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MpMagEst Direito Civil José Simão Data: 16/05/2013 Aula 09 MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Princípios dos contratos 1. PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS 1.1. Princípios Sociais: tais princípios decorrem de dois princípios estruturantes do código civil (Miguel Reale). (i) Socialidade: significa o abandono do modelo anterior (código de 1916, denominado oitocentista, idealizado no século XIX) pelo qual o indivíduo tinha primazia sobre a coletividade. Socialidade significa que o atual código prestigia a coletividade em detrimento do individuo. Deste princípio surge a função social do contrato. Ex.: redução dos prazos de usucapião, prestigiando a coletividade em detrimento do proprietário. (ii) Eticidade: é o abandono ao formalismo jurídico e a valorização de condutas éticas do indivíduo. O juiz deixa de ser a “boca da lei” o que é típico do sistema fechado, e passa a dar concretude às cláusulas gerais por meio de valores éticos (sistema aberto). É da eticidade que decorre o princípio da boa-fé objetiva. a) FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS (ART. 421 DO CC). “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” A função do contrato é a circulação de riquezas, o que é essencial em uma sociedade altamente especializada. A função social permite ao juiz analisar a justiça interna do contrato e seu impacto perante a sociedade, portanto, o princípio admite que a circulação de riquezas está sujeita ao controle judicial. Trata-se de princípio de ordem pública, pois o artigo 2.035 p. único do CC. prevê que nenhuma convenção prevalecerá se contrariar a função social do contrato. Ou seja, o contrato pode ser considerado inválido ou ineficaz se não observar a função social. “Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.” Obs.: a função social não elimina a autonomia privada, mas mitiga, reduz o alcance deste princípio para garantir interesses coletivos ou dos próprios contratantes. 2 de 3 Definição (Flávio Tartuce): é o princípio social de ordem pública pelo qual o contrato deve ser necessariamente interpretado de acordo com o contexto da sociedade e visa principalmente a proteção do vulnerável. A doutrina admite dupla eficácia para a função social e a jurisprudência tem confirmado este duplo efeito, quais sejam: (i) Eficácia interna: diz respeito aos próprios contratantes. O contrato deve ser bom e equilibrado para ambos os contratantes. Se o contrato já nasce desequilibrado, ou seja, tem um vício na formação, não atende a função social em sua eficácia interna ex.: estado de perigo (art. 156) e lesão (art. 157). Ex.: contrato de adesão é aquele em que uma das partes estipula as condições contratuais e a outra simplesmente adere. Como este contrato é naturalmente desequilibrado na sua formação, o código traz vantagens ao aderente (art. 423). Em havendo ambiguidade no contrato, este deve ser interpretado de maneira favorável ao aderente. É nula a cláusula que impõe ao aderente renúncia a direitos decorrentes da natureza do contrato ex.: renúncia ao direito à indenização por parte do consumidor (danos causados por estacionamento de veículo). “Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.” Obs.: a súmula 335 do STJ admite ser válida a cláusula de renúncia à indenização e retenção quanto às benfeitorias em contrato de locação de imóvel. Contudo, o alcance da súmula se refere aos contratos paritários – onde as partes de comum acordo estipulam as clausulas contratuais –, pois sendo de adesão a cláusula é nula. Enunciado 433 do CJF. Súmula 335 do STJ – Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renuncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.” (ii) Eficácia externa: é a função social e os efeitos dos contratos contra terceiros que dele não fizeram parte. É a mitigação do princípio da relatividade dos efeitos entendendo-se o contrato não como mera relação individual, pois devem ser considerados seus efeitos econômicos, ambientais e sociais que atinjam terceiros. É a chamada tutela externa do crédito. Pelo art. 608 se houver aliciamento de prestador de serviços por um terceiro, aquele que aliciou (terceiro cumplice) paga ao tomador prejudicado o que ele pagaria ao prestador pelos próximos 02 anos. “Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.” No contrato de seguro de responsabilidade civil, tradicionalmente a vítima demanda o segurado e este se vale da denunciação da lide para trazer o segurador ao processo. 3 de 3 Contudo, atualmente, tem-se admitido que a vítima demande diretamente o segurador, ou seja, a vítima recebe os efeitos de um contrato do qual não participou. b) BOA-FÉ OBJETIVA (art. 422): a boa-fé objetiva não estava presente no código de 1916, mas apenas no código de defesa do consumidor. O código civil de 2002 cria uma cláusula geral de boa-fé objetiva. O código de 1916 ao mencionar boa-fé, referia-se a boa-fé subjetiva. “Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” Espécies de boa-fé: (i) Subjetiva: é a boa-fé crença, ou seja, um estado psicológico. Significa conhecer ou desconhecer certo fato. Você sabia? Ex.: o casamento putativo produz efeitos para o cônjuge de boa-fé, ou seja, aquele que desconhece o vício do casamento. Ex.: possuidor de má-fé é aquele que conhece os vícios da posse. Possuidor de boa-fé é aquele que desconhece os vícios da posse (o invasor é possuidor de má-fé) (ii) Objetiva: é uma norma ética de conduta pela qual os contratantes devem agir de maneira leal, não abusando da confiança alheia. É agir com correição. Se há um norma ética de conduta é a chamada boa-fé lealdade (parágrafo 242 do código Civil Alemão – Treu Und Glauben – confiança). A boa-fé objetiva tem três funções: a) Interpretativa b) Ativa (criação de deveres para os contratantes) c) Reativa (ou limitadora de direitos da outra parte)
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