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Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Prof. Me. Daniela Mota Fernandes 1 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda APRESENTAÇÃO Este livro objetiva abarcar as discussões em torno da Alfabetização e do Letramento, partindo da história de construção da leitura e da escrita, para posteriormente aprofundar em sua trajetória no Brasil até os dias atuais, incluindo as mudanças e permanênciasdeste percurso. Pretende ainda, refletir sobre a organização do trabalho pedagógico no âmbito da alfabetização. Com esse intuito o livro será estruturado em unidades que discutiram diferentes aspectos sobre o tema. Na Unidade 1 iremos fazer um percurso único, em que descobriremos como se deu a origem da escrita alfabética e posteriormente podermos adentrar na história da alfabetização primeiramente num contexto mais amplo e logo após no contexto educacional brasileiro. A Unidade 2 irá abordar sobre o conceito de Alfabetização e Letramento e as nuances presentes neles a partir da visão de alguns autores de referência, culminando numa reflexão sobre método, métodos de alfabetização numa perspectiva crítica e atual. NaUnidade3iremos lembrar alguns Programas de capacitação de professores alfabetizadores desenvolvidos no Brasil, em suas características, concepções, formas de organização e os pontos positivos e negativos de cada um deles. E para finalizar, na Unidade 4 iremos pensar a organização do trabalho pedagógico no ambiente de alfabetização, refletindo sobre possibilidades didáticas para a formação do bom leitor e escritor. Que nesse caminho possamos aprender juntos! 2 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda FICHA TÉCNICA Disciplina: Alfabetização e Letramento Ementa: História da cultura escrita e da leitura e escrita no contexto da alfabetização. Conceitos de alfabetização e letramento em suas especificidades e aproximações. Concepção de Método e métodos de alfabetização. Organização do trabalho pedagógico no âmbito da alfabetização. A formação continuada de professores e os programas de capacitação de professores alfabetizadores no Brasil. Possibilidades didáticas na perspectiva de alfabetizar letrando. Objetivos: • Conhecer a história de construção da escrita. • Compreender a distinção e aproximações entre os conceitos de alfabetização e letramento. • Analisar programas de formação continuadas de alfabetizadores no Brasil. • Identificar características dos métodos sintéticos e analíticos • Ressignificar a importância de métodos no processo de alfabetização. • Investigar possibilidades didáticas no contexto da alfabetização inicial. Metodologia: Ao longo do livro serão abordadas questões teóricas sempre vinculadas a práticas numa perspectiva reflexiva. O convite à reflexão se faz presente também nos exercícios que estão em meio ao texto em alguns momentos por uma necessidade didática, mas necessariamente ao final de cada unidade. Teremos o estudo investigativo a partir de textos, vídeos e materiais didáticos sugeridos. Ao final do livro teremos exercícios de múltipla escolha relacionados à temática. Bibliografia Básica: ALFARES, Marcia Aparecida. Formação continuada de professores alfabetizadores: uma análise crítica do Programa Pró-Letramento (Dissertação - Mestrado em Educação). Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2009. BAJARD, Élie. A descoberta da língua escrita. São Paulo: Cortez, 2012. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Entendendo o Pacto, 2013.Disponível me http://pacto.mec.gov.br/o-pacto Consulta em 12-01-14. 3 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.Programa de Formação de Professores Alfabetizadores: Documento deApresentação. Brasília: MEC/SEF, 2001. _______.Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica: orientações gerais. Brasília: MEC, 2005. CARVALHO, Marlene. Guia prático do alfabetizador. São Paulo: Editora Ática, 2004. FRADE, Izabel Cristina Alves da Silva. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Santa Maria. v. 32 - n. 01, p. 21-40, 2007. Disponível em: http://www.ufsm.br/ce/revista. Consulta em 11-11-13. ______________________________. Mudança e resistência à mudança na escola pública: análise de uma experiência de alfabetização “construtiva”. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. LEAL, Telma Ferraz; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de.; MORAIS, Artur Gomes de. Letramento e Alfabetização: pensando a prática pedagógica. In: Org. BEAUCHAMP, Janete; PAGEL, Denise; NASCIMENTO, Aricélia R. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão de seis anos de idade. Brasília:MEC/SEB, 2007. Disponível em:http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf SANTOS, Carmi Ferraz e MENDONÇA, Márcia. Alfabetização e Letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Disponível em: http://www.ceelufpe.com.br/e-books/Alfabetizacao_letramento_Livro.pdf. Consulta em 11-11-2013. SANTOS, Sonia Regina Mendes. A Rede Nacional de Formação Continuada de Professores, o Pró-Letramento e os modos de “Formar” os professores. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 143-148, jul.-dez, 2008. Disponível em http://www.uepg.br/praxiseducativa. Consulta em 13-12-13. SOARES, Magda Becker. Letramento, um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Editora Autêntica, 1998. ______________________. A Reinvenção da Alfabetização. Revista Presença Pedagógica. v. 9, n. 52, jul/ago. 2003. ______________________. Letramento e Alfabetização.Revista Brasileira de Educação. nº 25, 2004. 4 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Bibliografia Complementar: ANDRADE, Leila Minatti. A escrita, uma evolução para a humanidade. Revista Linguagem em (Dis)curso, volume 1, número 1, jul/dez, 2001. Disponível em: http://portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/view/167/181 Consulta em: 20-01-2014. BECALLI, Fernanda Zanetti. O ensino da leitura no Programa de Formação de ProfessoresAlfabetizadores (PROFA). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Espírito Santo, 2007. Disponível em http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/nometese_87_FERNANDA%20ZANETTI%20BE CALLI.pdf. Consulta em 18-12-2013. CAGLIARI, Luiz Carlos. A origem do alfabeto. Disponível em: http://dalete.com.br/saber/origem.pdf.Consulta em 20-01-14. CAVALCANTE, Lidia Eugenia. Cultura escrita: práticas de leitura e do impresso. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518- 2924.2009v14nesp1p1/19829 Consulta em 20-11-13. COLELLO, Silvia M. Gasparian. Alfabetização e Letramento: Repensando o Ensino da Língua Escrita. Disponível em: http://www.hottopos.com/videtur29/silvia.htm. Consulta em 10-01-14. GIASSON, Jocelyne. A compreensão na leitura. Porto: ASA, 2000. MACHADO, Ednéia Maria Azevedo. Programa de Professores Alfabetizadores (PROFA): um ressignificar da prática docente? Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2007. Disponível em: http://repositorio.cbc.ufms.br:8080/jspui/bitstream/123456789/710/1/Edn%C3%A9ia% 20Maria%20Azevedo%20Machado.pdf MAGALHÃES, Suzana Marly da Costa. Oralidade e Cultura Escrita na Abordagemda História da Alfabetização. Universidade Federal do Ceará. O público e o privado. nº 2, julho/dezembro, 2003.Disponível em: www.uece.br/mahis/index.php/.../memoria- oralidade-e-cultura-escrita . Consulta em 11-10-2013. SAMPSON, Geoffrey. Sistemas de escrita: tipologia, história e psicologia. São Paulo: Ática, 1996. 5 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda SUMÁRIO UNIDADE 1: A história da alfabetização: concepções e mudanças---------------- p. 7 1.1. A origem da cultura escrita -------------------------------------------------------------- p. 7 1.2. O Alfabeto grego ------------------------------------------------------------------------ p. 10 1.3.A Alfabetização num contexto mais amplo --------------------------------------- p. 12 1.4. A Alfabetização e o contexto educacional brasileiro ------------------------------- p. 14 Atividade de Conclusão da Unidade 1 ----------------------------------------------------- p. 18 UNIDADE 2: Alfabetização e Letramento: conceitos que se entrecruzam--- p. 20 2.1. Definindo conceitos --------------------------------------------------------------------- p. 20 2.2.Alfabetização e Letramento: aproximações e especificidades -------------------- p. 21 2.3. A questão do método no contexto educacional -------------------------------------- p. 25 2.4.Os Métodos de Alfabetização e suas particularidades ------------------------------ p. 26 2.4.1. Características dos Métodos Sintéticos ----------------------------------------- p. 27 2.4.2. Os métodos analíticos --------------------------------------------------------------- p. 29 2.5. Mudanças nas concepções de métodos -------------------------------------------- p. 31 Atividade de Conclusão da Unidade 2 -------------------------------------------------- p. 34 UNIDADE 3: Formação Continuada de Professores: Programas para Professores Alfabetizadores ------------------------------------------------------------------------------ p. 35 3.1. A formação continuada de professores alfabetizadores ---------------------------- p. 35 3.2. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA) --------- p. 38 3.3. Uma análise do Programa Pró-Letramento --------------------------------------- p. 40 3.4. O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa -------------------------- p. 45 Atividade de Conclusão Unidade 3 -------------------------------------------------------- p. 49 Unidade 4: A organização do trabalho pedagógico no âmbito da alfabetização p. 50 4.1. Estabelecendo contratos na rotina escolar ----------------------------------------- p. 50 4.2. A participação dos pais no cotidiano escolar da criança --------------------------- p. 52 4.3. Planejamentos: uma construção com intencionalidade ------------------------- p. 52 4.3.1 Os níveis de escrita e a análise de diagnósticos --------------------------------- p. 53 4.3.2 A organização do plano de aula ---------------------------------------------------- p. 54 4.4. Alfabetizar letrando: uma nova perspectiva -------------------------------------- p. 56 4.5. Didáticas no processo de alfabetizar letrando ------------------------------------ p. 58 4.5.1. A Sessão de Mediação --------------------------------------------------------------- p. 60 4.5.2. A formação de leitores e escritores no processo de alfabetização -------------- p. 61 4.5.3. Situações Didáticas de leitura e escrita ------------------------------------------ p. 62 4.5.4. O contato com diferentes gêneros textuais ---------------------------------------- p. 63 Atividade de Conclusão Unidade 4 -------------------------------------------------------- p. 66 6. LISTA DE EXERCÍCIOS -------------------------------------------------------------- p. 67 6 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda UNIDADE 1 A história da alfabetização: concepções e mudanças "[…] as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas a alfabetização inicial não se resolvem com um novo método de ensino, nem com novos testes de prontidão nem com novos materiais didáticos. É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões. Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu." Emília Ferreiro Importante se faz pensar a trajetória da alfabetização ao longo dos anos e observar os fatores históricos que a influenciaram. E no contexto educacional é preciso pensar que as mudanças não ocorrem de maneira rápida, tendo em vista que para se obter mudanças é necessário se mudar concepções. E essa não é uma tarefa fácil! Mas antes de discutirmos sobre alfabetização, iremos destacar um invento primordial para a evolução humanidade – a invenção da escrita. É essencial para nosso estudo compreender como se deu a construção da escrita alfabética desde os seus primórdios. 1.1. A origem da cultura escrita Sabemos que atualmente, nossa escrita se constrói a partir de um alfabeto, composto de letras ou caracteres. Fala-se da correspondência entre grafemas e fonemas, até mesmo como método para ensinar as crianças em processo de alfabetização. E será que sempre foi assim? De onde surgiu o alfabeto? Como essas formas gráficas se originaram? A invenção da escrita de acordo com Sampson (1996) surge tardiamente com relação ao aparecimento da linguagem, aparecendo depois da chamada "revolução neolítica".Sua história pode ser dividida em três fases: pictórica, ideográfica ealfabética. Porém, esta divisão não pode seguir uma linha cronológica (ANDRADE, 2001). 7 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Escrita ou grafia consiste na utilização de sinais ou símbolos para exprimir as ideias humanas. A grafia é um tipo de tecnologia de comunicação, historicamente criada e desenvolvida na sociedade humana e corresponde ao registro de marcas em um suporte. Mas será que esse percurso foi tão linear e tranquilo? Vamos saber um pouco mais sobre isso. Vamos retomar as características das fases dessa história, lembrando que elas não podem ser consideradas em ordem cronológica. A fase pictória corresponde aos desenhos ou pictogramas, os quais não estão associados a um som, mas à imagem daquilo que se quer representar. Consistem em representações simples dos objetos da realidade. Surgem em inscrições antigas, podendo ser vistos de forma mais elaborada na escrita asteca e, mais ultimamente, nas histórias em quadrinhos (ANDRADE, 2001). Já a fase ideográfica é representada pelos ideogramas, que são símbolos gráficos que representam diretamente uma ideia, como, hoje em dia, certos sinais de trânsito. As escritas ideográficas que se destacam são a egípcia (também conhecida como hieroglífica), a mesopotâmica (suméria), as escritas da região do mar Egeu (a cretense, por exemplo) e a chinesa (de onde decorre a escrita japonesa) (ANDRADE, 2001). No que se refere à fase alfabética esta é caracterizada pelo uso de letras, as quais, ainda que tenham se originado nos ideogramas, perderam o valor ideográfico e adquiriram uma nova função de escrita, que foi a representação puramente fonográfica. Já o ideograma, perdeu seu valor pictórico e passou a ser apenas uma representação fonética (ANDRADE, 2001). No início, a escrita utilizavaos pictogramas, desenhos das coisas, representando as palavras usadas para designar essas coisas. A escrita ideográfica era fácil de ser compreendida em várias línguas. Porém, com o passar do tempo foram surgindo algumas dificuldades, pois os símbolos eram muitos, bem como aumentava a complexidade das coisas a serem representadas. Com isso, os pictogramas deram lugar aos silabários, sinais que representavam os sons das sílabas. 8 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda E assim mudou-se a referência da escrita, passando do significado para o som das palavras, de ideográfica para fonográfica. Outra modificação foram que os nomes dos caracteres foram perdendo relação de conotação com as coisas representadas e adquirindo significado próprio. Devido as redundâncias presentes nos silabários, veio a necessidade de se simplificar ainda mais os caracteres para letras (CAGLIARI, 2009). Os sistemas silábicos do Oriente Médio surgiram da escrita Suméria (iniciada por volta de 3200 a.C.) que se transformou em cuneiforme com o domínio da civilização acadiana (2000 a 600 a. C.). As duas referências mais importantes de disseminação dessa escrita foram as civilizações babilônica e assíria da Mesopotânia(CAGLIARI, 2009). Os acadianos, bem como os egípcios, falavam uma língua semítica, ramo ao qual pertencem atualmente o árabe e o hebraico. Nas línguas semíticas as palavras trazem a ideia central na combinação de três consoantes. Um exemplo no árabe, seria a sequência KTB, sendo lhe atribuída a ideia de algo referente à ‘escrita’. E outras ideias adicionais são acrescidas com a junção de novas vogais com as consoantes, formando assim novas palavras como Katab que significa “ele escreveu” e Kaatib que significa “escritor” (CAGLIARI, 2009). Podemos perceber através desses indícios que a escrita desde seus primórdios teve como objetivo a comunicação, e também a possibilidade de permanência dos conhecimentos produzidos ao longo das gerações.E essa foi uma das motivações para as mudanças que foram ocorrendo ao longo dos séculos em tantas civilizações diferentes. O sistema de representação consonantal dos semitas durou milênios, sendo que somente a escrita egípcia perdurou três mil anos. Os semitas das grandes civilizações estavam satisfeitos com seus sistemas de escrita, predominando no nordeste da África o sistema egípcio e na Mesopotânia o sistema cuneiforme. Entre essas civilizações, haviam povos não tão comprometidos com essas culturas, que eram grandes comerciantes no Mediterrâneo e logo perceberam a praticidade dos silabários cuneiformes, mas se sentiram atraídos pela escrita egípcia. Surgiu assim, uma escrita com caracteres egípcios para línguas do Oriente Médio, que uniu as vantagens gráficas dos caracteres egípcios às vantagens funcionais da escrita cuneiforme, chegando a um silabário com poucos caracteres (CAGLIARI, 2009). 9 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Em outra parte do Oriente, os fenícios tinham a escrita como importante suporte de sua atividade comercial. Tem-se indícios de que a escrita fenícia já se estabelecera no século XIII a. C. No século XI a. C. o sistema de escrita fenícia já havia passado por mudanças e se estabelecido de maneira definitiva, com 22 letras apenas. Ela está na origem de muitas outras escritas, como a árabe, a hebraica, a aramaica, a tamúdica, a púnica (de Cartago) e, sobretudo, a escrita grega, da qual se derivou a latina, origem do alfabeto que hoje usamos. A praticidade também foi um fator de influência nas mudanças ocorridas na cultura escrita, tendo em vista que ela foi se tornando importante para questões fundamentais das sociedades como por exemplo a comercialização como foi posto anteriormente. 1.2. O Alfabeto grego Segundo Heródoto, um fenício chamado Cadmos, que viveu de 1350 a 1209 a.C., instalou-se na Boécia, onde constituiu Tebas e começou a escrever grego com 16 caracteres fenícios. Conta-se também que, durante a guerra de Tróia, originaram quatro novas letras, introduzidas por Palamedes. O alfabeto grego teria sido completado pelo poeta Simônides de Ceos (556-468 a.C.) com mais quatro letras. O fato de colocar letras representando consoantes e vogais, umas ao lado das outras, compondo as sílabas, deu ao sistema de escrita o verdadeiro alfabeto. É por isso que muitos estudiosos dizem que o alfabeto propriamente dito foi inventado pelos gregos. Esta afirmação dá ênfase à função das letras na representação dos segmentos das sílabas e deixa de lado, de certo modo, a própria natureza das letras, tal qual existia na escrita semítica. São duas concepções diferentes do que é uma escrita alfabética (CAGLIARI, 2009, p. 4). No esforço para adaptar à sua língua o sistema de escrita já estabelecido para osfenícios, os gregos seguiram o mesmo princípio acrofônico1 da escrita fenícia.Os caracteres egípcios deram origem à escrita semítica. O alfabeto grego formou-se a partir do sistema fenício, uma ramificação da escrita semítica, que funcionou como modelo 1Originado de acrofonia: Antigo sistema gráfico que utilizava o que era originalmente o desenho ou o ideograma de um objeto como símbolo fonético do som (letra ou sílaba) inicial da palavra que tal desenho ou ideograma representava. Read more: http://aulete.uol.com.br/acrofonia#ixzz2qz28mieO 10 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda gráfico. Alguns caracteres fenícios, entretanto, passaram a representar vogais no alfabeto grego, perdendo seu valor consonantal de origem (as línguas semíticas grafavam apenas as consoantes das palavras). Pode-se dizer que os gregos, ao introduzirem vogais no sistema de escrita, desenvolveram o primeiro alfabeto moderno. O abecedário romano, empregado até hoje, derivou do alfabeto grego (CAGLIARI, 2009). A forma diversificada de dizer o nome das letras em latim passou, mais tarde, para as línguas neolatinas, como o português. Essa mudança transformou, em parte, o princípio acrofônico. Em seguida, com a introdução de novas letras, o princípio acrofônico nem sempre foi respeitado. Um exemplo é a letra H, que os romanos chamavam de adspiratio, passou a se chamar agá em português (CAGLIARI, 2009). As letras do alfabeto romano foram adquirindo estilos diferentes, com a produção de livros manuscritos e, principalmente, depois do surgimento das tipografias (1456). A forma gráfica das letras foi se alterando criando-se, desse modo, novos alfabetos. A escrita monumental romana originou as letras de forma maiúsculas e a escrita carolíngia deu origem às letras de forma minúsculas, no século IX. No século XII, surgiram as letras góticas (ou pretas) e as escritas cursivas caligráficas. A partir do aprofundamento que fizemos sobre história da origem da escrita, importante se faz ressaltar a complexidade desse sistemae a riqueza que o envolve. Muitas culturas, costumes, fatores sociais e econômicos influenciaram a criação do sistema alfabético. É difícil pensar o nosso cotidiano hoje sem a escrita. Ela é hoje fundamental para diferentes formas que temos de nos comunicar, seja por uma carta, e-mails e mais recentemente nas redes sociais.Não há como pensar na escrita, desvinculada de outra ação humana que é o ato de leitura. E como eram as primeiras práticas de leitura? A quem era permitido ler? É sabido que na história da humanidade o conhecimento não era disponível a todos com igualdade. Houve épocas em que o acesso ao conhecimento era restrito às elites. Agora vamos partir para as questões que envolvem a leitura e a escrita inseridasno contexto da escolarização e mais especificamente da alfabetização escolar. 11 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 1.3.A Alfabetização num contexto mais amplo A história da alfabetização no ocidente se iniciouhá aproximadamente dois séculos, na França, em meados de 1789, no contexto da Revolução Francesa. Desse modo, crianças são transformadas em alunos, aprender a escrever se sobrepõe a aprender a ler, ler agora se aprende escrevendo – até esse período, ler era uma aprendizagem distinta e anterior a escrever, compreendendo alguns anos de instrução através do ensino individualizado. É, então, no jogo estabelecido pela Revolução entre a continuidade e a descontinuidade do tempo, onde a ruptura vai sendo atropelada pela tradição, que a alfabetização se torna o fundamento da escola básica e a leitura/escrita, aprendizagem escolar (MEC, 2001, apud. BARBOSA). No contexto do século XX é possível perceber três períodos importantes, ao se analisar a evolução das discussões em torno da alfabetização escolar. No primeiro período, primeira metade do século, os debates se davam apenas no campo do ensino, buscando-se o melhor método para ensinar a ler, pois se acreditava que o fracasso escolar era devido a inadequação dos métodos utilizados(BRASIL/PROFA, 2001). Por volta dos anos 60 temos o ápice do segundo período, principalmente nos Estados Unidos. As discussões sobre a alfabetização se entrelaçavam com as questões do fracasso escolar. Isso se deu num contexto de luta contra a segregação dos negros, que trouxe como consequência uma batalha pela integralização das escolas americanas, ajudando a explicitar as dificuldades escolares das minorias (BRASIL/PROFA, 2001). O terceiro período se inicia em meadosdos anos 70, marcado por mudanças nas investigações e foco das mesmas. Ao invés de se buscar explicar os motivos que explicassem o déficit de quem não consegue aprender, passou-se a investigar como aprendem os que conseguem aprender a ler e escrever, e o que pensam sobre a escrita os que ainda não se alfabetizaram (BRASIL/PROFA, 2001). Em 1985,se destacam as investigações coordenadas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, publicadas no Brasil como Psicogênese da Língua Escrita. Osestudos acerca da psicogênese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código, envolve um complexo processo 12 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda de elaboração de hipóteses sobre a representação linguística. Nos anos seguintes, emergiram os estudos sobre o letramento, e foram de encontro com a compreensão da dimensão sócio-cultural da língua escrita e de seu aprendizado. Os dois movimentos, nas suas vertentes teórico-conceituais, romperam definitivamente com a segregação dicotômica entre o sujeito que aprende e o professor que ensina. Romperam ainda com o reducionismo que delimitava a sala de aula como o único lugar de aprendizagem. Magda Soares (2004) destaca os anos 80 como um contexto curioso simultaneamente em diversos contextos não apenas geográfico, mas também sociais e econômicos, no que tange, a necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais de leitura e de escrita mais avançadas e complexas que as práticas do ler e do escrever resultantes da aprendizagem do sistema de escrita. Assim, é em meados dos anos de 1980 que se dá, simultaneamente, a invenção do letramento no Brasil, do illettrisme, na França, da literacia, em Portugal, para nomear fenômenos distintos daquele denominado alfabetização, alphabétisation (p. 2). É ainda significativo que tenha ocorrido em igual período, no final da década de 70 aproximadamente, a proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) de ampliação do conceito de literatepara functionallyliterate, e, assim, a sugestão de que as avaliações internacionais sobre domínio de competências de leitura e de escrita fossem além do verificar apenas a capacidade de saber ler e escrever (SOARES, 2004). É notório que tal fato influenciou as avaliações externas no âmbito da alfabetização, tendo em vista que se ampliou a forma de avaliar, exigindo do leitor não apenas a capacidade de decodificação, mas abrangendo outras capacidades com a interpretação e produção autônoma. Porém, essa coincidência quanto ao momento histórico em que as práticas sociais de leitura e deescrita emergem como questão fundamental em sociedades distanciadas geograficamente, socioeconomicamente não se repete no que se refere ao contexto e as causas dessa emersão em países em desenvolvimento como o Brasil e países desenvolvidos como França, Estados Unidos e Inglaterra (SOARES, 2004). 13 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A principal diferença seria a ênfase dada nas relações entre as práticas sociais de leitura e escrita (letramento) e a aprendizagem do sistema de escrita (alfabetização). Assim, nos países desenvolvidos as práticas sociais de leitura e escrita assumem o lugar de problema relevante, a partir da constatação de que mesmo estando alfabetizada, a população não possui habilidades necessárias para uma efetiva participação nas práticas sociais. No Brasil o movimento se deu de outra forma, pois se despertou para a importância das habilidades necessárias para o uso competente da leitura e da escrita, vinculada à questão da aprendizagem inicial da escrita, desenvolvido a partir do questionamento do conceito de alfabetização. 1.4. A Alfabetização e o contexto educacional brasileiro Pensar a Alfabetização no contexto educacional brasileiro, traz várias questões intrínsecas a ela que precisam ser levantadas. Isso se deve ao fato de que o processo de Alfabetização não é algo exclusivo da escola. Antes de participar do ambiente escolar a criança é estimulada de variadas formas a entrar em contato com diferentes linguagens em seu cotidiano. Por muito tempo, o processo de alfabetização desconsiderou o contexto mais amplo vivido pela criança e até mesmo suas experiências anteriores. Porém, hoje sabemos que: As crianças e os adolescentes observam palavras escritas em diferentes suportes, como placas, outdoors, rótulos de embalagens; escutam histórias lidas por outras pessoas, etc. Nessas experiências culturais com práticas de leitura e escrita, muitas vezes mediadas pela oralidade, meninos e meninas vão se constituindo como sujeitos letrados (LEAL, ALBUQUERQUE & MORAIS, 2007, p. 70). E se essa consciência existe porque as avaliações mostram um resultado pouco promissor em relação à aprendizagem das crianças nos três primeiros anos de escolarização? Onde pode estar a origem desse contexto negativo em relação à alfabetização? Um dos fatores que podem ser levantados é que nos 80 chegou ao Brasil juntamente com a concepção de letramento uma nova organização do tempo da escola, que consiste na divisão em ciclos. Juntamente a essa proposta, veio a questão da progressão 14 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda continuada, que inclui a não reprovação. Então temos nesse momento, uma influência desses fatores na concepção de alfabetização do país. Essa concepção de alfabetização está, de certa maneira, associada ao construtivismo. Não estou afirmando que essa concepção seja errada, mas a maneira como ela se difundiu no sistema é que pode ser uma das causas da perda de especificidade do processo de alfabetização. A mudança conceitual que veio dos anos 80 fez com que o processo de construção da escrita pela criança passasse a ser feito pela sua interação com o objetode conhecimento. Interagindo com a escrita, a criança vai construindo o seu conhecimento, vai construindo hipóteses a respeito da escrita e, com isso, vai aprendendo a ler e a escrever numa descoberta progressiva. O problema é que, atrelada a essa mudança de concepção, veio a ideia de que não seria preciso haver método de alfabetização (SOARES, 2003, p. 1-2). A proposta construtivista tem o mérito de considerar que o indivíduo aprende a ler assim como qualquer outro tipo de aprendizagem, interagindo com o objeto do conhecimento. Como não era essa a visão dos métodos de alfabetização até então utilizados, esses se tornaram abomináveis até de serem citados. E aí começam os equívocos. Não se podia mais falar sobre o método silábico, do método fônico ou mesmo o método global. E esse equívoco se tornou maior, pois ao se abominar os métodos se deixou de considerar a especificidade da aquisição técnica da escrita. E tal especificidade está relacionada à codificar e decodificar. Apesar de não se restringir a tais técnicas, para aprender a ler é necessário relacionar fonemas e grafemas. Até então as práticas das professoras alfabetizadoras se baseavam em métodos que tinham como suporte a cartilha, acompanhada de um manual, que ditavam detalhadamente o que deveriam fazer. Impróprios ou não, as professoras ensinavam a codificar e decodificar. A verdade para elas eram aquele suporte, que não era baseado em uma teoria linguística ou psicológica. Porém, de acordo com a crença atual, se tem uma “teoria construtivista”, porém, não existe, ou não podem existir métodos. Tal concepção fez com que o processo de ensinar a ler e escrever como técnica ficasse desprestigiado. E o que precisamos na verdade são das duas partes do processo: um método fundamentado numa teoria, e uma teoria que produza um método (SOARES, 2003). 15 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Divulga-se nessa perspectiva a incompatibilidade entre a teoria construtivista e a utilização de um método. Ora, absurdo é não ter método na educação. Educação é, por definição, um processo dirigido a objetivos. Só vamos educar os outros se quisermos que eles fiquem diferentes, pois educar é um processo de transformação das pessoas. Se existem objetivos, temos de caminhar para eles e, para isso, temos de saber qual é o melhor caminho. Então, de qualquer teoria educacional tem de derivar um método que dê um caminho ao professor. É uma falsa inferência achar que a teoria construtivista não pode ter método, assim como é falso o pressuposto de que a criança vai aprender a ler e escrever só pelo convívio com textos. O ambiente alfabetizador não é suficiente (SOARES, 2003, p. 18). Sabemos atualmente que as crianças que vivem em ambientesricos em experiências de leitura e escrita,não só se motivam para ler e escrever, mascomeçam, desde cedo, a refletir sobre as característicasdos diferentes textos que circulam aoseu redor, sobre seus estilos, utilização e finalidade. Tendo em vista a constatação de que o contexto que a criança está inserida, pela estimulação que recebe irá fazer diferença em seu aprendizado, é necessário ter uma estratégia pedagógicapara reduzir as diferenças sociais.Aescola precisa assegurar que na rotina diária dos alunos, esteja presente a vivência de práticas reais deleitura e produção de textos diversificados. Em nosso contexto social, à instituição escolar, é oficialmente a responsávelpelo ensino da leitura e da escrita. O fracasso escolar não pode ser meramente justificado pela situação social e econômica de nosso aluno. A escola precisa garantir condições para que sua aprendizagem aconteça de maneira efetiva. E neste processo é necessário ampliar asexperiências das crianças demodo que eles possam ler e produzir diferentes textos com autonomia. Retomandoo que foi posto anteriormente sobre a codificação e decodificação, sobre a técnica de ler e escrever. Esta é uma parte do processo de aquisição da leitura e da escrita como técnica. Porém, a finalidade deste processo precisa ser sem dúvida a inserção do aluno de forma autônoma no meio social em que vive. 16 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Para tanto, é fundamental que, desde a educação infantil, a escola tambémse preocupe com o desenvolvimento dos conhecimentos relacionados à aprendizagem da escrita alfabética, bem como daqueles ligadosao uso e à produção da linguagem escrita. Nesse sentido, fica um convite à reflexãode nós professores sobre opapel do contato dos estudantescom diferentes textos,em atividades de leitura eescritarealizadas dentroe fora da escola. Porém, é preciso recordarque esse contatopor si só, sem mediação,não garante que nossos alunosse alfabetizem, ou ainda, quese apropriem do Sistema deEscrita Alfabética. Desse modo,consideramos importante se fazera distinçãoentrealfabetização e letramento (LEAL, ALBUQUERQUE & MORAIS, 2007). Esta unidade nos permitiu partir da origem da cultura escrita e não deixa de estar vinculada também ao contexto de criação da prática da leitura, e como este processo foi inserido primeiramente num contexto mais amplo e posteriormente em nosso país no ambiente escolar. É de suma importante frisar a necessidade de valorizar a complexidade e riqueza que envolve o processo de aquisição da leitura e da escrita, para que não se chegue ao equívoco de proporcionar seu ensino apenas de forma mecânica sem que este esteja inserido num contexto social, permitindo sua utilização de forma reflexiva. Leitura Complementar: MAGALHÃES, Suzana Marly da Costa. Oralidade e Cultura Escrita na Abordagem da História da Alfabetização. Universidade Federal do Ceará. O público e o privado. nº 2, julho/dezembro, 2003.Disponível em: http://www.seer.uece.br/?journal=opublicoeoprivado&page=article&op=view&path%5 B%5D=280Consulta em 11-10-2013. CAVALCANTE, Lidia Eugenia. Cultura escrita: práticas de leitura e do impresso. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518- 2924.2009v14nesp1p1/19829 Consulta em 20-11-13. 17 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Atividade de Conclusão da Unidade 1 1. Observando os aspectos abordados até aqui, vamos refletir sobre as diferentes concepções apresentadas e fazer um comparativo com a realidade da alfabetização no contexto atual. a) Quais concepções de alfabetização estão presentes em nossas escolas? Quais práticas alfabetizadoras acompanham essas concepções? Existem mudanças significativas para se ressaltar. Escreva nas linhas abaixo um texto reflexivo sobre tais questões. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 18 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 2. Para refletirmos sobre a escrita da criança no contexto da alfabetização inicial vamos assistir ao vídeo http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao- inicial/escrever-aprender-431517.shtml. Neste vídeo, a professora MariluciKamisaka, que alfabetiza toda sua turma de 1ª série até o final do ano letivo, realiza, em agosto, uma atividade de escrita pelos alunos. a) A partir da proposta desenvolvida pela professora com seus alunos, destaque as concepções de alfabetização da professora. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ b) De que forma você desenvolveria uma atividade de escrita pelas crianças no mesmo contexto apresentado? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 19 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda UNIDADE 2 Alfabetização e Letramento: conceitos que se entrecruzam "Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que pode ser”.(Magda Soares) 2.1. Definindo conceitos Ao se pensar nas palavras Alfabetização e Letramento e em seus significados ou conceitos geralmente buscamos um instrumento comum em nosso dia-a-dia, odicionário. No caso da palavra Alfabetização esse será o melhor caminho. Encontramos a princípio a palavra analfabetismo, que possui o sufixo ‘a’ no início da palavra, trazendo o sentido de privação, falta de. Este é acrescido da letra ‘n’ pois a palavra que lhe é adicionada (alfabet) começa com vogal. E ao final da palavra o sufixo ‘ismo’, que significa modo de proceder, de pensar. Assim temos a palavra analfabetismo que seria o estado ou condição de analfabeto. E a palavra significa analfabeto o que não conhece o alfabeto; que não sabe ler e escrever. Desse modo temos que alfabetizar é ensinar a ler e escrever e a Alfabetização é a ação específica de ensinar a ler e escrever. Vamos fazer uma pausa e trazer suas experiências para nosso estudo. A partir de sua atuação como professor/a como você definiria o termo Alfabetização? Registre nas linhas abaixo sua definição. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 20 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 2.2. Alfabetização e Letramento: aproximações e especificidades Foi observada uma progressiva mudança no conceito de alfabetização ao longo das décadas. A partir do conceito de alfabetizado, quevigorou até o Censo de 1940, como aquele que declarassesaber ler e escrever, o que era interpretado comocapacidade de escrever o próprio nome; passando peloconceito de alfabetizado como aquele capaz de ler eescrever um bilhete simples, ou seja, capaz de não sósaber ler e escrever, mas de já exercer uma prática deleitura e escrita, ainda que bastante trivial, adotado apartir do Censo de 1950; até o momento atual, emque os resultados do Censo têm sido frequentementeapresentados, sobretudo nos casos das Pesquisas Nacionaispor Amostragem de Domicílios (PNAD), pelocritério de anos de escolarização, em função dos quaisse caracteriza o nível de alfabetização funcional dapopulação, ficando implícito nesse critério que, apósalguns anos de aprendizagem escolar, o indivíduo teránão só aprendido a ler e escrever, mas também a fazeruso da leitura e da escrita, verifica-se uma progressiva,embora cautelosa, extensão do conceito dealfabetização em direção ao conceito de letramento:do saber ler e escrever em direção ao ser capaz defazer uso da leitura e da escrita (SOARES, 2004, p. 7). Assim, a partir dessa concepção inicial, convidamos você a continuarmos ampliando e aprofundando a visão em relação ao termo Alfabetização. Em meados da década de 90 é observado um movimento na mídia de crítica aos parâmetros daquilo que se considera como um indivíduo alfabetizado, como aquele que consegue ler e escrever apenas um bilhete simples. Acompanhando tais críticas surgiram a utilização de termos como ‘desqualificados’ que seriam aqueles alfabetizados com menos de quatros anos de escolarização; e ainda os termos semi- analfabetos, iletrados, analfabetos funcionais. Nesse sentido, percebe-se uma divulgação por parte da mídia de um conceito de alfabetização aproximado do conceito de letramento. A associação entre os termos alfabetização e letramento também esteve presente nas produções acadêmicas brasileiras (SOARES, 2004). Destacamos a obra Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso, de Leda VerdianiTfouni (1988), uma das primeiras a registrar o termo letramento. A autora aproxima os dois termos com o objetivo de diferenciá-los e retoma tal proposta em 21 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Letramento e alfabetização (1995). Também na coletânea organizada por Roxane Rojo, Alfabetização e Letramento (1998) a proposta de diferenciação dos dois conceitos se evidencia pela aproximação dos mesmos. Já Ângela Kleiman, organiza a coletânea “Os significados do letramento (1995) discute o conceito de letramentotomando como contraponto o conceito de alfabetização e alternando ao longo do textos os dois conceitos. E em 1998, Magda Soares, no livro Letramento: um tema em três gêneros, a autora propõe conceituar e confrontar os dois processos (SOARES, 2004). No intuito de diferenciar e garantir a especificidade do conceito de alfabetização, trazemos a definição a seguir: (...) alfabetização, corresponderia ao processo pelo qual se adquire uma tecnologia – a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-la para ler e para escrever. Dominar tal tecnologia envolve conhecimentos e destrezas variados, como compreender o funcionamento do alfabeto, memorizar as convenções letra-som e dominar seu traçado, usando instrumentos como lápis, papel ou outros que os substituam. (LEAL, ALBUQUERQUE & MORAIS, 2007, p. 70). Agora vamos pensar na palavra Letramento. Ela não é uma palavra dicionarizada, pois sua utilização na língua portuguesa é recente. Encontramos no dicionário as palavras letrado (versado em letras, erudito) e iletrado (que não tem conhecimentos literários). Mas esse não é o sentido em que a palavra letramento é utilizada. E para entender o sentido dessa palavra, importante se faz perceber o porque da necessidade de surgimento da mesma. Na língua sempre surgem novas palavras a partir da ocorrência de novos fenômenos, pois o ser humano não sabe viver sem nomear as coisas.E a palavra letramento é uma tradução para o Português da palavra inglesa literacy, que traduzindo seria a condição de ser letrado. Assim, “letramento, relaciona-se ao exercício efetivo e competente daquela tecnologia da escrita, nas situações em que precisamos ler e produzir textos reais” (LEAL, ALBUQUERQUE & MORAIS, 2007, p. 70). O Letramento dá ênfase nos aspectos sócio-históricos da aquisição da leitura e da escrita, evidenciando seu interesse social. 22 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda O que você achou da origem da palavra letramento? Está claro para você o sentido desta palavra? Vamos fazer um exercício neste momento de ampliar a definição da palavra letramento, criando uma definição sua a partir dos conhecimentos teóricos e práticos que você já possui, para que possamos assim ir aprofundando em nossos estudos. Registre nas linhas a seguir suas ideias. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ No Brasil a discussão do letramentosurge sempre enraizada no conceito de alfabetização,o que tem levado, apesar da diferenciaçãosempre proposta na produção acadêmica, a uma inadequadae inconveniente fusão dos dois processos,com prevalência do conceito de letramento, o que temconduzido a certo apagamento da alfabetização (SOARES, 2004). Destacamos assim que a grande diferença entre alfabetização e letramento, entre alfabetizado e letrado: umindivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aqueleindivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado deletramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura ea escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura ede escrita (SOARES, 1998). De modo geral, as mudanças e ampliação do termo alfabetização é recente e talvez por isso algumas ideias demorem a ser superadas. Podemos perceber o quanto são recentes essas mudanças quando pensamos no contexto em que fomos alfabetizados. Nele era dado espaço à reflexão sobre a escrita, sobre sua utilização social, à expressão oral da criança? 23 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Temos a seguir a definição de Letramento a partir de um poema, escrito por uma estudante norte-americana, de origem asiática, Kate M. Chong, ao escrever sua históriapessoal de letramento, define-o em um poema: O QUE É LETRAMENTO? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente O tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser (SOARES, 1998). Observamos a partir de nossos estudos até aqui, que a Alfabetização é uma ação de ensinar e aprender a ler e escrever, que por sua vez é um processo inserido no Letramento. Porém, suas especificidades não podem deixar de ser trabalhadas no contexto escolar, tendo em vista as habilidades técnicas que a envolve. Lembrando que a forma de direcionar tais técnicas que precisam estar inseridas num contexto. 24 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Convido você para refletir sobre o conceito de letramento a partir da imagem a seguir também presente na capa de nosso livro. Como poderíamos definir o termo letramento a partir dessa imagem? Registre suas ideias nas linhas abaixo. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2.3.A questão do método no contexto educacional Iniciamos nosso estudo sobre a questão o método com um questionamento: É possível alfabetizar sem método? A problematização proposta agora nos faz aprofundar em algo bastante complexo no contexto escolar e mais especificamente no contexto da alfabetização. Ao se pensar no objetivo da Pedagogia enquanto ciência, ressaltamos sua atuação na busca de compreender como se dá o ensino e a aprendizagem nas diversas esferas educativas. A partir disso o que deve buscar são as formas mais adequadas para a realização deste trabalho que passa pela instrução, mas que abrange também de maneira mais ampla a formação humana. 25 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Concordamos com Soares (2003) quando discuti o equívoco de se defender a ausência de métodos na educação após a influência do construtivismo, tendo que se a educação é um processo de transformação dirigido a objetivos, para que esses se efetivem é temos que caminhar para eles, e nesse sentido precisamos ter claro o melhor caminho ou estratégia. E necessariamente de toda teoria educacional precisa derivar um método. Quando nos propomos a discutir aqui a questão de método, estamos partindo de uma visão ampla, que não se restringe aos métodos sintéticos e analíticos, mas sim de aspectos metodológicos. Nesse sentido, escolhas metodológicas de alfabetização incluem métodos, organização do espaço e de um ambientede letramento, delimitação das capacidades que se pretende atingir, seleção de materiais, de procedimentos de ensino, de maneiras de avaliação, tudo isso inserido num contexto político mais amplo de organização do ensino (FRADE, 1993). A escola é uma agência de letramento como as outras e a educação deve ter uma preocupação permanente com as formas de ensinar o princípio alfabético da escrita, tendo em vista que, como afirmamos anteriormente, um ambiente alfabetizador não é o bastante para o processo de aquisição da escrita. E podemos acrescentar ainda que a apropriação dos métodos não será sempre algo homogêneo, por não ser um processo estático, mas dinâmico, tendo em vista que os professores não se apropriam deles da mesma maneira. Nesse processo de apropriação se mesclam competências diferenciadas, conhecimentos e a própria intuição do educador, presentes em práticas que deram certo. 2.4. Os Métodos de Alfabetização e suas particularidades Fizemos alguns apontamentos sobre os métodos de alfabetização ao final da Unidade 1, e agora daremos continuidade ao estudo dos mesmos. Apesar da utilização dos tradicionais métodos de alfabetização já ser considerada ultrapassada, importante se faz que os conheçamos para que quando formos construir críticas sobre eles, que elas sejam bem fundamentadas. 26 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda E se nos atentarmos às práticas atuais de alfabetização, iremos perceber que muitas ainda estão baseadas nos métodos sintéticos e analíticos. Vamos ao longo dessa unidade refletir sobre esse e outros aspectos relacionados aos métodos de alfabetização. A alfabetização considerada como o ensino das habilidades de “codificação” e “decodificação” foi transposta para a sala de aula, no final do século XIX, mediante a criação de diferentes métodos de alfabetização – métodos sintéticos (silábicos ou fônicos) x métodos analíticos (global) –, que padronizaram a aprendizagem da leitura e da escrita. As cartilhas relacionadas a esses métodos passaram a ser amplamente utilizadas como livro didático para o ensino nessa área. (MORTATTI, 2000 apud. SANTOS & MENDONÇA, 2005, p. 11- 12). De acordo com FRADE (2007) as discussões sobre métodos de alfabetização se fazem presentes no meio educacional, desde que a escola se tornou popular atendendo também a grande massa. E assim, o contexto em que eles se originaram se dá na formação dos sistemas escolares ocidentais, em que surge a necessidade de ensinar a todos, num mesmo espaço e tempo. Ao se pensar nas especificidades dos métodos de alfabetização, podemos afirmar que sua consolidação se deu em conjunto com os ideários gerais de outros métodos e que dão base para a seleção dos conteúdos específicos da língua a serem ensinados a crianças, no processo inicial de aquisição da escrita. Destacaremos as principais características dos métodos sintéticos e analíticos a partir das contribuições trazidas por Izabel Cristina Alves da Silva Frade, em seu texto “Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais” do ano de 2007. 2.4.1. Características dos Métodos Sintéticos Os métodos sintéticos quanto ao seu procedimento mental ou ponto de partida vai das partes para o todo. Na história dos métodos sintéticos temos a escolha de princípios organizativos diferenciados que valorizam a memorização de sinais gráficos e as correspondências fonográficas. Essa tendência abrange o método alfabético que toma como unidade a letra; o método fônico que toma como unidade o fonema e o método silábico que toma como unidade um segmento fonológico mais facilmente pronunciável, que é a sílaba. O que os diferencia de modo geral seria a opção por um 27 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda caminho apenas – a letra, o fonema ou a sílaba, para sistematização das relações fonema-grafema. Nas estratégias utilizadas num dos métodos mais antigos, o alfabético ou de soletração, destaca-se a aplicação de uma sequência modelar, que inclui a memorização oral das letras do alfabeto, logo após seu reconhecimento em pequenas sequências e numa sequência de todo o alfabeto e por fim, de letras isoladas. Em seguida, propunha a decoração de possibilidades de combinações silábicas, porém sem estabelecer relação entre a representação gráfica e a fala. Esta relação deveria ser alcançada pelo aluno através da memorização e adição de letras. Os silabários eram apresentados em todas as combinações possíveis sendo utilizada como estratégia para memorizar, cantando. O método fônico se origina como reação às críticas ao método de soletração. Nele se inicia ensinando a forma e o som das vogais. Logo após se ensina as consoantes, formando entre elas relações cada vezmais complexas. Cada letra (grafema) é aprendida como um fonema (som) que juntamente a outro fonema, pode formar sílabas e palavras. A estratégia utilizada para ensinar os sons, é de uma sequência que vai de sons maisfáceis para os mais complexos. Assim, existe uma relação direta entre fala e escrita e a ênfase na relaçãosom/letra é o principal objetivo. Os livros que se baseiam no método fônico têm como ponto de partida em suas lições palavras ou pequenos textos. E no manual o professor recebe as orientações de qual momento fará a apresentação das letras e qual estratégia pode utilizar. A perspectiva dométodo silábico, pode ajudar a concretizar mais rapidamente a relação de segmentos da fala com segmentos da escrita, uma vez que o acesso direto à sílaba e não ao fonema. Nele a principal unidade a ser analisada pelos alunos é a sílaba. Também aqui se utiliza a estratégia de partir do mais simples, ou seja, das sílabas “simples” para as “complexas”. Em várias cartilhas dos métodos silábicos geralmente são apresentadas palavras-chave, utilizadas somente para apresentar as sílabas, que são destacadas das palavras e estudadas ordenadamente em famílias silábicas. Estas são remanejadas para formar outras palavras e frases, restritas as sílabas estudadas. No entanto, há variações nas propostas das cartilhas, podendo apresentar a letra e suas famílias silábicas mostradas em diferentesordens a cada linha, por exemplo:ba, be, bi, 28 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda bo, bu na primeira, bu, be, bo, ba, bi na segunda e assim por diante.Outra forma seria apresentar palavras com sílabas separadas porhifens. E ainda a denominada “Exercícios”, é formada por um conjunto depequenas frases ou textos, em que as palavras também são separadas em sílabaspor hifens. Mesmo que a formação de palavras se dê na maioria das vezes por consoantes e vogais, muitas cartilhas enfatizavam primeiramente o trabalho com as vogais e seus encontros para depois iniciar com as sílabas. Porém, nem sempre os métodos silábicos eram ligados a famílias silábicas e nem sempre se nomeavam dessa forma. Na Cartilha Nacional, publicada no final do século XIX, por Hilário Ribeiro, masas palavrasaparecem inteiras. O princípio silábico pode ser apreendido pelamarcação gráfica (cores ouhachurados) diferente para cada componente silábicode uma lista ampla de palavras. Além disso aparecem todas as palavras e casosde sílabas com a letra estudada como “ouvia, vivia, uivava, ouviu” , por exemplo,sem distinção de mais fáceis e mais difíceis do ponto de vista da canonicidadee do número de sílabas da palavra (FRADE, 2007, p. 5). Em relação aos métodos sintéticos até aqui relacionados, pode-se dizer que mesmo com apredomínio do significante que reforça os aspectos abstratos difíceis de serem percebidos pelosalunose apesar da utilização de estratégias queprovocam distanciamento, a pedagogia veio criando várias estratégias para recuperar o significado, por exemplo, pela associação da apresentação das letras a umahistória, seja através de jogos e brincadeiras para tornar mais prazerosa esta análise. Assim, constata-se que as tentativas de uma contextualização do processo de alfabetização pela pedagogia não é recente. Em geral, eles privilegiam o sentido do ouvir na relação com os sinais gráficos sendo comuns a eles os exercícios de leitura em voz alta e o ditado, sendo garantida em todas estas atividades a coerência com o pressuposto da transformação da fala em sinais gráficos. 2.4.2. Os métodos analíticos Agora vamos partir para as características dos métodos analíticos. Elespartem do todo para aspartes e buscam atuar na compreensão e não na decifração.Defenderam a inteireza do fenômeno da língua edos processos de percepção infantil e tomam como 29 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda unidade deanálise a palavra, a frase e o texto e supõem que baseando-se no reconhecimento global como estratégia inicial.Posteriormente a isso, os alunos podem realizar umprocesso de análise de unidades e de acordo com o método (global de contos, sentenciação ou palavração) irão do texto à frase, da frase à palavra, da palavra à sílaba. Alguns exemplos de procedimentos utilizados nas atividades são cartões para fixação, com palavras de um lado e gravuras correspondentes de outro e exercícios cinestésicos para o ensino do movimento de escrita de cadapalavra. Diferenciando as variações existentes nos métodos analíticos, temos no método de sentenciação, como unidade a sentença, trabalhando-se primeiramente no seu reconhecimento e compreensão global e depois será decomposta em palavras e, por fim, em sílabas. Temos ainda o método da frase, que apresenta um sentido semelhante ao método de sentenciação, porém se fazendo uso de um grupo de palavras com sentido desde o início da alfabetização. O ponto de partida aqui são atividades de expressão oral das crianças, em que os enunciados são simplificados em orações simples e escritos em faixasde tamanhos diferentes. Elas ficam expostas na sala de aula para que as crianças possam ilustrá-las, permanecendo numa determinada ordem e assim possam serconsultadas para que as crianças encontrem nelas outras palavras e combinações (BRASLAVSKY, 1985, apud. FRADE, 2007, p. 28). No Brasil, em meados da década de 30, surgiu a denominação “métodoglobal de contos ou de historietas”. Nele é o texto o ponto de partida. O método global de contos traz diferentes contribuiçõesde Decroly, que organiza o método, a partir dos seguintes princípios: - Princípio do interesse - Princípio da globalização - Percepção visual como atividade predominante - A leitura se faz por ideias e não por sinais gráficos 30 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda - A leitura precisa ter um caráter natural que funciona como a aquisiçãoda linguagem falada. (BRASLAVSKY, 1985, apud. FRADE, 2007, p. 27). Com algumas variações, esse método parte do reconhecimento global de um texto que é memorizado e na realização da leitura por um período, para o reconhecimento de sentenças,seguida do reconhecimento de expressões (porções de sentido), de palavras e,finalmente, das sílabas. Não se trata de um processo sequencial e simultâneo entre as fases citadas. Tendo o sentido como foco,o professor inicia o processo utilizando-se, por um período, de textoscompletos das várias lições seguidas. Apenas após a vivência por um período maior com o texto é que viria uma forma de decomposição, contudo com o cuidado de fragmentaro texto em parcelas maiores como primeiro a sentença e depois a palavra. Em manuais dos métodos globais é observada a orientaçãopara que o professor apenas entre em cada etapa quando perceber que as crianças já fazem algum tipo de análise (da frase, das palavras ou das sílabas). É constatado na história dos métodos analíticos que alguns adeptosmais radicais do método global defenderam que o processo de análise fosse realizado de forma espontânea pelo próprio aluno e que não era necessária a intervenção do professor no apontamento de unidades menores. Já outrosque aderiram ao método global analítico, defenderiam de forma menos radical a inteireza como ponto de partida, mas sem dispensar do ensino aanálise de unidades menores, fazendo-o se aproximar, de uma estratégia de decifração. Em geral, pode-se afirmar que se privilegia nosmétodos analíticos a visão e que os principais exercícios utilizados neste método buscam o reconhecimento de palavras sem uma preocupação com a leitura labial. Por fim, prioriza-se a leitura silenciosa e a cópia em detrimento da leitura oral dos cartazes (FRADE, 2007). 2.5. Mudanças nas concepções de métodos Houve grande reviravolta na concepção de método como livro didático e uma virada paradigmática em seus procedimentos, ficando as vezes imperceptível a especificidade do suporte cartilha e sua função contrapondo-a aos livros de leitura. Acrescenta-se a isso que fica evidente que quanto mais claras as estratégias ficam para os especialistas, elas 31 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda se tornam mais obscuras para os professores, passando os mesmo a optarem por cartilhas mais próximas possíveis de suas conhecidas práticas (FRADE, 1993). Entre os procedimentos presentes em livros mais atuais observa-se a permanência de muitos daqueles existentes nos métodos sintéticos e analíticos, porém com outros gêneros, usos sociais e em outros contextos sócio interativos. E nesse ponto surge um entrave já mencionado a pouco, de que o bombardeio iniciado na década de 80 frente aos métodos, tem impedido que as discussões em torno de aspectos pedagógicos voltados para os procedimentos de ensino sejam consideradas relevantes. Desse modo, os professores se sentem impedidos de ter preferência pelos métodos que trazem bons resultados para o seu trabalho. Ao se considerar método como um conjunto de princípios provenientes de diversas ciências contemporâneas, se evidencia que nas últimas décadas temos tido produções teóricas inovadoras. Entretanto, precisamos refletir se já houve tempo suficiente para a consolidação destas, permitindo-se ter conclusões sobre sua eficácia. E neste sentido, também é preciso ressaltar a importância das novas didáticas que vem surgindo e que não são divulgadas e que precisam ser reconhecidas como estratégias metodológicas. Temos que reconhecer para não cairmos em equívoco, que professores tradicionais também dominam práticas de sucesso e que não é possível simplesmente abandonar tudo aquilo que se tem de acúmulo sobre como se alfabetiza. Quando pensamos na valorização dessas práticas que geram novas estratégias, isso nos remete a como estão sendo pensados e organizados os cursos de formação de professores. Essa valorização está presente nesses cursos? Na Unidade 3 iremos tratar da formação de continuada de professores. E é imprescindível nesse estudo não perdemos de vista as concepções presentes na estrutura dessas formações, bem como a concepção dos professores que delas participam, tendo em vista que elas irão influenciar o desenvolvimento das propostas de formação. 32 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Leitura Complementar: ALBUQUERQUE, Eliana B. C., MORAIS, Artur G. E FERREIRA, Andréa Tereza B. As práticas cotidianas de alfabetização: o que fazem as professoras? In: Revista Brasileira de Educação.V. 13, n.38. maio/ago 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v13n38/05.pdf Este artigo apresenta uma pesquisa que analisa como um grupo de professoras do 1º ano do Ensino Fundamental transpõem as "mudanças didáticas" relacionadas à alfabetização para suas práticas de ensino e como "fabricam" suas práticas pedagógicas cotidianas. BIZZOTTO, Maria Inês; AROEIRA, Maria Luisa e PORTO, Amélia. Alfabetização linguística da teoria à prática. Belo Horizonte: Dimensão, 2009. (Acervo do PNBE do Professor 2010). Aborda os temas alfabetização e letramento, de forma integrada, com reflexões teóricas, sugestões de atividades práticas e exemplos de produções infantis. Discute sobre o processo de aprendizagem, tendo como referência as teorias de Piaget e Vygotsky. MACIEL, Francisca Izabel Pereira e LÚCIO, Iara Silva. Os conceitos de alfabetização e letramento e os desafios da articulação entre teoria e prática. In: CASTANHEIRA, Maria Lúcia, MACIEL, Francisca e MARTINS, Raquel (orgs.) Alfabetização e letramento na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica Editora: Ceale, 2008. (Acervo do PNBE Professor 2010). Esse texto tem o objetivo de refletir sobre as relações entre o processo de ensino- aprendizagem da leitura e da escrita, considerando a discussão recente sobre alfabetização e letramento. SANTOS, Carmi Ferraz e MENDONÇA, Márcia. Alfabetização e Letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Disponível em: http://www.ceelufpe.com.br/e-books/Alfabetizacao_letramento_Livro.pdf Este livro traz um conjunto de textos de autores diversos que abordam esses conceitos, suas relações com a escolarização, o trabalho com os gêneros textuais na escola, inseridos na perspectiva de alfabetizar letrando. SOARES, Magda. A reinvenção da alfabetização. .Revista Presença Pedagógica. Disponível em: http://www.presencapedagogica.com.br/capa6/artigos/52.pdf A autora postula a necessidade de, ao "alfabetizar letrando", retomarmos um ensino sistemático de alfabetização, no qual a escola reconquiste a explícita intencionalidade de ensinar a escrita alfabética, equivalente à faceta linguística do processo de alfabetização. 33 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Atividade de Conclusão da Unidade 2 Discutimos ao longo dessa unidade concepções de alfabetização, letramento e métodos. Para pensarmos nessas concepções frente às nossas práticas, vamos assistir aos dois vídeos a seguir. Vídeo 1: Aprender a Aprender http://www.youtube.com/watch?v=Pz4vQM_EmzI Vídeo 2: Tecnologia ou Metodologia http://www.youtube.com/watch?v=IJY-NIhdw_4 Após assistir aos vídeos faremos uma atividade que nos ajudará em nossa reflexão. O quadro abaixo fará uma comparação entre os dois vídeos quanto as concepções de ensinar, aprender, da metodologia utilizada e do planejamento. Registre suas ideias nos lugares correspondentes. Discuta suas ideias com outros colegas. Ações do ensinar Ações do aprender Metodologia Planejamento VÍDEO 1 VÍDEO 2 34 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda UNIDADE 3 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: PROGRAMAS PARA PROFESSORES ALFABETIZADORES E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? José Saramago Nesta unidade iremos tratar de algo imprescindível para que melhorias nos processos de Alfabetização e o Letramento ocorram – a formação de professores. Não iremos tratar aqui da formação inicial de professores, mas sim da formação continuada, que em alguns casos acontecem no modelo de formação em serviço. E assim iremos lembrar de alguns Programas de formação de professores oferecidos, suas características, organização e uma breve análise de cada um deles em suas concepções e objetivos. As experiências mais antigas de formação continuada de professores alfabetizadores no Brasil datam de meados dos anos 60. Nesse contexto, foi promovido pelo INEP, em colaboração com a direção dos Cursos de Aperfeiçoamento do Instituto de Educação do Rio de Janeiro um estudo sobre o aperfeiçoamento docente, com o objetivo de saber a opinião dos professores sobre os mesmos. O que se constatou foi uma insatisfação dos docentes com os cursos, justificada de um modo geral pelo distanciamento deles com a realidade em que os professores trabalham e que não levavam em consideração as sugestões dos docentes (ALFARES, 2009). 3.1. A formação continuada de professores alfabetizadores Alguns movimentos políticos influenciaram os processos de formação continuada de professores tais como a ditadura militar, o movimento de democratização da sociedade e os movimentos de globalização da cultura e da economia. No regime militar um dos fatores de influência foram os acordos firmados entre MEC- USAID, tendo a política educacional brasileira que se adaptar às exigências dos técnicos americanos. A década de 70 é marcada por uma significativa expansão da formação continuada por conta do advento da modernização social. Com a abertura política nos 35 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda anos 80, houve uma intensificação dos movimentos em prol da educação, do avanço científico e tecnológico. Também esse período foi marcado por uma maior participação dos professores nas questões relacionadas à educação. Já havia nesse contexto uma preocupação para além da dimensão técnica da formação, mas também com a dimensão política da prática docente (ALFARES, 2009). Apesar dos avanços apontados, as formações continuadas oferecidas pelos órgãos do Estado aos professores não tem surtido efeito, sendo isso atribuído à falta de uma política de capacitação mais eficiente tendo em vista a continuidade das mesmas e uma maior aproximação com a realidade das escolas. No final dos anos 80 e início dos anos 90, foram muito enfatizadas as formações em serviço, pois se considerava que as formações em formato de encontros e treinamentos que os professores estavam participando não estavam sendo suficientes para melhorar a qualidade do ensino. Assim, essas formações aconteciam no próprio local de trabalho, através de uma reflexão contínua de suas práticas (ALFARES, 2009). No contexto da década de 90, as políticas educacionais deram muita ênfase ao professor, que positivamente veio para o centro do debate educacional, mas por outro lado teve um reflexo negativo e contraditório – o aligeiramento de sua formação, promovendo uma fragmentação e esvaziamento de conteúdos. Isso se deu principalmente pela associação da reflexão sobre as práticas à competência técnica, distanciando-se das questões políticas da formação. Assim observamos que a formação continuada no Brasil ao longo dessas décadas foi fortemente influenciada em suas concepções e objetivos por fatores políticos, econômicos e sociais. Percebemos até os dias de hoje, um discurso presente no contexto educacional que diz que a teoria nada tem a ver com a prática. Mas sabemos que tal discurso promove distanciamento entre teoria e prática prejudicando e esvaziando a qualidade de nossas práticas. Assim, necessário se faz tratar a teoria e a prática considerando a importância de cada uma delas. E assim construir formações que levem em consideração a natureza social tanto da escola quanto das formações. 36 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A partir do que discutimos até o momento sobre formação continuada de professores, reflita agora sobre suas concepções em relação
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