consentimento do Ofendido
 7.1 Natureza Jurídica e relação com a tipicidade
    7.2 Consequências na esfera jurídico penal
Conclusão
Exercícios
5
Introdução
Importância do assunto do assunto.
Dica: adicione suas próprias anotações do orador aqui.
6
4. Legítima de Defesa: 
4.1Conceito. 
Causa de exclusão da ilicitude que consiste em repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos meios necessários. 
Não há, aqui, uma situação de perigo pondo em conflito dois ou mais bens, na qual um deles deverá ser sacrificado. Ao contrário, ocorre um efetivo ataque ilícito contra o agente ou terceiro, legitimando a repulsa. 
Fundamento: o Estado não tem condições de oferecer proteção aos cidadãos em todos os lugares e momentos, logo, permite que se defendam quando não houver outro meio. 
4.2 Natureza Jurídica
Como se extraído art.23, II, do Código Penal, a legítima defesa é causa de exclusão da ilicitude. 
O fato típico praticado em legítima defesa é lícito. Não configura crime. 
4.3 Requisitos- Objetivos e Subjetivos
A análise do art. 25 do Código Penal revela a dependência da legítima defesa aos seguintes requisitos cumulativos: 
1) agressão injusta; 
2) atual ou iminente; 
3) direito próprio ou alheio; 
4) reação com os meios necessários; e 
5) uso moderado dos meios necessários. 
Esses requisitos, pois, podem ser divididos em dois blocos:
Agressão injusta
Agressão é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem ou interesse consagrado pelo ordenamento jurídico. 
Trata-se de atividade exclusiva do ser humano.
Não pode ser efetuada por um animal, ou por uma coisa, por faltar-lhes a consciência e a voluntariedade ínsitas ao ato de agredir. 
Animais que atacam e coisas que oferecem riscos às pessoas podem ser sacrificados ou danificados com fundamento no estado de necessidade, e não na legítima defesa, reservada a agressões emanadas do homem. 
Nada impede, entretanto, a utilização de animais como instrumentos do crime, como nos casos em que são ordenados, por alguém, ao ataque de determinada pessoa. Funcionam como verdadeiras armas, autorizando a legítima defesa. 
Exemplo: “A” determina ao seu cão bravio o ataque contra “B”. Esse último poderá matar o animal, acobertado pela legítima defesa. 
A agressão pode emanar de um inimputável. O inimputável pratica conduta consciente e voluntária, apta a configurar a agressão. O fato previsto em uma lei incriminadora por ele cometido é típico e ilícito. Falta-lhe apenas a culpabilidade. 
A agressão é tomada em sentido meramente objetivo, não guardando vínculo nenhum com o subjetivismo da culpabilidade.
Em regra, a agressão é praticada por meio de uma ação, mas nada impede a sua veiculação por omissão, quando esta se apresenta idônea a causar danos e o omitente tinha, no caso concreto, o dever jurídico de agir. 
A agressão deve ser injusta. Agressão injusta é a de natureza ilícita, isto é, contrária ao Direito. Pode ser dolosa ou culposa. É obtida com uma análise objetiva, consistindo na mera contradição com o ordenamento jurídico.
Não se exige, para ser injusta, que a agressão seja prevista como infração penal. Basta que o agredido não esteja obrigado a suportá-la. Exemplo: pode agir em legítima defesa o proprietário do bem atingido por um “furto” de uso.
Agressão atual ou iminente
A agressão injusta deve ser atual ou iminente. Ao contrário do estado de necessidade, em que o legislador previu expressamente somente o perigo atual, na legítima defesa admite-se seja a agressão atual ou iminente. 
Atual é a agressão presente, isto é, já se iniciou e ainda não se encerrou a lesão ao bem jurídico. Exemplo: a vítima é atacada com golpes de faca. 
Iminente é a agressão prestes a acontecer, ou seja, aquela que se torna atual em um futuro imediato. Exemplo: o agressor anuncia à vítima a intenção de matá-la, vindo à sua direção com uma faca em uma das mãos. 
A agressão futura (ou remota) e a agressão passada (ou pretérita) não abrem espaço para a legítima defesa. O medo e a vingança não autorizam a reação, mas apenas a necessidade de defesa urgente e efetiva do interesse ameaçado. 
Agressão a direito próprio ou alheio
A agressão injusta, atual ou iminente, deve ameaçar bem jurídico próprio ou de terceiro. Qualquer bem jurídico pode ser protegido pela legítima defesa, pertencente àquele que se defende ou a terceira pessoa. 
Em compasso com o auxílio mútuo que deve reinar entre os indivíduos, o Código Penal admite expressamente a legítima defesa de bens jurídicos alheios, com amparo no princípio da solidariedade humana. 
E na legítima defesa de terceiro, a reação pode atingir inclusive o titular do bem jurídico protegido. O terceiro funciona como agredido e defendido, simultaneamente. 
Exemplo: “A”, percebendo que “B” se droga compulsivamente e não aceita conselhos para parar, decide agredi-lo para que desmaie, e, assim, deixe de ingerir mais cocaína, que o levaria à morte. 
É possível o emprego da excludente para a tutela de bens pertencentes às pessoas jurídicas, inclusive do Estado, pois atuam por meio de seus representantes e não podem defender-se sozinhas. Exemplo: a pessoa que, percebendo uma empresa ser furtada, luta com o ladrão e o imobiliza até a chegada da força policial. 
Admite-se, também, a legítima defesa do feto. Deveras, o art. 2.º do Código Civil resguarda os direitos do nascituro, que podem ser defendidos por terceiros. É o caso do agente que, percebendo estar a gestante na iminência de praticar um autoaborto, a impede, internando-a posteriormente em um hospital para que o parto transcorra normalmente. 
Embora com alguma controvérsia, pode-se ainda falar em legítima defesa do cadáver. Embora não seja titular de direitos, a utilização da causa justificativa encontra amparo no reconhecimento que o Estado lhe confere, em respeito à sociedade e aos seus familiares, criando crimes, como se dá com a destruição, subtração ou ocultação, e também com o vilipêndio a cadáver (CP, arts. 211 e 212).
Reação com os meios necessários
Meios necessários são aqueles que o agente tem à sua disposição para repelir a agressão injusta, atual ou iminente,
a direito seu ou de outrem, no momento em que é praticada. 
A legítima defesa não é desforço desnecessário, mas medida que se destina à proteção de bens jurídicos. Não tem por fim punir, razão pela qual deve ser concretizada da forma menos lesiva possível. 
O meio necessário, desde que seja o único disponível ao agente para repelir a agressão, pode ser desproporcional em relação a ela, se empregado moderadamente. Imagine-se um agente que, ao ser atacado com uma barra de ferro por um desconhecido, utiliza uma arma de fogo, meio de defesa que estava ao seu alcance. Estará caracterizada a excludente. 
Se o meio empregado for desnecessário, estará configurado o excesso, doloso, culposo ou exculpante (sem dolo ou culpa), dependendo das condições em que ocorrer. 
Ao contrário do que ocorre no estado de necessidade, a possibilidade de fuga ou o socorro pela autoridade pública não impedem a legítima defesa. Não se impõe o commodus discessus, isto é, o agredido não está obrigado a procurar a saída mais cômoda e menos lesiva para escapar do ataque injusto. 
Uso moderado dos meios necessários
Caracteriza-se pelo emprego dos meios necessários na medida suficiente para afastar a agressão injusta. 
Utiliza-se o perfil do homem médio, ou seja, para aferir a moderação dos meios necessários o magistrado compara o comportamento do agredido com aquele que, em situação semelhante, seria adotado por um ser humano de inteligência e prudência comuns à maioria da sociedade. 
4.4 Legítima Defesa Sucessiva
Constitui-se na espécie de legítima defesa em que alguém reage contra o excesso de legítima defesa. Exemplo: “A” profere palavras de baixo calão contra “B”, o qual, para calá-lo, desfere-lhe um soco. Em seguida, com “A” já em silêncio, “B” continua a agredi-lo fisicamente, autorizando o emprego de força física pelo primeiro para defender-se.
É possível essa legítima defesa, pois o excesso sempre representa uma agressão injusta.
4.5 Ofendículas
São chamadas ofendiculas ou ofendículos as barreiras ou obstáculos para a defesa do bem jurídico. 
A maioria da população constituem equipamentos para a defesa da injusta agressão, ou seja são os obstáculos que o morador coloca para se defender da injusta agressão, evitando assim o furtos.
Seja a utilização de animais (Exemplo: cachorros ferozes).
Seja também pela utilização de aparelhos ou artefatos feitos pelos os homem (Exemplo: arame farpado, cacos de vidros, cerca elétrica, e etc).
A doutrina distingue ofendiculas de defesas mecânicas predispostas: ofendiculas são as percebidas com facilidade pelas pessoas e não necessita de aviso. Já as defesas mecânicas predispostas estão ocultas, ignoradas pelos supostos agressores, sendo necessário o aviso quando da sua existência. Exemplo: cerca elétrica, armadilhas em geral, armas ocultas e cão feroz, etc.
4.6 Excesso – consequências
Na legítima defesa, o excesso se consubstancia no emprego de meios desnecessários para repelir a injusta agressão, atual ou iminente, ou, quando necessários, os emprega imoderadamente. 
Excesso é a intensificação desnecessária de uma ação inicialmente justificada. Presente o excesso, os requisitos das descriminantes deixam de existir, devendo o agente responder pelas desnecessárias lesões causadas ao bem jurídico ofendido.
Doloso ou consciente: ocorre quando o agente, ao se defender de uma injusta agressão, emprega meio que sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo consciência de sua desproporcionalidade, atua com imoderação. Exemplo: para defender-se de um tapa, o sujeito mata a tiros o agressor ou, então, após o primeiro tiro que fere e imobiliza o agressor, prossegue na reação até a sua morte. 
Em tais hipóteses caracteriza-se o excesso doloso em virtude de o agente consciente e deliberadamente valer-se da situação vantajosa de defesa em que se encontra para, desnecessariamente, infligir ao agressor uma lesão mais grave do que a exigida e possível, impelido por motivos alheios à legítima defesa (ódio, vingança, perversidade etc.). 
Consequência: constatado o excesso doloso, o agente responde pelo resultado dolosamente. Exemplo: aquele que mata quando bastava tão somente a lesão responde por homicídio doloso. 
Culposo ou inconsciente: ocorre quando o agente, diante do temor, aturdimento ou emoção provocada pela agressão injusta, acaba por deixar a posição de defesa e partir para um verdadeiro ataque, após ter dominado o seu agressor. 
Não houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se ainda sofrendo o ataque, tendo seu excesso decorrido de uma equivocada apreciação da realidade. 
São requisitos do excesso culposo: 
a) o agente estar, inicialmente, em uma situação de reconhecida legítima defesa; 
b) dela se desviar, em momento posterior, seja na escolha dos meios de reação, seja no modo imoderado de utilizá-los, por culpa estrito senso; 
c) estar o resultado lesivo previsto em lei (tipificado) como crime culposo. 
Consequência: o agente responderá pelo resultado produzido, a título de culpa. 
5. Estrito Cumprimento de Dever Legal.
5.1 Conceito. 
Dispõe o art. 23, III, 1.ª parte, do Código Penal: “Não há crime quando o agente pratica o fato em estrito cumprimento de dever legal”. Pode-se defini-lo, como a causa de exclusão da ilicitude que consiste na prática de um fato típico, em razão de cumprir o agente uma obrigação imposta por lei, de natureza penal ou não.
Exemplo: o policial que priva o fugitivo de sua liberdade, ao prendê-lo em cumprimento de ordem judicial. 
5.2 Natureza Jurídica
Cuida-se de causa de exclusão da ilicitude, o que se extrai tanto pela rubrica marginal do art. 23 do Código Penal (“exclusão de ilicitude”), como também pela redação do dispositivo legal (“não há crime”).
5.3 Requisitos- Objetivos e Subjetivos
Deve existir, obviamente, um dever legal. Em geral vem de uma ordem de autoridade competente. 
Como o oficial de justiça com ordem para realizar o despejo de inquilino. Em geral, ocorre violência nos casos de resistência. A violência necessária para o cumprimento da ordem é aceitável e amparada, sendo apenas o excesso punível.
Regular cumprimento do dever legal. Digamos que um funcionário público tem a ordem de prisão preventiva de dois criminosos. No local, havia mais dois meliantes, se o funcionário prendê-los, estará se excedendo em relação a eles, portanto não pode alegar estrito cumprimento do dever legal, somente para os que estavam previstos na ordem.
5.4 Excesso - consequências.
No estrito cumprimento do dever legal, o excesso resulta da não observância, pelo agente, dos limites determinados pela lei que lhe impõe a conduta consistente em um fato típico. 
O excesso pode ocorrer em qualquer das modalidades de excludentes. Ademais, esse excesso pode decorrer de dolo, de culpa ou simplesmente de caso fortuito, hipótese em que não se poderá falar de responsabilidade penal.
Para a análise do excesso, é indispensável que a situação inicialmente caracterize a presença de uma excludente, cujo exercício, em um segundo momento, mostre-se excessivo.
O excesso punível, seja a título de dolo seja a título de culpa, decorre do exercício imoderado ou excessivo de determinado dever, que acaba produzindo resultado mais grave do que o razoavelmente suportável e, por isso mesmo, nas circunstâncias, não permitido.
- Os delitos de constrangimento ilegal (art. 146, do Código Penal) e abuso de autoridade (Lei n. 4898/1965). 
Código Penal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda.
Lei 4898/65
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.
6. Exercício Regular de Direito. 
6.1 Conceito. 
Causa de exclusão da ilicitude que consiste no exercício de uma prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico,
caracterizada como fato típico. 
Alcance: qualquer pessoa pode exercitar um direito subjetivo ou uma faculdade previstos em lei (penal ou extrapenal). A Constituição Federal reza que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (CF, art. 5º, II). 
Disso resulta que se exclui a ilicitude nas hipóteses em que o sujeito está autorizado a esse comportamento. Exemplo: prisão em flagrante por particular. O próprio Código Penal prevê casos específicos de exercício regular de direito, como a imunidade judiciária (CP, art. 142, I) e a coação para evitar suicídio ou para a prática de intervenção cirúrgica (art. 146, § 3º).
6.2 Natureza Jurídica
Trata-se de causa de exclusão da ilicitude, o que se extrai tanto pela rubrica marginal do art. 23 do Código Penal (“exclusão de ilicitude”), como também pela redação do dispositivo legal (“não há crime”).
6.3 Requisitos- Objetivos e Subjetivos
Possui 3 requisitos:
1) Indispensabilidade (impossibilidade de recurso útil aos meios coercitivos normais);
2) Proporcionalidade;
3) Conhecimento da situação de fato justificante (subjetivo).
Conhecimento da situação justificante: o exercício regular do direito praticado com espírito de mera emulação faz desaparecer a excludente. É necessário o conhecimento de toda a situação fática autorizadora da excludente. 
É esse elemento subjetivo que diferencia, por exemplo, o ato de correção executado pelo pai das vias de fato, da injúria real ou até de lesões, quando o genitor não pensa em corrigir, mas em ofender ou causar lesão. 
6.4 Ofendículas e a legítima defesa
 - Conceito
Têm origem nos práticos do Direito que utilizaram a palavra para indicar a prevenção de qualquer ordem apta para ofender. Apontam-se comumente alguns engenhos mecânicos, como o arame farpado, a cerca elétrica e cacos de vidro sobre muros.
Cuida-se de meios defensivos utilizados para a proteção da propriedade e de outros bens jurídicos, tais como a segurança familiar e a inviolabilidade do domicílio. 
O titular do bem jurídico prepara previamente o meio de defesa, quando o perigo ainda é remoto e incerto, e o seu funcionamento somente se dá em face de uma agressão atual ou iminente. 
Devem ser visíveis: funcionam como meio de advertência, e não como forma oculta para ofender terceiras pessoas.
- Natureza jurídica - controvérsias.
Quanto a natureza jurídica há divergências doutrinárias.
Sebastián Soler, Vicenzo Manzini, Giuseppe Bettiol e Aníbal Bruno se filiam à tese que sustenta tratar-se de exercício regular de direito. 
José Frederico Marques, Magalhães Noronha, Costa e Silva e Nelson Hungria situam o assunto como legítima defesa preordenada, alegando que, se o aparelho está disposto de modo que só funcione no momento necessário e com a proporcionalidade a que o proprietário era pessoalmente obrigado, nada impede a aplicação da legítima defesa.
Por fim, há uma teoria mista, ministrando que, no momento em que os ofendículos são instalados, ocorre um exercício regular de direito; porém, uma vez acionado, temos a legítima defesa. Esse é o entendimento do mestre Damásio.
 - Requisitos
A utilização destes meios deve ter o caráter de advertência, com as devidas precauções a fim de que o agente não responda pelo excesso. . 
Portanto, além de visíveis os ofendículos devem apenas resguardar o direito de quem os utiliza sem, contudo, violar outros direitos mais relevantes como a vida por exemplo. 
 - Consequências na esfera jurídico penal
A utilização de ofendículos do tipo meios mecânicos letais será punível, afastando qualquer causa de exclusão da ilicitude. A esse respeito existem os aparelhos mecânicos ocultos, os quais por estarem escondidos, caracterizam um excesso punível, doloso ou culposo. 
Os ofendículos, em regra, excluem a ilicitude, justamente por ser visível. Excepcionalmente, poderá haver excesso, devendo o agente por ele responder.
A defesa mecânica predisposta, tratam de aparatos ocultos com a mesma finalidade que os ofendículos. 
Por se tratar de dispositivos não perceptíveis, dificilmente escaparão do excesso, configurando, quase sempre, delitos dolosos ou culposos. 
É o caso do sitiante que instala uma tela elétrica na piscina, de forma bastante discreta, eletrocutando as crianças que a invadem durante a semana. Responderá por homicídio doloso. 
É também a hipótese do pai que instala dispositivo ligando a maçaneta da porta ao gatilho de uma espingarda, objetivando proteger-se de ladrões, mas vem a matar a própria filha. Trata-se aqui de infração culposa, provavelmente beneficiária de perdão judicial. 
6.5 Excesso - Consequências.
No exercício regular de direito, finalmente, o excesso decorre do exercício abusivo do direito consagrado pelo ordenamento jurídico. Exemplo: o pai tem o direito de corrigir o comportamento do filho, inclusive com castigos físicos moderados. 
Se ultrapassar o limite legal, lesionando desnecessariamente seu filho, responde pelo excesso. 
7. O Consentimento do Ofendido
O consentimento do ofendido significa, em linhas gerais, o ato da vítima (ou do ofendido) em anuir ou concordar com a lesão ou perigo de lesão a bem jurídico do qual é titular.
7.1 Natureza Jurídica e relação com a tipicidade
O consentimento do ofendido, a depender da construção do tipo incriminador diante do qual analisado, pode apresentar-se como:
a) causa de exclusão da tipicidade: se o tipo penal exige o dissenso da vítima enquanto um dos requisitos objetivos formais necessários à completude da figura incriminadora, é claro que o válido consentimento do ofendido exclui a tipicidade. 
Exemplo: crimes de violação de domicílio — artigo 150 do Código Penal (se alguém permite ou tolera que terceiro ingresse em sua casa, ausente estará a tipicidade da conduta) e estupro — artigo 213 do Código Penal (se a mulher consente na relação sexual, inexiste tipicidade);
b) causa supra-legal de exclusão da ilicitude: o consentimento do ofendido, fora essas hipóteses em que o dissenso da vítima constitui requisito da figura típica, pode excluir a ilicitude, se praticado em situação justificante. 
Exemplo: aquele que realiza tatuagens no corpo de terceiros pratica conduta típica de lesões corporais (art. 129 do CP), muito embora lícita, se verificado o consentimento do ofendido; aquele que inutiliza coisa de terceiro, ainda que a pedido deste, pratica conduta típica de dano (art. 163 do CP), muito embora lícita, se presente o consentimento da vítima.
 
7.2 Consequências na esfera jurídico penal
O consentimento do ofendido exclui a ilicitude da conduta, desde que presentes alguns requisitos, que são:
a) o dissentimento (leia-se: o não consentimento) não pode integrar o tipo. Exemplificando: no estupro o dissentimento, ou o não consentimento, da vítima para a prática sexual integra o tipo, logo, nesse caso, o seu consentimento exclui a tipicidade e não a ilicitude da conduta;
b) o ofendido precisa ser capaz de consentir;
c) o consentimento precisa ser livre e consciente;
d) o bem renunciado deve ser disponível e próprio;
e) o dissentimento precisa ser expresso e anterior ou concomitante à prática do fato.
Vale dizer, esta é uma causa supralegal de exclusão da ilicitude, já que as causas legais estão previstas no artigo 23 do Código Penal (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito).
Conclusão
Exercícios.
38

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