Buscar

Resenha Crítica - Livro TER OU SER

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Resenha crítica do livro “Ter ou ser?” de Erich Fromm
Influenciado por Freud e Marx, o alemão Erich Pinchas Fromm (1900-1980), naturalizado americano, é considerado um dos principais expoentes do movimento psicanalista do século XX. Formou-se em Psicologia e Sociologia na Universidade de Heidelberg, onde também se doutorou, completando sua formação na Universidade de Munique - doutorado em Filosofia - e no Instituto Psicanalítico de Berlim, se especializando em Psicanálise. Dono de uma carreira controversa e polêmica, Fromm estudou principalmente a influência da sociedade e da cultura no indivíduo. Entre os seus muitos livros, destacam-se "O Medo e a Liberdade" e "A Arte de Amar". Para o psicanalista, a personalidade de uma pessoa era resultado de fatores culturais e biológicos, o que contrastava com a teoria de Freud, que privilegiava, principalmente, os aspectos inconscientes do psiquismo. Outras obras importantes deixadas por Fromm são "A missão de Sigmund Freud", "O homem por si mesmo" e "Anatomia da destrutividade humana".
Em seu livro “Ter ou ser?”, Erich Fromm faz uma análise psicológico-empírica e social acerca dos dois modos básicos de existência, o modo ter e o modo ser, acentuando a necessidade da instauração de um novo humanismo na sociedade tecnológica vigente, a qual está à beira de um colapso instaurado pelo modo ter de existência. Segundo o autor, a necessidade de uma mudança humana profunda surge não apenas como uma exigência psicológica decorrente da natureza nociva de nosso caráter social atual, mas também como uma condição para a simples sobrevivência da espécie humana.
Com o objetivo de proporcionar uma compreensão a respeito da diferença entre ter e ser, Fromm trata desses dois aspectos como modos fundamentais de experiência que determinam as diferenças entre as características dos indivíduos e diversos tipos de caráter social. A distinção entre tais modos é colocada como a diferença entre uma sociedade centrada em torno de pessoas – a qual seria estruturada no modo ser – e outra centrada em torno de coisas – consequentemente, regida pelo modo ter. A orientação no sentido ter é característico da sociedade industrial ocidental, a qual repousa na propriedade privada, no lucro e no poder como suportes de sua existência. Em contrapartida, sociedades como a sociedade medieval, a indiana zuni e as sociedades tribais africanas são exemplos de sociedades onde são notados aspectos do modo ser de existência. Com isso, Fromm coloca que uma das bases que moldam o caráter dos integrantes de uma sociedade, ou seja, que moldam o caráter social, é as normas pelas quais essa sociedade funciona. Na sociedade industrial, onde domina o modo ter de existência, a atitude focada no móvel da propriedade e do lucro, necessariamente, produz nos indivíduos o desejo, e até mesmo a necessidade de força para dominar outras pessoas e manter o controle da propriedade privada. Neste caso, a felicidade dos membros dessa sociedade consiste na superioridade sobre outros, no poder e, em última análise, na capacidade de conquistar, roubar e matar. Já em sociedades onde prevalece o modo ser, onde se é valorizada a experiência humana, essa felicidade consiste em amar, participar e doar. 
Apesar de ser notado que as sociedades são geralmente caracterizadas por um modo de existência específico, a partir de suas considerações Fromm afirma que, o que se indica é que ambas as tendências estão presentes nos seres humanos: a influência a ter, adquiri sua força, em última análise, do fator biológico do desejo de sobrevivência; já a tendência a ser é formatada a partir das condições específicas da existência humana e da necessidade inerente de superar o isolamento pela identificação com outros. A partir dessas duas tendências, contraditoriamente presentes em todo ser humano, a estrutura social então determina qual das duas se torna dominante. A exemplo disso, em nossa sociedade industrial, cujos princípios são a aquisição, o lucro e a propriedade, predispõe um caráter social orientado no sentido do ter, e uma vez que o padrão dominante seja estabelecido, com o intuito de evitar o risco de ser marginalizado, todos se adaptam à maioria, que tem em comum apenas seu antagonismo recíproco. 
Como conclusão de sua obra, o autor aponta que somente uma mudança fundamental no caráter humano, de uma preponderância do modo ter para um modo de existência predominantemente ser, poderá salvar os seres humanos de uma catástrofe psicológica e econômica. Para tal, a primeira condição apresentada para a possível instauração de uma nova sociedade é a tomada de consciência das dificuldades raramente superáveis que tal iniciativa defrontará. Fromm coloca que apesar de existirem fatores que alimentam esperanças, as probabilidades de mudanças humana e social continuam escassas, sendo um das únicas esperanças o atrativo vitalizante de uma nova visão. Segundo ele, a formação de uma nova sociedade e de um novo homem somente será possível se em primeiro lugar as antigas motivações com base no lucro, poder e intelecto forem substituídas por novas motivações, tais como ser, participar, compreender; em segundo lugar, se o caráter mercantilista for substituído pelo caráter criativo, amoroso; e, por último, se a religião cibernética for substituída por um novo espírito radical humanista.
Apesar das sugestões indicadas por Erich Fromm, para a instauração de uma nova sociedade estruturada no modo ser, serem reconhecidamente indispensáveis para alcançar tal premissa, se considerarmos as bases pelas quais a sociedade atual é sustentada, tais sugestões se tornam indissoluvelmente inviáveis, uma vez que para que as alternativas mencionadas pelo autor fossem alcançadas ter-se-ia que romper com anos de ideologias implantadas pelo nosso sistema. Sendo assim, o embasamento teórico do autor fica evidentemente limitado por não considerar as atuações ideológicas e repressivas do Estado para a manutenção do modo ter. Contudo, também se faz importante a ressalva de que, apesar de suas limitações, as recomendações de Fromm colaboram para com o aprimoramento da situação atual, possibilitando certa melhora na situação de alienação da sociedade vigente. Outro ponto a ser destacado é a capacidade com que o autor transita entre a teologia, a filosofia e a psicanálise, possibilitando ao leitor uma visão ampla para a compreensão do tema ora então abordado.
Com isso, a obra de Erich Fromm pode ser considerada um ponto de partida para aqueles que se interessam em compreender os dois modos básicos de existência, o modo ser e o modo ter, encontrados nas sociedades, e, como tais modos refletem no caráter social, sendo também uma referência para humanistas, que assim como Fromm se preocupam com o destino da humanidade. 
 
 
 
Referência bibliográfica 
FROMM, Erich. Ter ou ser?. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 202 p.

Outros materiais