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MpMagEst Direito Civil Obrigações José Simão Data: 08/04/2013 Aula 07 MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Teoria geral dos contratos 1. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Nas sociedades primitivas, o contrato era desnecessário em razão da autossuficiência das comunidades, contudo, a sociedade se especializa e se reconhece a imperiosa necessidade de contratar. O contrato assume a posição de relevo passando a ser um dos mais importantes institutos de direito privado, pois é essencial a vida em sociedade. É na revolução francesa e no século XIX que temos o ideal de liberdade e igualdade, assim, a liberdade contratual e a igualdade entre os contratantes indicam a primazia da vontade, ou seja, é o apogeu da máxima “pacta sunt servanda”, pela qual o contrato é lei entre as partes. Neste período era impensável a intervenção do Estado sobre o contrato. Contudo, em meados do século XIX, inicia-se a revolução industrial e com isto surge a sociedade de massas, passando o direito a reconhecer que a igualdade era apenas formal e assim, passa-se a reconhecer a desigualdade. Reconhecida a desigualdade que compromete a liberdade, o direito passa a admitir a intervenção judicial sobre o conteúdo do contrato. Em um primeiro momento criam-se leis especiais para proteger certos contratantes. Ex. CLT, Lei de Locação, CDC. Supera-se o paradigma da vontade, e com isto o contrato entra em crise, pois deve-se proteger os contratantes vulneráveis. Há, portanto, uma mudança de estrutura. Esta mudança estrutural permitiu que a legislação adotasse cláusulas gerais que tem sua origem no código civil alemão de 1900. A partir das cláusulas gerais o juiz poderá interferir no conteúdo do contrato. Ex.: função social do contrato Art. 421 e boa-fé objetiva Art. 422. “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” “Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” Também no Brasil no século XX adota-se a doutrina de Pietro Perlingieri do direito civil constitucional, a partir das obras de Luiz Edson Fachin, Gustavo Tepedino e Paulo Lobo. Por esta escola o direito civil passa a ser lido pela principiologia constitucional, ou seja, o contrato é estudado de forma a dar concretude aos princípios da dignidade da pessoa humana Art. 1º, III CF, da solidariedade social Art. 3º, I e da igualdade ou isonomia Art. 5º CF. 2 de 5 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana;” “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;” “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” Na metáfora de Ricardo Lorenzete o sol ocupa o centro do sistema solar e os planetas recebem os seus raios. A Constituição ocupa o centro do sistema jurídico e os princípios atingem todas as leis que gravitam em torno da constituição. Desta escola decorrem os termos repersonalização e despatrimonialização, isto significa a primazia da pessoa humana sobre o patrimônio, ou seja, a pessoa humana volta a ocupar o centro do sistema jurídico. 1.1. Conceito de contrato: é o negócio jurídico bi ou plurilateral que cria, modifica ou extinguem direitos e deveres (relação jurídica). A prestação do contrato deve ter conteúdo patrimonial? Para o direito civil clássico a resposta é afirmativa e o código civil italiano expressamente menciona o conteúdo econômico das prestações. Contudo a doutrina admite contratos existenciais sem qualquer conteúdo patrimonial. Paulo Nalin e Álvaro Villaça ex.: contrato de direito de família sobre guarda dos filhos. Todo o contrato é negócio jurídico, mas nem todo negocio jurídico é contrato. Quanto à formação temos o negócio jurídico unilateral que se forma com uma única vontade Ex.: testamento, promessa de recompensa. Os negócios jurídicos bilaterais exigem duas vontades para sua existência. Ex.: os contratos. No plano da eficácia, alguns contratos só tem prestação e são chamados de unilaterais. Ex.: doação, mútuo. Já há contratos que são bilaterais, pois tem prestação e contraprestação. Ex.: compra e venda. Existência Eficácia Negocio Jurídico unilateral (uma vontade) ex. Testamento Negócio Jurídico bilateral (duas vontades) Unilateral = uma prestação Bilaterais = prestação/contraprestação Obs.: o contrato é um negócio jurídico abstrato que não se confunde com seu instrumento que é o papel. 1.2. Planos do contrato: A partir do direito alemão, Pontes de Miranda definiu que o negócio jurídico possui três planos: (i) existência; (ii) validade; e (iii) eficácia. 3 de 5 Eficácia Validade Existência Os planos podem ser estudados na forma de uma escada. Os degraus indicam uma ordem lógica pela qual se o negócio existe verifica-se se é válido e se existe e é válido, verifica-se sua eficácia. Como exceção o negócio pode existir, ser inválido, mas produzir efeitos. Ex.: casamento putativo. 1.2.1. Plano da existência: aquilo que não existe é o nada jurídico, ou seja, o inexistente não pode produzir efeitos. Elementos de existência: (i) Partes; (ii) Objetos; (iii) Forma; (iv) Vontade; Estes elementos compõe o mínimo do suporte fático e estando presentes o contrato existe. 1.2.2. Plano da validade: trata-se de verificar se o negócio ofende ou não alguma norma. Caso ofenda o negócio pode ser nulo ou anulável Elementos de validade: (i) Partes capazes; (ii) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; (iii) Prescrita ou não proibida em lei; (iv) Vontade livre Obs.: o artigo 104 do código civil reúne os requisitos de validade, contudo, não os esgota. 1.2.2.1. Requisitos subjetivos: Obs.: diferença de incapacidade ou ilegitimidade – incapacidade é genérica e se refere a todos os atos da vida civil ex.: o menor com 12 anos não pode vender, doar, locar, etc. a) Capacidade das partes (art. 3º e 4º do CC) “Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; 4 de 5 III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. b) Legitimação ou legitimidade – diz respeito a prática de certos negócios jurídicos por determinadas pessoas, estes negócios serão anuláveis por expressa previsão legal ex.: é anulável a venda de ascendente à descendente sem a concordância dos demais descendentes e do cônjuge do alienante, salvo, se casado pelo regime de separação obrigatória de bens. Art. 496 do CC. “Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e ocônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória.” Obs.: separação obrigatória é a imposta por lei art. 1.641: Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. Obs.: na separação obrigatória, o cônjuge não concorre com os descendentes Art. 1.829, I. E, portanto a venda de ascendente ao descendente não o prejudica. “Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;” Obs.: para a alienação de bens imóveis é necessária a concordância do cônjuge sob pena de anulabilidade, salvo se o regime for o de separação total de bens, ou seja, separação por força do pacto antenupcial. 5 de 5 Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada. 1.2.2.2. Requisitos objetivos: 1.2.3. Plano da eficácia Próxima aula (requisitos objetivos)
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