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MATERIAL DIDÁTICO FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A DIVERSIDADE U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 3 UNIDADE 1 - O PROBLEMA DA DIVERSIDADE .............................................................................................. 6 UNIDADE 2 - CULTURA E DIVERSIDADE ..................................................................................................... 17 UNIDADE 3 - TRABALHANDO COM OS TEMAS TRANSVERSAIS .................................................................. 37 CONCLUSÃO.............................................................................................................................................. 40 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 41 Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 3 INTRODUÇÃO Há pouco mais de dez anos, o Ministério da Educação publicou os volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais com orientações sobre o Ensino e a Educação no Brasil. A novidade destes documentos é que os parâmetros curriculares nacionais não trataram apenas de questões didáticas e conceituais das diferentes disciplinas, mas foram publicados também volumes sobre os Temas Transversais. Os temas transversais são um conjunto de elementos relativos à formação da cidadania, o que pede um complemento à formação dos profissionais em educação. Não se trata somente de consciência política, como foi predominante nas décadas de 1970 e 1980. A prática educacional deve estar voltada para a compreensão da realidade social e também da formação do indivíduo em relação à sua vida pessoal e coletiva e, evidentemente, os princípios da vida política. Os Temas Transversais são: Ética; Pluralidade Cultural; Meio Ambiente; Saúde; Orientação Sexual; Trabalho e Consumo. Os critérios de escolha desses Temas foram questões que englobam inúmeros aspectos da vida social e que possibilitariam a experiência concreta para a construção de uma identidade de democracia e cidadania. A urgência social são as questões que chamam à atenção dos estudantes e que se tornam obstáculos para a concretização da cidadania, por exemplo, o trabalho infantil. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 4 A abrangência nacional, os títulos dos temas remetem à problemas que podem ser encontradas em todo o território nacional, mas há questões de caráter regional que devem ser analisadas nas escolas. A possibilidade de ensino e aprendizagem também foi um critério importante para orientação dos temas, assim como para a escolha dos projetos escolares, pois de nada adianta a escolha de temas interessantes para o universo adulto, se o conteúdo não faz sentido para o universo de crianças e adolescentes. Dessa forma, tanto a escolha dos temas para os projetos de trabalho, como a abordagem deverão ser feitas de tal forma que envolva o interesse e a participação dos estudantes. Por fim, favorecer a compreensão da realidade e a participação social é incentivar e capacitar os alunos a se posicionarem diante das questões que interferem na vida coletiva e que exigem um posicionamento responsável. Os Temas devem facilitar o aprendizado dos conteúdos escolares e também permitir a formação de cidadãos ativos e responsáveis. A inserção desses temas na elaboração do trabalho escolar e, em especial, no trabalho docente significa criar um eixo vertebrador em torno do qual orbitam as disciplinas escolares. Esse eixo é a formação para a cidadania. Isto não significa a desvalorização das disciplinas, nem mesmo o acréscimo de novas disciplinas no currículo, mas a criação de um elo entre o desenvolvimento cognitivo e motor dos estudantes – promovidos pelas disciplinas escolares – e o desenvolvimento de uma cultura de participação ativa da vida social. Os Parâmetros Curriculares Nacionais partem do princípio de que nossa sociedade não é homogênea: Ao se admitir que a realidade social, por ser constituída de diferentes classes e grupos sociais, é contraditória, plural, polissêmica, e que isso implica na presença de diferentes pontos de vista e projetos políticos, será então possível compreender que seus valores e seus limites também são contraditórios. (PCN, 1998, p. 23) Ora, essa realidade social heterogênea e contraditória é reproduzida no espaço escolar e deve ser o ponto de partida para o trabalho de formação da Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 5 cidadania. A constituição da sociedade é um processo dinâmico, portanto, sujeito à transformações constantes. Sendo assim, a escola deve ser um agente transformador da sociedade para que haja tolerância entre as diferenças e ações efetivas contra a desigualdade. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 6 UNIDADE 1 - O PROBLEMA DA DIVERSIDADE Prof. Dr. José Benedito de Almeida Júnior. 1 Quando se utiliza o termo diversidade, pode-se dirigir a uma série de assuntos diferentes, porém que possuem alguns pontos em comum. O tema exige uma abordagem no processo de formação de professores, porque a Escola é um lugar onde ocorre a reprodução de fenômenos sociais, dentre eles o preconceito e a discriminação, isto é, isolar, humilhar, perseguir algum indivíduo ou grupo de indivíduos a partir de alguma característica que lhe seja ou lhes sejam particulares. Alguns casos, que serão brevemente apresentados aqui, são: a) O preconceito de gênero; b) O preconceito cultural; c) O preconceito racial ou étnico; d) O preconceito de classe; e) O preconceito religioso; f) O preconceito em relação aos portadores de necessidades especiais; As minorias ficam mais visíveis na medida em que dois processos ocorrem: o primeiro é o de globalização que trouxe, inevitavelmente, a massificação ou a homogeneização de comportamentos e padrões do que é ou não “culturalmente” bom, correto, bonito. O segundo processo é justamente a busca por espaço social e geográfico das minorias que, organizadas politicamente, reivindicam sua visibilidade e a igualdade de condições com outros grupos da mesma sociedade. Ocorre, também, o fenômeno de minorias majoritárias. Trata-se de um fenômeno bastante comum, no qual a maioria da população é excluída de determinadosdireitos ou de condições sociais iguais a de um pequeno grupo que 1 José Benedito de Almeida Júnior é doutor em Ética e Filosofia Política pela Universidade de São Paulo – USP – e professor de Prática de Ensino em Filosofia, na Universidade Federal de Uberlândia. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 7 goza de determinados privilégios oficialmente estabelecidos ou socialmente produzidos. O apartheid, da República Sul-Africana, era um exemplo de sociedade que criou uma minoria (no sentido de grupo socialmente excluído de determinados benefícios sociais) que é composta pela maioria da população. Um outro caso, ainda em vigor, é o de estudantes da rede pública de ensino no Brasil, na Educação Básica, que, apesar de serem a maioria em relação aos estudantes da rede particular, não tem qualquer chance de competir em condições de igualdade com esses nos exames vestibulares das Universidades Públicas. Em todo o mundo surgiu o fenômeno das ações afirmativas, isto é, propostas de lei que têm por objetivo mitigar a desigualdade social decorrente de condições históricas e culturais. São “medidas compensatórias”, cujo objetivo é reduzir os efeitos das discriminações e preconceitos que afetam as minorias na sociedade. As ações afirmativas são políticas públicas – que atingem também os setores privados – voltadas para a concretização do princípio constitucional de igualdade contra os efeitos das discriminações: de gênero, de idade, racial ou étnica, de origem nacional e de compleição física. Como se vê, essas políticas ainda não atingem outras discriminações que ocorrem no cotidiano e que nas escolas se tornam um grande problema: trata-se do preconceito sobre os regionalismos. No ambiente escolar há dois elementos que são fundamentais observar. O primeiro é o combate ao assédio moral, assunto geralmente tratado em ambientes de trabalho e do qual a escola não escapa. O assédio moral ocorre nas relações entre os funcionários da escola, especialmente, entre direção, coordenação, supervisão e professores e se refletem também nas relações entre professores e alunos. É o caso de diretores que quando dão exemplo de coisas erradas citam sempre os mesmos professores ou suas aulas e atividades como exemplo de fracassos. E esses se sentem Inferiorizado, menosprezado, traído, sem valor, constrangido. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 8 O assédio moral é a exposição de um trabalhador ou trabalhadora à situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante o exercício da função. Em geral, o assédio moral ocorre em relações hierárquicas de superior para inferior, mas também entre cargos iguais, como o entre docentes e de inferior para superior na hierarquia escolar. Dentro da sala de aula, também podem ocorrer situações de assédio moral, quando um professor ou professora “persegue” um estudante seja com piadas, seja com broncas constantes ou ainda humilhando, desprezando ou tomando-o sempre como exemplo do que está errado, pois trata-se de utilizar o poder decorrente do cargo para tratar um outro indivíduo de forma desumana. Ora, da mesma forma, pode ocorrer o assédio moral de professores por parte dos alunos, quando o docente é constante alvo de ironia, de desrespeito e não consegue exercer sua função. Esse tem sido o motivo de uma série de problemas de ordem psicológica que levam muitos docentes a abandonarem a profissão ou afastarem-se para tratamento médico. O preconceito de gênero O sexismo e a homofobia podem ser definidos como preconceitos de gênero ou preconceito em relação à diversidade sexual. Em geral, trata-se de discriminar um indivíduo ou um grupo social por causa de seu gênero sexual. O projeto de lei contra a homofobia (PLC 122/06) torna crime a discriminação por gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Em reportagens recentes, destaca-se a diferença entre os salários de homens e mulheres quando ocupam os mesmo cargos, destacando que os salários das mulheres são mais baixos; assim como também o número de mulheres em cargos de comando é bem menor do que o de homens. Para fazer frente ao problema do sexismo e da homofobia formaram-se inúmeras associações de defesa do direito das mulheres – conhecidos popularmente como movimentos feministas e movimentos LGBTTTS (lésbicas, Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 9 gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e simpatizantes). Tais movimentos têm por objetivo dar visibilidade ao problema do sexismo e suas propostas são as mais diversas, desde soluções radicais, até soluções mais brandas. Do ponto de vista teórico, formularam-se algumas propostas contra o sexismo nos processos escolares. Trata-se de analisar os fundamentos do androcentrismo, isto é, a organização da sociedade segundo modelos e padrões que valorizem o universo masculino em detrimento do feminino. Neste sentido, a projeção de algumas mulheres no cenário nacional e internacional vem contribuir para a eliminação desse tipo de preconceito. Vejamos o que afirmam Sastre e Fernández a este respeito: A incorporação das mulheres ao cenário da vida pública e a valoração positiva que seu estilo de atuação tem recebido, em todos os setores em que elas foram aceitas, colocaram em dúvida a veracidade dos postulados subjacentes ao androcentrismo. Mulheres e homens passaram por experiências suficientes para experimentar vitalmente que existem diferentes visões de mundo e que cada uma delas tem seus aspectos positivos e negativos. (SASTRE e FERNÁNDEZ, 1999, p. 153). Para reverter essa situação, as ações afirmativas têm demarcado um espaço bastante sugestivo: por lei, os partidos políticos devem reservar até 30 % das vagas para as mulheres que desejam ser candidatas a cargos eletivos. Essa lei recebeu forte apoio popular e, pelo número de mulheres que ocupam cargos no legislativo e no executivo em todos os níveis no Brasil, percebe-se que este preconceito perde espaço. A homossexualidade é um outro tema que chama a atenção sobre o preconceito e a formação para a diversidade é a tolerância em relação à homossexualidade ou homoafetividade. Até recentemente, pessoas públicas que ocupavam cargos públicos de poder ou o comando em grandes empresas, quando tinham sua vida privada “descoberta” deviam renunciar a esses cargos. Mesmo pessoas famosas não apresentavam seus cônjuges publicamente para não expor-se à execração pública. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 10 Um outro tema relativo a isso que tem tomado espaço na mídia é a luta entre conservadores e progressistas a respeito do “casamento gay”. Trata-se de formalizar o contrato de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em alguns países, já há lei regulamentando e em outros há forte resistência. Destacamos comoum dos mais fortes símbolos da luta pelo fim do preconceito contra a homossexualidade o cantor inglês Elton John, a já falecida cantora brasileira Cássia Eller e o filme premiado com o Oscar em 2009: Milk. O Preconceito cultural Há diversas formas de preconceito cultural, a título de exemplo destacamos: o linguístico, o escolar, o de comunidade. O preconceito linguístico se caracteriza pela classificação de “errado” ou “certo”, relativamente aos regionalismos, tanto no que se refere às construções gramaticais quanto à pronúncia. Nesse sentido, Magda Soares (2000) explica-nos que o conceito de “deficiência linguística” entendido como afastamento da linguagem correta, é inaceitável do ponto de vista sociolinguístico: Do ponto de vista linguístico, ou sociolinguístico, o conceito de “deficiência linguística” é um desses estereótipos, resultado de um preconceito, próprio de sociedades estratificadas em classes, segundo o qual é “superior”, “melhor” o dialeto das classes socialmente privilegiadas; na verdade, essa “superioridade” não se deve a razões linguísticas, ou a propriedades inerentes a esse dialeto, mas a razões sociais: o prestígio de que essas classes gozam, sobretudo a seu dialeto. Os demais dialetos – de grupos de baixo prestígio social – são avaliados em comparação com o dialeto de prestígio, considerado a norma-padrão culta, e julgados naquilo em que são diferentes dessa norma, “incorretos”, “ilógicos”, e até “feios”. (SOARES, 2000, p. 41). O preconceito escolar costuma confundir a cultura com escolarização, o que leva a uma postura equivocada. Podemos tomar como exemplo de preconceito cultural a seguinte afirmação de Montserrat Moreno: Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 11 Os estudantes de um meio cultural rico, em cujas famílias frequentemente se fala de questões relacionadas à ciência e à cultura, costumam estabelecer a ponte entre o científico e o cotidiano de maneira espontânea; entretanto, nesta posição encontra-se apenas uma parte muito pequena da população escolar. (MORENO, 1999, p. 53). É inadmissível utilizar termos como meio cultural rico ou meio cultural pobre. Em primeiro lugar, o que vem a ser uma cultura pobre ou uma cultura rica? Quando se utiliza o desenvolvimento científico ou o grau de urbanização para diferenciar-se culturas, na verdade, está-se tomando uma cultura (que valoriza a ciência e a urbanização) como referência de padrão cultural. Assim, as sociedades industriais como França, Inglaterra e Estados Unidos costumam definir-se como mais desenvolvidos ou mais ricos culturalmente do que sociedades africanas, latinas e asiáticas. Da mesma forma que, na citação acima, a autora chama de meio cultural rico o meio cultural que valoriza os assuntos escolares, no caso explicitamente o discurso científico. Ora, se tomarmos como exemplo uma criança de uma comunidade que não pratica no cotidiano o discurso científico, mas que pratica os conhecimentos relativos à agricultura, ou ao comércio ou ainda à manifestações culturais como danças e cantos folclóricos; podemos chamar esse mundo de culturalmente pobre? Assim, quando se quer diferenciar a norma gramatical da norma popular, em geral, chama-se a primeira de norma culta o que demonstra um preconceito a priori, pois está atribuindo o termo cultura ao modo de se expressar de um determinado grupo social e excluindo, consequentemente, outros grupos desse grupo. Porém, como não há pessoa sem cultura, o correto não é utilizar o termo norma culta para se opor à norma popular, mas norma gramatical, pois trata-se de seguir as normas da gramática aceitas oficialmente. O preconceito racial ou étnico Esse tipo de preconceito ocorre já mesmo em sua formulação. Falava-se, até algum tempo atrás em preconceito racial sem mais questões até que se Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 12 propôs como tema a seguinte questão: a humanidade é composta por raças diferentes? Ainda que haja divergências sobre este tema, é certo, para a maioria dos pesquisadores, que a humanidade é composta por uma única raça, diferenciada em etnias. No caso do Brasil, o preconceito étnico manifesta-se tanto do ponto de vista cultural como do econômico. As expressões e piadas “racistas” (especialmente em relação às pessoas afro-descendentes) faziam e fazem parte do cotidiano escolar. Do ponto de vista econômico, estudos mostram que as pessoas afro-descendentes estão em menor número nos cargos de comando e seus salários são mais baixos dos que os de outros. As ações afirmativas sobre o problema do preconceito étnico vem sendo um motivo de grandes debates especialmente no que se refere às cotas raciais em vestibulares de universidades públicas. Trata-se de uma ação afirmativa que tem por objetivo reparar a injustiça histórica vivida pelas sociedades que eram escravocatas, qual seja, as pessoas negras tem menos acesso aos serviços públicos como saúde e educação e, por consequência deste último, são prejudicados nos exames vestibulares. Além disso, já há inúmeros casos de processos por racismo, ou seja, o preconceito tem sido coibido pela lei. Trata-se, agora, de formar novas gerações que não precisem da lei para evitarem o preconceito, mas que tenham no respeito pela diferença um valor inquestionável. Preconceito de classe Esse tipo de preconceito é caracterizado pela discriminação social tomando como referência a capacidade financeira ou de consumo. Esse tipo de preconceito foi tema de debate em relação aos trabalhadores em serviços domésticos que eram obrigados a tomar somente o “elevador de serviço” e não o “elevador social” nos prédios de apartamentos. Na escola, esse tipo de preconceito se manifesta das mais diversas formas, em geral, relativamente ao Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 13 poder de consumo: marcas de tênis, roupas, marca do carro dos pais etc. Também em relação aos alunos “bolsistas” nas escolas particulares. As discussões sobre cotas em vestibulares de universidades públicas têm levado a uma alternativa em relação às cotas raciais, que são as cotas por demanda social. Esse tipo de cota não leva em conta o critério de classificação das pessoas pela cor de sua pele, mas pelo fato de ter estudado, no mínimo ao longo do ensino médio, em escolas públicas. Assim, independentemente da cor da pele, a injustiça histórica seria reparada, pois o problema – para os defensores desta política de afirmação – não é a cor da pele em si, mas a diferença entre a educação básica (ensinos fundamental e médio) ofertada nas escolas públicas e aquelas ofertadas em escolas particulares. Como as condições são absolutamente díspares, os exames vestibulares privilegiariam aqueles que tiveram condições financeiras de estudar em escolas particulares que preparam os alunos para esses exames. O preconceito religioso Esse tipo de preconceito manifesta-se quando, por exemplo, um indivíduo ou um grupo de indivíduos é discriminado no meio social no qual convive em razão de seu credo ouda instituição religiosa a qual frequenta. Também, há o caso de preconceitos em relação aos ateus e vice e versa, ou seja, ateus que discriminam religiosos e religiosos que discriminam ateus. A intolerância religiosa já causou verdadeiras catástrofes humanitárias, especialmente na Europa, mas este é um fenômeno recorrente em toda humanidade. As “guerras de intolerância” (como ficaram conhecidas) podem ser motivo de um estudo histórico e, a partir deste estudo, fazer uma reflexão sobre a situação atual do Brasil, propondo formas de convívio social tolerante entre pessoas de diferentes credos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 14 O preconceito em relação aos portadores de necessidades especiais Os portadores de necessidades especiais vêm conseguindo, recentemente, uma série de conquistas para que possam ocupar os espaços na sociedade que antes lhes era negado: transporte coletivo adequado; acessibilidade em prédios públicos e particulares; em espaços de diversão e lazer e acesso ao mercado de trabalho. É importante destacar que, no Brasil, desenvolvem-se, especialmente nos cursos de pedagogia, as aulas de LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) cujo objetivo é a inclusão de surdos nas escolas regulares do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. As ações afirmativas para com os portadores de deficiência têm conseguido abrir espaços públicos para terem acesso, tanto aos serviços básicos, quanto ao lazer e ao trabalho. Desde a constituição de 1988, é assegurado o direito da acessibilidade, mas, só recentemente os prédios públicos e privados têm instalado elevadores e rampas para permitirem o acesso, tanto para os que vão trabalhar, como para os que vão aos hospitais e clínicas ou espaços de lazer como shoppings e cinemas. Uma das maiores conquistas, no entanto, é a conquista de vagas em serviços públicos, como estabelece a lei 8112/90, no seu artigo 5º, § 2: às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concursos públicos para provimento de cargo, cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadores. Para tais pessoas são reservadas até 20 % das vagas oferecidas no concurso. Nas escolas, o assédio moral pode ocorrer também nas relações de sala de aula, entre alunos, ou de alunos para professores ou ainda de professores para alunos. Para estes casos utiliza-se o termo bullying. Pode-se dizer que só recentemente o fenômeno do bullying tem sido como um grave problema escolar e a partir daí recebe um tratamento mais apurado. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 15 Pode ser definido como uma prática de agressividade repetitiva expressa por meio de humilhações e intimidações. Hoje, esse fenômeno é classificado como mais uma síndrome: a SMAR (Síndrome dos Maus-Tratos Repetitivos). Esse fenômeno era considerado comum nas escolas, típico da idade, mas com a crescente onda de denúncias e protestos, por causa das consequências que as vítimas sofrem – como dificuldade de ressocialização, perda do interesse nos estudos, traumas psicológicos, depressão etc. – atualmente, tornou-se motivo de estudos e propostas de intervenção. Os estudos apontam para a necessidade, não somente de se diagnosticar e reverter os quadros, mas antes de mais nada, de preveni-los. Numa sociedade intolerante e agressiva, a escola se torna um lócus privilegiado de reprodução de relações desiguais e desumanas. Assim, a intolerância dos pais e da comunidade se reflete no convívio escolar, por isso, a intervenção da escola pode não se limitar aos alunos, mas deve ultrapassar seus muros e reverter os quadros de assédio moral também junto à comunidade. Os projetos de trabalho (ver último item deste apostila) devem envolver o maior número possível de pessoas da comunidade escolar, não somente intramuros, pois seu objetivo não é o de ensinar o conteúdo de uma ou outra disciplina e sim, o de ser uma oportunidade de discutir graves problemas sociais que atingem o cotidiano escolar. Dentre esses, o bullying é sem dúvida um dos mais graves. Sua origem se encontra no preconceito – que é a aversão a determinados grupos sociais – e na discriminação, quando esta aversão assume formas concretas de exclusão, humilhação e até mesmo agressão física. Por isso, o trabalho com a Pluralidade Cultural e, consequentemente, a formação de uma consciência para a tolerância étnica e cultural são importantes nas escolas. De certa forma, hoje, são até mesmo mais importantes do que o ensino dos conteúdos das disciplinas escolares. Ferrari e Laureano, apontam para esse fenômeno no artigo Bullying – o desafio do combate à discriminação na escola: Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 16 Dessa forma, o bullying é hoje um dos temas que vem suscitando discussões importantes para a educação, visto que ele expõe a violência que está presente não somente nas escolas, mas que está servindo para organizar as relações entre os adolescentes, ao mesmo tempo em que se transforma num grande desafio: educar para o combate à discriminação e à violência, numa proposta para a paz e para o convívio com as diferenças. (FERRARI e LAUREANO, 2006, p. 50). É importante destacar também que os casos de bullying envolvendo professores deve ser considerado como uma questão grave. Todos os anos profissionais deixam a sala de aula porque não conseguem mais exercer suas tarefas, uma vez que não encontram condições psicológicas de trabalhar. A violência e a indisciplina dos alunos assumem proporções assustadoras em grande parte dos estabelecimentos de ensino. Muitas vezes, a indisciplina dos alunos é tratada como uma incompetência do professor e, para provar tal tese, alegam que como um profissional controla algumas salas com boa disciplina e outros não. Assim, o professor é o culpado pela indisciplina. Ora, poder-se-ia argumentar que um aluno responsável por um episódio de bullying tem boas relações com outros colegas, assim, a vítima passa a ser a responsável pela agressão que sofre. Os Temas Transversais ética e pluralidade cultural não tem o objetivo somente de ensinar determinados conteúdos, mas principalmente estimular um convívio tolerante, respeitoso que admita as diferenças e a diversidade. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 17 UNIDADE 2 - CULTURA E DIVERSIDADE Os professores devem atentar-se ao problema da diversidade e, para tanto, devem ter uma noção do significa de cultura e de identidade cultural. Para todas as sociedades, a cultura é transmitida por meio da educação dos mais jovens que vão recebendo as informações sobre os valores sociais positivos e negativos para aquela sociedade. Assim, a sociedade transmite às novas gerações os valores culturais de seus antepassados, sejam eles conhecimentos, histórias, técnicas, entre outros. Em uma sociedade, na qual nãohá escolas, a transmissão da cultura ocorre pelo convívio dos mais jovens com a família e com o grupo adulto em geral, por exemplo, em sociedades de caçadores, a partir de determinada idade, os mais jovens acompanham os mais velhos nas caçadas para que comecem a aprender aquelas técnicas. Nestes casos, diz-se que o processo de educação é assistemático ou informal. Quando uma sociedade possui escolas, estas têm por tarefa transmitir parte dos conteúdos culturais, em geral, ligados ao desenvolvimento intelectual, e neste caso, diz-se que se trata de uma forma de educação sistemática ou formal. No entanto, neste tipo de sociedade, a transmissão da cultura não ocorre exclusivamente na escola, mas também na família e em outros ambientes, como os meios de comunicação, a comunidade, etc. Dessa forma, não se pode confundir a cultura erudita ou científica (da escola) com a cultura popular (da sociedade) e, principalmente, atribuir mais valor a uma do que a outra. Todas as sociedades possuem sua própria cultura, manifestada em sua língua ou línguas, nas técnicas de manufatura, de construção, de agricultura, enfim, em todo o seu cotidiano. Os indivíduos que vivem nesta sociedade e que dela receberam a herança, compartilham a mesma identidade cultural, o que faz com que os indivíduos pertençam a um grupo, a uma comunidade, a uma nação etc. e, principalmente, se sintam pertencentes a ele. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 18 No entanto, é preciso lembrar, também, que as sociedades se influenciam mutuamente e que suas culturas, portanto, transformam-se na medida em que esses contatos surgem. Dessa maneira, a cultura de um grupo, de uma comunidade, etc., não é estática e sim dinâmica, logo, quando se fala em transmissão de valores culturais herdados dos antepassados não se trata de algo imutável, mas de algo que está sujeito a transformações a cada nova geração. Neste processo há permanências e transformações culturais. Como já havíamos dito, em termos de língua, por exemplo, costuma-se falar em norma culta e linguagem popular. O termo “norma culta”, no entanto, é carregado de preconceito, pois exclui o termo cultura da linguagem cotidiana. Ocorre que o termo mais adequado seria “norma gramatical’ e não norma culta. Da mesma forma, costuma-se dizer que uma pessoa é “culta” quando ela é bem informada, tem formação universitária, utiliza corretamente as normas gramáticas da língua, etc. No entanto, o que dizer de uma pessoa que conhece todos os pormenores da organização da festa de Folia de Reis? Por exemplo, os trajes, as danças, as músicas, os significados e a história dessa tradição; não pode ser dita também uma pessoa culta? Um exemplo interessante da consciência de como se transmite a cultura e o valor que ela tem para cada sociedade pode ser encontrado no trecho abaixo. No século XIX, nos Estados Unidos, os estados da Virgínia e de Maryland assinaram um tratado de paz com os Índios das Seis Nações, uma organização que fez frente à colonização branca. Na solenidade, foi oferecida às nações a oportunidade de mandar mais jovens para serem educados nas suas escolas. Declinando do convite os chefes redigiram a seguinte resposta: Muitos de nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas quando eles voltaram para nós eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo ou construir uma cabana, e falavam muito mal nossa língua. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora, não possamos aceitá-la, para mostrar nossa gratidão concordamos que os nobres senhores da Virgínia nos enviem alguns de seus jovens, que lhes Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 19 ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles homens. (BRANDÃO, 1984, pp. 8 – 9). A importância da ciência antropológica para a formação de professores é o fato de que sua produção permite a compreensão de alguns elementos fundamentais da nossa sociedade. A antropologia pode ser dita como o estudo das alteridades (em latim, alter = outro) que permite compreender facetas das culturas de diferentes povos e comunidades dentro de povos. Cada cultura tem sua própria história e, portanto, suas próprias características, não cabendo qualquer classificação hierárquica entre elas. A partir disto, podemos compreender alguns conceitos fundamentais da antropologia, qual sejam: o de cultura, raça e etnia. Nas palavras dos PCNs (1998, p. 132): “Alguns temas, conceitos e termos da temática da Pluralidade Cultural dependem intrinsecamente de conhecimentos antropológicos, por se referirem diretamente à organização humana, na qual se coloca a diversidade.” Sobre a cultura é preciso compreender que não existe pessoa sem cultura. A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecidos por um determinado grupo social a partir dos quais se produz conhecimentos e os valores morais. É por intermédio desses códigos simbólicos que o indivíduo é inserido nas obrigações do mundo adulto. Sobre o conceito de raça, pode-se dizer que, apesar de ser utilizado constantemente, tem sido evitado cada vez mais pelas ciências sociais. Em primeiro lugar, porque o conceito de raça é oriundo das ciências biológicas e comprometeu-se com as teorias raciais (frenologia, fisiognomia, craniometria e outras) dos séculos XIX e XX que procuravam defender a tese de que a “raça branca” é superior às outras “raças” do planeta. Por outro lado, o conceito de “raça” é uma subdivisão do de “espécie” e seria preciso provar por meio da ciência que somos raças diferentes e nenhuma pesquisa apontou nesta direção. Por isso, pode-se concluir que não somos divididos em raças. Desta forma, o melhor para caracterizar os seres humanos a partir das diferenças de estereótipos, mas ainda mais por critérios sociais e culturais é o Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 20 termo “etnia” e “grupo étnico”. As características culturais são mais importantes para definir a identidade de um indivíduo do que suas características biológicas. Há alguns anos, conheci em Nova York um jovem que não falava uma palavra em inglês e estava evidentemente perplexo com os costumes americanos. Pelo “sangue”, era tão americano como qualquer outro, pois seus pais haviam nascido em Indiana e tinham ido para a China como missionários. Órfão desde a infância, o rapaz fora criado por uma família chinesa, numa aldeia perdida. Todos os que o conheceram o acharam mais chinês do que americano. O fato de ter olhos azuis e cabelos claros impressionava menos que o andar, os movimentos dos braços e das mãos, a expressão facial e os modos de pensar que caracterizam os chineses. A herança biológica era americana, mas a formação cultural fora chinesa. Ele acabou retornando à China, seu verdadeiro lar. (KLUCKHOHN, 1963, p. 30 apud OLIVEIRA, 2005, p. 139). Para que se realize um trabalho decombate à discriminação e ao preconceito, o professor deve estar preparado para discutir e apresentar a diversidade como um dado concreto de nossa sociedade que, ao contrário de ser um problema, é um elemento que a torna tão rica, do ponto de vista cultural. Uma vez compreendido que podemos ser diferentes, é preciso compreender que temos direitos iguais, ou seja, que as diferenças não devem ser apagadas, mas valorizadas. Enfrentar a discriminação é tarefa importante e fundamental do trabalho escolar. A discriminação tem sua origem no medo e tornar explícito este elemento psicológico pode reverter o quadro de discriminação. A discriminação tem sempre dois pólos: no primeiro o medo apresenta-se como reação ao desconhecido, visto sempre como algo ameaçador da ordem psicológica ou social (cor de pele, hábitos e costumes diversos, forma de falar). No pólo em que se encontra o discriminado o medo é a ameaça permanente diante da discriminação, desde o assédio moral até a violência física contra o outro indivíduo. Uma das melhores formas de se trabalhar esses “medos’ e, portanto, de mitigar a discriminação é com informação. Trazer à tona os saberes dos diferentes grupos étnicos, mostrar qual sua relação com as características desses grupos e, por fim, demonstrar que aos olhos dos outros nossos costumes também Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 21 são estranhos (lembremos do caso da carta dos índios norte-americanos) e que não se deve julgar uma cultura “estranha” ou “esquisita”. Os temas transversais e a formação do professor para a diversidade A ideia dos temas transversais é justamente a de preparar os professores para uma nova realidade relativa ao ensino que não pode mais se conformar somente às ditas ciências tradicionais, as quais não perderam o valor, mas não são a única resposta que a escola pode e deve dar à sociedade. Como vimos mais acima, as sociedades que têm escolas transmitem parte de sua cultura neste ambiente, em geral, esta parte eram as ciências. No entanto, com a redução do papel da família no processo de educação dos jovens, assim com a crescente influência dos meios de comunicação, a escola precisa ter uma ação mais incisiva no processo de educação que vá além da transmissão dos conhecimentos científicos. Os temas transversais são: pluralidade cultural, ética, saúde, etc. Em primeiro lugar, cumpre salientar que os temas transversais não devem ser tratados como novas disciplinas, pois isso iria apenas sobrecarregar as tarefas docentes, de secretaria, bem como os programas. Além disso, seria uma forma de dar a um novo conhecimento, uma abordagem tradicional que não contribuiria para sua melhor realização. Por exemplo, não faz qualquer sentido pensar em prova de Pluralidade Cultural, ou ainda, simulado com questões de múltipla escolha, como se se tratasse de um conteúdo, cujo tratamento deva ser igual ao das disciplinas tradicionais como língua portuguesa, história, matemática etc. Para evitar o inconveniente do acúmulo de novos conteúdos a serem ensinados, trata-se de modificar a perspectiva e partir do princípio que o ensino das disciplinas tradicionais deve ter como sentido algo além de fazer com que os alunos decorem seus conteúdos, mas entender que o papel da escola, em nossa Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 22 sociedade, atualmente, exige mais do que o simples ensino de conteúdos científicos; é necessário que os professores, os dirigentes escolares e toda a comunidade tenha compreensão de que a escola deve contribuir para a formação da cidadania. Dessa forma, os temas transversais não devem ser inseridos como elementos externos ou exógenos às disciplinas tradicionais, mas serem incorporados no processo de elaboração do curso e das aulas. Evidentemente, todo o corpo docente deve participar das discussões e tomar decisões sobre os temas transversais que deverão ser inseridos nos conteúdos para que a escola realize um trabalho integral de formação. Moreno (1999) observa que as matérias curriculares tradicionais são meios pelos quais cumpre-se o objetivo de se desenvolver a capacidade dos estudantes para aprender e manejar adequadamente as informações que recebe. Quando se esquece desse objetivo, o ensino das disciplinas torna-se um fim em si mesmo e distanciam-se do mundo real fazendo que com a escola seja responsável por uma fissura irrecuperável entre aquilo que se ensina – e que se valoriza como cultura – e aquilo que se vive – e que na prática passa a ser valorizado para a vivência no mundo. Essa cisão entre o mundo da escola e o mundo fora da escola leva ao desinteresse de boa parte dos alunos às atividades que se desenvolvem dentro dos estabelecimentos de ensino, pois não se sentem estimulados a aprender conteúdos que não fazem sentido (no sentido de aprendizagem significativa) para ele. Assim, acrescenta Moreno: Se considerarmos os conteúdos do ensino, do ponto de vista das matérias transversais, isto é, como algo necessário para viver em um sociedade como a nossa, a disposição de cada uma das outras matérias muda, re-situa-se e adquire um novo valor: o de ajudar-nos a conquistar macroobjetivos imprescindíveis para viver em uma sociedade desenvolvida e autoconsciente. A vinculação entre as matérias transversais e os conteúdos curriculares dá um sentido a estes últimos, fazendo-os aparecer como instrumentos culturais valiosíssimos para aproximar o científico do cotidiano. (MORENO, 1999, p. 39). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 23 A formação para a diversidade deve levar em conta, portanto, a necessidade de incluir os temas transversais no conteúdo das disciplinas para que o processo de formação cultural, hoje, sob responsabilidade da escola, seja dirigido de maneira competente e significativa para a sociedade em que vivemos. A nossa sociedade é constituída por uma série de minorias que, muitas vezes, são excluídas ou em outras palavras, não têm as mesmas condições de competir por espaços com determinados grupos sociais que ocupam lugares privilegiados. O trabalho escolar não deve ter como foco somente os estudantes, cuja condição socioeconômica é privilegiada, mas todos os indivíduos que tem direito ao ensino público de qualidade. Conteúdos de aprendizagem Esse é outro aspecto importante para o trabalho do professor disposto a considerar a importância de estar atento à diversidade é à noção de conteúdos de aprendizagem. Conforme a teoria do construtivismo são três os conteúdos de aprendizagem com os quais os professores atuam durante suas aulas. Conteúdos conceituais – trata-se de conhecimentos do tipo o que aprender; são aqueles conteúdos tradicionais das disciplinas escolares, por exemplo, o estudo do relevo em geografia; os polinômios, em matemática; os tempos verbais em língua portuguesa. Esses conteúdos são objeto de inúmeras propostas de abordagens didática, de tal forma que seu aprendizado seja facilitado em virtude de uma série de recursos e técnicas das quais os professores podem lançarmão. Tais conteúdos são importantes para todo o trabalho escolar e não deve ser descartado como “inútil” ou “burguês” apenas porque está distante da realidade imediata do aluno. Trata-se isto, sim, de aproximar esses conhecimentos produzidos pela cultura ocidental – que foram e são fundamentais para toda a sociedade – da realidade imediata dos alunos. Infelizmente, muitos Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 24 estudiosos confundiram a inserção de temas transversais e a preocupação em formar professores para a diversidade como uma forma de lutar contra esses conteúdos que seriam a expressão da “ideologia burguesa”, assim, só para citar um exemplo, consideravam o ensino de História do mundo greco-romano como inútil, ou pior, ideológico, afinal não estavam próximos do mundo do aluno. Ora, em nosso entender, a história do mundo greco- romano faz parte da nossa formação cultural (pensemos na influência destas línguas sobre a nossa, além da herança de determinados fenômenos sociais, como o esporte, a política, o teatro, a poesia etc.) e não devemos negar aos nossos alunos o acesso a esse universo cultural. O que ocorre, porém, é que como dissemos, esses conteúdos devem ser aproximados da vida dos alunos para que possam ser objeto de aprendizado significativo. Conteúdos procedimentais – esses conteúdos podem ser definidos como o saber fazer. Esses conteúdos são as habilidades e competências que os professores ensinam aos estudantes. Por exemplo, todos os professores podem ensinar os alunos a fazerem pesquisas em bibliotecas ou on-line; professores de geografia ensinam os alunos a fazerem mapas, pesquisas de campo etc.; professores de produção de texto ensinam os alunos a escreverem melhor; todos os professores ensinam os alunos a ler e interpretar textos etc. Essas habilidades não devem ser ensinadas como algo externo ao trabalho docente, como algo que se deve ensinar “além do conteúdo”, pois elas são, em si mesmas, conteúdos. No entanto, analisemos os conteúdos que são os objetos de nossa análise. Conteúdos atitudinais – Esses conteúdos são relativos às ações, isto é, ao comportamento dos alunos. Contudo, não se pode supor que se trata de aulas de Educação Moral e Cívica ou de lições de moral que os professores apliquem aos alunos. Trata-se, isto sim, em primeiro lugar, de se ter consciência de que a escola é um lugar onde o aluno também aprende a valorizar determinados tipos de comportamento e que todos os profissionais que atuam neste ambiente estão direta ou indiretamente envolvidos com a formação ética dos estudantes. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 25 Ainda a respeito desses conteúdos, há bastante o que se conceber sobre eles, pois como observa Brandão (1993, p. 7) “ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, aprender-e- ensinar”. Portanto, todas as ações dos professores (e dos outros funcionários da escola) faz parte do processo de ensino de atitudes para os alunos. Os conteúdos atitudinais podem e devem ser objeto de ensino aos alunos, por isso, Mauri desenvolve alguns tópicos que podem orientar a intervenção dos professores na construção de atitudes dos alunos, às quais apresentaremos de modo sintético: A escola deve estabelecer claramente os critérios e os valores pelos quais é regida; Os professores devem facilitar o conhecimento e a análise das normas existentes para que os alunos possam compreendê-las e respeitá-las. Neste mesmo ponto, criar formas de participação dos alunos para contribuir com a melhoria ou adequação das normas; Auxiliar os alunos a compreenderem a relação entre as normas e as atitudes que se pretende que desenvolvam em situações concretas nos espaços da escola; apresentar normas e atitudes vinculando-as a situações concretas e familiares para os alunos; Facilitar o intercâmbio e a participação entre os alunos para debater opiniões e ideias sobre diferentes aspectos que dizem respeitos às atividades na escola; Por meio de atividades que facilitem o aprendizado, apresentar aos alunos determinados comportamentos sociais que são fundamentais para a vida coletiva, dentro e fora do ambiente escolar, tais como, a solidariedade, a cooperação, a equidade, a fraternidade; Oferecer modelos de atitudes nos quais os alunos podem se inspirar e auxiliá-los no que for necessário para que possam ensaiar e testar os modelos; além disso, os professores devem estar preparados para apoiar Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 26 os alunos nos momentos em que estes apresentarem resistência à mudança de comportamento ou insegurança. A escola pode estar preparada para o trabalho com os conteúdos atitudinais, mas ainda poderíamos nos perguntar como os alunos podem aprender esses conteúdos. Para responder a essa questão Mauri (1999, p. 118) elenca uma série de orientações que parte dos saberes pessoais dos alunos. Do ponto de vista teórico, esses saberes pessoais dos alunos são denominados conhecimentos prévios. Geralmente, considera-se que esses conhecimentos prévios se referem somente aos aspectos cognitivos e habilidades dos alunos, mas eles incluem também as atitudes. Aprende-se atitudes assim como aprende-se a ler e escrever, a calcular, pesquisar, comunicar-se, entre outros. Quando os alunos chegam à escola trazem uma série de conhecimentos prévios oriundos do aprendizado ao longo do tempo com sua família, sua comunidade e, sem dúvida nenhuma, também dos meios de comunicação. O professor não deve e não pode negar esses conhecimentos se quiser auxiliar a aprendizagem dos alunos, pois é preciso ajudá-los a fazer a conexão entre os conhecimentos prévios e aqueles que se quer que eles adquiram. Em suma, uma aprendizagem será tanto mais significativa quanto mais relações se estabelecem entre aquilo que ele já sabe e aquilo que se lhe quer ensinar. Os principais aspectos para que se possa ensinar novas atitudes são: Familiarizar-se com certas normas e possuir tendências de comportamento que se manifestem em situações específicas, que sirvam de base às novas normas e atitudes que são os objetos de aprendizagem; Quando apresentadas as novas normas e atitudes que se pretende que os alunos tenham, auxiliá-los a rememorar sentimentos, julgamentos e avaliações que tenham feito sobre situações que podem ser úteis para a aprendizagem dos novos conteúdos; Apoiar os alunos e estimulá-los a expressarem suas opiniões e ideias, por quaisquer meios possíveis, pois isso o ajuda a ter algum grau de Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 27 consciência sobre elas e também para que os outros colegas de sala o conheçam. Isto permite que os alunos reflitam sobre suas opiniões e ideias, mas também sobre seuscomportamentos que podem ser comparados com suas opiniões, de tal forma a ter consciência de suas próprias atitudes. Para poder ligar a nova norma ou atitude ao seu comportamento ou opinião, o aluno deve ser estimulado a, por exemplo, colocar-se sob o ponto de vista do outro para conseguir interpretar sua consciência; observar o conflito ou as contradições entre as atitudes e opiniões; observar comportamentos que inspiram afeto, respeito e admiração; Por fim, elaborar critérios pessoais de comportamento ético para poder dar maior relevância a determinadas normas e atitudes em situações concretas e progredir na consecução da autonomia pessoal e moral; Poder aceitar as mudanças de atitude com confiança e segurança. É preciso que os professores se lembrem que a mudança de atitudes, toda inovação pessoal, implica certo grau de temor e pressupõe a aceitação de algum tipo de risco. A mudança de atitude só é possível se todos tiverem consciência de que o apoio coletivo é fundamental, por isso, é importante evitar os “dramatismos exagerados” e “culpas desmoralizadoras”. Vale a pena destacar a obra de Philippe Perrenoud (2000) As dez novas competências para ensinar destaca no capítulo 9 os deveres e dilemas éticos da profissão. Em primeiro lugar, observamos que toda profissão implica em maior ou menor grau, determinados dilemas éticos que cumpre conhecer e enfrentá-los. Em segundo lugar, há um interessante paralelismo entre a experiência brasileira de uma educação para a diversidade e a experiência francesa relatada por Perrenoud. Já no início do livro, observa que não cabe mais na sociedade contemporânea limitar a atuação e, portanto, a formação do professor à antiga função de mestre de magister: aquele que domina determinado conteúdo teórico Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 28 e o ensina aos estudantes; pois há novas exigências em nossa sociedade ligadas à cidadania, à ética, ao convívio com a diversidade e a escola que não pode se eximir do seu papel de agente ativo da sociedade nesse processo de formação de novos cidadãos. De modo direto, sugere que se lute contra preconceitos e discriminações sexuais, étnicas e sociais no ambiente escolar. Essa é uma lição de tolerância no sentido que vai além daquele de “aturar” as diferenças, mas no sentido de “respeitá-las”. Antes de mais nada, é preciso ter consciência de que não basta que o professor seja, ele mesmo, tolerante e não manifeste qualquer forma de preconceito. É preciso estimular e ensinar os alunos não sê-los também. Alguns professores afirmam que essa não é uma tarefa da escola, mas da família, no entanto, isto não é verdade, pois é também tarefa da escola, não somente dela, sem dúvida nenhuma. Assim, é preciso que o estabelecimento escolar, por meio dos profissionais que nele atuam, ensinem aos alunos as atitudes de tolerância e respeito para com as diferenças. Revendo os princípios dos conhecimentos prévios, podemos afirmar que nenhum aluno ou aluna é uma tabula rasa em termos de conhecimentos cognitivos, nem em termos de atitudes e valores morais: há alunos educados em ambientes sexistas, racistas ou preconceituosos em relação à classes sociais. Combater os preconceitos de toda espécie é tornar o presente viável e preparar a sociedade futura para uma vida fecunda; para isso, as vítimas de toda sorte de preconceitos, mesmo porque não somente a vida social é afetada, mas também sua vida cognitiva, pois os alunos vítimas de preconceitos apresentam dificuldades de aprendizagem, uma vez que não encontram na escola um ambiente acolhedor e isto é determinante para que ele não consiga concentração e atenção suficiente para o aprendizado. Perrenoud (2000) nos lembra que os alunos educados em ambientes preconceituosos nem sempre manifestam estas atitudes de forma explicita, na frente de adultos, mas costumam agir deste modo quando o professor vira as costas ou fora da sala de aula, o que leva à tentação de se fechar os olhos diante desta realidade. Há ainda os que se sentem fortes o suficiente para que possam Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 29 agir de modo preconceituoso, mesmo na frente de professores e outras autoridades, porque acreditam que seu comportamento é tolerável ou ao menos não tem qualquer receio de punição. Perrenoud (2000) diz que é preciso energia e coragem do professor para enfrentar as situações de preconceito. Os valores pessoais e o comprometimento do professor para lutar contra o preconceito são fundamentais. No entanto, deve-se observar que as situações são tão diversas que nem sempre é possível ao professor encontrar formas de combater o preconceito. Para tanto, sem dúvida nenhuma o professor deve se prepara para enfrentar as situações de preconceito de modo ético, mas firme, não deixando passar expressões que sejam evidentemente preconceituosas ou mesmo aquelas que apareçam de modo velado. Nesse ponto, é preciso determos em nossa análise, de acordo com Perrenoud (2000), e debruçarmos sobre o problema do apoio da direção da escola no combate ao preconceito. De nada adianta a atitude isolado de um professor ou um grupo de professores se não há respaldo dos superiores para que as atitudes antiéticas sejam coibidas. Além disso, as atitudes de apoio da direção devem envolver um trabalho específico com os pais, pois se a escola detecta um comportamento preconceituoso do aluno, muitas vezes sua origem está na educação familiar, o que demanda um trabalho também com os pais. Com frequencia, os programas impostos aos professores – e a necessidade de cumpri-los – leva a uma situação de apatia, ou seja, uma vez que é necessário cumprir a programação, o professor não terá “tempo” para interromper sua aula para discutir com os alunos assuntos relativos à ética e à moral. Ora, tal atitude revela uma concepção de escola que não considera a importância de seu papel educativo na sociedade, como se fosse possível que um ambiente como este não tivesse qualquer influência sobre a formação ética dos alunos. Para Perrenoud (2000), o debate é um momento importante para que todos possam expressar suas opiniões e, principalmente, realizarem o exercício de respeito à opinião e à voz do outro. Quando se fala em competência de gestão de classe, lembra-se, normalmente, de organização do tempo, das atividades Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 30 didáticas e da distribuição espacial. Ora, deve-se inserir nesta questão, também, a instauração de valores, de relações sociais e de atitudes que favoreçam o desenvolvimento das atividades intelectuais e o convívio tolerante entre todos. A autoridade do professor no processo de formação para a diversidade Há várias experiências nas quais os alunos são convidados a participar da elaboração das regras para o convívio dentro da sala de aula e na escola como um todo. Quando bem conduzidas, essas experiências levam a uma mudança de postura dos estudantes que deixam de considerar as regras como externas ou impostas de “cima para baixo” e assumemum compromisso maior com seu cumprimento. Não se deve confundir, contudo, a experiência democrática da participação com a instalação de tribunais internos nas escolas, onde queixas e punições são constantes e problemas que poderiam e deveriam ser tratados de modo dialógico. Mesmo porque, as crianças e adolescentes ainda não têm maturidade para julgamentos. É possível perceber que há risco nesse tipo de postura, pois leva os professores dispostos a encarar as novas exigências como uma necessidade de nossa sociedade. Antes de mais nada, porque não se pode contar com a educação que tragam de casa, pois sabemos que muitas famílias, por falta de um projeto educativo, não apoiam o trabalho educativo da escola, o que leva a uma necessidade de a escola assumir, em parte, este papel. Ora, se se trata de educar os estudantes para uma sociedade de tolerância não se pode pretender fazê-lo por meio de uma autoridade que se confunda com autoritarismo, mas demonstrar que o diálogo e a tolerância são o caminho para a construção de uma sociedade mais humana. Contudo, isto não significa que o professor abandone sua condição de adulto e de mestre. Insistir na necessidade da experiência de diálogo dentro da sala de aula não significa que o professor Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 31 deva colocar-se numa situação de absoluta igualdade com os alunos, ao contrário, faz-se necessária a presença de alguém mais experiente no processo de diálogo para o caminho da tolerância para que os estudantes o aprendam. A Pluralidade Cultural nos PCNs A sociedade brasileira é formada por uma gama enorme de culturas e identidades próprias. É preciso que a escola cumpra seu papel de contribuir na formação de futuros cidadãos para uma sociedade justa e tolerante com as diferenças. Para tanto, é preciso lembrar que o trabalho com a Pluralidade Cultural deve atender aos pré-requisitos da ética, ou seja, os valores que nortearão todas as nossas ações. O objetivo é, portanto, educar para superação dos preconceitos e da discriminação. Conforme os PCNs, a temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao: [...] conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. (PCN, 1998, p. 121) A escola é um lugar privilegiado para a discussão e exercício da democracia social, por meio da promoção de princípios éticos como a liberdade, a dignidade humana e animal, respeito mútuo, justiça e equidade e solidariedade. É bom recordar que os direitos humanos pregam o direito a ser tratado com dignidade, por isso, o assédio moral, o bullying e a intolerância não podem ser admitidos dentro das instituições de educação. Isto não significa somente punir, mas principalmente, educar enquanto for possível. A pluralidade cultural oferece uma gama de temas e oportunidades de trabalho muito ampla, por isso os PCNs oferecem alguns temas que podem ser desenvolvidos em cada realidade regional ou de cada comunidade, de acordo Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 32 com as exigências locais. Isto é muito importante, porque não há como um documento querer ordenar o trabalho docente sem levar em conta as diferentes realidades. Por outro lado, é preciso que elementos comuns sejam trabalhados na escola no Brasil. Pluralidade cultural e a vida dos adolescentes no Brasil Estudar a temática dos adolescentes, com os próprios adolescentes, é um desafio que deve ser encarado como necessário para nossa realidade hoje. Não é mais possível o professor limitar seus trabalhos a somente ensinar o conteúdo de sua disciplina, desprezando a importância das relações sociais, nas quais o trabalho do professor e da escola estão, inevitavelmente, envolvidos. Assim, alguns tópicos que podem orientar o trabalho com os adolescentes são: a família, as responsabilidades, as relações comunitárias e as relações com tempo e o espaço. Assim, é preciso atentar-se aos seguintes tópicos: Compreensão da organização familiar como instituição em transformação no mundo contemporâneo Como toda instituição social a organização familiar também está em constante transformação. Aqui cabe entender a função da família em diferentes grupos étnicos em seus diferentes tipos de agregação. Compreensão e valorização das relações de cooperação e responsabilidade mútua na família. A importância de partilhar responsabilidades. Em primeiro lugar, observar que diferentes culturas e etnias consideram as responsabilidades de cada membro das famílias de modo característico, portanto, neste nível, trata-se do papel da informação. Mas, considerando a realidade brasileira, há elementos sobre as responsabilidades sociais presentes nas Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 33 famílias, dentre eles podemos destacar: os direitos da criança e do adolescente, os direitos dos idosos, a cooperação entre todos na vida diária. É preciso observar que, se por um lado exige-se a observação dos direitos nas relações de gênero e geracionais, por outro, deve-se observar que a casa é responsabilidade de todos e que todos devem compartilhar dos cuidados para com ela. Da mesma forma, e por extensão, o espaço da escola deve ser o lugar de convívio de diferentes gerações, mas deve haver uma corresponsabilidade entre os grupos no que se refere ao respeito mútuo, pois todos possuem, igualmente, direitos e deveres. Conhecimento e análise da vida comunitária como referência afetiva e forma de organização. Além da família, uma outra referência para a formação do adolescente é a vida comunitária. Portanto, conhecer a comunidade na qual se está inserido, por meio de levantamentos socioeconômicos, pode ser uma forma de conscientização. Para o adolescente, também é fator determinante de sua formação cultural a relação comunitária que lhe é mais imediata, a sua “tribo”. Conhecer as tribos, estudar seus costumes e gostos é uma forma de trazer à tona o que há de comum e de diferentes nestes grupos. Também se encaixa neste tema a questão da inserção do jovem e do adolescente no mercado de trabalho. O conhecimento, o respeito e a valorização de diferentes formas de relação com o tempo. Como se sabe, diferentes culturas organizam-se em torno do tempo de modos diversos e nenhum desses modos pode ser considerado certo ou errado em relação a outro. Trata-se, portanto, de, a partir de informações, discutir as diferenças culturais no sentido de valorizar a tolerância com a diversidade. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 34O tempo também promove a oportunidade de se compreender os processos de permanências e mudanças entre as diferentes gerações. A ideia é, portanto, valorizar as características de cada geração mostrando as questões as quais elas respondiam em seu tempo e quais questões os adolescentes respondem ao seu modo, por exemplo, com os comportamentos das tribos. Aqui também cabe explorar os ciclos de vida, isto é, como cada cultura concebe os diferentes papéis sociais da criança, do jovem, do indivíduo maduro e dos idosos. Diferentes formas de relação com o espaço. Neste tópico, sugere-se explorar as diferentes formas de relação das culturas com o espaço e, em especial, com a questão ambiental. Analisar, também, os códigos de valores no que tange às relações com o espaço em ambientes rurais e urbanos, usando os referenciais da geografia. Nesse sentido, a noção de “lugar” ganha um privilégio, pois segundo o geógrafo Milton Santos, o “lugar” não é um espaço físico qualquer, mas um espaço com o qual um indivíduo ou comunidade possuem identidade. Essa perspectiva aplicada à relação dos adolescentes e crianças, com a escola e com a casa, leva a esses compreenderem o que significa corresponsabilidade de todos para com o espaço que ocupam em comum. Valorização dos grupos que contribuiram para a formação da cultura brasileira. Neste tópico, o objetivo é demonstrar que a cultura brasileira, rica e diversificada é resultado da contribuição de diversos grupos étnicos, desde sua origem até hoje, com a chegada de imigrantes ao longo dos séculos XIX e XX. Também, reveste-se de fundamental importância o problema da migração interna no Brasil e o convívio de diferentes culturas regionais, o que é motivo de uma série de preconceitos e discriminações que deve ser encarado como primordial para uma escola que tem por meta a luta contra os preconceitos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 35 Outro tópico central que deve ser o propulsor de novos debates e perspectivas é o ser humano como agente social e produtor de cultura. Este tópico chama a atenção para o fato de o ser humano ser o agente da cultura, numa relação dinâmica com o tempo e o espaço. Este movimento é mediado por diferentes linguagens que denotam os valores e tradições da cultura em que foram formadas. Os subtópicos dessa proposta são: Conhecimento, respeito e valorização das diferentes linguagens pelas quais se expressa a pluralidade cultural; Levantamento e valorização das formas de produção cultural mediadas pela tradição oral; Conhecimento de usos e costumes de diferentes grupos sociais em sua trajetória histórica; Conhecimento e compreensão da produção artística como expressão de identidade etnocultural; Conhecimento e compreensão da língua como fator de identidade na interação sociopolítica e cultural; Conhecimento, análise e valorização de visões de mundo, relações com a natureza e com o corpo, em diferentes culturas. Prática e valorização da circulação de informações para a organização coletiva e como fundamento da liberdade de expressão e associação; Compreensão da definição do conhecimento de leis como princípios de cidadania; Prática e valorização dos direitos humanos; Valorização da possibilidade de mudança como obra humana coletiva; Conhecimento dos instrumentos disponíveis para o fornecimento da cidadania. Por fim, a proposta curricular traz como eixo de reflexão os direitos humanos, direitos de cidadania e pluralidade. Este tópico traz, em linhas gerais, a Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 36 proposta de se trabalhar com os direitos humanos como um elemento fundamental do exercício da cidadania. Sobre os direitos de cidadania, entende- se os direitos dos cidadãos de uma determinada nação a partir das instituições públicas que a organizam, como é o caso do acesso ao ensino nos níveis básico e superior. Por fim, a pluralidade traz à tona a necessidade de se refletir sobre o respeito aos direitos humanos, direitos de cidadania dentro de uma sociedade plural, diversa, na qual todos são iguais e possuem direitos. Assim, para que os aspectos teóricos sejam melhor compreendidos é preciso ir ao nível da informação e demonstrar que a nossa sociedade possui mecanismos de defesa dos direitos, por exemplo, órgãos como o IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), o Conselho Tutelar, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, o sistema judiciário, dentre outros. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 37 UNIDADE 3 - TRABALHANDO COM OS TEMAS TRANSVERSAIS Há duas formas elementares de inserir os temas transversais no trabalho docente. A primeira delas está diretamente ligada ao conteúdo da disciplina ministrada pelo professor e pode ser trabalhada de modo independente das demais disciplinas do currículo. Muitos livros didáticos e paradidáticos trazem sugestões para o trabalho com temas transversais tendo como referência apenas uma disciplina. A outra maneira pressupõe a realização de Projetos que envolvam mais de uma disciplina e mais de uma turma, muitas vezes, todas as turmas de um ano ou da escola. Pode ser usado em momentos específicos do trabalho didático, por um professor ou um grupo de professores. A orientação dos projetos deve pautar-se pelas seguintes diretrizes: Posicionar-se frente às questões sociais relevantes para a comunidade escolar e interpretar a tarefa educativa como um elemento de intervenção na realidade; não tratar os valores envolvidos no projeto como meros conceitos ideais, mas como propostas de comportamento; agregar o maior número possível de disciplinas e de participantes para que o projeto seja reconhecido em sua significância. A organização dos conteúdos deve oferecer uma visão e compreensão da multiplicidade de aspectos que compõem a realidade, não apenas por causa da articulação de diversos conhecimentos, mas também por causa da multiplicidade de fontes de informação. Os projetos são uma das formas de organizar o trabalho didático, que pode integrar diferentes modos de organização curricular. Esses trabalhos têm a característica de envolver os estudantes na elaboração de tarefas e, portanto, no Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 38 exercício da responsabilidade. Por isso, no encerramento, os resultados do projeto devem ser expostos publicamente, por meio de cartazes ou mostras de resultados, pois isto será um estímulo vindo do reconhecimento público; e também porque os resultados do projeto devem interessar à comunidade escolar, por exemplo, em casos como projetos que estudem a coleta seletiva de lixo, métodos de economia de água, respeito às diferenças, etc. Dentro dessa perspectiva, os projetos escolares devem orientar-se por alguns princípios que justificam sua relevância, como: a) Projeto para o
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