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Disciplina FORMAÇÃO ECONÔMICA BRASILEIRA Professor Dr. Hélio Benedito Costa São Paulo Março - 2004 Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB2 Apresentação Ao iniciar este módulo, gostaria de desejar bons estudos e sucesso em sua aprendizagem. Gostaria de começar falando um pouco desta disciplina, Formação Econômica do Brasil. A História Econômica é um ramo doconhecimento que compreende o relato do processo das relações sociais que os homens estabeleceram entre si desde os primórdios da humanidade, processo este que deve ser olhado, lido e analisado levando-se em conta suas contradições e convergências, seus retrocessos e evolução. É neste sentido que o graduando dos cursos da Faculdade On-line UVB vai buscar nas lições da história dos homens o contexto histórico, o espaço geográfico e as circunstâncias da forma como produzem e repartem a riqueza econômica e os bens da sociedade. A disciplina Formação Econômica Brasileira tem, portanto, este sentido, o de clarear o processo de como se estabeleceu, se formou e se consolidou a produção e a distribuição da riqueza produzida pela economia brasileira em suas diferentes fases. Sendo assim, esta matéria está inserida no contexto das demais, dentro do primeiro módulo, cumprindo o objetivo da interdisciplinaridade, ou seja, a interação com as demais disciplinas do módulo e do curso, auxiliando-o na interpretação do mercado nas suas diversas manifestações históricas, para lhe dar condições de identificar oportunidades e riscos. O rigor metodológico da análise histórica o ajudará no estabelecimento de metas e prazos, levando-o a refletir sobre recursos necessários para a produção de determinados bens econômicos pela economia brasileira. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB3 Ementário As características da colonização brasileira: os ciclos econômicos. As lutas pela formação da Nação Brasileira. O processo de industrialização e o Capitalismo Tardio no Brasil. Análise da economia brasileira nos anos de (19)30 do século XX. O papel do Estado no processo de industrialização. Industrialização por substituição de Importações (suas fases). Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB4 Habilidades e Competências 1. Identificar os principais componentes do ambiente de negócios. 2. Relacionar os diferentes segmentos de mercado e sua atuação no contexto local e geral. 3. Diferenciar as categorias empresariais de acordo com as diferentes dimensões. 4. Analisar impactos da globalização na competição entre empresas. 5. Identificar diferentes percursos de informação e seus impactos na tomada de decisão. 6. Comparar estruturas organizacionais e relacionar as principais implicações em cada modelo. 7. Interpretar linhas de comando, fluxo de informações, e rotinas de controle . Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB5 Sumário Aula 01. Apresentação da Disciplina. Conceito de História Econômica. Aula 02. A Expansão Comercial Européia e a Ocupação das Terras Americanas Aula 03. As Características da Colonização Brasileira Aula 04. O papel da Escravidão na Estrutura e Dinâmica do Antigo sistema colonial. Aula 05. A expansão territorial nos séculos XVII e XVIII. Aula 06. Holandeses no Brasil e o fechamento do ciclo econômico da cana de Açúcar Aula 07. Gestação e funcionamento da economia mineira (século XVIII). Aula 08. Fluxo de Renda e Regressão da Economia Mineira Aula 09. Crise do Antigo Sistema Colonial Aula 10. Situação Econômica ao final do século XVIII e Declínio econômico nas primeiras décadas do século XIX. Aula 11. Gestação da Economia Cafeeira (século XIX). Aula 12. O Problema da Mão-de-obra: a Escravatura e o Trabalho Livre. Aula 13. O Comércio do Café e a industrialização. Aula 14. Urbanização e Novas Forças Sociais. Aula 15. Crise Econômica de 1929 e Revolução de 1930. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB6 Aula 1 Apresentação da Disciplina e Conceito de História Econômica Objetivos da Aula Apresentar a disciplina, situando-a no contexto interdisciplinar do semestre. Analisar noções de história econômica e buscar as razões da ocupação das terras americanas à época dos grandes descobrimentos, identificando as características da formação econômica brasileira em sua origem. O aluno, ao final da aula, terá desenvolvido habilidades para identificar as características da formação econômica do Brasil a partir do estudo de sua história econômica. Antes de iniciarmos a aula propriamente dita, é importante colocar um rápido comentário a respeito das áreas de conhecimento humano. A disciplina Formação Econômica Brasileira faz parte da preocupação dos estudos das disciplinas da área de conhecimento em História, que por sua vez, de forma mais ampla, está inserida no conjunto das chamadas Ciências Humanas. Tem fronteira e interage com várias outras, como a Antropologia (estudo do homem), a Sociologia (estudo da sociedade e seus fenômenos), a Geografia (estudo do meio), a Ecologia (meio- ambiente) e, particularmente, com a Economia. Portanto, estudar a história da formação e consolidação da economia de um país quer dizer voltar no tempo, já que a História é o estudo do processo Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB7 social anterior ao presente. Sem dúvida ela está ligada aos aspectos da Ciência Econômica (pois se verifica o processo das relações econômicas anteriores). Está, também, tocando nos aspectos sociológicos, porque se as relações econômicas constituem a base para se compreender os processos históricos, estas condicionam as formas das relações sociais que se estabelecem em determinados períodos históricos. Deste modo é possível definir História Econômica, de acordo com a seguinte noção: Ciência que se dedica ao estudo das relações sociais que os homens estabelecem entre si, nos diferentes períodos históricos, visando a produção social que supre a sociedade dos bens e serviços necessários à sua reprodução. É, portanto, a história da vida dos homens que é condicionada pela forma como estes produzem bens para sua sobrevivência, quer dizer, para a reprodução de sua própria vida. Assim, a produção e a repartição (distribuição) deste produto social dependem da forma com que as relações de produção (relacionamento entre os diferentes estratos e classes sociais) se estabelecem. Neste conceito estão embutidas outras categorias de análise que estão presentes e são preocupações desta disciplina: · Modo de Produção; · Classes sociais; · Periodização em história. Em relação ao Modo de Produção, pode-se dizer que é uma categoria de análise econômica que muito auxilia na compreensão do processo da história da humanidade. Como seu nome indica, é a forma como a sociedade, em determinados períodos de sua Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB8 história, promove a produção de seus bens e serviços. A essas formas correspondem determinadas Relações de Produção. Por sua vez, estas estão intimamente ligadas à divisão de Classes Sociais desta coletividade. A isto se chama Base Econômica de determinada economia e sociedade. Esta última (definidas como as relações de produção entre as classes sociais), por sua vez, é influenciada pelo que se chama de Ideologia. Por conseguinte, a um determinado modo de produção, pode-se dizer que corresponde um sistema de leis, religião, atitudes sociais e éticas, etc., que são as formas de expressão da ideologia de uma sociedade. Pode-se distinguir, na história da humanidade, quatro grandesmodos de produção pelos quais a sociedade passou: 1. Comunidade primitiva: no início os homens se reuniam em comunidades e tribos; os bens adquiridos pela sociedade eram comuns a todos os seus membros; não havia propriedade privada dos Meios de Produção (instrumentos de produção). 2. Sociedade e Economia Escravagista: a sociedade se transforma quando se dá a primeira grande divisão de classes sociais e mudam-se, assim, as relações de produção, com a divisão em senhores e escravos. Estas sociedades são as grandes civilizações da Mesopotâmia, Egito, Grécia, Roma. 3. Sociedade e Economia Feudal: vigorou durante o período da Idade Média européia. A relação de produção dava-se basicamente entre as duas principais classes sociais, nobres e servos. 4. Sociedade e Economia Capitalista: começa sua gestação durante o feudalismo, com o crescimento das cidades e do artesanato. É impulsionado pela expansão comercial dos séculos XI ao XV e, depois pelas grandes descobertas marítimas. Duas classes básicas neste modo de produção: capitalistas e operariado. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB9 É necessário ressaltar que este é um grande esquema que ajuda a compreender o processo geral da história da humanidade. Por detrás destas categorias e conceitos estão subjacentes toda a complexidade da análise histórica. Por exemplo, não se pode datar exatamente quando começa e termina um modo de produção. Já que se está falando em processos, estes não são estanques. Neste sentido, poder-se-ia dizer que a determinado período corresponderia a um modo de produção dominante, mas que, em determinadas circunstâncias, poderia conviver com relações de produção arcaicas, isto é, de modos de produção anteriores ou mesmo preconizar novas formas de relações. Veja-se o caso da gestação do capitalismo, que durante os primeiros séculos de sua formação conviveu com relações de produção feudal, até se tornar vitorioso – no caso da França, com a Revolução Francesa de 1789. Então, para fi xar este conceito, leia estas defi nições: “Modo de Produção: conceito da Economia Marxista que é defi nido pelo conjunto das forças produtivas e das relações de produção. O modo de produção se confunde de certa maneira, com a estrutura econômica da sociedade, englobando a produção, distribuição, circulação e consumo. Em O Capital, Marx se ocupa fundamentalmente em analisar o modo de produção capitalista, mas não chegou a defi nir com clareza o conceito de modo de produção. 1Louis Althusser entende o modo de produção como uma totalidade que articula a estrutura econômica, a estrutura ideológica (idéias, costumes). A existência concreta de um modo de produção estaria numa formação social localizada. Para outros teóricos marxistas, o conceito de formação social abrange o modo de produção e a superestrutura da sociedade. Teoricamente, numa formação social concreta podem estar presentes vários modos de produção, tendo um como dominante. Distinguem-se, ao longo da história, vários modos de produção: o comunista primitivo, o 1 LOUIS ALTHUSSER. Filósofo francês, de origem argelina, que se notabilizou na década de 1960 por defender uma nova interpretação do pensamento marxista. Analisando as idéias de Marx do ponto de vista da distinção entre ideologia e ciência, Althusser opôs-se às interpretações correntes na época, que centravam o marxismo na teoria da alienação e o aproximavam de Hegel. Para Althusser, seria necessário restabelecer o sentido econômico do marxismo. Ler o Capital, publicado em 1964, e Pour Marx, de 1965, estão entre suas principais obras. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB10 escravista, o feudal, o capitalista e o socialista. Embora a questão da sucessividade histórica obrigatória dos modos de produção tenha dominado os estudos marxistas por muito tempo, ela não encontra respaldo teórico nas obras de Marx e mesmo de Engels.” (SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1987, p.283). Por sua vez, após definir modo de produção, fica clara a noção de classe social: “Classe Social: cada um dos grandes grupos diferenciados que compõe a sociedade. Os critérios para se definir um grupo social como classe são motivos de divergências. De modo geral, nessa caracterização se privilegiam fatores sócio-econômicos tais como riqueza, apropriação dos meios de produção, posição no sistema de produção, profissão, nível de consumo e origem dos rendimentos, entre outros. Considera-se ainda que os membros de uma classe social, além de terem no conjunto os mesmos interesses, tendem a compartilhar valores semelhantes. Para Marx, o que caracteriza uma classe social é sua posição no processo de produção, sua relação com o sistema de propriedade. No capitalismo, ele identificou duas classes sociais principais: burguesia (proprietários dos meios de produção) e proletariado (trabalhadores que vivem de salário). Seria essa, também, a base objetiva dos conflitos político-sociais e das transformações históricas. Outros autores consideram que atualmente a hierarquização social se processa no âmbito das diferenças profissionais. Argumentam que a mobilidade social nas modernas sociedades industriais, em decorrência da ampliação das oportunidades, contribuiria para a expansão das camadas médias e para a atenuação dos conflitos de classe, mais próprios do capitalismo passado. Nas pesquisas de mercado, as classes são identificadas pura e simplesmente por estarem dentro de certas faixas (A, B, C, D, etc.) construídas a partir dos níveis de renda e de consumo dos Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB11 indivíduos.” (SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1987, p.65). Finalmente, há ainda a questão da Periodização na História. Depende do historiador a decomposição do tempo passado, pois este a escolhe de acordo com sua visão de mundo: “A história tradicional, atenta ao tempo breve, ao indivíduo e ao acontecimento, habituou-se desde há muito à sua narração precipitada, dramática, de pouco fôlego. A nova história econômica e social coloca no primeiro plano da sua investigação a oscilação cíclica e aposta na sua duração: deixou- se iludir pela miragem – e também pela realidade – dos aumentos e quedas cíclicas dos preços. Desta forma, existe hoje, a par da narração (ou do recitativo) tradicional, um recitativo da conjuntura que para estudar o passado o divide em amplas secções: períodos de dez, vinte ou cinqüenta anos. Muito acima deste segundo recitativo, situa-se uma história de fôlego ainda mais contido e, neste caso, de amplitude secular: trata-se da história de longa, e mesmo de muito longa, duração.” (BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. Biblioteca de Ciências Humanas. Trad. Rui de Nazaré. Portugal/Brasil: Editorial Presença e Livraria Martins Fontes, 2ª Edição, 1976, p.11-12). Portanto, como nas demais ciências sociais, na História e na Economia, os aspectos ideológicos condicionam o estudo de determinados períodos ou sociedades do ponto de vista histórico. Assim, iremos nos dedicar a estudar a formação da economia brasileira, desde o período colonial até os anos 1930, sob seus aspectos estruturais. Em linhas gerais, podemos dizer que trataremos do estudo da inserção da economia colonial no concerto do pacto colonial que vigorou nos séculos imediatos às grandes descobertas marítimas dos séculos XIV e XV. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB12 Em seguida, nossos esforços se voltarão à análise dos cicloseconômicos do Brasil colônia e, já na pós-independência, ao ciclo econômico cafeeiro, para terminarmos a disciplina nos dedicando ao estudo da grande crise de 1929. Esta periodização e os temas que serão abordados nos permitirão, de maneira geral, inserir a economia brasileira, em sua conformação, no âmbito do chamado capitalismo comercial mercantilista do início ao final dos anos de 20, este como momento de ruptura que permitiu acelerar um processo de industrialização que já vinha acontecendo. Em assim fazendo, evidentemente, emergirão as contradições sociais e políticas da formação econômica brasileira. Outros atores e conceitos surgirão, como a Divisão Internacional do Trabalho, economias centrais e periféricas, dentre outros. Resumindo, é preciso lembrar que a Ciência é formada pelo conjunto do conhecimento acumulado pelo homem nas diversas áreas da atividade humana: a história dos homens tem importante papel neste grupo e, ao estudar o passado, ajuda a explicar e a compreender os fenômenos presentes. Ao finalizar este nosso primeiro contato, gostaria de ressaltar o apelo que esta disciplina de conteúdo histórico-econômico tem para todos nós: é, precisamente, possibilitar o conhecimento do passado de nosso processo de crescimento econômico, com seus percalços, retrocessos, mas também com seus avanços. É a história da luta para a formação de uma economia, portanto de uma sociedade e de uma nação. É o passado que pode explicar e ajuda a entender o nosso presente. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB13 Referência Bibliográfica BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. Biblioteca de Ciências Sociais. Trad. Rui de Nazaré. Portugal/Brasil: Editorial Presença e Livraria Martins Fontes, 2ª Ed., 1976. DE CASTRO, Anna e DIAS, Edmundo F. MARX, in Introdução ao Pensamento Sociológico, 6ª Ed., Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1978, pp.153-196. MARX, Karl. Introdução à Crítica da Economia Política. In Contribuição à Crítica da Economia Política. Trad. Maria Helena Barreiro Alves. São Paulo: Ed. Martins Fontes., 1977. pp. 199-231. SANDRONI, Paulo. Dicionário der Economia. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda., 1987.
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