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1 CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO PSICOLOGIA GENÉTICA HUMANA Professora: Roseli de Aquino Ferreira Professora: Marina Peixoto Vianna 2 CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO PSICOLOGIA GENÉTICA HUMANA NOÇÕES GERAIS DE CITOLOGIA CONSTITUINTES BÁSICOS DA CÉLULA 3 A CÉLULA Genética e Saúde A Citologia é o ramo da ciência que estuda as células. Uma célula é a unidade estrutural e funcional básica do organismo. É ao nível da organização celular que as atividades essenciais à vida ocorrem e onde os processos das doenças se originam. e Figura 01: Esquema de uma célula animal Figura 02: Esquema de uma célula vegetal O crescimento e o desenvolvimento de um adulto normal e saudável, a partir de uma única célula, o ZIGOTO ou óvulo após a fertilização por um espermatozóide, é um dos mais espetaculares fenômenos da biologia. Este processo complexo requer a ação coordenada de milhares de genes. Cada um dos milhares de genes envolvidos no crescimento e diferenciação dos diferentes tipos celulares no organismo adulto deve ser expresso no tempo e local adequado no caminho do desenvolvimento. A diversidade celular atingida durante o desenvolvimento de um organismo superior tal como o homem, é codificada no genoma do zigoto para manifestar padrões pré-programados de expressão gênica. 4 Qual a natureza e as bases moleculares desta pré-programação genética? Como a expressão gênica programada é regulada? Quais tipos de circuito genético são percorridos para atingir a diversidade celular observada no organismo adulto? Estas são questões fascinantes que movem os geneticistas e estimulam a pesquisa com o objetivo de fornecer respostas definitivas. O que nós sabemos é que cada célula, não importa quão divergente seu fenótipo, contém o mesmo genoma, o mesmo grupo de genes. Entretanto, dentro de um tipo celular somente cerca de 5 a 8% de genes presentes no genoma são expressos e fenótipos celulares divergentes resultam de expressão de diferentes grupos de genes em diferentes células. A expressão de um grupo de genes apropriados dita que os progenitores das células ósseas se desenvolvam em células ósseas, que progenitores de células do fígado se tornem células do fígado e que progenitores de células nervosas originem os neurônios, etc... Enquanto que alguns genes chamados “housekeeping” são expressos em todas as células, outros genes exibem um padrão de expressão tecido- específico responsável pelo processo de diferenciação observado nos eucariotos. Como estes caminhos de diferenciação são regulados? Como esta informação é codificada no genoma do zigoto? Experimentos, designados para responder estas questões-chaves, são o caminho da pesquisa na genética molecular e o objetivo da investigação genética hoje. Um fato é muito claro. Os genes no genoma humano são altamente co-adaptados e o mau funcionamento na expressão de um único gene pode romper o processo de desenvolvimento inteiro. Se o gene envolvido codifica uma função essencial, seu mau funcionamento pode ser letal. Em muitos outros casos envolvendo genes importantes, mas não absolutamente essenciais à sobrevivência, o mau funcionamento produz fenótipos anormais ou não saudáveis. Um defeito em um único gene conduz a uma série de anormalidades fenotípicas coletivamente referidas como síndromes. Componentes Celulares Membrana plasmática: Constituída por substâncias lipídicas e protéicas. “Envelope” que circunda a célula. Figura 03: Esquema da composição da membrana plasmática 5 Citoplasma e Hialoplasma O citoplasma é o espaço intra-celular entre a membrana plasmática e o envoltório nuclear. O citoplasma é preenchido por uma matéria coloidal e semi-fluída denominada hialoplasma, e neste fluido estão suspensos as organelas celulares. Possui solução de nutrientes, íons e outras substâncias importantes para a célula. O hialoplasma quando está mais viscoso é denominado citogel, quando está mais aquoso é denominado citosol (depende da condição de hidratação da célula). 80% do citoplasma é formado por água. Mitocôndria Estrutura membranosa em forma oval. Fornece energia para as diversas reações químicas das células. Figura 04: Esquema da composição da mitocôndria Retículo Endoplasmático Estrutura membranosa, sistema fechado de tubos e canais. Liso (REL) – Sintetiza carbohidratos e lipídeos Rugoso (RER) – Sintetiza carbohidratos e proteínas Figura 05: Esquema da composição do retículo endoplasmático 6 Complexo de Golgi Estrutura membranosa, pilhas de sacos achatados. Armazenam substâncias sintetizadas pelo retículo endoplasmático. Secreção de substâncias importantes para o espaço extracelular. Figura 06: Esquema da composição do complexo deGolgi Lisossomos Vesículas pequenas contendo grandes quantidades de enzimas digestivas. Digestão intracelular, quebrando alimentos e reaproveitando pedaços inativos da célula. Figura 07: Esquema da composição dos lisossomos Ribossomos Estruturas granulares pequenas e sólidas. Participam da síntese protéica. Figura 08: Esquema da composição da membrana plasmática 7 Centríolos Estruturas cilíndricas formadas por microtúbulos. Orientam os cromossomos durante o processo de divisão celular. Figura 09: Esquema da composição dos centríolos Núcleo e Membrana Nuclear Estrutura grande, redonda ou ovóide, delimitada por membrana nuclear (carioteca) semelhante à membrana plasmática. Contém os cromossomos e o DNA. Figura 10: Esquema da composição do núcleo Nucléolo Estrutura situada no interior do núcleo. Contém proteínas e RNA. Formam os ribossomos. Figura 11: Esquema da composição do nucléolo 8 Citoesqueleto Formado por proteínas filamentosas ou tubulares que são os filamentos intermediários, filamentos de actina e os microtubulos e pelas proteínas motoras: dineína, miosina e citosina. Composto por proteínas bastante estáveis que são responsáveis por manter a forma da célula e as junções celulares, e não desempenha nenhuma função motora. Figura 12: Esquema da composição do citoesqueleto 9 CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO PSICOLOGIA GENÉTICA HUMANA CÉLULAS E GENOMA CARACTERÍSTICAS UNIVERSAIS DAS CÉLULAS NA TERRA CÉLULAS E GENOMAS 10 ▪ A superfície do nosso planeta é habitada por “curiosas coisas vivas” organizadas complexamente, que tomam as substâncias de suas vizinhas e as utilizam como matéria prima para gerar cópias de si próprias. ▪ Os organismos vivos parecem extraordinariamente diversos em quase todos os seus aspectos, mas todas as “coisas vivas” têm algo em comum = A VIDA. ▪ Os pesquisadores se empenharam para definir e explicar o que era vida ou como ela se desenvolveu a partir da matéria. As descobertas do século XX desvendaram o mistério envolvendo a natureza da vida. ▪ Hoje, sabemos que todas as “coisas vivas” são formadas por células e todas estas unidades de matéria viva compartilham de uma mesma maquinaria para a maioria de suas funções básicas.▪ Toda a Biologia é um contraponto (contradição): A ADMIRÁVEL VARIEDADE E PARTICULARIDADES INDIVIDUAIS E A ADMIRÁVEL CONSTÂNCIA NOS MECANISMOS FUNDAMENTAIS. ▪ É necessário destacar as características universais de todas as “coisas vivas”, assim como a diversidade das células. ▪ Como um código universal único (DNA), em que estão contidas todas as especificações dos organismos vivos, torna possível ler, medir e decifrar estas especificações para alcançar um entendimento coerente sobre todas as formas de vida desde as mais simples até as mais complexas? CARACTERÍSITICAS UNIVERSAIS DAS CÉLULAS NA TERRA ▪ Estima-se que existam mais de 100 milhões de espécies que habitam a Terra. ▪ Cada uma destas espécies é diferente e cada uma é capaz de se reproduzir fielmente. Os organismos parentais transferem as informações específicas, minuciosamente detalhadas aos seus descendentes = HEREDITARIEDADE. 11 ▪ Muitos organismos são unicelulares; os outros são constituídos por vastas porções multicelulares, onde grupos de células realizam funções especializadas e estão ligadas por intricados sistemas de comunicação. ▪ Uma simples bactéria ou um agregado de milhões de células (1013 células do corpo humano) foram gerados a partir da divisão celular de uma única célula = ZIGOTO. ▪ Uma simples célula é o veículo de informação hereditária que define as espécies. A célula inclui a maquinaria para obter a matéria-prima do ambiente e para construir novas células à sua própria imagem, completa com a nova cópia da informação hereditária. TODAS AS CÉLULAS GUARDAM SUA INFORMAÇÃO HEREDITÁRIA EM UM MESMO CÓDIGO QUÍMICO LINEAR (DNA) ▪ As células vivas lidam com informações e estima-se que venham evoluindo e diversificando-se por mais de 3,5 bilhões de anos. ▪ Todas as células vivas da Terra, sem exceção, armazenam suas informações hereditárias na forma de molécula de DNA em fita dupla. Uma longa seqüência linear que sempre contém os mesmos monômeros A,T,G,C e que codifica a informação genética. 12 TODAS AS CÉLULAS REPLICAM SUA INFORMAÇÃO HEREDITÁRIA SEGUINDO UM PADRÃO DE POLIMERIZAÇÃO. ▪ Na célula viva o DNA não é sintetizado isoladamente como uma fita livre, forma-se uma fita dupla, consistindo duas seqüências exatamente complementares. Estas duas fitas torcidas entre si formam a estrutura em dupla hélice. ▪ Cada fita pode servir de molde para a síntese de uma nova fita de DNA complementar = PROCESSO DE REPLICAÇÃO DE DNA. ▪ Os princípios básicos são universais, mas em diferentes tipos de células este processo pode ocorrer em velocidades diferentes, com diferentes controles para iniciá- lo ou interrompê-lo e com a presença de moléculas auxiliares diferentes. 13 TODAS AS CÉLULAS TRANSCREVEM PORÇÕES DE SUAS INFORMAÇÕES HEREDITÁRIAS EM UMA MESMA FORMA INTERMEDIÁRIA (RNA) ▪ Além de manter sua função de armazenamento de informação (capacidade do DNA de fazer cópias de si mesmo), o DNA deve expressar sua informação. ▪ A expressão do DNA está relacionada a produção de duas outras moléculas: RNA e PROTEÍNAS. ▪ Seqüências de DNA servem de molde para formar moléculas menores de RNA mensageiro = TRANSCRIÇÃO. ▪ Em um processo mais complexo muitas destas moléculas de RNA podem se direcionar a síntese de proteínas = TRADUÇÃO. . TODAS AS CÉLULAS USAM PROTEÍNAS COMO CATALISADORES ▪ As moléculas de proteínas, de DNA e de RNA são originadas a partir de um repertório-padrão encontrado em todas as células vivas. 14 ▪ Existem muitas moléculas diferentes de proteínas em cada célula, constituindo a maior parte da massa celular, depois das moléculas de água. ▪ Cada molécula de proteína ou polipeptídeo, formada pela união de aminoácidos (20* tipos diferentes), possui uma seqüência particular, adquire conformações específicas, formando uma estrutura tridimensional precisa, com sítios reativos em sua superfície. As funções são desempenhadas conforme sua própria seqüência de aminoácidos. ▪ Cada molécula de proteína desempenha funções específicas: enzimas (dirigem a maioria dos processos químicos nas células), estruturais, geradoras de movimentos, sensorial, entre outras. ▪ As proteínas são responsáveis por colocar em ação a informação genética da célula. TODAS AS CÉLULAS TRADUZEM RNAs EM PROTEÍNAS DE UMA MESMA MANEIRA ▪ A informação genética contida em uma seqüência de RNAm é lida em grupos de 3 nucleotídeos (CÓDONS) por vez. ▪ Os aminoácidos respectivos aos códons são transportados pelos RNAs transportadores (tRNA). 15 ▪ Os aminoácidos devem ser ligados à cadeia de proteína crescente e os tRNAs, livre de suas cargas, devem ser liberados. ▪ Todo esse processo complexo ocorre no ribossomo, formado por duas cadeias de RNAs, chamado RNA ribossomal (rRNA). O FRAGMENTO DA INFORMAÇÃO GENÉTICA CORRESPONDENTE A UMA PROTEÍNA É UM GENE ▪ Um gene é definido como um segmento de DNA correspondente a uma única proteína ou a uma única molécula de RNA catalítico ou estrutural. ▪ Em todas as células, a expressão de genes individuais é regulada, a célula ajusta a velocidade de transcrição e de tradução de diferentes genes independentemente de acordo com a sua necessidade. ▪ O genoma (todas as informações genéticas contidas em uma seqüência completa de DNA de um determinado organismo) de uma célula comanda não somente a natureza das proteínas da célula, mas também quando e onde elas serão sintetizadas. NATUREZA E ESTRUTURA DO MATERIAL GENÉTICO, CÓDIGO GENÉTICO, MAQUINARIA QUE SINTETIZA PROTEÍNAS E ELEMENTOS REGULADORES DO GENOMA ▪ A informação genética é codificada no DNA (ácido desoxirribonucléico) como filamentos de polinucleotídeos antiparalelos em uma estrutura dupla hélice. 16 ▪ A informação genética é estocada em uma seqüência linear de bases de purinas e pirimidinas. O alfabeto genético consiste de 4 letras (bases): ADENINA, TIMINA, GUANINA E CITOSINA. ▪ Durante a replicação do DNA, cada fita serve como molde para a formação de fitas complementares. Cada base da fita molde especifica o nucleotídeo da base complementar, sendo que A é complementar a T e G é complementar a C e vice- versa. ▪ A informação genética nos cromossomos é expressa pela transcrição das seqüências de bases no DNA sem seqüências complementares de bases no RNA (ácido ribonucléico). Durante a transcrição, cada base da fita molde de DNA especifica o ribonucleotídeo da base complementar, sendo A complementar a U (uracila), T é complementar a A, G é complementar a C e C é complementar a G e vice-versa. ▪ A informação genética para a síntese de uma proteína específica é Gene Estrutural. Genes estruturais são transcritos em RNA mensageiro, que é transportado para o citoplasma onde é traduzido em proteína. ▪ As proteínas são compostas por uma seqüência linear de aminoácidos. O local de um aminoácido na proteína é designado por uma trinca de bases no RNA mensageiro (mRNA) chamada de códon. ▪ O código genético é universal e degenerado (redundante) e contem códons que pontuam a síntese de proteínas. ▪ A síntese de proteínas ocorre nos ribossomos que são compostos de proteínas e RNA ribossômico. ▪ Existem seqüências de nucleotídeos com a função de regular a transcrição dos genes estruturais. Tabela do Código Genético U C A G U UUU — Phe UUC — Phe UUA — Leu UUG — Leu UCU — Ser UCC — Ser UCA — Ser UCG — Ser UAU — Tyr UAC — Tyr UAA — stop UAG — stop UGU — Cys UGC — Cys UGA — stop UGG — Trp UC A G C CUU — Leu CUC — Leu CUA — Leu CUG — Leu CCU — Pro CCC — Pro CCA — Pro CCG — Pro CAU — His CAC — His CAA — Gln CAG — Gln CGU — Arg CGC — Arg CGA — Arg CGG — Arg U C A G A AUU — Ile AUC — Ile AUA — Ile AUG — Met ACU — Thr ACC — Thr ACA — Thr ACG — Thr AAU — Asn AAC — Asn AAA — Lys AAG — Lys AGU — Ser AGC — Ser AGA — Arg AGG — Arg U C A G G GUU — Val GUC — Val GUA — Val GUG — Val GCU — Ala GCC — Ala GCA — Ala GCG — Ala GAU — Asp GAC — Asp GAA — Glu GAG — Glu GGU — Gly GGC — Gly GGA — Gly GGG — Gly U C A G A VIDA REQUER ENERGIA LIVRE 17 ▪ Para a célula fazer uma nova célula à sua própria imagem, ela deve adquirir energia livre e matéria-prima do ambiente para realizar as reações sintéticas necessárias. ▪ As células utilizam energia livre importada, de algum modo, de sua vizinhança, para replicar fielmente sua informação genética. ▪ O mesmo princípio se aplica à síntese da maioria das moléculas nas células. A energia livre é necessária para acionar as muitas reações químicas que constroem as moléculas a partir da matéria-prima, bem como para mantê-las unidas corretamente. TODAS AS CÉLULAS FUNCIONAM COMO FÁBRICAS BIOQUÍMICAS QUE UTILIZAM OS MESMOS BLOCOS MOLECULARES BÁSICOS DE CONSTRUÇÃO ▪ Todas as células contêm e manipulam uma coleção semelhante de pequenas moléculas, incluindo, açucares simples, nucleotídeos, aminoácidos e outras substâncias universalmente necessárias para a síntese (por exemplo: ATP = trifosfato de adenosina). ▪ Todas as células produzem e consomem a molécula de ATP, como transportadora de energia livre para mediarem muitas reações químicas. TODAS AS CÉLULAS SÃO ENVOLTAS POR UMA MEMBRANA PLASMÁTICA ATRAVÉS DA QUAL PASSAM NUTRIENTES E MATERIAIS DESCARTÁVEIS ▪ A membrana plasmática atua como uma barreira seletiva, possibilitando que a célula concentre nutrientes adquiridos do meio externo e retenha seus produtos de síntese para uso próprio, enquanto excreta os resíduos. ▪ Sem a membrana plasmática, a célula não poderia manter sua integridade como um sistema químico coordenado. ▪ Os limites da célula não podem ser totalmente impermeáveis. Todas as células possuem proteínas especializadas inseridas em sua membrana que servem para transportar moléculas específicas de um lado para o outro. ▪ As proteínas transportadoras de membrana foram bem conservadas durante o curso da evolução. Podemos observar semelhanças entre estas proteínas, mesmo quando comparadas com grupos de organismos mais distantes. A INFORMAÇÃO GENÉTICA PODE SOFRER MUTAÇÃO ▪ Uma mutação é uma modificação casual ou induzida na informação genética. A mutação só é passada para os descendentes de organismos complexos se ocorrer em gametas. ▪ ▪ Para que haja mutação, é primeiro necessário que ocorra um dano na seqüência de nucleotídeos do DNA. As células possuem um arsenal de mecanismos de reparação 18 do DNA encarregados de anular o dano, mas ocasionalmente há uma falha nesses mecanismos (ou o dano é simplesmente irreparável), e as células replicam-se nestas condições. Ainda, as células replicadas com danos no DNA raramente persistem. Uma pequena proporção de células sobrevive carregando os danos genéticos da célula- mãe, passando a apresentar estas novas características: enfim ocorre uma mutação. ▪ ▪ Mutações podem ter diversas origens: podem ser ocasionais, tomando parte na pequena probabilidade de erro espontâneo no momento da duplicação do DNA na mitose ou na meiose; podem ser provocados por agentes mutagênicos de origem eletromagnética, química ou biológica; podem ser ainda induzidas em laboratório com o uso intencional destes mesmos agentes sobre organismos vivos. ▪ ▪ Mutações em pequena escala (a nível celular) adquirem maior importância a nível evolutivo em organismos unicelulares, como bactérias e protistas, ou acelulares, como os vírus. Nestes organismos, uma mutação em uma única célula pode dar origem a uma linhagem inteiramente nova de células, que podem de uma geração para outra se comportar de maneiras completamente diferentes. A índústria alimentícia, farmacêutica, e a pesquisa biológica tomam proveito disso, produzindo em laboratório em muito pouco tempo novas linhagens de seres vivos, com mutações induzidas de tal forma a fazê-las se comportar à maneira que suas pesquisas exigirem. ▪ ▪ Já em maior escala, em nível de organismos multicelulares, as mutações ocasionais ocorridas em células somáticas adquirem pouca importância na medida em que essas mutações permanecem apenas nas linhagens de células de um indivíduo, jamais sendo passadas a seus descendentes. Entretanto, as mutações acumuladas ao longo da vida de um organismo fazem com que suas células gradativamente percam parte de suas funções, fazendo com que órgãos inteiros se tornem ineficientes, o que caracteriza a velhice. Há também a possibilidade de mutações em determinados genes (responsáveis pelo ciclo reprodutivo da célula) provocarem o surgimento linhagens cujo ritmo de reprodução se intensifica ao passo que essas células perdem parte de suas funções, o que caracteriza tumores e câncer. ▪ ▪ Em organismos complexos como animais, plantas e fungos, as mutações só são passadas para gerações seguintes quando ocorrem durante a meiose, ou seja, durante a formação de gametas, uma vez que é através de união de gametas que novos indivíduos são formados. ▪ ▪ As mutações atuam de forma crucial na evolução das espécies. As alterações morfológicas, nas quais a teoria da Seleção natural se baseia, se devem a mutações que promovem o surgimento de novas características em uma determinada população, que por um motivo ou outro faz com que seus portadores sejam mais bem sucedidos que seus concorrentes e predecessores. Da mesma forma, mutações que produzem indivíduos menos adaptáveis ao seu meio tendem a ser rapidamente eliminadas por seus concorrentes, já que a probabilidade de um indivíduo mais fraco reproduzir-se é menor. 19 CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO PSICOLOGIA GENÉTICA HUMANA CITOGENÉTICA HUMANA 20 ASPECTOS CITOGENÉTICOS DA DIVISÃO CELULAR ▪ Material nuclear = CROMATINA (DNA* + proteínas) passa por um processo de condensação para formar os CROMOSSOMOS (chroma=cor; soma=corpo). ▪ O CARIÓTIPO é o conjunto de cromossomos característico de cada espécie (número e morfologia). ▪ Os genes estão em ordem linear ao longo dos cromossomos e cada gene tem uma posição precisa ou LOCUS (LOCI). Os GENES, que podem simplesmente ser definidos como unidades de informação genética, são codificados no DNA cromossômico. ▪ A CITOGENÉTICA foi definida a partir dos estudos de Tijo e Levan (1956), que desenvolveram técnicas efetivas para a análise cromossômica e estabeleceram o número cromossômico humano normal = 46. Pode ser definida como o estudo dos cromossomos, considerando a estrutura normal, a herança, a composição molecular, a localização dos genes e suas diversas anormalidades. 21 ▪ A análise cromossômica tem sido muito importante para diagnóstico em medicina. As anormalidades cromossômicas são as principais causas da perda reprodutiva e defeitos ao nascimento. São comuns na maioria das formas de câncer. ▪ Os CROMOSSOMOS HUMANOS são representados por 46 cromossomos ou 23 pares, sendo 22 pares de cromossomos AUTOSSÔMICOS e 1 par de CROMOSSOMOS SEXUAIS, sendo par sexual XX para mulheres e par sexualXY para homens. ▪ Os CROMOSSOMOS HOMÓLOGOS são de definidos como membros de um mesmo par. Eles carregam informação genética nos cruzamentos; tem os mesmos loci gênicos na mesma seqüência; os loci podem ser idênticos ou podem diferir levemente (ALELOS); microscopicamente são indistingüíveis um do outro. MORFOLOGIA DOS CROMOSSOMOS ▪ Cada cromossomo constitue de duas CROMÁTIDES unidas pelo CENTRÔMERO. Cada cromátide é uma dupla hélice de DNA e o centrômero divide o cromossomo em dois braços: braço curto (p) e braço longo (q). ▪ Os cromossomos podem ser METACÊNTRICOS, com o centrômero na posição central; braços com aproximadamente o mesmo comprimento. SUBMETACÊNTRICOS, com o centrômero fora do centro, braços com comprimentos claramente diferentes. ACROCÊNTRICOS, com o centrômero localizado próximo a extremidade e com presença de Satélites: massas de cromatinas. TELOCÊNTRICOS, com o centrômero localizado na extremidade. Morfologia dos Cromossomos GENOMA HUMANO O genoma humano, na sua forma diplóide, consiste em aproximadamente 6 a 7 milhões de pares de bases de DNA organizados linearmente em 23 pares de cromossomos. Pelas estimativas atuais, o genoma contém 50.000 a 10.000 genes (os quais codificam um número igual de proteínas) que controlam todos os aspectos da embriogênese, 22 desenvolvimento, crescimento, reprodução e metabolismo-essencialmente todos os aspectos do que faz o ser humano um organismo funcionante. A caracterização e conhecimento dos genes e sua organização no genoma têm um impacto enorme na compreensão dos processos fisiológicos do organismo humano na saúde e na doença e, por conseguinte, na prática da medicina em geral. ESTRUTURA DOS CROMOSSOMOS A molécula de DNA do cromossomo existe como um complexo com uma família de proteínas básicas denominadas histonas e com um grupo heterogêneo de proteínas ácidas não-histonas que estão bem menos caracterizadas. Existem cinco tipos principais de histonas (H1, H2A, H2B, H3, H4) que desempenham um papel crucial no acondicionamento apropriado da fibra de cromatina. Durante o ciclo celular, os cromossomos passam por estágios ordenados de condensação e descondensação. Quando condensado ao máximo, o DNA dos cromossomos mede cerca de 1/10.000 do seu comprimento natural. Quando as células completam a mitose ou meiose, os cromossomos se descondensam e retornam ao seu estado relaxado como cromatina no núcleo em interfase, prontos para recomeçar o ciclo. 23 CLASSES DE DNA O DNA das células eucariontes apresenta três frações caracterizadas pelo grau de repetição: ▪ DNA SINGULAR DE CÓPIA ÚNICA: Constitui a maior parte do DNA no genoma. As sequências que codificam proteínas (isto é, a porção codificadora dos genes) compreendem apenas uma pequena proporção do DNA de cópia única. A maior parte do DNA de cópia única encontra-se em extensões curtas, entremeadas com diversas famílias de DNA repetitivo. ▪ DNA REPETITIVO OU DISPERSO: Consiste em sequências relacionadas que se espalham por todo o genoma, em vez de ficarem localizadas. Os elementos repetidos dispersos mais exatamente estudados pertencem à família Alu e à família L1. o FAMÍLIA Alu: Tem essa denominação porque a maioria dos seus membros é clivada por uma endonuclease de restrição bacteriana denominada Alu I, instrumento importante da tecnologia do DNA recombinante. Os membros dessa família têm um comprimrnto de cerca de 300 pares de bases e são relacionados uns aos outros, mas não exibem uma sequência idêntica. No total existem cerca de 500.000 membros da família Alu no genoma, estimando-se que constituam 3% do DNA humano. o FAMÍLIA L1: Constituem sequências repetidas longas encontradas em cerca de 10.000 cópias por genoma. Assim, embora haja menos cópias nessa família do que na Alu, seus membros são bem mais longos e a contribuição para a constituição do genoma é cerca de 3% também. ▪ DNA SATÉLITE: Envolve sequências repetidas (em tandem) agrupadas em um ou em alguns locais, intercaladas com sequências de cópia única ao longo do cromossomo. As famílias de DNA satélite variam quanto à localização no genoma, comprimento total da série em tandem, comprimrnto das unidades repetidas que constituem a série. 24 CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO PSICOLOGIA GENÉTICA HUMANA VARIABILIDADE E HEREDITARIEDADE 25 VARIABILIDADE E HEREDITARIEDADE A genética médica lida com a variabilidade e hereditariedade humanas e também desenvolve abordagens que permitem nova compreensão de muitas doenças. Para oferecer aos pacientes e suas famílias o benefício do conhecimento genético é preciso conhecer os conceitos básicos da genética humana e o papel dos genes e do ambiente no desenvolvimento normal, anormal e nas doenças. As leis de Mendel constituem a pedra angular da GENÉTICA. A descoberta dos princípios da hereditariedade pelo monge austríaco GREGOR MENDEL em 1865 não foram imediatamente aceitos pelo mundo científico, sendo reconhecito apenas após 1900. PRIMEIRA LEI DE MENDEL OU LEI DA SEGREGAÇÃO Fatores (genes) distintos são responsáveis pelas características e tais fatores (genes) vêm aos pares, são separados (durante a MEIOSE) e recombinados (durante a FERTILIZAÇÃO). As alternativas de fatores ou genes são chamados de alelos. Os genes são encontrados nos cromossomos e, portanto, várias características arranjam-se independentemente quando localizadas em cromossomos diferentes. SEGUNDA LEI DE MENDEL OU LEI DA SEGREGAÇÃO INDEPENDENTE Durante a formação dos gametas na meiose, os cromossomos são distribuídos ao acaso, resultando em várias combinações de cromossomos paternos e maternos. Cada gameta recebe um cromossomo de cada par de homólogos, independente dos outros pares. CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS GENÉTICOS Na prática clínica, a maior importância da genética é seu papel na etiologia de um grande número de distúrbios. Qualquer doença é o resultado da ação combinada de genes e do ambiente. O papel relativo do componente genético pode ser grande ou pequeno. Os distúrbios causados total ou parcialmente por fatores genéticos podem ser: Distúrbios Monogênicos; Distúrbios Cromossômicos ou Distúrbios Multifatoriais. PADRÓES DE HERANÇA MONOGÊNICA Os caracteres monogênicos são denominados mendelianos. Segregam-se dentro das famílias em proporções fixas na progênie de tipos específicos de acasalamentos. McKusick (1990) descreveu aproximadamente 4500 loci mutantes associados a um distúrbio clinicamente significativo. O ritmo de descobertas aumenta com o mapeamento e definição da seqüência do genoma humano. A variação hereditária do genoma é a base da genética humana e médica. As formas alternativas de informações genéticas num determinado lócus chamam-se ALELOS. Muitos genes possuem uma versão normal (alelo tipo selvagem). Outros lóci gênicos exibem POLIMORFISMOS, que significa que na população existem pelo menos dois alelos normais, e também um ou mais alelos raros. O genótipo de uma pessoa é a sua constituição genética, coletivamente em todos os lóci ou num lócus isolado. O fenótipo é a expressão observável de um genótipo, como um caráter morfológico, bioquímico ou molecular. 26 Um distúrbio monogênico é determinado por um alelo específico num único lócus em um ou ambos os membros de um par de cromossomos. O alelo variante origina-se por MUTAÇÃO em alguma época do passado recente ou remoto. A mutação pode indicar uma nova alteração genética que não era conhecida numa família e as vezes meramente para indicar um alelo anormal. Quando uma pessoa tem um par de alelosidênticos diz-se que é homozigótica (HOMOZIGOTO). Quando os alelos são diferentes, ela é heterozigótica (HETEROZIGOTA OU PORTADOR). Os distúrbios monogênicos caracterizam-se por seus padrões de transmissão nas famílias. A fim de estabelecer o padrão de transmissão, a primeira etapa habitual é obter informações sobre a história familial do paciente e resumir os detalhes na forma de um HEREDOGRAMA por meio de símbolos padronizados. Símbolos utilizados nos diagramas de heredogramas. Os padrões mostrados pelos distúrbios monogênicos nos heredogramas dependem principalmente de dois fatores: (1) a localização cromossômica do lócus do gene, que pode ser autossômica (situada num autossomo), ou ligada ao X (situada no cromossomo X) e (2) se o fenótipo é dominante (expresso até mesmo quando apenas um cromossomo de um par possui o alelo variante) ou recessivo (expresso apenas quando ambos os cromossomos de um par possuem um alelo variante). Existem quatro padrões básicos de herança monogênica: Autossômico Dominante Ligada ao X Dominante Recessivo Recessivo Os conceitos básicos de transmissão genética podem ser resumidos em: 1. Herança é a transmissão de genes dos parentais para a descendência; 2. Os genes estão localizados nos cromossomos; 3. Cada gene ocupa um lugar específico no cromossomo (lócus); 4. Cada cromossomo tem muitos genes que são arranjados em ordem linear; 5. As células somáticas dos organismos diplóides contêm dois de cada tipo de cromossomos autossômicos (homólogos) e cada lócus gênico autossômico é representado duas vezes; 27 6. Em espécies com cromossomos sexuais não homólogos (heteromórfico), os genes podem ser representados uma vez. 7. Durante cada ciclo de divisão celular, cada gene é replicado; 8. Os genes podem existir em vários locais alternativos (alelos). A mudança de um lugar para outro é a mutação; 9. Os genes podem ser transferidos de um cromossomo homólogo para outro por crossing over durante a meiose; 10. Todos os gametas recebem um cromossomo de cada par homólogo e a distribuição dos cromossomos nos gametas é ao acaso; 11. A distribuição dos cromossomos de um par de homólogos para os gametas não efeito na distribuição dos cromossomos do outro par; 12. Na fertilização, gametas são unidos ao acaso, o zigoto recebe um cromossomo de cada par de homólogo de seu pai e um de sua mãe; 13. Quando as células de um organismo contem dois alelos diferentes do mesmo gene (condição heterozigota), um alelo (dominante) geralmente tem um efeito fenotípico maior do que o outro (recessivo). DISTÚRBIOS MONOGÊNICOS - Herança Autossômica Dominante Na herança autossômica dominante um fenótipo é expresso da mesma maneira em homozigotos e heterozigotos. Toda pessoa afetada em um heredograma possui um genitor afetado, que por sua vez possui um genitor afetado, e assim por diante, como no heredograma abaixo: Nos casamentos que produzem filhos com uma doença autossômica dominante, um genitor geralmente é heterozigotico para a mutação e o outro genitor é homozigótico para o alelo normal. Pode-se escrever os genótipos dos pais como: 28 Cada filho desse casamento tem uma chance de 50% de receber o alelo anormal (A) do genitor afetado e, portanto ser afetado (A/a), e uma chance de 50% de receber o alelo normal (a) e, assim não ser afetado (a/a). Critérios da Herança Autossômica Dominante 1. O fenótipo aparece em todas as gerações, e toda pessoa afetada tem um genitor afetado. 2. Qualquer filho de genitor afetado tem um risco de 50% de herdar o fenótipo. 3. Familiares fenotipicamente normais não transmitem o fenótipo para seus filhos. 4. Homens e Mulheres têm a mesma probabilidade de transmitir o fenótipo aos filhos de ambos os sexos. Exemplos de Herança Autossômica Dominante ▪ Doença de Huntington (DHq): É uma doença neurodegenerativa fatal de herança autossômica dominante caracterizada por movimentos involutários e demência progressiva. O aparecimento da doença se dá entre os 30-50 anos de idade sendo 38 a idade média de aparecimento. Heredograma de uma família com Doença de Huntington O gene foi mapeado no cromossomo 4p16 em 1981 por técnicas de genética molecular. É possível identificar os indivíduos portadores do gene. ▪ Neurofibromatose(NF1): É um distúrbio comum do sistema nervoso caracterizado por manchas café-com-leite e tunores cutâneos fibromatosos. O gene é clinicamente observado em praticamente todas as pessoas (penetrância completa). 29 ▪ Acondroplasia (o tipo mais comum de nanismo): A acondroplasia é a forma mais comum de nanismo rizomélico, ocorrendo em 1 em cada 15.000 recém-nascidos. A doença tem herança autossômica dominante, mas mais de 90% dos casos são esporádicos, causados por mutações novas. Correspondentemente há, em média, um aumento da idade paterna da época da concepção. A acondroplasia pode representar um problema diagnóstico no berçário, já que alguns pacientes nascem com comprimento dentro da faixa do normal. Além disso, deve ser feito o diagnóstico diferencial com outros nanismos rizomélicos como a hipocondroplasia, o nanismo diastrófico e a pseudoacondroplasia. Qualquer pessoa pode gerar outra com acondroplasia. Suas principais características são: baixa estatura, braços e pernas pequenos desproporcionais ao tamanho da cabeça e comprimento do tronco. Esse encurtamento é principalmente na parte de cima dos braços e nas coxas. Um adulto com acondroplasia tem uma curva acentuada na parte final da espinha, que apresenta uma aparência saliente. Suas pernas quase sempre se tornam curvas e a pessoa pode apresentar limitada movimentação dos cotovelos, que não se dobram completamente. As mãos são pequenas e os pés, pequenos e largos. Muitas crianças acondroplásicas podem flexionar a articulação de seus dedos, pulsos, cintura e joelhos a um ângulo extremo devido a ligamentos frouxos de algumas articulações. Esses sinais são normalmente aparentes no nascimento e a acondroplasia pode ser diagnosticada nessa época. Mais de 97% dos pacientes com acondroplasia apresentam a mesma mutação, uma transição G à A no nucleotídeo 1138 do cDNA, levando à substituição de uma glicina por arginina no domínio transmembranar do receptor do fator de crescimento fibroblástico 3 (FGFR3 ). A segunda mutação, vista em aproximadamente 2,5% dos casos, é uma transversão G à C na mesma posição 1138 levando à mesma substituição de aminoácidos. Assim, trata-se de uma doença com baixíssimo índice de heterogeneidade genética e, consequentemente, fácil diagnóstico molecular. DISTÚRBIOS MONOGÊNICOS - Herança Autossômica Recessiva Os distúrbios autossômicos recessivos expressam-se apenas em homozigotos, que, portanto, devem ter herdado um alelo mutante de cada genitor. O risco de seus filhos receberem o alelo recessivo de cada genitor, e serem afetados é de 1/4. A maioria dos genes dos distúrbios autossômicos recessivos está presente em portadores dos genes. Eles podem ser transmitidos nas famílias por numerosas gerações sem jamais aparecer na forma homozigótica. A chance de isto acontecer é aumentada se os pais forem aparentados. A consanguinidade dos genitores de um paciente com um distúrbio genético é uma forte evidência em favor da herança autossômica recessiva daquela afecção. Critérios da Herança Autossômica Recessiva 30 1. O fenótipo é encontrado tipicamente apenas na irmandade do probando e o fenótipo salta gerações. 2. O risco de recorrência para cada irmão do probando é de 1 em 4. 3. Os pais do índivíduo afetado em alguns casos são consanguíneos. 4. Ambos os sexos têm a mesma probabilidade se serem afetados. Exemplos de Herança Autossômica Recessiva ▪ Albinismo é a ausência parcial ou total do pigmentomelanina na pele, no cabelo e nos olhos. É uma patologia congênita em que os pais, não necessariamente albinos, são portadores do gene causador da doença. Na fecundação, se os dois genes se juntam, as células do bebê não são programadas para produzir melanima. Existem mais de um tipo de albinismo e alguns atingem apenas os olhos. Entretanto, a forma mais perigosa de albinismo é a que determina a total ausência de pigmento por todo o corpo denominada albinismo universal ou óculo- cutâneo. O albinismo óculo-cutâneo caracteriza-se por uma acentuada hipopigmentação da pele, cabelos e olhos. A pele é branco-leitosa e desenvolve eritemas intensos em resposta à exposição ao sol. Os albinos apresentam grande susceptibilidade ao câncer de pele: sua longevidade está em média diminuida, devido a isso e a acidentes decorrentes da baixa acuidade visual. Os cuidados médicos consistem na proteção da pele contra a irradiação solar e no uso de óculos escuros e de grau. A doença decorre de um bloqueio incurável da síntese de melanina devido à ausência da enzima tirosinase nos melanócitos, sendo incapazes de produzir o pigmento. O albinismo óculo-cutâneo é um dos erros inatos do metabolismo determinados por gene autossômico recessivo. Encontra-se consagüinidade entre os pais dos afetados em 20 a 30% dos casos. ▪ ▪ Fenilcetonúria (PKU): Distúrbio genético que resulta da mutação da enzima fenilalania-hidroxilase (enzima que converte a fenilalanina em tirosina). Este aminoácido presente no leite ou outros alimentos (alguns refrigerantes, inclusive) ameaçam a saúde do bebê causando retardo mental. A fenilalanina acumula-se nos líquidos corporais, lesando o sistema nervoso central em desenvolvimento no início da infância e interferindo na função do cérebro maduro. O teste de triagem (teste do pezinho) é realizado alguns dias após o nascimento e o tratamento realizado através de controle de dieta é eficaz, evitando um retardamento intenso. ▪ ▪ Fibrose Cística: Doença autossômica recessiva caracterizada por doença pulmonar crônica, insuficiência pancreática exócrina, aumento da concentração de cloreto no suor. O defeito básico é uma mutação do gene que codifica a proteína reguladora da fibrose cística, provavelmente envolvida no transporte de ânions através da membrana celular. ▪ ▪ Doença de TAY-SACHS: Distúrbio neuológico degenerativo, autossômico recessivo, que se desenvolve quando a criança tem 6 meses de idade. Há uma deterioração mental e física intensa desde a lactância, a morte ocorre entre 2 e 3 anos de idade. O defeito básico são mutações no lócus da subunidade a da hexosaminidase A. A deficiência ou ausência da subunidade a da hexosaminidase A leva ao acúmulo do gangliosídeo GM2, principalmente nos neurônios. 31 DISTÚRBIOS MONOGÊNICOS - Herança Dominante Ligada ao X Um fenótipo ligado ao X é descrito como dominante se ele se expressar regularmente em heterozigotos. Em um heredograma dominante ligado ao X, todas as filhas e nenhum filho de homens afetados são afetados; se alguma filha não for afetada ou algum filho for afetado, a herança deve ser autossômica. Critérios da Herança Dominante Ligada ao X 1. Os homens afetados com companheiras normais não têm nenhum filho afetado e nenhuma filha normal. 2. Os filhos de ambos os sexos de portadores possuem um risco de 50% de herdar o fenótipo. Exemplos de Herança Dominante Ligada ao X ▪ Raquitismo Hipofosfatêmico: Distúrbio dominante ligado ao X. Caracteriza-se por capacidade reduzida de reabsorção tubular renal do fosfato filtrado. ▪ ▪ Síndrome de Rett: Distúrbio dominante ligado ao X caracterizado por uma síndrome de retardamento mental acentuado. DISTÚRBIOS MONOGÊNICOS - Herança Recessiva Ligada ao X Uma mutação ligada ao X expressa fenotipicamente em todos os homens que a recebem, mas apenas nas mulheres que são homozigóticas para a mutação. Mulheres heterozigotas podem expressar o fenótipo (considerando a Hipótese de Lyon). O gene de um distúrbio ligado ao X às vezes está presente num pai e numa mãe portadora e, então, as filhas podem ser homozigóticas afetadas. 32 Critérios da Herança Recessiva Ligada ao X 1. A incidência do fenótipo é muito mais alta em homens do que em mulheres. 2. O gene responsável pela afecção é transmitido de um homem afetado para todas as suas filhas. 3. O gene jamais se transmite diretamente do pai para o filho, mas sim de um homem afetado para todas as suas filhas. 4. As mulheres heterozigóticas geralmente não são afetadas, mas algumas expressam a afecção com intensidade variável. Exemplos de Herança Recessiva Ligada ao X ▪ Hemofilia A: Distúrbio recessivo ligado ao X clássico. É um distúrbio da coagulação caracterizado por tempo de sangramento prolongado. Causado por mutações no gene que codifica o fator VIII, componente da cascata da coagulação. A deficiência do fator VIII resulta numa formação defeituosa de fibrina, comprometendo a capacidade de coagulação. ▪ Distrofia Muscular de Duchene (DMD) Distúrbio recessivo ligado ao X caracterizado por uma Fraqueza Muscular Progressiva. O defeito básico é uma anormalidade do gene estrutural da proteína distrofina causando níveis nulos ou bastante reduzidos de distrofina no músculo. Normalmente, a distrofina é ligada à membrana muscular e ajuda a manter a integridade da fibra muscular; na ausência , a fibra muscular degenera. ▪ Síndrome do X-frágil: A expressão "X-Frágil" deve-se a uma anomalia causada por um gene defeituoso localizado no cromossomo X. O cromossomo X está presente no par de cromossomos que determinam o sexo ( X Y nos homens e X X nas mulheres). Essa falha ou "fragilidade do X" causa um conjunto de sinais e sintomas clínicos (ou uma síndrome). Daí o nome de Síndrome do X-Frágil (SXF). A principal manifestação dos problemas da SXF revela-se no comprometimento da área intelectiva ou cognitiva: desde dificuldades de aprendizagem até profundo retardo mental. Afeta o desenvolvimento intelectual e o comportamento de homens e mulheres. HERANÇA MULTIFATORIAL ▪ Características determinadas por mais de um par de genes (vários loci) ▪ Não há relações de dominância e recessividade entre os loci ▪ Ambiente interage com o genótipo para resultar no fenótipo final ▪ Exemplos: altura, cor da pele, doenças cardíacas, diabetes, comportamento. ▪ Cada loci atua com um efeito aditivo sobre o outro, cada um adicionando ou subtraindo uma pequena quantidade do fenótipo. 33 Exemplos de Herança Multifatorial ▪ Lábio leporino é uma fissura congênita do lábio que pode ser complicada por vezes com a divisão do processo alveolar, da abóboda palatina e do véu do paladar. ▪ ▪ Anencefalia e Espinha bífida são defeitos congênitos conhecidos como “defeitos do tubo neural” (a estrutura embriogênica que formará o cérebro e a medula espinhal, o embrião tem uma pequena tira de tecido que se enrola para dentro formando um tubo. Esta estrutura chamada tubo neural se forma aproximadamente 28 dias após a concepção). A anecefalia a espinha bífida geralmente ocorrem juntos em famílias. Na anecefalia, o prosencéfalo, meninges e abóboda craniana estão ausentes. Na espinha bífida, os defeitos afetam a coluna e a medula espinhal. O tubo neural não se forma completamente, podendo desencadear defeitos na medula espinhal e nas vértebras. 34 CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO PSICOLOGIA GENÉTICA HUMANA ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS 35 ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS As anormalidades cromossômicaspodem ser numéricas ou estruturais e envolver um ou mais autossomos, cromossomos sexuais ou ambos. As anormalidades cromossômicas numéricas incluem os casos em que há aumento ou diminuição do número do cariótipo normal da espécie humana, enquanto as anormalidades cromossômicas estruturais incluem os casos em que um ou mais cromossomos apresentam alterações de sua estrutura. DISTÚRBIOS DOS AUTOSSOMOS EXEMPLOS DE TRISSOMIAS AUTOSSÔMICAS (Alterações Numéricas) Síndrome de Down Trissomia do 18 Trissomia do 13 EXEMPLO DE SÍNDROME DE DELEÇÃO AUTOSSÔMICA (Alteração estrutural) Síndrome do Miado do Gato (5p-) DISTÚRBIOS DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS As anormalidades dos cromossomos sexuais, a exemplo das anormalidades autossômicas, podem ser numéricas ou estruturais e apresentar-se em todas as células ou na forma de mosaico. EXEMPLOS DE ANEUPLOIDIA DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS (Alterações Numéricas) Síndrome de Klinefelter (47, XXY) Síndrome 47, XYY Trissomia do X (47, XXX) Síndrome deTurner (45, X e variantes) ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS NUMÉRICAS • Aneuploidias Há um aumento ou diminuição de um ou mais pares de cromossomos, mas não de todos A maioria dos pacientes aneuplóides apresenta trissomia (três cromossomos em vez do par normal de cromossomo) ou monossomia (apenas um representante de um cromossomo). O mecanismo cromossômico mais comum da aneuploidia é a não-disjunção meiótica, uma falha da separação de um par de cromossomos durante uma das duas divisões meióticas. As consequências da não-disjunção durante a meiose I e a meiose II são diferentes. Quando o erro ocorre na Meiose I, os gametas apresentam um representante de ambos os membros do par de cromossomos ou não possuem todo um cromossomo. 36 Quando o erro ocorre na Meiose II, os gametas anormais contém duas cópias de um cromossomo parental (e nenhuma cópia do outro) ou não possuem um cromossomo. Muito embora as aneuploidias sejam mais frequentemente decorrentes de erros meióticos, deve-se ter sempre em mente a possibilidade delas resultarem de perda cromossômica ou de falta de disjunção das cromátides durante a primeira divisão mitótica do zigoto, ou durante a segmentação de um dos blastômeros. Em outras palavras, os indivíduos que manifestam aneuploidias podem ser consequência de acontecimentos pós-zigóticos. • Euploidias A alteração é multiplo exato do número haplóide (n). A sobrevivência de um indivíduo totalmente euplóide é impossível, e quase todos os casos de triploidia (3n) ou de tetraploidia (4n) somente foram observados em abortos espontâneos. Raros foram os casos que chegaram a termo e, mesmo assim, eram de natimortos ou de morte neonatal. A triploidia provavelmente resulta de falha de uma das divisões da maturação no ovócito ou, geralmente, no espermatozóide. 37 Os tetraplóides sempre são 92, XXXX ou 92, XXYY, resultantes em geral de uma falha da conclusão de uma divisão por clivagem inicial do zigoto. ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS ESTRUTURAIS Durante a intérfase quando os cromossomos estão mais distendidos e metabolicamente ativos, eles são mais vulneráveis a variações do ambiente que provocam rupturas de sua estrutura. As aberrações estruturais dos cromossomos resultam de quebra cromossômica seguida de reconstituição em uma combinação anormal. Os rearranjos estruturais são definidos como balanceados (equilibrados) e não balanceados (não equilibrados) 1. Rearranjos não balanceados: Quando o conjunto cromossômico possui informações a mais ou a menos. Deleção: A deleção resulta em desequilíbrio do cromossomo por perda de um segmento cromossômico. Uma deleção pode ser terminal ou intersticial. As deleções podem originar-se por quebra cromossômica e perda do segmento acêntrico. Em alguns casos, as deleções ocorrem por um crossing-over desigual entre cromossomos homólogos desalinhados ou cromátides-irmãs. Duplicação: Em geral, a duplicação parece ser bem menos nociva que a deleção. As duplicações podem originar-se por crossing-over desigual ou por segregação anormal da meiose num portador de uma translocação ou inversão. Cromossomos em anel: As deleções terminais nos dois braços de um cromossomo podem dar origem a um cromossomo em anel, se as extremidades livres fraturadas se soldarem. Os cromossomos em anel podem dividir-se normalmente durante a mitose ou meiose, mas sujeitos à degeneração. 38 Isocromossomos: São cromossomos que apresentam deficiência total de um dos braços e duplicação completa do outro. Uma hipótese plausível é a que considera a possibilidade de um cromossomo sofrer fratura exatamente junto ao centrômero, pouco antes da anáfase mitótica ou da meiose II. Cromossomos dicêntricos: São cromossomos que apresentam dois centrômeros. Os cromossomos dicêntricos tendem a quebrar-se na anáfase, se os dois centrômeros estiverem próximos, se um centrômero for inativado, um cromossomo dicêntrico pode ser estável. Translocação: Dois cromossomos sofrem quebras e há a soldadura de um segmento cromossômico a uma região fraturada de outro. Translocações recíprocas: Resultam de quebra de cromossomos não homólogos, com trocas recíprocas de segmentos soltos. Quando os cromossomos de uma translocação recíproca balanceada se pareiam na meiose, forma-se uma figura quadrirradial (em forma de cruz). Na anáfase os cromossomos se segregam a partir desta configuração de três maneiras possíveis: 39 Translocações robertsonianas: Envolve dois cromossomos acrocêntricos que se fundem próximos à região do centrômero com perda dos braços curtos. Na figura acima temos cromossomos dos gametas que podem ser produzidos por um portador de uma translocação robertsoniana, t(14q21q) Embora o portador de uma translocação robertsoniana seja fenotipicamente normal, há um risco de gametas não- balanceados e de prole não-balanceada. 2. Rearranjos balanceados: Quando o conjunto cromossômico possui o complemento normal de informações.Todas as informações genéticas estão presentes, mas acondicionadas de modo diferente. Inversão: Inversão é a ocorrencia de duas quebras em um cromossomo unifilamentoso durante a intérfase e a soldadura em posição invertida do fragmento ao restante do cromossomo. A inversão é dita paracêntrica se as quebras ocorrerem em um mesmo braço cromossômico, e é denominda pericêntrica se o fragmento cromossômico invertido incluir o centrômero. 40 A ocorrência de uma permuta no local de uma inversão paracêntrica fará com que de cada bivalente surjam dois cromossomos gaméticos anormais (um dicêntrico e outro acêntrico), um normal e outro com a inversão original. A ocorrência de permuta em uma inversão pericêntrica fará com que um bivalente dê origem a dois cromossomos anormais (ambos com uma deficiência e uma duplicação), um cromossomo normal e outro com a inversão original. Uma inversão geralmente não causa um fenótipo anormal nos portadores. Sua importância médica é para a progênie, pois há o risco de produzir gametas anormais que podem levar a uma prole não-balanceada. DISTÚRBIOS DOS AUTOSSOMOS - Síndrome de Down A Sindrome de Down ou trissomia do 21, é sem dúvida o distúrbio cromossômico mais comum e a mais comum forma de deficiência mental congênita. Geralmente pode ser diagnosticada ao nascimento ou logo depois por suas características dismórficas, que variam entre os pacientes, mas produzem um fenótipo distintivo. Os pacientes apresentam baixa estatura e o crânio apresenta braquicefalia, com o occipital achatado. O pavilhão das orelhas é pequeno e dismórfico. A face é achatada e arredondada, os olhos mostram fendas palpebrais e exibem manchas de Brushfield ao redor da margem da íris. A bocaé aberta, muitas vezes mostrando a língua sulcada e saliente. As mãos são curtas e largas, frequentemente com uma única prega palmar transversa ("prega simiesca"). Os pés mostram um amplo espaço entre o primeiro e o segundo dedos. DISTÚRBIOS DOS AUTOSSOMOS - Trissomia do 18 ou Síndrome de Edwards A maioria dos pacientes apresentam com a trissomia do cromossomo 18 apresenta trissomia regular sem mosaicismo, isto é , cariótipo 47, XX ou XY, +18. Entre os restantes, cerca de metade é constituída por casos de mosaicismo e outro tanto por situações mais complexas, como aneuploidias duplas, translocações. 41 As manifestações da trissomia do 18 sempre incluem retardamento mental e atraso do crescimento e, às vezes malformações graves no coração. O crânio é excessivamente alongado na região occipital. O pavilhão das orelhas é dismórfico, com poucos sulcos. A boca é pequena. O pescoço é curto. Há uma grande distância intermamilar. Os genitais externos são anômalos. O dedo indicador é maior do que os outros e flexionado sobre o dedo médio. Os pés têm as plantas arqueadas. As unhas costumam ser hipoplásticas. DISTÚRBIOS DOS AUTOSSOMOS - Trissomia do 13 ou Síndrome de Patau A trissomia do 13 é clinicamente grave e letal em quase todos os casos que sobrevivem até 6 meses de idade. O cromossomo extra provém de não-disjunção da meiose I materna e cerca de 20% dos casos resultam de uma translocação não-balanceada. O fenótipo inclui malformações graves do sistema nervoso central como arrinencefalia. Um retardamento mental acentuado está presente. Em geral há defeitos cardíacos congênitos e defeitos urigenitais. Com frequência encontram-se fendas labial e palatina, anormalidades oculares, polidactilia, punhos cerrados e as plantas arqueadas. DISTÚRBIOS DOS AUTOSSOMOS - Síndrome do Miado do Gato (5p-) Há uma deleção do braço curto do cromossomo 5. Tal síndrome recebeu esse nome em virtude do choro típico dos pacientes afetados, o qual lembra o miado de gatos. Outras 42 características são hipotonia muscular, microcefalia, pavilhão das orelhas dismórficos, pregas epicântricas, malformações dos membros. DISTÚRBIOS DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS - Síndrome de Klinefelter (47, XXY) A Síndrome caracteriza-se pela presença do cariótipo 47, XXY ou em mosaicos. Os pacientes são altos e magros, com membros inferiores relativamente longos. Após a puberdade os sinais de hipogonadismo se tornam óbvios. Os testículos permanecem pequenos e os caracteres sexuais secundários continuam subdesenvolvidos. DISTÚRBIOS DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS - Síndrome deTurner (45, X e variantes) As meninas com esta Síndrome são identificadas ao nascimento ou antes da puberdade por suas características fenotípicas distintivas. A constituição cromossômica mais frequente é 45,X sem um segundo cromossomo sexual, X ou Y. As anormalidades envolvem baixa estatura, disgenesia gonadal, pescoço alado, tórax largo com mamilos amplamente espaçados e uma frequência elevada de anomalias renais e cardiovasculares. 43 Possíveis Cariótipos da Síndrome de Turner: 45, X 53%. mosaicos 45,X / 46,XX 15%. 46,X,i(Xq) 10%. mosaicos 45,X / 46,X,i(Xq) 8%. deleções 46,XXq- ou 46,XXp- 6%. outros mosaicos 45,X / ? 8%. DISTÚRBIOS DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS - Síndrome 47, XYY Homem alto, grande agressividade (3% homens em penitenciárias). DISTÚRBIOS DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS – Trissomia do X Mulher alta, QI reduzido 70%, difícil identificação. Cariótipo: 47, XXX 44 45 CAMPUS DE RIBEIRÃO PRETO PSICOLOGIA GENÉTICA HUMANA APLICAÇÕES DA GENÉTICA 46 ACONSELHAMENTO GENÉTICO Quando uma pessoa, ou um casal, quer saber se um determinado problema que existe na família poderá acontecer de novo, ou se o casal tem história de consangüinidade (parentesco entre eles, como no casamento entre primos), ou se deseja ter filhos mais tarde do que o habitual, ou apresenta história de infertilidade, em geral começam procurando o médico da família, ou o ginecologista. A consulta com o médico geneticista costuma acontecer depois. O geneticista procura, então, estabelecer um diagnóstico da situação: estuda o casal, analisa a história familiar, examina o resultado dos exames já realizados, pondera a necessidade de efetuar exames mais específicos e procura definir as soluções que serão apresentadas ao casal. As consultas de genética tem como principal objetivo a obtenção de um conjunto de informações que permitam, ao casal ou ao paciente, conhecer os seus riscos e tomar as suas próprias decisões. O Aconselhamento Genético é um processo de informação. Este processo começa na consulta genética, quando a família dá as informações necessárias para iniciar a investigação de uma determinada doença. Muitas vezes é necessária a realização de exames complementares, além do exame de várias pessoas na família. Para poder realizar o aconselhamento genético, é necessário estabelecer o diagnóstico correto, pois é a partir dele que se pode explicar aos pacientes, o que é a doença, como ela evolui, se tem tratamento, ou não, qual o prognóstico a curto e longo prazo, e qual é o risco de recorrência na prole ou na irmandade. Às vezes isto é feito durante o pré-natal, outras durante o pós-natal e muitas vezes durante a vida adulta. Esta consulta de aconselhamento genético é extremamente importante, pois há mais de 4.000 doenças genéticas conhecidas. Estas doenças podem ser muito raras, então é fundamental que a família saiba do que se trata e tenha as informações corretas. Às vezes um casal que passou pela triste experiência de ter um filho com malformações, decide não ter mais filhos porque acha que o problema vai voltar a ocorrer. O contrário também acontece, ou seja, o casal se despreocupa achando que não há risco do problema se repetir. Cada caso é diferente e tem que ser avaliado individualmente. Às vezes o risco de recorrência é tão pequeno, que é considerado desprezível, mas outras vezes o risco é tão alto, que é quase certo que o problema vai voltar a acontecer. É sempre melhor ter as informações corretas. ONCOGENÉTICA O câncer é um dos problemas mais comuns e intensos da medicina clínica. As estatísticas mostram que o câncer atinge mais de um terço da população, provocando mais de 20% das mortes. O câncer não é uma doença única, mas o nome empregado para uma grande variedade de tumores malignos que se formam pelo mesmo processo básico de crescimento descontrolado. A proliferação celular resulta numa massa (neoplasia ou tumor) que invade os tecidos vizinhos e também pode enviar metástases para locais mais distantes. O crescimento é autônomo, cada vez mais maligno e se não tratado é invariavelmente fatal. Um diagnóstico e tratamento precoces são vitais e a identificação das pessoas sob risco 47 aumentado de câncer antes do seu aparecimento é um objetivo importante da pesquisa médica. No Brasil, os estudos citogenéticos do câncer obtiveram grandes avanços. Muitos progressos têm sido alcançados na abordagem diagnóstica e terapêutica do câncer, como novos métodos e drogas, porém sem dúvida alguma, o maior desenvolvimento nesta área tem sido no estudo genético do câncer. Conceitualmente, o câncer é uma doença genética e em aproximadamente 10% dos casos é hereditário. É importante inicialmente distinguir câncer familial do câncer hereditário: o câncer é chamado de familial quando existe na mesma famíliavários membros afetados por câncer, com grau de parentesco próximo ou distante e, com tumores semelhantes ou não, porém existem diversos fatores ambientais e genéticos envolvidos no aparecimento destes tumores: assim dizemos: "cancer runs in the family". Já no câncer hereditário observa-se um claro padrão de transmissão Mendeliano ou monogênico e a susceptibilidade ao câncer é herdada, sugerindo o envolvimento de um gene de alta penetrância. A mutação neste caso ocorre na linhagem germinativa e está presente em todas as células do indivíduo. A possibilidade de identificar indivíduos de elevado risco para o desenvolvimento de câncer traz a possibilidade de uma abordagem preventiva e de detecção precoce do câncer. Por outro lado levanta outras questões médicas, psicológicas e éticas. Atualmente já existem testes genéticos disponíveis para o diagnóstico molecular das síndromes de câncer hereditário. A maioria dos genes de susceptibilidade ao câncer são genes supressores de tumor, porém existem síndromes causadas por mutação de oncogenes e nos genes de reparo do DNA. A interpretação do resultado deve considerar o tipo de mutação detectada, visto que 48 algumas alterações podem ser consideradas variações da normalidade (polimorfismos) ou podem estar localizadas em uma região importante para a função protéica. Os maiores benefícios dos testes genéticos dizem respeito à avaliação precisa do risco individual para o desenvolvimento de manifestações clínicas. Assim, não apenas o paciente com câncer como também seus familiares assintomáticos podem ser estudados quanto a presença de mutação nestes genes e dependendo do risco estimado são incluídos em programas de rastreamento. A detecção precoce do câncer através de exames periódicos mudou a evolução clínica de todas as síndromes de câncer hereditário, aumentando significativamente a sobrevida dos indivíduos portadores de mutação. Síndrome Tumores Cromossomo Gene Polipose Adenomatosa Familial (FAP) Adenomas colorretais múltiplos Câncer de cólon 5q21 APC Câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC) Câncer de cólon, reto, estômago, endométrio, ovário, urogenital, SNC 2p16 3p21 2q31-33 7q11.2 hMSH2 hMLH1 hPMS1 hPMS2 Câncer de mama/ovário Câncer de mama, ovário e câncer de próstata 17q21 13q12-13 BRCA1 BRCA2 Li-Fraumeni Sarcoma de partes moles, osteossarcoma, câncer de mama, tu. cerebral, leucemia carcinoma cortical adrenal 17p13 TP53 Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 1 (MEN1) Adenoma de paratireoide, adenoma pituitário, tu. endócrino pancreático 11q MEN-1 Neoplasia endócrina múltipla tipo 2A (MEN2A) e 2B (MEN2B) Carcinoma medular de tireóide, Feocromocitoma Hiperplasia e adenoma de paratireoide 10q11.2 RET Von Hippel-Lindau Angioma de retina, hemangioblastoma SNC, carcinoma renal, feocromocitoma 3p25-26 VHL Retinoblastoma Retinoblastoma, osteossarcoma 13q14 RB1 Há muito a aprender sobre os processos genéticos da carcinogênese e sobre os fatores ambientais que alteram o DNA e que produzem o câncer. É provável que novas descobertas sobre o papel fundamental das alterações do DNA na carcinogênese 49 proporcionem no futuro próximo, meios aperfeiçoados e mais específicos de prevenção e tratamento das doenças malignas. BIOLOGIA MOLECULAR A Tecnologia do DNA Recombinante é o conjunto de técnicas que permite isolar regiões específicas de DNA, obter estas regiões em grande quantidade e determinar sua seqüência. Esta metodologia pode ser usada para estudar mecanismos de replicação e expressão gênica, na determinação da seqüência de um gene e da proteína que ele codifica ou no desenvolvimento de culturas microbianas capazes de produzir substâncias úteis como a insulina, hormônios de crescimento, vacinas e enzimas industriais. Sua aplicação comercial e/ou biotecnológica tem um enorme potencial, além de tornar possível a realização de investigação de paternidade e de diagnóstico de doença genéticas e infecciosas. BIBLIOGRAFIA Bruce Alberts et al, 2004. Biologia Molecular da Célula. Ed. Artmed. Junqueira e Carneiro, 2005. Biologia Celular e Molecular. Ed. Guanabara Koogan. Junqueira e Carneiro, 2004. Histologia Básica. Ed. Guanabara Koogan. Thompson & Thompson, 2002. Genética Médica. Ed. Guanabara Koogan.
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