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Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB22 Aula 3: As Características da Colonização Brasileira Comparação entre as colônias de povoamento do hemisfério norte e as de exploração do sul. Objetivos da Aula Apresentar e discutir as especificidades da colonização das terras brasileiras, e identificar as diferenças entre colônias de exploração (Brasil) e as colônias de povoamento (Estados Unidos). Esta aula aportará ao aluno conhecimentos que lhe permitirão desenvolver habilidades para comparar diferentes tipos de colonização do continente americano, levando-o a identificar, a partir daí, algumas implicações na formação econômica destes países, como também a estabelecer as principais características da colonização, ainda em seu início. Finalmente, permitirá, através de exercícios, a estabelecer o relacionamento desta disciplina às demais e ao próprio projeto interdisciplinar Na aula anterior, analisamos as relações entre o descobrimento e a ocupação das terras americanas, por Portugal e Espanha, como prolongamento da expansão comercial européia anteriores aos séculos das grandes descobertas marítimas. Nesta aula, iremos estudar as características da colonização das terras brasileiras. Como já tivemos a oportunidade de relatar, a formação da Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB23 economia brasileira se deu, desde seu início, pelo que se convencionou chamar na historiografia, pela sucessão de ciclos econômicos. Com efeito, tivemos o ciclo de exploração e exportação do pau-brasil, mas foi a da grande empresa açucareira o primeiro grande ciclo econômico. Tomando como referência o material já estudado na aula anterior e também os textos indicados para esta aula, constatamos que o produto escolhido pelos portugueses para ocupar o território brasileiro foi a cana-de-açúcar. Como era essa produção? Quais suas características? 1. Monocultura 2. Plantio em larga escala, à semelhança das plantations; 3. Grandes áreas produtoras; 4. Mão-de-obra escrava em grande quantidade; 5. Iniciativa privada. Você vai entender todas estas características pela leitura do material de referência desta aula. O primeiro texto diz respeito à organização e ao funcionamento da grande empresa açucareira. Por ele, poderemos apreender o processo de sua implantação e consolidação. O segundo texto, de Celso Furtado, aprofundará o tema das diferenças de colonização: ocupação e exploração e as colônias de povoamento. Primeira Leitura A Estrutura da Produção Açucareira Como a maioria dos gêneros tropicais produzidos pelas colônias européias a partir do século XVI, o plantio da cana-de-açúcar só Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB24 tinha sentido, economicamente falando, se efetuado em larga escala, em grandes unidades produtoras, ou seja, as enormes fazendas e engenhos, onde se empregava muita quantidade de mão-de-obra. Seria absurdo, por exemplo, pensar numa produção açucareira realizada em sítios ou chácaras, utilizando mão-de-obra familiar. A rentabilidade da produção estava na razão direta do vulto da empresa, pois o investimento inicial em equipamentos e escravos, sendo enorme, exigia um retorno amplo. Desta forma, chegamos a uma característica básica da estrutura agrícola colonial no Brasil: ela foi marcada pela grande propriedade latifundiária, utilizando o trabalho escravo (primeiro o indígena, depois o negro africano). É a plantation, como a batizou Caio Prado Jr., por comparação às fazendas do sul dos Estados Unidos. A empresa agrícola açucareira, desde que integrada nos esquemas colonial-mercantilista europeus, estava inteiramente voltada para o mercado exterior. Ela nasceu e se desenvolveu em função do atendimento de demandas externas; e não podia ser de outro modo: como todas as colônias tropicais e subtropicais, sua lucratividade estava exatamente no fornecimento de gêneros inexistentes na Europa e muito apreciados no Velho Mundo, quer fossem matérias- primas ou produtos primários. Diferentes foram, por exemplo, as colônias inglesas na América do Norte, nos Estados Unidos. Ali os povoadores foram principalmente calvinistas perseguidos pelos Stuart e que emigraram para a América, pensando em formar uma nova pátria, sem intenções de retornar às terras de origem, situação extremamente comum entre os colonos portugueses do Brasil. Além do mais, o clima temperado (semelhante ao da Inglaterra) não favorecia o cultivo de gêneros inexistentes na Europa. Desta maneira, vê-se florescer em Massachusetts, Connecticut, Rhode Island uma economia voltada para o mercado interno. No Brasil, o açúcar seria produzido para ser vendido somente aos Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB25 consumidores europeus e em relação exclusiva e íntima com os interesses econômicos da metrópole. Daí o caráter monocultor da economia brasileira colonial, que impediu a diversifi cação econômica, capaz de atender às necessidades de consumo dos colonos. Desde o começo da instalação da cultura canavieira em terras brasileiras, ela foi marcada pela predominância da iniciativa privada. Cooperando com os esforços dos donatários, negociantes portugueses adiantavam dinheiro aos colonos para a montagem de seus engenhos e outros se associavam com os respectivos senhores. Muitos colonos de menos posses arrendavam terras próximas e recebiam de seus proprietários pagamento em açúcar pela cana que lhes davam (eram as chamadas fazendas “obrigadas”). Na Bahia, o Governador estabelecia um “lagar¹” para serviço dos colonos, numa verdadeira cooperativa; muitos deles conseguiam assim sua independência, montando a seguir seus próprios engenhos².” Devem-se levar em consideração, apesar disso, os incentivos dados pela coroa portuguesa aos que se dispusessem a lavrar e a construir as terras. Na capitania real de São Salvador, por exemplo, era concedida uma isenção de impostos por um período de dez anos aos colonos que ali construíssem engenhos. Outro exemplo deste apoio da coroa aos empreendimentos coloniais foi o alvará manuelino, que ordenava o fornecimento de machados, enxadas, ferramentas, cobre e ferro a quantos se propusessem a fundar engenhos. As terras eram doadas sob a forma de sesmarias aos colonos que se dispusessem a cultivá-las, com recursos próprios ou emprestados, tendo os sesmeiros a obrigatoriedade de tornar a terra produtiva; deviam também pagar ao proprietário (donatários, capitão-mor ou à própria coroa) certos tributos, fi xados percentualmente. A idéia da doação de sesmarias já tinha sido aplicada em Portugal, anteriormente, numa tentativa de diminuir o sensível declínio da agricultura lusitana. “Quando no reinado de D. Fernando I”, – escreve 1 Espécie de tanque onde se espremia a cana para tirar-lhe o sumo. 2 Simonsen, Roberto C. História Econômica do Brasil, Tomo I, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1937, p.148. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB26 Cirne Lima – “se publicou a Lei das Sesmarias era velha já a praxe de se tirarem aos donos as terras cultivadas, que estes desleixavam, para entregá-las, mediante foro ou pensão devidamente arbitrada, a quem as quisesse lavrar e aproveitar.”³ Aqui no Brasil, a sesmaria foi a fórmula decisiva para atrair homens e recursos para o desenvolvimento agrícola, embora quase nunca tenha sido cumprido o preceito de retornar as terras não-aproveitadas. “Coube a Martim Afonso de Souza, a quem a Metrópole conferira amplos poderes pelas três cartas régias de 20 de novembro de 1530, lançar as bases, na colônia ainda desprezada,de uma nova política econômica que se apoiaria solidamente em duas instituições – a sesmaria e o engenho – as quais constituíram os pilares da antiga sociedade colonial.” Guimarães, Alberto Passos, Op.cit., p. 45. Tinham as sesmarias, em geral, de uma a quatro léguas de largura (ou seja, entre seis e vinte e quatro quilômetros) e seus usufrutuários comporiam a camada dominante, a aristocracia rural, os “homens bons” da colônia. Lavoura canavieira, cultivada em vastos latifúndios por trabalhadores escravos, cujo produto era elaborado nos engenhos: eis um sumário da base econômica sobre a qual se montou a colonização brasileira. O Engenho O primeiro engenho construído no Brasil é devido às ordens de Martim Afonso de Souza (1533) na capitania de São Vicente. Chamou- se engenho São Jorge. Mais tarde, adquirido pelo alemão Erasmo Esquert, passou a ser conhecido como S. Jorge dos Erasmos. Em 1535, próximo de Olinda (Pernambuco) era construído outro importante engenho, chamado Nossa Senhora da Ajuda ou Engenho Velho, de propriedade de Jerônimo de Albuquerque. 3 Cirne Lima, Rui, Citado por Alberto Passos Guimarães in Quatro Séculos de Latifúndio, Editora Paz e Terra, Rio, 1968, p.43. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB27 Pero de Magalhães Gandavo, escrevendo possivelmente na sexta década do século XVI, nos relaciona os engenhos por esta época existentes no Brasil: Itamaracá 1 engenho e 2 em construção Pernambuco 23 engenhos, dos quais 3 ou 4 em construção Bahia de Todos os Santos 18 engenhos Ilhéus 8 engenhos Porto Seguro 5 engenhos Espírito Santo 1 engenho São Vicente 4 engenhos Gandavo fornece assim um total de 62 engenhos de açúcar, sendo cinco ou seis em construção4. Havia os engenhos “trapiches”, movidos por tração animal (bois ou cavalos); outros, denominados “engenhos reais”, eram movimentados por força hidráulica; dividiam-se em “copeiros”, “meio-copeiros” e “rasteiros”, conforme a altura da queda d’água. 5 Deve-se ressaltar que os engenhos reais eram bem mais produtivos do que os “trapiches”, embora em épocas de seca duradoura, se mostrassem menos efi cientes. Os “trapiches” eram movidos por sessenta bois, dispostos em turmas de doze, que faziam revezamentos, trabalhando um total de quinze a dezesseis horas por dia. Ambrósio Fernandes Brandão, autor dos Diálogos das Grandezas do Brasil (1618), afi rma-nos que um bom engenho devia contar, no mínimo, com cinqüenta escravos, quinze juntas de bois, além de muita lenha e dinheiro. “O engenho constituía um organismo completo e que, tanto quanto possível, se bastava a si mesmo. Tinha capela, onde se rezavam as 4 Cf. Tratado da Terra do Brasil, Editora Obelisco, São Paulo, 1964, p.73 a 80. 5 Cf. Bruno, Ernani Silva. Historia do Brasil; Geral e Regional, Volume 2, Editora Cultrix, São Paulo, 1967, p.40 e 41.. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB28 missas. Tinha escola de primeiras letras, onde o padre mestre ensinava meninos. A alimentação diária dos moradores e aquela com que se recebiam os hóspedes freqüentemente agasalhados, procediam das plantações, das criações, da caça, da pesca, proporcionadas pelo próprio lugar. Também no lugar montavam-se as serrarias de onde saíam acabados o mobiliário, os apetrechos do engenho, além da madeira para as casas; a obra dessas serrarias chamou a atenção do viajante Tollenare pela sua execução perfeita.” 6 A casa do engenho possuía toda a maquinaria e instalações fundamentais para a obtenção do açúcar. Primeiramente, era usada a moenda, onde se extraia a garapa da cana. Em seguida, a caldeira, necessária ao fornecimento do calor para apurar o caldo; depois, no tendal das forças, o açúcar era condensado e, fi nalmente, na casa de purgar, completava-se seu clareamento. Guardado em caixas de até 50 arrobas (cerca de 750 kg), ia então enviado para o reino. Um engenho tinha uma produção que oscilava entre três mil e dez mil arrobas anuais. A exportação pernambucana do produto – calculava o Padre Fernão Cardim – era de perto de duzentas mil arrobas anuais, no fi nal do século XVI. Na maioria dos engenhos havia uma destilaria de aguardente, funcionando como atividade subsidiária. Há inclusive a existência de engenhos exclusivamente produtores da cachaça, denominados engenhocas ou molinetes. Servia a aguardente como elemento de troca no escambo de escravos, sendo assim de uma importância econômica relativamente grande. Atividades complementares A par da atividade econômica fundamental – a produção do açúcar – desenvolveram-se na colônia aquilo que poderíamos chamar de “atividades complementares”. Trata-se do cultivo de outros gêneros, 6 Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, José Olympio Editora, São Paulo, 2ª Edição, 1948, p.102. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB29 além da cana, que ou eram produtos necessários à subsistência dos colonos e escravos, ou constituíam elementos de menor índice de participação na pauta de exportações da América Portuguesa. Como exemplos temos as plantações de mandioca, milho, arroz e feijão, a pecuária, as lavouras de algodão e tabaco. Culturas de Subsistência Quando tratamos das lavouras de subsistência, devemos ter sempre em mente que se trata de cultivos secundários: o açúcar era o lucro; o resto era plantado apesar da cana. A mandioca é um bom exemplo: apesar de ser elemento básico da dieta dos brasileiros quinhentistas, era insufi ciente, notadamente nos setores onde a concentração populacional era mais elevada. Preferiam os senhores de engenho aumentar as áreas dos canaviais, em detrimento do plantio da manihot (mandioca). Este fato obrigou a coroa portuguesa a baixar leis, forçando os colonos a plantarem mandioca, bem como outros gêneros alimentícios, embora tais decretos nem sempre tenham sido cumpridos ao pé da letra. “Um grande senhor de engenho chegara a lançar seu formal desafi o às leis que o compeliam ao plantio de mandioca: ‘Não planto um só pé de mandioca’, escrevera ele dirigindo-se às autoridades, para não cair no absurdo de renunciar à melhor cultura do país, pela pior que nele há...” 7 Da mandioca extraia-se a “farinha-de-pau” e a “farinha-de-guerra”, formas diferentes de conservação do alimento: a primeira era usada, em geral, para um consumo imediato ou próximo, enquanto a segunda servia para ser estocada, chegando a durar mais de um ano, sem se estragar. Pecuária Segundo Ernâni Silva Bruno, a pecuária apareceu no nordeste em meados do século XVI. Sua importância econômica torna-se evidente 7 Prado Jr., Caio. História Econômica do Brasil, Ed. Brasiliense, São Paulo, 6ª Edição, 1961, p. 43. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB30 quando pensamos que, além de ser fator de destaque na alimentação, o boi desempenhava também um papel relevante como animal de tração (nos engenhos “trapiches” e no transporte das caixas de açúcar até os portos de embarque). Mesmo assim, também neste caso a pecuária foi como que empurrada para o interior pelo açúcar. Desenvolveu-se a criação, por conseguinte, em áreas pouco favoráveis: pastos escassos, pouca chuva, clima muito quente. Reses magras e poucas – de acordo com Caio Prado Jr., levando em conta a área global do nordeste. Nunca houve mais de duas cabeças por quilometro quadrado, fornecendo perto de 120 kg de carne por rês – eis o retrato da pecuária nordestina nos séculos XVI e XVII. As fazendas de gado ocupavam uma área média de 18 quilômetros quadrados, sendo cuidadas por, no máximo, quinze homens, recrutados entre“índios, mestiços (...), criminosos escapos da justiça, escravos em fuga, aventureiros de toda ordem.” 8 Devemos notar que o trabalho escravo era aqui inexistente; não havia condições de controle para isso, pois as fazendas, geralmente, fi cavam afastadas dos centros mais povoados. Os vaqueiros, via de regra, trabalhavam em regime de parceria, recebendo algumas reses como paga do serviço. Tabaco Não mais em termos de subsistência, mas como produto de exportação, aparecia o cultivo do tabaco. “Imediatamente em seguida ao açúcar, quanto à sua importância, a lavoura do fumo ocupa o segundo lugar na economia colonial”9. Como a aguardente, o fumo era outro dos elementos do escambo de escravos negros no litoral africano. Sua lavoura aparecia concentrada 8 Prado Jr., Caio. História Econômica do Brasil, p. 45. 9 Cannabrava, Alice, A Grande Propriedade Rural, in História Geral da Civilização Brasileira, Tomo I, Volume 2, Difusão Européia do Livro, São Paulo, 2ª Edição, 1968,p.211. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB31 em áreas especificas da costa brasileira. Em fins do século XVI, apenas na Bahia e em Alagoas destacavam-se as grandes áreas produtoras. O tabaco cansava o solo rapidamente onde era cultivado. Daí a necessidade de adubação e de mudança constante do terreno de plantio. No Brasil, plantava-se fumo nos currais, onde o estrume dos animais alimentava a terra. “Os cercados de gado deslocavam-se por toda a área a ser utilizada, permanecendo os animais o tempo necessário para fertilizar o solo. Preparado o terreno, começava uma longa seqüência de trabalhos. Primeiramente, a semeadeira em canteiros, a luta contra as ervas daninhas (...) Em seguida, o firme desvelo durante o crescimento, que ocupava quatro meses do ano (...) Passava-se, então, a colheita e à cura das folhas, ou seja, as operações do processo especial de secagem.” Cannabrava, Alice, Op.cit.,p. 213. Algodão As grandes plantações de algodão, enquanto importante produto de exportação, aparecem no Brasil somente na segunda metade do século XVIII, quando a Revolução Industrial atingiu a manufatura de tecidos, transformando radicalmente sua técnica de produção. O algodão, em vez da lã, passaria a ser a matéria-prima básica da indústria têxtil, ampliando as perspectivas do produto no mercado mundial. No entanto, desde a época pré-cabralina, o algodão já era conhecido no Brasil, na sua forma arbórea. Os índios o chamavam maniú, utilizando seus caroços como alimento, empregando-o para fazer tecidos ou para inflamar as pontas de suas flechas incendiárias. No correr do século XVI, apareceu como uma cultura secundária, fornecendo matéria-prima para confecção de panos para a escravaria, Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB32 embora se assinale alguma exportação para a metrópole. Ao que parece, segundo Gandavo, era na capitania de Itamaracá que havia maior crescimento desse tipo de lavoura. MENDES JR., Antonio et alii. Brasil História - Texto & Consulta, volume 1: Colônia. Capítulo VI, A Empresa Agrícola Colonial. São Paulo: Editora Brasiliense, 1976, pp. 98-101. Segundo Texto Sistema colonial e comércio internacional – a dualidade da ocupação territorial: colônia de exploração e colônia de povoamento O sentido das ações dos donos das novas terras está no comércio, e o interesse por ele se justifica pela obtenção de lucro. Sendo assim, como as novas descobertas não apresentaram, inicialmente, nada comercializável, a idéia de povoar as terras sul-americanas não surgiu de imediato. Entretanto, outras circunstâncias advindas da disputa de novos aventureiros de além-mar incentivaram a ocupação efetiva do solo e a construção de laços além do habitual estabelecimento de feitorias. As colônias de exploração foram a forma pela qual o capital comercial se concretizou no Brasil. Os textos clássicos discutem o tema da ocupação territorial durante a colonização da América a partir da seguinte divisão: colônias de povoamento e de exploração. A primeira diz respeito ao estabelecimento definitivo no Novo Mundo; caracteriza-se, como o próprio nome diz, pelo povoamento, pela busca de um novo lar nas zonas temperadas. São populações que se afastam das conseqüências da situação interna da Europa (que desde o século XI vinha se desenvolvendo comercialmente, alcançando no século XV situação de destaque), que tinha dois Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB33 móveis significativos. De um lado, as lutas político-religiosas, de outro, a transformação econômica do século XVI, particularmente o fenômeno dos cercamentos. Durante dois séculos, várias seitas migraram para estas regiões de clima similar ao seu local de origem e também para outros pontos. A concentração foi prioritariamente na zona temperada. (*) Já as colônias de exploração centravam-se na organização da produção dos gêneros que interessavam ao mundo das trocas. A diversidade de condições naturais, em comparação às das terras de origem, propiciava a obtenção de artigos exóticos, por isso, muito cobiçados. Furtado descreve, em Formação Econômica do Brasil, como se deu a arregimentação de levas humanas que se deslocaram para as regiões do hemisfério norte, origem dos Estados Unidos. Analisa, também, os motivos que para isto concorreram. Este tipo de colonização ocorreu, também, nas Antilhas, antes da penetração da economia açucareira. Atraídos por tais estímulos, que eram diferentes do colono da zona temperada, esses ocupantes buscaram fazer a América, enriquecer- se, para depois desfrutar, na Metrópole, a sua nova condição. Cabe ressaltar que tais interesses estariam voltados para o usufruto das potenciais vantagens, cujo esforço físico em ambiente tão inóspito deveria ficar a cargo de outros. O problema a ser resolvido inicialmente diz respeito à determinação da natureza dos gêneros que poderiam ser aproveitados no novo território. De imediato, a solução é vislumbrada na exploração dos produtos já disponíveis: a atividade extrativa. Eram as madeiras, destinadas à construção, assim como às tinturas. Exemplo clássico é o pau-brasil. Essa atividade seria substituída mais tarde pela agricultura. Sua exploração seria feira em grande escala, gerando aulas monocultoras Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB34 com elevado número de trabalhadores. Essa necessidade de mão- de-obra abundante conheceu sua solução definitiva na escravidão africana, pois o gentio utilizado na instalação das lavouras mostrou- se inviável. Colônias de povoamento e exploração As colônias tropicais tinham características diferentes daquelas da zona temperada. Enquanto lá se constituíram colônias genuinamente de povoamento, escoadouro para excessos populacionais europeus, que remontavam no continente americano uma organização e sociedade à semelhança de seu modelo na Europa; nos trópicos, ao contrário, surgiu um tipo de sociedade inteiramente original e voltada para as atividades mercantis. Aqui, o atrativo era a diferença, a busca de uma natureza pródigas, que reembolsaria os investimentos iniciais dos metropolitanos, com generosos retornos medidos em, altas cifras. Suas propriedades monoculturas se organizaram em grandes faixas territoriais, que se utilizaram da mão-de-obra escrava, inicialmente a indígena e, posteriormente, a africana. O resultado consubstanciou-se na produção de gêneros tropicais realizáveis no mercado externo. Referência do texto acima: REGO, José Marcio & MARQUES, Rosa Maria (orgs). Formação Econômica Do Brasil. São Paulo: Editora Saraiva,2003, pp. 07-08. Síntese Chegamos ao final de nossa terceira aula. Hoje pudemos aprender como se deu a ocupação das terras do Brasil. Analisamos também as razões e as diferenças das ocupações territoriais das metrópoles européias. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB35 Pense nos impactos destas diferenças em relação ao desenvolvimento posterior de nossas economias. No texto de Celso Furtado, que indiquei como referência e leitura complementar a esta aula, você encontrará a descrição destas economias e a grande diferença que de imediato salta aos olhos: a colônia de exploração, lucrativa do ponto de vista do mercantilismo metropolitano, estava, por isso mesmo, totalmente voltada para o comércio exterior, enquanto que as colônias do norte, de povoamento, se voltaram para a sua própria manutenção e auto-suficiência, num primeiro momento. Mais tarde, começarão a trocar produções excedentes entre si (as outras colônias de povoamento) e, posteriormente, com regiões mais longínquas, como as Antilhas. Na próxima aula, vamos nos dedicar a estudar o desenvolvimento da economia de exploração de produtos tropicais. Até lá, então. Espero contar com sua presença. Referência Bibliográfica MENDES JR., Antonio et alii. Brasil História - Texto & Consulta, volume 1: Colônia. Capítulo VI, A Empresa Agrícola Colonial. São Paulo: Editora Brasiliense, 1976, pp. 98-101. REGO, José Marcio & MARQUES, Rosa Maria (orgs). Formação Econômica Do Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 2003, pp. 07-08. Sugestão Bibliográfica: FURTADO, Celso: Formação Econômica do Brasil. Capítulo V: As Colônias de Povoamento do Hemisfério Norte. Brasil/Portugal: Editora Fundo de Cultura, 1959, pp. 30-35. (ver bibliografia).
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