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Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB106 Aula 10 Situação econômica ao final do século XVIII e do declínio econômico nas primeiras décadas do século XIX Objetivos da Aula Os objetivos desta aula visam permitir a você compreender o panorama de declínio da situação econômica no Brasil que se deu entre o final do século XVIII, e o início do século XIX, no qual começa a haver finalmente um novo período de prosperidade econômica no país. Ao final desta aula, você deverá estar apto a apreender o sentido bem como os impactos de vários acontecimentos importantes que ocorrem no período analisado, como, por exemplo: a abertura dos portos. Além disso, você deverá ser capaz de também correlacionar o fato apreendido com outros de nossa história contemporânea. Pode-se dizer que, a aula anterior (aula 09), e a presente aula têm uma relação muito próxima em termos de fatos analisados. A primeira procurou analisar a crise do antigo sistema colonial; enquanto que a presente, ou seja, a 10ª aula, objetiva, justamente, tratar da passagem do sistema colonial para a constituição de um Estado brasileiro, politicamente independente. São, portanto, duas aulas dedicadas ao estudo de um período de compasso de espera, se assim podemos dizer, que culminará em um novo ciclo de expansão de nossa formação econômica: o café. Tratam-se, evidentemente, de períodos de crise e de grandes transformações do sistema capitalista internacional, com repercussões internas importantes. É, em suma, a passagem da ideologia mercantilista para a ideologia do liberalismo econômico. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB107 Primeiro texto para leitura: Situação econômica ao Final do século XVIII, e do declínio econômico nas primeiras décadas do século XIX Prof. Hélio B. Costa (Resenha dos capítulos XVI, XVII e XIX de FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Brasil/Portugal: Ed. Fundo de Cultura, 1964, pp. 109-129, e pp. 129-132). Como vimos em aulas anteriores, nas duas últimas décadas do século XVIII, a economia da colônia brasileira viu-se diante de novas dificuldades, principalmente devido ao declínio da economia aurífera. Se compararmos alguns indicadores, poderemos ter uma dimensão destes entraves: • Em relação ao açúcar, o valor total das vendas se reduz a níveis muito baixos; •. O ouro exportado foi equivalente em média, nestes anos, a pouco mais de meio milhão de libras; •. A renda per capita não foi superior a 50 dólares (a população era de cerca de 3 milhões de indivíduos, dos quais aproximadamente 1 milhão eram de escravos, portanto, sem renda); •. A exportação total, em 1760 foi de 5 milhões de libras, entretanto, nos últimos 25 anos do século ficou em torno de 3 milhões. Fica, portanto, patente que a economia mineira, depois de seu esplendor, teve uma decadência vertiginosa, convertendo toda a região aurífera em uma economia de subsistência, com reflexos na zona de influência que outrora criara em torno de si. Como se configurava a economia da colônia brasileira nesta época? Em seu conjunto, como analisa Celso Furtado, ela apresentava-se Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB108 como uma constelação de sistemas, contendo elementos, por um lado, completamente isolados, e por outro, contendo elementos que se articulavam entre si. Nessa configuração, as relações econômicas se davam em torno de dois eixos principais: a economias açucareira, e a de mineração. Não obstante, enquanto uma outra atividade que se formara na colônia, ou seja, a pecuária nordestina relacionava-se sobretudo com a atividade da cana-de-açúcar, embora cada vez com menos intensidade, a pecuária sulina (proveniente de São Paulo ao Rio Grande do Sul), por sua vez mantinha relações comerciais com a região das Minas Gerais. O Norte apresentava dois centros praticamente autônomos: Maranhão e Pará. O Maranhão, embora sendo autônomo mantinha certas articulações com a economia da cana-de-açúcar, ainda que de modo bastante periférico, e por meio da pecuária nordestina. Já o Pará estava organizado em torno das atividades extrativas florestais, promovidas pelos jesuítas que dominavam os povos indígenas da região. Entretanto, esta economia extrativa entrou em colapso e declínio, depois da perseguição e expulsão da Ordem dos Jesuítas feita pelo Marquês de Pombal, em 1759 . (Pesquise, em alguma enciclopédia ou mesmo na própria web para saber mais a respeito deste estadista absolutista português, e de sua política em relação às questões coloniais no Brasil) “LUTA CONTRA OS JESUITAS NO NORTE – No Estado do Maranhão, isto é, na região que vai do Rio Grande do Norte até o Pará (...), um dos principais problemas enfrentados pelos colonos era referente à questão da mão-de-obra utilizada em suas plantações. Como vimos (...), havia pouca oferta de escravos negros em relação à demanda, uma vez que estes eram quase todos vendidos nas zonas açucareiras mais importantes (como Pernambuco e Bahia), onde se obtinham preços mais elevados. Era necessário, por conseguinte, lançar mão do indígena. “Os colonos justificavam sua cobiça sobre os indígenas, como a resultante de necessidades coletivas – sem eles nada seria possível construir de Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB109 definitivo, ou mesmo de passageiro. Eles eram multidão, sabiam os segredos da floresta, conheciam todos os meios de viver no meio agreste do extremo norte, impondo-se, portanto, não apenas numericamente, mas qualitativamente, isto é, pelas condições culturais de sua identificação admirável com o meio. Os colonos sem eles não podiam desenvolver suas atividades ... chegavam para ganhar, para amealhar, para dirigir. Não tinham vindo para subordinar-se, para trabalhar com suas próprias mãos. O índio era, assim, essencial à vida regional” (Sodré, Nelson Werneck. Formação Histórica do Brasil. São Paulo: Ed. Brasiliense, 8ª ed, 1973, p. 116) Para submeter o silvícola, porém, encontraram os habitantes do norte a renhida oposição dos membros da Companhia de Jesus, que tinham outras idéias sobre a utilização do trabalho indígena (...). Desde 1624, quando ocorreu o primeiro levante de colonos contra os jesuítas, chocaram-se os interesses de uns e de outros; repetiram-se os conflitos em 1642 e 1652. Em janeiro de 1653 chegaram ao Estado do Maranhão alguns soldados de Cristo, entre os quais o Padre Antonio Vieira, que logo se converteu no principal líder da luta contra a escravização dos bugres pelos lavradores da região. Tanto no Maranhão propriamente dito, como no Pará, encontrou Vieira um geral descontentamento pela sua ação. No Pará, os moradores chegaram a enviar petição ao Capitão-mor Inácio do Rego, acusando os jesuítas em geral e o Padre Vieira em particular de serem responsáveis pela insubordinação e mesmo revolta dos índios contra seus senhores. Voltando à metrópole, o líder jesuíta obteve do Rei João IV aquilo que desejava: por alvará régio de 9 de abril de 1655, a Companhia de Jesus foi declarada a única autoridade competente para tratar de assuntos referentes aos indígenas. Irritados, os colonos, representados pelas Câmaras Municipais de Belém e São Luís uniram-se num protesto violento, que terminou resultando na expulsão dos jesuítas do Pará, em 1661. Durante o levante, Vieira chegou Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB110 a ser preso, sendo remetido, juntamente com seus confrades, a São Luís, de onde foram enviados a Lisboa. Como conseqüência da revolta, foi retirado dos inacianos, pelo Rei D. Afonso VI, o controle exclusivo sobre os índios,passando a participar dele outras irmandades e ordens religiosas. No entanto, subindo à regência do trono português, D. Pedro II (em 1667) recuperou para os jesuítas sua antiga influência junto à Corte. E, ainda por inspiração do Padre Vieira, decretou o governo luso a completa liberdade dos indígenas, estabelecendo severas punições para os que não cumprissem a lei (alvará de 1 de abril de 1680), encarregando novamente os jesuítas da autoridade sobre o gentio.” (MENDES JR, Antonio et alii. Brasil História- Texto & Consulta. Vol 1. Colônia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1976, p. 202. EM OUTRA PARTE: “A época pombalina na colônia caracterizou-se por uma maior opressão, decorrente da própria afirmação efetiva do mercantilismo, e distinguiu- se também por evidenciar uma preocupação realizadora tipicamente administrativa, que nunca as administrações anteriores haviam apresentado (à exceção de Nassau). Pombal no Norte transferiu a capital de São Luís do Maranhão para Belém do Pará, centro comercial de maior importância, onde se encontravam os pontos de penetração fluvial para a busca das drogas do sertão (...), e de contato marítimo com a metrópole. Enviou para lá, como capitão- geral, seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado, com funções e poderes desconhecidos pelos governadores anteriores. Fato marcante de sua política na região foi a expulsão dos jesuítas. Ele havia conseguido, dois anos antes, a aprovação do Diretório dos Índios, colocando civis na administração das aldeias sobre as quais os inacianos tinham tido, até então, plena soberania. Com a expulsão, mais de 600 jesuítas deixaram a colônia, o que foi acompanhado de uma completa decadência da região missioneira do Estado, desagregando ainda mais os indígenas, com suas aldeias sob administração civil” (Idem, p. 274). Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB111 ADENDO: POMBAL, Marquês de. Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782). Como se vê, somente as atividades desenvolvidas pelos jesuítas no Pará estavam totalmente isoladas. Todas as outras estavam interligadas de algum modo, ainda que precariamente. É, contudo, no Maranhão que surgirá um surto econômico, cujo processo Furtado o denominou de a falsa euforia do Maranhão. E isto foi em grande parte devido à política pombalina em relação aos jesuítas. Os colonos maranhenses foram tradicionalmente adversários dos missionários da Companhia de Jesus: os dois segmentos tinham posição contrária em relação à escravização dos índios, em uma região na qual havia escassez de mão-de-obra escrava africana. Por incentivo de Pombal, criou-se, em 1755, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, organização esta altamente capitalizada, e com vistas ao desenvolvimento da região. A despeito da perseguição e expulsão dos jesuítas, Pombal não incentivou a escravização indígena, mas – ao contrário –, a importação de escravos africanos. Houve ainda outros acontecimentos que favoreceram este surto econômico no Maranhão, e que foram os seguintes: a Guerra de Independência das Colônias Americanas, e a Revolução Industrial Inglesa. As colônias americanas eram produtoras e fornecedoras de algodão para a nascente manufatura têxtil inglesa. Os maranhenses reunidos em torno de sua Cia. de Comércio logo aproveitaram esta brecha aberta no mercado colonial de produtos tropicais. O algodão, com efeito, tinha uma demanda crescente no mercado inglês e, também sobretudo o arroz, que produzidos pelas colônias da América do Norte tinham sua procura intensificada em mercados europeus. Assim sendo, a Companhia concentrou-se, portanto, na comercialização destes dois produtos. Favorecida pela conjuntura mundial, e tendo a Companhia de Comércio como instrumento de apoio, a economia do Maranhão foi levada a um rápido desenvolvimento e capitalização. Para se ter Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB112 idéia, como mais uma vez assinala Furtado, o porto maranhense onde antes deste boom entravam tão-somente, 2 navios por ano; ao final do período colonial, recebia em torno de 100 a 150 navios ao ano, e chegava a exportar 1 milhão de libras. É de se constatar, assim, que à exceção do pólo econômico maranhense, todo o restante da economia brasileira passou por um período de grandes dificuldades nas últimas décadas do século XVIII: a região do ouro passou por uma profunda prostração que vai até a primeira metade do século XIX. Como a pecuária sulina girava em torno do pólo minerador, esta atividade econômica também entra num compasso de espera, passando por grandes dificuldades. Paradoxalmente, o início do século XIX apresenta aparentes sinais de prosperidade. Isto fica evidente após a vinda da família real, em 1808, que gerou um clima otimista no Brasil daquela época. Grosso modo, pode-se dizer que três acontecimentos marcantes foram propiciados, em decorrência do ambiente internacional, que impulsionou no processo de desenvolvimento do capitalismo, que se originou nas últimas décadas do século XVIII, e começo do XIX. São eles: ••A Revolução Francesa e, conseqüentemente, o processo de independência nas colônias de produtos tropicais; ••A independência das colônias americanas e o nascimento dos Estados Unidos da América; ••Posteriormente, as guerras napoleônicas e o declínio do império espanhol na América. Um episódio ilustra bem esta situação: a colônia francesa do Haiti em 1789 assiste à revolta de seus quinhentos mil escravos negros, desarticulando, desta forma, o mercado açucareiro. Foi uma oportunidade valiosa para o Brasil, cuja produção açucareira se aproveita deste desarranjo. Nas guerras napoleônicas, o valor do açúcar Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB113 mais que duplica. Em relação ao algodão, a Revolução Industrial, a pleno vapor, também aumenta a procura por este artigo. Por isso, também o Nordeste entra na produção do algodão, seguindo o Maranhão. Um outro produto tropical é ainda também favorecido: o mercado de couros, devido principalmente às dificuldades atravessadas pelas colônias espanholas na época. Em síntese, a economia brasileira aproveita-se das elevações temporárias dos preços de seus produtos, e obtém um crescimento no valor de suas exportações. Entretanto, esta aparente prosperidade teve data marcada para terminar, pois esta economia não teve fundamentos sólidos e, como ocorria a outros produtos tropicais, dependia das oscilações do mercado internacional. Consolidada a independência americana, o fluxo comercial e o mercado são estabelecidos, e os reflexos não tardam a chegar à colônia brasileira, cuja economia é afetada pela nova correlação de forças mercantis. As primeiras décadas do Brasil politicamente independente serão de sérias dificuldades econômicas. Com efeito, o Brasil independente herda um passivo colonial com o qual vai conviver por várias décadas. Vejamos a seqüência de acontecimentos ou fatores que, se por um lado aceleraram o processo político no país; por outro foram responsáveis pela etapa de entraves econômicos originados pela queda da economia mineira: ••A ocupação de Portugal por Napoleão; ••O desaparecimento de Lisboa como entreposto comercial da colônia brasileira; ••Surgimento da necessidade de contatar diretamente os mercados mundiais; ••A abertura dos portos, como imposição natural dos acontecimentos; ••Os tratados de 1810 que deram à Inglaterra o status de potência Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB114 privilegiada, com direitos de extraterritorialidade e tarifas especiais; ••A conseqüência direta destes tratados:limitação da autonomia econômica brasileira durante a primeira metade do século XIX; ••A independência do Brasil (1822), e o acordo pelo qual a Inglaterra consegue consolidar sua posição em 1827 (dois marcos fundamentais na política brasileira); ••O alijamento, em 1831, de Dom Pedro I do trono, e a conseqüente ascensão da classe dominante colonial, ou seja, dos senhores da agricultura de exportação. Conclusão Principal: Os privilégios concedidos à Inglaterra constituíram uma conseqüência natural da forma como se deu a independência brasileira: o Brasil assumiu a responsabilidade de parte do passivo que Portugal contraíra com a Inglaterra para sobreviver como potência colonial. Por outro lado, a abertura dos portos logo se traduziu em baixa dos preços dos importados, ou seja, num grande suprimento de gêneros. e outras vantagens que beneficiaram a classe dominante . “O mercado ficou inteiramente abarrotado, tão grande e inesperado foi o fluxo de manufaturas inglesas no Rio, logo em seguida à chegada do Príncipe Regente, que os aluguéis das casas para armazená-las elevaram-se vertiginosamente. A baía estava coalhada de navios e, em breve, a alfândega transbordou com o volume das mercadorias. Montes de ferragens e de pregos, peixe salgado, montanhas de queijos, chapéus, caixas de vidro, cerâmica, cordoalha, cervejas engarrafadas em barris, tintas, gomas, resinas, alcatrão, etc., achavam-se expostos não somente ao sol e à chuva, mas à depredação geral”. (JOHN MAWE. Viagens pelo Interior do Brasil, citado por N.W. Sodré em As Razões da Independência, Editora Civilização Brasileira, p.141. in ALENCAR, Francisco et alii. História da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S.A, 1980, p. 93.) Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB115 “Adam Smith em 1776 critica a política mercantil, condena as restrições, os monopólios, os tratados de comércio, o trabalho escravo, propondo um regime de livre concorrência e afirmando a superioridade do trabalho livre sobre o escravo. Seus sucessores iriam mais longe. Jean Baptista Say, no Tratado de Economia, publicado em 1803 denuncia o caráter espoliativo do sistema colonial tradicional, observando que as colônias são onerosas para as metrópoles, por obrigarem a despesas de manutenção do exército, administração civil e judicial, estabelecimentos públicos e fortificações. Afirma que os privilégios comerciais que ligam a metrópole à colônia, favorecendo os produtos coloniais são enganosos: a França pagava a Guadalupe o açúcar à razão de 50 francos, quando poderia obtê-lo em Havana por 35. Conclui que as verdadeiras colônias de um povo comerciante são os povos independentes de todas as partes do mundo. Portanto, qualquer povo comerciante deveria desejar que todos fossem independentes, porque todos se tornariam mais industriosos e ricos, e quanto mais numeroso e produtivo, tanto maiores ocasiões e facilidades se apresentariam para o comércio. A crítica atingia os monopólios, os privilégios e a escravidão. Era, enfim, a própria idéia tradicional de colônia que ele condenava. A crítica ao sistema colonial corresponde às mudanças nas relações políticas e comerciais entre metrópole e colônia. Não implica, entretanto, na mudança de estrutura básica da produção colonial, que ao capitalismo industrial convinha manter, nas grandes linhas. As novas concepções sobre as colônias expressam as aspirações dos grupos ligados ao capitalismo industrial que conseguiriam imprimir à política as suas diretrizes. É na Inglaterra, onde a transição do capitalismo comercial para o industrial ocorre inicialmente, que se esboça, pela primeira vez, uma nova orientação na política colonial em relação à América, a partir do momento em que sua mais importante colônia conquistou a liberdade. “As colônias ibero-americanas teriam, a partir de então, condições mais favoráveis para pleitear a independência política, pois contariam com a Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB116 simpatia e o apoio da Inglaterra”. (VIOTTI, Maria Emília. Introdução ao Estudo da Emancipação Política, pp. 69-70, in ALENCAR, Francisco et alii. História da Sociedade Brasileira. Rioi de Janeiro: Ao Livro Técnico S.A, 1980, p. 87. Diz Furtado que, o Tratado de Comércio de 1810, embora referindo-se com belas palavras ao sistema liberal é, na verdade, um instrumento criador de privilégios: os ingleses não se preocuparam em abrir mercados aos produtos brasileiros, os quais competiam com os de suas colônias das Antilhas. A ideologia liberal foi aplicada de forma unilateral e, neste caso, passou a criar sérias dificuldades e entraves à economia brasileira . O conjunto destes aspectos leva à crise da primeira metade do século XIX. O governo brasileiro enfrenta sérias dificuldades de escassez de recursos financeiros, e vê sua autoridade reduzir-se por todo o país, gerando insatisfações em todas as regiões. O Norte (Bahia, Pernambuco e Maranhão) passa por uma fase de dificuldades econômicas. Os preços do açúcar despencam, assim como os do algodão na primeira metade do século XIX. Por sua vez, a região sul sofre com a decadência do ouro, principal mercado para o gado ali criado. Rebeliões armadas do Norte, e a prolongada guerra civil no sul são o reflexo desse processo de empobrecimento, e de dificuldades generalizadas. É neste ambiente econômico e social que teve início um novo ciclo econômico no Brasil: o cafeeiro. Prenúncio de riqueza econômica, o café se firmou, lá pelos anos de 1830 como principal produto da exportação brasileira. Foi um elemento polarizador que impediu, de certa forma, a desagregação política do país, fruto de grandes insatisfações dos colonos em relação à Coroa Portuguesa, e cujos conclames de insurgência se espalhavam de Norte a Sul da colônia. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB117 O Fracasso do I Império. PENSE NA CONTEMPORANEIDADE DESTA FRASE: lá o liberalismo como ideologia nova para um capitalismo industrial que nascia; hoje, o neoliberalismo (que se confunde com globalização); lá, a Inglaterra que se tornava potência hegemônica a exigir a abertura dos portos (para seus produtos) e protecionismo contra os produtos de terceiros países); hoje, exigência da abertura econômica de nossa economia e o fechamento (protecionismo) da economia nos países centrais. Mera coincidência, ou repetição histórica? Naturalmente, nesta história toda há ganhadores e perdedores. Quem serão? A monarquia constitucional, como forma do nascente Estado brasileiro, depois de 1822 foi uma solução para a qual apontaram tanto as condições institucionais brasileiras, após a transferência da corte portuguesa para o Brasil, quanto os temores e preconceitos conservadores do setor da aristocracia agrária, que liderou a independência. Esse Estado, para ter eficácia e legitimidade precisava operar a efetiva transferência de poder dos antigos detentores portugueses para a classe dominante brasileira, sem alteração da estrutura social escravista. Ora, se em 1822 o regime que se estabeleceu, com D. Pedro e José Bonifácio à frente, parecia poder cumprir essa determinação, os acontecimentos posteriores mostraram a incapacidade do grupo de poder então se instalar para tal tarefa. Depois que se afastou dos Andradas em 1823 (...), ao mesmo tempo que mantinha os liberais afastados do poder, D. Pedro ligou-se cada vez mais a elementos portugueses ou comprometidos com o antigo Estado do período joanino, e vinculados aos comerciantes portugueses; a aristocracia agrária brasileira, embora tivesse alguns de seus interesses realizados(manutenção do livre- comércio e da escravidão) foi afastada das decisões políticas efetivas, principalmente depois da dissolução da Assembléia Constituinte. (...) D. Pedro, governando em nome de um verdadeiro partido português, tendo contra si a oposição crescente de um partido brasileiro não foi capaz de encaminhar satisfatoriamente os complexos problemas Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB118 políticos, e econômicos, que a construção do novo Estado colocava. Embora tivesse conseguido, com o apoio da Inglaterra, derrotar o movimento liberal e republicano que o nordeste lhe opôs, a Confederação do Equador (...), a história de seu governo depois de 1824 é a história de seu esvaziamento político; 1822 não chegou a representar a criação de um novo Estado independente, apenas o seu início; seria necessário derrubar a fracassada monarquia de Pedro I para começar a criar, a partir de 1832, o Estado nacional brasileiro.” (...) Crise Econômico-financeira. Na construção do novo Estado, problemas econômicos e financeiros herdados da colônia e do período joanino criariam sérias dificuldades. D. Pedro, manietado pela falta de base política e pelos compromissos com os ingleses levaria tais problemas a um ponto crítico. Os três séculos da colonização portuguesa deixaram pesada herança para a economia brasileira, que permaneceu estagnada e subordinada às determinações, e oscilações do mercado externo. Enquanto colônia, o Brasil tinha sua produção regulada por Portugal, o que limitava drasticamente seu desenvolvimento e, por outro lado, impunha um padrão medíocre de vida. As reduzidas importações, porém, mantinham um razoável equilíbrio no balanço de pagamentos, que de resto não tinha significado autônomo. A vinda da família real alterou este quadro: as importações para consumo interno expandiram-se muito mais rapidamente do que a capacidade produtiva do país. O Brasil passou a enfrentar crises financeiras sucessivas e um déficit crescente, obrigando-se à contratação de seguidos empréstimos estrangeiros. Esta situação acentuou-se ainda mais com a independência, vindo a tornar-se crônica e provocando graves perturbações na vida do país. (...) Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB119 Gradativamente, as empresas inglesas (principalmente) encontraram no Brasil bom mercado para sua expansão. A partir de 1824, uma verdadeira onda de investimentos estrangeiros invadiu o país, através de empréstimos públicos e atividades comerciais e/ou extrativas. Foram organizadas quatro companhias de mineração para operar nas Províncias de Goiás e Minas Gerais, com capital de 1.500.000 libras esterlinas. Além disso, em meados de 1825, a Inglaterra exportava para o Brasil metade do valor das exportações para os Estados Unidos, quantidade quase idêntica à remetida para as Índias Ocidentais Britânicas. Os efeitos disto seriam graves, pois as atividades mineradoras poucos lucros deixaram no país, e as mineradoras inglesas eram concorrentes invencíveis. Desta forma, o país tinha suas riquezas exploradas com pouca compensação, e via suas escassas manufaturas de tecidos e metalurgia serem completamente arruinadas pelas concorrentes estrangeiras. Com o aparecimento, em princípios do século XIX, de um sucedâneo para a produção do açúcar (a beterraba), novo golpe se desfechou sobre a economia brasileira, atingindo agora a agricultura e os grandes senhores de terra. O Açúcar brasileiro perdeu grande faixa de seu mercado. Mas não só ele: também o algodão e o arroz, que sofriam a concorrência da produção norte-americana. Os couros ressentiam-se da concorrência da bacia do Prata; e o tabaco, com as dificuldades impostas ao tráfico negreiro, perde seu principal mercado: a África. Acrescentando-se, a tudo isso, a fase de recessão generalizada que atravessava a economia mundial e forçava a baixa nos preços dos produtos (...) O círculo vicioso da crise financeira crônica do Primeiro Reinado era completado pelos juros elevados (em geral 10%) que contribuíam para manter as finanças nacionais em constante déficit. Já em 1824, o Brasil havia contraído um empréstimo de 3.000.000 de libras esterlinas, para custear as despesas urgentes e extraordinárias que exigem a fundação, segurança e estabilidade do Império. Formação Econômica Brasileira - UVB Faculdade On-line UVB120 Este elevado empréstimo, cuja segunda parcela foi recebida em 1825, provavelmente custeou também a Guerra Cisplatina, acontecimento que contribuiria para perturbar ainda mais a frágil estabilidade política que caracterizava o império brasileiro. O prestígio de D. Pedro seria mais fortemente abalado quando, em 1829, o Banco do Brasil, perdido pela absoluta insolvência foi liquidado, depois de falir. Vimos nesta aula a situação econômica do Brasil ao final do século XVIII e as dificuldades da economia brasileira nas primeiras décadas do século XIX. Este período é caracterizado, no nível internacional, pela passagem do mercantilismo ao liberalismo econômico, ou seja, do antigo sistema colonial aos primórdios do desenvolvimento capitalista, a partir da Revolução Industrial. Outros pontos relevantes foram também enunciados visando compreender melhor a época de desenvolvimento da economia brasileira durante o período analisado, dentre os quais podemos citar: (a) os dois principais eixos econômicos do Brasil Colonial e suas atividades produtivas; (b) os impactos e as repercussões dos acontecimentos internacionais sobre a economia brasileira; e (c) a transferência da família real para o Brasil, com a abertura dos portos, imposta pela situação hegemônica inglesa. Na próxima aula, daremos prosseguimento a novas indagações interessantes, pois iremos nos dedicar ao surgimento do ciclo econômico do café. Até lá ! Referência Bibliográfica FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Brasil/Portugal: Ed. Fundo de Cultura, 1964 MENDES JR, Antonio et alii. Brasil História-Texto & Consulta. Vol 1. Colônia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1976, p. 191 e p. 194-195)
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